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LENDAS ASTECAS Os homens nascem numa terra renovada, enquanto os deuses se afastam do mundo dos humanos para dirigir-se aos lugares em que habitam os mortos. As lendas dos mexicas ou astecas têm um traço comum a todos os mitos e sagas das restantes culturas da América Central: a morte. Daí a proliferação de templos e deuses e a preponderância da classe sacerdotal, junto com a dos guerreiros, sobre outros status sociais, como os comerciantes e camponeses. O povo mexica ou asteca, descendentes dos indígenas nahuas, chegou ao vale do México provinda do norte, estabelecendo-se primeiro, na zona pantanosa do lago Texcoco e, depois de expulsar os toltecas, consolidou seu poderio e sua civilização. Porém, no início, seus campos eram áridos e pantanosos, mas logo os astecas foram transformando e tornando-os produtivos. Certo dia, os sacerdotes astecas, que cada manhã percorriam as terras pantanosas à procura de solo seco e firme onde edificar o grande templo em honra do deus Sol, viram um enorme pássaro pousado num cacto que crescia solitário no alto de uma rocha. Ao aproximar-se, observaram que era uma águia de grande porte e envergadura que estava cravando suas garras afiadas no corpo escorregadia:) e viscoso de uma serpente e que, com seu poderoso bico, tinha imobilizado a cabeça achatada do réptil. Então, os sacerdotes compreenderam que aquela visão era uma mensagem dos deuses, já que, segundo a lenda, onde vissem um cacto com uma águia que destroçava e vencia uma serpente, se estabeleceriam para iniciar o que, com o tempo, chegaria a ser uma grande civilização. Esta visão animou os sacerdotes que, de volta à aldeia, contaram aos guerreiros e ao povo quanto haviam visto, e todos se alegraram porque a lenda havia se cumprido. Assim pois, em seguida, os astecas escolheram e demarcaram um terreno para edificar um templo onde render culto a seus deuses e, passado o tempo, quando os sucessivos triunfos de seus guerreiros foram ampliando as fronteiras, e o império foi crescendo e consolidando-se, os sacerdotes reservavam mais terra para os deuses a cada nova conquista. De maneira que, mesmo a terra sendo propriedade de todos os astecas, tanto o solo onde se edificava cada templo e o terreno em volta eram terras sagradas ou terras dos deuses. Os deuses, desde suas ocultas e longínquas moradas, viam com bons olhos os rituais que os sacerdotes celebravam em sua honra. No mais distante e obscuro dos círculos do Universo tinha seu trono o deus supremo da guerra, Huitzilopochtl, a deidade principal, já que havia conduzido e guiado o povo asteca às terras do lago Texcoco. Huitzilopochtl também era deus do Sol e havia nascido da virgem deusa da terra, cujo nome era Coatlicue. O espírito de um guerreiro morto em combate tinha a forma de um penacho de plumas de colibri, e foi recolhido pela deusa da terra que, após protegê-lo e dar-lhe calor entre seus seios, o devolveu à vida. De maneira que, segundo a ancestral crença asteca, um soldado que morra no campo de batalha renascerá em forma de colibri e Huitzilopochtl, deus Sol e senhor do Sul, com seu vestido de plumas e armado com o escudo na mão esquerda e a lança na direita, o protegerá. A divindade solar e lunar chamava-se Tezcatlipoca e era o sol cálido do verão, e ao mesmo tempo a divindade noturna, invisível, que aterrava os infelizes e alentava os valentes. Um deus muito significativo e destacado entre os astecas é Quetzalcóatl, cuja figura aparece relacionada com os rituais dos sacrifícios para devolver a terra aos homens, cie maneira que a divindade e seu duplo, seu nahua, se entregam ao reino dos mortos. Quetzalcóatl gozava da simpatia de seus fiéis, já que era o criador das artes e da indústria, a divindade encarregada de fazer chegar tudo o que o ser humano tinha a seu favor, porém também era considerado uma divindade temível, já que, em ocasiões, exigia sacrifícios cruentos. Mas, à parte estes sacrifícios, tão intimamente unidos à religião asteca, o bom deus Quetzacóatl estava enfrentando Tezcatlipoca, que havia introduzido entre os habitantes da cidade de Tuia a maldade e o vício. De maneira que ele acaba por abandonar sua própria terra, na qual os povoadores já haviam sofrido o castigo por sua desobediência, para sair ao mar. Porém, antes de afastar-se, promete retornar em toda sua glória, algum dia. De maneira que é aguardado com impaciência, pois sempre há sentinelas nas costas para, caso se divisa o deus Quetzalcóatl, darem voz de alerta, a fim de celebrar seu retorno, pois, sem dúvida, nesse grande dia a bondosa deidade trará bem-estar a seu povo. Outra das deidades mais antigas do panteão asteca é Tlaloc, considerado um deus continuador de uma das divindades pré-clássicas da chuva, o deus serpente . e, muito especialmente, o deus Chac dos maias. Tlaloc, como fizeram anteriormente Cocijo ou Tzahui, é o ser que se ocupa da tutela da água, o deus que pode fazer os campos florescerem para que a vida possa continuar eternamente. Tlaloc, como era antes, Chac, é associado com os quatro pontos cardeais e com as quatro cores que os representam, morava nas alturas das montanhas, velando pelas nuvens que nelas se formavam e, nos templos, estava no mesmo nível que o grande Huitzilopochtl. Ainda assim, junto a Tlaloc estava Chachihuitlicue, a deusa do jade e da turquesa, cores que assume a água que os humanos vêem sobre a terra, que era considerada, geralmente, sua esposa. Ela velava pelos rios e arroios, pelos poços e lagoas, pelo que, em definitivo, era outra divindade agrícola da fertilidade. Chicomecoalt, a irmã de Tlaloc, outra divindade dos campos, amparava o milho, pelo que era considerada a personificação do milho que floresce, que neste caso tomava o nome de Xilonen. Mas não era a única entidade do milho, o mais importante alimento dos astecas, já que junto à ela está também o matrimónio formado por Cinteolt e sua esposa Xochiquetzal, com os quais velava, por extensão, pelo bom destino de todos os cultivos. Finalmente, estava a deusa Tluzolteotl, por haver sido esposa de Tlaloc no início e logo do temível Tezcatlipoca, que era a complexa divindade que presidia o amor entre os humanos, a deusa do amor carnal, por um lado, e que depois se encarregava de escutar as confissões que os fiéis faziam de suas faltas, para depois vigiar o cumprimento das correspondentes expiações ordenadas para reparar essas faltas.
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