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A Segunda Guerra Mundial(Luta Sem Quartel na Russia)

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A Invasão da Rússia
 
Luta sem quartel na Rússia
 
Batalha de Smolensk
Batalha de Kiev
 
 
A paralisação da ofensiva
 
No dia 10 de julho de 1941, Stalin assumiu pessoalmente a chefia suprema dos exércitos russos e, ao mesmo tempo, criou três comandos encarregados do comando da guerra das três grandes frentes ameaçadas pela invasão alemã. O Marechal Voroshilov foi designado chefe das tropas que combatiam no norte, sobre a costa báltica e Leningrado; o Marechal Timoshenko assumiu o comando dos exércitos encarregados da defesa de Moscou, e o veterano Marechal Budienny passou a exercer o comando das tropas localizadas ao sul, na região da Ucrânia.
 
Nesse mesmo dia, as tropas de assalto do 4o Grupamento Panzer, do General Guderian, iniciaram o cruzamento do rio Dniéper, ao sul da cidade de Smolensk. Ao norte, as colunas de tanques do 3o Grupamento Panzer, capitaneados pelo General Hoth, redobraram seus ataques e avançaram em direção a Smolensk com o fim de cercar pela retaguarda as unidades russas que combatiam contra as forças de Guderian.
 
Ao despontar do sol, no dia 11 de julho, o grosso das unidades blindadas de Guderian convergiu sobre o Dniéper deslocando-se lentamente pelas primitivas estradas, em meio a gigantescas nuvens de poeira. Guderian transportou-se para a margem e, a bordo de uma veloz lancha de assalto, acompanhou suas tropas no ataque através do rio. Os russos ofereceram encarniçada resistência sobre a outra margem, mas não puderam impedir que as forças alemães estabelecessem rapidamente uma cadeia de cabeças-de-ponte. Uma ou outra vez a infantaria soviética se lançou ao contra-ataque, apoiada por um violento fogo de artilharia, mas foi rechaçada e sofreu sangrentas baixas.
 
No dia 13 de julho, a 29a Divisão Motorizada, comandada pelo General von Boltenstern, penetrou profundamente através das posições russas e, enfrentando duros combates, aproximou-se a poucos km de Smolensk. Pela primeira vez desde o início da campanha, as tropas alemães viram-se diante de uma crítica falta de munições. As bases de abastecimento se achavam agora a 500 km, à retaguarda, e o serviço de abastecimento, tendo que enfrentar inúmeras dificuldades, já não podia cumprir adequadamente sua missão.
 
Avançando do Norte, o 3o Grupamento Panzer cortou, no dia 15, a estrada principal para Moscou e conseguiu, desta maneira, cercar, sobre as margens do Dniéper, mais de 300.000 soldados soviéticos. Ao sul, as unidades de Guderian continuaram pressionando em direção a Smolensk e, em 16 de julho, as tropas de assalto da 29a Divisão Motorizada penetraram na cidade. A armadilha estava fechada.
 
A batalha, no entanto, apenas havia começado. As unidades russas cercadas iniciaram imediatamente uma série de furiosas investidas contra as colunas blindadas alemães, com o fim de abrir caminho para o leste. Ao mesmo tempo, Timoshenko lançou ao ataque, do lado de fora do cerco, mais de 20 divisões sobre o débil flanco sul da guarnição de Guderian. Em 20 de julho, as guarnições de infantaria dos exércitos de von Kluge e Strauss cruzaram o Dniéper e começaram a reforçar as divisões Panzer. Os soldados da infantaria alemã, que estavam extenuados, lançaram-se imediatamente ao combate, sem se deter para descansar. Alguns regimentos haviam, em seu avanço, coberto uma média, desde Minsk, de 30 km diários.
 
 
Hitler detém o avanço sobre Moscou
 
As grandes vitórias obtidas pelo Grupo de Exército Centro e o contínuo avanço das forças alemães no Báltico e na Ucrânia provocaram intenso júbilo no alto comando da Wehrmacht. O Exército alemão mais uma vez, cumpria matematicamente e sem qualquer demora os planos traçados pelo Estado-Maior. Por isto, o General Halder, no dia 3 de julho, anotou em seu diário: “A missão de destruir a massa do exército russo a oeste do Dniéper e do Duína está cumprida”. Hitler, por seu lado, estava plenamente convencido de que seus exércitos haviam alcançado já a vitória. No dia 14 de julho emitiu uma ordem mandando tomar medidas necessárias para “reduzir consideravelmente o exército num futuro próximo”, e além disso, recomendou que os maiores esforços na construção de armamentos dali para diante deviam concentrar-se na fabricação de aviões e navios para derrotar o último inimigo: a Inglaterra.
 
Relatórios otimistas continuavam chegando da frente. De acordo com os serviços do Estado-Maior, em razão das terríveis perdas sofridas pelos russos (calculadas numas 89 divisões de infantaria e 20 blindadas), o Grupo de Exército Centro já tinha uma superioridade esmagadora sobre as enfraquecidas forças russas que restavam na frente de Moscou. Calculava-se que os russos tivessem, em toda a frente, somente umas 46 divisões de infantaria e 9 blindadas em condições de prosseguir lutando. No dia 19 de julho, Hitler ditou sua instrução n° 33, segundo a qual o Grupo de Exércitos Centro, logo após a “eliminação das numerosas guarnições inimigas cercadas”, devia mobilizar suas unidades blindadas para o sudeste e nordeste, a fim de apoiar os exércitos vizinhos na conquista de Leningrado e Kiev, devendo prosseguir depois o avanço sobre Moscou unicamente com unidades de infantaria.
 
Três dias depois, Hitler completou seu disparatado projeto com um Complemento da Instrução n° 33. Neste documento ordenava que os 1o e 2o grupamentos Panzer, de von Kleist e Guderian, atacassem no sul, reunidos, com a finalidade de tomar a região petrolífera do Cáucaso. Os 3o e 4o grupamentos Panzer de Hoth e Hoeppner, aniquilariam as forças russas que resistiam em Leningrado, e, depois, prosseguiriam sua marcha para o Volga. Halder, ao receber a ordem do Fuhrer, tentou convencê-lo da necessidade de continuar a marcha para Moscou e conquistar aquela cidade antes de empreender operações secundárias e laterais. Hitler, no entanto, aferrou-se obstinadamente ao seu plano e esclareceu a Halder que os russos não seriam vencidos por meio de grande batalhas, mas tirando-lhes, pedaço por pedaço, todo o seu território.
 
No dia 27, Guderian abandonou a frente e deslocou-se, de avião, até o posto de comando do marechal von Bock, chefe do Grupo de Exércitos Centro, com o propósito de solicitar novas instruções para o avanço. Guderian estava plenamente convencido de que o objetivo seguinte seria Moscou. No entanto, com surpresa e fúria inteirou-se por meio de von Bock de que Hitler ordenara que as forças blindadas sob seu comando teriam que se dirigir não para Moscou, mas na direção contrária, para o sudoeste, a fim de aniquilar as divisões russas que se achavam concentradas ali.
- Caro Guderian - anunciou von Bock - para o Fuhrer, a época das grandes batalhas de cerco está terminada... Sua opinião é que os russos devem ser vencidos em pequenas manobras... Assim, o avanço para Moscou foi paralisado. Guderian, totalmente abatido, empreendeu, então, com uma parte de suas forças, uma operação de limpeza sobre seu flanco direito e teve que sustentar violentos encontros com as forças russas situadas em Roslawl. No dia 1o de agosto, seus tanques ocuparam aquela cidade e, no dia seguinte, cortaram a estrada que, ao sul, corre até Moscou.
 
Na manhã de 4 de agosto, Guderian recebeu a ordem para apresentar-se imediatamente ao QG do Grupo de Exércitos Centro na localidade de Nowy Borissow, para participar de uma conferência que seria presidida por Hitler.
 
A Wehrmacht ganha uma batalha e perde a guerra
 
A conferência de Borissow começou com uma série de entrevistas individuais. O Fuhrer recebeu previamente e sozinho cada um dos participantes, com a finalidade de expressarem livremente suas opiniões. Achavam-se presentes, o Marechal von Bock, o General Hoth e Guderian. Acompanhavam Hitler, o Coronel Heusinger, do Alto-Comando da Wehrmacht, e o Coronel Schmundt, ajudante principal de Hitler. Ao terminar seu interrogatório, Hitler reuniu todos os chefes e comunicou-lhes seus planos. - Meu objetivo principal é Leningrado - exclamou com voz imperiosa. - Atacarei, depois,em direção a Moscou e à Ucrânia. No começo do inverno já teremos terminado a campanha.
 
O grupo de generais escutou em silêncio. Todos estavam em desacordo com ele e haviam-lhe dito isto. Hoth acabava de demonstrar que a continuação da ofensiva contra Moscou era decisiva e pediu para começar as operações no máximo até 20 de agosto, com o objetivo de alcançar a cidade antes da chegada do outono. Guderian concordou. No entanto, suas palavras caíram no vácuo. Hitler estava decidido a levar seus planos adiante.
 
Guderian pediu, então, ao Fuhrer que lhe entregasse novos tanques para substituir os veículos cujos motores haviam sofrido um tremendo desgaste devido à marcha longa e veloz que fizeram, ao longo das primitivas estradas soviéticas. Hitler, porém, negou-se a entregar-lhe os blindados pedidos, dizendo que necessitava deles para equipar as unidades que estavam se alistando na Alemanha. Após insistentes pedidos, Hitler concordou em entregar 300 motores novos para distribuir entre as unidades Panzer de toda a frente russa. A conferência chegou assim ao fim, sem que Hitler desse uma ordem categórica com relação à direção em que devia prosseguir o avanço.
 
O General Halder, Chefe do Estado-Maior, resolveu então fazer uma última tentativa para dissuadir o Fuhrer de seu plano alucinado. A resistência cada vez encarniçada dos soviéticos, que dia a dia lançavam à luta novas divisões ao longo de toda a frente, convencera o veterano general que se tinha cometido tremendos erros ao estimar o potencial combativo do exército russo. No dia 11 de agosto, Halder registrou em seu diário: “... subestimamos a força do colosso russo, não só no campo econômico e do transporte, mas também, e principalmente, na esfera militar. De inicio, contamos enfrentar 200 divisões inimigas e já identificamos 360. Quando destruímos uma dezena dessas divisões, os russos lançam uma outra dezena”.
 
Por isso, no dia 18 de agosto, Halder conseguiu que o Marechal Brauchitsch, comandante-em-chefe do exército, tivesse a coragem de apresentar a Hitler um memorial no qual se expunham todas as razões que justificavam a continuação do ataque contra Moscou. Como argumento final, Halder afirmava que só restavam à Wehrmacht dois meses de tempo bom - agosto e setembro - para realizar a operação.
 
A resposta de Hitler não se fez esperar. Por uma ordem, assinada no dia 21 de agosto, recusou totalmente o plano de Halder e Brauchitsch, usando termos violentos e ofensivos. Em resumo: para Hitler, o objetivo mais importante a alcançar antes do inverno era - não Moscou - mas a Criméia, a região industrial do Donetz e Leningrado.
 
Halder, desesperado, resolveu recorrer a Guderian para que este, como chefe com experiência na frente, intercedesse junto a Hitler. No dia 23 de agosto. Guderian dirigiu-se de avião para o Reduto do Lobo, o QG de Hitler na Prússia Oriental. Ali apresentou-se a Brauchitsch que o recebeu com uma ordem terminante: - Você está proibido de discutir com o Fuhrer a questão de Moscou! Foi ordenado o avanço para o sul e agora trata-se exclusivamente de estudar uma maneira de pô-lo em prática. Toda discussão é inútil! Guderian, enfurecido com a atitude de seu superior, pediu licença para voltar imediatamente para frente de combate. Brauchitsch negou o pedido e ordenou-lhe que se apresentasse a Hitler, recordando-lhe novamente que, em momento algum, devia mencionar o assunto de Moscou.
 
No entanto, uma vez na presença de Hitler, o impetuoso chefe das forças blindadas não pôde conter-se e fez, mais uma vez, uma ardente argumentação em favor da ofensiva contra a capital soviética. Hitler deixou-o falar sem interromper em momento algum. Quando Guderian concluiu sua longa dissertação, Hitler comunicou que havia decidido atacar o sul para apoderar-se dos centros de trigo e petróleo da URSS. - Meus generais não compreendem a guerra econômica - exclamou com amargura.
 
Finalmente, Hitler ordenou a Guderian que pusesse em prática suas instruções: o 2o Grupamento Panzer avançaria para o sul a fim de alcançar, em conjunto com o 1o Grupamento Panzer, de von Kleist, os poderosos exércitos soviéticos entrincheirados em torno da cidade de Kiev.
 
A Batalha de Kiev
 
No dia 5 de agosto, o Grupo de Exército Centro aniquilou s forças russas cercadas em torno de Smolensk. Três exércitos russos foram destruídos, caíram em mãos dos alemães cerca de 300.000 prisioneiros, 3.000 canhões e 300 tanques. Apesar de sofrer estas terríveis perdas; as unidades do General Timoshenko continuaram oferecendo uma resistência encarniçada às colunas de von Bock e lançaram repetidos contra-ataques contra sua frente e seus flancos.
 
Seguindo as instruções de Hitler, no dia 27 de julho Guderian tinha dirigido parte de seu grupamento para o sul, e, juntamente com o 2o Exército do General von Weichs, arremeteu contra as forças soviéticas localizadas em Gomel. Em 20 de agosto os tanques alemães entraram na cidade e cercaram os restos do 21o exército russo. Mais de 50.000 russos foram aprisionados.
 
Esta operação teve decisiva influência nas ações que se desenrolaram na frente do Grupo de Exércitos Sul. Quando Guderian atacou do norte, as unidades soviéticas que bloqueavam o avanço do 6o Exército de von Reichenau, deslocaram-se aceleradamente para o leste. O 6o Exército avançou, então, para Kiev e para o Dniéper e o resto das unidades do Grupo Sul completou a aproximação sobre o rio.
 
Kiev ficou, portanto, incrustada como uma profunda cunha nas linhas alemães. Poderosamente reforçada pelos russos, converteu-se numa grave ameaça para os flancos dos Grupos de Exércitos Centro e Sul. O marechal Rundstedt propôs, então, eliminar essa cunha mediante uma gigantesca manobra de pinças, lançando forças blindadas do norte e do sul. Em sua ordem do dia 21 de agosto, na qual recusava a proposta de Halder para atacar Moscou, Hitler ordenou que se realizasse o aniquilamento das forças soviéticas entrincheiradas em torno de Kiev. A operação contra Moscou ficou por isto, definitivamente suspensa. Sem saber, nesse dia, Hitler tomou a decisão que levou a Wehrmacht à derrota.
 
No dia 23 de agosto, Guderian fez uma ultima tentativa para levar o Fuhrer a prosseguir o avanço sobre Moscou. Seus argumentos porém chocaram-se contra a inarredável decisão do Fuhrer. O objetivo principal era Kiev e nele havia de lançar o grosso de suas tropas blindadas. Guderian compreendeu que era inútil continuar a discussão e dedicou-se então, por inteiro, à nova missão.
 
No dia 26, os tanques do 2o Grupamento Panzer puseram-se me marcha para o sul. Havia um obstáculo em seu caminho: o rio Desna. Acelerando ao máximo seus motores, os blindados de Guderian avançaram pelas estradas lamacentas para atingir as margens do rio e tomar as pontes principais. Um esquadrão de tanques, comandado pelo Primeiro-Tenente Buchterkirch, irrompeu audaciosamente através das posições russas, desafiando o fogo das peças antitanques soviéticas e capturou intacta a ponte vital de Nowgorod-Lewerskij, de mais de 700 metros de comprimento. Este feito teve decisiva influência no êxito da manobra do cerco de Kiev. Rapidamente, as colunas de tanques e caminhões da 3a DP cruzaram a ponte e prosseguiram seu avanço para o sul. Os soviéticos, porém, firmaram suas posições sobre o Desna e forçaram os alemães a sustentar uma série de encarniçados e sangrentos combates. No dia 31 de agosto, a 10a Divisão Motorizada tentou abrir caminho para o sul, mas sofreu um violento contra-ataque russo e foi rechaçada nas margens do rio. Os russos redobraram suas arremetidas e ameaçaram envolver a guarnição alemã. Seu chefe, o Tenente-General Schaal, ordenou, então, que se lutasse até o último soldado da divisão. Finalmente, uma companhia, integrada por soldados da seção de padaria, conseguiu tapar a brecha aberta pelos russos no flanco direito e salvou a divisão do aniquilamento.
 
Diante da obstinada resistência dos soviéticos, o ataque alemão correu o risco deparar. Guderian pediu ao alto-comando que enviasse imediatamente reforços para dar um novo impulso ao ataque. No dia 2 de setembro, o regimento de infantaria motorizada Grossdeutschland cruzou o Desna e se incorporou às suas forças. No dia seguinte, uma divisão da SS reforçou seu flanco direito. A Wehrmacht, porém, havia ficado já praticamente sem reservas; somente uma divisão de infantaria e duas de Panzer permaneciam à disposição do alto comando. As baixas sofridas pelos alemães desde o início da campanha eram, por sua vez, muito elevadas. Mais de 380.000 homens haviam caído sob o fogo soviético e as divisões panzer estavam reduzidas quase a 50% de seus efetivos. A tenaz resistência dos russos frutificava amplamente.
 
O aniquilamento dos Exércitos Russos
 
Entre os dias 7 e 9 de setembro, o General Halder, chefe do Estado-maior, elaborou, juntamente com o Marechal von Rundstedt, o plano da batalha de aniquilamento em torno de Kiev. O 2o Grupamento Panzer de Guderian, devia prosseguir velozmente seu avanço em direção ao sul, até a localidade de Romny, situada a leste de Kiev, e a li se uniria às forças o 1o Grupamento Panzer de von Kleist, que avançaria do sul. A conquista de Kiev e a destruição das forças ali concentradas seria realizada pelos 6o exército de von Reichenau e 2o de von Weichs. As unidades soviéticas que tentassem escapar iriam chocar-se contra a barreira formada pelos tanques de Guderian e Kleist, em Romny.
 
Em 9 de setembro, os blindados de Guderian arremeteram para o sul e, apoiados pelos Stukas, conseguiram abrir caminho através da furiosa resistência soviética. Com profunda preocupação, Guderian comprovou que suas tropas começavam já a perder o ímpeto combativo. A dura e prolongada luta fazia com que surtissem seus efeitos nos blindados extenuados. Além disso, o abastecimento de munições e combustíveis se tornava cada vez mais difícil.
 
Continuou, porém, o avanço para Romny. A 3a DP, capitaneada pelo General Model, convergiu sobre aquela cidade, envolvendo as unidades russas que encontrou em seu caminho. O braço norte da pinça fechou-se, assim, nas costas das forças russas que combatiam em Kiev. Apesar da mortal ameaça que pesava sobre seus exércitos, o Marechal Budienny não ordenou a retirada e, ao contrário, continuou mobilizando reforços para o interior do gigantesco bolsão. Guderian decidiu acelerar a manobra e foi até o posto de comando da 3a DP para incitar suas tropas a redobrar os esforços.
 
No dia 1o de setembro, os tanques da vanguarda da divisão panzer irromperam inesperadamente através das poderosas fortificações que cobriam o acesso a Romny e penetraram na cidade. O objetivo tinha sido alcançado. Guderian se dirigiu imediatamente a Romny e felicitou os oficiais e soldados que haviam participado da ação. Na metade da reunião, uma esquadrilha de aviões russos atacou com bombas e metralhadoras o grupo e obrigou Guderian e seus camaradas a procurar proteção no terreno lamacento.
 
Intensas chuvas caíram naquela noite sobre o cenário da batalha e, em poucas horas, os caminhos se converteram em imensos rios de lama, paralisando a mobilização das unidades mecanizadas alemães. Ao sul, o 1o Grupamento Panzer, de von Kleist, viu-se impedida de avançar por causa da lama, o que obrigou as unidades de Guderian a estender a sua avançada e assim fechar o cerco. Dizimados pela luta e pelos obstáculos do terreno, as divisões Panzer tinham sofrido grandes perdas de veículos (o regimento de vanguarda da 3a DP contava apenas com 14 tanques). A potência do ímpeto alemão havia, por isto, diminuído muito.
 
As unidades de von Kleist conseguiram, finalmente, abrir caminho para o norte, em 13 de dezembro. O outro braço na pinça fechou-se nas costas de Kiev. Nesse momento, o alto comando russo compreendeu finalmente o perigo mortal que suas forças corriam. Apinhando-se nas estradas, milhares de soldados russos empreenderam aceleradamente a retirada para o leste, com o fim de escapar da armadilha. Mas já era tarde demais. Os tanques de Kleist aniquilaram as forças que obstruíam sua avançada e, no dia 15 de setembro, estabeleceram contato com as forças de Guderian.
 
No extremo ocidental da gigantesca bolsa, os 6o e 2o Exércitos de von Reichenau e von Weichs completaram por sua vez a manobra de envolvimento em torno da cidade de Kiev. Combatendo encarniçadamente, a infantaria alemã convergiu, por fim, sobre a cidade e conseguiu ocupá-la, em 19 de setembro. A luta porém não tinha terminado ainda. As forças russas, despedaçadas pela penetração das cunhas blindadas, desagregaram-se em três núcleos e continuaram combatendo heroicamente até o dia 26 de setembro. Nesse dia, finalmente, terminou a batalha de Kiev. A propaganda alemã anunciou a vitória como a “batalha de aniquilamento mais gigantesca de todos os tempo”. Mais de 600.000 soldados russos caíram prisioneiros. Quatro exércitos soviéticos tinham sido aniquilados e os alemães conseguiram romper a frente numa extensão de 300 km.
 
Enquanto se desenrolavam as duras lutas de Kiev, Hitler tinha resolvido retomar o plano original de Halder e realizar o ataque contra Moscou. Numa reunião onde esteve com aquele chefe, no dia 5 de setembro, disse-lhe que, uma vez terminada as operações no sul, todas as forças Panzer seriam mobilizadas novamente para o centro, com a finalidade de lançar se demora o a ataque contra a capital. No dia 6, o Fuhrer emitiu sua ordem n° 35 para a condução da guerra, segundo a qual estava formalmente ordenando o avanço sobre Moscou.
 
A Wehrmacht, enfraquecida pela luta ininterrupta (até 26 de setembro o exército alemão tinha perdido 500.000 homens), dispôs-se, assim, a desencadear a ofensiva que iria decidir a campanha contra a URSS. Restava, porém, uma grande ameaça incógnita. Na batalha de Kiev tinham-se perdido os últimos meses de bom tempo. Poderia o Grupo de Exércitos Centro alcançar a vitória antes da chegada do inverno?
 
Roosevelt oferece ajuda a Stalin
 
No dia seguinte à invasão da URSS pelos alemães, Summer Welles, que exercia interinamente o cargo de secretário de Estado, declarou à imprensa, seguindo as instruções do Presidente Roosevelt, que o governo dos Estados Unidos considerava benéfico para a causa das nações aliadas a incorporação da Rússia ao campo das nações que enfrentavam a Alemanha. Sustentava Welles em sua mensagem que, qualquer que fosse a origem das forças que se opusessem ao hitlerismo, estas forças acelerariam a queda do regime nazi. A este primeiro passo de aproximação pública dos Estados Unidos com a Rússia seguiram-se outras medidas. No dia 24 de junho, o governo americano ordenou a eliminação dos entraves que bloqueavam o movimento dos fundos russos depositados nos bancos americanos. Em conseqüência esses fundos foram aplicados imediatamente na compra de armamentos. Seguidamente, o Presidente Roosevelt anulou os alcances da Lei de Neutralidade no que se referia à URSS, o que permitiu o inicio das remessas de material de guerra em navios americanos, com destino à Rússia.
 
O presidente americano estava decidido a prestar ajuda aos soviéticos com a máxima urgência possível, ainda que passando por cima das objeções dos seus colaboradores. No dia 21 de julho ordenou pessoalmente o envio imediato de todos os armamentos disponíveis. Essas medidas estavam justificadas ante a gravidade da situação na frente russo-alemã. A Wehrmacht, com efeito, aprofundava dia a dia sua penetração, sem que nada pudesse conter seu avanço.
 
Para coordenar com os britânicos a política de ajuda à Rússia e elaborar os planos para apressar a derrota alemã, Roosevelt enviou a Londres seu assessor pessoal Harry Hopkins. Este, depois de manter conversações com Churchill, resolveu ir a Moscou, para tomar conhecimento direto da situação e estudar a política a seguir com respeito a Stalin. No dia 25 de julho enviou uma carta a Roosevelt, dizendo-lhe: “Acredito que deve ser feito todo o possível para assegurar que os russos mantenham umafrente permanente, ainda quando sejam derrotados na presente batalha. Se Stalin puder ser influenciado de alguma maneira, neste momento crítico, creio que será conveniente fazê-lo mediante uma comunicação direta sua ou através de um enviado pessoal...” Roosevelt, de acordo com o critério de Hopkins, nomeou-o seu enviado pessoal e o autorizou a ir a Moscou. Harry Hopkins chegou à capital soviética no dia 30 de julho. Imediatamente entrevistou-se com o líder soviético, anunciando-lhe que a posição de Roosevelt encaminhava-se a um único fim: derrotar o hitlerismo! Além disso, de acordo com essa posição, estava disposto a prestar à União Soviética toda a ajuda possível. No dia seguinte, em uma nova entrevista, Stalin expôs a Hopkins seus pontos de vista sobre a situação. Stalin achou que as linhas alemães ficariam paradas com a chegada do inverno, próximo a Moscou, Kiev e Leningrado. Assinalou, no entanto, que tal situação poderia variar fundamentalmente ao chegar a primavera, se os russos não contassem com suficiente equipamento e armamento, especialmente em relação à aviões, tanques e canhões antiaéreos. Além disso, Stalin expressou a certeza de que os Estados Unidos teriam, inevitavelmente, que chegar à guerra com a Alemanha de Hitler.
 
Hopkins regressou a Londres, não sem antes enviar um detalhado informe a Roosevelt, no qual expressava sua absoluta confiança na decisão de Stalin de alcançar a vitória. Animado pelo êxito da missão de Hopkins, Roosevelt autorizou a concretização de um compromisso formal com o governo soviético, pelo qual os Estados Unidos expressavam sua decisão de dar toda a ajuda econômica possível à URSS.
 
Entre 9 e 12 de agosto de 1941, Roosevelt e Churchill mantiveram, próximo às costas da Terra Nova, a célebre conferência do Atlântico. No seu decorrer decidiram enviar uma missão conjunta a Moscou, encabeçada por Lorde Beaverbrook e Averell Harriman, para concretizar a organização do envio de armas e abastecimentos à URSS. Em seu regresso à Londres, Churchill remeteu uma carta a Stalin, anunciando-lhe o envio de várias esquadrilhas de aviões de caça, com destino à Murmansk. Expressava-lhe, além disso, sua admiração pela crescente e dura resistência que o exército e o povo russo ofereciam aos invasores. A resposta de Stalin não se fez esperar. No dia 4 de setembro, o embaixador soviético Maisky entregou a carta ao primeiro-ministro britânico. Nela, Stalin lhe comunicava que a situação na frente de combate era crítica. Os alemães, efetivamente, valendo-se das divisões de reforço transferidas da frente oeste da Europa, tinham conseguido penetrar através das defesas russas. “Como conseqüência disso - dizia - perdemos mais da metade da Ucrânia, e além disso o inimigo encontra-se diante das portas de Leningrado... Isto enfraqueceu nosso poder de defesa e coloca a União Soviética ante uma ameaça mortal... Creio que o único meio de sair desta situação é estabelecer, no presente ano, uma segunda frente em qualquer parte dos Balcãs ou da França, capaz de subtrair da frente oriental 30 ou 40 divisões.
 
Dessa forma, Stalin colocou, como já fizera em sua primeira carta a Churchill, a urgente necessidade de que os britânicos aliviassem a pressão que a Rússia suportava, mediante um ataque à Europa que Hitler mantinha em seu poder. Churchill, no entanto, baseando sua estratégia nos ensinamentos recebidos no malogro das operações no continente em 1940, decidiu evitar operações dessa índole até que pudesse contar com a efetiva colaboração das tropas americanas e estivesse em condições de eliminar a ameaça do Eixo no Mediterrâneo. Assim, no dia 4 de setembro respondeu a Stalin: “Apesar de não deixarmos de nos esforçar no cumprimento do nosso dever, não existe, de fato, qualquer possibilidade de uma ação britânica no oeste, excetuando uma ação aérea que possa atrair forças alemães do leste antes que o inverno haja começado...” A segunda frente ficava assim adiada indefinidamente.
 
ANEXO
 
Cartas enviadas ao Tenente-General Paulus
Oficiais de diferentes regimentos, que combatem nas frentes de batalha da URSS, enviaram ao General von Paulus uma copiosa correspondência. Parágrafos de algumas cartas assinalam claramente a dureza da luta travada e a falta de meios que prejudicou notavelmente as forças do exército alemão.
4 de agosto de 1941 - ... Não tem sido o inimigo o que nos detém na frente, mas a interrupção a que nos obriga a falta de veículos, munição e combustível... Burker
27 de setembro de 1941 - ... Para tapar uma brecha, no dia 22 de setembro, mandei pessoalmente que o 5o Regimento de Infantaria atacasse. Ao longo de 3 km comandei o ataque, não somente em primeira posição, mas também como o soldado mais avançado. A resistência inimiga foi muito forte e conseguimos escapar do fogo da artilharia graças à rapidez com que avançamos. Conquistei uma posição com três metralhadoras e à nossa esquerda inutilizamos um carro de combate; lutamos com extrema dureza... Reichenau
5 de outubro de 1941 - ... o remetente informa sobre a operação Perekop, isto é, a conquista das vias de acesso à Criméia. Comunica que seu batalhão ficou reduzido a uns 180 ou 200 homens... os russos se defendem com grande tenacidade: temos que conquistar posição por posição. Por vezes, tivemos que desalojá-los com gasolina. Destruímos tudo. Tão depressa recebamos tropas de reforço, tomaremos os últimos cm que nos faltam no mapa e estaremos na Criméia... Himer
13 de novembro de 1941 - ... os batalhões ficaram reduzidos a 60 homens e aumentam as baixas causadas pelo frio e a falta de vestimenta apropriada... São muitos os que estão com os pés enrolados em papel, já que tiveram as botas destruídas. Não há luvas. Oponho o meu mais enérgico protesto contra o responsável... Esta falta de previsão aniquila por completo os nossos homens. E ainda lêem nos jornais que os soldados alemães não passam frio! Schmidt
14 de novembro de 1941 - ... o signatário informa sobre a batalha da Criméia e da península de Kerch... Dificuldades nas provisões, período de chuvas, falta de munição para a artilharia, fortes tormentas de neve e ventos gelados... os três comandantes de regimento da divisão, enfermos ou feridos; seis tenentes comandam os batalhões; há semanas, duas baterias dispõem de sete peças... Himer
17 de novembro de 1941 - ... o remetente apresenta um quadro da situação. Informou repetidas vezes sobre o poder ofensivo da Divisão ao comandante Conde von Stauffenberg (foi o cérebro da conspiração de 20 de julho de 1944, destinada a assassinar Hitler. Fuzilado nessa mesma noite) mas até agora não fizeram o menor caso... penso como vai-se tornar difícil dispor nas próxima primavera de suficientes divisões blindadas para as novas operações... Burker
 
 
Conquistem Kiev
Instruções enviadas por Hitler à Wehrmacht, em 21 de agosto de 1941. Esta ordem deteve o avanço sobre Moscou. “A proposta do Exército para a continuação das operações no leste, de 10 de agosto, não combina com meus pontos de vista. Ordeno o seguinte:
1.        O objetivo mais importante antes do inverno não é a conquista de Moscou, mas apoderar-se da Criméia, da comarca industrial e carbonífera do Donetz e o estrangulamento da zona do Cáucaso, e, ao norte, o isolamento de Leningrado e a comunicação com a Finlândia.
2.        A situação estratégica, especialmente favorável que se conseguiu estabelecer em Gomel, deve ser usada sem demora, para uma operação concêntrica dos Grupos de Exércitos Sul e Centro. Seu objetivo deve ser o 5o Exército soviético (situado em torno de Kiev). Deste modo será obtida a segurança para o Grupo de Exércitos Sul, alcançado o leste do Dniéper em sua parte média e a possibilidade de continuar as operações em direção a Rostow, com o centro na ala esquerda.
3.        Para isto foram concedidas tantas forças ao Grupo de Exércitos Centro, sem considerar as operações posteriores, além do objetivo de destruir o 5o Exército russo (Kiev). Assim, o Grupo de Exércitos ficará emcondições de se defender contra o ataque inimigo no centro da sua frente, em condições de economizar forças.
4.        A posição da península da Criméia é de maior importância para assegurar nosso abastecimento de petróleo da Romênia”.
Adolf Hitler
 
 
A luta por Kiev
O avanço alemão sobre Kiev parece indicar que Hitler está resolvido a acelerar a qualquer preço a conquista da Criméia, já que o grosso de seus exércitos em outros setores está empenhado numa luta lenta e mortal e podem ser contidos pelas chuvas de agosto. Os comentaristas de guerra ingleses assinalam a grave ameaça que representa para Kiev o duplo avanço contra Korosten e Belaytserkov. Esta última localidade encontra-se a uns 80 km ao sul de Kiev, sobre a ferrovia que corre ao leste, através da Ucrânia, até Azof. A batalha de Jorosten é quase tão importante, porque para esta cidade convergem cinco ferrovias. Alguns comentaristas acham que este duplo avanço, que se originou na batalha da região de Zitomir, pode converter-se na ação mais importante da frente russa e teme-se que os alemães hajam reunido quantidades de reservas para esta manobra envolvente, enquanto os russos concentram toda a sua atenção na violenta luta do setor de Smolensk. Ao notar que os alemães sempre fizeram grandes progressos em cada arremetida, levando-os invariavelmente a pontos relativamente fracos da frente russa, estes observadores destacam o fato de que os generais russos, ate o momento, demonstraram que podem conter o avanço, caso tomem posições estratégicas para fazer frente a cada nova ameaça. Os comentaristas de guerra não acreditam que a ameaça a Kiev represente a terceira grande ofensiva alemã, porque Hitler, para prepará-la, dispõe apenas de uma semana após a segunda ofensiva. Além disso, os observadores bem informados duvidam de que a terceira ofensiva seja tão poderosa quanto as duas primeiras e assinalam, com relação ao assunto, as grandes distâncias em que os aviões do Reich tem que operar, como também as dificuldades que se apresentam ao envio de abastecimento para as linhas de frente. Contudo, admitem que o problema das comunicações alemães na Ucrânia é menos complexo que em outros lugares. Opina-se em alguns círculos ingleses que a terceira ofensiva é retardada pelas operações dos guerrilheiros russos detrás das colunas principais dos alemães, assim como também pela negativa de rendição dos pequenos grupos e a suposta escassez de combustível para compensar a destruição causada pelo exército russo em retirada. A proximidade das chuvas de agosto ameaça paralisar as forças alemães na frente soviética durante o inverno permitindo ao mesmo tempo que os russos reorganizem suas forças para a contra-ofensiva.
 
 
A Divisão Panzer
Organização das divisões panzer alemães que intervieram na invasão da Rússia:
a.        Estado-Maior
b.       Grupo motorizado de exploração
c.        Uma brigada blindada de 2 regimentos de tanques, com um total de uns 200 tanques, entre leves e medianos (Mark IV, III e II)
d.       Uma brigada de infantaria motorizada de dois regimentos apoiados por uma companhia de artilharia antitanque (12 canhões de 37 mm) e 162 baterias de canhões autopropulsores de 75 mm.
e.        Um batalhão de atiradores motociclistas
f.         Um regimento antitanque (48 canhões de 47 mm e 12 canhões antiaéreos de 88 mm)
g.       Um regimento de artilharia (baterias de 105 mm) e um batalhão de sapadores
h.       Um batalhão de comunicações
i.         Serviços de abastecimento motorizados
A divisão Panzer contava com uns 12.000 soldados, uns 200 tanques, 60 autos blindados de exploração, 1.600 caminhões, veículos com lagartas, caminhões tratores e 1.300 motocicletas.
Na Rússia intervieram 20 divisões Panzer, distribuídas em quatro grupamentos: 1o Grupamento (von Kleist), 2o Grupamento (Guderian), 3o Grupamento (Hoth) e 4o Grupamento (Hoeppner).
Por determinação de Hitler - embora a quantidade de tanques fosse aumentada e retirados os modelos antiquados - a dotação de cada divisão blindada foi reduzida a 196 tanques, em vez dos 258 que contava no verão de 1940. Entretanto a duplicação das divisões blindadas para a campanha do leste contou-se apenas com 758 tanques a mais do que para a campanha do oeste.
 
 
“Os russos não se rendem”
Do jornal alemão Voelkischer Beobachter: ... Na França, aprisionamos o inimigo por um movimento de pinças de acordo com nossa tática, e o inimigo aceitou as conseqüências. Aqui, os inimigos lutam com uma persistência de loucura, até não poderem mais mover-se de cansaço. Os russos não se rendem ... Eles tem o faz falta ao homem moderno: um empenho animal para atingir seus objetivos, em lugar da razão e do entendimento. Não há dúvida de que, no nosso setor, faltava-lhes um chefe militar capaz de obter uma formação de combate poderosa. Mas os soldados lutaram em grupos, sem tal comando e, no entanto, com uma certeza e perícia de sonâmbulos. Até a presente data o canal Alberto tinha sido nossa experiência mais impressionante, mas o que vimos ontem foi mais impressionante”.
 
 
Comentários de Londres
Nos círculos autorizados se classificavam de “incríveis” as cifras alemães sobre as perdas russas. Dizia-se que era inconcebível que qualquer força aérea, principalmente diante do espaço de que dispunham os russos para se dispersar, pudesse apresentar tal percentagem. Por outro lado, considerava-se apenas provável que as operações na escala exigida pela blitzkrieg alemã tenha custado tão baixa de aviões como a acusada por eles. Assinalava-se que a técnica da blitzkrieg exige gasto desmedido de homens e aparelhos, sem atender às perdas. Acrescenta-se que, qualquer que seja a qualidade das máquinas que enfrentaram os alemães, há outros fatores, como os seguintes: 1o , a artilharia antiaérea russa; 2o, a percentagem de máquinas que inevitavelmente se perde, por razões mecânicas.
 
 
A ordem de ataque à Moscou
Setembro, 5, 1941
Comando-chefe da Wehrmacht
Determinação n° 35, para a condução da guerra.
Os êxitos iniciais contra as forças inimigas que se achavam entre alas internas dos Grupos de Exércitos Sul e Centro, em vista do cerco progressivo do espaço de Leningrado, a base para uma operação em busca de decisão contra o grupo de exércitos de Timoshenko que se acha aferrado diante do grupo do Exército por lutas ofensivas. O dito grupo de exércitos deve ser batido de forma aniquiladora, no período limitado disponível até a chegada do inverno.
O ataque deve ser conduzido com o objetivo de aniquilar o adversário a leste de Smolensk, mediante um duplo envolvimento efetuado em direção a Viasma por numerosas forças blindadas reunidas nas alas. Depois dessa operação de cerco, o centro do Exército iniciará o avanço para prosseguir em direção a Moscou, apoiado à direita no Oka e à esquerda no Alto Volga. Adolf Hitler
Em cumprimento às instruções do Fuhrer, o marechal von Bock, comandante-em-chefe do grupo de exércitos Centro, preparou o plano de ataque, batizado com o nome de Tufão. Von Bock organizou a distribuição das forças e deu a ordem definitiva para o início da ofensiva, em 26 de setembro de 1941. As forças que interviriam no ataque eram: 4o Exército (von Kluge), apoiado pelo 4o Grupamento Panzer (Hoeppner) com 15 divisões de infantaria, 5 divisões Panzer e 2 motorizadas; 9o Exército (Strauss), apoiado pelo 3o Grupamento Panzer (Hoth), com 18 divisões de infantaria, 3 Panzer e 2 motorizadas; 2o Exército (von Weichs), apoiado pelo 2o Grupamento Panzer (Guderian) com 14 divisões de infantaria, 5 Panzer, 4 motorizadas e 1 de cavalaria. Como reserva, à disposição do comando do grupo de Exércitos, uma divisão Panzer e uma brigada motorizada.
 
 
Churchill oferece ajuda a Stalin
Texto da primeira carta enviada por Churchill a Stalin, em 7 de julho de 1941
“Todos aqui estamos felizes porque os exércitos russos apresentam uma resistência tão forte e valorosa contra a implacável e não provocada invasão dos nazistas.Existe uma admiração geral pela valentia e tenacidade dos soldados e do povo. Faremos tudo o que o tempo, a geografia e os nossos crescentes recursos nos permitam, para ajudá-los. Quanto mais dure a guerra, mais ajuda poderemos oferecer. Estamos realizando ataques muito violentos tanto de dia como de noite com nossa força aérea sobre o território ocupado pela Alemanha. Cerca de 400 ataques à luz do dia foram realizados ontem em ultramar. Sábado à noite, mais de 200 bombardeiros pesados atacaram cidades alemães, alguns levando até 3 toneladas de bombas, e ontem à noite, cerca de 250 bombardeiros pesados estavam operando. Isto continuará. Assim, esperamos forçar Hitler a deslocar parte de sua força aérea para o oeste e, gradualmente, tirar parte da carga que pesa sobre vocês. Além disso, o Almirantado preparou, a pedido meu, uma importante operação que terá lugar no Ártico, depois da qual espero que se estabeleça contato entre as marinhas russa e inglesa. Enquanto isso, mediante incursões ao longo da costa norueguesa, temos interceptado vários navios de abastecimento que se dirigiam para o norte, contra vocês. Congratulamo-nos com a chegada da missão militar russa, com a finalidade de combinar os planos futuros. Só temos que continuar lutando até destruir esses vilões”. Winston Churchill
 
 
15 de setembro de 1941
A armadilha de Kiev fecha-se lenta mas inexoravelmente. Os exércitos alemães, avançando metro a metro, aproximam os braços da gigantesca pinça. No interior da enorme bolsa, os exércitos russos defendem-se desesperadamente. Kruschev e Budienny, diante da trágica situação criada, decidem que uma só solução é viável: a retirada imediata. Transmitem essa solução ao chefe supremo Stalin, numa mensagem datada de 11 de setembro. Nela comunicam que as ordens de transferir duas divisões de Kiev para o flanco norte, são impraticáveis. Os homens estão esgotados. As unidades já não representam grupos combativos e aptos para a luta. O exército da Ucrânia não pode resistir mais e deve retirar-se. No mesmo dia 11, Stalin, em resposta à mensagem de seus subordinados, comunicou-lhes sua negativa mais absoluta. E ordena ao General Kirponos não retirar-se e resistir. Além disso, Stalin procede à remoção de Budienny e nomeia Timoshenko para seu lugar. Entretanto, o avanço alemão continua incessante. E chega-se ao dia 13. Nesse dia o corredor que serviria para a retirada dos exércitos russos estreitou-se até alcançar 20 milhas de largura. As possibilidades dos russos diminuem minuto a minuto. No dia 14, Tuplilov, chefe do Estado-Maior da frente de Kiev, informa o Alto-Comando da crítica situação. A resposta do Alto-Comando reitera a ordem de Stalin: resistir. No dia 15, os tanques alemães, finalmente, fecham o cerco. A batalha chega ao fim. Kirponos e Tupilov morrem. A derrota é total. Mas as conseqüências dão a razão a Stalin. Efetivamente, a resistência dos russos em Kiev, retardando os movimentos alemães, impediu o avanço sobre Moscou. E o inverno chegou. Os exércitos alemães não desfilarão pelas ruas de Moscou.

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