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As Inovacoes do CPC de 2015 Da propositura da acao ate a sentenca Marcacini, Augusto

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"Quando	o	mundo	estiver	unido	na	busca	do	conhecimento,	e	não	mais	lutando	por	dinheiro	e
poder,	então	nossa	sociedade	poderá	enfim	evoluir	a	um	novo	nível."
Augusto	Tavares	Rosa	Marcacini
As	Inovações	do	CPC	de	2015
Da	propositura	da	ação	até	a	sentença
São	Paulo
2016
As	Inovações	do	CPC	de	2015:	Da	propositura	da	ação	até	a	sentença
©	Augusto	Tavares	Rosa	Marcacini
Sobre	o	autor:
Augusto	Tavares	Rosa	Marcacini	 é	Advogado	 em	 São	 Paulo,	 Bacharel	 (1987),	Mestre	 (1993),	Doutor	 (1999)	 e	 Livre-docente
(2011)	em	Direito	pela	Faculdade	de	Direito	da	Universidade	de	São	Paulo.	É	Professor	no	curso	de	Mestrado	em	Direito	da	Sociedade	da
Informação	da	UniFMU,	 instituição	em	que	 também	 leciona	Direito	Processual	Civil	no	curso	de	Graduação	em	Direito.	Foi	Presidente	da
Comissão	de	Informática	Jurídica	(2004-2006	e	2007-2009)	e	da	Comissão	da	Sociedade	Digital	(2010-2012)	da	OAB-SP.	Foi	Vice-Presidente
da	Comissão	de	Direito	Processual	Civil	da	OAB-SP	(2013-2015).
Dados	bibliográficos:
Marcacini,	Augusto	Tavares	Rosa.	As	Inovações	do	CPC	de	2015:	Da	propositura	da	ação	até	a	sentença.	São	Paulo:	A.	Marcacini,	2016.
ISBN	da	versão	impressa:
ISBN-13:	978-1530589074
ISBN-10:	153058907X
Aos	meus	pais,	
Nobil	Marcacini	(in	memoriam)	e	
Marly	Tavares	Rosa	Marcacini.
À	minha	esposa,	Luciana,	
e	aos	nossos	filhos,
Ana	Helena,	Maria	Clara	(in	memoriam)	e	João	Pedro.
Sumário
Prefácio	do	Autor
Introdução
Capítulo	I	-	Procedimento	comum
1.	Aspectos	gerais
2.	Estrutura	do	novo	procedimento	comum
3.	Flexibilização	do	procedimento
4.	Procedimentos	especiais	extintos	e	a	aplicação	do	procedimento	comum
Capítulo	II	-	Propositura	da	ação
1.	Competência
1.1.	Limites	da	jurisdição	nacional	(a	antes	chamada	“competência	internacional”)
1.2.	Competência	territorial
2.	Instrumento	de	mandato
3.	Petição	inicial
4.	Valor	da	causa
5.	Pedido
Capítulo	III	-	Deferimento,	ou	não,	da	petição	inicial
1.	Aspectos	gerais
2.	Questões	apreciáveis	de	ofício	pelo	juiz
3.	Emenda	da	petição	inicial
4.	Indeferimento	da	petição	inicial
5.	Improcedência	liminar	do	pedido
6.	Da	decisão	judicial
Capítulo	IV	-	Citação	do	réu
1.	Formas	de	citação	e	suas	formalidades
2.	Efeitos	da	citação
3.	Finalidade	da	citação	no	procedimento	comum
Capítulo	V	-	Audiência	de	conciliação	e	mediação
Capítulo	VI	-	Resposta	do	réu
1.	Aspectos	gerais
2.	Prazo
3.	Questões	processuais	em	preliminar	de	contestação
3.1.	Poucas	modificações	quanto	ao	tema
3.2.	Novas	disposições	quanto	à	alegação	de	ilegitimidade	passiva
3.3.	Arguição	de	incompetência
4.	Defesas	de	mérito
5.	Reconvenção
Capítulo	VII	-	Providências	preliminares,	réplica	e	o	julgamento	conforme	o	estado	do	processo
1.	Providências	preliminares
2.	Réplica
2.1.	Considerações	gerais
2.2.	Forma
2.3.	Conteúdo	da	manifestação
3.	Julgamento	conforme	o	estado	do	processo
3.1.	Considerações	gerais
3.2.	Julgamento	antecipado	parcial	do	mérito
3.3.	Saneamento	e	decisão	de	organização	do	processo
Capítulo	VIII	-	Alterações	do	NCPC	em	matéria	de	provas
1.	Parte	geral
2.	Produção	antecipada	de	prova
3.	Meios	de	prova	em	espécie
3.1.	Ata	notarial
3.2.	Prova	documental
3.3.	Documentos	eletrônicos
3.4.	Prova	testemunhal
3.5.	Prova	pericial
4.	Audiência	de	instrução	e	julgamento
5.	As	provas	e	o	direito	intertemporal
Capítulo	IX	-	Sentença
1.	Resolução	da	causa	com	ou	sem	julgamento	de	mérito
2.	Requisitos	da	sentença	e	a	motivação	das	decisões
3.	Do	dispositivo	da	sentença
4.	Hipoteca	judiciária
5.	Remessa	necessária
Capítulo	X	-	Intimações	e	prazos	no	NCPC
1.	Intimações	e	o	termo	inicial	dos	prazos
2.	Contagem	dos	prazos
Capítulo	XI	-	Honorários	advocatícios	e	despesas	processuais
1.	Obrigação	de	antecipação	das	despesas	e	responsabilidades	decorrentes	da	sucumbência
2.	Critérios	de	fixação	dos	honorários
2.1.	Disposições	gerais
2.2.	Honorários	nas	causas	em	que	a	Fazenda	é	parte
3.	Honorários	progressivos
4.	Outras	disposições	sobre	honorários
5.	Novas	disposições	sobre	custas	e	despesas
Capítulo	XII	-	Gratuidade	da	justiça
Capítulo	XIII	-	Informatização	do	processo	no	NCPC
1.	Generalidades
2.	Da	prática	eletrônica	de	atos	processuais
3.	Outras	disposições	relevantes	sobre	o	uso	da	tecnologia
Bibliografia
Prefácio	do	Autor
Um	novo	Código	de	Processo	Civil	vem	à	luz	em	nosso	país.
Abro	este	prefácio	esclarecendo	que,	se	o	leitor	quiser	saber	a	minha	opinião	pessoal	sobre	o	novo	CPC,
eu	lhe	diria	que	ela	oscila	do	mais	entusiasmado	otimismo	ao	mais	empedernido	pessimismo.	Não	que
me	considere	portador	de	uma	personalidade	volátil:	são	as	diferentes	disposições	da	nova	lei	que	fazem
oscilar	o	meu	humor.	Umas	delas	trazem	à	mente	os	mais	elevados	princípios	processuais:	estimulam	a
clareza,	a	transparência,	o	exercício	do	contraditório,	a	eliminação	das	armadilhas,	a	boa-fé	das	partes,	o
fim	 da	 chamada	 “jurisprudência	 defensiva”.	 Outras,	 porém,	 enveredam	 por	 caminhos	 tortuosos	 a
complicar	 demasiadamente	 o	 procedimento,	 a	 tornar	 incertos	 os	 rumos	 do	 processo	 e	 a	 atuação	 das
partes,	a	cercear	liberdades	sem	uma	razão	meritória	que	o	justifique,	a	aplicar	as	novas	tecnologias	sem
horizontes	definidos	e	sem	conhecimento	preciso	dos	seus	riscos	e	vantagens,	a	deixar	a	suspeita	de	que
ainda	vamos	assistir	ao	milagre	às	avessas	da	multiplicação	dos	incidentes...
Quanto	aos	alardeados	propósitos	com	que	o	poder	político	justificou	a	opção	por	uma	nova	lei,	 tenho
uma	opinião	absolutamente	neutra.	O	novo	CPC	não	vai	acelerar	os	processos,	simplesmente	porque	não
é	 a	 lei	 a	 causa	maior	 da	morosidade,	 nem	 será	 a	 solução	única	 para	 esse	mal;	 pudéssemos	 agilizar	 o
processo	simplesmente	produzindo	leis,	o	Brasil	teria	a	justiça	civil	mais	expedita	de	todo	o	planeta,	eis
que	 durante	 pouco	mais	 de	 duas	 décadas	 o	 CPC	 de	 1973	 foi	 constante	 e	 freneticamente	 emendado	 e
remendado.	Mas,	no	todo,	também	não	penso	que	o	novo	CPC	vá	retardá-los.	Nesse	aspecto	que	envolve
a	celeridade,	estou	apostando	num	simples	zero	a	zero.
Que	não	me	entenda	mal	o	leitor.	Tudo	somado,	devo	dizer	que	gosto	do	novo	CPC.	E,	como	sempre,	as
palavras	por	vezes	não	permitem	expressar	o	porquê	do	apreço	que	sentimos	por	algo	ou	alguém.	Tenho
por	 ele	 certa	 compreensão,	 a	 compreensão	 de	 saber	 que	 foi	 promulgado	 num	 país	 inusitado	 que	 se
encontra	 de	 pernas	 para	 o	 ar,	 mas	 mesmo	 assim,	 sem	 sabermos	 bem	 o	 porquê,	 ainda	 funciona
razoavelmente,	 ao	menos	 até	 o	 dia	 em	que	 completei	 este	 prefácio;	 a	 compreensão	 de	 saber	 que	 suas
normas	foram	fruto	de	uma	espécie	de	“pega,	estica	e	puxa”	político,	em	que,	diante	do	cobertor	curto,	os
vários	 atores	 potencialmente	 interessados	 nas	 normas	 processuais	 tentaram	 como	 puderam	 aquecer	 os
seus	próprios	pés.	E	assim	saiu	uma	lei	um	tanto	quanto	contraditória,	mas	que	mesmo	assim	gerou	um
punhado	de	regras	que	considero	bastante	promissoras.
Apesar	de	algumas	“vedetes”	muito	comentadasda	nova	lei,	tenho	dito	por	aí	que	o	que	mais	me	encanta
nela	são	as	 suas	entrelinhas,	pequenas	disposições	que	querem	consertar	grandes	equívocos,	e	que,	de
algum	 modo,	 parecem	 assoprar	 algo	 na	 nossa	 consciência.	 Regras	 que	 impõem	 ônus	 mais	 claros	 às
partes,	 como	 a	 exigência	 de	 formulação	 de	 pedidos	 líquidos,	 ou	 que	 ordenam	 mais	 precisão	 e
especificidade	 nas	 contestações	 e	 impugnações	 em	 geral,	 ou	 o	 aumento	 progressivo	 dos	 honorários
advocatícios,	que	nos	fará	pensar	junto	ao	cliente	se	vale	ou	não	a	pena	recorrer,	sugerem	que	o	Código
propõe	 a	 nós,	 advogados,	 uma	 observância	 mais	 rígida	 da	 boa-fé	 processual,	 uma	 maior	 atenção	 ao
direito	que	a	parte	efetivamente	tem,	pois	é	especialmente	para	discutir	tal	direito	que	o	contraditório	é
assegurado	aos	litigantes	e,	não,	para	tumultuar	o	processo	e	postergar	o	seu	final	para	as	calendas.	Por
outro	lado,	regras	como	a	publicação	da	ordem	de	processos	que	aguardam	decisão,	as	que	revogam	caso
a	caso	as	armadilhas	da	“jurisprudência	defensiva”,	ou	a	excêntrica	definição	do	que	não	se	considera
uma	 decisão	 motivada,	 fazem-me	 crer	 que	 o	 Código	 também	 espera	 maior	 diligência	 dos	 juízes	 no
desempenho	de	suas	relevantes	funções,	para	que	dediquem	seus	melhores	esforços	a	julgar	bem	o	direito
sobre	o	qual	os	 jurisdicionados	divergem,	e	que	é	motivo	do	conflito	a	ser	pacificado,	ao	 invés	de	se
apegarem	às	minúcias	mais	irrelevantes	do	direito	processual	para	justificar	uma	moderna	forma	de	dizer
sibi	non	liquet.
Enfim,	que	me	perdoe	o	leitor	pela	falta	de	jeito	ou	pelas	palavras	que	possam	parecer	ásperas.	É	que
quando,	no	silêncio	da	noite,	leio	algumas	dessas	entrelinhas	que	me	entusiasmam	e	em	seguida	fecho	os
olhos,	 poderia	 jurar	 que	 ouço	 o	 novo	Código	 a	me	 sussurrar	 algo	 nos	 ouvidos.	Ouço	 uma	 voz	 grave,
como	se	invocasse	a	alma	de	todos	os	juristas	mortos	que	se	dedicaram	a	construir	a	ciência	do	processo,
mas	com	um	sotaque	cearense	que	só	pode	provir	de	Capistrano	de	Abreu,	a	me	dizer:	que	tal	se	todos
vocês	brasileiros	aí	do	Século	XXI	tivessem	um	pouco	mais	de	vergonha	na	cara?
Quem	 sabe	 seja	 disso	 que	 precisamos!	Quem	 sabe	 a	 nova	 lei	 ao	menos	 sirva	 para	 nos	 lembrar	 desse
detalhe	nada	desprezível.	O	CPC	me	 informa	que	ele	é	só	mais	uma	 lei,	dessas	muitas	que	vêm	e	vão
desde	 a	 origem	 dos	 tempos.	 Não	 vai	 solucionar	 os	 problemas	 que	 criamos	 e	 alimentamos	 por	 nós
mesmos.	O	que	precisamos	é	de	atitudes!
Seja	lá	quais	bons	ou	maus	resultados	concretos	a	nova	lei	poderá	produzir,	importa	de	imediato	a	todos
os	profissionais	que	atuam	no	foro,	advogados,	juízes	e	promotores,	conhecer,	interpretar	e	bem	aplicar
as	novas	disposições	que	regem	o	processo	civil	brasileiro.
Daí	meu	 propósito	 em	 publicar	 esta	 obra,	 destinada	 a	 comentar	 as	 alterações	 práticas	 decorrentes	 da
nova	 lei	 e	 que	 afetarão	 o	 cotidiano	 desses	 profissionais.	 E,	 seguindo	 uma	 opção	 pessoal	 que	 tomei
recentemente,	quando	passei	a	publicar	os	meus	escritos	 tanto	no	formato	 tradicional,	em	papel,	como,
especialmente,	 no	 formato	 digital,	 esta	 obra	 será	 encontrada	 nessas	 duas	 mídias.	 Sem	 dúvida,	 minha
preferência	recai	sobre	o	meio	digital,	pois	julgo	que	os	chamados	e-books	são	um	modelo	muito	mais
prático	 e	 acessível	 –	 e	 ao	mesmo	 tempo	 um	 destino	 inafastável	 e	 inevitável	 –	 para	 a	 transmissão	 do
conhecimento	(e	também,	por	certo,	das	tolices	humanas...).
Tento,	 com	 isso,	 somar	 a	minha	 pequena	 contribuição,	 apoiada	 nos	 anos	 de	 experiência	 docente	 e	 de
militância	na	advocacia	privada,	para	a	construção	da	melhor	 interpretação	acerca	das	disposições	do
nosso	 novo	 Código.	 Por	 ora,	 apresento-lhes	 apenas	 as	 minhas	 considerações	 sobre	 o	 processo	 de
conhecimento	 e	 alguns	 temas	 necessários	 aos	 primeiros	 passos	 na	 aplicação	 da	 nova	 lei,	 como	 as
intimações	e	prazos,	os	honorários	advocatícios	decorrentes	da	sucumbência,	a	gratuidade	processual	e
alguns	 comentários	mais	 sobre	 a	 informatização	do	processo,	 dentro	das	 limitações	 com	que	 as	novas
tecnologias	foram	tratadas	no	novo	CPC.
Assumindo	 esse	 propósito,	 este	 livro	 se	 resume	 a	 abordar	 as	 novidades	 advindas	 do	 novo	 Código,
deixando	de	discorrer	sobre	os	pontos	que	não	foram	por	ele	alterados.	Portanto,	que	o	leitor	não	tome
este	livro	como	um	estudo	completo	sobre	a	totalidade	do	processo	de	conhecimento.	O	livro	é	voltado
para	aqueles	que,	já	atuantes	nas	profissões	jurídicas,	conhecem	a	matéria,	compreendem	seus	conceitos
e	 regras,	 tais	 como	 previstos	 no	 finado	 Código	 de	 1973,	 ou	mesmo	 para	 os	 estudantes	 que,	 já	 tendo
superado	 algumas	 etapas	 do	 curso,	 foram	 surpreendidos	 com	 alterações	 a	 respeito	 de	 conteúdo	 já
ensinado	 segundo	 o	 regime	 anterior.	 Assim,	 este	 livro	 aborda	 exclusivamente	 aquilo	 que	 sofreu
modificação	 pelo	 novo	 Código.	 São	 expostos	 comentários	 sobre	 os	 seus	 aspectos	mais	 práticos,	 que
atenderão	 às	 necessidades	 do	 profissional,	 ao	 lado	 de	 opiniões	 interpretativas	 que	 integrem	possíveis
lacunas,	e	mais	algumas	análises	críticas	sobre	os	propósitos	e	possíveis	resultados	da	nova	lei.
Para	encerrar,	ao	leitor	a	quem	essa	obra	porventura	agradar,	deixo	no	ar	a	promessa	de	completar	esse
estudo	das	inovações	processuais	com	a	publicação	futura	de	outros	volumes,	comentando	as	alterações
que	recaem	sobre	os	demais	temas	que	não	foram	abordados	aqui.
Espero,	assim,	ofertar	à	comunidade	jurídica	uma	obra	que	se	mostre	útil	e	que,	ao	lado	dos	excelentes
trabalhos	que	proficuamente	têm	lançado	boas	luzes	sobre	o	novo	CPC,	possa	contribuir	para	divulgar	e
esclarecer	as	suas	diferenças	em	relação	às	velhas	 regras	e	proporcionar	o	mais	preciso	entendimento
acerca	das	novíssimas	disposições	que	passam	a	reger	o	processo	civil	brasileiro.
Bons	estudos	a	todos!
Augusto	Tavares	Rosa	Marcacini
Março	de	2016
Introdução
Após	cinco	anos	de	trâmite	no	Congresso	Nacional,	veio	finalmente	à	luz,	em	março	de	2015,	um	novo
Código	de	Processo	Civil,	vigente	a	partir	do	dia	18	de	março	de	2016,	um	ano	após	a	sua	publicação.
Desnecessário	 dizer	 a	 dimensão	 do	 impacto	 que	 uma	 lei	 desse	 porte	 e	 com	 essa	 relevância	 causa	 no
cenário	nacional,	em	muitas	frentes.
O	Direito	Processual	Civil,	embora	não	regule	diretamente	a	vida	das	pessoas,	regula	o	exercício	de	um
poder	por	parte	do	Estado,	o	poder	que	tem	por	finalidade	solucionar	os	conflitos	mediante	a	imposição
da	lei.	É	um	conjunto	de	normas	garantidoras	da	correta	aplicação	da	lei	ao	caso	concreto,	da	realização
da	 justiça,	da	proteção	aos	direitos	assegurados	pelo	 restante	do	ordenamento	 jurídico.	A	revogação	e
promulgação	de	um	novo	Código	de	Processo	Civil	 produz	 reflexos	profundos	 sobre	 toda	 a	 esfera	da
justiça	civil,	com	induvidosas	repercussões	nas	relações	negociais	e	até	mesmo	na	economia	do	país.
Uma	das	razões	para	a	proposta	de	um	novo	Código,	como	foi	amplamente	divulgado	pelo	poder	político
pátrio,	quando	iniciou	a	movimentação	inicial	de	reforma	mediante	a	nomeação,	pelo	Senado	Federal,	de
uma	notável	Comissão	de	 Juristas	para	elaboração	de	um	anteprojeto,	 era	a	 tentativa	de	 solucionar	os
conhecidos	males	que	acometem	os	processos	judiciais,	especialmente	a	sua	morosidade.
Como	se	vê,	trata-se	de	um	mesmo	discurso	que	se	repete	ao	longo	dos	tempos.	Desde	o	início	da	grande
e	quase	interminável	Reforma	processual,	que	desde	1994	promoveu	alterações	quase	anuais	no	Código
de	Processo	Civil	anterior,	não	deixou	jamais	o	legislador	de	prometer	um	processo	mais	efetivo,	mais
rápido,	mais	acessível,	sem,	contudo,	proporcionar	não	mais	do	que	alguns	resultados	pontuais,	fruto	de
ajustes	sobre	atos	e	formas	processuais	que	já	se	encontravam	por	demais	empoeirados	e,	sem	dúvida,
mereciam	 uma	 atualização.	 Mas	 não	 se	 pode	 dizer	 que,	 no	 todo,	 as	 reformasprocessuais	 passadas
produziram	melhorias	significativas	no	tempo	de	duração	do	processo.
Segundo	afirmei	em	estudos	que	dei	à	 luz	há	mais	de	quinze	anos,	a	 lei	 já	não	parecia	ser,	à	época,	a
principal	causa	da	morosidade	processual;	hoje,	empiricamente	se	pode	constatar	isso,	ao	ver	que	após
uma	 sequência	quase	 interminável	de	 reformas	–	umas	produtivas,	 outras	nem	 tanto	–	não	há	qualquer
alteração	 sensível	 no	 tempo	de	duração	dos	processos.	Mesmo	assim,	nessa	perseguição	 em	busca	da
efetividade	da	prestação	jurisdicional,	o	poder	político	resolveu	dobrar	a	aposta.	Foi	discurso	corrente	a
afirmação	de	que,	após	as	reformas	do	CPC	de	1973	–	como	se	todas	elas	tivessem	produzido	reluzentes
efeitos	–	o	próximo	passo	nessa	direção	seria	a	promulgação	de	um	novo	Código.
Seja	 como	 for,	 legem	habemus.	Que	o	 futuro	mostre	os	 resultados	 concretos	da	promulgação	do	novo
Código	para	a	maior	efetividade	do	processo	civil	em	nosso	país!
De	todo	modo,	uma	das	primeiras	consequências	de	uma	nova	lei	–	qualquer	que	seja	ela,	e	por	mais	que
tenha	sido	cuidadosamente	elaborada	–	é	o	surgimento	de	possíveis	interpretações	discrepantes	sobre	os
seus	muitos	dispositivos.	Como	já	discorri	no	mesmo	trabalho	anterior,	brevemente	referido	acima,1	um
dos	motivos	da	pouca	efetividade	e	da	morosidade	é	a	polêmica	interpretativa	sobre	as	próprias	normas
processuais.	Divergências	interpretativas	sobre	as	normas	processuais	suscitam	incidentes	processuais	e
alimentam	um	monstro	formal	que	passa	a	consumir	tempo	e	esforços	dos	atores	processuais	tão	somente
para	 discutir	 o	 próprio	 processo,	 deixando-se	 de	 lado	 por	 um	 momento	 –	 eventualmente,	 um	 longo
momento!	–	o	objetivo	último	de	toda	aquela	atividade:	a	solução	do	conflito	que	foi	trazido	a	juízo.
Assim,	diretriz	primordial	para	a	efetividade	do	processo	é	a	existência	de	um	sistema	processual	cujas
regras	sejam	o	menos	possível	duvidosas,	que	gerem	o	menor	número	possível	de	incidentes,	questões	e
recursos	que	apenas	versem	sobre	os	próprios	atos	do	processo.	Só	assim	o	direito	processual	se	livrará
da	merecida	crítica	que	afirma	que	são	despendidos	mais	tempo	e	esforços	em	juízo	para	decidir	sobre	o
próprio	processo	e	 suas	 formas	do	que	para	decidir	o	direito	que	as	partes	 têm.	Logo,	o	ponto	 inicial
para	qualquer	estudo	mais	profundo	sobre	os	novos	rumos	do	direito	processual	reside	em	conhecer	a	lei
e	 destacar	 suas	 possíveis	 divergências	 interpretativas,	 oferecendo-lhes,	 na	 medida	 do	 possível,	 uma
solução	racionalmente	sustentável	e	finalisticamente	útil.
Esta	obra	pretende,	nestes	momentos	iniciais	de	vigência	da	nova	lei,	apontar	as	inovações	que	foram	por
ela	 trazidas,	 comparando-as	 com	 a	 legislação	 recém	 revogada	 e,	 em	 alguns	 pontos	 que	 se	mostraram
necessários,	suscitar	críticas	acerca	da	racionalidade	dos	novos	textos,	apoiadas	no	seu	confronto	com	as
experiências	anteriores	encontradas	na	doutrina	e	na	jurisprudência.	E,	como	não	poderia	deixar	de	ser,
que	as	novas	disposições	sejam	examinadas	sob	a	ótica	da	informatização	processual	que	cada	vez	mais
ganha	corpo.	Não	obstante	os	avanços	implementados	recentemente	pelo	Poder	Judiciário,	o	CPC/2015
muito	pouco	avançou	na	regulamentação	de	seu	uso	para	os	processos	judiciais.
Este	 livro	 abrange	 um	 estudo	 restrito	 ao	 processo	 de	 conhecimento	 em	 primeiro	 grau,	 com	 capítulos
adicionais	 destinados	 a	 temas	 relevantes	 e	 complementares,	 como	 a	 gratuidade	 processual	 e	 a
condenação	 a	 honorários	 imposta	 ao	 vencido,	 as	 intimações	 e	 prazos,	 e	 a	 informatização	 processual.
Além	 disso,	 procurei	 inserir,	 quando	 aplicável,	 ao	 longo	 dos	 demais	 capítulos,	 comentários	 pontuais
sobre	a	informatização	aplicada	àquele	momento	processual	e	as	opções	adotadas	pelo	novo	Código.
No	tocante	ao	capítulo	destinado	à	fixação	da	verba	honorária,	merece	algum	destaque	nesta	introdução
comentar	a	relação	desse	 tema	com	a	efetividade.	É	com	certa	satisfação	que	vejo	o	novo	CPC	adotar
sugestão	 que	 sustentei	 há	mais	 de	 quinze	 anos,2	 quando	 apontei	 que	 a	 progressividade	 na	 fixação	 das
verbas	impostas	ao	vencido	poderia	servir	como	um	virtuoso	fator	inibidor	ao	excesso	de	recursos,	eis
que	faria	com	que	os	litigantes	tivessem	que	valorar	racionalmente	os	riscos,	vantagens	e	probabilidades
de	atacar	uma	decisão	judicial,	e	não	delas	recorrer	de	modo	automático	e	impensado,	como	se	o	manejo
de	todos	os	recursos	previstos	no	sistema	fosse	o	curso	normal	e	inevitável	da	marcha	processual.
Pretende-se,	pois,	com	este	estudo,	colaborar	para	a	maior	compreensão	das	novas	regras,	tanto	por	parte
do	 estudioso	 da	 ciência	 processual,	 cujas	 pesquisas	 precisarão	 ser	 renovadas	 à	 luz	 do	 novo	 corpo
normativo,	como	também	para	os	profissionais	e	estudantes	do	Direito.
O	desenvolvimento	da	obra	abrange	uma	divisão	em	capítulos	sobre	os	grandes	 temas	do	processo	de
conhecimento,	 desde	 a	 propositura	 da	 ação	 até	 a	 sentença	 de	 primeiro	 grau.	 Em	 cada	 capítulo,	 são
comentadas	 as	 reformas,	 suas	 possíveis	 interpretações	 e	 consequências	 práticas	 e,	 conforme	 o	 tema
comportar,	 será	 feita	uma	análise	 crítica	da	 solução	adotada	pelo	 legislador,	 ou	 correlações	possíveis
entre	as	novas	mudanças	e	a	aplicação	da	tecnologia	aos	processos	judiciais.
Capítulo	I	-	Procedimento	comum
1.	Aspectos	gerais
O	processo	de	conhecimento	pode	se	desenvolver	segundo	diferentes	procedimentos,	que	se	classificam
em	procedimentos	comuns	e	procedimentos	especiais.	Especial	é	o	procedimento	que	se	aplica	apenas	a
um	determinado	tipo	de	pedido,	para	o	qual	se	mostra	mais	adequado	do	que	um	procedimento	padrão.
Os	 casos	 que	 seguem	 procedimentos	 especiais	 são	 expressamente	 previstos	 na	 lei,	 aplicando-se	 aos
demais	o	procedimento	comum.	Designa-se	procedimento	comum	um	procedimento	padrão	que	pode	ser
aplicado	para	o	desenvolvimento	de	processos	em	que	quaisquer	tipos	de	pedido	tenham	sido	formulados
(excluídos,	obviamente,	aqueles	para	os	quais	a	lei	definiu	um	procedimento	especial).
O	novo	Código	de	Processo	Civil	dispõe	sobre	o	procedimento	comum	a	partir	do	art.	318	e	dedica	um
título	a	regular	diversos	procedimentos	especiais,	acomodados	entre	os	arts.	539	e	770.	A	fórmula	para	a
escolha	 do	 procedimento	 não	 se	 altera,	 e	 nem	 era	 de	 se	 esperar	 que	 isso	 pudesse	 ser	 diferente.	 Não
havendo	 procedimento	 especial	 definido	 em	 lei	 (seja	 no	 próprio	Código,	 seja	 em	 lei	 extravagante),	 a
causa	 segue	 o	 procedimento	 comum	 (art.	 318).	 Mantém-se,	 igualmente,	 a	 aplicação	 subsidiária	 das
disposições	do	procedimento	comum	aos	procedimentos	 especiais	 (art.	 318,	§	ún.).	Via	de	 regra,	 e	na
quase	totalidade	das	situações,	as	normas	legais	que	regem	os	procedimentos	especiais	definem	apenas
alguns	 poucos	 atos	 e	 formas	 diferenciados,	 aplicando-se,	 quanto	 ao	 mais,	 as	 disposições	 do
procedimento	comum.
No	 Código	 de	 1973,	 havia	 dois	 procedimentos	 comuns:	 o	 sumário	 e	 o	 ordinário.	 A	 dualidade	 de
procedimentos	 comuns	 é	 eliminada	 pela	 nova	 lei,	 restando	 no	 Código	 de	 2015	 apenas	 um	 único
procedimento	 comum,	 ao	 qual	 a	 lei	 nem	 sequer	 atribuiu	 um	 nome,	 sendo	 chamado	 simplesmente	 de
procedimento	 comum.	 É,	 portanto,	 extinto	 o	 procedimento	 sumário.	 Também	 foram	 extintos	 alguns
procedimentos	especiais:	de	depósito,	de	anulação	e	substituição	de	títulos	ao	portador,	de	nunciação	de
obra	nova,	de	usucapião	de	terras	particulares	e	de	vendas	a	crédito	com	reserva	de	domínio.	As	causas,
que,	segundo	o	CPC/1973,	seguiam	esses	procedimentos	especiais,	com	a	vigência	do	CPC/2015	passam
a	 se	 submeter	 ao	 procedimento	 comum.	 E,	 conforme	 disposto	 no	 art.	 1.049,	 §	 ún.,	 quando	 houver
determinação,	em	outras	leis,	para	a	utilização	do	rito	sumário,	aplicar-se-á,	igualmente,	o	rito	comum	do
novo	Código.
Após	a	vigência	da	nova	lei,portanto,	essas	causas,	que	antes	seguiam	esses	ritos	extintos,	deverão	ser
propostas	segundo	o	procedimento	comum.	Quanto	às	causas	pendentes,	o	art.	1.046,	§	1º,	prevê	regra	de
transição	específica	para	os	feitos	que	seguem	esses	procedimentos	extintos.	Diz	que	“as	disposições	da
Lei	 nº	 5.869,	 de	 11	 de	 janeiro	 de	 1973,	 relativas	 ao	 procedimento	 sumário	 e	 aos	 procedimentos
especiais	que	 forem	 revogadas	aplicar-se-ão	às	ações	propostas	 e	não	 sentenciadas	até	o	 início	da
vigência	deste	Código”.
Trata-se	de	exceção	ao	sistema	de	isolamento	dos	atos	processuais,	que	determina	a	aplicação	imediata
da	lei	processual	aos	processos	em	curso	e	é	considerado	regra	geral	de	direito	intertemporal	em	matéria
processual	 (preceito	 previsto	 no	 art.	 1.211	 do	 CPC/1973,	 que	 foi	 mantido,	 no	 art.	 1.046,	 caput,	 do
CPC/2015).	O	texto	do	§	1º,	porém,	diz	menos	do	que	deveria.	O	que	se	pode	entender	pela	condição
“ações	 propostas	 e	 não	 sentenciadas”?	 Por	 certo,	 as	 ações	 propostas	 e	 já	 sentenciadas	 não	 são
atingidas	 pela	 regra	 desse	 parágrafo,	 aplicando-se-lhes	 o	CPC/2015	 imediatamente.	Quanto	 aos	 feitos
não	sentenciados,	a	superveniência	da	sentença	é	apenas	o	marco	temporal	para	definir	a	aplicação	de
uma	ou	outra	lei	aos	processos	em	curso,	ou	seria	também	um	limite	para	a	aplicação	da	lei	anterior	em
cada	um	desses	processos?	Isto	é,	no	primeiro	sentido,	os	processos	atingidos	pela	nova	lei	enquanto	se
encontravam	 entre	 o	 ajuizamento	 e	 a	 sentença	 continuariam,	 até	 o	 seu	 final,	 regidos	 pelo	 CPC/1973
(sistema	da	unidade	processual);	na	segunda	interpretação,	os	processos	não	sentenciados	continuariam
regidos	pela	lei	velha	tão	somente	até	a	sentença	e	daí	em	diante	passariam	a	ser	regidos	pelo	CPC/2015
(sistema	do	isolamento	das	fases	processuais).
Em	sua	literalidade,	o	sentido	do	texto	legal	parece	ser	o	da	primeira	opção,	mas	isso	não	soa	lógico.	Se
os	feitos	já	sentenciados	são	atingidos	imediatamente	pela	lei	nova,	que	rege,	então,	toda	a	fase	recursal
que	se	seguir,	não	há	 razão	 lógica	ou	prática	para	 justificar	que,	na	 fase	 recursal,	não	se	aplique	a	 lei
nova	 também	aos	processos	que	ainda	não	 tinham	sido	sentenciados	quando	do	 início	de	sua	vigência.
Por	outro	lado,	a	peculiaridade	que	havia	no	rito	sumário,	em	matéria	de	recursos,	de	dispensar	um	juiz
revisor,3	 foi	 incorporada	 ao	 rito	 comum,	 já	 que	 o	 novo	 Código	 eliminou	 a	 revisão	 para	 todas	 as
apelações.	De	qualquer	modo,	não	 seria	 razoável	que	as	novas	 regras	 recursais	ou	 sobre	o	 trâmite	de
processos	 nos	 tribunais	 possam	 ser	 imediatamente	 aplicáveis	 aos	 processos	 sentenciados,	 em	 que
possivelmente	 já	 foi	 interposto	 o	 recurso	 cujo	 trâmite	 pode	 ser	 afetado,	mas	 os	 que	 ainda	 não	 foram
sentenciados	continuem	regidos	pelo	CPC/1973	também	após	a	sentença.	Ademais,	o	objetivo	da	regra
parece	ser	o	de	evitar	o	tumulto	dos	processos	em	primeiro	grau,	quando	a	diferença	entre	os	ritos	é	mais
evidente.
Outra	questão	que	resta	refere-se	à	lei	aplicável	em	caso	de	anulação	da	sentença	e	retorno	dos	autos	ao
primeiro	grau,	tanto	dos	feitos	mencionados	no	§	1º	quanto	aqueles	que	já	tinham	sido	sentenciados	e	se
encontravam	pendentes	do	julgamento	de	recurso.	Considerado	que	o	perceptível	objetivo	da	regra,	como
dito	acima,	é	evitar	o	tumulto	gerado	pela	necessidade	de	adaptação	do	procedimento	em	primeiro	grau
de	causas	 já	 iniciadas	 segundo	as	 formas	anteriores,	 soa	apropriado	que	 tais	processos	 também	sejam
regidos	pelo	CPC/1973	em	caso	de	retorno	ao	primeiro	grau,	até	a	prolação	da	nova	sentença.
Noutras	palavras,	a	melhor	interpretação	para	o	parágrafo	em	exame	parece	ser	a	seguinte:	o	trâmite	em
primeiro	grau	das	causas	de	rito	sumário	ou	dos	ritos	especiais	revogados,	mas	ajuizados	na	vigência	do
CPC/1973,	 seguirá	 as	 anteriores	 disposições	 específicas	 que	 regem	 esses	 ritos	 até	 a	 sentença.	 Se	 o
processo	for	anulado,	qualquer	que	seja	o	estado	da	causa	quando	do	início	da	vigência	do	CPC/2015,
aplica-se	a	ele,	quando	do	retorno	ao	primeiro	grau	e	até	nova	sentença,	o	CPC/1973.
Por	último,	soa	claro	do	texto	que	as	normas	cuja	eficácia	no	tempo	é	postergada,	para	esses	processos
em	curso,	são	apenas	as	disposições	específicas	dos	ritos	sumário	e	especiais	que	foram	eliminados	do
novo	Código,	 e	 não	 a	 totalidade	 do	CPC/1973.	As	 regras	 gerais	 do	CPC/1973,	 aplicáveis	 a	 todos	 os
procedimentos	 e,	 portanto,	 também	 a	 esses	 que	 não	 mais	 existem,	 não	 têm	 sua	 vigência	 prolongada,
aplicando-se	imediatamente	as	disposições	gerais	do	CPC/2015	também	nos	processos	referidos	no	art.
1.046,	§	1º,	mesmo	que	não	tenham	sido	sentenciados	(como,	p.	ex.,	as	regras	sobre	contagem	de	prazos,
sobre	 concessão	 de	 gratuidade	 processual,	 ou	 sobre	 o	 cabimento	 e	 forma	do	 recurso	 de	 agravo,	 entre
outras).
2.	Estrutura	do	novo	procedimento	comum
O	novo	procedimento	comum,	apesar	das	modificações	que	nele	foram	inseridas,	mantém	a	estrutura	do
“velho”	procedimento	ordinário.	Assim	como	 seu	 antecessor,	 o	 procedimento	 comum	do	novo	Código
pode	 ser	 igualmente	 dividido	 nas	 mesmas	 fases	 lógicas:	 fase	 postulatória,	 fase	 ordinatória,	 fase
instrutória,	fase	decisória	e	fase	recursal.
A	fase	postulatória,	inicial,	é	marcada	pelas	subsequentes	manifestações	do	autor	e	do	réu,	praticadas	por
petições	escritas,	tal	como	no	rito	ordinário,	e	tendentes	a	proporcionar	o	contraditório	sobre	as	questões
de	fato	e	de	direito	e	a	estabelecer	os	limites	da	controvérsia	sobre	o	caso	concreto	trazido	a	juízo.
A	 fase	 ordinatória,	 que,	 em	 termos	 cronológicos,	 praticamente	 se	 sobrepõe	 à	 fase	 postulatória,
caracteriza-se	 pela	 atividade	 judicial	 de	 ordenar	 o	 curso	 do	 processo	 e	 conduzi-lo	 conforme	 se	 fizer
necessário	em	função	das	manifestações	apresentadas	pelas	partes,	bem	como	de	zelar	pela	validade	e
regularidade	 do	 processo	 e	 de	 seus	 atos,	 determinando	 a	 eventual	 correção	 de	 vícios	 sanáveis.	 Do
mesmo	modo	 como	 ocorre	 com	 o	 rito	 ordinário,	 a	 fase	 ordinatória	 do	 novo	 procedimento	 comum	 se
encerra	com	a	prolação	de	uma	decisão	 judicial	qualificada,	chamada	de	decisão	de	saneamento	e	de
organização	do	processo	(v.	art.	357)4.	Tal	decisão,	evidentemente,	não	será	proferida	se	for	o	caso	de
extinção	do	processo,	com	ou	sem	julgamento	do	mérito,	do	mesmo	modo	como	ocorre	no	CPC/1973.
Após,	não	sendo	o	caso	de	proferir-se	julgamento	antecipado,	também	previsto	e	com	novos	contornos,5
passa-se	à	 fase	 instrutória,	 em	que	 são	colhidas	as	provas,	 seguindo-se	a	breve	 fase	decisória,	que	 se
resume	à	prolação	da	sentença,	contra	a	qual	cabe	recurso,	abrindo-se,	então,	a	fase	recursal.
3.	Flexibilização	do	procedimento
Não	se	pode	dizer	que	o	procedimento	ordinário,	tal	como	previsto	no	CPC/1973,	fosse	um	procedimento
rígido	 e	 invariável.	 A	 sequência	 de	 postulações	 iniciais	 das	 partes	 é	 desenvolvida	 ao	 sabor	 dos
acontecimentos,	 isto	 é,	 a	 depender	 do	 teor	 das	 manifestações	 do	 autor	 e	 do	 réu	 podem	 e	 devem	 ser
abertas	 novas	 oportunidades	 de	 vista	 ao	 adversário,	 para	 que	 este	 aduza	 suas	 impugnações	 ou
considerações.	 Ou,	 conforme	 ocorra	 intervenção	 de	 terceiros,	 o	 rito	 segue	 de	modo	 a	 dar-lhes	 voz	 e
estabelecer	 o	 contraditório	 adequado	 sobre	 as	 questões	 que	 envolvem	 a	 entrada	 desses	 sujeitos.	 Ou,
ainda,	a	possibilidade	de	julgamento	antecipado,	quando	desnecessárias	outras	provas	acerca	dos	fatos
da	causa,	também	afasta	a	ideia	de	que	o	procedimento	ordinário	fosse	algo	engessado.
Essas	 características	 são	 mantidas	 no	 procedimento	 comum	 do	 novo	 Código,	 que	 ainda	 prevê	 outras
maneiras	mais	de	flexibilização	procedimental.
Em	se	tratando	de	causas	que	admitam	autocomposição,	o	art.	190	do	CPC/2015	autoriza	que	as	partes,
“antes	 ou	 durante	 o	 processo”,	 estipulem	 modificaçõesno	 procedimento	 “para	 ajustá-lo	 às
especificidades	 da	 causa	 e	 convencionar	 sobre	 os	 seus	 ônus,	 poderes,	 faculdades	 e	 deveres
processuais”.	E,	no	art.	191,	é	prevista	a	possibilidade	de	elaboração	de	um	“calendário	para	a	prática
dos	atos	processuais”,	a	ser	fixado	conjuntamente	pelas	partes	e	pelo	juiz,	de	modo	que,	uma	vez	seja
assim	acordado,	os	atos	devem	ser	praticados	nas	datas	estabelecidas,	com	a	dispensa	de	outras	futuras
intimações	(art.	191,	§	2º).
Tais	 normas	 rompem	 com	 a	 anterior	 orientação	 que	 afirmava	 a	 indisponibilidade	 do	 procedimento.
Segundo	o	novo	Código,	as	formas	legais	do	procedimento	podem	ser	afastadas,	diante	de	norma	privada
pactuada	entre	as	partes.	Como	se	admite	que	esse	ajuste	seja	feito	antes	mesmo	que	exista	um	processo
em	 curso	 (art.	 190),	 isso	 abre,	 especialmente	 no	 campo	 negocial,	 amplas	 oportunidades	 para	 que	 os
contratantes	 insiram	regras	de	procedimento	nos	 instrumentos	contratuais,	definindo	a	 forma	como	será
desenvolvido	em	juízo	eventual	futuro	processo	derivado	daquela	avença.
Pode-se	pensar,	por	exemplo,	em	estipular	um	procedimento	cuja	fase	postulatória	flua	automaticamente,
fixando-se	um	certo	número	de	manifestações	para	cada	lado,	com	um	prazo	iniciado	logo	após	o	outro,
sem	outras	intervenções	do	órgão	judicial.	Uma	vez	que	o	art.	228,	§	2º,	do	CP/2015	determina	a	juntada
automática	de	petições	em	autos	eletrônicos,	sem	intervenção	humana,	tarefa	que	o	computador	é	capaz
de	cumprir	 instantaneamente,	 assim	que	 terminado	o	prazo	de	uma	parte	o	ato	por	ela	praticado	há	de
estar	disponível	para	conhecimento	do	adversário.	A	estrita	observância	dessa	disposição	por	parte	do
sistema	 informático	 judicial	 será	 um	 fator	 importantíssimo	 para	 o	 sucesso	 dessas	 disposições	 sobre	 a
disponibilidade	do	procedimento,	especialmente	a	fixação	do	calendário	previsto	no	art.	191.	E,	talvez,
seja	 esta	 determinação	 do	 art.	 228,	 §	 2º,	 uma	 das	 novas	 regras	 que	 verdadeiramente	 promovam	 a
celeridade	processual,	eis	que	eliminará	grandes	fatias	do	tempo	morto	do	processo.
O	 §	 ún.	 do	 art.	 190	 estabelece	 o	 poder	 do	 juiz	 de	 controlar	 a	 validade	 das	 convenções	 sobre	 o
procedimento,	mas	afirma	que	sua	aplicação	só	será	 recusada	“nos	casos	de	nulidade	ou	de	 inserção
abusiva	 em	 contrato	 de	 adesão	 ou	 em	 que	 alguma	 parte	 se	 encontre	 em	 manifesta	 situação	 de
vulnerabilidade”.	Não	está	claro,	no	texto,	a	que	tipo	de	nulidades	a	ressalva	se	refere.	Parece	razoável
supor	que	estão	aí	 incluídos	 tanto	os	vícios	 formais	ou	os	decorrentes	de	algum	vício	de	vontade	que
atinjam	 o	 próprio	 ato	 jurídico	 da	 convenção,	 como	 as	 nulidades	 decorrentes	 do	 conteúdo	 das	 regras
convencionais	 pactuadas.	 Afinal,	 embora	 o	 litígio	 envolva	 direitos	 disponíveis,	 que	 admitam
autocomposição,	 não	 soa	 possível	 que	 o	 procedimento	 fixado	 entre	 as	 partes	 possa	 atentar	 contra
princípios	basilares	do	direito	processual,	como	os	da	isonomia,	do	contraditório	e	do	devido	processo.
Assim,	haverá	de	ser	recusado	pelo	juiz	um	procedimento	pactuado	que	nitidamente	proporcione	maiores
oportunidades	de	atuação	a	uma	das	partes	em	detrimento	da	outra,	ou	que	 suprima	o	contraditório	no
todo	 ou	 em	 parte,	 ou	 que	 estabeleça	 formas	 que	 escapem	 dos	 contornos	 de	 racionalidade	 ou	 do	 due
process.
Não	cuidou	o	legislador	de	estabelecer	outros	requisitos	formais	para	tal	convenção,	mas,	por	analogia
com	o	disposto	no	art.	63,	§	1º,	que	dispõe	sobre	a	eleição	de	 foro,	que	pode	ser	entendida	como	um
antigo	negócio	 jurídico	processual	 admitido	pelo	 sistema,	 essas	 estipulações	 sobre	matéria	processual
devem	constar	de	instrumento	escrito	e	definir	sobre	quais	futuros	litígios	elas	se	aplicam.
Questão	interessante	pode	surgir	acerca	dessas	disposições	durante	o	período	de	vacatio	legis	do	novo
Código.	Seria	lícito	aos	contratantes,	desde	logo	e	antes	mesmo	da	entrada	em	vigor	da	nova	lei,	pactuar
regras	 sobre	 o	 procedimento?	 Tais	 regras	 convencionais,	 evidentemente,	 não	 poderiam	 ser	 aplicadas
antes	da	vigência	do	CPC/2015,	mas	não	parece	ilícita	a	inclusão,	desde	logo,	nos	contratos,	de	cláusulas
sobre	 o	 procedimento,	 dotadas	 de	 eficácia	 futura,	 pois	 sujeitas	 à	 condição	 suspensiva,	 isto	 é,	 a	 futura
vigência	de	lei	que	autorize	a	convenção	sobre	normas	de	procedimento.
Alguma	flexibilização	quanto	à	aplicação	das	formas	procedimentais	 também	se	observa	no	art.	327,	§
2º,	 do	 CPC/2015,	 que	 autoriza	 a	 cumulação	 de	 pedidos	 sujeitos	 a	 procedimento	 comum	 e	 especial,
hipótese	em	que	a	causa	seguirá	um	procedimento	que,	na	verdade,	será	híbrido,	e	não	comum,	como	diz
o	 texto.	Afinal,	 em	 tal	 procedimento	 deverão	 ser	 empregadas	 as	“técnicas	 processuais	 diferenciadas
previstas	nos	procedimentos	especiais	a	que	se	sujeitam	um	ou	mais	pedidos	cumulados”,	como	dispõe
o	 referido	 parágrafo.	Assim,	 por	 exemplo,	 pode-se	 cumular	 um	pedido	 de	 consignação	 em	pagamento
com	declaração	de	nulidade	de	cláusula	contratual,	bastando	que	seja	inserida	a	“técnica	diferenciada”
aplicável	ao	primeiro	pedido,	qual	seja,	a	realização	do	depósito	da	obrigação	consignada	e	os	demais
atos	processuais	a	ele	relacionados.	Os	procedimentos	especiais,	em	sua	quase	totalidade,	não	são	mais
do	que	um	procedimento	comum	em	que	foram	inseridas	algumas	poucas	variações.	Evidentemente,	é	a
esses	 procedimentos	 que	 se	 aplica	 a	 regra	 aqui	 analisada.	 Impossível	 se	 mostra	 tal	 fusão	 com
procedimentos	 cuja	 especialidade	 seja	 maior	 do	 que	 a	 aplicação	 de	 meras	 variantes	 sobre	 o
procedimento	comum,	ou	que	conduzam	a	tipos	específicos	de	tutela,	como	por	exemplo	o	mandado	de
segurança,	o	procedimento	monitório,	ou	o	inventário.
Outra	 possibilidade	 de	 alteração	 procedimental	 que	 a	 lei	 confere	 às	 partes	 encontra-se	 no	 art.	 456,	 §
único,	que	permite	ouvir	primeiramente	as	testemunhas	do	réu	e	depois	as	do	autor,	se	ambas	as	partes
concordarem.	 É	 de	 se	 indagar,	 porém,	 quais	 motivos	 concretos	 levariam	 o	 réu	 a	 abrir	 mão	 dessa
vantagem	que	a	lei	 lhe	concede	e	aceitar	tal	 inversão,	de	modo	que	essa	regra	corre	o	risco	de	ser	tão
pouco	observável	na	prática	quanto	aquela	que,	 já	constante	do	CPC/1973,6	autoriza	a	modificação	do
pedido	ou	da	causa	de	pedir,	após	a	citação,	mediante	concordância	do	réu.7
4.	Procedimentos	especiais	extintos	e	a	aplicação	do	procedimento	comum
Quando	 da	 entrada	 em	 vigor	 do	 CPC/1973,	 foram	 por	 ele	 extintos	 alguns	 procedimentos	 especiais
previstos	no	Código	anterior,	de	1939.	O	mesmo	ocorre	agora.	Não	foram	mantidos	no	novo	Código	os
procedimentos	especiais	de	depósito,	anulação	e	substituição	de	títulos	ao	portador,	nunciação	de	obra
nova,	usucapião	de	terras	particulares	e	vendas	a	crédito	com	reserva	de	domínio.
Ao	deixarem	de	 figurar	no	 rol	dos	procedimentos	 especiais,	 as	 causas	que	versam	sobre	 tais	 tipos	de
pedido	simplesmente	passam	a	seguir	o	procedimento	comum.
De	 certo	modo,	 a	 sequência	 de	 reformas	 a	 que	 o	CPC/1973	 foi	 submetido	 nas	 últimas	 duas	 décadas,
especialmente	 a	 generalização	 da	 possibilidade	 de	 concessão	 de	 tutelas	 antecipadas	 no	 corpo	 do
procedimento	 comum,	 tornou	muito	 tênues	 as	 diferenças	 entre	 o	 procedimento	 comum	 e	 os	 especiais.
Muitos	dos	procedimentos	especiais	não	contêm	mais	do	que	umas	poucas	variantes	aplicadas	sobre	a
estrutura	 do	 rito	 comum,	 especialmente	 a	 possibilidade	 de	 concessão	 de	medidas	 liminares.	Antes	 da
instituição	da	antecipação	de	tutela,	pela	Lei	nº	8.952/1994,	não	havia	qualquer	possibilidade	de	postular
uma	tutela	no	início	ou	ao	longo	do	procedimento	comum.	O	processo	de	conhecimento	somente	previa
medidas	de	urgência	em	alguns	dos	procedimentos	especiais.	Assim,	diante	da	crescente	flexibilização,
que	 já	 há	 anos	 vem	 sendo	 dada	 ao	 procedimento	 comum,	 comomencionado	 anteriormente,	 é	 de	 se
duvidar	até	mesmo	da	utilidade	da	manutenção	de	alguns	dos	procedimentos	especiais	que	restaram,	cuja
futura	extinção	ainda	haverá	de	ocorrer.
As	necessidades	de	formas	procedimentais	“especiais”,	que	se	dizem	mais	“adequadas”	a	muitos	desses
tipos	 de	 litígio,	 não	 vão	 além	 da	 prática	 de	 um	 ou	 outro	 ato,	 ou	 da	 observância	 de	 uma	 ou	 outra
formalidade	adicional,	que	bem	podem	ser	introduzidos	no	procedimento	comum.	Assim	se	fez,	no	novo
Código,	para	os	pedidos	de	usucapião,	agora	sujeitos	ao	rito	comum.	Estabelece,	porém,	o	art.	246,	§	3º,
que,	 nessas	 ações,	 a	 citação	 dos	 confinantes	 do	 imóvel	 se	 faz	 necessária,	 exceto	 quando	versar	 sobre
unidade	autônoma	de	prédio	em	condomínio,	e	o	art.	259	determina	a	expedição	de	editais	para	ciência
de	 terceiros,	 regra	 essa	 que	 também	 se	 aplica	 ao	 pedido	 de	 recuperação	 e	 substituição	 de	 título	 ao
portador,	outro	procedimento	especial	extinto	pela	nova	lei.
As	 disposições	 do	 CPC/1973	 continuarão	 aplicáveis	 a	 esses	 procedimentos	 especiais	 extintos,	 que
tenham	 sido	 ajuizados	 e	 não	 estejam	 sentenciados	 até	 a	 entrada	 em	 vigor	 do	 novo	 Código,	 conforme
estabelece	o	art.	1.046,	§	1º.	Não	são	afetados	pelo	novo	Código	os	procedimentos	especiais	previstos
em	outras	leis,	que	apenas	passam	a	ser	supletivamente	regidos	pelas	suas	disposições,	segundo	o	§	2º	do
mesmo	artigo.
Capítulo	II	-	Propositura	da	ação
1.	Competência
1.1.	Limites	da	jurisdição	nacional	(a	antes	chamada	“competência	internacional”)
Uma	 das	 primeiras	 questões	 processuais	 a	 serem	 consideradas	 quando	 do	 ajuizamento	 da	 ação	 é	 a
aferição	do	órgão	judicial	competente	para	a	causa.	E,	talvez,	seja	também	uma	das	mais	complexas,	que
não	 raramente	 gera	 tumulto	 processual	 e	 atraso	 significativo	 no	 processamento	 e	 julgamento	 final	 da
causa.
Pode-se	afirmar	que	poucas	foram	as	modificações	trazidas	pelo	novo	CPC	sobre	esse	tema.
Antes	de	se	verificar	qual	órgão	judicial	nacional	é	competente	para	causa,	é	preciso	aferir	se	a	causa
pode	ser	julgada	em	nosso	país.	O	novo	CPC	substituiu	a	expressão	“competência	internacional”,	nome
do	 capítulo	 que	 abrangia	 os	 arts.	 88	 a	 90	 do	 CPC/1973,	 por	 “limites	 da	 jurisdição	 nacional”,
designação	esta	que	se	mostra	mais	precisa.
Tais	 regras,	 agora	 posicionadas	 entre	 os	 arts.	 21	 a	 25,	 estabelecem	 se	 a	 causa	 se	 submete,	 ou	 não,	 à
jurisdição	 nacional.	 Em	 caso	 negativo,	 não	 se	 atribui	 “competência”	 a	 órgão	 algum,	 cabendo	 ao
interessado	encontrar	qual	outro	país	no	mundo	aceita,	segundo	suas	próprias	leis,	processar	e	julgar	essa
lide.	Assim,	o	que	se	define	nessas	regras	é	se	o	Estado	brasileiro	exerce	ou	não	poder	sobre	a	causa	que
se	deseja	ajuizar.	Daí,	mais	correta	a	expressão	utilizada	no	novo	CPC,	nomeando	o	tema	como	“limites
da	jurisdição	nacional”.
As	hipóteses	de	competência	concorrente	previstas	no	art.	88	do	CPC/1973	foram	repetidas	no	art.	21	do
CPC/2015	 e,	 com	 poucos	 acréscimos	 de	 texto,	 as	 situações	 de	 competência	 exclusiva	 da	 autoridade
judiciária	brasileira,	antes	encontradas	no	art.	89,	do	CPC/1973,	são	também	reproduzidas	no	art.	23	da
nova	lei.
Resta	 claro,	 pelo	 novo	 texto	 legal,	 que	 a	 “partilha	 de	 bens,	 situados	 no	 Brasil”	 é	 litígio	 a	 ser
exclusivamente	 afeto	 à	 jurisdição	 nacional,	 tanto	 nas	 partilhas	 decorrentes	 da	 sucessão	 causa	 mortis
como	também	naquelas	decorrentes	de	“divórcio,	separação	ou	dissolução	de	união	estável”	do	casal,
como	 foi	 expressamente	 acrescentado	 no	 inciso	 III	 do	 art.	 23.	 Foi	 infeliz	 a	 escolha	 da	 expressão
“sucessão	hereditária”,	constante	do	inciso	II	do	art.	23,	eis	que,	se	o	mesmo	inciso	também	incluiu	a
“confirmação	 de	 testamento	 particular”,	 a	 regra	 parece	 ser	 aplicável	 tanto	 nos	 casos	 de	 sucessão
hereditária	 como	 testamentária.	 Por	 “sucessão	 hereditária”,	 o	 CPC/2015	 deve	 ter	 desejado	 dizer
sucessão	causa	mortis,	excluindo-se	da	competência	exclusiva	da	autoridade	brasileira	outras	formas	de
partilha	e	sucessão,	como,	por	exemplo,	a	decorrente	de	dissolução	societária	ou	de	outros	atos	negociais
praticados	entre	vivos.
No	 art.	 22,	 outras	 causas,	 não	 previstas	 no	 CPC/1973,	 são	 incluídas	 como	 hipóteses	 de	 competência
concorrente	da	 autoridade	 judiciária	brasileira.	Não	 se	 compreende	porque	o	 legislador	não	 reuniu	 as
disposições	 dos	 arts.	 21	 e	 22	 num	 único	 rol,	 eis	 que	 ambos	 tratam	 indistintamente	 de	 hipóteses	 de
competência	concorrente.
Assim,	 segundo	dispõe	o	 inciso	 I	do	art.	 22,	 também	podem	ser	 ajuizadas	perante	o	 juiz	brasileiro	 as
ações	de	alimentos,	se:	“a)	o	credor	tiver	domicílio	ou	residência	no	Brasil”,	ou,	“b)	o	réu	mantiver
vínculos	 no	Brasil,	 tais	 como	 posse	 ou	 propriedade	 de	 bens,	 recebimento	 de	 renda	 ou	 obtenção	 de
benefícios	 econômicos”.	 A	 hipótese	 da	 letra	 “b”	 aplica-se	 quando	 nem	 o	 autor	 nem	 o	 réu	 forem
residentes	ou	domiciliados	no	país	(pois,	para	casos	assim,	já	submetidos	à	jurisdição	nacional	por	força
das	disposições	anteriores,	a	existência	dessa	regra	seria	desnecessária),	bastando	que	aqui	existam	os
meios	para	assegurar	o	pagamento	da	pensão	alimentícia	demandada	em	juízo.
Pelo	 inciso	 II	 desse	 mesmo	 art.	 22,	 incluiu-se	 no	 rol	 as	 ações	 decorrentes	 de	 relações	 de	 consumo,
quando	 o	 consumidor	 tiver	 domicílio	 ou	 residência	 no	Brasil.	 No	 contexto	 em	 que	 a	 regra	 se	 insere,
tornou-se	competente	o	juiz	brasileiro	para	decidir	ações	movidas	por	pessoa	residente	ou	domiciliada
no	Brasil	 que	 travou	 relação	 de	 consumo	 no	 estrangeiro,	 sendo	 também	 estrangeiro	 o	 réu	 fornecedor.
Fosse	 a	 operação	 aqui	 ocorrida,	 ou	 estivesse	 o	 réu	 situado	 no	 Brasil,	 seja	 ele	 o	 fornecedor	 ou	 o
consumidor,	as	regras	do	art.	21	(como	as	do	anterior	art.	88	do	CPC/1973)	já	fariam	a	causa	se	submeter
à	jurisdição	nacional.	A	nova	regra	de	competência	parece	ter	sido	inspirada	pela	nova	realidade	de	um
mundo	globalizado,	em	que,	especialmente	por	meio	da	Internet,	é	possível	consumir	produtos	e	serviços
oferecidos	em	qualquer	lugar	do	planeta.	Note-se,	porém,	que,	no	afã	de	proteger	o	consumidor,	criou-se
regra	de	competência	que	carrega	uma	abrangência	exageradamente	ampla.	Na	letra	fria	do	novo	texto,
não	 se	 exige	 sequer	 a	 contemporaneidade	 entre	 o	 domicílio	 no	 Brasil	 e	 a	 relação	 de	 consumo
controvertida.	Portanto,	do	modo	como	o	 inciso	II	se	encontra	redigido,	um	estrangeiro	que	passasse	a
morar	 no	Brasil	 poderia	 aqui	 demandar	 a	 respeito	 das	 relações	 de	 consumo	de	 que	 foi	 parte,	 quando
ainda	 residia	 no	 seu	 país	 de	 origem,	 o	 que	 soa	 absurdo.	 No	 mais,	 aguardemos	 sua	 aplicação,	 para
constatar	 diante	 dos	 casos	 concretos	 se	 tal	 disposição	 será	 capaz	 proporcionar	 resultados	 úteis	 e
eficazes.
No	 terceiro	 e	 último	 inciso,	 define-se	 a	 possibilidade	 de	 submissão,	 expressa	 ou	 tácita,	 à	 jurisdição
nacional.	 É	 curioso	 que	 o	 legislador	 exija	 a	 forma	 escrita	 como	 requisito	 para	 a	 modificação	 de
competência	interna	pela	eleição	de	foro	(art.	63,	§	1º,	do	CPC/2015),	mas,	neste	caso,	além	de	não	se
referir	à	forma	escrita,	ainda	admita	que	a	jurisdição	nacional	possa	ser	considerada	aceita	pelas	partes
de	 forma	 apenas	 tácita.	 Por	 coerência,	 tal	 eleição	 de	 jurisdição	 internacional	 haveria	 de	 ser	 admitida
somente	 por	 escrito.	Note-se	 que	 a	 situação	 inversa,	 isto	 é,	 a	 exclusão	 da	 competência	 da	 autoridade
brasileira	por	força	de	eleição	de	foro	estrangeiro,	deve	seguir	o	disposto	no	art.	63	e	seus	parágrafos,
conforme	 reza	 o	 art.	 25	 e	 seu	 §	 2º,	 sendo,	 portanto,	 exigida	 a	 forma	 escrita,	 com	 alusão	 expressa	 a
determinado	negócio	jurídico.
A	 inclusão,	 neste	 inciso,	 do	 vocábulo	 “tacitamente”,	 ainda	 parececapaz	 de	 produzir	 consequências
aparentemente	indesejáveis.	Estaria	o	legislador	se	referindo	à	aceitação	tácita	por	parte	do	réu,	que	não
impugna	o	ajuizamento	da	causa	no	Brasil,	tal	como	ocorre	com	a	prorrogação	da	competência	nos	casos
de	 incompetência	 relativa	 não	 impugnada?	A	 aceitar-se	 essa	 possibilidade,	 na	 prática	 qualquer	 causa
poderá	ser	ajuizada	no	Brasil	e	não	poderia	o	magistrado	indeferi-la	sem	antes	citar	o	réu,	a	quem	seria
dado	apresentar	a	recusa	em	contestação.	Tal	extensão	da	autoridade	judiciária	brasileira	soa	exagerada,
mas	é	o	que,	à	primeira	vista,	parece	derivar	da	literalidade	do	texto,	ao	admitir-se	a	aceitação	tácita,
pelas	partes,	da	jurisdição	nacional.
Além	disso,	deve-se	considerar	a	oportunidade	de	submeter	ao	Judiciário	nacional	causas	cuja	execução
possa	ser	praticamente	dificultosa	ou	mesmo	vedada	pela	legislação	do	país	de	origem.	Não	soa	lógico
que	a	regra	do	inciso	III	possa	impor	ao	país	a	apreciação	de	quaisquer	causas,	nem	se	compreende	essa
generosidade	 do	 legislador	 em	 oferecer	 os	 já	 sobrecarregados	 serviços	 judiciários	 brasileiros	 para
julgar	litígios	que	não	apresentem	nenhum	elemento	de	conexão	com	o	país.
1.2.	Competência	territorial
No	que	toca	à	competência	interna,	tal	como	no	regime	anterior,	prevê	o	novo	Código	a	distribuição	de
competência	 territorial,	 sendo	 as	 competências	 de	 justiça	 ou	 de	 juízo	 objeto	 de	 disposições
constitucionais	ou	das	leis	de	organização	judiciária.
A	regra	geral	de	competência	territorial,	que	define	como	competente	o	domicílio	do	réu,	é	mantida	no
CPC/2015,	 encontrando-se	 prevista	 no	 art.	 46.	 Também	 se	 repetem,	 nos	 parágrafos	 deste	 artigo,	 os
mesmos	desdobramentos	da	regra	geral	fixados	no	CPC/1973,	sendo	acrescentado	um	§	5º,	que	define	a
competência	do	domicílio	do	executado	para	a	execução	fiscal.
Entre	 as	 regras	 especiais	 de	 competência	 territorial,	 encontramos	 algumas	 ligeiras	 novidades,	 abaixo
referidas.
A	ação	para	impugnar	ou	anular	a	partilha	extrajudicial	também	segue	o	foro	da	sucessão,	agora	previsto
no	art.	48,	ou	seja,	deve	ser	ajuizada	no	último	domicílio	do	falecido.
As	disposições	subsidiárias,	aplicáveis	para	o	caso	de	o	falecido	não	ter	domicílio	certo,	tornam-se	mais
claras	e	precisas	no	novo	Código.	Não	tendo	domicílio	certo,	são	competentes,	nesta	ordem:	“I	–	o	foro
de	situação	dos	bens	imóveis”,	diferentemente	do	que	dizia	o	CPC/1973,	que	não	fazia	distinção	entre	a
localização	de	bens	móveis	e	imóveis	para	fins	de	fixação	da	competência;	“II	–	havendo	bens	imóveis
em	foros	diferentes,	qualquer	destes”,	e	não	mais	no	lugar	do	óbito,	como	previsto	no	CPC/1973;	“III	–
não	havendo	bens	imóveis,	o	foro	do	local	de	qualquer	dos	bens	do	espólio”.	Sendo	assim,	o	local	do
óbito,	previsto	 subsidiariamente	no	art.	96,	§	ún.,	 II,	do	CPC/1973,	 já	não	é	 relevante	para	 fixação	da
competência	para	as	ações	relativas	à	sucessão	causa	mortis.
Outra	 regra	 de	 competência	 territorial	 modificada	 pelo	 novo	 CPC	 é	 a	 que	 diz	 respeito	 às	 ações	 de
separação,	divórcio	e	anulação	de	casamento,	agora	prevista	no	art.	53,	I,	sendo	acrescentadas	à	hipótese
legal	também	as	ações	de	reconhecimento	e	dissolução	de	união	estável.	Em	nome	da	igualdade	entre	os
sexos,	 o	 legislador	 eliminou	 o	 privilégio	 de	 foro	 da	 mulher,	 estabelecendo	 como	 competente,	 em
primeiro	 lugar,	 o	 foro	 do	 domicílio	 do	 guardião	 de	 filho	 incapaz.	 A	 regra	 anterior	 inseria-se	 em	 um
contexto	patriarcal	–	por	certo	ainda	não	totalmente	eliminado	em	nosso	extenso	e	contrastado	país	–	em
que	a	mulher	casada	desempenhava	as	funções	de	mãe	e	dona	de	casa	e	normalmente	se	via	em	situação
de	dificuldade	econômica	com	a	separação,	a	justificar	essa	sua	proteção	por	meio	do	privilégio	de	foro.
Em	não	havendo	filho	incapaz,	estabelece	a	nova	regra	que	competente	é	o	foro	do	último	domicílio	do
casal,	desde	que	algum	dos	cônjuges	ainda	permaneça	na	localidade.	De	certo	modo,	para	os	casais	que
ainda	sigam	aquele	modelo	patriarcal,	a	mulher	que	restar	com	os	filhos	incapazes,	ou	for	deixada	no	lar
comum,	situações	bastante	corriqueiras	nas	separações	quando	ela	se	encontra	em	posição	de	submissão
econômica,	o	foro	competente	ainda	será	o	seu.	Não	ocorrendo	nenhuma	das	duas	hipóteses,	a	letra	“c”
desse	inciso	remete	para	a	regra	geral	de	competência,	devendo	a	ação	ser	ajuizada	no	foro	do	domicílio
do	réu,	eliminando-se,	portanto,	o	privilégio	de	foro.
Duas	novas	regras	de	competência	territorial	especial	foram	incluídas	nas	letras	“e”	e	“f”	do	inciso	III,
do	mesmo	art.	53.	Pela	primeira,	 instituiu-se	o	foro	especial	para	o	 idoso,	para	causa	que	verse	sobre
direito	previsto	no	seu	Estatuto.	Neste	caso,	competente	é	o	foro	de	sua	residência.	A	outra	regra	define	a
competência	 da	 sede	 da	 serventia	 notarial	 ou	 de	 registro,	 para	 a	 ação	 de	 reparação	 de	 dano	 por	 ato
praticado	em	razão	do	ofício.
Por	último,	modificou-se	a	 regra	voltada	para	a	ação	de	 reparação	de	dano	decorrente	de	acidente	de
veículos,	para	incluir-se	a	expressão	“inclusive	aeronaves”,	de	modo	que	também	as	ações	com	pedido
de	indenização	por	acidentes	aéreos	observem	a	competência	do	lugar	do	domicilio	do	autor	ou	o	local
do	fato	(art.	53,	V,	do	CPC/2015).
2.	Instrumento	de	mandato
Ao	postular	em	juízo,	cabe	ao	advogado	apresentar	o	 instrumento	de	mandato,	excetuadas	as	situações
previstas	no	atual	art.	104,	semelhantes	às	do	art.	37	do	Código	de	1973.
Tal	como	na	lei	anterior,	segundo	o	art.	105	do	novo	Código	a	procuração	geral	para	o	foro	é	bastante
para	outorgar	ao	advogado	poderes	para	a	prática	de	todos	os	atos	do	processo,	excetuados	aqueles	para
os	quais	a	lei	exige	poderes	especiais.	Entre	os	atos	que	exigem	outorga	expressa	de	poderes	especiais,
incluiu-se	a	assinatura	de	declaração	de	hipossuficiência	econômica,	 repetindo-se	os	demais	que	 já	 se
encontravam	no	art.	38	do	CPC/1973.	Assim,	para	formular	o	pedido	de	gratuidade	processual	na	petição
inicial,	na	contestação,	ou	em	qualquer	outra	petição,	ou	a	própria	parte	assina	a	peça	conjuntamente,	ou
o	advogado	que	a	subscreve	haverá	de	ter	poderes	especiais	definidos	expressamente	na	procuração.
3.	Petição	inicial
Os	requisitos	da	petição	inicial,	antes	previstos	no	art.	282	do	CPC/1973,	agora	se	encontram	no	art.	319
da	nova	lei	processual.
No	que	tange	à	qualificação	das	partes,	o	inciso	II	deste	artigo	passou	a	exigir	a	indicação	de	eventual
existência	de	união	estável,	o	número	de	inscrição	no	CPF	ou	CNPJ,	conforme	se	trate	de	pessoa	natural
ou	jurídica,	bem	como	o	endereço	eletrônico.
A	menção	ao	número	do	CPF	ou	CNPJ	já	vinha	sendo	exigida	por	algumas	Cortes	em	nosso	país	desde	há
muitos	 anos,	 mesmo	 inexistindo	 qualquer	 determinação	 legal	 nesse	 sentido.	 Esses	 números,	 que	 não
passam	 de	 um	 índice	 no	 cadastro	 de	 contribuintes	 federais,	 sem	 que	 qualquer	 lei	 lhes	 tenha	 atribuído
função	de	identificação	civil,	há	tempos	vêm	sendo	irregularmente	tratados,	em	diferentes	cenários,	como
se	 fossem	 documentos	 de	 identidade.	 Com	 o	 avanço	 da	 informatização	 processual,	 os	 sistemas
informáticos	dos	 tribunais	passaram	a	se	valer	desses	números	como	um	dado	cadastral	 indexador,	um
verdadeiro	número	único	de	identificação	civil.	Agora,	à	parte	qualquer	juízo	de	valor	sobre	a	novidade,
ao	menos	a	lei	passou	a	amparar	tais	exigências.
Durante	o	trâmite	legislativo,	chegou	a	constar	do	texto	do	projeto	a	infeliz	ideia	de	se	fazer	intimações
pelo	correio	eletrônico,	discussão	que	também	havia	sido	ventilada	no	projeto	que	resultou	na	anterior
Lei	 nº	 11.419/2006,	 que	 regula	 a	 informatização	 processual.	 Essa	 má	 ideia	 de	 efetuar	 citações	 pelo
correio	 eletrônico,	 felizmente,	 não	 restou	 aprovada	no	 texto	 final	 de	nenhuma	das	duas	 leis,	 o	 que	 foi
muito	sábio	da	parte	do	legislador,	eis	que	tal	tecnologia	não	é	suficientemente	segura	para	essefim	e	o
ato	citatório	não	pode	ser	de	tal	modo	banalizado.	Retirada	do	texto	final	qualquer	referência	à	intimação
por	e-mail,	aparentemente	esqueceu-se	o	legislador	de	remover	essa	exigência	da	petição	inicial,	como
se	 fez	 em	outros	 artigos	que	 continham	determinação	 correlata.	Desse	modo,	 a	 indicação	do	 endereço
eletrônico	 do	 autor	 e	 do	 réu	 constituem-se	 exigências	 menores,	 cuja	 inobservância	 não	 há	 de	 gerar
qualquer	consequência.	Mesmo	porque	ninguém	pode	ser	obrigado	a	ter	e	manter	um	endereço	eletrônico,
e	 soa	 absurdo	 que	 um	 mero	 serviço,	 voltado	 para	 a	 comodidade	 do	 usuário,	 e	 que	 é	 contratado	 e
encerrado,	 ora	 aqui	 ora	 ali,	 com	 variados	 prestadores	 de	 serviços,	 ou	 é	 fornecido	 por	 força	 de	 fatos
conjunturais,	 como	 sua	 relação	 de	 emprego,	 associação	 ou	 participação	 em	 algum	 grupo	 social	 ou
profissional,	possa	ser	comparado	a	um	endereço	físico	onde	a	parte	possa	ou	deva	ser	encontrada,	fato
este	que	costuma	ser	razoavelmente	estável	e	duradouro,	ao	menos	para	a	maioria	das	pessoas.	Deve	ser
visto,	pois,	como	uma	 indicação	opcional,	que	poderá	servir	para	 facilitar	um	eventual	contato	com	a
parte,	 quando	 isso	 se	 fizer	 necessário,	 mas	 não	 é	 de	 se	 esperar	 que	 se	 possa	 extrair	 daí	 outras
consequências	jurídicas	ou	processuais.
Além	disso,	 os	 §§	1º	 a	 3º	 do	 art.	 319	 abrandam	 sobremaneira	 as	 exigências	 de	 seu	 inciso	 II,	 o	 que	 é
bastante	 consentâneo	 com	 a	 realidade	 prática,	 eis	 que	 nem	 sempre	 é	 sabida	 pelo	 autor	 a	 qualificação
completa	do	réu.	Desse	modo,	o	autor	pode	requerer	a	realização	de	diligências	 tendentes	a	completar
tais	 informações	(§	1º),	algo	que	 já	era	costumeiramente	deferido	pelos	 juízes,	diante	dessas	situações
excepcionais.	 E,	 sendo	 possível	 a	 citação	 do	 réu,	 a	 falta	 dessas	 informações	 não	 pode	 acarretar	 o
indeferimento	da	 inicial,	conforme	dispõe	o	§	2º,	o	mesmo	se	aplicando	quando	a	sua	prévia	obtenção
tornar	impossível	ou	excessivamente	oneroso	o	acesso	à	justiça.	O	que	importa,	evidentemente,	é	que	as
partes	possam	ser	identificadas	e	individuadas.
Dispensou-se	 o	 requerimento	 de	 citação	 do	 réu,	 previsto	 no	 inciso	 VII,	 do	 art.	 282,	 da	 lei	 anterior,
exigência	que	não	é	repetida	no	novo	CPC.	De	fato,	tal	“requisito”	não	passava	de	mera	formalidade	sem
sentido,	 pois	 é	 claro	 que	 o	 réu	 haverá	 de	 ser	 sempre	 citado	 para	 que	 seja	 completada	 a	 formação	 da
relação	processual,	ou	para	que	seja	observado	o	princípio	do	contraditório.	Era,	portanto,	um	excesso
de	 formalismo	 considerar	 necessária	 a	 inclusão	 de	 uma	 frase-padrão	 na	 petição	 inicial,	 em	 que	 esse
indispensável	chamamento	do	réu	precisasse	ser	expressamente	mencionado	ou	requerido.
O	 mesmo	 formalismo	 ainda	 restou,	 porém,	 na	 exigência	 de	 indicação	 de	 provas	 na	 petição	 inicial,
constante	do	inciso	VI	do	art.	319,	o	que	também	se	repete	para	a	contestação,	conforme	dito	no	art.	336,
ambos	do	CPC/2015.	Enquanto	não	esgotada	a	fase	postulatória,	as	partes	ainda	não	definiram	os	limites
do	 litígio,	 não	 restando	nítidos	 a	 elas	quais	 são	os	 fatos	 controvertidos	que	demandarão	prova.	Daí	o
requisito	ter-se	tornado,	na	prática,	uma	frase	feita,	em	que	as	partes	solicitam,	indistintamente	e	em	todas
as	causas,	a	produção	de	todos	os	meios	de	prova	possíveis	e	imagináveis.	Em	todo	caso,	se	a	nova	lei
continua	 a	 exigir	 tal	 referência,	 reitere-se,	 então,	ad	 nauseam,	 nas	 iniciais	 e	 contestações,	 a	 tal	 frase
feita.	Continua	correto	e	oportuno,	assim,	que	o	juiz	solicite	a	especificação	de	provas	ao	final	da	fase
postulatória,	momento	 em	 que	 os	 contornos	 do	 litígio	 estão	 definidos	 e	 as	 partes	 podem	 apontar	 com
precisão	 quais	 provas	 realmente	 pretendem	 produzir,	 ou	 afirmar	 que	 o	 feito	 não	 exige	 a	 produção	 de
outras	provas	e	solicitar	julgamento	antecipado.
Pede,	ainda,	o	inciso	VII	do	art.	319,	que	o	autor	expresse	sua	opção	pela	realização	ou	não	de	audiência
de	 conciliação	ou	de	mediação.	Parece	 claro	que	 isso	não	 é	propriamente	um	 requisito	de	 aptidão	da
peça	 vestibular,	 mas	 tão	 somente	 uma	 opção	 do	 autor	 de	 dispensar	 essa	 audiência	 prevista	 na	 lei.
Omitindo-se	 a	 inicial	 quanto	 a	 esse	 item,	 é	 de	 se	 presumir	 que	 ele	 não	 optou	 pela	 dispensa,	 não	 se
opondo	a	que	o	feito	siga	o	trâmite	legal	em	sua	inteireza.	Quanto	à	audiência	em	si	e	sua	possível	não
realização,	o	tema	será	tratado	mais	adiante.8
Com	o	fim	do	rito	sumário,	desaparece	qualquer	exigência	quanto	à	apresentação	do	rol	de	testemunhas
na	petição	inicial.9
Por	 último,	 a	 petição	 inicial	 deverá	 ser	 instruída	 com	os	 documentos	 indispensáveis	 à	 propositura	 da
ação,	conforme	dispõe	o	atual	art.	320,	que	reitera	a	regra	do	art.	283	do	CPC/1973.
4.	Valor	da	causa
O	 inciso	V	 do	 art.	 319	mantém	 o	 valor	 da	 causa	 como	 requisito	 da	 petição	 inicial	 e	 as	 regras	 a	 seu
respeito	 encontram-se	 agora	 previstas	 nos	 artigos	 291	 a	 293,	 com	 algumas	 ligeiras	 modificações	 em
relação	ao	disposto	no	CPC/1973.
A	 orientação	 geral	 que	 deve	 prevalecer,	 no	 tocante	 à	 fixação	 do	 valor	 da	 causa,	 é	 que	 este	 deve
representar,	 do	modo	mais	 fiel	 possível,	 o	 significado	 econômico	do	pedido	 formulado	pelo	 autor,	 ao
menos	 tanto	 quanto	 se	 possa	 apurar	 no	 momento	 do	 ajuizamento.	 É	 notável	 que	 as	 modificações
observadas	acerca	desse	tema	têm	o	claro	escopo	de	atender	o	mais	possível	a	essa	orientação	geral.
As	regras	sobre	a	fixação	do	valor	da	causa,	constantes	do	art.	292,	do	CPC/2015,	não	são	exaustivas,
assim	 como	 as	 que	 estavam	 no	 art.	 259	 da	 lei	 anterior.	 O	 artigo	 enumera	 situações	 suficientes	 para
abranger	a	maior	parte	dos	casos	concretos	em	que	a	causa	tenha	conteúdo	econômico.	Quando	não	o	tem,
o	valor	dado	a	causa	será	meramente	estimativo,	não	sendo	objeto	de	qualquer	critério	legal.
Mas	é	sempre	possível	que	surjam	situações	práticas	que	não	se	encaixem	perfeitamente	nas	hipóteses
descritas	no	rol	do	art.	292,	casos	em	que	o	valor	a	ser	atribuído	à	causa	deve	ser	apurado	caso	a	caso,
segundo	 a	 orientação	 geral	 acima	 referida.	 Nesse	 sentido,	 a	 regra	 do	 §	 3º,	 a	 princípio	 destinada	 a
pacificar	a	dúvida	sobre	a	possibilidade,	ou	não,	de	correção	desse	valor	por	determinação	ex	officio	do
juiz,	serve	 também	como	um	critério	supletivo	para	a	fixação	do	valor,	ao	estabelecer	que	o	 juiz	pode
ordenar	sua	alteração,	quando	o	valor	atribuído	pelo	autor	não	corresponder	“ao	conteúdo	patrimonial
em	 discussão	 ou	 ao	 proveito	 econômico	 perseguido	 pelo	 autor”.	 Essa	 é	 precisamente	 a	 orientação
geral	que	deve	balizar	a	atribuição	inicial	do	valor	da	causa,	e	que	agora	aparece	inscrita	na	lei.
Os	 incisos	 do	 art.	 292	 fixam	 critérios	 objetivos	 para	 o	 valor	 da	 causa,	 representando	 uma	 estimativa
legal	para	o	conteúdo	patrimonial	ali	envolvido.	Na	falta	de	regra	expressa,	esse	conteúdo	patrimonial	e
os	critérios	para	sua	obtenção	devem	ser	aferidos	e	decididos	caso	a	caso.
No	inciso	I	do	art.	292,	aplicável	aos	pedidos	condenatórios	de	obrigação	em	dinheiro,	foi	acrescentada
a	 expressão	“monetariamente	 corrigida”.	 Deixa	 claro	 o	 novo	 CPC	 que	 o	 valor	 da	 causa	 é	 o	 valor
presente	da	obrigação	postulada,	contemporâneo	à	data	do	ajuizamento,	com	todos	os	seus	acréscimos,
tais	como,	reiterando	o	CPC/1973,	os	juros	e	outras	penalidades	pedidas	pelo	autor.
O	 inciso	 II,	 que	 rege	 o	 valor	 da	 causa	 para	 as	 ações	 em	 que	 se	 discute	 a	 existência,	 validade,
cumprimento,	 modificação	 ou	 rescisão	 do	 ato	 jurídico,	 incluiu	 no	 rol	 também	 os	 pedidos	 para	 a	 sua
resolução	ou	resilição.	Aproximando-se	mais	da	orientação	geral	acima	mencionada,	o	novo	 texto	diz
que	o	valor	da	causa,	nesses	casos,	é	“o	valor	do	ato	ou	o	de	sua	parte	controvertida”.	Por	vezes,	o
questionamento	trazidoa	juízo	não	atinge	todo	o	valor	econômico	do	ato	jurídico	controvertido;	assim,	a
parte	 final	 acrescentada	 ao	 texto	 deixa	 claro	 que	 o	 valor	 da	 causa	 corresponderá	 apenas	 ao	 conteúdo
econômico	que	está	em	jogo,	ainda	que	o	valor	total	do	contrato,	por	exemplo,	seja	maior.	Tome-se	como
exemplo	 processo	 que	 verse	 sobre	 a	 validade	 ou	 não	 de	 uma	 determinada	 disposição	 contratual,	 cuja
aplicação	 fosse	 capaz	 de	 aumentar	 ou	 reduzir	 o	 valor	 das	 obrigações	 contratadas.	 O	 valor	 da	 causa,
portanto,	 seria	 apenas	 a	diferença	decorrente	da	 aplicação,	ou	não,	da	 cláusula	 controvertida,	 e	não	o
valor	total	do	contrato.
Outra	novidade	é	observada	no	inciso	IV	do	art.	292,	acerca	do	valor	da	causa	para	ações	de	divisão,
demarcação	 e	 reivindicação.	No	CPC/1973,	 essa	 situação	 era	 prevista	 no	 inciso	VII	 do	 art.	 259,	 que
dava	à	causa	o	valor	do	imóvel	para	fins	de	lançamento	de	impostos	sobre	a	propriedade	urbana	ou	rural.
Embora	 tais	valores	 fiscais	 tenham	sido,	no	passado	e	no	mais	das	vezes,	bastante	 inferiores	ao	valor
real	 de	mercado	 do	 bem,	 a	 velha	 regra	 trazia	 como	 vantagem	 o	 fato	 de	 constarem	 de	 um	 documento
público	 e	 oficial,	 a	 permitir	 desde	 logo	 e	 sem	 grande	 dificuldade	 atribuir-se	 o	 valor	 a	 essas	 causas
relativas	a	bens	imóveis.	Com	a	aparente	intenção	de	atender	àquela	orientação	geral,	o	novo	texto	diz
que	o	valor	da	causa	passa	a	ser	“o	valor	de	avaliação	da	área	ou	do	bem	objeto	do	pedido”.	A	regra	se
mostra	 inoportuna,	 pois	 cria	 uma	 necessidade	 extra	 quando	 da	 propositura	 dessas	 ações,	 impondo	 um
ônus	desnecessário	ao	autor.	Por	outro	lado,	levada	a	sério	tal	exigência,	é	de	se	indagar	como	poderá
ser	feita	uma	avaliação,	com	apuro	e	precisão,	sobre	imóvel	reivindicando	que	se	encontra	ocupado	pelo
réu,	com	quem	o	autor	provavelmente	não	está	a	manter	relações	muito	amistosas...	Parece	claro	que	um
profissional	responsável	não	se	permitirá	assinar	um	laudo	avaliatório	nessas	condições;	restará	ao	autor,
a	se	exigir	tamanho	rigor	formal	na	fixação	do	valor,	valer-se	dos	que	não	são	tão	responsáveis...
Ademais,	 alguns	Municípios,	 interessados	 no	 aumento	 de	 arrecadação,	 têm	 nos	 últimos	 anos	 elevado
significativamente	 os	 valores	 fiscais	 dos	 imóveis	 urbanos,	 e	 a	 realidade	 que	 se	 observa	 é	 que	 sua
defasagem	com	o	preço	de	mercado	tornou-se	algo	superado	ou	irrelevante,	mesmo	porque	o	mercado	é
sujeito	a	oscilações	puramente	conjunturais	e	nem	sempre	duradouras.	Teria	sido	melhor	deixar	que	esse
movimento	 das	 prefeituras	 cuidasse	 de	 tornar	 o	 valor	 fiscal	 mais	 próximo	 do	 real,	 do	 que	 criar
dificuldades	 adicionais	 ao	 autor	 da	 ação,	 a	 lhe	 embaraçar	 o	 acesso	 à	 justiça	 e	 a	 tornar
desnecessariamente	custoso	o	ajuizamento	da	ação,	com	a	exigência	de	realização	de	perícias	que	talvez
nem	sequer	precisariam	ser	 feitas	para	decidir	 o	pedido.	É	de	 se	 esperar	que	 impere	o	bom	senso	na
interpretação	 dessa	 regra	 e	 da	 viabilidade	 de	 sua	 aplicação	 ao	 caso	 concreto	 levado	 a	 juízo,
dispensando-se	o	autor	dessa	exigência,	ao	menos	quando	se	mostrar	desproporcionalmente	cara,	ou	de
difícil	ou	demorada	execução.	A	melhor	solução	para	a	nova	regra	é	permitir	ao	autor	uma	“avaliação”
estimativa,	declarada	por	ele	próprio	na	petição	inicial;	se	houver	controvérsia	a	respeito,	sempre	caberá
a	produção	de	prova	posterior.
Além	 desses	 pequenos	 ajustes	 em	 três	 das	 regras	 presentes	 no	 CPC/1973,	 um	 novo	 inciso	 foi
acrescentado	 no	 rol.	 Figura	 no	 inciso	 V	 a	 determinação	 de	 que	 o	 valor	 da	 causa	 seja,	 “na	 ação
indenizatória,	 inclusive	 a	 fundada	 em	 dano	moral,	 o	 valor	 pretendido”.	 A	 regra,	 por	 um	 lado,	 não
parece	 ser	 das	 mais	 felizes,	 pois	 não	 há	 motivo	 para	 tratar	 em	 incisos	 diferentes	 os	 pedidos	 de
condenação	 em	 dinheiro,	 quaisquer	 que	 sejam	 os	 seus	 fundamentos.	 Segundo	 a	orientação	 geral,	 que
nesses	casos	de	condenação	em	dinheiro	encontra	as	menores	dificuldades	de	aplicação	e	apuração	do
valor,	o	valor	da	causa	deve	ser,	obviamente,	o	valor	em	dinheiro	que	se	pede.	Faria	sentido	criar	regras
distintas	 se	 desejasse	 o	 legislador	 que	 o	 valor	 da	 causa	 para	 uma	 ou	 outra	 cobrança	 seguisse	 algum
critério	diferenciado,	mas	esse	não	parece	ser	o	caso	do	novo	dispositivo	ora	comentado.	O	que	seria	“o
valor	pretendido”,	senão	o	valor	presente	da	indenização,	com	todos	os	seus	acréscimos,	consoante	já
estabelecido	no	inciso	I	do	mesmo	artigo?	Para	dizer	tal	coisa,	é	desnecessária	a	criação	da	nova	regra.
O	que	parece	motivar	essa	regra	é	o	desejo	do	legislador	de	afirmar	que	também	para	os	pedidos	de	dano
moral	o	valor	da	causa	deve	exprimir	o	valor	pretendido.	Mas,	neste	caso,	qual	é,	em	moeda,	o	valor
pretendido?	Fica	a	impressão	de	que	o	legislador	confundiu	o	valor	da	causa	com	a	exigência	de	liquidez
do	 pedido.	 Como	 apontado	 adiante,10	 o	 CPC/2015	 foi	 mais	 incisivo	 ao	 dispor	 sobre	 o	 requisito	 de
determinação	do	pedido	e,	ao	que	parece,	esta	regra	é	mais	um	reflexo	disso	do	que	disposição	voltada
para	a	estimação	do	valor	da	causa,	eis	que,	como	dito,	não	se	distingue	do	critério	contido	no	inciso	I	do
mesmo	artigo.
Noutras	 palavras,	 esse	 texto	 quer	 sugerir,	 na	 verdade,	 que	 o	 pedido	 de	 dano	 moral	 seja	 igualmente
líquido,	mas	o	legislador,	confundindo	os	conceitos,	inseriu	a	regra	entre	as	disposições	sobre	a	fixação
do	valor	processual	da	causa,	e	não	sobre	a	determinação	do	pedido.	Assim,	uma	vez	expresso	em	moeda
o	valor	 do	dano	moral	 pleiteado,	 exigência	 relativa	 à	 liquidez	do	pedido,	 o	 valor	 da	 causa	 é	 o	valor
pretendido.
5.	Pedido
Requisito	mais	 importante	 da	 petição	 inicial,	 o	 pedido	 é,	 assim	 como	no	CPC/1973,	 objeto	 de	Seção
própria,	que	se	estende	entre	os	arts.	322	a	329.
Poucas	são	as	modificações	introduzidas	acerca	do	pedido,	todas	girando	em	torno	de	sua	determinação	e
de	sua	interpretação.	Quanto	ao	mais,	são	reiterados	os	preceitos	do	CPC/1973.
Segundo	o	art.	286	do	CPC/1973,	o	pedido	deve	ser	“certo	ou	determinado”,	expressão	que	a	doutrina
corrigia	 para	 “certo	 e	 determinado”.	 Afinal,	 essas	 não	 eram	 exigências	 alternativas	 nem	 tão	 pouco
sinônimas,	devendo	ser,	ambas,	atendidas	pelo	autor.	A	possível	confusão	foi	eliminada	pelo	CPC/2015,
que	passou	a	tratar	de	cada	um	desses	requisitos	em	artigos	diferentes.
Assim,	o	art.	322	do	CPC/2015	afirma	que	“o	pedido	deve	ser	certo”.	Isso	significa	que	o	pedido	deve
ser	 expresso,	 explícito,	 induvidoso,	 não	 pode	 pairar	 qualquer	 dúvida	 sobre	 o	 que	 pede	 o	 autor.
Consequência	disso	é	que	não	se	considera	integrante	do	pedido	aquilo	que	dele	não	constar	com	clareza.
Nos	 parágrafos,	 porém,	 especialmente	 no	 §	 2º,	 o	 CPC/2015	 faz	 afirmações	 contraditórias,	 cuja
interpretação	poderá	gerar	sérios	problemas	para	ambas	as	partes.
Corolário	 inseparável	 da	 exigência	 de	 certeza	 do	 pedido	 é	 a	 sua	 interpretação	 restritiva,	 que	 era
afirmada	pelo	art.	293	da	lei	anterior.	O	mesmo	artigo	excepcionava	os	juros	legais	e,	por	força	de	outras
disposições	legais,	no	Código	ou	fora	dele,	a	doutrina	e	jurisprudência	não	hesitavam	em	incluir	no	rol
das	 exceções	 à	 interpretação	 restritiva	 também	 a	 correção	 monetária,	 eis	 que	 prevista	 na	 Lei	 nº	
6.899/1981,	e	as	custas	e	honorários	de	advogado,	impostas	em	outros	artigos	do	Código.	O	§	1º	do	art.
322	do	CPC/2015,	ao	dizer	que	“compreendem-se	no	principal	os	juros	legais,	a	correção	monetária	e
as	verbas	de	sucumbência,	inclusive	os	honorários	advocatícios”,	consolida	no	mesmo	dispositivo	essa
orientação	anterior,	de	modo	que	essas	rubricas	mencionadas	no	texto	são	consideradas	parte	integrante
do	 pedido,	 ainda	 que	 não	 expressamente	 referidas	 na	 petição	 inicial.	Até	 aqui,	 nenhuma	 novidade	 em
relação	ao	regime	legal	anterior.
No	 §	 2º,	 entretanto,	 háuma	 afirmação	 incongruente	 com	 o	 sistema,	 com	 as	 garantias	 do	 réu	 e	 com	 o
próprio	teor	do	que	lhe	antecede	no	mesmo	artigo.	Não	reiterou	o	CPC/2015	a	disposição	que	afirmava
que	“os	pedidos	são	 interpretados	restritivamente”	 (art.	293,	do	CPC/1973),	preferindo	dizer	que	“a
interpretação	do	pedido	considerará	o	conjunto	da	postulação	e	observará	o	princípio	da	boa-fé”.
Há,	ao	longo	do	novo	CPC,	uma	desejável	e	saudável	orientação	no	sentido	de	prestigiar-se	a	solução	da
demanda,	 esforçando-se	 a	 lei	 em	 tentar	 superar	 as	 questiúnculas	 processuais	 que	 possam	 obstar	 ou
retardar	o	julgamento	do	mérito.	Nesse	sentido,	são	várias	as	disposições	tendentes	a	permitir	a	correção
de	vícios	e	defeitos,	para	que	o	processo	possa	ser	“salvo”	e	siga	adiante	até	o	 julgamento	de	mérito.
Todavia,	o	pedido	e	 sua	necessária	certeza	–	afirmada	no	caput	desse	mesmo	artigo	–	não	podem	ser
tratados	sob	essa	mesma	ótica	“salvacionista”.	Se	o	autor	não	for	capaz	de	apresentar	pedido	induvidoso,
bem	 formulado,	 que	 não	 comporte	 entendimentos	 diferentes	 sobre	o	que	 precisamente	 veio	 buscar	 em
juízo,	ninguém	mais,	a	não	ser	ele	mesmo,	pode	ou	deve	ser	prejudicado	pelo	sentido	enganoso	de	suas
próprias	palavras.
Afinal,	antes	de	mais	nada,	um	pedido	certo	já	não	comporta	interpretações.	Ele	é	o	que	é.	O	que	se	pede
é	o	que	está	escrito.	Um	pedido	que	comporte	interpretações,	que	possa	ter	sentido	ou	extensão	diversos
aos	olhos	de	diferentes	leitores,	é	na	verdade	um	pedido	duvidoso.	O	critério	da	interpretação	restritiva,
expresso	no	CPC/1973,	 já	 era	uma	 forma	de	“salvar”	um	pedido	duvidoso	da	extinção,	 adotando-se	a
única	solução	que	não	prejudica	o	demandado:	restringir	sua	extensão.	Isto	é,	se	um	texto	é	ambíguo,	a
ponto	de	poder	significar	tanto	que	o	autor	quer	X,	como	que	quer	X+Y,	conforme	a	percepção	do	leitor,
isso	 pode	 prejudicar	 a	 defesa,	 caso	 esta,	 na	 sua	 interpretação,	 só	 tenha	 percebido	 o	 pedido	 de	X.	 E,
assim,	o	réu	se	defendeu	somente	de	X.	Apresentou	provas	somente	para	fatos	que	influíam	no	pedido	X.
A	regra	do	§	2º,	ao	afirmar	que	“a	 interpretação	do	pedido	considerará	o	conjunto	da	postulação	e
observará	o	princípio	da	boa-fé”,	 é,	 portanto,	 um	verdadeiro	 atentado	 às	 garantias	 do	 réu.	 Invocar	 a
aplicação	 do	 princípio	 da	 boa-fé	 não	 explica	 coisa	 alguma,	 a	 menos	 que	 se	 dissesse	 que	 a	 outra
alternativa	–	agir	de	má-fé	–	fosse	uma	opção	possível	e	aceitável.	Boa-fé	é	algo	sempre	esperado.	E	o
que	seria	o	“conjunto	da	postulação”?	Se	o	autor,	em	algum	parágrafo	esparso	ao	 longo	de	seu	 texto,
sugeriu	ter	direito	a	qualquer	coisa	mais,	mas	não	a	pediu	expressamente,	estaria	o	juiz	autorizado,	por
absurdo,	a	julgar	esse	suposto	pedido,	a	partir	do	“conjunto	da	postulação”?	Teria	o	réu	se	defendido
suficientemente	disso?	Ou,	mais,	 será	que	o	próprio	autor	 tem	a	 intenção	de	 formular	 tal	pedido	nesse
momento	 e	 vê-lo	 julgado?	 E	 se,	 mesmo	 não	 sendo	 intenção	 do	 autor	 formulá-lo,	 o	 juiz	 incluí-lo	 no
conjunto	 da	 postulação	 e	 julgá-lo	 improcedente?	 Ainda	 que	 o	 quisesse,	 por	 que	 não	 o	 formulou
expressamente,	se	lhe	cabia	a	apresentação	de	pedido	certo?	E	se,	querendo,	não	o	formulou,	sendo	seu	o
erro,	por	que	flertar	com	a	violação	de	garantias	do	réu,	se	seria	muitíssimo	mais	óbvio,	justo	e	coerente
com	todos	os	princípios	de	direito	que	o	prejudicado	por	suas	falhas	ou	omissões	deva	ser	ele	próprio,	o
autor?
Feitas	 essas	 considerações,	 vê-se	 que	 a	 nova	 regra	 não	 resolve	 nenhum	 problema	 importante	 do
processo,	mas	pode	criar	outros,	especialmente	dando	margem	ao	arbítrio	judicial.
Sob	um	ângulo	mais	prático,	o	que	resta	considerar?
Em	primeiro	lugar,	a	novidade	não	afasta	a	sempre	segura	recomendação,	que	se	faz	ao	patrono	do	autor,
no	sentido	de	que	o	pedido	seja	redigido	com	o	maior	cuidado	possível,	seja	lido	e	relido	quantas	vezes
necessário,	depurando-se	eventuais	ambiguidades	de	texto.	Não	convém,	nem	mesmo	para	o	autor,	contar
com	uma	possível	interpretação	posterior	sobre	o	que	está	sendo	pleiteado,	pois	nada	garante	que	essa
margem	de	flexibilização	sugerida	pelo	legislador	–	se	considerada	constitucional,	coisa	que	duvidamos,
pois	 atenta	 contra	 o	 princípio	do	contraditório	 –	 poderá	 levar	 a	 resultado	 que	 coincida	 precisamente
com	o	bem	da	vida	que	ele	veio	buscar	em	juízo.
Em	segundo	lugar,	do	ponto	de	vista	do	réu,	talvez	seja	o	caso	de,	diante	da	constatação	de	ambiguidades
de	redação	constantes	da	petição	inicial,	apontá-las	na	defesa	e,	se	for	o	caso,	tentar	apresentar	defesa
sobre	todos	os	possíveis	sentidos	do	pedido.
Em	terceiro	lugar,	ao	juiz,	recomenda-se	que	interprete	os	pedidos	restritivamente,	em	regra,	pois	é	essa
a	 interpretação	que	mais	atende	ao	princípio	do	contraditório	e,	de	certo	modo,	é	a	que	mais	se	afina
com	a	boa-fé	pregada	no	texto	legal.	Somente	pode	ser	diferente	diante	de	situação	–	certamente	pouco
frequente	–	em	que,	apesar	do	texto	duvidoso	com	que	o	pedido	se	apresenta,	ficar	claro	que	a	aplicação
dessa	interpretação	extensiva	faça	com	que	o	pedido	corresponda	àquilo	que	o	autor	quer	pedir,	e	que	o
réu	 o	 compreendeu	 e	 de	 tudo	 se	 defendeu	 de	 modo	 completo.	 Não	 observadas	 essas	 premissas,	 ou
veremos	o	juiz	agir	de	ofício,	julgando	aquilo	que	o	autor	não	desejou	pedir,	ou	prejuízos	irreparáveis	à
defesa,	o	que	soa	inadmissível.
Quanto	 à	 determinação	 do	 pedido,	 essa	 vem	 mencionada	 no	 art.	 324,	 constando	 do	 §	 1º	 as	 mesmas
ressalvas	do	CPC/1973,	que	admitem	pedido	genérico.	A	rigor,	pedidos	genéricos,	ou	ilíquidos,	só	são
admitidos	nas	três	situações	constantes	dos	incisos	do	§	1º,	que	são	repetições	dos	incisos	do	art.	286,	do
CPC/1973.	E	o	 teor	desses	 incisos	é	 induvidoso:	somente	se	admite	o	pedido	genérico	quando	o	autor
não	tem	como	determiná-lo.	A	jurisprudência	nacional,	todavia,	tem	se	mostrado	muitíssimo	benevolente
na	aceitação	de	pedidos	genéricos,	sendo	raros	os	julgados	que	aplicavam	o	art.	286	com	o	necessário
rigor.	 A	 determinação	 do	 pedido	 é,	 igualmente,	 uma	 garantia	 do	 réu,	 tanto	 no	 sentido	 de	 conhecer
precisamente	 os	 limites	 daquilo	 sobre	 o	 qual	 é	 demandado,	 como	 para	 proporcionar-lhe	 também	 a
oportunidade	de	discutir	o	quantum	pretendido	ou	os	critérios	que	levaram	à	sua	fixação.
O	CPC/2015	incluiu	entre	os	motivos	de	indeferimento	da	inicial	a	afirmação	de	que	é	inepta	a	petição
inicial	 quando	 “o	 pedido	 for	 indeterminado,	 ressalvadas	 as	 hipóteses	 legais	 em	 que	 se	 permite	 o
pedido	genérico”	(art.	330,	§	1º,	II).	Destarte,	se	dúvida	interpretativa	havia	na	redação	do	CPC/1973,	o
novo	 Código	 assinalou	 que	 os	 incisos	 do	 art.	 324,	 §	 1º,	 elencam	 hipóteses	 taxativas.	 E,	 não	 se
encontrando	 entre	 elas,	 o	 pedido	 de	 dano	 moral,	 por	 exemplo,	 deve	 ser	 líquido,	 cabendo	 ao	 autor
apresentar	o	valor	em	moeda	que	deseja	 receber	como	compensação	pela	dor,	vexame,	ou	humilhação
sofridos,	 ou	 o	 que	mais	 tenha	motivado	 tal	 pleito	 indenizatório.	É	 nesse	 sentido	 que	 o	 já	mencionado
inciso	 V	 do	 art.	 292	 prevê,	 entre	 os	 critérios	 de	 fixação	 do	 valor	 da	 causa,	 que	 tal	 valor	 deve
corresponder	 ao	montante	 pretendido,	 também	para	 as	 indenizações	 por	 dano	moral,	 como	 comentado
anteriormente.11
Por	fim,	o	art.	329	do	CPC/2015	consolida	e	aclara	as	regras	relativas	à	estabilização	do	pedido,	antes
divididas	 nos	 arts.	 264	 e	 294	 da	 lei	 anterior.	 Até	 a	 citação,	 segundo	 o	 inciso	 I,	 o	 autor	 tem	 livre
disponibilidade	acerca	do	pedido,	podendo	tanto	aditá-lo	como	alterá-lo,	bem	como	desistir	dele	no	todo
ou	em	parte	 (art.	 485,	VIII,	 e	 §	4º).	Citado,	 o	 réu	 adquire	direitos	na	 relação	processual,	 que	passa	 a
integrar	a	partir	daí,	de	modo	que	após	a	citação	essas	modificações	no	objeto	da	demanda	só	se	admitem
com	o	 consentimento	dele,	 conforme	previsto	 no	 inciso	 II.	Embora	 tal

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