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O BEM COMO FINALIDADE DA EDUCAÇÃO EM PLATÃO Sinicley da Silva1 Jocemar Malinoski2 Ricardo Antonio Rodrigues3 Resumo: Esse trabalho pretende discutir a concepção de educação em Platão e sua possível contribuição para o nosso modelo de ensino. O grande impacto da teoria platônica reside na forma como relaciona a noção de Bem permeando a educação, a ética e a política. Esses temas são indissociáveis. Para chegarmos ao estado justo é preciso investirmos em indivíduos que constituam esse principio de Justiça fundado na sabedoria, primeiro subjetivamente. Quando a educação alcança o seu objetivo, tornar sábios os integrantes do Estado provoca em cada um desejo perene de busca da verdade e da sabedoria, ligados ao Sumo Bem que provoca uma dinâmica de busca comum do Bem Supremo. O rei-filósofo é, neste caso, alguém que se torna responsável pela condução de todos a busca da cidadania e do exercício do bem comum. A principal contribuição desta proposta de trabalho é questionar o que entendemos por educação e qual é a sua finalidade. Palavras-chave: Educação. Platão. Justiça. Bem. Idéia de bem em Platão tendo como pressuposto básico: educação, ética e política Platão foi um dos grandes pensadores de seu contexto histórico, século IV.aC. Dentre os vários discípulos da academia de Sócrates, ele foi quem mais se destacou por causa de suas teorias filosóficas, no campo: da ética, da política e outras. Enfim, por toda a teoria de Estado elaborada pelo mesmo. Platão elaborou tal teoria política, porque se decepcionou e muito com a forma que foi julgado e condenado seu mestre Sócrates levando-o a morte. No que diz respeito a tal fato, o mesmo acreditava que foi pura intervenção política. Por isso, que logo depois de tal ocorrido Platão se dedicou intensamente a estudar e formular conceitos a cerca de política em sua academia. E partindo desse pressuposto de decepção no campo da política, que Platão passou em sua academia, juntamente com seus discípulos, a se dedicar em tempo integral à formulação de teorias acerca políticas para se ter um Estado justo. Estado esse, que para o 1 Acadêmico do Curso de Filosofia da FAPAS. sinicley@hotmail.com 2 Acadêmico do Curso de Filosofia da FAPAS. 3 Professor da FAPAS, Orientador. mesmo seria composto por cidadãos virtuosos. Frisando sempre que o bom governo é aquele que governa para o povo não para si, tendo sempre em vista propiciar meios que leve os cidadãos ao bem em si. Mas não vamos nos confundir, no sentido de afirmar que Platão foi um político do tipo atuante (governo da pólis) muito pelo contrário, o mesmo sempre ficava na academia juntamente com seus discípulos formulando teorias acerca da política, para que os governantes que estavam à frente do povo, ou seja, no poder as colocassem em prática. E tais teorias podem ser encontradas em sua mais célebre obra denominada “A República”. Quando nos remetemos a Platão como teorizador de ciências políticas, também devemos levar em consideração que o mesmo deu muita importância a tal ciência. Em especial para que ela se efetuasse no campo da educação e da ética, no agir humano no contexto da cidade. Até porque, para Platão através da política, da educação e da ética esses três pilares básicos, o homem grego poderia ter uma formação integral, que o direcionava a contemplar a idéia de bem ontológico. Sendo que tal idéia de bem para Platão se situava no mundo inteligível, mas de acordo com o mesmo nada impediria que os homens livres e sensatos o obtivessem tal contemplação da idéia de bem no mundo sensível através da prática das virtudes e amor à sabedoria. E ainda, para atingir a contemplação do bem em si, que se situa no imutável era necessário muito esforço, esforço esse que se adquiria somente através do conhecimento. Segundo Jeannière (1995, p.131), O bem é o fim supremo de tudo o que vive e ele bastasse a si mesmo. Mas nem a sabedoria, nem o prazer sozinhos podem pretender ser o bem. Ninguém aceitaria uma vida de prazer que não fosse iluminada por uma centelha de inteligência; ninguém aceitaria uma vida de sabedoria imperturbável que não fosse despertada por nenhuma emoção de prazer ou dor. A vida feliz é uma mistura de sabedoria e prazer, que não pode afastar a dor. Tendo em vista que para Platão a educação, a política e a ética eram de suma importância para se contemplar a idéia de bem supremo, vamos ver como o mesmo entendia esses três importantes pilares que se entrelaçam para a formação integral do cidadão grego: 1. EDUCAÇÃO: no âmbito educacional nos deparamos com um Platão, muito preocupado com a qualificação dos cidadãos, para se ter uma sociedade justa (eticamente e politicamente). Sociedade essa que para ele deveria ser composta por homens virtuosos, capaz de dominar suas paixões, o que o mesmo denominava “equilíbrio de si”.E também formar cidadãos com 2 capacidade de argumentação e retórica, para que assim fossem habitantes ativos e não passivos como os escravos, mulheres e crianças na cidade. 2. ÉTICA: a visão ética platônica é que a mesma deve ser ensinada (prática das virtudes). Para Platão o indivíduo deveria saber distinguir uma boa de uma má ação. A falta dessa prática de distinção era para ele o mal em si. 3. POLÍTICA: na política nós encontramos com uma concepção platônica bastante rigorosa, isto é, Platão parte do pressuposto que um governante deve ser justo e eticamente correto. Governo esse que seja virtuoso e tenha maior clareza possível de suas decisões diante da pólis. E para que isso aconteça faz-se necessário muito conhecimento por parte do mesmo e também dos governados. Nesse sentido fica claro, que para Platão: educação, ética e política caminham juntas, estão interligadas, entrelaçadas se assim desejar. Até porque para se ter um cidadão o virtuoso eticamente e um bom político para Platão, faz-se necessário uma longa e bem trabalhada caminhada educacional. Por isso, que o mesmo considera a educação a mais nobre das ciências, porque é através dela que cidadão consegue chegar ao conhecimento, a contemplação da idéia de bem imutável, em si. Ao contrário de Platão encontramos Aristóteles, porque para ele dentre as várias ciências a política é a ciência mais nobre, isto é, se o governante for um bom governo (que governe visando à felicidade dos cidadãos) ele se eterniza dentro da cidade, se torna imortal. Tendo em vista que para os gregos não existia uma vida após a morte. Contexto educacional grego, mesclado com a ética e a política visando o bem supremo O que encontramos no modelo educacional grego, é que boa parte da mesma foi herdada dos Espartas, século IV a.C. Tendo em vista que os Espartanos tinham como primazia o preparar-se para a guerra, em decorrência do contexto histórico da época. Contexto esse, de muitas conquistas através da força e da técnica do guerrear. Por isso, a educação dos mesmos (dos Esparta) tinha como princípio os padrões militares (manejo de armas, estratégias e ataque). Em A República Platão se espelha em muitos elementos da educação espartana, de modo especial da Esparta do Século VII. Esparta, durante esse período que sucedeu o século VIII e VII, encontra-se na qualidade inspiradora de toda Grécia. Modelo de desenvolvimento 3 humano e espiritual. Até então, Atenas ocupava um lugar secundário no cenário sóciopolítico-cultural grego (Teixeira, 1999, p.15). Apesar do modelo educacional grego ter adquirido alguns traços desse protótipo educacional dosEsparta, eles o modificaram em alguns pontos, se quiser, inseriram dois pontos a mais no contexto educacional grego sendo eles: a ginástica e a música, passando assim, de uma educação militar que visava em primeiro lugar a força e a estratégia de guerra, para uma educação mais integral do homem. Tendo em vista, uma educação que formasse o cidadão também para a guerra, mas acima de tudo que o levasse a conhecer-se a si mesmo, ter um autodomínio de si, de suas paixões. Um indivíduo capaz de viver e se defender como cidadão dentro da pólis, formar um ser político, justo e moralmente correto. Mas por que os gregos colocaram como principio educacional em sua época a ginástica e a música? Porque eles acreditavam que a ginástica ajudava o indivíduo a manter o corpo em consonância com a alma e a música para a harmonia do espírito. Por outro lado, o uso exagerado tanto da ginástica quanto da música, segundo Platão levaria o individuo a tornar-se um homem desequilibrado, comprometendo assim, a sua harmonia interior, tendo como conseqüência básica a falta de domínio das paixões, o despertar da pior e maior parte da alma. Esse modelo educacional a princípio era um privilégio para poucos, algo restrito a uma certa casta de cidadãos gregos (educação aristocrata). Com o decorrer dos anos, a história se encarregou de mudar esse cenário educacional grego. E o que era restrito a uma minoria se abre para todos os cidadãos da cidade. Sem perder os valores fundamentais: a ginástica e a música, para se ter cada vez mais à formação integral dos cidadãos, os habitantes da cidade. E o central mesmo, o alvo a ser atingido pela educação grega eram as questões éticas e políticas. Sob esse novo prisma do caráter educacional grego, isto é, novo modo de perceber e sentindo a necessidade de se ter uma cidade justa e eticamente correta, Platão propõe em sua obra a República uma educação para todos os habitantes do Estado. A educação portanto torna-se coletiva. Não se trata mais de uma educação individual, no caso, de um preceptor, de uma educação grupal, aberta a coletividade. Essa mudança de um ensino individual para um ensino grupal vai exigir uma institucionalização da educação, já que a socialização da educação exigirá uma instituição correspondente que a coordene (Teixeira, 1999, p.17). 4 E partindo desse jeito diferente de encarar a educação, se é que podemos dizer assim, a mesma ganhou mais corpo, no sentido de: do era algo restrito a um pequeno grupo se abre a todos os homens livres da pólis. Mas como já dissertamos, a mesma continua centralizada em suas bases primordiais, (ginástica e música) não mudou de finalidade (formação integral do homem) o que mudou foi o tipo de acesso (do que era restrito a um grupo agora abrange a todos). Até porque, o fim último fim da educação do homem grego enquanto indivíduo particular era o levá-lo a viver e se realizando no contexto da cidade, como participante ativo nas decisões da mesma. Nesse sentido a educação grega estava centrada no princípio de que o cidadão deveria ao longo de sua vida ir cada vez mais adquirindo autonomia, isto é, harmonia e o equilíbrio para o seu próprio bem e para o bom convívio da cidade. Porque para Platão, as ações por mais que elas fossem de caráter individual, as mesmas se demonstravam no seio da cidade, no convívio do dia-a-dia entre os cidadãos. Platão insistia que as ações são em ato individuais, por isso, faz-se necessário educar os cidadãos para o bem-estar do Estado. Por isso, o novo campo educacional grego passou a ter um jeito diferente de educar, porque através de tal campo educacional a formação grega buscou meios para se ter uma formação mais integral do homem. Educação essa que teria bases mais sólidas, visando um cidadão grego com modo próprio de viver, mais seguro de si para atuar na vida social da pólis. Tendo, por conseguinte, homens justos e virtuosos, moralmente corretos, objetivando como fim último de sua ação o bem. Bem esse, que se funda nas virtudes morais, tendo como ponto de partida o conhecimento. Acreditamos que aqui se encontra a ligação profunda entre a educação, a ética e a política grega. Nota-se que Platão juntamente com alguns educadores gregos da época estavam cada vez mais empenhados para que obtivesse de maneira satisfatória uma educação justa e moralmente correta do cidadão grego. E foi justamente nesse horizonte vasto e muito complicado por sinal, que Platão dedicou boa parte de sua vida, conseqüentemente o mesmo no que concerne a esses três pilares: ética educação e política Platão foi extremamente rigoroso. Teoria de bom governo para Platão, entrelaçada com a educação e a ética, visando o bem em si Platão, ao referir-se à política, dá a impressão de que já pressupõe a idéia de bem. Tendo-se aqui nesse contexto o bem como verdade imutável, a mais clara possível. 5 Por isso que para o mesmo ser um bom governo implica acima de tudo ser sábio, em outras palavras, alguém que ama a sabedoria incondicionalmente e detesta a mentira, e está em contínua busca de conhecimento. Conhecimento esse, que leva a contemplação, mesmo que de uma pequena parte das verdades imutáveis do mundo metafísico. E para atingir tal intento, faz-se necessário à prática diária das virtudes, como já dissertamos, tal exercício se dá passo a passo: os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios e dos belos ofícios para as belas ciências, que de nada mais é se não daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é belo. Diante dessa citação, acreditamos que ficou mais claro acerca dos passos que devem ser dado pelo homem virtuoso até se chegar à contemplação do bem e da verdade imutável. Conseqüentemente para Platão esse caminho longo é um tanto quanto difícil de ser percorrido rumo ao metafísico é tarefa quase que restrita ao filósofo. Mas porque o filósofo? Porque, para Platão, o filósofo é aquele que ama acima de tudo a sabedoria, ele está sempre a caminho em busca da mesma. O mesmo é um ser virtuoso e de uma sede de conhecimento inesgotável. Nesse sentido cada vez mais o filósofo vai se tornando apto para realizar a mediação entre os dois mundos: o sensível e o ontológico. Afinal, tal mediação se dá através do conhecimento, até porque o filósofo é aquele que já emergiu do mundo da caverna (da ignorância) mundo das sombras de realidades. Por isso, que para Platão o Rei de seu Estado ideal deveria ser o filósofo, porque o mesmo através do conhecimento saiu das trevas da ignorância, tendo assim domínio de si, de suas paixões, em outras palavras, um individuo equilibrado. Justo e sensato com atitudes e decisões e as mais claras possíveis diante do Estado. E também porque, para Platão, o filósofo é aquele que teve e com grandes méritos uma educação completa eticamente correta, enfim um homem bom e justo. Também e principal responsável pela efetivação do que podemos descrever como: Se, pois, nos ativermos o que ficou dito, convencidos de que nossa alma é imortal e por natureza capaz de todos os bens e de todos os males, andaremos sempre pelo caminho que conduz ao céu e nos devotaremos com todas as forças à prática da justiça e da sabedoria. Assim fazendo viveremos em paz conosco e uns com os outros e com os deuses; e, depois de haver conseguido nesta vida o prêmio destinado à virtude, como os atletas vitoriosos que são levados em triunfo por todas cidades, seremos coroados na terra e fruiremos deliciosas alegrias nessa viagem de mil anos de que acabamos de falar (Platão, 1956, p. 450). 6Concluindo, a contemplação do bem em si, exigia no contexto histórico de Platão uma boa e bem organizada educação. Educação essa que visasse o ser humano como um todo, (ser integral). Partindo desse pressuposto educacional exemplar proposto pelo mesmo teremos homens livres no agir moral, no argumentar diante das decisões da pólis, seres ativos. Senhores de si, que são equilibrados em suas atitudes e ações, que agem segundo a razão e que tem como fruto de toda uma formação o domínio de suas paixões. Conseqüentemente, tem-se no também no poder governamental, governo correto e justo, preocupado com os governados, sempre visando o bem estar dos habitantes do Estado. Buscando sempre como fim último, proporcionar aos cidadãos a contemplação do bem supremo (as verdades imutáveis). Considerações finais Segundo o que vimos, as temáticas acerca da educação, da política e da ética discutidas por Platão, no período clássico grego são atuais e pertinentes em qualquer tempo. Diferente do que poderíamos imaginar, tais temáticas acima são ainda determinantes e anseiam por discussões urgentes em nosso contexto histórico. Até porque podemos pecar e muito nesses três pontos abordados acima, por omissão ou por ignorância. Acreditamos que o nosso modelo educacional de certa forma não está preenchendo os pré-requisitos básicos, para se ter uma sociedade moralmente correta e cidadãos efetivos, ativos e comprometidos com as decisões do Estado como sonhava Platão. E sem dúvidas ainda deixamos grandes lacunas no que podemos denominar formação voltada à educação integral do homem. E quando falamos de política e aplicamos ao nosso cotidiano, percebemos que alguns de nossos políticos não têm o real entendimento da sua função pública. Muitos fazem do seu mandato democrático um exercício pessoal e interesseiro, preocupando-se apenas com seu bem-estar e de uma minoria que esta a sua volta. Diante desse contexto gritante a pergunta que nos resta é a seguinte, afinal quem são realmente os errados nessa na história? São os governantes ou é todo o sistema político que os cerca? Tendo em vista que eles não nasceram prontos, isto é, corruptos de nascença. Alguém os educou até atingirem o poder. E agora aonde esta a falha? Na educação? Ou em todo o sistema? No nosso entendimento, a decadência Educacional, política e ética nada mais são do que fruto de todo um sistema, a começar pelo meio familiar em que os cidadãos são educados, 7 desembocando assim no contexto social, onde os mesmos participam de maneira ativa ou até mesma passiva. Referências bibliográficas CRUZ, Costa. Grandes Educadores: Platão, Rousseau, D.Bosco. Claparéde. Rio de Janeiro. Editora: Globo, 1949. JAEGER, W. Paideia. A formação do homem grego. São Paulo: Herder, s/d. Trad. de Artur M. Parreira MONDIM, Batista. Curso de Filosofia. São Paulo. Edições: Paulinas, 1981. PLATÃO. República. São Paulo, Atena Editora, 6ª Edição. Tradução de Albertino Pinheiro, 1956. ROGUE, Christophe. Compreender Platão. Trad. Jaime A. Clasen. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes. 2005. TEIXEIRA, Evilázio. A Educação do Homem segundo Platão. São Paulo: Paulus, 1999. 8
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