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Apostila 6 resumo/Teorias da Comunicação

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TEORIAS DA COMUNICAÇÃO APOSTILA 6
Mídia, Cultura e Poder: A Comunicação na América Latina
INTRODUÇÃO
Com o desenvolvimento da comunicação elétrica, iniciada com o telégrafo, no século XIX, surgiu uma percepção de mudança iminente e imediata. Os debates na mídia na segunda metade do século XX estimularam a reavaliação, tanto da invenção da impressão gráfica quanto de todas as outras tecnologias que foram tratadas no princípio como maravilhas. Geralmente, se aceita que as mudanças na mídia tiveram importantes consequências culturais e sociais. Controversos são a natureza e o escopo dessas conseqüências. São elas primordialmente políticas ou psicológicas? Pelo lado político, favorecem a democracia ou a ditadura? A “era do rádio” foi não somente a era de Roosevelt e Churchill, mas também de Hitler, Mussolini e Stálin. Pelo lado psicológico, a leitura e a visão estimulam a empatia com os outros ou o isolamento em um mundo particular? A televisão ou “a rede” aniquilam ou criam novos tipos de comunidades nas quais a proximidade espacial não é menos importante? (BRIGGS e BUKE, 2016, p. 23)
Desde as navegações do século XVI, as mudanças que mais interessam aos pesquisadores em comunicação têm relação com produtos que geraram novas formas de transporte de pessoas, produtos e informações. De acordo com BRIGGS e BURKE (2016, p 16-17), “A mídia precisa ser vista como um sistema, um sistema em contínua mudança, no qual elementos diversos desempenham papéis de maior ou menor destaque”.
As teorias da comunicação tradicionais, que deram origem ao campo de pesquisa em comunicação, fazem parte destes contextos. As denominadas “Pesquisas Norte- -Americanas”, a Escola de Frankfurt e os Estudos Culturais, consolidaram o campo de pesquisa e estabeleceram metodologias para a análise da cultura e da mídia, oferecendo a pesquisadores do mundo ocidental parâmetros a partir dos quais desenvolver seus trabalhos. Teorias que, de acordo com BRIGGS e BURKE (2016, p. 13-14), buscaram refletir acerca da inserção da mídia no cotidiano, destacando que:
De modo significativo, foi com a era do rádio que o mundo acadêmico começou a reconhecer a importância da comunicação oral na Grécia antiga e na Idade Média. O início da idade da televisão, na década de 1950, deu surgimento à comunicação visual e estimulou a emergência de uma teoria interdisciplinar da mídia. Realizaram-se estudos nas áreas de economia, história, literatura, arte, ciência política, psicologia, sociologia e antropologia, o que levou à criação de departamentos acadêmicos de comunicação e estudos culturais. Frases bombásticas envolvendo novas idéias foram criadas por Harold Innis (1894-1952), que escreveu sob o “viés das comunicações”; por Marshall McLuhan (1911-80), que falou da “aldeia global”; por Jack Goody, que traçou a “domesticação da mente selvagem”; e por Jürgen Habermas, o sociólogo alemão que identificou a “esfera pública”, uma zona para o “discurso” no qual as idéias são exploradas e “uma visão pública” pode se expressar.
Estes autores (p. 26) destacam, ainda, a necessidade de reconhecer que:
Nenhuma teoria única fornece um guia completo para o reino contemporâneo das ‘tecnologias de comunicação de alta definição, de interação e mutuamente convergentes’, nas quais as relações, sejam elas individuais ou sociais, locais ou globais, estão em fluxo contínuo.
A Pesquisa em comunicação na América Latina, reproduz e reflete a influência de diferentes metodologias e referenciais teóricos, utilizados em diferentes contextos, como parte do esforço acadêmico em busca de respostas ao desafio apresentado à sociedade para a compreensão do papel da mídia na sociedade latino-americana contemporânea.
Mídia, Desenvolvimento e Ideologia na América Latina
 As primeiras fases dos estudos em comunicação em países da América (com exceção de Canadá e EUA), a compreensão de que há questões comuns a estes países a serem compartilhadas em estudos de mídia ou de culturas e que estas características se estendem a países das Américas do Sul e Central e ao México. Seguindo o que fora consolidado com a criação da CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, em 1948, as pesquisas em comunicação realizadas nos países que, mesmo com diferenças profundas em termos sociais, econômicos, culturais e territoriais, se identificavam como latino-americanos, partiram de premissas comuns e revelaram esforços para a compreensão dos sistemas de mídia como fenômeno cultural, estético, político e social para além das fronteiras nacionais.
 Assim, as Américas – do Sul, Central e do Norte – aceitas como forma de identificação geográfica dos países colonizados por países Europeus no século XVI, não são consideradas nos estudos em comunicação, optando-se por excluir, apenas, Canadá e EUA, por suas diferenças culturais e políticas, além de seu desenvolvimento bastante diverso em relação aos demais países, e que os levou a fazer parte do “mundo desenvolvido”. Estão na base desse conceito: a colonização por países europeus de língua latina, a religião católica, a escravização dos africanos, bem como os processos de constituição de culturas e sociedades miscigenadas, além de seu posicionamento na geopolítica internacional, na qual podem ser identificados como países periféricos.
-Como se define América Latina? -O que há em comum entre os países?
-O que os separa? -O que sabemos sobre os países que compõem a América Latina? 
-Como a mídia brasileira aborda a América Latina? -Como isso interfere em nossas opiniões? 
-Nós, brasileiros, temos uma identidade cultural latino-americana?	
Utilizando esses critérios e tentando responder a estas e outras perguntas, a pesquisa em comunicação na América Latina pautou-se por incorporar metodologias estrangeiras no processo de análise da mídia nas sociedades que tinham em comum o atraso no desenvolvimento das forças produtivas, isto quando se comparava essas sociedades com as de países europeus e, mesmo com os EUA e Canadá. A partir do atraso, definem-se estas sociedades como: em desenvolvimento, subdesenvolvidas... Em sua primeira fase, os estudos em comunicação na América Latina buscaram revelar semelhanças no processo de implantação dos modernos meios de comunicação de massa em sociedades tradicionais. 
A questão do desenvolvimento é central para as sociedades latino-americanas, para as quais, o grande desafio seria vencer o atraso e atingir o pleno desenvolvimento, como ocorrera com os países centrais do sistema, As pesquisas realizadas a partir das metodologias utilizadas nos EUA entre os anos 1920 e 1960 ofereceram as primeiras perspectivas de análise de mídia e definiram um caminho para a pesquisa em comunicação, relacionando a mídia à modernização, ou seja, a expansão dos modernos meios de comunicação teria como foco eliminar o atraso, inserindo as sociedades em um ambiente moderno, próximo ao que ocorria nos países centrais.
 A geopolítica do mundo pós 1945, EUA X URSS, teve grande relevância para os estudos em comunicação na América Latina. O atraso dos países era explicado de diversas formas, uma delas “culpava” o modelo capitalista, que impedia o livre desenvolvimento dos países, impondo a “dependência estrutural”, que só seria eliminada com a eliminação do domínio capitalista.
O atraso dos países era explicado de diversas formas, uma delas “culpava” o modelo capitalista, que impedia o livre desenvolvimento dos países, impondo a “dependência estrutural”, que só seria eliminada com a eliminação do domínio capitalista. As revoluções socialistas ou comunistas que ocorreram na URSS, China e Cuba impactaram profundamente os países da periferia do sistema, nos quais partidos socialistas, movimentos sociais e intelectuais aderiram aos ideais socialistas comoforma de enfrentar os países centrais e suas formas de exploração, o que gerou uma reação dos EUA, que passaram a financiar projetos em comunicação, pesquisas na área e a colaborar com projetos de infra-estrutura, apresentando uma perspectiva de inserção no mundo moderno sem ruptura com os países centrais, gerando o que foi amplamente divulgado como american way of life, o modelo ideal de vida, que seria a sociedade de consumo da qual os EUA eram o melhor exemplo, pois o país havia superado o atraso e tornara-se a nação mais poderosa do planeta. 
Desenvolvimento e ideologia são temas centrais na análise de Mídia na América Latina, principalmente nas décadas de 1960 e 1970, período no qual diversos países da América Latina passaram por processos que levaram à implantação de ditaduras militares, para as quais, de acordo com estudos posteriores, a mídia teria contribuído, disseminando informações e apoiando projetos ditatoriais que fariam parte da ação imperialista dos EUA.
Os primeiros estudos em comunicação na América Latina ocorreram nos anos 1930, em paralelo ao que ocorria na Europa e nos EUA. No entanto, não se configuraram nesse período metodologia de estudos e definição de um campo de pesquisas, tendo como questões centrais os limites para a liberdade de expressão e análise da legislação específica para as práticas jornalísticas em sociedades marcadas pelo atraso. O jornalismo na América Latina seguia o modelo europeu e, no século XX, incorporou em suas práticas as características do jornalismo e da mídia dos EUA.
Adesão e Crítica às Matrizes Teóricas dos Países Centrais
A mídia latino-americana, organizada de acordo com o modelo norte-americano, foi objeto de pesquisa, a partir dos anos 1950, de um campo de estudos que se organizava e que, inicialmente, tinha como referência a pesquisa em comunicação realizada nos EUA. A teoria da modernização, o difusionismo e o referencial Estrutural Funcionalista foram apresentados a pesquisadores latino-americanos como metodologias apropriadas à pesquisa. Como afirma Canclini (1997, p. 11)
Os primeiros investigadores dos meios buscavam saber como eles fazem para manipular suas audiências. A súbita expansão do rádio, do cinema e da televisão levou a crer que substituíam as tradições, as crenças e solidariedades históricas, por novas formas de controle social.
Exemplo da utilização da abordagem desenvolvida no contexto do Mass Comucation Research dos EUA é o Ciespal – Centro Internacional de Estudios Superiores de Periodismo na América Latina, fundado no contexto da Aliança para o progresso, ação dos EUA para evitar a influência dos ideais socialistas na América Latina a partir da Revolução Cubana. Em 1959, inicia pesquisas em comunicação em Quito, Equador, país escolhido para ser uma espécie de laboratório de estudos, na medida em que poderia fornecer modelos de análise aplicáveis aos demais países. O empreendimento tem a participação da UNESCO – órgão da área de cultura e comunicação da ONU, OEA e governo do Equador, o que demonstra a articulação internacional para a pesquisa em comunicação na América Latina. O Ciespal ofereceu cursos para profissionais que atuavam nos Meios de Comunicação de Massa e realizaram pesquisas quantitativas e análise de conteúdo, metodologias amplamente utilizadas nos EUA no Ciespal, o modelo adotado foi o difusionista, ou seja, adotava-se as teses da necessidade de difusão da comunicação e da modernização como pressupostos para vencer o atraso. Tais pesquisas foram orientadas por pesquisadores dos EUA.
Ocorre, no entanto, que os pesquisadores que atuavam no Ciespal começaram a entender que as metodologias utilizadas como parte dos projetos de organismos internacionais não contribuíam para a análise da mídia em países dependentes. Havia contradições entre a participação da mídia nos processos políticos e estéticos e os interesses e a realidade dos países nos quais esta atuava.
 Pesquisadores do Ciespal organizaram um Seminário na Costa Rica em 1973, no qual redirecionaram as pesquisas do centro, orientando a substituição do modelo inspirado na pesquisa norte-americana por metodologias que possibilitassem a análise das estruturas de dominação que determinariam o funcionamento dos meios de comunicação, algo que não ocorria ao utilizarem as teorias funcionalistas, ou as focadas na difusão de inovações e modernização. Como parte do processo de crítica ao modelo implantado, professores latino-americanos substituíram os pesquisadores dos EUA que atuaram no trabalho realizado no Ciespal no período inicial.
Ainda no que poderíamos denominar como “primeira fase” da pesquisa em comunicação na América Latina, a implantação do Instituto Venezuelano ININCO, em 1959, representa uma vertente que não segue as orientações dos países centrais, ao propor estudos orientados por Antonio Pasquali e realizados por pesquisadores latino-americanos, com o objetivo de compreender o papel das novas tecnologias e mídia nas sociedades latino-americanas, considerando as características dos países e as diferenças destes no contexto sócio cultural.
Imperialismo Cultural, Denúncia e Resistência
Utilizando conceitos marxistas como ideologia, relações de poder, conflitos de classe, o CEREN influenciou a pesquisa em comunicação na América Latina, denunciando o Imperialismo cultural e o uso da comunicação nos processos de destituição de governos eleitos por meio de golpes e instalação de ditaduras militares. O CEREN foi financiado pelo governo chileno liderado pelo presidente eleito, Salvador Allende, que tinha uma pauta socialista. Pesquisadores europeus e latino- -americanos inseriram conceitos marxistas na análise da mídia, apresentando como conceito central o uso da mídia para a construção de uma ideologia favorável aos EUA, o que caracterizava o que passou a ser definido como Imperialismo Cultural, ou seja, a atuação de países centrais no campo da cultura com o objetivo de manter o domínio sobre os países periféricos.
O livro “Para ler o Pato Donald”, os autores analisam os produtos culturais da empresa de comunicação estadunidense Disney e identificam neles a presença da ideologia dos EUA, disseminada em historias em quadrinhos, programas para a televisão e para o cinema, nos quais haveria os valores do american way of life como o melhor para o mundo, em oposição aos valores socialistas defendidos pelo Governo Allende, por intelectuais e militantes de países latino-americanos.
O Golpe militar no Chile desfez o grupo, porém, de certa forma, confirmou as hipóteses deste, na medida em que a mídia foi amplamente utilizada no processo de deposição do Presidente Allende e de instalação da ditadura militar no Chile, aproximando a pesquisa em comunicação na América Latina das teses da Escola de Frankfurt, principalmente do conceito de Indústria Cultural, desenvolvido por T. Adorno e M. Horkheimer nos anos 1940. As ditaduras militares inviabilizaram a pesquisa em comunicação com viés crítico e democrático e os pesquisadores buscaram espaço para realização e publicação de trabalhos que contribuíssem para a compreensão do papel da mídia na organização da sociedade em países latino-americanos. O ILET – Instituto Latino-Americano de Estudios Transnacionales, reuniu pesquisadores que haviam atuado em diferentes países e centros de estudos. atuaram no ILET, produzindo e publicando análises com o objetivo de difundir propostas para a democratização dos Meios de Comunicação de Massa na América Latina. À proposta de sociedade de consumo difundida pela mídia hegemônica, as pesquisas indicavam a comunicação alternativa, pautada nas culturas populares, na teologia da libertação, nos movimentos sociais e na comunicação popular. A estas propostas, o sistema dominante respondeu com novos golpes militares ou maior violência e investimento em televisão, aparelhos repressivos e ideológicos.
Como terceira fase da pesquisa em comunicação na América Latina, os Estudos Culturais ingleses entraram em cena, ocupando o espaço anteriormente conquistado pela Pesquisa em ComunicaçãoNorte-Americana .Os Estudos Culturais foram referência para novas linhas de pesquisa ,introduzindo, também, o conceito de interdisciplinaridade, pois, de acordo com Canclini (1997, p. 12), referindo-se à obra de J. Martin-Barbero, este ercorre várias disciplinas. Dado que desloca a análise dos meios de massa até as mediações sociais, não é só um texto de comunicação. Bem informado sobre a renovação atual dos estudos sociológicos, antropológicos e políticos, parece um livro escrito para confundir os bibliotecários. Não está situado exclusivamente em nenhuma dessas disciplinas, porém serve a todas, por exemplo, seu original exame das noções de povo e classe, de como se complexificam estas categorias na sociedade de massa e as alterações que isto gera nos estados modernos. Sua explicação de como o rádio e o cinema contribuíram para unificar as sociedades latino-americanas e conformaram a idéia moderna de nação mostra quanto necessitamos dos estudos culturais para entender a política e ainda a economia
Como herdeiros do viés crítico, os pesquisadores apresentavam perspectiva que indicava a necessidade de transformação do Estado para que, a partir dele, fosse possível criar políticas nacionais de comunicação alternativas e a inserção da comunicação popular como elemento estruturador do processo.
De acordo com Bastos (2008, p. 86-89), As contribuições dos estudos culturais para o campo da comunicação têm na obra do espanhol naturalizado colombiano, Jesús Martín-Barbero, seu mais importante aporte teórico. Expoente do pensamento comunicacional latino-americano, sua proposta de passar dos meios às mediações forneceu subsídios para pensar a recepção fora do diagrama da teoria informacional. A abordagem culturalista de Martín-Barbero permite trabalhar a idéia de cadeias envolvendo produtores, produtos e receptores, compreendendo deslocamentos de significados entre as instâncias envolvidas. A ênfase muda da produção para a recepção, circuito que recodificaria os sentidos sociais.
Novas metodologias foram adotadas, incluindo a pesquisa-ação, que possibilitou aos pesquisadores contato com as atividades das classes subalternas. Autores como Jesus Martin Barbero e Nestor Garcia Canclini desenvolveram conceitos que adaptavam o referencial dos Estudos Culturais ingleses à realidade cultural latino-americana. Para estes autores, mediação e hibridismo foram conceitos que, a partir dos anos 1990 passaram a fazer parte de um campo menos definido que nos períodos anteriores. Mediação e hibridação substituem ideologia e dependência . A comunicação é estudada como parte da cultura, que, na América Latina, é marcada pelo hibridismo. Para Canclini (1997, p. 11), ao referir-se ao livro Dos Meios às mediações, de J. Martin-Barbero, uma referência para a pesquisa em comunicação realizada a partir da cultura
Com uma visão menos ingênua de como se alteram as sociedades e do que fazem com seu passado quando irrompem tecnologias inovadoras, indaga como se foi desenvolvendo a massificação antes que surgissem os meios eletrônicos: através da escola e da igreja, da literatura de cordel e do melodrama, da organização massiva da produção industrial e do espaço urbano.
Já os estudos de recepção procuraram evidenciar a cumplicidade do receptor com a dominação e com a resistência. Retomando a trajetória da pesquisa de mídia na América Latina, ressalta-se, a partir das concepções de BERGER (2001, p. 242-277) que:
1.Em relação às questões teóricas e contextuais, observa-se a implantação de metodologias de pesquisa em comunicação desenvolvidas nos EUA, com o funcionalismo no Ciespal. Posteriormente, ocorrem rupturas teóricas que distanciam os pesquisadores das metodologias dos EUA e os aproximam da pesquisa crítica, com viés marxista. O CEREN, instalado no Chile, faz parte dessa mudança; 
2. Quanto aos objetos de estudo e fundamentação teórica, é possível identifi car que a imprensa é objeto de pesquisa principal e que funcionalismo e marxismo são dominantes nas etapas iniciais e que, posteriormente, os Estudos Culturais ingleses passam a ser utilizados como principal referencial teórico. 
3. Ao compreender as relações de comunicação existentes nos países latino- -americanos e a impossibilidade de divulgar a produção teórica, principalmente aquela com viés crítico, no sistema de mídia dominante, foram criadas revistas e publicações acadêmicas ligadas aos centros de estudos em comunicação como importantes meios de divulgação das ideias e para infl uenciar as políticas públicas sobre comunicação. 17 UNIDADE Mídia, Cultura e Poder: A Comunicação na América Latina 
4. Intelectuais de diversas áreas e nacionalidades atuaram na pesquisa em comunicação na América latina. Os teóricos fundamentais são Armand Matellart, Antonio Pasquali, Luis Ramiro Beltran, Eliseo Verón e Paulo Freire. A comunicação é pensada como questão política, a partir de diferentes referenciais teóricos. A seguir, uma breve apresentação destes pesquisadores: a) Armand Mattelart: elabora crítica à pesquisa realizada nos EUA, que é, de acordo com sua análise, instrumental. Propõe análise da comunicação transdisciplinar com o objetivo de propor intervenção social e criação de comunicação alternativa. 
b) Antonio Pasquali: aplica as ideias da Escola de Frankfurt, associando-as ao conceito de dependência cultural. Denuncia a relação da Indústria Cultural e a estrutura de poder transnacional. Projetos de comunicação alternativa foram implantados na Venezuela a partir das pesquisas deste autor. 
c) Luis Ramiro Beltrán: denuncia o Imperialismo cultural dos EUA, que pretenderia assegurar e manter a dominação econômica e a hegemonia política sobre a América Latina. Os mecanismos utilizados seriam agências de notícias e de publicidade, empresas de opinião pública, de pesquisa de mercado e de Relações Públicas, produção impressa e audiovisual. 
d) Eliseo Verón: desenvolve pesquisa a partir da semiótica, associando-a a um caráter progressista e comprometido, o que gerou repercussão da teoria na América Latina. e) Paulo Freire: não elabora estudos do campo da comunicação, porém, contribui para a compreensão dos Meios de Comunicação de Massa como instrumentos de transmissão. De acordo com este autor, os meios tratariam os destinatários como receptores passivos, e, com isso, impossibilitariam relações dialógicas. 
5. A visão de ciência está fortemente atrelada à de ideologia, o que leva a pesquisa, na perspectiva crítica, a confundir-se com o comprometimento político, com a denúncia, tendo como inimigos o funcionalismo, a televisão comercial, os fluxos internacionais das notícias, as HQs, a estrutura transnacional de informação, o cinema de Hollywood, a Indústria Cultural, o imperialismo cultural. Os EUA eram os nossos inimigos. 
6. A pesquisa na América Latina pós denuncismo revela o esgotamento dessa estratégia, pois não bastava denunciar. Era preciso aprofundar o conhecimento dos mecanismos usados, por meio de metodologias de 18 19 fato autônomas, desvinculadas das teorias que têm origem nos países dominantes ou que as adaptem à realidade latino-americana. A nova geração de pesquisadores buscou alternativas e dois caminhos foram propostos: pesquisa-ação e trabalho realizado em colaboração com a UNESCO, que gerou o NOMIC – Nova Ordem Mundial da Informação e da Comunicação.
 7. As razões que orientaram a denúncia do papel da comunicação de massa na América Latina permanecem, mas os modelos teóricos mudaram. Funcionalismo e Escola de Frankfurt têm relevância, porém, a participação de pesquisadores em centros dedicados à pesquisa em comunicação ganhou perspectivas transdisciplinares realizadas em programas de pós-graduação com diversidade de objetos e de metodologias. 
8. A dependência estrutural destes países em relação àqueles do centro do sistema, analisada em estudos foi incorporada à pesquisa em comunicação na América Latina e influenciou diretamente as análises realizadas, que buscavam identifi car como tal dependência estrutural infl uenciava as culturas populares e aformação das sociedades, gerando o que foi descrito como cultura do silêncio e da submissão, resultante do atraso e da impossibilidade de exprimir opiniões divergentes e, também, de processos de resistência e luta para segmentos que não se identifi cam com os processos de constituição das culturas midiáticas na América Latina.

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