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Nascituro: Início da personalidade jurídica

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI
CURSO: DIREITO
DISCIPLINA: Direito Civil I
DOCENTE: Bethsaida Gino
ALUNO: JOSÉ WELITON LÓCIO BÉRGAMO
Crato
2018
Nascituro: Início da personalidade jurídica
		De acordo com o CC de 2002, toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil, já introduzindo aquele que será o conceito de personalidade civil, diretamente relacionada com a personalidade jurídica.
		A pessoa citada no Art. 1o, é todo homem, mulher, adolescente, criança, idoso e etc. É assim todo o ser nascido com vida, ou seja, todo ser natural nascido com vida possui personalidade jurídica e é capaz de direitos e deveres na ordem civil, a palavra ‘’Capaz’’ é a principal relação que trata do direito subjetivo do indivíduo e seu poder de escolha, esta sendo sua personalidade jurídica. Em paralelo para se destacar a importância desse artigo, na época escravocrata do Brasil, havia a possibilidade de o ser natural ser tratado como coisa (Escravo) sendo essa possibilidade um grave ferimento tanto para os direitos fundamentais negligenciados na época como para a sociedade de direito na sua totalidade.
		A capacidade também tem uma medida, a capacidade de gozo, a possibilidade de aptidão para se adquirir os direitos da ordem civil, contanto, a capacidade de direito não deve ser confundida com a capacidade de exercício, já que é de jurisdição dos artigos seguintes tratarem dos requisitos para se exercer a capacidade de exercício.
		Com o nascituro, vem a pergunta de quando somos considerados pessoas e adquirimos direitos e deveres, o Art. 2o do CC define que a personalidade civil começa a partir do nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Para melhor se entender essa tipificação, se faz necessário compreender algumas categorias definidas pelos civilistas.
Pessoa: É o ser humano nascido com vida.
Nascituro: É o ser já concebido, mas que ainda está no ventre materno.
Natimorto: É o ser expelido sem vida do ventre materno.
Personalidade: É a aptidão que a pessoa tem para contrair direitos e deveres na ordem civil (Art. 1o CC)
O artigo segundo diz que somente se é adquirido direitos após o nascimento com vida, significando por exemplo que o natimorto apesar de ser resguardado desde a concepção não chegou a ser uma pessoa natural de direito, contudo, há certas controvérsias que vêm à tona ao se explicar esses conceitos através de diferentes teorias.
Teoria Natalista: Os defensores dessa teoria acreditam que somente se inicia a personalidade civil após o nascimento com vida conforme determinado pelo início do Art. 2o do CC, ou seja, enquanto no ventre materno ou nascimento sem vida o ser não pode ser considerado pessoa, não adquirindo direitos e deveres na ordem civil, os diretos que são assegurados ao nascituro de acordo com o Art. 2o são o direto a vida, integridade física, saúde e etc. Sendo criminalizado a prática do aborto ou danos a integridade. São excluídos do nascituro os direitos patrimoniais, como os de propriedade, herança, recebimento de seguro, danos morais e etc.
Teoria da personalidade condicional: Não muito apresentada pelos doutrinados, a teoria da personalidade condicional se apresenta como um desdobramento da teoria Natalista, defende que a personalidade depende do nascimento com vida do nascituro, para assim adquirirem os direitos resguardados desde a concepção.
Teoria Concepcionista: Esta teoria defende que o nascituro adquire direitos desde o momento da concepção, tendo apenas alguns como os patrimoniais aguardando para o nascimento com vida, a teoria concepcionista vem ganhando bastante força dentro da doutrina e em decisões judiciais, sendo em alguns casos autorizado o direito a seguros e danos morais.
Após apresentadas as teorias, é importante apontar seus principais defensores no Brasil, abordando as questões práticas relacionadas à consagração de direitos do nascituro, a possibilidade de ele pleitear danos morais, os danos morais advindos da sua morte, a sua legitimidade para o ingresso da ação de investigação da paternidade, os alimentos do nascituro, a possibilidade de ele ser adotado e de ser-lhe nomeado um curador. Como o trabalho é essencialmente personalista, deixaremos de tratar de questões patrimoniais relativas ao nascituro. 
Quanto a sucessão, as discussões envolvendo os direitos sucessórios do nascituro e do embrião são bastante controversas, merecendo, portanto, atenção redobrada. Resumindo, o propósito objetivo do presente trabalho busca trazer conclusões que visualizam valorização da pessoa humana na proteção dos direitos do nascituro
Quanto a conceito de nascituro, Oscar Joseph De Plácido e Silva ensina que a expressão nascituro deriva do latim nasciturus, ou seja, aquele que está para nascer. Para ele, nascituro “designa, assim, o ente que está gerado ou concebido, tem existência no ventre materno: está em vida intrauterina. Mas, não nasceu ainda, não se iniciou sua vida como pessoa”. 
Como já foi dito, o CC de 2002 trata do nascituro em seu art. 2º, cuja redação é muito próxima do art. 4º do código de 1916, sendo interessante transcrever ambos os dispositivos para uma melhor compreensão:
Art. 2º do Código Civil de 2002: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. 
Art. 4º do Código Civil de 1916: A personalidade civil do homem começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro. 
Ambos trazem como conteúdo a personalidade, sendo esta a soma de aptidões ou caracteres da pessoa. Se considerando o pensamento contrário, entendemos que a personalidade não se confunde com a capacidade de direito, prevista no art. 1º do atual Código Civil, que vem a ser a condição que a pessoa tem de ser sujeita de direitos e deveres, na ordem privada.
Tendo isto em mente, como se pode perceber, a confrontação dos dispositivos transcritos no quadro traz a conclusão de que, na essência, são idênticos, se observando que o Código Civil de 1916 utilizava a expressão “homem”, enquanto que o Código Civil de 2002 prefere “pessoa”. Isso, para uma melhor adaptação ao que consta na constituição de 88.
Contudo, ambos os dispositivos transcritos apresentam o problema da utilização das expressões “nascimento” e “concepção”, não tomando uma posição concreta quanto à personalidade do nascituro. Por isso é que, supostamente, a dúvida quanto à posição da codificação é duradoura.
Outra dúvida que surge do art. 2º do atual Código é se ele engloba ou não o embrião, o que divide os doutrinadores civilistas no Brasil. 
A professora Maria Helena Diniz responde o contrário, conceituando o embrião como sendo o produto da fecundação do óvulo pelo espermatozoide, tendo vida extrauterina. Justamente por isso, elaborou uma proposta legislativa, e pela qual o art. 2º da atual codificação ficaria com a seguinte redação: “A personalidade civil da pessoa começa com o nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do embrião e do nascituro”. Mostrando assim a importância jurídica e relevância legislativa do tema.
Um dos grandes méritos da atual codificação privada refere-se à previsão de proteção dos direitos da personalidade, constante entre os seus arts. 11 a 22. Esses direitos podem ser conceituados como sendo aqueles inerentes à pessoa e à sua dignidade, sendo os principais o direito à vida, à integridade físico-psíquica, à honra, à imagem, ao nome e à intimidade. Quanto à proteção da vida do nascituro, a corrente concepcionista é reconhecida como regra pelo Direito Penal, que tipifica como crime o aborto.
Quanto à autorização do aborto legal, apesar de ainda se manter como controverso e polêmico, entendemos que o próprio legislador fez uma ponderação, preferindo proteger a integridade da mãe. Por isso, não há que se falar que a autorização do aborto legal constitui uma negação da teoria concepcionista. Ademais, essa autorizaçãonão é regra, mas exceção. 
Por óbvio, a proteção constante da atual codificação não esgota a matéria, não se podendo afastar a proteção de outros direitos, principalmente dos direitos fundamentais, constante da Constituição Federal de 1988 nos seus dispositivos iniciais (arts. 1º a 5º). Por isso é que é correto afirmar que, quanto aos direitos da personalidade, o Código Civil atual adota um sistema aberto, que não afasta a proteção de outros direitos assegurados constitucionalmente. Concluindo, temos em vigor uma verdadeira cláusula geral de tutela da pessoa humana, que ampara uma proteção ampla e integral.
Essa proteção ampla dos direitos da personalidade também inclui o nascituro, que, pelo sistema atual, tem direitos reconhecidos e assegurados pela lei, e não mais mera expectativa de direitos, como antes se afirmava. Se encontra aqui o argumento principal para dizer que o nosso sistema adotou a teoria concepcionista, pois não se pode negar ao nascituro esses direitos fundamentais e tidos como de personalidade. Assim, o nascituro tem direito à vida, à integridade físico-psíquica, à honra, à imagem, ao nome e à intimidade.
Por tudo o que foi exposto no presente trabalho, percebe-se que há necessidade de mudança do Direito Civil Brasileiro, aquela que afirma que o nascituro não é pessoa humana, tendo apenas expectativa de direitos. Não temos dúvida em afirmar que o nascituro é pessoa, tendo direitos amparados pela lei. Se o art. 2º do Código Civil em vigor deixa dúvidas, a interpretação sistemática do sistema não pode afastar o reconhecimento desses direitos. 
	No patamar da rápida evolução social e amplitude de análise de situação que entram no embate direito x justiça, a sociedade percebe que são inúmeras as situações em que o nascituro se encontra em desvantagem e injustiçado por conta do atual ordenamento, as situações pelas quais pode passar antes do nascimento são inúmeras, e os direitos essências que não são garantidos fazem muita falta para a manutenção de direitos humanos básicos.
	
Também deve ser lembrado que consta no nosso ordenamento o direito a memória, este assunto entra no espectro do nascituro ao se observar as situações em que pais e mães lutam para poder nomear seus respectivos filhos que nasceram sem vida, estes nunca considerados humanos de personalidade jurídica pelo ordenamento. 
A própria denominação ‘’natimorto’’ pode ser interpretada como prejudicial ao bem-estar social no sentido em que é chocante, até desumano ver essa nomenclatura na certidão dos seus filhos, como exemplo o caso do casal Luciana Krull e José Luis Fonseca que perderam sua filha Lara durante o trabalho de parto e se depararam com tal nomeação em sua certidão, precisando apelar para uma petição online que contou com 75 mil assinaturas para que a defensoria pública do Rio formulasse uma norma orientando aos cartórios que deixe a cargo dos pais incluir ou não o nome da criança no registro.
Além da enorme dor da perda, os pais de crianças mortas durante a gestação ainda precisam lidar com o fato de que seu filho nunca foi reconhecido pela sociedade. Contudo, estados como Pernambuco já deixam facultativo o registro do nome no documento.
- A gente se depara com a situação dessas mães que depois de perder seus filhos recebem um papel dizendo “um natimorto do sexo masculino ou feminino”, com essa falta de identidade. Percebemos que isso seria uma segunda violência, uma violência institucional — critica a defensora pública Arlanza Rebello.
Com mais esse detalhe em vista, percebemos que a dita ‘’roupagem humanizada’’ do nosso código baseado na constituição ainda precisa evoluir bastante pois não se encontra alcançando a necessidade de uma sociedade cada vez mais humanizada e que ainda possui bastante fé no instituto familiar, há clara necessidade de maior amplo reconhecimento da personalidade do nascituro para ter como resultado um mais expressivo avanço humanitário na justiça Brasileira.
Referências
O GLOBO. Pais e mães de natimortos lutam por nome do filho na certidão. 2016. Disponível em < https://oglobo.globo.com/sociedade/pais-maes-de-natimortos-lutam-por-nome-do-filho-na-certidao-20294299> Acesso em 29/10/2018
JUSBRASIL. Como é feito o registro do natimorto?. 2012. Disponível em < https://erikarubiao.jusbrasil.com.br/artigos/121941949/como-e-feito-o-registro-do-natimorto>. Acesso em 29/10/2018
DIREITO EM TELA. Direito Civil - Aula 03 - Início da Personalidade - Nascituro - Art. 2º do Código Civil. 2018. Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=f_OlgLAq5iE>. Acesso em 29/10/2018
RUBENS LIMONGI FRANÇA. A situação jurídica do nascituro: Uma página a ser virada no direito Brasileiro. 2007. Questões controvertidas no novo código civil volume 6.

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