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Kasey Michaels SANGUE COMANCHE

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� Sangue Comanche - Kasey Michaels - Os Colton 18
Kasey Michaels
Sangue Comanche
Série Colton - 18
Disponibilização: Edna Márcia
Revisão: Liliana Rodrigues da Silva
Revisão Final e Formatação: Lívia
Projeto Revisoras Traduções
Sangue Comanche.
Kasey Michaels.
Resumo:
O agente especial Jesse Colton tinha estado a ponto de rechaçar a doce e vulnerável Samantha Cosgrove. E não porque duvidasse que fora certo o que ela afirmava: que seu chefe estava revelando segredos de estado; mas sim porque aquela loira fazia com que quisesse dizer sim..... A qualquer coisa que ela desejasse......
Samantha queria que alguém a tivesse avisado de que o homem que ia fazer-se passar por seu noivo com o fim de protegê-la era um cara alto, bonito e sexy. Pouco depois se encontrou com os beijos de Jesse, que a faziam desejar que deixasse de fingir e se comportasse como um marido de verdade......
Capitulo 1
—POTUS se pôs em movimento.
—Recebe-me?
—O que recebo? É um pouco tarde para que haja atividade na residência, não? —perguntou Jesse Colton, levantando o olhar do papel que estava lendo enquanto cruzava a ala oeste em direção a porta.
—Nada, Jesse — respondeu Sam deixando de falar para o pescoço de sua camisa—. Potus está se movendo. É perto de meia noite, provavelmente se dirige à cozinha principal. Flotus segue enchendo a geladeira da residência de maçãs e peras e Potus o que quer é bolo de nata de coco.
—Pergunto-me o que diria a Associação Americana do Coração sobre os gostos do Presidente — disse Jesse, apoiando-se em uma esquina da mesa do escritório de Sam colocada no vestíbulo principal. Sam estava contente com seu trabalho, mas patrulhar a Asa Oeste era muito aborrecido—. Certamente a oposição exigiria uma análise mensal de colesterol.
—Sim, mas como nós não contaremos nada, suponho que Potus está a salvo tanto da AAC como de Flotus.
Jesse deu uma olhada sobre a mesa de Sam. Em uma pequena tela podia se ver uma lista, sempre atualizada, sobre a localização da primeira família. Agora Potus, conhecido normalmente como presidente Jackson Coates, aparecia na cozinha principal, e Flotus seguia no segundo piso da residência provavelmente dormindo.
—Potus. Presidente dos Estados Unidos. Flotus, a primeira dama de etc., etc. Os pseudônimos deveriam soar um pouco mais presidenciais, não te parece?
—Mencionarei amanhã na reunião do Comitê Presidencial de Pseudônimos, o CPS — disse Sam movendo a cabeça. Era o agente do Serviço Secreto perfeito. Levava o cabelo corretamente cortado, seu traje estava regiamente engomado e seu sorriso era puramente imparcial—. O que é o que tem aí, Jesse?
Jesse olhou para a pasta que acabava de fechar.
—Isto? Assuntos pessoais, não se preocupe. Não tenho a intenção de roubar segredos de estado diante de ti para logo vender aos jornais. Quanto pagariam por um titular como Potus pego infraganti em uma orgia de nata de coco?
—Bom, me deixa mais tranqüilo, mas o que tem aí?
—Já sabe. Sam, não se deve confiar em ninguém — disse Jesse com um sorriso zombador.
—Não, sério. Estava franzindo o cenho e em assuntos pessoais franzir o cenho nunca é bom sinal.
 Jesse abriu a pasta e ficou olhando à única folha que havia em seu interior.
—Parece que minha família herdou uma casa em Georgetown.
—E isso são más notícias? Georgetown? É um lugar estupendo. Ah, espera um momento! Herda-a com cinqüenta anos de impostos atrasados e agora você tem que pagá-los aposto que está ficando rico aqui, trabalhando na Casa Branca?
—Não, não é isso — disse Jesse, sabendo que se Sam tivesse sabido a pura verdade cairia da cadeira nesse instante—. A casa esteve alugada ao redor de sessenta anos. Simplesmente estou pensando em como vou explicar ao Comitê Ético do Senado que eu, um humilde trabalhador, vou ser um dos donos da embaixada da Checoslováquia.
—Está de brincadeira! —disse Sam - Isso é legal? Refiro-me que se um membro do serviço pessoal do Presidente pode ser dono de uma embaixada estrangeira.
—Provavelmente seja o dono de um terço da garagem, Sam. Somos muitos e a cada um de nos pertence uma parte daquele lugar. É uma herança para toda a tribo Colton, assim é como nos autodenominamos. Mas tenho que admitir, não sei que poderia acontecer se a imprensa se inteirasse disso, com o qual suponho que terei que dizer a alguém.
—Ao chefe?
Jesse respirou profundamente.
—Sim, será melhor começar por cima — colocou a pasta em sua maleta e ficou de pé—. Menos mal que ele foi para casa em uma hora decente, assim terei que esperar até manhã, além disso, preciso estudar um pouco melhor o caso para estar seguro de meus direitos. Até manhã Sam.
—Até manhã mister dinheiro, mister dono de uma parte do Georgetown, ah espera! Esqueci algo.
—Você nunca esquece nada, Sam. O que quer é me tirar mais informação.
—Não, não. Eu estou acostumado a dizer que quanto mais se sabe menos se quer saber — disse enquanto remexia uns papéis de sua mesa. Isto chegou depois de que sua secretária partiu — disse lhe estendendo uma nota.
Jesse franziu o cenho enquanto lia o desconhecido nome que estava escrito na nota.
—Urgente?
—Aqui tudo é urgente. A mensagem chegou da recepção principal, depois de passar primeiro pelo AOD e por um par de locais mais.
—Pelo Antigo Escritório Diretivo? Não trabalho ali há meses.
—Bom, suponho que nem todo mundo sabe que foi promovido a um importante escritório na Asa Oeste. Deveria ter posto um anúncio, muitos o fazem.
—Muito gracioso. Sam — disse Jesse, franzindo o cenho uma vez mais ao reler a nota—. Samantha Cosgrove. Urgente. Mas, quem diabos é Samantha Cosgrove?
Samantha Cosgrove, com sua larga juba loira e seu metro e sessenta de estatura, estava sentada em seu escritório discutindo por telefone.
Não tinha tomado o café da amanhã com Bettyann e tinha cancelado seu almoço com Rita. Não tinha saído de seu escritório todo o dia. Estava faminta e tinham começado a lhe soar as tripas, estava nervosa e começava a zangar-se.
Bettyann, a secretária, introduziu a cabeça no pequeno escritório.
— Vou indo, Samantha. Gostaria de jantar em Los Arcos de Ouro? Eu convido.
—Não obrigado, Bettyann — disse Samantha, fingindo grande interesse por uma pilha de papéis que eram tão interessantes como o programa do tempo em um dia tranqüilo e espaçoso.
Aquele precisamente era o lema do último slogan da campanha eleitoral: «Uma mente tranqüila e limpa. “Vote no senador Mark Phillips para Presidente”. Aborrecido. A qualquer um poderia ocorrer algo melhor que isso.
—Está segura, Sam? Não comeu nada o dia todo.
—De acordo, vou para casa. O mundo seguirá dando voltas embora eu vá. Obrigado pelos Arcos de Ouro, Bettyann, mas posso ouvir como me chamam os pimentões cheios que deixei preparados em casa.
—Está bem, até manhã.
—Até manhã — Samantha ficou meia hora mais ordenando papéis e colocando alguns documentos em sua maleta.
Colocou sua leve gabardina Burdeos, comprovou sua bandeja de correio e se meteu no elevador não sem antes certificar-se de que ninguém a tinha visto.
Uma vez fora, Samantha girou à direita e se dirigiu a pé para a Casa Branca.
Tinha visto fotos de Jesse Colton, portanto sabia como era: Um e oitenta de altura, cabelo curto e escuro, olhos negros, tinha certo ar misterioso.
—Está bem, é um homem atraente — murmurou Samantha para si mesma enquanto colocava o capuz porque tinha começado a chover. Inclusive sob a chuva adorava viver em Washington D.C.
Fazia dois anos que tinha voltado para a cidade, porque se necessitavam dois anos para que um candidato à presidência como o senador Mark Phillips pudesse fazer uma sondagem e ver quem votaria nele, procurar dinheiro suficiente, prometendo tudo a todo mundo e que, finalmente, o Comitê de Phillips anunciasse sua candidatura formalmente.
Agora, com as primárias a ponto de começar emNew Hampshire, o Comitê já era incomparável, tinham o feito público e Samantha tinha que trabalhar duro. O única coisa que precisava era saber se estava trabalhando para o homem apropriado.
Conforme haviam dito, Jesse Colton devia estar trabalhando agora na Ala Oeste. Sabia que ele ainda tinha que andar até sua antiga vaga de garagem, situada em um estacionamento afastado. Era mais fácil conseguir um posto na Ala Oeste que uma vaga de garagem perto da Casa Branca.
Ele conduzia um típico carro de quatro portas negro, bastante elegante. Chegava à garagem por volta das sete em ponto da manhã, seis dias da semana, e podia partir entre as cinco e às doze da noite. Ela sabia por que tinha estado observando durante cinco largos dias antes de tê-lo chamado finalmente no dia anterior. Chamada que não havia sido respondida.
—Não é espreitar, Samantha, é observar — disse a si mesma enquanto rapidamente se unia a um grupo de pessoas que entravam na garagem, se resguardando nesse momento porque era uma chuva torrencial— Há uma diferença.
Respirou com alívio ao ver o carro de quatro portas negro ainda estacionado na garagem. Eram as nove em ponto quando finalmente o viu. Ou ao menos pensou que era ele. Estava noventa e nove por cento segura que o homem que andava para ela era Jesse Colton. Quando usou o alarme a distancia para abrir o carro de quatro portas, foi quando ela esteve totalmente segura de que era ele.
—Jesse Colton? Posso pedir um minuto de seu tempo? —disse ela saindo de detrás de uma coluna.
—Chame a meu escritório — disse ele.
—Já o tenho feito.
—Deixou uma mensagem?
—Sim, para que me retornasse, e não o tem feito.
—Agora é tarde — disse abrindo a porta de seu carro e atirando dentro a maleta—. Se quiser uma entrevista, por favor, dirija-se ao escritório de imprensa.
—Não quero fazer nenhuma entrevista, não sou jornalista.
—Ok. E suponho que tampouco seja a nova Garganta Profunda disposta a me contar seus escuros e profundos segredos.
Entrou no carro, quis fechar a porta, mas não pôde porque Samantha se interpôs.
—Você é sempre tão desagradável? —perguntou ela enquanto movia a cabeça, liberando a do capuz que levava na cabeça. Deixou ao descoberto sua juba loira e seus cachos caíram sobre os ombros. Ela não era uma estúpida. Era loira, muito bonita e com umas pernas fabulosas. Ainda não tinha encontrado nem um só homem no D.C. que não a achasse atraente.
—Está me fazendo uma proposta? —perguntou Jesse sorrindo de uma maneira muito divertida para o gosto de Samantha.
—Não! —disse ela caminhando para trás. Aquilo foi um mau movimento, mas já era muito tarde.
—Que lástima! —disse ele fechando a porta do carro, mas baixou o vidro—. Você é Samantha Cosgrove, verdade?
—Conhece-me?
—OH sim! Loira, bonita e tenaz como um cão buldogue. Informei-me sobre você.
—Por quê?
—Porque queria falar comigo. Tem idéia de quantas pessoas querem falar comigo, Samantha Cosgrove, desde que trabalho na Ala Oeste?
—É tão popular? Estou realmente impressionada.
—Certamente você o é, eu certamente o sou — disse ele sorrindo de novo.
Deu vontade de bater na sua cabeça com sua maleta, mas em seu lugar deu a volta e começou a andar.
—Está com fome? —perguntou ele saindo do carro e ficando detrás dela.
—Somente se pudesse comer suas vísceras — disse ela e seguiu andando. Ele continuou detrás dela.
—Vamos não se zangue Samantha, ia ligar.
—Quando? No Natal?
—Não, no Natal vou a Oklahoma, a minha casa. Ia ligar amanhã. Primeiro tinha que saber quem era.
—E o que averiguou? —perguntou interessada, mas sem deixar de andar. Aquele homem tinha a deixado de mau humor.
—Bom, vejamos. Filha de um milionário situado durante anos em Connecticut. Um irmão ainda na universidade, no primeiro ano conforme acredito. Uma irmã maior, agente literário. Juliet, verdade? Mamãe se dedica a obras de caridade e pertence a todas as associações importantes. Papai é um advogado, amigo íntimo do senador Mark Phillips e grande colaborador de sua campanha presidencial. Por certo o Senador está respaldado pessoalmente por meu chefe, o atual Presidente. Graduada com matrícula de honra tanto em jornalismo como em ciências políticas. Membro do Comitê do Senador. Muito trabalhadora boa cozinheira e péssima dançando...
— Eu não sou péssima dançando, sou bastante boa — protestou Samantha acaloradamente. Parou para deu a volta e olhou fixamente para ele.
—Pensei que não estava me escutando, de acordo, boa bailarina, embora isso não conste em meu relatório. Bom, quer comer algo e depois me demonstrar à boa bailarina que é?
—Não dançaria com você por nada em...
—Você disse que era urgente — interrompeu-o.
—E você é sempre tão arrogante?
—Não, é parte dos créditos da Casa Branca. De verdade, pode comprová-lo na descrição de meu trabalho. Uma vez que entra para trabalhar na Ala Oeste e lhe dão uma placa azul, a arrogância é uma exigência.
—Você está louco — disse Samantha, mas de repente começou a rir. Não podia parar— Realmente louco.
—Eu convido. O que lhe parece uma batata assada com queijo e uma garrafa de vinho branco Zinfandel? Tem pinta de que gosta de vinho branco Zinfandel.
—Eu gosto do vinho Merlot.
—Era muito para que minha secretária soubesse, direi que cortem a cabeça dela amanhã pela manhã. Vem comigo ou vai para casa em um metrô para comer seus pimentões cheios?
—Como sabe? Meu deus! É verdade! Vocês sabem tudo. Tem a alguém me espiando em minha casa? Em minha geladeira?
—Não; nada ilegal. Deu a casualidade que Brenda, minha secretária, foi ao escritório do Senador Phillips esta tarde. Disse-me que alguém chamado Bettyann haveria dito seu número de pé se o tivesse perguntado. Brenda também me disse que era loira e muito bonita, estava certa. Venha, anime-se.
Samantha lançou as mãos para cima.
—Por que não. Mereço-me um jantar grátis depois de que tenha invadido minha privacidade dessa maneira, porque você convida, sabe, não?
—Não o permitiria de outro modo — disse uma vez que estavam dentro do carro.
—Opino da mesma maneira — disse ela acomodando-se no assento do co-piloto e colocando no chão sua maleta—. Então, poderemos falar?
—O prometo — disse ele—. Mas primeiro jantemos, não sei você, mas eu estou faminto.
—Eu também— disse ela.
Encontrar uma mesa livre em um restaurante normal perto da Casa Branca era virtualmente impossível.
Dava o mesmo o dia ou a hora, mas conforme se aproximavam de um dos melhores da zona, Samantha disse que se detivera na zona do estacionamento.
—Eu gostaria de lhe dizer que não sou tão inteligente como diz meu relatório que sou. Não sabia que fosse estar me esperando na garagem nem que fosse aceitar jantar comigo. Dito isto, não tenho nada mais que dizer.
—Parece-me bem, pare aqui.
 Ele o fez, e o rapaz do estacionamento abriu a porta do co-piloto. Samantha aceitou a mão que lhe ofereceram e disse:
—Boa noite, Anthony. Alegro-me em te ver outra vez.
 —Igualmente, senhorita Cosgrove — disse o rapaz enquanto a protegia com um guarda-chuva até a porta.
—Temo que não vá ajudar ninguém — grunhiu Jesse, enquanto Anthony com seu enorme guarda-chuva de golfe permanecia quieto perto da porta do restaurante. Deu-lhe as chaves do carro e seguiu Samantha para o interior.
No vestíbulo, Samantha se aproximou do mostrador e começou a falar com o maitre em perfeito italiano. depois de um par de frases e um apertão de mãos, o maitre os conduziu, esquivando a fila de gente que esperava por uma das mesas principais. Jesse estava seguro de ter reconhecido naquela fila ao representante da Pensilvânia junto com o segundo Secretário de estado.
 —Como fez isso? —perguntou ele quando estavam sentados.
—cresci no bairro, lembre-se, antes que papai decidisse instalar-se em Connecticut. Conheço o Anthony e a sua família há anos, meus pais estavam acostumados a vir muito por aqui — disse Samantha enquanto estirava o guardanapo—Se dá conta, senhor Colton? Placasazuis? Eu não as preciso — disse com firmeza movendo sua encantadora carinha.
Se não fosse um homem do mundo, Jesse tinha se apaixonado por aquela mulher naquele preciso momento. Em troca, jogou para trás a cabeça e começou a rir, esfumando qualquer tipo de pensamento que não fosse estritamente profissional.
Olharam o cardápio em couro, Jesse observou como Samantha franzia o cenho enquanto lia o seu. Era tão loira e tão sofisticada, um verdadeiro produto da alta sociedade. E ele era um mestiço, metade Comanche, um Zé ninguém do Black Arrow, Oklahoma.
—Parece-me que quero dois de cada — disse ela sorrindo por cima de seu menu—. Está para você?
—Depende dá bem lavar os pratos?
—OH! O desgraçado servente público mal pago — disse Samantha fechando o menu e deixando-o ao lado dos talheres—. Gosta?
—Ser um servente público ou estar mal pago? —perguntou ele fechando o seu.
—Sério, gosta? Quero dizer, sinto calafrios só de pensar na Ala Oeste. O Despacho Oval, todo esse poder em um só lugar.
—E os pães-doces que ali dão não estão nada mal — disse Jesse brincando.
Ela se acomodou em seu assento.
—Está bem, não sou imune frente ao feito de que trabalha na Ala Oeste, é muito excitante, como conseguiu esse posto?
—Trabalhando muito duro, com determinação, conhecendo as pessoas adequadas... Esse tipo de coisas.
 —Se importaria de falar a sério, tenho entendido que começou no Serviço Secreto.
—Não parece que seja muito secreto — começou a dizer, tentando parecer aborrecido—, logo estive na ASN: Agencia de Segurança Nacional.
—E depois deu o salto à Ala Oeste como um dos assessores de confiança do Presidente. Salvou ao Presidente de algum atentado ou algo assim?
—Não, nada parecido. Digamos que sou ambicioso e sim, conheço às pessoas adequadas e que estava no lugar correto no momento justo. Quando o segundo mandato do Presidente termine e seu amigo esteja no Escritório Oval, eu voltarei para a A.S.N. Eu só estou emprestado, esse foi o trato.
—Não quer ser parte da equipe do Phillips?
—Não me pediram isso. É o mesmo partido, mas cada um trabalha com sua própria gente e francamente o prefiro. Na A.S.N. é onde quero estar. A política eu não gosto tanto. Prefiro pensar que estou servindo a meu país, não ao governo atual somente. O Presidente concordou que queria uma gestão de fora no referente à segurança nacional. É uma questão de ego, como muitas outras coisas. Dá no mesmo. Você por que quer ser parte da equipe de Phillips?
O garçom se aproximou ambos pediram e ficaram em silêncio enquanto serviam o vinho, gentileza da casa.
—Bonito detalhe embora tenha que pagar por isso. Não nos permitem aceitar presentes — disse Jesse provando o vinho—. Então, Samantha, vai me contar isso? Por que quer ser parte da equipe de Phillips?
—Porque é o melhor para a América — disse Samantha, então sorriu—. Está bem, está bem, a verdade. Não é que não seja o melhor para a América. É um homem estupendo. Mas, ter a oportunidade de entrar na Ala Oeste? Sentar-me no Escritório Oval? Ser uma parte, embora seja pequena, da equipe que trabalha atrás do Presidente? Quem não quer isso?
—É certo. Quinze horas ao dia, emergências continuamente, congressistas que requerem sua ajuda constantemente. É estupendo.
—Isso você diz agora, mas não acredito que esteja em nenhum lugar no qual não queira estar.
Jesse não lhe respondeu, simplesmente levantou sua taça a modo de brinde e deu um pequeno gole no vinho enquanto o garçom colocava uma salada na mesa.
Gostava daquela mulher, realmente gostava. E ela tinha razão, estava exatamente onde queria estar; sentado justo em frente de uma muito interessante mulher.
Quando terminaram de jantar, Jesse se sentia bastante encantado. Suficientemente para perguntar algo que não deveria ter perguntado.
—Estiveste alguma vez na embaixada da Checoslováquia? —perguntou ele.
Parecia que ela conhecia todo o distrito e grande parte da Virginia. Conhecia todo mundo, provavelmente através de seus pais ou do senador Phillips, e tinha sido convidada a todas as festas importantes. Samantha se voltou para trás e moveu os olhos.
—A embaixada da Checoslováquia? É preciosa!
 —Não sei. Nunca a vi — e era verdade, somente tinha recebido um fax do advogado e ainda estava acostumando-se à idéia de que ele e sua família tinham herdado aquela mansão tão valiosa... E todo o resto.
—Alguma vez a viu? Tem que fazê-lo, quero dizer, nunca estive por dentro, mas por fora... Para começar o terreno é magnífico. Uma vez estive ali para fazer umas fotos com a esposa do Senador embora nunca passássemos ao interior. Os jardins são fabulosos, com flores por toda parte.
—Jardins com flores? Incrivelmente original.
—Que gracioso! —disse ela, depois fez uma pausa enquanto o garçom retirava os pratos—. Mas não são só os jardins, a mansão é extraordinária, de estilo federal, com uns tijolos vermelhos maravilhosos e tem milhares de janelas. As molduras e os marcos são de madeira grafite cor nata e definitivamente feitos à mão por peritos. Realmente é... Parte da história da América.
—E se utiliza como a embaixada da Checoslováquia.
Ela assentiu.
—Isso é o que acontece a grande maioria das mansões. É o preço que temos que pagar por ser o centro político do mundo. Mas, é obvio se não fôssemos quem sabe o que seria de todas essas mansões tão antigas.
—Possivelmente nunca tivessem sido construídas.
—Bom argumento, nunca me tinha ocorrido. De todas as maneiras, eu adoraria entrar, simplesmente para dar uma olhada no interior, por que o mencionaste?
Jesse se deu conta de que talvez tivesse falado muito.
—Por nada, simplesmente tinha ouvido que... Era um local muito bonito.
Seus incríveis olhos azuis se entreabriram.
—Mentiroso — disse ela.
—Como? —perguntou ele ao tempo que o garçom lhes servia o café—. Eu nunca digo mentiras.
—OH! O George Washington do novo milênio. Nunca mente. Estou realmente impressionada.
—Está bem, está bem — disse Jesse cruzando as mãos—. Direi isso só porque está me apontando um garfo.
—Eu não estou fazendo nada, mas não te descuides — brincou ela.
Ele riu, não sabia se aquele delicioso jantar era o responsável por que se sentisse tão a gosto, talvez tivesse sido o vinho... Ou a companhia. O que sim sabia era não contava logo a alguém o que tinha no fax que tinha recebido, ia explodir. Era como um menino pequeno com boas notícias.
—Primeiro tem que me prometer que não o dirá a ninguém — disse ele.
—É obvio — respondeu ela levantando a mão direita—. Eu, Samantha Cosgrove, prometo solenemente que não direi nenhuma palavra do que Jesse Colton está a ponto de me contar. Parece-te suficiente?
—Não está mau, embora tenha que te matar uma vez que saiba tudo.
—Parece-me justo. Pertencia ao Serviço Secreto significa que poderia me matar com uma borracha ou com um apontador?
—Já não usamos esse tipo de coisas, agora usamos post-it nota. Posso ser muito cruel com um post-it.
—Não duvido. Venha, conta-me o que devo saber sobre a embaixada da Checoslováquia?
—Que é minha— disse ele arqueando as sobrancelhas.
—Que você, o que? Mentiroso, é o dono? Bom, e eu sou a proprietária do Washington Monumento, e tenho o Lincoln Memorial alugado por motivos de impostos, já sabe.
Ele sorriu e moveu a cabeça.
— Já sei que é difícil de acreditar, mas sou o dono, de verdade. Bom, sou o dono de uma parte.
—De uma parte — repetiu ela enquanto colocava três colheradas de açúcar no café.
—Cuidado com o açúcar!
—Não se preocupe por mim. Você deveria tomar o teu porque acredito que bebeste muito vinho, beba isso antes de voltar para casa de carro.
—Crê que estou tentando brincar contigo? — perguntou ele movendo a cabeça para um lado enquanto a observava. Deus, era tão interessante, adorava ouvi-la falar, mas gostaria ainda mais fazê-la calar... Com sua própria boca.
—Pois se o está fazendo, a verdade é que tenho que admitir que nunca me houvessem dito nada parecido. Prometo-te ser boa e nãorir, mas, por que somente te pertence uma parte da mansão?
—Isso não passará até manhã pela manhã — disse Jesse fazendo uma careta—. Assim deixemo-lo para outro momento, ok?
—E vai haver outro momento?
—Se quiser, sim. Mas agora está ficando tarde. Tenho uma reunião às seis e meia da manhã na Casa Branca.
—Bom, então deveria dizer a razão pela que me pus em contato contigo? Por haver te espreitado?
—Que boa idéia! —disse ele sorrindo—. Pode me dizer somente um pouco, como tenho feito eu, e logo já falaremos.
—Não deveria. Está muito, muito seguro de si mesmo, Jesse Colton.
—Bom concordo, temos um trato? 
Ela afirmou com a cabeça.
—Sim, temos um trato, mas não contarei isso aqui, há muitas orelhas. Pede a conta e contarei isso uma vez que me tenha levado em casa. Não te emocione, Jesse, não estou convidando a minha casa, de acordo?
Ele tirou seu cartão de crédito da carteira.
—De acordo, desmancha-prazeres.
Abandonaram o restaurante depois que Samantha tivesse dado dois beijos no maitre, outros dois em Anthony e outros dois a outra mulher que tinha saído da cozinha enquanto secava as mãos em um pano de cozinha e dizia: «Bela Sweet Bela».
—É tão popular em todos os restaurantes do distrito? Se for assim, acredito que nossa relação será maravilhosa, ao menos até que meu cartão de crédito resista.
—Estou segura de que todo mundo te conhece em todos os ginásios da cidade — disse ela ao mesmo tempo em que ele tentava abrir a porta do carro não sem ser investido por Anthony.
—De fato, me conhecem na maioria dos museus, eu adoro os museus — Nunca imaginaria —disse ela quando ele estava arrancando—. Direção Dupont Circle, uma vez ali já te indicará.
Quinze minutos depois freou o carro de quatro portas junto a uma casa de tijolo vermelho.
—Bonito apartamento — brincou ele olhando aquela mansão em perfeito estado.
 —É de mamãe e papai, para quando vêm à cidade. Nunca a venderam. Juliet nunca vem, mas não é porque não esteja na cidade. Eu, como sou a pequena, obrigam-me a viver ainda aqui. Minha mãe se preocupa muito — disse ela enquanto buscava em sua bolsa as chaves sem êxito—. Lembra de nosso juramento de confidencialidade, verdade? Agora é seu turno.
—Estou preparado — disse desligando o motor do carro, sabendo que os vidros se embaçariam em questão de minutos. Se não desligasse o motor, as possibilidades de ser convidado a uma xícara de café eram menores.
Ela respirou profundamente, olhando como se embaçavam as janelas, seus dedos se moviam nervosos abrindo e fechando o zíper de sua bolsa.
—Tenho muitas responsabilidades no escritório da campanha eleitoral, ocupo-me da imprensa, organizo atos benéficos, ajudo a escrever os discursos, inclusive pego selos se for necessário, faço de tudo.
—Muito bem — disse Jesse, e isso foi tudo o que disse porque notava quão nervosa estava Samantha e não queria que mudasse de idéia de falar com ele.
—Durante meus meses de trabalho — continuou ela, depois de um momento. Suas bochechas estavam pálidas sob a luz das luzes da rua—, ouvi muitos nomes, o teu, por exemplo, e tem uma reputação, Jesse.
—Seja a que for não sou culpado — disse e logo piscou os olhos— sinto muito, estávamos muito sérios.
—Não importa, eu tampouco estou sendo muito clara. Isto é embaraçoso porque normalmente nunca tenho problemas na hora de me expressar. Tem uma reputação, Jesse. De honestidade, de ser sério e leal.
—Agora sou eu o envergonhado.
Ela se moveu no assento e girou a cabeça para ele.
—A semana passada — começou a dizer fechando os olhos e voltando-os a abrir—, isto é muito difícil!
—Simplesmente diga-o rápido, Samantha — disse tomando sua mão. Os dedos dela estavam frios como o gelo. Ele não sabia o que acontecia, não estava preocupada, estava assustada.
—Está bem, a semana passada, na quinta-feira, eu estava pegando selos, quer dizer, que era tarde e havia muita correspondência para mandar, e como eu estava ali e não tinha nenhum plano, fiquei fazendo.
O radar do Jesse ficou em marcha. Correio, correio no escritório do Senador, podia tratar-se de algo.
—Continue — disse quando ela fez uma pausa.
—Não posso, não posso fazê-lo. O senador Phillips foi muito bom comigo. E meu pai? Adora a esse homem. Fizeram o serviço militar juntos, estava acostumada a chamar tio Mark, de fato o continuo fazendo em privado.
—Sinto muito, Samantha, mas não pode parar agora, o que havia nesse correio?
 —Eram cartas que teria que mandar — clarificou-a—. Tem que ter sido um engano me refiro a que ele não faria nada mau, sei que não faria.
 —O que havia nessas cartas? —repetiu Jesse apertando seus dedos.
 —Algo que não deveria ter estado ali, no escritório — disse retirando devagar sua mão—. Sabe que ele preside o comitê de procedimentos e que dirigem material muito delicado...
 —Dinheiro, Samantha. Eles dirigem muito dinheiro. Em Washington dinheiro equivale a poder e poder equivale a dinheiro. Samantha, por última vez, o que havia nas cartas?
 —Amanhã — disse ela rapidamente abrindo a porta—. Vêm em meu escritório amanhã, por volta das sete. Todo mundo terá ido e... Eu te mostrarei.
 —Segue as tendo? Não as mandaste?
 Ela negou com a cabeça.
 —Não, não pude. Estou segura que essa informação nunca deveria haver-se impresso. Nunca deveria tê-la visto.
 —Também conservaste os envelopes? —perguntou Jesse pensativo.
 —Trata-se de um só, um dos envelopes não estava bem fechado, quis fechá-lo mas não tinha cola, algumas vezes nosso escritório é um desastre, assim tirei seu conteúdo para pô-lo em outro novo e então vi... vi... —falava tão baixinho que ele teve que inclinar a cabeça para ouvir - Mostrarei tudo manhã.
Terminou de abrir a porta do carro, deu-se a volta e apertou o seu braço.
—Não pode dizer nada a ninguém, não até que saibamos que está acontecendo, trata-se do correio do Senador, o que não significa que ele...
—Bom, falaremos amanhã, Samantha — disse Jesse, pondo a mão sobre a sua—, mas estou certo que não é nada.
—Eu também acredito que não é nada, um engano. Boa noite.
Então se foi, correndo sob a chuva para a porta principal. Chamou e uns momentos mais tarde uma pessoa uniformizada abriu a porta.
—Tem boa aparência — murmurou Jesse arrancando o carro e dirigindo-se a sua casa.
Capítulo 2
As dez em ponto da manhã, Jesse passou ao lado da secretária que abria a porta do elegante escritório de advogados de Rand Colton, filho mais velho do atual senador Joseph Colton.
Era incrível, até umas semanas atrás, Jesse e sua família não conheciam a existência do ramo rico, carente de qualquer tipo de conexão com Oklahoma, política e socialmente influente dos Colton. Tinha visto fotos do Senador Colton. Tinha lido a respeito dos escândalos, assassinatos e tragédias que quase tinham quebrado aquela família de Califórnia, e tinha chegado à conclusão de que a última coisa que aquela gente precisava era outro escândalo.
Um dos últimos consistia no atentado de assassinato do Senador por parte de sua suposta mulher e de um de seus sócios. Sua esposa tinha tido amnésia durante dez anos e sua irmã gêmea, uma assassina, tinha-a suplantado fazendo-se passar por ela na casa e na cama do Joe Colton.
Tinha sido notícia em periódicos, revistas e televisão. Mas tudo aquilo tinha terminado, agora era parte do passado. Haviam resolvido seus problemas e recomposto suas vidas, mas havia uma última revelação, que felizmente ainda não tinha parado nas mãos dos jornalistas. Se as informações que Jesse tinha recebido fossem corretas, parecia que sua avó tinha sido a esposa legal do pai do Joe Colton, Teddy. A única esposa legal do pai do Joe Colton. Portanto o ex-senador Joseph Colton era um filho bastardo. A imprensa poderia esfolá-los, mas uma coisa que Jesse queria deixar muito clara era que nenhum membro de sua família no Oklahoma tinha planejado fazer nada daquilo público.
—Jesse — disse Rand Colton, saindo de detrás desua mesa de escritório e estendendo a mão—. Ou deveria te chamar primo?
—Jesse está bem — disse apertando sua mão. Sentaram-se em uma mesa do enorme escritório que havia um sofá e umas cadeiras.
—Estamos certos de que tudo isto é verdade? —perguntou Jesse.
—Falou com sua família? —perguntou Rand.
—Sim, quando voltei para casa meses depois do funeral de minha avó. Não pude ir em julho, estava viajando pela Europa com o Presidente. Estiveram acontecendo coisas muito interessantes no Black Arrow ultimamente.
—Sim, graças a meu tio — disse Rand movendo a cabeça e olhando para a porta que se estava abrindo—. Acontece algo, Silvia?
—Não, senhor Colton, me perguntava se você e o senhor Colton querem um café — disse a secretária. 
—Café? —perguntou Rand olhando ao Jesse. 
—Por favor — respondeu ele, sorrindo à secretária - Tomarei sozinho.
 —Muito bem, senhor Colton — disse com entusiasmo a secretária, ficando vermelha—. Agora mesmo. 
 — Sempre tem o mesmo impacto nas mulheres? —perguntou Rand uma vez que ela se foi—. Duvido que traga só café, na certa vai trazer também algum biscoito.
 Jesse se acomodou em seu assento e sorriu. 
 —Suponho que é meu sangue comanche, algumas mulheres o acham excitante.
—Eu o acho interessante — comentou Rand cruzando as pernas—. O que sei sobre Teddy Colton, nosso avô paterno, é que era um grande bebedor, um alpinista social, que tinha um traseiro enorme e um bigode de primeira classe.
—Não tinha nem idéia — disse Jesse apoiando os braços na cadeira—. Mas vi fotos antigas de minha avó, justo antes que fosse a Rena procurar trabalho para ajudar a seus pais, e era uma mulher muito bonita, realmente bonita.
—Não duvido e tampouco duvido que Teddy a conhecesse e se case com ela, antes de seu outro casamento social com minha avó. Meu avô paterno, um bígamo, ainda me custa acreditar. Viu a documentação?
Jesse assentiu com a cabeça.
—Sim. Trouxe os papéis do casamento comigo, assim poderei estudá-lo atentamente. O que ainda não entendo é por que Glória, minha avó, não disse nada a seus filhos.
—Orgulho — disse Rand movendo a cabeça—. Pelo que meu pai me contou, parece que ela ao se dar conta de que estava grávida entrou em contato com o Teddy, mas coincidiu que minha avó também o estava, e em vez de armar um escândalo, voltou para sua casa para criar a seus gêmeos sozinha. Terá que admitir sua integridade. Uma mulher singela, mas com classe e um grande coração. Por outro lado, Teddy não confiou nela.
 —Meu avô estava acostumado a dizer que nunca se deve medir às pessoas pelo tamanho de sua casa.
 —E ela nunca tocou nem um centavo do dinheiro da fundação que Teddy pôs em seu nome, ou a casa que também pôs em seu nome, que agora é a embaixada da Checoslováquia. Perguntei aos advogados que levam o caso que solicitem o desalojamento da embaixada, e estão trabalhando nisso.
 —Não posso acreditar que vamos desalojar aos Tchecos — disse Jesse sorrindo.
 —Em realidade não vamos fazer, parece que a embaixada já estava em processo de mudança a outro edifício mais perto do Capitólio. Estará vazia ao final da semana que vem. Ocuparei-me pessoalmente de que os advogados tenham um jogo de chaves para ti, suponho que quererá ver o lugar. Parece-te bem na próxima sexta-feira?
Jesse entreabriu os olhos pensando em quão contente Samantha ia ficar quando lhe contasse que poderia dar uma volta pelo lugar. Nada como aproveitar todo aquilo para ter outra encontro com ela. Pestanejou, tentando não distrair-se.
—Obrigado, e sobre a fundação? Ainda me custa aceitar à idéia. Dez milhões de dólares? —disse Jesse.
—Sim, mais ou menos. Sessenta anos de interesses são muitos interesses, tendo em conta além do dinheiro esteve investido por muito bons profissionais. E imagine que meu tio Graham não chegou a dizer nada, se ninguém tivesse informado — disse Rand sorrindo
 —Sim, como aconteceu realmente?
Rand e Jesse se levantaram outra vez quando Sylvia entrou com uma bandeja com café e biscoitos.
—Obrigado, Sylvia, Sylvia? —apontou Rand ao se dar conta de que sua secretária tornou a ficar olhando para Jesse.
—Obrigado — disse Jesse. A garota ficou vermelha outra vez e saiu do escritório.
—É francamente incrível, acredito que se chamam carisma, Jesse — disse Rand voltando-se para sentar—. Deveria te apresentar às eleições, indubitavelmente teria o voto feminino.
—Pensarei nisto — disse tomando um dos doces.
—De qualquer forma — disse Rand levantando sua xícara de café—, foi Graham, o irmão de meu pai, quem ficou em contato com nossos advogados. Estava desesperado por vender algo que pudesse ter ficado do patrimônio de seus pais.
—Sim, agora recordo seu nome. Graham, o irmão pequeno, verdade?
—Sim, o mesmo.
Graham ganha bastante dinheiro trabalhando com meu pai. Mas o dinheiro escapa das mãos, assim estava procurando alguma maneira de conseguir dinheiro rápido. Segundo o que ouvi alguém que trabalhava com os advogados que se faziam cargo da fundação, provavelmente um ajudante, ou seja, por que mencionou a mansão de Georgetown, algo que não deveria ter ocorrido posto que meu avô havia exigido explicitamente que o conteúdo do patrimônio se mantivesse em segredo. Eu não gostei de nada como reagiu Graham quando conheceu a existência de sua avó, ficou histérico, pensando no dinheiro e o possível escândalo. 
 — E não se importou?
Rand moveu a cabeça da esquerda para direita.
—O dinheiro não é um problema para mim. Pelo escândalo? É água passada, possivelmente se a notícia tivesse transcendido faz anos quando papai se apresentava ao Senado... Bom imagino que seus colaboradores o tivessem sabido manipular.
Ambos riram.
 —Minha família conheceu seu pai no Black Arrow. Ficou muito impressionado com ele, inclusive meu bisavô, e posso te assegurar que é um osso duro de roer — disse Jesse.
—Papai é muito bom impressionando as pessoas, é algo inato nele, provavelmente porque é um bom homem. Eu gostaria de poder dizer o mesmo de Graham.
—Ele foi quem contratou a alguém para que procurasse os papéis das bodas, certidões de nascimento e as escrituras da mansão para destruir tudo depois? Foi ele quem ordenou que se pusesse fogo à Prefeitura?
—Sem mencionar os roubos aos escritórios dos jornais. Embora ele sempre negasse que tivesse contratado a ninguém para esses fins. Pensava que roubando e destruindo todas as evidências bastava.
 Menos mal que sua avó guardava os originais de tudo em uma caixa em sua casa.
 —E agora os advogados verificaram tudo — disse Jesse muito sério.
—O ramo da família Colton a que pertence é totalmente legítima. Pode estar seguro de que nenhum de nós vai se opor a sua reclamação.
—Muito obrigado, e eu posso assegurar que nenhum de nós vai obstaculizar o processo ou se aproveitar da situação fazendo-o público.
 Rand se sentiu aliviado em ouvir o último.
—Parece que estamos de acordo em tudo. Bom, agradeço por isso. O que pensam fazer você e sua família com a herança? Com todo esse dinheiro?
Jesse sorriu, e com um olhar brincalhão disse:
—Não temos nem a mais remota idéia.
Samantha comeu um sanduíche de carne assada em sua mesa do escritório. Fez um assado no domingo que supunha que tivesse ficado muito gostoso. Tinha preparado com alho, purê de batata e brócolis cozido. Rose, a criada, era uma estudante que trabalhava em sua casa e a única pessoa que Samantha permitia a sua mãe contratar como parte do serviço, tinha jurado que tinha saído delicioso, mas mesmo assim, parecia uma sola de sapato. Levantou o pão para cima e ficou olhando à carne e à alface com maionese. Não, não era uma sola de sapato.
—Maldita seja! —disse, fechando o sanduíche e deixando-o em cima da mesa.
—Aconteceu alguma coisa? —Bettyann entrou em seu escritório e deixou uns papéis em cima da mesa de Samantha.
—Nada para alertar à imprensa — disse Samantha enquanto via como Bettyann avermelhava até a raiz de seu cabeloloiro.
—O que... O que significa isso? —perguntou a secretária com cara de culpabilidade.
 —Significa, Bettyann, que ontem alguém veio fazendo perguntas sobre mim e que você respondeu.
—Eu? Eu o que eu disse?
Samantha sacudiu a cabeça, algumas coisas simplesmente não mereciam o esforço.
—Nada, nada. Esquece-o.
—Não, de verdade — disse Bettyann apoiando as mãos na mesa—. Eu disse algo que não deveria ter dito? A quem as falei?
—Não estou certa. A alguma secretária. Lembra de alguém que fizesse perguntas sobre mim? 
Bettyann disse que não com a cabeça.
—Não, mas ontem veio uma mulher que fez perguntas a todo mundo, coisas como que tal era trabalhar aqui? Ou Como eram os chefes? Pensei que quereria solicitar o posto que anunciamos a semana passada. Por quê? Não seria uma jornalista? Diabo Samantha, me diga que não era uma jornalista.
—Não era uma jornalista — assegurou Samantha—. Mas mesmo assim, Bettyann, no futuro tenta não ser tão amável com os estranhos, ok?
—Não, não vale. Não deveria haver dito nada. Sinto muito, muitíssimo.
—Sei, mas New Hampshire cada vez está mais perto e todo mundo nos olha com lupa, inclusive as pessoas deste escritório. Agora estava escrevendo uma carta dirigida a todos os empregados sobre a maneira de responder às perguntas das pessoas, sobre que protocolo devemos seguir. Deveria havê-lo feito muito antes.
Bettyann fez uma careta.
—Bem, então foi tua culpa, já sabia que não era minha.
—Falas como um verdadeiro político, fora daqui — disse Samantha rindo enquanto via como Bettyann saía do escritório movendo os quadris exageradamente.
Uma vez que a secretária partiu, Samantha envolveu o sanduíche e o colocou em seu recipiente térmico azul marinho que trouxe de casa. Logo teria fome, embora duvidasse. Possivelmente depois que Jesse Colton aparecesse e visse os papéis guardados sob chave em uma das gavetas de sua mesa, então comeria.
Três horas depois, enquanto trabalhava na campanha, Samantha levantou a cabeça quando alguém bateu na porta aberta de seu escritório. Ela soltou os papéis e ficou de pé, rodeou a mesa e lhe deu um abraço à pessoa que tinha entrado.
—Tia Joan, o que te traz para as minas de sal? 
A senhora de Mark Phillips, vestida elegantemente, beijou a Samantha e deu um passo atrás para poder observar o desordenado escritório.
— Minha mãe! É hora de trazer uma faxina por aqui, querida — disse enquanto Samantha tirava uma pilha de papéis de uma cadeira e fazia um gesto à mulher do Senador para que se sentasse.
Joan Phillips tinha uns cinqüenta anos, uns gens muito bons e uma melhor cirurgia plástica que a fazia parecer muito mais jovem. Tinha o cabelo negro, olhos azuis maravilhosos, uma pele cremosa e uma figura estilizada. Trazia discretas jóias no pescoço, orelhas e mãos. A maioria delas relíquias de família que mais que gritar, sussurravam «dinheiro de toda a vida». Tinha um aspecto adorável ao lado de seu marido, era, em definitivo, a esposa perfeita de um candidato presidencial.
Joan se agachou e recolheu um aviãozinho de papel que Samantha fazia com um folheto propagandístico da campanha, «uma mente tranqüila e limpa...»
—É isto uma indireta ou simplesmente estava jogando? —perguntou a mulher do Senador desfazendo o aviãozinho e lendo o folheto.
Samantha sorriu.
—Deixarei que você diga.
—Bom, pelo menos nisto investiram mais de dois segundos de trabalho — disse Joan Phillips depois de um momento. Voltou a dobrar a folha e a mandou até a outra ponta do escritório—. Já lhe ocorreu algo melhor? Isso espero...
—Bom, tenho outras duas possibilidades, tinha a intenção de mandar isso para que tomassem uma decisão final, ou preferiria ver agora?
—Não, não, não agora. Já teremos tempo suficiente Mark e eu quando estivermos a sós. Não quero decidir nada sem ele.
—Está bem — disse Samantha, desejando não sentir-se tão nervosa e tão torpe. Todas essas coisas más que ela sentia quando estava com a radiante senhora de Mark Phillips.
Mas sempre tinha sido assim, desde que era uma menina.
O tio Mark era um encanto e sua mulher bonita, ambiciosa e totalmente perfeita. A Samantha sempre parecia que na presença de Joan estava despenteada, faltava-lhe um botão ou tinha rasgos nas meias. Aquela mulher não tinha a intenção de que Samantha, ou qualquer outra pessoa, sentisse-se incômoda, mas sua perfeição podia intimidar a aqueles que tinham que tratar com ela dia a dia.
—Mmm... E o que te traz por aqui, tia Joan? —perguntou Samantha quando o silêncio começou a ser incômodo para ela porque para o Joan nada o era.
—Boa querida, para ser sincera, somente vim aqui para usar a máquina franqueadora. Seu tio Mark e eu queremos mandar algumas cartas. É assim como chamam, não? Máquina franqueadora. Já sabe essa máquina que franqueia as cartas para não ter que pregar selos.
—Sim, mais ou menos — disse Samantha com um sorriso—. Quer que organize o necessário para comprar uma para o escritório de sua casa? Seria muito útil para ti.
—Não, não é necessário, assim tenho uma desculpa para vir por aqui e ver todo mundo. Além disso, tenho um horário para ir à manicura dentro de meia hora — tirou de sua maleta, de pele de lagarto, uns envelopes marrons—. Só necessito que alguém franqueie isto e deixarei de te incomodar.
—Eu o farei — disse Samantha levantando-se, dando a volta em sua mesa e tomando os envelopes.
—De verdade? Meu Deus, não pagamos o suficiente a você querida, muito obrigado.
Enquanto recebia os envelopes, o coração da Samantha pulsava com força. Eram quatro envelopes marrons, suficientemente grandes para colocar uma folha sem necessidade de dobrá-la. Pareciam envelopes normais? É obvio que sim!
Samantha os pôs sobre sua mesa, detrás dela, tampando-os com seu corpo.
—O Presidente ainda está decidindo se poderá ir à festa da campanha eleitoral do tio Mark a semana que vem?
Joan moveu os olhos.
—Já o conhece, sempre quer ser o centro de atenção, irá? Não irá? Disse a seu tio Mark que chamasse algum artista da Broadway ou a um desses grupos musicais de moda para que atuassem. Diversão sempre significa mais meios de comunicação. Além disso, fará que Jackson assista ao ato, posso assegurar isso
—Todo mundo quererá ir se podemos proporcionar esse tipo de espetáculo, tia Joan, incluída a oposição. Mas supõe-se que vai ser algo pequeno, já sabe, umas duzentas pessoas somente, seus seguidores e amigos mais próximos, nada de coletivas, nem imprensa, nada que possa provocar ou zangar a alguém.
—Tolices Samantha, seu tio esteve arrecadando recursos durante todo seu mandato como senador. Só duzentas pessoas? Agora o que temos que fazer é seguir arrecadando como se fosse o primeiro dia. Sabe tão bem como eu que o dinheiro para sua candidatura à presidência deve ser arrecadado das contas correntes apropriadas ao menos durante dois anos. Se não como vamos conseguir o dinheiro para pagar seu salário, mmm? Então, a quem tem para que atue?
—Eu... Eu ainda estou pensando em diferentes opções — disse Samantha fazendo memória desesperadamente para ver quem poderia chamar no último momento porque não tinha reservado nada.
—Bem, então não há nada para se preocupar — disse Joan levantando-se com um gracioso movimento—. Tenho que partir devo ir ao salão e logo tenho um jantar esta noite às sete com vários membros de nosso partido do Comitê de Califórnia. Todos sabem que para que um candidato seja viável necessita da Califórnia, não acha?
—Definitivamente, e me alegra dizer que por ali vamos muito bem — disse Samantha seguindo Joan Phillips fora do escritório e cruzando a ruidosa sala central cheia de gente, com telefones soando, com o ruído das teclas dos computadores e em geral com o barulho típico de um escritório—. Ocuparei-me de mandar os envelopes, tia Joan. Disse que foram de parte de tio Mark e de sua parte, verdade?
—Fiz? Ah! Sim, sim. Já sabe que seu tio se crer que todos estão ao seu dispor. Tenho que escrever toneladas de cartas, possivelmente suaidéia de comprar uma dessas máquinas seja o melhor, querida, mas então não verei a você tão freqüentemente.
Despediram-se com outros dois beijos e Joan Phillips se foi. Samantha, depois de respirar aliviada, dirigiu-se de volta a seu escritório, fechando a porta com cuidado e com chave.
 Durante as duas horas seguintes esteve pega ao telefone tentando conseguir a alguém que atuasse na festa. Enquanto discava um número de telefone e esperava ser atendida, moveu com a ponta de seu lápis os envelopes que Joan lhe tinha dado. Não queria aproximar-se deles se por acaso mordiam.
Não tinham remetente, nenhum deles, exatamente igual ao que tinha guardado em sua gaveta. Todos tinham a direção em um adesivo feito por computador, e todas eram caixas postais, incluído o da gaveta. Poderia abri-los? Era legal? Ainda não tinham selo, com o qual tecnicamente não teria problemas com Correios. Seria um abuso de confiança, tio Mark confiava nela, e ela confiava nele.
Depois de duas horas, Samantha conseguiu contratar grátis a um famoso trio feminino de música Country. Eram três garotas muito bonitas, com talento e ligeiras de roupa.
Mas ainda não sabia que ia fazer com os envelopes. Cinco no total. Era normal que sua tia Joan, conhecida por ser um pouco miserável embora tivesse muito dinheiro, não queria usar selos tradicionais, posto que se não se colocasse corretamente ou não fossem da quantidade apropriada, os envelopes poderiam facilmente terminar em qualquer parte porque foram remete. Era muito mais seguro utilizar a máquina do escritório eleitoral. Exceto, Samantha sabia que tio Mark, como senador que era, podia mandar toda a correspondência que quisesse desde seu próprio escritório sem nenhum custo. Portanto não se tratava de correio oficial e como não tinha remetente, provavelmente tampouco era propaganda eleitoral. Então, o que havia nos envelopes? O mesmo que tinha encontrado no que tinha guardado? Esteve dando voltas à cabeça toda à tarde até que abriu sua gaveta e colocou os quatro envelopes junto ao outro que já tinha.
Jesse voltou a olhar seu relógio, era muito tarde. Já teria que saber que era impossível sair do escritório em uma hora razoável. Razoável significava entre as seis e as oito. Tinha que acostumar-se, para aqueles que trabalham na Ala Oeste as horas razoáveis era uma brincadeira.
Eram quase nove e tinha preferido aproximar-se andando ao escritório eleitoral do Phillips que ir de carro e demorar vinte minutos para estacionar. Deteve-se na porta do edifício e olhou por volta do segundo piso. Felizmente ainda havia luzes acesas, o que significava que Samantha estava ali, esperando. Provavelmente com suas delicadas e magras mãos fechadas em um punho e amaldiçoando-se por haver ficado em contato com ele. De todas as maneiras, estava totalmente convencido de que não ia recebê-lo com muito entusiasmo. Não, tendo em conta quão nervosa estava ela pensando na importância daquela carta.
Passou junto aos elevadores e subiu as escadas de dois em dois. Tirou a gabardina negra e alvoroçou um pouco o cabelo. O último que queria parecer era o protótipo agente secreto. Entrou na grande sala. Surpreendeu-se ao ver tanta gente ainda ali, falando ao telefone, fechando envelopes... Pensou, com um sorriso nos lábios, no duro que terei que trabalhar para entrar naqueles escritórios e em quão duro terei que seguir trabalhando para continuar nelas. Primeiro se tratava de um escritório pequeno e cheio de gente com gorros de papel típicos das campanhas eleitorais norte-americanas com cintas vermelhas, brancas e azuis, o som da canção das eleições constantemente e a dor na orelha por haver passado horas ao telefone. Logo vinha o triunfo eleitoral e alguém se mudava a OEOB, ou inclusive à Ala Oeste, e uma vez ali, terei que trabalhar ainda mais duro e durante mais horas com muito menos satisfação. Os trabalhadores das campanhas eleitorais eram como hamsters correndo nessas rodas que está acostumado a ter nas jaulas, sem parar, sempre correndo e sem chegar nunca a parte alguma, embora eles não o creiam assim.
Uma loira passou ao seu lado lendo um fax e Jesse a parou com o braço.
—Perdoe, sabe se a senhorita Cosgrove está disponível?
A loira olhou para cima, pestanejou e apoiou a mão no quadril.
—Se ela não o estiver, eu sim. Bettyann Muldoon, ao seu dispor, digo-o em sentido literal.
Jesse deu de presente a ela um de seus melhores sorrisos.
—Obrigado senhorita, mas realmente preciso ver a senhorita Cosgrove.
—Acredito que me dei mal — disse Bettyann fazendo uma careta—. Bom, suponho que deveria atuar como se tivesse lido o último comunicado.
—E eu farei como se soubesse do que está falando, mas de toda maneira, poderia responder? — disse Jesse ainda com um sorriso.
—Está bem, aí vai — disse erguendo as costas e pondo um tom de voz oficial fingido—. Sinto muito senhor, mas não acredito que ouvi seu nome, tem uma entrevista para ver a senhorita Cosgrove?
—Não uma entrevista em toda regra, mas ela sabe que ia vir Possivelmente me mencionou? Jesse Colton?
—Ah! Quer dizer que é pessoal — disse Bettyann olhando-o de cima abaixo.
—Poderia dizer-se sim — disse Jesse e de novo sorriu, mas esta vez com muita mais picardia.
—Bom... Já era hora de que essa garota saísse um pouco e que... Espere aqui, senhor mmm... Senhor... Bom simplesmente espere, de acordo? Irei falar com ela.
Enquanto isso, Jesse se entreteve dando uma olhada naquela sala grande e quadrada, vendo os anúncios com o rosto sorridente do senador Mark Phillips que estavam pregados por toda parte. Também havia centenas de bandeirinhas azuis, brancas e vermelhas, numerosas fotos assinadas por Phillips com o Presidente no Escritório Oval e também do Senador com sua encantadora esposa posando na praia. A atmosfera reinante naquele lugar era um perfeito caos, Jesse pensou que provavelmente ele agüentaria trabalhando ali uns cinco minutos.
Entre aquela desordem apareceu Samantha Cosgrove. Era como a calma em metade de uma tormenta, como uma princesa que permanecia tranqüila enquanto que o resto do mundo corria como se de uma carreira se tratasse.
Poderia havê-la beijado, mas um momento, por que não o ia fazer?
—Samantha — disse ele aproximando-se, justo no momento em que ela se dispunha a abrir a boca para provavelmente lhe dizer que se fora e que retornasse mais tarde quando todo aquilo estivesse mais tranqüilo—. Olá carinho! —disse animadamente enquanto a tomava entre seus braços e a beijava na boca, não sem antes olhar de esguelha a Bettyann.
Os olhos da secretária se abriram de tal maneira que parecia como se alguém tivesse dado um golpe nas costas e que os dois olhos fossem sair de suas órbitas para cair rodando pelo chão.
Mas isso dava igual, o que agora importava era que a boca de Samantha era tal e como a tinha imaginado cálida e suave, exatamente igual ao resto de seu corpo. Quente e suave. Além disso, tinha muito bom sabor. Como seria o resto de seu corpo?
Ela começou a resistir, mas com dissimulação não fosse que alguém se desse conta e a tentasse ajudar. Samantha Cosgrove era muita mulher para isso. Em seu lugar o que fez foi pôr as duas mãos a ambos os lados do pescoço do Jesse e apertar com seus polegares justo detrás das orelhas.
Era preparada, muito. Teria que contar aos meninos do Quântico. Seguro que o acrescentariam a seu manual de As Cem Maneiras Engenhosas de Desarmar a um Adversário.
Ele jogou a cabeça para trás e sorriu.
—Que demônios crê que está fazendo? — perguntou ela falando em voz baixa.
—Estou-te dando um beijo de recebimento — explicou ele, também sussurrando. E então voltou a beijá-la, esta vez no pescoço, muito perto da orelha—. Acredito Samantha, que ninguém pode saber que estou aqui por um assunto oficial, pensei que aqui não ia haver ninguém.
—OH! Não pensei nisso, está bem, mas pode me soltar agora, por favor?
—Não quero — disse ele com sinceridade.
—É um bruto — respondeu ela. E quando de repente a soltou, ela deu uns passospara trás.
—Minha mãe, não é estranho que tivesse tão bem guardado o segredo — disse Bettyann a Samantha movendo o dedo.
—Sai Bettyann, e por que não leva a resto das pessoas contigo. Realmente não se pode fazer muito mais esta noite — disse Samantha sorrindo.
—Está certa? Caímos seis pontos — respondeu Bettyann sem tirar o olho de Jesse.
—Totalmente. Comprovei que em New Hampshire sempre acontece o mesmo justo antes das primárias. Acredito que gostam que estejam dependentes deles quando ainda não se sabe o resultado definitivo. Os eleitores não são tolos, Bettyann, estão muito bem informados, o Senador ganhará. Mas lembre, as listas das pessoas às que chamamos são confidenciais, já sabe.
—Falas como uma autêntica política em período eleitoral — disse Jesse enquanto cruzava com Samantha a porta aberta de seu escritório—. Perdeu sua liderança? O Presidente não vai gostar.
—Não, não perdeu sua liderança, simplesmente perdeu alguns pontos e se supõe que você não teria que ter ouvido nada disso — disse ela fechando a porta. Deu a volta e o olhou movendo a cabeça — Bettyann tem um grande problema.
—Um grande problema?
—Sim, sua boca, abre-a muitas vezes...
—Pimentões cheios? —disse Jesse sorrindo.
—Exato. Confia em todo mundo. Ela confiaria em sua secretária, provavelmente porque é uma dessas pessoas de aspecto inocente embora logo seja incrivelmente preparada. E agora Bettyann confia em você porque é muito bonito... Maldita seja! Bom, não faça caso da última parte.
—Está de brincadeira? Não penso esquecê-lo. Então, pensa que sou bonito?
—Não — disse Samantha, movendo os olhos—. É Bettyann quem pensa que é bonito, também pensa que se chama Jesse James, assim não fique tão contente. Quer ver o que tenho ou não?
—Essa pergunta eu poderia interpretar de muitas maneiras.
— Cale-se! Por favor.
—Está bem — disse olhando a seu redor—. Este lugar não se parece contigo absolutamente. Eu imaginava mais moderno e sobre tudo, não sei mais ordenado.
—Trabalho bem com a desordem — disse Samantha sentando-se detrás de sua mesa—. Não posso trabalhar é sendo o centro das fofocas do escritório. Não se dá conta de que agora todo mundo acredita que é meu namorado? Todos me perguntarão de você. E logo, quando partir, me converterei na pobre garota a quem quebrou o coração. Já posso ouvir Bettyann com cara de pena me perguntando constantemente se quero falar do tema.
 Ele caminhou de lado a lado do escritório.
—Um só beijo em público me converte em seu namorado? —disse enquanto olhava debaixo de um abajur de pé.
—Neste escritório, sim. Ou não sabe que Washington é o centro das fofocas? Ainda mais que Hollywood. Amanhã todo mundo falará inclusive de casamento, é asqueroso.
—Então temos que nos casar? —perguntou Jesse ao ver que Samantha estava ficando vermelha, era tão encantadora quando se ruborizava; mais acessível não tão perfeita e sofisticada. Olhou para o teto, havia um abajur de desenho clássico, não, aí tampouco havia nada,
—Seguro, por que não — disse ela tirando uma pequena chave de seu moedeiro—. Eu gostaria de ter três filhos, dois meninos e uma garota.
—Alegra-me que já tenha tudo pensado — disse Jesse ficando de joelhos e passando a mão por debaixo da mesa. Moveu-a devagar com muito cuidado, de repente sentiu algo, colocou a cabeça debaixo da mesa e olhou atentamente, bingo! Levantou-se e se afastou um par de passos da mesa—. Dois meninos e uma garota? Terei que pensar. Podemos começar esta noite? Quero dizer, que a mim esta noite vem bem.
Ela ficou olhando como se nesse preciso momento, o cabelo do Jesse pegasse fogo.
—É impossível ao igual que incrivelmente otimista. Se nos vimos aqui é porque não queria ficar em nenhum outro lugar, entende-o? E que diabos está fazendo?
Ele levou um dedo aos lábios, tirou um pequeno caderno de notas de seu bolso e tomou um lápis em cima da mesa. Escreveu umas palavras e mostrou a ela.
—O que entendo? Perguntaste-me o que eu entendo? —perguntou ele enquanto ela lia a nota—. Acredito que você também tem algo que entender preciosa.
Ela o olhou como se na nota pusesse: Há uma bomba enorme sob a mesa e vai explodir em cinco, quatro, três, dois... Sinto muito, muito tarde!
Ele a olhou enquanto ela seguia com os olhos arregalados, ele continuou falando enquanto ela a única coisa que fazia era abrir cada vez mais a boca.
—Bom, para ser sincero, você crer que isto são somente negócios, que tenta me converter em um seguidor do futuro presidente Phillips. Mas embora possam acontecer dias, inclusive semanas, acabará admitindo o muito que me quer.
—o muito que te quero? Do que está falando? Eu o que quero falar é de...
 Ele moveu a cabeça e continuou falando.
—Pois eu vim para te perguntar se queria dar uma volta pela mansão de Georgetown na próxima sexta-feira e para te convencer de que não somente me quer como partidário de Phillips, o que realmente quer é meu corpo.
Samantha seguia olhando-o boquiaberta, assinalando a nota que tinha escrito.
—Está de brincadeira, não? —ela nem sequer tinha ouvido a parte em que ele havia dito o de que realmente queria seu corpo, uma pena, Jesse gostaria de ouvir sua resposta—. Hei você está brincando não? —repetiu ela.
Ele negou com a cabeça.
—Brincando? Informo senhorita Cosgrove, que eu sou leal, honrado e a maioria das vezes muito discreto. Não, não estou brincando. Os atuais inquilinos estão se mudando para outro lugar, o lugar ficará vazio na próxima sexta-feira e então será quando eu, que nunca minto, terei as chaves, as chaves, preciosa. Portanto está interessada?
Ela levantou a chave que tinha na mão e franziu o cenho de modo interrogativo.
Boa garota. Estava assustada, mas não era uma parva. Sabia o que ele queria, tinha entendido.
Ele assentiu com a cabeça e ela assentiu também enquanto ele tomava a nota que tinha escrito e metia no bolso de seu traje. Ela abriu a gaveta e tirou o montão de envelopes marrons para depositá-los em cima da mesa.
— Já sabe que estou interessada, na casa, Jesse, não em ti. O que houve entre nós terminou, é água passada, finito. Ouviu? —disse ela falando diretamente sobre a mesa.
Ele fez um signo de exagero. Deviam manter uma conversação banal, simplesmente um casal de apaixonados discutindo, nada que fosse interessante para a pessoa que estivesse escutando.
—Ah, sim? E quando faz um momento estava beijando a um menino aí fora, diante de todo mundo? Eu era esse menino e sei que gostou.
—Possivelmente — disse ordenando os envelopes e assinalando o que já estava aberto. Primeiro levantou um dedo e logo os outros quatro, enquanto o olhava com cara de interrogação—. Às vezes pode chegar a ser uma macacada, mas de uma maneira patética.
Levantou cinco dedos. Hey! Ela havia dito um, mas se tinha mais queria todos.
—Muito bonito você disse que eu era muito bonito. 
Samantha molhou os lábios com a ponta da língua. Estava nervosa, mas gostava da situação. Eram como dois mafiosos, parecia que faziam aquilo todos os dias. Sorriu transmitindo coragem.
—Eu não chamei você de bonito — disse ela—. Bettyann sim. Pensei que os meninos preparados como você não eram tão presunçosos.
—Também sabemos como dar a volta às coisas para que pareçam melhores muito melhores do que realmente é, então, o que acha mais atraente? Meus olhos? Meu queixo? Meu sorriso? Diga quanto me quer e de que forma.
Samantha levantou-se e ficou olhando.
—Importa-te se o deixamos já?
—Não, até que diga que me quer — disse ele assinalando a parte inferior da mesa, quem quer esteja escutando tinha que pensar que eram amantes não conspiradores—. Diga-o! —disse ele e movendo os lábios, mas sem dizer nada diga... Quero.
Ela pestanejou, logo engoliu em seco enquanto pensava naquelas duas palavras.
—Quis ontem — disse ela finalmente, abrindo sua maleta e colocando os cinco envelopes em seu interior e fechando-a outra vez—. Hoje não me importa nada.
—Bom, pois como não te importo nada, jantamos? Gosta de massaou comida chinesa?
—Tenho em casa sobras de um assado de carne e um pouco de purê de batatas com alho.
—Carne deliciosa, alho horrível — disse Jesse enquanto indicava com um gesto que saísse detrás da mesa.
Ela o fez, mas parou um momento para agachar-se e olhar por baixo. Dois segundos depois estava de pé outra vez, com seus incríveis olhos azuis totalmente arregalados.
—Você já... Viu?
Bom, ele já não podia fazer nada mais. Ela tinha estado incrível, fantástica, mas estava a ponto de por tudo a perder. Não tinha outra opção. Tinha que beijá-la de novo.
Possivelmente aquilo não estava na sua instrução como agente, mas sempre estava disposto a aprender coisas novas.
Capítulo 3
Na lista de coisas que Samantha tinha que fazer, tentar que Jesse a beijasse de novo ocupava um dos primeiros lugares.
No momento em que saíram do edifício, tomou o braço e com voz rouca sussurrou ao ouvido:
—Um microfone? Meu escritório está vigiado? Por quem? Como? Por quê?
Jesse passou um dedo por sua bochecha.
—Fica encantadora quando se assusta.
—OH, cale-se! —disse ela rapidamente adiantando-o enquanto caminhavam. De repente parou—. Aonde vamos?
—Isso depende. Meu carro está nos outros escritórios, onde está o teu?
—Mais perto. Nós temos nossa própria garagem. Levarei você até seu carro e logo iremos a algum lugar conversar.
—Pensei que fosse me convidar para sua casa jantar.
Samantha franziu o cenho enquanto dobravam uma esquina.
 —Eu disse isso? Agora mesmo não me lembro.
—Pois disse preciosa. Aceitei a carne assada e rechacei o purê de batatas com alho, lembra agora?
«Não», pensou ela, sua memória se concentrava no momento em que ele havia dito te quero, quando a tinha beijado e quando havia dito que a soltasse e Jesse tinha respondido: «Não quero».
Samantha sacudiu a cabeça, estava sendo sentimental.
—Pior para você, eu comerei o purê de batatas — disse ela.
 —Bom problema resolvido. Onde estacionou o carro?
Ela apontou para frente com a mão e deu uma olhada na garagem. Onde tinha deixado o carro? Porque tinha ido trabalhar de carro, não? Então se lembrou, embora fosse muito tarde.
—Agora me lembro, esta manhã vim de metro — disse Samantha ficando vermelha.
 —É algo difícil de recordar — disse ele, dando a volta e indo para o estacionamento onde tinha parado seu carro de quatro portas.
Ela assentiu com a cabeça.
—Um microfone! Ainda não acredito. Quem o terá feito? —disse Samantha.
—Bom, para começar o governo não foi.
—Quer dizer que não estou sob nenhuma investigação federal?
—Não, não acredito, mas isso significa algo pior.
—O que?
—Que seja a oposição, por exemplo. É muito arriscado, mas pode ter feito outras vezes. A questão é quem ocupava esses escritórios antes que você pode ser um microfone esquecido e que não funcione.
 Samantha gostou muito aquela idéia.
—Sim, poderia ser isso, tem que ser isso. Um microfone esquecido tiraram o resto, mas desse esqueceram. Crer que poderia haver mais?
—Você gosta do cenário, não? Isto é Washington, preciosa, e aqui dizemos cenário, soa mais oficial.
—Quer se calar e me dizer o que pensa? Por favor.
 —OH! A senhorita tem seu caráter, ok, ok. O que parece isto? Sua própria gente espia seu próprio escritório eleitoral, já sabe, para informar-se sobre tudo o que está passando.
Samantha parou em seco.
—Não — seu coração pulsava com força—. Tio Mark nunca faria uma coisa assim.
—Não irá perguntar nada a ele, verdade?
—Perguntar a ele? Está louco? «Não» posso perguntar nada.
—Provavelmente não — disse Jesse entrando no estacionamento—. De qualquer maneira deveria examinar o microfone para saber se está ativado. Podemos fazê-lo amanhã de noite. Simplesmente necessito um par de ferramentas, sobre tudo para comprovar que não há mais escutas.
—Está bem, mas, por que examinou meu escritório no princípio? Sabe de algo que eu não saiba?
—Não sei por que o fiz. Suponho que é algo natural para alguém com meu treinamento. Pela mesma razão pela qual os meninos olham debaixo da cama para ver se por acaso há ogros eu procuro microfones, câmaras e esse tipo de coisas aonde vou.
—Ok, ok. Obrigado — disse enquanto ele abria a porta do co-piloto e entrava no interior do carro. Ela deixou a gabardina aberta, deixando descoberto seus joelhos. Ele o merecia ao fim e ao cabo.
Jesse arrancou com o carro e saiu do estacionamento.
—Ainda não me respondeu quem era o anterior inquilino do escritório?
—Não sei, mas dá na mesma, porque acabo de me lembrar que fui eu quem trouxe aquela mesa a meu escritório. Não havia mesa quando eu cheguei pela primeira vez.
—Isso não é muito boas notícias.
—Sinto — disse Samantha movendo os olhos—. Não me lembrava, estou um pouco estressada...
—Mas igualmente bonita — disse Jesse acariciando seu braço—. Eu adoro a maneira em que se esquece das coisas, como ter tomado o metro esta manhã.
Ela assentiu com a cabeça.
—Esta manhã não pude encontrar as chaves do carro. Tenho uma chave extra, mas a guardo no escritório.
Permaneceram em silêncio o resto do caminho, cada um perdido em seus pensamentos.
Jesse estacionou o carro em um local livre a uns metros da porta da casa e desligou o motor. Quando ela fez um movimento para abrir a porta e sair, ele segurou seu braço.
—O que? Não me diga que tenho que te pedir que seja um cavalheiro?
—Isso também, mas primeiro eu gostaria de saber uma coisa. A outra noite, quando te trouxe em casa, procurava algo em sua bolsa. Logo chamou o timbre e uma pessoa te abriu a porta e te deixou passar. Por quê?
Samantha apoiou suas costas no assento de couro do carro.
—Por quê? Porque não encontrava minhas chaves, já lhe hei isso dito.
—Muito bem, simplesmente estou reconstruindo a situação, ajuda-me a pensar. Diga outra coisa, que tipo de chaves tem nesse chaveiro? As de sua casa, as do carro, alguma outra?
Ela abriu sua bolsa e tirou um chaveiro de couro Burdeos com um montão de chaves.
—As chaves do escritório, as de meu escritório, as chaves do cadeado de minha bicicleta, as chaves das gavetas de minha mesa, a de meus fichários, a de mi...
—O que acontece?
Ela moveu afirmativamente a cabeça.
—Precisamente hoje já era tarde quando Bettyann encontrou meu chaveiro no chão, ao lado da fotocopiadora. Não recordo havê-la usado, mas devo havê-lo feito.
—Mmm...
—Mmm o que? Eu não gosto quando faz mmm, definitivamente eu não gosto. No que está pensando?
—Em nada — disse muito rápido para que Samantha ficasse tranqüila.
—Não faça isso, Jesse, se está pensando em algo, quero que me conte.
—Está bem, lá vai: Ontem alguém roubou suas chaves para entrar no escritório de noite.
—Para pôr o microfone? Jesse moveu a cabeça.
—Não, não acredito. Deve estar ali a muito mais tempo, provavelmente inclusive no primeiro dia que chegou. Ao melhor acontece algo ao microfone e precisavam arrumá-lo... Ou fazer outra coisa. Não notaste nada fora do comum em sua mesa, nas gavetas ou algo fora de seu lugar?
Ela riu sem vontade.
—Viu meu escritório, verdade? Não me daria conta se houvesse um elefante tocando o violino em cima de minha mesa.
—É certo, provavelmente contavam com isso.
—O que contavam com isso? Quem contava com isso?
—Quem quer que fosse o que roubou suas chaves, Samantha. Não se preocupe e conta comigo nisto. Alguém necessitava das chaves de seu escritório e inclusive as de sua mesa. Tomaram todo o chaveiro, mas acredito que só queriam as chaves de sua mesa. Diga, guardou os envelopes nessa gaveta todo este tempo?
Samantha começou a morder ponta do dedo, um hábito nervoso que acreditava esquecido.
—Sim, é onde pus o primeiro a semana passada, os outros envelopes vieram hoje e os pus junto com o anterior.
—Precisamente ia perguntar sobre isso, pensei que só tinha um. Então guardou um envelope que teria que ter mandado a semana passada. Portanto o envelope alguma vez chegou aonde se supunha que tinham que chegare alguém foram comprovar o porquê daquilo, segue-me?
—Mais ou menos. Mas, por que um microfone?
—Hoje em dia ninguém confia em ninguém. Possivelmente estejamos tratando com dois assuntos totalmente diferentes ou possivelmente há alguém com um sério problema de paranóia.
—Tio... Refere-se ao senador Phillips? Não, não o vejo fazendo algo assim.
—É muito leal, Samantha, e isso é ótimo, mas em troca eu suspeito de todo o mundo. Sou treinado para isso — disse ele—. Bom, agora vamos para sua casa, mas não devemos falar de nada disto até que tenha comprovado que não há mais microfones. A chave de sua casa esteve perdida todo o dia e toda a noite de ontem, não é?
—Sim, mas temos Rose.
—Ontem esteve todo o dia em casa?
—Não, Rose também é estudante. Só fica o uniforme de vez em quando, sempre brinca sobre isso, está acostumada a chamar czarina e diz que ela é um exemplo da classe operária oprimida. Estuda história russa, entende?
—Enternecedor. Então, não esteve em casa? Mas mesmo assim não podemos estar seguros. Tem alarme de segurança?
A Samantha iluminou o rosto.
—Sim! Temos alarme, como ia esquecer? Tem uns segundos para marcar um código e desbloquear a porta Y... Diabos!
—Por que acredito que o que vai dizer não vou gostar?
—Caso meus pais saibam disto, me obrigam a voltar com eles antes que possa fazer a mala, sabe, não? Juliet está em Nova Iorque e meu irmão está sozinho na universidade, mas eu não, por que os pais sempre têm que escolher algum filho?
Tomou o chaveiro de couro e o abriu.
—Não sei Samantha. Mas possivelmente me atreveria a dizer que é porque pensam que é um desastre e esquece coisas como o código secreto do alarme, e por isso escreve dentro do chaveiro com rotulador negro, acredita que possa ser isso?
—Te odeio — murmurou ela tomando o chaveiro dele—. Se te der um dólar, me prometa que não dirá aos meus pais.
—Se me der um beijo, não te darei nem sequer uma lição de segurança, ou ao menos não uma que dure mais de dez minutos, o que acha?
Samantha ficou olhando, então abriu a porta do carro.
—Anda vamos, quero ver se em minha casa há microfones. Servirei algo para jantar e logo te mostrarei os envelopes. Depois de tudo, me convidar para jantar e ter encontrado um microfone em meu escritório não é mérito suficiente para poder me beijar, nem sequer mataste o culpado.
—Sabia que diria algo parecido — ouviu Samantha que ele murmurava, justo antes de sair do carro.
Jesse esteve falando com Rose durante vinte minutos, o mesmo tempo que Samantha demorou em trocar de roupa apesar de estar muito bonita vestida para ir ao escritório, e incrivelmente bonita vestida com roupa de casa.
Quando ela reapareceu vestida com umas calças largas, um pulôver com capuz de angorá cor marfim e o cabelo loiro recolhido em um rabo-de-cavalo, Jesse estava a ponto de perguntar a Rose uma última coisa, mas... esqueceu do que se tratava.
—Olá! Está aí? —disse Rose com um sorriso zombador, movendo uma mão diante do rosto de Jesse—. Deus, eu adoraria causar esse efeito nos homens.
—Não diga tolices. Rose — disse Samantha—. Mas deveria pôr outra linha de telefone porque com todas chamadas que recebe eu quase não posso usar.
Rose sorriu satisfeita.
—Isso é verdade, sou uma deusa, foi um lapso momentâneo, ou estou acostumada a ter quando ela está perto — disse a Jesse.
—É que Samantha é um bombom, Rose — disse Jesse piscando um olho.
—Pare já — protestou Samantha sentando-se em uma poltrona grande de couro verde e pondo os pés em cima—. Vejo que Rose encontrou uma alma gêmea em você.
—Muito gracioso, mas temo que os livros estejam me chamando. Rasputín! Sabem quantas vezes tiveram que matá-lo até que finalmente morreu? — disse Rose partindo.
—Fora, Rose! —disse Samantha movendo a cabeça.
—Não é realmente parte do serviço, não? —perguntou Jesse uma vez que a jovem tinha saído da sala.
—Tecnicamente, sim. Mas em realidade ela é quem manda. A única maneira para que minha mãe me deixasse ficar aqui era que Rose vivesse comigo, ela ganha seu alojamento e eu tenho a alguém com quem falar alguém que chame à polícia se não voltar para casa e procure meu cadáver no rio. Minha mãe é estupenda, mas tem tendência a pensar em todo tipo de tragédias. 
Jesse assentiu.
—As mães costumam ser assim, sei por que eu também tenho uma. Ah! E tinha razão. Rose esteve ontem à maior parte do dia fora de casa.
Samantha se acomodou na poltrona.
—Podemos falar aqui?
— Sim, não há problema, não há nada nesta sala, já o comprovei. Poderia dizer a Rose que limpe o pó atrás do sofá, embora corra o risco que te dê uma lição sobre o abuso à classe trabalhadora.
—Muito gracioso - Samantha fez uma careta. Encantava-lhe quando ela fazia isso, passava de parecer modelo a ser aquela garota graciosa e encantadora. A classe de pessoa que sempre estava espetacular vestida de noite ou com jeans.
 Estava se apaixonando, cada vez estava mais apaixonado.
—De todos os modos, acredito que aqui estamos seguros. Tudo está muito mais ordenado que em seu escritório e Rose não percebeu nada estranho, embora amanhã tenha que comprovar o resto da casa.
—Com o qual, quem quer que tenha tomado minhas chaves, se finalmente alguém o tiver feito, queria-as para entrar em meu escritório e acessar as minhas gavetas.
—Isso é o que eu penso, tem fome?
—Provavelmente, mas ainda estou um pouco desgostosa, melhor dizendo zangada, realmente zangada.
—A intromissão, verdade? —Jesse disse.
—Sim, exatamente, sinto como se tivessem me violado, não é uma tolice?
—Não, absolutamente. Mas agora, o que parece se formos à cozinha e atacarmos essas sobras?
—Não se importa de comer sobras? —perguntou ela levantando-se.
—Preciosa, contanto que seja feito em casa, eu como o que for inclusive frio.
De caminho à cozinha, enquanto cruzavam um estreito corredor, ela se voltou para ele.
—Por que faz isso? —perguntou Samantha.
—Fazer, o que? —ela cheirava muito bem, incrivelmente bem, como a flores da primavera.
—Me chamar preciosa.
—Eu?
Deu um pequeno soco no seu peito.
—Você sabe perfeitamente que o faz.
—Mmm - disse ele enquanto entravam na cozinha, pequena, mas perfeita—. Terei que pensar será algo do subconsciente?
—Não, não acredito que seja seu subconsciente - disse ela enquanto tirava as travessas cheias de comida da geladeira—. É mais, acredito que é muito consciente de todas as coisas que faz.
—Nesse caso, quer que deixe de fazê-lo?
 Ela duvidou por um instante, tinha travessas de plástico em ambas as mãos.
—Deixe que eu pense nisso.
Jesse tomou as travessas de suas mãos enquanto ela dava a volta e tirava mais duas da geladeira.
—Sente-se - disse ela apontando a mesa de carvalho com cadeiras de couro—. Esta cozinha é muito pequena para duas pessoas, ou ao menos isso é o que Rose diz quando quer escapulir.
Jesse decidiu obedecer. Sentou-se e com a mão apoiada no queixo começou a observar seus ágeis e graciosos movimentos enquanto esvaziava a comida em pratos e os esquentava no microondas.
—Você gosta de cozinhar - disse ele sem perguntar.
—Eu adoro - disse olhando-o por cima do ombro—. Estou me acostumando a passar horas aqui e anteriormente na cozinha de Connecticut. Os aromas, texturas e cores, inclusive limpar não me incomoda. Rose agradece muito, ela se encarrega da limpeza do resto da casa e da prancha.
—Acredito que o trabalho do Rose é uma moleza - comentou Jesse enquanto tirava dois copos de um armário e punha gelo do dispensador frontal da geladeira—. Gelo? Algo mais?
—Há latas de refrescos na despensa, poderia te oferecer vinho, mas quero manter a cabeça limpa.
Dez minutos mais tarde, estavam sentados na mesa um em frente do outro. Jesse estava se apaixonando mais a cada minuto.
O assado estava tenro e saboroso, o molho era espesso e escuro e o purê de batatas com alho um presente dos deuses que se alegrou de ter provado finalmente.
—Se suas sobras forem tão ricas, me diga

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