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Direito Civil 3 Contratos Conceito

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CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: CONTRATOS
PROFESSORA: RENATA ANDRADE
TEMA: CONCEITO E REQUISITOS DOS CONTRATOS EM GERAL
1. NOÇÕES PRELIMINARES: OBRIGAÇÃO E RESPONSABILIDADE. RELAÇÃO CONTRATUAL.
	Obrigação é uma relação jurídica estabelecida entre credor e devedor, em que o primeiro (credor) pode exigir do segundo (devedor) uma prestação, que é traduzida numa conduta (dar, fazer, não dar ou não fazer algo). O instrumento através do qual as pessoas se obrigam é o contrato.
	São fontes das obrigações: os negócios jurídicos bilaterais (contratos); os atos jurídicos unilaterais (promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento indevido, enriquecimento sem causa, título ao portador); os atos ilícitos; e a lei, esta com a ressalva de que alguns autores não consideram fonte de obrigação (DONNINI, 2005, p. 11-12). 
	A relação jurídica contratual surge quando duas ou mais pessoas decidem pactuar o cumprimento de uma prestação, que por sua vez deverá ser cumprida, sob pena de incidir a responsabilidade; assim, tem-se a diferença entre necessária entre obrigação e responsabilidade (das expressões alemãs cunhadas por Alois BRINZ: schuld e haftung, respectivamente), em que o débito (schuld), consiste na obrigação de realizar prestação e depende de ação ou omissão do devedor, enquanto a responsabilidade (haftung) faculta ao credor atacar e executar o patrimônio do devedor a fim de obter a correspondente indenização pelos prejuízos causados em virtude do descumprimento da obrigação originária. A diferença se faz necessária exatamente porque é possível existir uma obrigação sem responsabilidade (por exemplo, uma dívida vencida, em que existe a obrigação, mas não haverá a responsabilidade pelo pagamento dela) e responsabilidade sem obrigação (caso, por exemplo, do fiador, que não é devedor da obrigação principal, mas fica obrigado pela responsabilidade do descumprimento dela).
	Na obrigação, o devedor é obrigado a prestar o objeto avençado, sob pena de ser responsabilizado pelo seu não cumprimento, podendo o credor exigir o adimplemento ou a reparação em pecúnia, na impossibilidade da execução forçada. Na responsabilidade não há que se falar em cumprimento forçado, mas tão somente em reparação.
2. CONCEITO DE CONTRATO
	Na definição de Maria Helena Diniz, contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídica de natureza patrimonial.
3. REQUISITOS DE EXISTÊNCIA E DE VALIDADE DO CONTRATO
Para que um contrato seja considerado válido no mundo jurídico e produza seus normais efeitos, é preciso que antes de tudo ele seja existente, depois que não tenha sido atingido por nenhum requisito de invalidade. A existência vincula-se aos elementos categoriais do negócio jurídico, pois um contrato sem que tenha existido a manifestação da vontade é inexistente, assim como um contrato de compra e venda sem que tenha sido estipulado o preço também o será.
	EXISTÊNCIA
(elementos categoriais)
	VALIDADE
(elementos essenciais – particulares/gerais)
	EFICÁCIA
(elementos acidentais)
	- diferença de sexos para o casamento
	1. sujeito capaz
	1. condição
	 - consentimento para os contratos em geral
	2. objeto lícito, possível, determinado ou determinável (v. art. 106 CC/02)
	 - dies a quo
2. termo {
 -dies ad quem
	 
	3. consentimento sem defeitos
	3. modais ou com encargo
	
	4. motivo lícito
	
	
	5. forma prescrita ou não defesa em lei
	
A ausência de observância dos requisitos previstos nesses planos, implicam em inexistência, invalidade (nulidade absoluta ou relativa) ou ineficácia do negócio jurídico:
	INEXISTÊNCIA
	INVALIDADE
	INEFICÁCIA
A) EXISTÊNCIA
No plano da existência, se não houve o preenchimento dos requisitos para a formação do negócio jurídico, como p. ex., a ausência de diversidade de sexos para o casamento, não se pode falar em nulidade, mas em inexistência do negócio, uma vez que um casamento de tal porte, dentro de nosso ordenamento jurídico, não pode sequer ser realizado; o negócio não chega a entrar no mundo jurídico. Assim, não há que se falar em nulidade, pois esta se ocorre no plano da validade, que tem como corolário negativo a invalidade do negócio. Um negócio juridicamente inexistente não gera efeito algum no mundo jurídico.
B) VALIDADE
Para se preencher o plano da validade, é necessário que o negócio jurídico preencha alguns elementos, como a capacidade do agente, a forma prescrita ou não proibida por lei, a licitude do motivo e a possibilidade do objeto, aqui incluída a probabilidade. Deve-se observar, p. ex., que um negócio jurídico estabelecido sobre objetos impossíveis ou fora do comércio, o negócio será nulo.
- Capacidade do agente > art. 104, inciso I, CC/02; v. arts. 3º e 4º CC/02. Invalidade do negócio: art. 166, inciso I, CC/02.
- Objeto > art. 104, inciso II, CC/02: LÍCITO (não contrário à lei, aos costumes, à ordem pública e à moral); invalidade do negócio jurídico: art. 166, II, CC/02. POSSÍVEL, física e juridicamente (art. 104, inciso II, CC/02); invalidade: art. 166, II, CC/02. DETERMINADO OU DETERMINÁVEL (art. 106, CC/02, se determinado, deverá ser descrito; se determinável, deverá ser indicado pelo gênero e pela quantidade, art. 243, CC/02; invalidade: art. 166, II, CC/02).
- Consentimento > válido e eficaz, sem que tenha ocorrido qualquer vício de vontade (erro, dolo, coação, simulação, fraude contra credores, lesão, estado de perigo; invalidade: arts. 138 a 165, CC/02).
- Motivo lícito > causa do negócio jurídico, é a motivação para a realização do negócio. Invalidade: art. 166, III, CC/02.
- Forma prescrita ou não defesa em lei > o negócio jurídico deverá ser realizado conforme prescreve a lei ou, não havendo prescrição alguma, de forma que não esteja proibido por ela. Invalidade: art. 166, IV, CC/02.
C) EFICÁCIA
O plano da eficácia diz respeito aos elementos acidentais do negócio jurídico, que, uma vez estipulados, suspendem a eficácia do negócio até a efetivação dos mesmos. Ex.: doação com condição suspensiva – “A” promete a “B” um carro se este passar no vestibular: os efeitos da doação ficam condicionados ao resultado do concurso vestibular, se “B” não passar o negócio não se torna eficaz, embora seja existente e válido juridicamente. O mesmo pode ocorrer com a doação com encargo, em que neste se estipula um ônus para o beneficiário. Ex.: “A” promete a “B” lhe dar uma casa se “B” lavar o seu carro todos os fins de semana durante um ano.
 - Condição > é o evento futuro e incerto a que se pode condicionar os efeitos de um negócio jurídico. Ex.: “C” deixa o imóvel após a sua morte a seu neto “D”, que ainda não nasceu, condicionando a doação ao nascimento com vida de “D”. A doação só se tornará eficaz se realizada a condição. Requisitos: aceitação da parte beneficiária; futuridade do evento; incerteza do acontecimento. Classificação: deve ser física e juridicamente possível; lícita, vedada a condição perplexa (art. 122, parte final, CC/02); pode ser necessária ou voluntária; pode ser causal (depende de caso fortuito ou força maior) ou potestativa (depende da vontade de uma das partes; nesse caso, pode ser puramente potestativa – arbítrio ou capricho do agente, sem interferência externa, é considerada como causa de nulidade do negócio, segundo o CC/02, art. 122; simplesmente potestativa – quando depende de um ato ou circunstância; ou mista – quando depende de ato de terceiro); pode ser suspensiva (quando fica suspensa a eficácia do negócio para momento posterior à realização da condição) ou resolutiva (quando a ineficácia do negócio fica subordinada a evento futuro, retornando ao status quo ante). Requisitos: aceitação da parte; futuridade do evento; incerteza do acontecimento. A condição deve serfísica e juridicamente possível, lícita (vedada a condição perplexa – ex.: pago R$ 5 mil a quem encestar uma bola, porém a cesta não existe).
- Termo > é a condição subordinada ao tempo, quando fica estipulado o início ou início e fim de um negócio jurídico no tempo. É o momento que determina o início e o fim de um negócio jurídico. Ex.: a compra e venda de um imóvel, dividido em 60 (sessenta) meses. O dies a quo será a data de início do contrato (assinatura) e o dies ad quem o último dia do prazo de 60 (sessenta) meses, ao final do qual deverão as parcelas estarem quitadas. Temos então que dies a quo é o termo inicial e dies ad quem o termo final do prazo do negócio jurídico.
Compra e venda de 
Carro (02/05) _____________________ 15/05 (entrega do carro)
Pagamento à vista (prazo)
Termo inicial: 02/05 (pagamento do bem)
Termo final: 15/05 (entrega do bem)
Compra e venda de
Imóvel (02/05) ____________________________02/05 (últ.parc.)
Pagamento parcelado (prazo)
Termo inicial: 02/05
Termo final: 02/05
Compra e venda de
Cigarro (02/05) __ 02/05 (entrega do maço de cigarro)
Pagamento à vista
Termo inicial: 02/05
Termo final: 02/05
- Encargo > ou modo, é o ônus que vem acompanhando o benefício estipulado pelo agente; deverá ser inferior ao benefício, senão vira contraprestação. Ex.: “A” deixa em testamento um carro antigo de coleção para seu sobrinho “B”, ficando este obrigado a manter o carro conservado.
- INVALIDADE DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (PLANO NEGATIVO DE VALIDADE)
	NULIDADE
	ANULABILIDADE (art. 171 CC/02)
	É absoluta;
	É relativa;
	Não exige declaração prévia para invalidar o ato;
	Permite ratificação, pode ser convalidada;
	Pode ser suscitada por qualquer interessado, pelo Ministério Público ou de ofício, pelo juiz;
	Necessita declaração para invalidar o ato;
	Não permite ratificação;
	Só pode ser suscitada pelas partes;
	O negócio é nulo desde a sua concepção e não apenas a partir da declaração.
	Não pode ser suscitada de ofício, pelo juiz;
	
	O negócio se torna inválido a partir da declaração.
3.1 REQUISITOS SUBJETIVOS
- CAPACIDADE DOS SUJEITOS CONTRATANTES
- CONSENTIMENTO VÁLIDO (não viciado)
- PLURALIDADE DE PARTES
3.2 REQUISITOS OBJETIVOS
- POSSIBILIDADE FÍSICA E JURÍDICA DO OBJETO
- DETERMINAÇÃO OU DETERMINABILIDADE DO OBJETO
- ECONOMICIDADE 
3.3 REQUISITOS FORMAIS
Alguns exemplos de solenidades exigidas para determinados contratos:
- FORMA NECESSARIAMENTE ESCRITA (PARTICULAR OU PÚBLICA);
- ESCRITURA PARA COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS;
- REGISTRO PÚBLICO PARA COMPRA E VENDA DE AERONAVES E NAVIOS;
- CONTRATO ESCRITO PARA DOAÇÃO DE BENS MÓVEIS POR ENTIDADES;
- CONTRATO ESCRITO PARA ESTABELECIMENTO DE SOCIEDADES E ASSOCIAÇÕES (CONTRATO SOCIAL) E REGISTRO NO ÓRGÃO COMPETENTE (em Pernambuco a JUCEPE).
CASO PRÁTICO:
Fernando realizou um contrato de doação modal com Alberto, em que o primeiro se obrigava a lhe doar uma casa se o segundo instalasse ali um ponto de venda de drogas ilícitas. A doação modal é espécie de doação com encargo imposto ao donatário, em que pode o doador revogar a doação feita caso o donatário não cumpra a obrigação estabelecida. Considerando a natureza deste negócio, PERGUNTA-SE: 
Alberto pode anular apenas o seu encargo em razão do objeto, salvando o contrato de doação, nos termos das disposições do Código Civil de 2002? Justifique sua resposta.
Outra aula:
4. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
4.1. CLÁSSICOS (CC/1916)
- PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE
- PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE CONTRATUAL
- PRINCÍPIO DO CONSENSUALISMO
4.2. MODERNOS (CC/2002)
- PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE – com desdobramentos: liberdade de contratar; liberdade contratual (estabelecer conteúdo contratual); relatividade contratual; consensualismo; auto-responsabilidade; imutabilidade; intangibilidade; obrigatoriedade.
- PRINCÍPIO DA BOA-FÉ
- PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA MATERIAL
- PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS
5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS
5.1 NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES (TRATATIVAS)
5.2 PROPOSTA
5.3 ACEITAÇÃO
6. CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
A) QUANTO À TIPIFICAÇÃO LEGAL 
	- TÍPICOS (compra e venda, locação, doação)
	- ATÍPICOS (alienação fiduciária de imóveis, factoring)
B) QUANTO ÀS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS
	- PUROS (compra e venda, troca, doação)
	- MISTOS (leasing = compra e venda + locação)
C) QUANTO À FORMA
	- CONSENSUAIS (compra e venda de bens móveis, locação, troca)
	- FORMAIS OU SOLENES (compra e venda de imóveis, doação de imóveis)
	- REAIS (comodato = empréstimo gratuito)
D) QUANTO À RECIPROCIDADE DAS PRESTAÇÕES
	- ONEROSOS
	- GRATUITOS
E) QUANTO À OBRIGAÇÃO DAS PARTES
	- BILATERAIS
	- UNILATERAIS
F) QUANTO À PREVISIBILIDADE DAS PRESTAÇÕES
	- PRÉ-ESTIMADOS
	- ALEATÓRIOS
G) QUANTO AO MOMENTO DA EXECUÇÃO
	- DE EXECUÇÃO IMEDIATA
	- DE EXECUÇÃO FUTURA
		- DE EXECUÇÃO DIFERIDA
		- DE EXECUÇÃO SUCESSIVA
H) QUANTO À AMPLITUDE DO VÍNCULO
	- INDIVIDUAIS
	- COLETIVOS
I) QUANTO À NEGOCIABILIDADE
	- NEGOCIÁVEIS
	- DE ADESÃO
J) QUANTO ÀS PARTES CONTRATANTES
	- IMPESSOAIS
	- “INTUITUPERSONAE”
K) QUANTO À INTERDEPENDÊNCIA
	- PRINCIPAIS
	- ACESSÓRIOS
7. INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS (ART. 113 DO CC/2002)
Os negócios jurídicos, assim como as normas jurídicas, devem ser interpretadas sempre. A interpretação dos negócios jurídicos pode ser: 
- DECLARATIVA: quando apenas declare, expresse, o que as partes convencionaram.
- INTEGRATIVA: quando se torna necessário agregar algo para esclarecer a vontade das partes, preenchendo lacunas através de conteúdos legais, usos e costumes.
- CONSTRUTIVA: quando se torna necessário construir algo para se obter um conteúdo válido, dentro da vontade que se queria manifestar. MARIA HELENA DINIZ fala em “reconstrução”. Ex.: “A” queria comprar celular com linha e adquire apenas o aparelho.
O Código Civil de 2002 estabelece 06 (seis) regras legais sobre interpretação dos negócios jurídicos:
* Art. 112
* Art. 843, 1ª parte
* Art. 819
* Art. 114
* Art. 1899
*Arts. 422 e 133:- BOA-FÉ (OBJETIVA): conduta, comportamento; - USOS E COSTUMES DO LUGAR.
8 INTERVENÇÃO CONTRATUAL
81. REVISÃO CONTRATUAL
8.2. DIRIGISMO CONTRATUAL
9. EFEITOS DO CONTRATO
- CLÁUSULA PENAL
- ARRAS
- VÍCIOS REDIBITÓRIOS
- EVICÇÃO 
10. EXTINÇÃO DOS CONTRATOS
→ ( ≠ dissolução; resolução ou denúncia; resilição; anulação; rescisão).

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