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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA CAMPUS CHAPECÓ Engenharia de Controle e Automação TECNOLOGIA DOS MATERIAIS (parte I) Prof. Jean Pimenta, Dr. Eng. Agosto / 2013 SUMÁRIO Introdução 3 1. Classificação Periódica dos Elementos 4 1.1 Propriedades Periódicas dos Elementos 6 2. Modelo Atômico Simplificado 9 2.1 Tipos de Ligação Química 12 3. Estados Físicos da Matéria 17 3.1 Mudanças de Estado Físico 17 4. Estruturas Cristalinas 19 4.1 Reticulado Cúbico 21 4.2 Reticulado Hexagonal 25 4.3 Polimorfismo e Alotropia 27 4.4 Imperfeiçoes nos Cristais 29 4.4.1 Defeitos Pontuais 29 4.4.2 Defeitos em Linha 30 5. Classificação Geral dos Materiais 34 5.1 Materiais Metálicos 34 5.2 Propriedades dos Materiais 35 5.3 Propriedades Mecânicas 39 6. Técnicas de Aumento da Resistência nos Metais 48 6.1 Discordâncias e a Deformação Plástica 48 6.2 Encruamento 52 Anexo – Trabalho a Quente versus Trabalho a Frio 56 Referências Bibliográficas 57 INTRODUÇÃO Estudar os diversos materiais para tecnologia de construção mecânica é, antes de tudo, tentar compreender o real conceito do que seja um material de engenharia. Numa concepção geral, material é qualquer forma de matéria que compõe fisicamente o universo. Obviamente, nem todos os materiais são considerados para fins de engenharia. De um modo específico, pode- se afirmar que os materiais de engenharia possuem propriedades que os tornam utilizáveis em estruturas, máquinas, dispositivos ou produtos consumíveis. Nestes materiais incluem-se os metais, cerâmicos, polímeros e os compósitos. Em uma abordagem mais ampla, podemos também incluir pedra, areia, madeira, vidros, fibras, materiais dielétricos, semicondutores e supercondutores – todos compõe uma extensa gama de possibilidades de estudo. Nesta unidade curricular pretende-se apresentar conhecimentos fundamentais, desde a caracterização do material e propriedades até suas possíveis aplicações na indústria, que compõe o inesgotável estudo dos metais, cerâmicos e polímeros. Esta apostila corresponde somente a uma parte do conteúdo da unidade curricular, sendo que o restante do material didático será continuamente disponibilizado aos alunos pelo docente e também por sugestão de livros na biblioteca do campus. Acredita-se que uma boa compreensão destes conhecimentos, associada a questões práticas na indústria, possa ser de grande valor para uma consistente formação de nossos estudantes. 3 1. Classificação Periódica dos Elementos O grande número de elementos químicos descobertos no passado obrigou os cientistas a formarem determinadas classificações, as quais pudessem reunir grupos de elementos com propriedades semelhantes. Mendeleyev (1869) foi responsável por um importante trabalho de pesquisa que foi a base da classificação periódica moderna, agrupando cerca de 60 elementos químicos conhecidos à época e distribuídos em 12 linhas horizontais (em ordem crescente de massa atômica), e na vertical os elementos com propriedades químicas semelhantes. O trabalho deste renomado cientista foi tão meticuloso que ele deixou vazios na tabela original com a indicação “?”, prevendo descobertas de outros elementos no futuro – algo que, de fato, ocorreu muitos anos depois. A Figura 1 mostra a classificação periódica moderna que apresenta os elementos químicos dispostos em ordem crescente de números atômicos. As sete faixas horizontais nesta tabela são chamadas de períodos, nos quais as propriedades dos elementos diferem entre si. Note que o 1º período é muito curto pelo fato de possuir apenas dois elementos (H e He); e o quarto período é mais longo com 18 elementos (K até Kr). É importante também observar o seguinte [Feltre, 1989]: a) no 6º período, a terceira quadrícula encerra 15 elementos químicos (do lantânio até lutécio), que estão indicados numa linha fora e abaixo da tabela – iniciando no lantânio, tais elementos formam a série dos lantanídios; b) no 7º período, a terceira quadrícula também encerra 15 elementos (do actínio até o laurêncio), que estão indicados na segunda linha fora e abaixo da tabela – começando no actínio forma a série dos actinídios. c) todos os elementos situados após o urânio-92 são preparados artificialmente, ou seja, não existem na natureza – estes são denominados de elementos transurânicos (além destes também são artificiais os elementos tecnécio-43, promécio-61 e o astato-85). As terras-raras compõe um grupo de 17 elementos químicos de relativa abundância na crosta terrestre (concentração variando entre 68ppm para o cério e 0,5ppm para o túlio e lutécio). Tais elementos são considerados raros pela dificuldade da sua separação, pois ocorrem em vários minérios de composições distintas (Metalurgia Extrativa). O grupo das terras-raras é composto por todos os elementos da série dos lantanídeos, além do escândio (Sc-21) e ítrio (Y-39). A China é considerada o maior produtor destes minérios com quase 97% do mercado mundial. Número atômico (Z): é equivalente ao nº de prótons existentes no núcleo do átomo. Número de massa (A): é a soma do nº de prótons (Z) e de nêutrons (N) no núcleo do átomo. Exemplo: notação geral para um átomo 35 17 35 17 A Z A Z Clou Cl Xou X obs.: Núcleo do átomo é composto de prótons e nêutrons, ou seja, partículas que possuem massa atômica. 4 N ZA += Figura 1- Tabela periódica dos elementos [Química na abordagem do cotidiano, volume único, 3.ed., editora Moderna; www.iupac.org/reports/periodic_table]. 5 Os elementos situados nas 18 faixas verticais (grupos ou famílias) possuem propriedades semelhantes no respectivo grupo. Estes grupos são numerados de 0 até 8, sendo que alguns estão subdivididos nos subgrupos A e B (esta corresponde à numeração antiga). Por exemplo, o grupo 8 é chamado de 8B e é constituído por três faixas verticais. Atualmente há uma nova numeração dos grupos da tabela periódica (ver Fig. 1). Na Tabela 1 são apresentados alguns grupos com nomes especiais. Tabela 1 – Grupos da tabela periódica dos elementos com nomes especiais. Número do grupo Elementos Grupos 1A Li, Na, K, Rb, Cs, Fr Metais Alcalinos 2A Be, Mg, Ca, Sr, Ba, Ra Metais Alcalinos-Terrosos 6A O, S, Se, Te, Po Calcogênios 7A F, Cl, Br, I, At Halogênios Zero ou 8A He, Ne, Ar, Kr, Xe, Rn Gases Nobres ou inertes Ainda com relação aos grupos (ou famílias) deve-se considerar o seguinte [Feltre, 1989]: a) o hidrogênio não é um metal alcalino mesmo que localizado no grupo 1A; b) o alumínio (Al), gálio (Ga), índio (In) e tálio (Tl) já foram chamados de metais terrosos; c) quando o grupo não tem um nome especial, costuma-se chamá-lo pelo nome do primeiro elemento: por exemplo, na coluna 5A são denominados elementos do grupo do nitrogênio; d) as colunas (ou grupos) “A” são os mais importantes da tabela, sendo os elementos chamados elementos representativos ou típicos – em cada coluna “A”, há uma semelhança máxima nas propriedades químicas entre os elementos; e) os elementos dos grupos 3B, 4B, 5B, 6B, 7B e 8B constituem os elementos de transição; f) uma separação muito importante na classificação periódica é aquela que distingue os metais, os semimetais (B, Si, Ge, As, Sb, Te, Po) e os não-metais (à direita dos semimetais). 1.1 Propriedades Periódicas dos Elementos As propriedades periódicas são inerentes aos próprios elementos, variando de acordo com a posição na tabela, sendo classificadas como: eletronegatividade, eletropositividade, raio atômico, afinidade eletrônica, potencial de ionização, densidade atômica, volume atômico, temperatura de fusão e temperatura de ebulição. Estas quatroúltimas são consideradas aperiódicas por apresentarem um certo desordenamento: no período, o volume atômico cresce do centro para as extremidades; as temperaturas de fusão e ebulição crescem com o raio atômico nos grupos da esquerda (1A e 2A), e decrescem naqueles da direita (gases nobres e halogênios) [http://www.infoescola.com/quimica/tabela-periodica/]. 6 Eletronegatividade É a tendência que um átomo possui de receber elétrons numa ligação química, ou seja, esta propriedade não pode ser calculada para um átomo isolado. A eletronegatividade cresce no grupo de baixo para cima, devido à diminuição do raio atômico e aumento das interações do núcleo com a eletrosfera; e nos períodos cresce da esquerda para direita, acompanhando o aumento do número atômico. Na Fig. 2 está indicado o crescimento da eletronegatividade na distribuição dos elementos na tabela periódica; o flúor é o elemento mais eletronegativo. Figura 2- Eletronegatividade na tabela periódica dos elementos [http://www.infoescola.com]. Eletropositividade A medição da eletropositividade também ocorre através de uma ligação química, como na eletronegatividade. Porém, o crescimento desta propriedade ocorre no sentido oposto comparativamente ao sentido da eletronegatividade. Porque agora mede-se a tendência de um átomo em perder elétrons: os metais são os mais eletropositivos em comparação aos não-metais e semimetais. Segundo o esquema na Fig. 3, frâncio é o elemento mais eletropositivo, ou seja, ele possui uma máxima tendência à oxidação. Figura 3- Eletropositividade na tabela periódica dos elementos [http://www.infoescola.com]. 7 Raio Atômico É a distância do núcleo de um átomo até a camada mais externa da eletrosfera. Calcula-se o raio atômico médio, definido pela metade da distância entre os centros dos núcleos de dois átomos do mesmo elemento numa ligação química (estado sólido), conforme esquema na Fig. 4. O raio atômico aumenta de cima para baixo em cada grupo, pois acompanha o número de camadas eletrônicas dos átomos; e nos períodos, aumenta da direita para a esquerda. Césio é o elemento de maior raio atômico conhecido; entretanto, é provável que o frâncio tenha um maior raio atômico, mas isto ainda não foi confirmado devido à raridade deste elemento na natureza. Figura 4- Raio atômico na tabela periódica dos elementos [http://www.infoescola.com]. Afinidade Eletrônica Esta propriedade mede a energia liberada por um átomo no estado fundamental e no estado gasoso ao receber um elétron; também pode-se dizer que mede a energia mínima necessária para a retirada de um elétron de um ânion de um dado elemento. Nos gases nobres a afinidade eletrônica não é significativa – não é igual a zero, pois a adição de um elétron em qualquer elemento causa liberação de energia. A afinidade eletrônica não tem uma forma bem definida na tabela periódica, mas seu comportamento é parecido com a eletronegatividade: aumenta de baixo para cima e da esquerda para direita. Cloro é o elemento de maior afinidade eletrônica: cerca de 350 kJ/mol (em módulo). Potencial de Ionização O potencial de ionização é o oposto da afinidade eletrônica: mede a energia necessária para retirar um elétron de um átomo neutro, quando no estado fundamental e no estado gasoso. Na primeira retirada de elétron, a quantidade de energia necessária é menor que na segunda retirada, que por sua vez, é menor que a terceira retirada, e assim sucessivamente. Esta propriedade possui mesmo comportamento da afinidade eletrônica e da eletronegatividade. Logo, pode-se afirmar que o flúor e cloro são os elementos com os maiores potenciais de ionização da tabela periódica. 8 2. Modelo Atômico Simplificado No modelo atômico de Rutherford-Bohr (1913) adotou-se uma concepção de que, segundo Bohr: enquanto o elétron estiver girando na mesma órbita, ele não emite e nem absorve energia; porém, quando mudar para outra órbita, o elétron emitirá ou absorverá energia numa quantidade bem definida (quantum de energia) [Feltre, 1988]. Em outras palavras, admite-se que: ao saltar para uma órbita ou nível mais energético (órbita interna para outra mais externa), o elétron absorve certa quantidade de energia do exterior (na forma de luz, calor ou eletricidade); caso contrário, ao retornar para a órbita original, o elétron perde energia na forma de ondas eletromagnéticas – na Fig. 5 são mostrados dois desenhos esquemáticos para as afirmações anteriores [fonte: http://www.profpc.com.br]. Figura 5 – (a) salto do elétron para órbita mais energética; (b) retorno do elétron ao perder energia. As órbitas dos elétrons de todos os átomos se agrupam em sete camadas eletrônicas ou níveis de energia (K, L, M, N, O, P, Q), sendo que cada uma delas possui uma quantidade fixa de energia. Na Fig. 6 é vista uma representação do modelo de Rutherford-Bohr com as camadas e quantidade máxima de elétrons. Os fenômenos químicos atuam diretamente nos elétrons da última camada (ou banda de valência), onde ocorrem as ligações químicas. O cientista Chadwick (1932) provou que no núcleo do átomo existem partículas com carga elétrica positiva, os prótons, e também partículas sem carga, então denominados nêutrons. Tal descoberta foi fundamental para a descrição da estrutura atômica simplificada: átomo = núcleo (prótons + nêutrons) + eletrosfera (elétrons distribuídos em sete camadas) Convencionalmente, admite-se um modelo atômico de esferas rígidas para o arranjo espacial dos átomos na estrutura de um certo material, onde o raio atômico vale metade da distância de equilíbrio na ligação com outro átomo similar. 9 Figura 6- Esquema do modelo atômico de Rutherford-Bohr [http://www.alunosonline.com.br/quimica/modelo-atomico-rutherford-bohr.html] Com relação à coordenação atômica, existe uma regra geral que serve para se determinar o número de átomos vizinhos que podem se ligar ao primeiro átomo (exceto para o hidrogênio e hélio) por meio da disponibilidade de elétrons para estabelecer a ligação: N = 8 – G , onde N é o número de ligações e G é o grupo da tabela periódica do átomo. As diferentes propriedades entre os materiais de engenharia são devidas às diferentes ligações interatômicas, bem como em relação à arrumação espacial dos átomos resultante destas ligações. Sob outro entendimento, pode-se dizer que as forças que mantém os átomos unidos são fundamentalmente de natureza elétrica e denominadas como ligações químicas. Basicamente, o estudo do comportamento dos materiais pode ser de início compreendido através de um modelo atômico simplificado que considera o seguinte [Monteiro, 1990]: Núcleo atômico composto de prótons e nêutrons Os prótons e nêutrons são partículas que possuem massa e que, praticamente, constituirão toda a massa de um átomo (também chamada de massa atômica). Elementos puros que compõem a matéria possuem número de prótons em sequência desde o hidrogênio (1) até o urânio (92), sendo que a partir deste outros elementos têm sido criados artificialmente. O número de prótons, que também é conhecido como número atômico, caracteriza individualmente um dado elemento. A quantidade de nêutrons nos átomos de um mesmo elemento químico é variável, permitindo-se que um elemento possua átomos denominados de isótopos, ou seja, átomos com 10 diferentes massas atômicas. Um dado número de átomos que constitui matéria em quantidades de interesse tecnológico é realmente muito elevado. A unidade de massa quilograma possui 6,02×1026 átomos (número de Avogadro) dividido pela massa atômica; ou seja, um átomo-grama contém 6,02×1023 átomos – quantidade de átomos existentes em 1,008 gramas de hidrogênio.Por convenção, o próton possui carga elétrica positiva e o nêutron é eletricamente neutro. Não são forças elétricas que mantém a união entre prótons e nêutrons, mas sim forças nucleares. Camadas de elétrons em torno do núcleo / estado energético Os elétrons podem ser considerados como um estado de transição entre a matéria e a radiação eletromagnética, pois se comportam tanto como partícula quanto como uma onda; apesar da massa do elétron ser consideravelmente muito pequena, cerca de 5×10-4 vezes a massa do próton ou do nêutron. Por convenção, a carga elétrica do elétron é numericamente igual à carga do próton, mas com sinal negativo; as forças de atração que mantém os elétrons orbitando em torno do núcleo são conhecidas como forças coulombianas. Os orbitais dos elétrons se situam em níveis energéticos, que correspondem às sete camadas dadas no modelo de Rutherford-Bohr (camadas K, L, M, N, O, P, Q). Estes níveis são identificados como número quântico principal (n), que varia de 1 até 7 para as sete camadas eletrônicas, respectivamente. O número máximo de elétrons dentro de cada nível, pode ser obtido com auxílio do diagrama de Pauling (ver Fig. 7). Além dos níveis eletrônicos, há também os subníveis energéticos conhecidos como número quântico secundário (ℓ) e identificados pelos subníveis s, p, d e f, os quais podem conter 2, 6, 10 e 14 elétrons, respectivamente. Vale a seguinte relação para todos os átomos conhecidos: ℓ = 0, 1, 2, 3 s p d f Na Figura 7 é representada a distribuição eletrônica de Pauling, cientista responsável pela elaboração deste importante diagrama na Química, que relaciona a quantidade e a distribuição de elétrons de acordo com as camadas e subníveis eletrônicos. A Tabela 2 mostra a distribuição eletrônica em níveis e subníveis de alguns elementos. Deve-se notar que o preenchimento dos níveis não requer, necessariamente, que o anterior esteja completo. Por exemplo, o potássio (K) possui um elétron no nível N antes que o nível M esteja completo; o elemento ferro também apresenta situação semelhante nos últimos níveis. Este simples fato influencia nas propriedades que dependem da interação eletrônica, tais como: ligação entre átomos, o magnetismo, etc. 11 Figura 7- Distribuição eletrônica, segundo diagrama de Pauling [www.cadernodesafio.blogspot.com]. Tabela 2 – Distribuição eletrônica nas camadas e subníveis de alguns elementos [Monteiro, 1990]. Elemento Símbolo Nº Atômico K (n = 1) 1s L (n = 2) 2s 2p M (n = 3) 3s 3p 3d N (n = 4) 4s 4p 4d 4f hidrogênio H 1 1 carbono C 6 2 2 2 oxigênio O 8 2 2 4 neônio Ne 10 2 2 6 sódio Na 11 2 2 6 1 argônio Ar 18 2 2 6 2 6 potássio K 19 2 2 6 2 6 1 ferro Fe 26 2 2 6 2 6 6 2 cobre Cu 29 2 2 6 2 6 10 1 2.1 Tipos de Ligação Química As ligações existentes entre os átomos, que são denominadas ligações químicas, e a arrumação espacial resultante destas ligações origina a estrutura geométrica de um dado material. Tal fato é diretamente responsável pela grande diversidade de propriedades dos materiais. Nesta parte do estudo será apresentada uma síntese das principais ligações químicas dos materiais. Há uma tendência geral na natureza pela qual se pretende alcançar um “estado de maior equilíbrio ou estabilidade”. Sabe-se que os átomos que não possuem todos os orbitais eletrônicos preenchidos, como acontece a todos os elementos com exceção dos gases nobres, somente ficarão mais estáveis quando atingirem configurações de menor energia na medida em que: a) receberem elétrons; b) perderem elétrons; c) compartilharem elétrons com um átomo vizinho; d) compartilharem elétrons com outros átomos. 12 Ligação Iônica ou Eletrovalente Neste caso um átomo cede elétrons para outro que os recebe, a fim de que resulte em configurações atômicas mais estáveis para ambos. Um exemplo clássico deste tipo de ligação é a formação do cloreto de sódio (NaCl) ou popular sal de cozinha. A Fig. 8 mostra um esquema simplificado da ligação iônica e o arranjo atômico resultante, onde tem-se que: o sódio possui níveis contendo respectivamente 2, 8 e 1 elétrons cede este último elétron para o cloro, que possui níveis contendo 2, 8 e 7 elétrons. Destacam-se importantes comentários: – quando o átomo de sódio perde 1 elétron, forma-se um íon positivo (cátion, Na+); – quando o átomo de cloro ganha 1 elétron, forma-se um íon negativo (ânion, Cl–); – pelo fato de terem cargas opostas, os dois íons se atraem até um limite onde os orbitais eletrônicos impedem que haja interpenetração dos íons, resultando numa posição de equilíbrio. A ligação iônica não ficará restrita somente ao par Na-Cl original, mas também outros íons Na+ e Cl– que estiveram na vizinhança estarão sujeitos à presença dos campos elétricos para assumirem outras posições de equilíbrio formando vários conjuntos de íons. Isto resultará numa cristalização interna de um conjunto tridimensional no formato de um reticulado cúbico – cristalização do sal de cozinha a partir de milhões de íons Na+ e Cl–. Ligação iônica é a força que mantém os íons unidos, que se formam quando um átomo cede definitivamente um, dois ou mais elétrons a outro átomo. Figura 8- Esquema da ligação iônica no cloreto de sódio [www.alunosonline.com.br; http://ntevaiaescolaestadualazevedofernandes.blogspot.com/2008/12/pesquisa-sobre-ligaes-qumicas-inica-e.html]. Ligação Covalente Na ligação covalente os átomos compartilham elétrons, ou seja, basicamente um átomo coloca um ou mais elétrons à disposição de outro átomo que procede da mesma forma. Os pares de elétrons de ambos os átomos circulam na camada eletrônica mais externa e, então, proporcionando uma configuração eletrônica estável para ambos. Isto caracteriza um equilíbrio 13 máximo entre as forças elétricas de atração e repulsão existentes entre os dois núcleos e os elétrons nas duas eletrosferas. A molécula de água (H2O) é um exemplo clássico de ligação covalente normal, sendo formada por 2 átomos de hidrogênio e 1 átomo de oxigênio resultando num ângulo de 104,5º. O átomo de oxigênio com número atômico 8 possui distribuição eletrônica de 2 e 6 elétrons, e o de hidrogênio com número atômico 1 possui distribuição com apenas 1 elétron (como visto na Tabela 2). Serão necessários 2 elétrons para o fechamento da quantidade de elétrons no último nível do oxigênio, ou seja, para se ter uma estabilidade energética neste átomo; e no hidrogênio falta 1 elétron para o preenchimento da primeira camada. Logo, teremos o seguinte: dois átomos de hidrogênio compartilham 1 elétron cada um com o átomo de oxigênio, e este compartilha dois dos seus elétrons um para cada átomo de hidrogênio – ver esquema na Fig. 9. Vale ressaltar que, os dois pares de elétrons circulam pela camada mais externa passando de um átomo para o outro. Isto quer dizer que num dado instante um átomo tem mais elétrons do que outro, ou seja, um átomo fica positivo e o outro negativo (dipolo elétrico). Ainda que a molécula de água tenha carga total igual a zero, na região do oxigênio ela possui carga elétrica parcial negativa (δ-) e carga elétrica parcial positiva (δ+) na região do hidrogênio – efeito denominado polarização molecular. Os átomos de hidrogênio de uma molécula atraem átomos de oxigênio da molécula vizinha na região polarizada, ligação esta devido à formação de pontes de hidrogênio. Estas favorecem uma propriedade chamada coesão, que é responsável pela forma líquida e sólida (gelo) dá água; tais ligações na água líquida se rompem e refazem com muita facilidade, permitindo que ela seja fluida e esteja em constante rearranjo [www.infoescola.com].Figura 9- Ligação covalente na molécula de água [http://www.infoescola.com/bioquimica/]. 14 Forças de Van der Walls Estas são forças de ligação secundárias, intensidade relativamente fraca, que decorrem da formação de dipolos elétricos – como citado anteriormente na polarização molecular nas ligações covalentes. Curiosamente, mesmo que fracas, estas forças possuem interesse prático porque permitem a união entre grandes moléculas de materiais poliméricos. No caso particular da molécula de água, a força de Van der Walls denomina-se ponte de hidrogênio – estas ligações também existem na molécula da amônia (NH3). Os átomos isolados nos gases nobres podem ter uma polarização momentânea, devido a alguma flutuação no movimento ao acaso dos seus elétrons – efeito chamado de dispersão, o qual permite a condensação dos gases nobres em temperaturas próximas ao zero absoluto (0 K = -273,15ºC) [Monteiro, 1990]. Ligação Metálica Nos elementos metálicos, os elétrons da banda de valência pertencente à última camada do átomo são considerados “livres” quando há muitos outros átomos em contato. Estes elétrons também são chamados de “elétrons deslocáveis”, movimentando-se à vontade em três dimensões e formando uma “nuvem de elétrons” quando se tem muitos átomos metálicos reunidos. Um esquema simplificado da ligação metálica é visto na Fig. 10, onde os elétrons das órbitas mais externas também são capazes de se movimentar através da estrutura do metal. O modelo simplificado de ligação metálica representado na Fig. 10 exibe um conjunto de íons positivos intercalados por uma “nuvem de elétrons” de carga negativa e, desta forma, promovendo a estabilidade devido ao equilíbrio de forças coulombianas (atração e repulsão das cargas elétricas). Esta relativa liberdade dos elétrons da banda de valência é responsável por importantes propriedades dos metais, tais como a condução elétrica. Figura 10- Modelo esquemático da ligação metálica [http://portaldoprofessor.mec.gov.br]. 15 Combinação de Ligações Químicas Deve-se ter a noção que, embora haja uma ligação primária (ou forte) prevalecendo sobre um dado material, existe a possibilidade que outros tipos de ligação possam estar presentes e atuando mesmo que seja em menor intensidade. Neste caso, tem-se as chamadas ligações mistas que podem ocorrer em muitos materiais ou substâncias. Dependendo do estado que se encontra (líquido ou gasoso), torna-se possível para um dado composto apresentar predominância de ligações covalentes ou iônicas – como o ácido clorídrico, por exemplo. A Figura 11 apresenta um esquema para a dissolução do ácido clorídrico em água, no qual o oxigênio atrai o hidrogênio ligado ao cloro do ácido resultando em íons hidrônio (H3O+) e cloreto (Cl-) – fenômeno denominado ionização do ácido. Apesar das pontes de hidrogênio serem aproximadamente dez vezes mais fracas que as ligações covalentes, para determinadas circunstâncias elas conseguem romper as ligações covalentes [http://www.brasilescola.com]. Figura 11- Modelo da ionização do ácido clorídrico [http://www.brasilescola.com/quimica/]. Nota Importante: A covalência nas ligações químicas está guiada pela direcionalidade atômica, ou seja, tem relação com o número de coordenação atômica. Entretanto, as ligações iônica e metálica são regidas pelo grau de empacotamento dos átomos. Consequentemente, estas duas ligações resultam em materiais de estruturas mais compactas – fato que se reflete diretamente numa maior resistência à deformação plástica nestes materiais [Monteiro, 1990]. 16 3. Estados Físicos da Matéria As milhares de partículas que compõe uma dada substância ou matéria se agrupam sempre relacionadas ao seu estado físico, que dependerá das condições de temperatura e pressão do ambiente. Quando alteradas estas condições pode-se efetuar mudanças no estado físico da matéria, a qual pode existir em quatro estados gerais: sólido, líquido, gasoso e plasmático. O estado gasoso não apresenta forma nem volume definidos, onde o gás contido num recipiente pode ser comprimido ou expandido; há uma tendência do gás ocupar todo o volume do recipiente que o contém. As forças de atração entre os átomos são fracas, não havendo qualquer ordenação atômica; mesmo com baixas temperaturas os átomos estão suficientemente afastados entre si, ainda que eventuais colisões também sejam possíveis entre eles. Tanto no estado gasoso quanto no plasmático a matéria não está condensada (não há estruturas com grande número de átomos ou moléculas). Sabe-se que o plasma somente ocorre em condições de altíssima temperatura, onde a intensa excitação dos íons produzidos não favorece nenhum tipo de ligação. O líquido não possui forma própria e tem volume constante, dependendo apenas da forma do recipiente; há forças de atração suficientes para união dos átomos (formação de moléculas), e movimentação independente dos átomos para certas direções. Admite-se que os líquidos constituem um estado condensado da matéria, possuindo estrutura atômica de curto alcance – não caracteriza periodicidade de longa distância [Monteiro, 1990]. No estado sólido, a matéria tem uma forma definida e volume constante; os átomos estão submetidos a forças de atração intensas. Os sólidos possuem estrutura atômica com ordenação sistemática de longo alcance nas três dimensões – estes “pequenos” arranjos atômicos com periodicidade longa são denominados cristais. Este termo científico não tem relação com a transparência em certos tipos de vidros. Considera-se que os sólidos também podem ser materiais amorfos, sendo chamados genericamente de vidros; comportando-se como líquidos super-resfriados com estrutura desordenada de longo alcance [Monteiro, 1990; Van Vlack, 1984]. 3.1 Mudanças de Estado Físico Inicialmente, vamos lembrar que uma substância é formada por milhões de moléculas e que a distância e periodicidade entre elas determinará o seu estado físico com predominância de uma certa ligação química. Considera-se que uma dada substância está sujeita a uma: (a) transformação química – quando a substância foi alterada para outra, diferente da anterior; (b) transformação física – quando uma substância foi alterada (geralmente na forma ou estado), mas continua sendo a mesma substância anterior. Exemplo clássico: um pedaço de gelo que após derretimento se transforma em água líquida; não houve alteração química nesta substância (água no estado sólido para água no estado líquido), sendo uma transformação física. 17 Na Figura 12 é visto um desenho esquemático, mostrando as alterações do estado físico da matéria. A descrição sucinta de cada transformação esta apresentada abaixo [www.mundovestibular.com.br; http://www.coladaweb.com/quimica/quimica-geral]: Figura 12- Mudanças de estado físico da matéria [http://www.mundovestibular.com.br]. Fusão – é a mudança de uma substância do estado sólido para o estado líquido. Os sólidos puros estão sujeitos à ocorrência de fusão numa temperatura e pressão fixadas, sendo esta temperatura específica denominada ponto de fusão. Na tabela 3 são mostrados os pontos de fusão para algumas substâncias à pressão normal, sendo esta a pressão atmosférica a nível do mar (1 atmosfera = 1 atm); aumentando-se a altitude, a pressão atmosférica aumenta. Tabela 3 – Pontos de fusão de alguns materiais sólidos [www.coladaweb.com]. Substância / material sólido Ponto de fusão (ºC) chumbo (Pb) ≅ 327 prata (Ag) ≅ 960 ouro (Au) ≅ 1063 cobre (Cu) ≅ 1083 ferro (Fe) ≅ 1536 Solidificação – é a mudança de uma substância do estado líquido para o estado sólido. Vaporização – é a transformação de umasubstância do estado líquido para o estado gasoso, que se classifica em dois tipos: ebulição e evaporação. Até que todo o líquido se vaporize durante a ebulição, mantendo-se a pressão constante, a temperatura também permanece constante. O aumento da pressão externa fará com que o ponto de ebulição de um líquido puro também aumente; caso contrário, ocorrerá o inverso. 18 No caso da evaporação, este fenômeno se caracteriza por uma transformação lenta de uma substância líquida em vapor (ocorre na condição ambiente). Os fatores que favorecem a ocorrência da evaporação são os seguintes [www.coladaweb.com/quimica/quimica-geral]: aumento da temperatura; diminuição da pressão atmosférica; maior superfície de contato com o ambiente; ventilação (contando que não haja excesso de umidade). Condensação – é a transformação de uma substância do estado gasoso para o estado líquido. Um exemplo disto ocorre durante a ebulição da água, que se transforma em vapor e quando toca a superfície “fria” da tampa volta novamente ao estado líquido – este fenômeno também pode ser chamado de liquefação. Sublimação – é a mudança direta de uma substância do estado sólido para o estado de vapor, e vice-versa. Há substâncias sólidas, tais como a naftalina, a cânfora e o iodo que na condição ambiente (ausência de alterações bruscas na temperatura e pressão) se transformam espontânea e diretamente em vapor – as bolinhas de naftalina, por exemplo. Nota: Vale lembrar um conceito importante a respeito de uma substância pura sólida, que é denominada por densidade absoluta (ou massa específica), ou seja, a densidade mede o grau de concentração de massa num certo volume. Essa constante física pode ser calculada pelo quociente da massa pelo volume da substância (kg/m3 em unidades SI). 4. Estruturas Cristalinas Um material possui estrutura cristalina quando seus átomos estão posicionados com uma repetição para grandes distâncias atômicas, ou seja, tal estrutura apresenta ordenação atômica tridimensional de longo alcance. Basicamente, todos os metais, grande parte dos cerâmicos e alguns polímeros formam estruturas cristalinas quando se solidificam em condições normais. Para um bom entendimento e visualização das estruturas cristalinas, considera-se que os átomos são tratados como esferas sólidas com diâmetros bem definidos – adota-se o chamado modelo de esferas rígidas, representando o contato direto entre átomos vizinhos. Na Fig. 13 é mostrado um exemplo deste modelo para ordenação atômica encontrada em alguns metais. O termo rede também é usado no contexto das estruturas cristalinas, significando um tipo de matriz tridimensional de pontos que coincidem com a posição dos átomos (centro da esfera rígida). 19 Figura 13- Estrutura cristalina cúbica de face centrada: (a) célula unitária, modelo atômico de esferas rígidas; (b) representação geral da célula unitária; (c) agregado de células unitárias [Callister, 2007]. A Figura 13c mostra um exemplo de ordenação atômica de longo alcance (modelo de esferas rígidas), onde o reticulado cristalino foi desenvolvido a partir de um grupo de átomos em destaque nesta figura. Este pequeno grupo de átomos é chamado célula unitária, possuindo um volume característico repetido inúmeras vezes para formação do reticulado. Cada célula unitária apresenta todas as características geométricas encontradas no cristal inteiro [Van Vlack, 1984]. Importante na ordenação de longo alcance de um cristal é o chamado parâmetro cristalino (ou de rede), que estabelece o tamanho da célula unitária – este parâmetro indica uma dada dimensão que é repetida nas três dimensões para formação do reticulado. A Tabela 4 mostra sete possíveis sistemas cristalinos, destacando relações entre os parâmetros de rede e os ângulos axiais na geometria da célula unitária. A maioria dos metais e uma quantidade relevante de cerâmicos possuem reticulado cúbico; cristais que não são cúbicos, não possuem igual repetição nas três direções coordenadas ou os ângulos axiais não valem 90º. Grande parte dos materiais cristalinos de interesse tecnológico se enquadra nos sistemas cúbico e hexagonal. Somente os fundamentos básicos a respeito das redes cristalinas serão comentados no presente estudo. 20 Tabela 4 – Relação entre os parâmetros de rede com a geometria da célula unitária de sete possíveis sistemas cristalinos [Van Vlack, 1984; Callister, 2007]. Sistema Relação axial Ângulos axiais Geometria da célula unitária cúbico a = b = c α = β = γ = 90º tetragonal a = b ≠ c α = β = γ = 90º ortorrômbico a ≠ b ≠ c α = β = γ = 90º monoclínico a ≠ b ≠ c α = γ = 90º ≠ β triclínico a ≠ b ≠ c α ≠ β ≠ γ ≠ 90º hexagonal a = b ≠ c α = β = 90º, γ =120º romboédrico a = b = c α = β = γ ≠ 90º 4.1 Reticulado Cúbico O sistema cúbico possui ângulos perpendiculares nos três eixos coordenados e iguais parâmetros cristalinos, a, na célula unitária de cada um dos seus três possíveis reticulados: cúbico simples (CS), cúbico de corpo centrado (CCC) e cúbico de face centrada (CFC). Sob outro ponto de vista, pode-se afirmar que a célula unitária no sistema cúbico se assemelha a um cubo com arestas de valor igual ao parâmetro a. Três redes cristalinas são encontradas na maioria dos metais: rede CCC, CFC e a hexagonal compacta (HC) [Van Vlack, 1984; Callister, 2007]. 21 Rede Cúbica Simples (CS) Na Figura 14 é visto que o posicionamento dos átomos ocorre somente nos vértices da célula unitária (nos vértices do cubo, segundo o modelo de esferas rígidas). Os átomos se tangenciam na metade das arestas, então a relação entre o parâmetro de rede, a, e o raio atômico, R, é a seguinte: a = 2R , considere 1 nm = 10-9 m Figura 14- Desenho esquemático da célula unitária do reticulado cúbico simples [Monteiro, 1990]. Existe um átomo por célula unitária na rede cúbica simples, onde cada átomo no vértice é compartilhado simultaneamente por oito células. A partir disso, pode-se calcular a fração de matéria, ou seja, o fator de empacotamento (FE) nesta rede, baseado no modelo atômico de esferas rígidas (ver cálculos abaixo). 1 unitária) célula dainterior no átomo do (parte 8 1 (vértices) 8 =× 0,52 π 3 4 1 unitária célula da volume unitária célula na átomos de volume 3 3 = × == a R FE Verifica-se que apenas 52% do espaço da rede cúbica simples está devidamente ocupado por matéria. Cabe ressaltar que, nenhum metal se cristaliza nesta rede porque ela não satisfaz a exigência de compactação das ligações metálicas e iônicas [Monteiro, 1990]. 22 Rede Cúbica de Corpo Centrado (CCC) Nesta rede cristalina há um átomo posicionado no centro e outros posicionados nos vértices da célula unitária, como visto na Fig. 15 – a simetria cúbica está mantida devido à presença deste átomo central, que afasta igualmente os átomos de cada vértice. Figura 15- Rede cristalina cúbica de corpo centrado (CCC): (a) representação da célula unitária (modelo de esferas rígidas); (b) célula unitária simplificada; (c) agregado de muitas células [Callister, 2007]. Note que os átomos se tangenciam segundo a diagonal no centro da célula unitária, D, (ver Fig. 15a), e observando que esta diagonal vale 4 raios atômicos pode-se deduzir a relação abaixo entre o valor do parâmetro cristalino, aCCC, e o raio atômico, R, a saber: 3 4 , 4 3 R cccaRcccaD ==×= Há dois átomos por célula unitária na rede cúbica de corpo centrado, considerando a presença de um átomo no centro e oito oitavos localizados nos oito vértices da célula unitária. O cálculo do fator de empacotamento (FE) nesta rede cristalina é apresentado abaixo, baseado no modelo atômico de esferas rígidas. 0,683 4 π 3 4 2π 3 4 2 unitária célula da volume unitária célula na átomos de volume 3 3 3 3 = × = × == R R a R FE A fração de matéria ocupada vale 68% da rede cúbica de corpo centrado, sendo esta rede mais compacta do que a rede cúbica simples. Alguns metais que possuem estrutura cristalina CCC: ferro, nióbio, vanádio, cromo, tungstênio e molibdênio [Van Vlack, 1984; Monteiro, 1990]. 23 Rede Cúbica de Face Centrada (CFC) Esta rede cristalina se caracteriza por haver seis átomos no centro de cada face da célula unitária, condição responsável pela simetria cúbica que afasta igualmente os átomos de cada vértice da célula. A Fig. 16 mostra uma representação esquemática da célula unitária (modelo atômico de esferas rígidas), apresentando uma relação entre o parâmetro cristalino, aCFC, e o raio atômico R (lembre-se que 1 nm = 10-9 m). Figura 16- Rede cristalina cúbica de face centrada (CFC): desenho esquemático da célula unitária, relação entre o parâmetro de rede e o raio atômico [Callister, 2007]. Neste caso, perceba que os átomos se tangenciam na diagonal da face, d, segundo a relação mostrada no esquema da célula unitária visto na Fig. 16 – a diagonal da face vale 4 raios atômicos. Novamente, aplicando a relação de Pitágoras pode-se deduzir a relação entre o valor do parâmetro cristalino da rede e o raio atômico. Há quatro átomos por célula unitária na rede cúbica de face centrada: metade de seis átomos em cada face, além de oito oitavos nos oito vértices da célula unitária. O cálculo do fator de empacotamento (FE) na rede CFC é apresentado abaixo: 4 célula) da dentro átomo do (parte 2 1 célula) da (faces 6 célula) da dentro átomo do (parte 8 1 (vértices) 8 =×+× 0,74 2 4 π 3 4 4π 3 4 4 unitária célula da volume unitária célula na átomos de volume 3 3 3 3 = × = × == R R a R FE A fração de matéria ocupada vale 74% da rede cúbica de face centrada, sendo o máximo de compactação que pode ser atingido no modelo atômico de esferas rígidas de igual tamanho. Grande número de metais se cristalizam na rede CFC: ferro, alumínio, cobre, chumbo, prata, níquel, ouro, platina, tório e cálcio [Van Vlack, 1984; Monteiro, 1990]. Na Tabela 5 são apresentados alguns metais com as estruturas cristalinas e respectivos raios atômicos. 2 4 , 4 2 R cfc aR cfc ad ==×= 24 Tabela 5 – Estrutura cristalina e raio atômico (1 nm = 10-9 m) para alguns metais [Callister, 2007]. Metal Estrutura cristalina Raio atômico (nm) Metal Estrutura cristalina Raio atômico (nm) Alumínio CFC 0,1431 Molibdênio CCC 0,1363 Cádmio HC 0,1490 Níquel CFC 0,1246 Cromo CCC 0,1249 Platina CFC 0,1387 Cobalto HC 0,1253 Prata CFC 0,1445 Cobre CFC 0,1278 Tântalo CCC 0,1430 Ouro CFC 0,1442 Titânio-alfa HC 0,1445 Ferro-alfa CCC 0,1241 Tungstênio CCC 0,1371 Chumbo CFC 0,1750 Zinco HC 0,1332 4.2 Reticulado Hexagonal As estruturas cristalinas hexagonais e as estruturas cúbicas formam os principais arranjos atômicos dos cristais elementares, ou seja, aqueles formados pelo átomo de um único elemento. Admite-se que mais da metade desses cristais possui estrutura cúbica, um terço deles exibe estrutura hexagonal e os cristais restantes possuem outros tipos de estruturas. Logo, faz-se importante também conhecer as estruturas hexagonais. Rede Hexagonal Simples (HS) Corresponde ao posicionamento dos átomos nos vértices e no centro das bases de um prisma hexagonal, que apresenta ângulos de 120º (e 60º) no interior da base na célula unitária. A Fig. 17 mostra um desenho esquemático da rede hexagonal simples, destacando-se a célula unitária segundo o modelo atômico de esferas rígidas de igual tamanho; vale a relação a ≠ c para os parâmetros de rede, sendo de 90º o ângulo na vertical com as bases. Dentro da célula unitária na rede hexagonal simples há um total de três átomos: considere 1/6 do átomo localizado em cada vértice e ½ átomo no centro das bases. O fator de empacotamento (FE) da rede HS é calculado da mesma forma que a rede cúbica, devendo-se obter inicialmente o volume da célula unitária (ver fórmulas abaixo). Os metais não se cristalizam neste reticulado porque o fator FE ainda é considerado muito baixo (apenas 60%). 0,60 12 3 4 3 312 3 3 3 HS célula === 3R R FERV π , onde R é o raio atômico. 25 Figura 17- Desenho esquemático da célula unitária HS: (a) posicionamento atômico [Van Vlack, 1984]; (b) arranjo atômico; (c) átomos dentro da célula unitária [www.trajanocamargo.com.br]. Rede Hexagonal Compacta (HC) Analogamente à condição vista na estrutura HS, existem átomos posicionados nos vértices e no centro das bases em forma de prisma hexagonal. Inclui-se também a presença de um plano intermediário com três átomos e simetricamente localizado entre as bases. Na Fig. 18 é mostrado um desenho esquemático da célula unitária da rede hexagonal compacta, onde a razão entre os parâmetros cristalinos vale: a/c = 1,633. Nos vértices do hexágono das bases há 1/6 do átomo, então tem-se 12 × 1/6 = 2 átomos; no centro das bases há 2 × ½ átomo, resultando 1 átomo; por fim, inclui-se três átomos do plano intermediário para um total de 6 átomos dentro da célula unitária na rede HC. O fator de empacotamento (FE) da rede HC também é calculado da mesma forma que os reticulados anteriores; o volume da célula unitária e o fator FE são mostrados abaixo. Exemplos de metais que se cristalizam na estrutura HC: magnésio, cádmio, titânio, zinco, zircônio e háfnio. 0,74 24 3 4 6 224 3 3 3 HC célula === 2R R FERV π , onde R é o raio atômico. (a) 26 Figura 18- Desenho esquemático da célula unitária HC: (a) posicionamento atômico [Callister, 2007]; (b) arranjo atômico; (c) átomos dentro da célula unitária [www.trajanocamargo.com.br]. 4.3 Polimorfismo e Alotropia Alguns metais e os não-metais podem apresentar mais de uma estrutura cristalina, dependendo das condições de temperatura e pressão. Os chamados polimorfos são no geral dois (ou mais) tipos de cristais que têm igual composição química, mas diferem no arranjo atômico. Entretanto, quando se trata de sólidos elementares (como os metais, p. ex.) adota-se o termo alotropia. [Van Vlack, 1984; Callister, 2007] Um exemplo de polimorfismo são as variedades alotrópicas do carbono na forma de grafite e diamante (ver Fig. 19). No caso do diamante, que é formado sob pressões extremamente elevadas, possui a característica de ser o material mais duro da natureza e ter todas as suas ligações covalentes. Quanto ao grafite, este possui baixíssima dureza e pode ser usado como lubrificante – apresenta ligações covalentes somente em alguns planos atômicos. Admite-se que: “polimorfos são variedades alotrópicas de uma mesma composição” [Van Vlack, 1984]. Figura 19- Variedades alotrópicas do carbono: (a) diamante; (b) grafite [www.trajanocamargo.com.br]. (a) (a) (b) 27 Com relação aos metais, um exemplo clássico de polimorfismo está nas variedades alotrópicas dos cristais de ferro – o conhecimento destas variações é importante em processos metalúrgicos, pois permite alterar certas propriedades do aço através dos tratamentos térmicos. A Fig. 20 mostra um diagrama esquemático com as variações alotrópicas do ferro. Na temperatura ambiente até 912ºC (≈1674ºF), tem-se o chamado ferro-α (ferro-alfa) que possui estrutura CCC – fator FE de 0,68 e raio atômico 0,124 nm (excetoa 912ºC, que devido à expansão térmica o raio atômico vale 0,126 nm). Acima de 912ºC e até 1394ºC, o “ferro puro” se transforma em ferro-γ (ferro-gama) de estrutura cristalina CFC – fator FE de 0,74 e raio atômico 0,129 nm. Acima de 1394ºC até cerca de 1540ºC o ferro se transforma em ferro-δ (ferro-delta), voltando a ter uma estrutura CCC. Figura 20- Variações alotrópicas do ferro puro [Estrutura_Cristalina_materialdeapoio2.pdf]. 28 4.4 Imperfeições nos Cristais Agora já temos uma boa noção de que a matéria se estrutura a partir de átomos e moléculas. Baseado neste contexto, podemos definir três tipos de escalas para observação e análise dos defeitos existentes nos diversos materiais conhecidos [Monteiro, 1990]: • escala macroscópica – usada quando se observa a olho nu ou com um pequeno aumento (uso de uma lupa para observação de uma trinca, p. ex.); • escala microscópica – quando há necessidade de maiores ampliações (uso de microscópio óptico para observar porosidades ou microtrincas, p. ex.); • escala subestrutural – na análise de materiais à nível atômico, deve-se utilizar um microscópio eletrônico (defeitos de lacunas e discordâncias, p. ex.) Considera-se que, todo o material de interesse prático na tecnologia de construção mecânica possui imperfeições (ou defeitos) subestruturais. Tais defeitos não devem ser encarados como, literalmente, danosos ao material, pois a presença deles quando bem controlada poderá direcionar satisfatoriamente as suas propriedades no atendimento de requisitos mecânicos. As imperfeições subestruturais numa rede cristalina são geralmente classificadas como: pontuais (presença de lacunas com ausência de um ou mais átomos); lineares (defeitos em linha); defeitos associados à superfície (estendido em duas dimensões); e de contorno de grão (existência de uma única estrutura, contendo cristais com diferentes orientações cristalográficas). No presente estudo serão enfatizados os defeitos pontuais e os lineares da rede cristalina, pois entende-se que a ação deles, que ocorre em conjunto com os defeitos de contorno de grão, apresenta grande interesse para fins práticos direcionado à alteração das propriedades mecânicas, notadamente quanto à deformação plástica dos materiais metálicos. 4.4.1 Defeitos Pontuais No geral, correspondem a imperfeições na estrutura cristalina que envolvem uma ou mais posições atômicas englobadas num pequeno volume de formato aproximadamente esférico. As lacunas (também chamadas de vazios ou vacâncias) são os defeitos pontuais mais simples e envolvem a falta de um átomo na rede cristalina, podendo aparecer aos pares ou em grupos maiores. Basicamente, tais defeitos podem ser introduzidos na rede cristalina através dos seguintes modos [Van Vlack, 1984; Monteiro, 1990]: • vibrações térmicas dos átomos – o aumento da temperatura aumenta exponencialmente a quantidade de lacunas na rede, devido às trocas de posições dos átomos (o aumento da energia térmica induz um aumento na probabilidade de que alguns átomos “saltem” das posições originais para outras de mais baixa energia); 29 • por deformação plástica – o movimento das discordâncias (defeitos lineares), responsável pela deformação plástica dos metais, gera lacunas através da rede cristalina. Na Figura 21 são mostrados alguns defeitos pontuais relacionados às lacunas. A lacuna simples e uma bilacuna são vistas nas Fig. 21a e Fig. 21b, respectivamente. As lacunas de um par de íons (defeitos de Schottky, na Fig. 21c) ocorrem em compostos que devem manter um equilíbrio de cargas elétricas, ou seja, em pares de íons de cargas opostas. A presença de um átomo no interstício da rede cristalina produz distorção atômica; isto pode ocorrer ser o fator de empacotamento desta rede for baixo, gerando o chamado defeito intersticial (ver Fig. 21d). Quando um íon é deslocado da rede para uma posição intersticial caracteriza o defeito de Frenkel (ver Fig. 21e). Estruturas compactas possuem bem menos defeitos intersticiais e íons deslocados do que lacunas, pois seria necessária uma intensa energia adicional para forçar os átomos para os interstícios (radiação atômica, p. ex.) [Van Vlack, 1984; Monteiro, 1990]. Figura 21- Defeitos pontuais: (a) lacuna; (b) bilacuna (falta de dois átomos); (c) lacuna de um par iônico (defeito de Schottky); (d) átomo intersticial; (e) íon deslocado (defeito de Frenkel) [Monteiro, 1990]. 4.4.2 Defeitos em Linha Os defeitos lineares em escala subestrutural são denominados discordâncias, que podem ser de dois tipos: discordância em aresta (ou cunha) e discordância em espiral (ou hélice). Basicamente, uma discordância é um defeito cristalino linear onde diversos átomos estão desalinhados e, consequentemente, provocando uma distorção na rede. É importante ressaltar que, grande parte da teoria de deformação e endurecimento dos metais está fundamentada na movimentação das discordâncias. (a) (b) (c) (d) (e) 30 Discordância em Aresta As características principais deste defeito são, primeiramente, a presença de um semiplano extra de átomos na rede cristalina que provoca uma imperfeição linear; e a formação de zonas de compressão e de tração na rede ao redor da discordância (ver detalhes na Fig. 22). O vetor deslizamento b (vetor de Burgers) representa a direção e o deslocamento dos átomos que circundam a discordância, sendo tal vetor perpendicular à linha da discordância em aresta (semiplano extra de átomos). A magnitude da distorção gerada na rede possui a ordem de grandeza de uma distância interatômica nesta rede. Figura 22- Discordância em aresta: plano extra de átomos mostrado em perspectiva. O vetor deslizamento b é o deslocamento resultante [Van Vlack, 1984; Moreira, 2002]. Discordância em Espiral A Figura 23 mostra um desenho esquemático da discordância em espiral, que possui tensões de cisalhamento associadas aos átomos adjacentes à sua linha de ação e, como ocorre na discordância em aresta, há energia extra envolvida na movimentação do defeito. Na Fig. 23a está indicado que o vetor deslizamento b (vetor de Burgers) é paralelo à linha da discordância; e na Fig. 23b são mostradas as posições dos átomos acima e abaixo do plano de cisalhamento, segundo a linha de ação da discordância (linha A-B). Na discordância em espiral que está apenas sob ação de tensões cisalhantes, o movimento da mesma acarreta um deslizamento do plano compacto (maior densidade de átomos) que contém a linha de ação da discordância, segundo uma das direções compactas da rede cristalina. Consequentemente, restará um “degrau de cisalhamento” de valor igual à distância interatômica na rede – este degrau é denominado vetor de Burgers [Van Vlack, 1984; Monteiro, 1990]. zona de compressão zona de tração 31 Figura 23- (a) Modelo de blocos na representação da discordância em espiral na rede cristalina;(b) Vista superior da rede. Vetor b é paralelo à linha da discordância (linha A-B). Posição dos átomos acima do plano de cisalhamento são os círculos “vazios”, e aqueles abaixo por círculos “cheios” [Callister, 2007]. Durante a cristalização de um material podem ser formadas ambas as discordâncias (aresta e espiral), cada uma sob aspectos distintos que não serão abordados no presente estudo. Na Fig. 24 é mostrado um desenho esquemático com a presença das duas discordâncias na rede cristalina dos materiais metálicos. A direção do vetor de Burgers está clara nos dois tipos de discordâncias 32 A Figura 25 mostra uma micrografia eletrônica de transmissão (técnica de microscopia com feixe de elétrons), onde grupos de discordâncias são vistos na região de uma ligade titânio. Todos os materiais com estrutura cristalina contém uma certa densidade de discordâncias, as quais são introduzidas ou aumentadas em quantidade durante a solidificação, a deformação plástica (metais e cerâmicos) e também como consequência das tensões térmicas resultantes de um resfriamento rápido do material [Monteiro, 1990; Callister, 2007]. Admite-se que as discordâncias comumente se originam na deformação do material (quando submetido a esforços mecânicos), onde o cisalhamento entre os planos cristalinos favorece a movimentação das mesmas resultando numa deformação permanente no material. Este assunto que relaciona a importância da ação das discordâncias com a deformação dos materiais metálicos, bem como alteração nas propriedades mecânica será retomado mais adiante. Figura 24- Esquema da discordância mista (aresta + espiral) na rede cristalina [Callister, 2007]. 33 5. Classificação Geral dos Materiais Atualmente há uma enorme variedade de materiais para as mais diversas aplicações na indústria, ficando difícil se apresentar uma única listagem contendo todas as possíveis classes de materiais de tecnologia mecânica. Uma classificação geral pode ser feita considerando-se as propriedades intrínsecas e o tipo de ligação química dos mesmos. Logo, é conveniente classificar os materiais da seguinte forma: metais, polímeros (ou plásticos), cerâmicos e compósitos. Nesta unidade curricular, Tecnologia dos Materiais I, será dada ênfase ao estudo dos materiais metálicos, destacando-se particularidades e aspectos tecnológicos dos aços e algumas ligas não-ferrosas (outras classes de materiais serão comentadas em Tecnologia dos Materiais II). 5.1 Materiais Metálicos Estes materiais possuem predominantemente ligações metálicas entre os átomos, perfazendo cerca de 80% dos elementos químicos da tabela periódica. Apresentam como características básicas: altas condutividades térmica e elétrica; alta capacidade de polimento (brilho metálico); são endurecíveis e deformáveis, possuindo ductilidade necessária para os processos de conformação mecânica. Há inúmeras possibilidades para fabricação de ligas, misturando-se metais com metais ou metais com não-metais nas mais variadas proporções de composição química. Entretanto, as ligas industrialmente comercializadas estão limitadas àquelas que possuem melhor desempenho nas suas propriedades mecânicas e física, p. ex., dependendo do projeto de engenharia. Figura 25- Micrografia de um microscópio eletrônio de transmissão, mostrando discordâncias numa liga de titânio (linhas escuras). Aumento de 51450X [Callister, 2007]. 34 Por exemplo, as mais importantes ligas de ferro para a indústria contém carbono (elemento não-metálico). Os percentuais dos elementos usados na mistura para formação de uma liga metálica não devem ultrapassar os limites especificados, de modo a garantir as propriedades desejadas para o bom desempenho da peça. Quanto ao percentual de carbono adicionado ao ferro, a quantidade máxima de interesse teórico é de aproximadamente 2,10%C formando a liga denominada aço. Acima deste limite, haverá formação da liga chamada ferro fundido, que possui propriedades mecânicas e aplicação bem mais restrita do que o aço. Os aços possuem grande versatilidade em função dos vários tipos comerciais, devido basicamente às transformações cristalinas no material através dos chamados tratamentos térmicos para obtenção de propriedades melhoradas (transformações influenciadas pelo fenômeno de polimorfismo do ferro). Um dos maiores problemas que atinge os metais é a ocorrência da corrosão, quando há “ataque químico” por algum reagente ou meio que proporciona perda de material em função do tempo e, consequentemente, acarretando efeitos prejudiciais às propriedades do material. 5.2 Propriedades dos Materiais Além de ter conhecimento quanto à variedade de materiais para uso na indústria, deve-se avaliar quantitativamente as propriedades de interesse e também os custos envolvidos para uso de um dado material e, então, decidir se é conveniente utilizá-lo no projeto mecânico. Os valores das propriedades dos materiais são encontrados em tabelas e publicações técnicas, geralmente referenciados por normas de ensaios. Porém, em função da diversidade de opções no mercado e dos critérios de qualidade no processo de fabricação de um dado material, os valores das propriedades de interesse podem ser estabelecidos com uso de uma amostra do material – denominada corpo de prova (CP). As dimensões do CP e os critérios do ensaio deverão ser igualmente padronizados para uma maior confiabilidade nos resultados, pois servirão de comparativo com os valores tabelados segundo informações do fabricante. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é a responsável pela adequação das normas de diversos ensaios em nosso território, segundo procedimentos internacionais para quantificar as propriedades de um dado material. Propriedades Térmicas A distinção entre temperatura e calor num dado material é um passo importante no entendimento das propriedades térmicas de estado [Van Vlack, 1984; Monteiro, 1990]: 35 – Temperatura: é medida em graus Celsius (ºC), graus Fahrenheit (ºF) ou Kelvin (K), correspondendo a um nível de atividade térmica; – Calor: é a energia térmica em trânsito de um corpo para outro, medida em unidade de energia, ou seja, Joule (J) no SI (caloria, 1 cal = 4,186 J). O conhecimento das escalas termométricas é de grande interesse no estudo dos materiais, pois apesar das três escalas existentes serem reconhecidas pelo sistema internacional de unidades (SI) nem todos os países adotam a mesma escala de temperaturas. Por exemplo, nos Estados Unidos e na Inglaterra é muito comum utilizar a escala em graus Fahrenheit e no Brasil (como em toda América do Sul) em graus Celsius. A Fig. 26 mostra um esquema para conversão entre as escalas, destacando os pontos fixos fundamentais de cada uma delas; as equações de conversão entre elas também são apresentadas ao lado da figura. Figura 26- Conversão entre escalas termométricas [http://www.infoescola.com/fisica/escalas/]. As propriedades térmicas intrínsecas ao material são [Doca, 1988; Monteiro, 1990]: Calor específico sensível, c [cal/g.ºC]: calor recebido ou cedido por um corpo que provoca neste uma variação de temperatura. Q = m.c.∆∆∆∆T , onde Q é a quantidade de calor (em calorias, cal), m é a massa do corpo (em gramas, g) e ∆Τ é a variação de temperatura (ºC) Calor latente de transformação, L [cal/g]: este calor produz uma mudança de estado físico no corpo em análise. Q = m.L Temperatura de transformação de estado: é o valor da temperatura onde ocorre uma mudança de estado no material. Exemplos: Tf , temperatura de fusão; Tv, vaporização (100ºC para a água sob pressão atmosférica normal). 9 32F)T(º 5 C)T(º − = 273C)T(ºT(K) += 36 Coeficientes de expansão térmica linear [α], superficial [β] e volumétrica [γ]: a expansão ou dilatação em geral ocorre durante o aquecimento do material, devido ao aumento da vibração térmica dos átomos; a unidade do coeficiente de expansão é ºC-1 ou K-1. ∆L = Lo.α.∆T ou L = Lo.(1 + α.∆T) , onde ∆L: variação do comprimento (∆L = L – Lo) ∆A = Ao.β.∆T ou A = Ao.(1 + β.∆T) ∆Α: variação da área (∆Α = A2 – A1) ∆T: variação da temperatura (∆T = T2 – T1) Nota: β = 2.α , γ = 3.α Condutividade térmica, k [cal.cm/s.cm2.ºC ou J/m.s.K]: está relacionada com o fluxo térmico, φ, a área de transferência (seção transversal), A [cm2], a variação de temperatura e a distância atravessada pelofluxo térmico, d [cm], num dado tempo, t [s]. Na Tabela 6 são dadas as propriedades térmicas de alguns materiais. d TA k t Q ∆ = ∆ = . . φφ Tabela 6 – Propriedades térmicas de alguns materiais utilizados em engenharia [Monteiro, 1990]. Material Calor específico, c (J/kg.K) Temperatura de fusão, Tf (ºC) Coeficiente de dilatação linear, αααα (K-1) Condutividade térmica, k (J/m.s.K) Aço comum 500 1500 12 × 10-6 48 Duralumínio 940 650 23 × 10-6 200 Cobre 390 1083 16 × 10-6 380 Madeira 1760 combustão, >200ºC 4 × 10-6 0,1 Vidro 750 1300 7 × 10-6 0,8 Propriedades Elétricas As propriedades elétricas de estado são as seguintes [Doca, 1988; Monteiro, 1990]: Carga elétrica, q [coulomb] – propriedade física inerente aos prótons (+) e elétrons (–), pois os nêutrons tem carga nula; unidade: Coulomb, C. Corrente, I – corresponde à variação da carga elétrica com o tempo; unidade: Amperes, A. Potencial elétrico (ou voltagem), V [volt] – indica a energia potencial elétrica armazenada por unidade de carga, ou então, corresponde ao trabalho feito por corrente elétrica; vale a relação: volt = joule / coulomb As principais propriedades elétricas intrínsecas aos materiais condutores são descritas resumidamente abaixo [Doca, 1988; Monteiro, 1990]. Na Tabela 7 são mostradas as propriedades elétricas de alguns materiais de interesse tecnológico, inclusive de materiais não condutores. 37 Resistência elétrica, R – é medida através de um condutor homogêneo de seção transversal constante com área A [unidade: m2], comprimento ℓ [m], sendo um material com resistividade elétrica ρ [unidade: Ω.m, lê-se ohm-metro]; vale a relação abaixo: A l R .ρ= Condutividade elétrica, σσσσ – definida como sendo o inverso da resistividade elétrica, logo a unidade de medida será: /Ω.m ou (Ω.m)-1. Tabela 7 – Propriedades elétricas de alguns materiais usados em engenharia [Monteiro, 1990]. Material Resistividade, ρ ρ ρ ρ (ohm.m) Constante dielétrica, K Aço comum 17 × 10-8 condutor Alumínio 3 × 10-8 condutor Cobre 1,7 × 10-8 condutor Ouro 2,44 × 10-8 6,9 * Borracha 3 × 10-4 2,9 Papel 10 3,8 Vidro 102 9,1 * fonte: http://www.mit.edu/~6.777/matprops/gold.htm No caso dos materiais não-condutores, as principais propriedades são [Monteiro, 1990]: Rigidez dielétrica, RD – relativa ao coeficiente de proporcionalidade da voltagem em função da espessura mínima, d, para que passe uma descarga pelo material, quebrando o seu isolamento elétrico; vale a relação: V = RD × d , [unidade RD: volt/m] Constante dielétrica, K – relativa ao coeficiente de proporcionalidade da capacitância, C, de um condensador em função de um fator geométrico do próprio condensador. Para um condensador de placas paralelas com área A, e que possui um material dielétrico entre elas, tem-se a relação: d AK V Q C .10.36 . 5π == Para um condensador formado por duas esferas concêntricas de raios R1 e R2, e que possui um material dielétrico entre elas, tem-se outra relação em função da geometria do condensador: ).(109 .. 21 5 21 RR RRK V Q C −× == unidade K: adimensional, ou seja, não há unidade SI devido ao fator geométrico característico do condensador, sendo que K = 1 quando existe vácuo no lugar de um material dielétrico. 38 Propriedades Químicas As propriedades químicas de estado para um determinado sistema são geralmente expressas por formas termodinâmicas de energia, tais como: energia livre, entalpia e entropia. Quanto às propriedades intrínsecas de um material, estas se relacionam com as condições de deterioração do mesmo através de análises em meio corrosivo e de eletroquímica, destacando-se as seguintes propriedades: Taxa de corrosão – medida pela perda de massa do material ou pela perda de parte da espessura de uma superfície do material [unidade: kg/s ou m/s, ou mais comumente mg/ano ou mm/ano]. Velocidade de reação – medida como inverso do tempo gasto para completar toda (ou fração) da reação [unidade: /s ou s-1]. Propriedades Ópticas Estas propriedades resultam da interação de ondas eletromagnéticas com a matéria. A propriedade de estado é a velocidade da luz (≈0,299 × 109 m/s), sendo uma constante universal no vácuo mas que varia em função do meio onde se propaga; outra propriedade de estado é o fluxo luminoso [unidade F: lúmen]. As propriedades intrínsecas ao material são: índice de refração e de reflexão; a radiância; e a cor. 5.3 Propriedades Mecânicas Inicialmente, vale ressaltar que nem todas as propriedades mecânicas são intrínsecas ao material. Algumas delas são propriedades de estado do sistema, as quais estão relacionadas a grandezas físicas que caracterizam o estado da matéria: força, tensão ou pressão, e a taxa de deformação imposta pela solicitação mecânica no referido sistema. As unidades no SI utilizadas para as propriedades mecânicas de estado são as seguintes: – força, F : newton, N [N] = [kg.m.s-2] – tensão ou pressão, σσσσ : pascal, Pa [Pa] = [N] / [m2] – deformação, εεεε : variação do comprimento / comprimento inicial = (Lf – L0) / L0 = ∆L / L0 ⇒ não há unidade específica neste caso, então dizemos ser uma grandeza adimensional. – taxa de deformação = deformação / tempo = 1 / s = s-1 39 Na Figura 27 são mostradas quatro ilustrações esquemáticas de como uma carga pode ser aplicada por meio do ensaio tensão-deformação, no qual pode-se avaliar o comportamento mecânico de um material. De modo geral, esta carga pode ser estática ou variar lentamente com o tempo, sendo aplicada sobre uma seção transversal ou na superfície do componente. Nesta parte do estudo serão apresentados conhecimentos preliminares a respeito do ensaio de tração convencional (ou de engenharia), pelo fato deste ensaio ser muito usado para se determinar várias propriedades mecânicas intrínsecas de um material metálico. Posteriormente, tais propriedades serão comentadas e relacionadas a algumas regiões específicas de um gráfico tensão-deformação convencional. Os corpos-de-prova (CPs) para os ensaios de tração devem ser retirados da peça ou componente de interesse, a fim de se obter propriedades mecânicas confiáveis. Há normas específicas que determinam a correta geometria dos CPs para ensaios de tração, destacando-se a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que possui o método MB-4 com dimensões dos CPs para casos específicos em função do tipo de material [Souza, 1982]. Em particular, CPs retirados de placas, chapas ou lâminas têm seção retangular com a espessura igual à espessura do referido componente; e CPs circulares são produzidos se a peça for de seção circular ou irregular, ou ainda se produzida por fundição. Figura 27- (a) Desenho esquemático da carga de tração produzindo alongamento e deformação linear positiva (linhas tracejadas indicam a geometria do CP antes da deformação); (b) Esquema de uma carga de compressão: contração e deformação linear negativa; (c) Deformação por cisalhamento γ, onde γ = tanθ ; (d) Deformação por torção, com aplicação do torque T (φ, ângulo de torção) [Callister, 2007]. (a) (b) (d) (c) 40 Um CP padrão usado nos ensaios de tração é mostrado na Fig. 28, segundo a normas ASTM E8 e E8M. Esta configuração do CP é geralmente escolhida para que durante o ensaio se tenha a deformação confinada à região central, reduzindo a probabilidade de fratura nas extremidades do CP. Considerações sobre a geometria do CP (Fig. 28): diâmetro da seção transversal uniforme com 12,8 mm (≈.50 in); e comprimento desta seção reduzida normalmente com 60 mm (≈2 in), ou seja, de pelo menos quatrovezes esse diâmetro – o comprimento útil da seção é de 50 mm (gauge length), usado para os cálculos da ductilidade do material. Figura 28- Corpo-de-prova padrão com seção transversal circular, destinado para ensaios de tração (normas ASTM E8 e E8M, Standard Test Methods for Tension Testing of Metallic Materials [Callister, 2007]. A tensão de engenharia ou apenas tensão, σ, e a deformação ε são definidas abaixo, onde F é a carga instantânea aplicada (em newton, N, ou libras-força, lbf) na direção perpendicular à seção transversal do CP e A0 é a área original da seção transversal (em m2 ou in2) – unidades usadas para tensão: megapascals, MPa pelo SI (1 MPa = 106 N/m2), ou libras-força por polegada quadrada, psi (usual nos EUA); considere 145 psi = 1 MPa [Callister, 2007]. 00 0 0 L L L LL A F f ∆= − == εσ A Figura 29 mostra uma curva tensão-deformação de engenharia típica para um metal dúctil, destacando-se as regiões de interesse no gráfico bem como o aspecto geométrico do CP ao longo do ensaio de tração. O estudo desta curva permite selecionar três importantes regiões ou estágios distintos, a saber: – regime elástico: permanece até o final da reta elástica formada no gráfico, sendo o final desta reta indicado pela tensão no limite de proporcionalidade (σp). Neste trecho, caso o carregamento aplicado durante o ensaio mecânico seja retirado, o material testado recupera integralmente sua deformação retornando às dimensões originais do CP. – regime plástico com deformação homogênea: formado no final da reta elástica até o ponto de máximo do gráfico, onde há o limite de resistência à tração do material (tensão máxima, σm). Se o carregamento da máquina de ensaio for retirado neste trecho, o CP recupera a sua deformação elástica, porém ficará com uma deformação plástica permanente. Esta deformação plástica pode ser obtida traçando-se uma reta paralela à reta elástica até o eixo horizontal das deformações. 41 – regime plástico com deformação heterogênea: neste último trecho da curva, a deformação elástica e plástica são permanentes; ocorre a localização da deformação plástica numa pequena região do CP denominada pescoço, sendo o fenômeno conhecido como estricção. Figura 29- Curva tensão-deformação de engenharia do ensaio de um metal dúctil até a fratura (ponto F). Limite de resistência à tração está indicado no ponto M; dentro dos círculos há o aspecto geométrico do CP deformado ao longo da curva [Callister adaptado, 2007]. Por meio da realização do ensaio mecânico de tração e, consequentemente, com a obtenção da curva tensão-deformação de engenharia (ver Fig. 29), pode-se determinar as seguintes propriedades mecânicas intrínsecas de um material metálico: Módulo de Elasticidade, E (ou módulo de Young) – equivale ao valor da inclinação da reta no regime elástico; quando os metais estão submetidos a uma tensão de tração relativamente baixa, a tensão e a deformação do material são proporcionais, segundo a relação abaixo que obedece a lei de Hooke. O módulo de elasticidade é a medida da rigidez do material, ou seja, quanto maior o módulo menor será a deformação elástica resultante da aplicação da carga. Na Tabela 8 são dados os valores dos módulos de elasticidade de alguns metais. σ = E.ε , sendo [E]: GPa no SI (1 GPa = 109 N/m2 = 103 MPa) Te ns ão 42 Tabela 8 – Valores dos módulos de elasticidade e cisalhamento e o coeficiente de Poisson para alguns metais à temperatura ambiente [Callister, 2007]. Liga Metálica Módulo de Elasticidade Módulo de Cisalhamento (a) Coeficiente de Poisson (b)GPa 106 psi GPa 106 psi Aço 207 30 83 12,0 0,30 Alumínio 69 10 25 3,6 0,33 Cobre 110 16 46 6,7 0,34 Latão 97 14 37 5,4 0,34 Magnésio 45 6,5 17 2,5 0,29 Níquel 207 30 76 11,0 0,31 Titânio 107 15,5 45 6,5 0,34 Tungstênio 407 59 160 23,2 0,28 Notas: (a) Propriedade obtida nos ensaios de cisalhamento e torção de um CP, conforme a relação τ = G.γ , onde τ é a tensão cisalhante, G o módulo de cisalhamento e γ a deformação cisalhante. (b) Vale a seguinte relação para os materiais isotrópicos, ou seja, quando o comportamento elástico não varia com a direção cristalográfica: E = 2G (1 + ν), onde ν é coeficiente de Poisson. Tensão no limite de proporcionalidade, σσσσp – representa o valor da tensão ao final da reta no regime elástico, ou seja, ultrapassado este limite tem início a deformação plástica do material. Tensão no limite de escoamento, σσσσy – indica o valor da tensão que caracteriza o início do regime plástico, sendo convencionalmente obtido traçando-se uma reta paralela à reta elástica e defasada com uma deformação de 0,2% (ou 0,002). Na Fig. 30 é mostrado um esquema típico do comportamento tensão-deformação em tração até o início do regime plástico para um metal. Nos sólidos cristalinos a deformação plástica ocorre por meio do fenômeno de escorregamento dos planos atômicos, que envolve a quebra das ligações atômicas entre os átomos originais, seguindo-se a formação de novas ligações com átomos vizinhos, bem como a movimentação de discordâncias. A Fig. 30a destaca a região da curva tensão-deformação que contém os limites de proporcionalidade (σp) e de escoamento (σy) ao final da reta no regime elástico, caracterizando uma transição elastoplástica gradual típica para os metais. Neste caso, a indicação do valor do limite de escoamento não pode ser determinada com precisão. Convencionou-se traçar uma linha reta paralela à reta elástica com uma pré-deformação especificada de 0,2% e, então, na interseção desta com a curva tensão-deformação obtém-se o valor do limite de escoamento. Alguns aços e outros materiais possuem o comportamento tensão-deformação em tração mostrado na Fig. 30b, no qual a transição elastoplástica do material está bem definida devido ao fenômeno conhecido como escorregamento. Nesta situação, o limite de escoamento superior é 43 alcançado antes da queda repentina no carregamento do ensaio (começo da deformação plástica no escoamento); após a estabilização da carga, o material sofre alguma deformação para uma tensão constante no patamar de escoamento, sendo este valor de tensão chamado limite de escoamento inferior. Estes dois limites não são constantes para um determinado metal, pois dependem de vários fatores tais como: geometria do CP; método de ensaio; velocidade de deformação e também das características da máquina de ensaio. [Souza, 1982; Callister, 2007] Figura 30- (a) Comportamento tensão-deformação de um metal: interface na deformação elástica e plástica; indicação do limite de proporcionalidade (σp) e do limite de escoamento (σy), segundo o método da pré-deformação de 0,2%; (b) Esquema de um comportamento tensão-deformação em alguns aços, havendo indicação dos limites de escoamento superior e inferior [Callister adaptado, 2007]. Deformação no limite de proporcionalidade, εεεεp – quanto o material se deformou ao ser alcançada a tensão no limite de proporcionalidade (final da reta no regime elástico). Deformação no limite de escoamento, εεεεy – quanto o material se deformou ao atingir a tensão no limite de escoamento: método da pré-deformação 0,2%; e para os materiais com região elástica não-linear (ferro fundido cinzento, p. ex.) a prática consiste em definir o limite de escoamento como a tensão necessária para uma certa quantidade de deformação (ε = 0,005, p. ex.). Tensão máxima ou limite de resistência à tração, σσσσm – valor da tensão no ponto de máximo da curva; quando ultrapassado este limite tem início uma deformação plástica heterogênea no CP. Deformação uniforme, εεεεu – corresponde ao valor da deformação quando atingida a
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