Buscar

Literatura fantástica(completo)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 34 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Literatura fantástica
O termo “fantástico”, presente no título deste verbete, é oriundo do latim phantasticus (-a,-um), que, por sua vez, provém do grego φανταστικός (phantastikós) - ambas as palavras provenientes de "fantasia". Refere-se ao que é criado pela imaginação, o que não existe na realidade. É aplicável a um objeto como a literatura, pois o universo da literatura, por mais que se tente aproximá-la do real, está limitado ao fantasioso e ao ficcional. Todo texto fantástico tem elementos inverossímeis, imaginários, distantes da realidade dos homens. Há, como defende Jorge Luis Borges, uma causalidade de caráter mágico ligando os acontecimentos ao decorrer de uma narrativa desse tipo.
Estudos
A literatura fantástica tornou-se, especialmente nas últimas décadas do século XX, um importante tópico da literatura contemporânea, sendo alvo de diversas análises literárias, nas quais se inclui a do livro O Fantástico (1988), de Selma Calasans Rodrigues, doutora em Letras e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na obra, Selma Rodrigues tenta introduzir o tema de uma maneira didática e sintetizada, devido às poucas páginas do livro (80 p.) e ao caráter da série à qual pertence, que é destinada principalmente ao público universitário que pretende ter uma visão geral sobre o tema.
A autora, logo no capítulo inicial, apóia-se em textos de dois autores consagrados da literatura fantástica, E. T. A. Hoffmann, Laura Esquível e Gabriel García Márquez, para conceituar e explicitar as semelhanças e as diferenças dos textos que, apesar de ambos pertencerem à literatura fantástica, apresentam características peculiares que os enquadram em diferentes concepções do gênero.
No segundo capítulo, Selma busca, ao longo da História, as relações entre literatura e realidade, apoiando-se desta vez em análises do escritor argentino Jorge Luis Borges e de Arvède Barine. Há também a seguinte distinção do gênero fantástico:
Fantástico lato sensu: refere-se a textos que fogem ao realismo estrito, tomando como referência o Realismo do século XIX. A partir desse ponto de vista, toma-se o Fantástico no seu sentido amplo, sendo assim possível afirmar que esta é a mais antiga forma de narrativa.
Fantástico stricto sensu: por se elaborar a partir da rejeição do pensamento teológico medieval e toda a metafísica, essa literatura teve suas origens no século XVIII, com o Iluminismo. Segundo o fantástico nasce daquilo que não pode ser explicado através da racionalidade e do pensamento crítico, como o complexo processo de formação dos indivíduos.
Já no terceiro capítulo, a autora passa a conceituar as diversas nomenclaturas utilizadas quando se refere à literatura fantástica, como o realismo mágico, o maravilhoso e o alegórico, que são posteriormente, no capítulo seguinte, utilizadas como apoio para comparar-se o Fantástico produzido na Europa com o Fantástico da “Hispano-América e Brasil”. De acordo com a autora, na literatura fantástica européia, ao contrário da produzida na América Latina, há uma preocupação em preservar o real quando algo sobrenatural ocorre, mesmo que a explicação apareça apenas no desfecho da obra. Visa-se, desta maneira, não se perder a verossimilhança, nem mesmo contestá-la. Já na literatura fantástica da América Latina, não há essa preocupação. Assim o verossímil funde-se com o inverossímil, o com o sonho, como ocorre no caso da obra de Gabriel García Márquez, citada no início do livro cem anos de solidão.
Gênero Fantástico	
O Fantástico é um gênero literário que invadiu o cinema, e que define narrativas ficcionais que possuem elementos não explicados pela lógica da nossa realidade. Ele agrupa três subgêneros: ficção científica, fantasia e o horror (ou Terror)
Definição
Tanto no cinema quanto na literatura o gênero fantástico possui as mesmas características: mortos andando entre os vivos, monstros das mais variadas formas, árvores, pedras e animais que falam etc., são uns dos eventos que não pertencem à nossa realidade. Nossa lógica não entende e não aceita tais fatos. Tzvetan Todorov cita em seu livro “Introdução à Literatura Fantástica”, que dentro da nossa realidade regida por leis, ocorrências que não podem ser explicadas por essas leis incidem na incerteza de ser real ou imaginário. Para Todorov, um evento fantástico só ocorre quando há a dúvida se esse evento é real, explicado pela lógica, ou sobrenatural, ou seja, regido por outras leis que desconhecemos. “Há um fenômeno estranho que se pode explicar de duas maneiras, por meio de causas de tipo natural e sobrenatural. A possibilidade de se hesitar entre os dois criou o efeito fantástico.” (TODOROV, 1968, p. 31).
Porém, a história não pode parecer de forma alegórica, pois, se o leitor ou espectador interpretar o sobrenatural como uma metáfora, num primeiro momento, ele perde o sentido fantástico. Deve haver uma pré-disposição do leitor para negar a alegoria e hesitar quanto à realidade do fato.
Ficção Científica
Ficção científica é uma forma de ficção desenvolvida no século XIX, que lida principalmente com o impacto da ciência, tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos. O termo é usado, de forma mais geral, para definir qualquer fantasia literária que inclua o factor ciência como componente essencial, e num sentido ainda mais geral, para referenciar qualquer tipo de fantasia literária. Em inglês o termo ficção científica é as vezes abreviado para sci-fi ou SF. Em português, é abreviado para FC.
Este tipo de literatura pode consistir numa cuidadosa e bem informada extrapolação sobre fatos e princípios científicos, ou abranger áreas profundamente rebuscadas, que contrariam definitivamente esses factos e princípios. Em qualquer dos casos, o ser de forma plausível baseado na ciência é um requisito indispensável, e assim obras precursoras deste género, como o romance gótico de Mary Wollstonecraft Shelley, Frankenstein, ou o Prometeu Moderno (1818), ou a obra de Robert Louis Stevenson, O Médico e o Monstro (1886) são considerados ficção científica, enquanto que Drácula, de Bram Stoker (1897), não é.
Há, evidentemente, muitos casos de obras que se situam na fronteira do género, usando a situação no espaço exterior ou tecnologia de aspecto futurista, apenas como decoração para narrativas de aventuras ou de romance, e outros temas dramáticos típicos; um bom exemplo será a série Star Wars (traduzida como Guerra nas Estrelas no Brasil e A Guerra das Estrelas em Portugal e outros países) e muitos filmes de acção produzidos por Hollywood.
Os fans da ficção científica hard verão estes filmes como exemplos de fantasia, enquanto que o público em geral tenderá a colocá-los no âmbito da ficção científica.
A ficção científica só se tornou possível pela ascensão da ciência moderna, sobretudo pelas revoluções operadas na astronomia, na fisica e na sexologia, pois tudo o que se pode pensar sobre ficção tem se relativo e sexo. Além da antiquíssima literatura fantástica, que não é considerada para o efeito, o gênero teve precursores notáveis: viagens imaginárias à Lua ou a outros planetas no século XVIII e viagens espaciais no Micromégas de Voltaire (1752), culturas alienígenas n'As Viagens de Gulliver de Jonathan Swift (1726), e elementos de ficção científica nas histórias de Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne e Fitz-James O'Brien, todos do século XIX. O verdadeiro início da ficção científica, contudo, dá-se no final do século XIX com os romances científicos de Júlio Verne, cuja ciência se situava ao nível da invenção, bem como com as novelas, cientificamente orientadas, de crítica social de H. G. Wells
Há outros precursores ilustres e mais antigos. O astrónomo Johannes Kepler (1571 - 1630) escreveu uma história, a que deu o título de Somnium (O Sonho), em que descreve uma viagem até outro planeta. Em 1656, o francês Savinien Cyrano de Bergerac escreveu Histoire Comique des États et Empires de la Lune, que relata também uma viagem até à Lua e a forma como os Selenitas vêem os terrestres.
O desenvolvimento da ficçãocientífica como género consciente de si próprio data de 1926, quando Hugo Gernsback, que cunhou a palavra combinada scientifiction (que se poderia traduzir para português como cientificção), fundou a revista Amazing Stories, dedicada exclusivamente a histórias de ficção científica. Publicadas nesta e noutras revistas pulp com um sucesso grande e crescente, tais histórias não eram vistas pelos sectores literários como literatura, mas sim como sensacionalismo. Com a chegada, em 1937, de um editor exigente, John W. Campbell, da Astounding Science Fiction (fundada em 1930) e com a publicação de contos e novelas por escritores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein, a ficção científica emergiu como uma forma de ficção séria. As aproximações ao género por escritores que não se dedicavam exclusivamente à ficção científica, como Aldous Huxley, C. S. Lewis e Kurt Vonnegut, também adicionaram respeitabilidade. Capas de revistas com monstros de olhos esbugalhados e mulheres seminuas preservaram em muitas mentes a imagem de sensacionalismo.
Assistiu-se a um grande incremento na popularidade da ficção científica a seguir à Segunda Guerra Mundial. Alguns trabalhos de ficção científica tornaram-se best-sellers. A crescente sofisticação intelectual do género e a ênfase em assuntos psicológicos e sociais mais latos alargaram de forma significativa o apelo da ficção científica junto do público leitor. Nos países anglo-saxônicos tomou-se consciência de ficção científica escrita noutras línguas, em especial na União Soviética e noutros países da Europa de Leste. É agora comum ver-se crítica séria ao género, e estuda-se ficção científica em instituições de ensino superior de várias partes do mundo (não no Brasil, no entanto), havendo especial interesse nas suas características literárias e na forma como ela se relaciona com a ciência e a sociedade.
Uma das características únicas do género é a sua forte comunidade de fãs, da qual muitos autores também fazem parte. Existem grupos locais de fãs um pouco por todo o mundo que fala inglês, e também no Japão, Europa e noutros locais. É frequente que estes grupos publiquem os seus próprios trabalhos. Existem muitas revistas de fãs (e também algumas profissionais) que se dedicam apenas a informar o fã de ficção científica de todas as vertentes do género. Os principais prémios da ficção científica, os Prémios Hugo, são atribuídos pelos participantes da convenção anual Worldcon, que é organizada quase exclusivamente por fãs voluntários. O trabalho dos escritores de ficção científica inclui previsões sobre sociedades futuras na Terra, análises das consequências da viagem interestelar e explorações imaginativas de outras formas de vida inteligente e das suas sociedades noutros mundos. A ficção científica também se tem tornado popular na rádio, na banda desenhada (histórias em quadrinhos, no Brasil), na televisão e no cinema.
Fantasia
Fantasia é um gênero que usa a magia e outras formas sobrenaturais como elemento principal do enredo, da temática e / ou da configuração. Muitos trabalhos dentro do gênero ocorrem em planos de ficção ou planetas onde a magia é comum. A fantasia é geralmente distinguida da ficção científica e horror pela expectativa de que ela fica longe de temas científicos e macabros, respectivamente, embora exista uma grande sobreposição entre os três gêneros (que são subgêneros da ficção especulativa).
Na cultura popular, o gênero da fantasia é dominado por sua forma medievalista, especialmente desde o sucesso mundial de "O Senhor dos Anéis", de J. R. R. Tolkien, de "As Crônicas de Nárnia", de C. S. Lewis, e mais recentemente, de "As Crônicas de Gelo e Fogo", de George R. R. Martin. Em seu sentido mais amplo no entanto, a fantasia inclui obras de vários escritores, artistas, cineastas e músicos que, a partir de antigos mitos e lendas, conquistam adeptos de vários partes do mundo.
A fantasia é uma vibrante área de estudo acadêmico em uma série de disciplinas (Inglês, estudos culturais, literatura comparada, estudos de história, medieval, teatral). Os trabalhos nesta área variam amplamente, a partir da teoria estruturalista de Tzvetan Todorov, que enfatiza o fantástico como um espaço liminar para se trabalhar sobre as conexões políticas, históricas e literárias entre o medievalismo e a cultura popular.
Horror
Oficialmente, o horror teve sua primeira definição na literatura como romance gótico ou, como Todorov chama, romance negro. Histórias que possuíam qualidades ligadas à literatura fantástica de provocar medo. Um critério abordado por H. P. Lovecraft, um dos principais nomes do horror literário, é o de utilizar a experiência do medo que o leitor possui para criar o temor.
A literatura gótica trabalha bastante com esse critério de Lovecraft. Criando um ambiente medieval, com castelos em ruínas, bosques escuros e sombrios e famílias da nobreza decadente, os textos góticos utilizam as crenças da época para produzir o horror. O Autor Gordon Melton comenta que o gênero gótico pode ser definido como “literatura de pesadelo”.
O gênero gótico era um tipo de romance popular do século XVIII, que continuou no século XIX, ele surgiu com o conto “O Castelo de Otranto” (The Castle of Otranto, 1763) de Horace Walpole. As histórias descrevem acontecimentos macabros, sobrenaturais, nos quais demônios, o diabo, vampiros, fantasmas cruzam com vítimas castas e puras em lugares incomuns, de preferência na época medieval e de noite ou em tempestades. Os seres sobrenaturais manipulam os fatos da narração transtornando a mente do personagem. Como mencionado antes, a vítima fica entre a razão e a crença até ser atacada pelas reais garras de seus vilões.
Tais histórias fantásticas forneceram ao cinema o contexto para a produção de filmes de horror. Esses filmes proporcionam a impressão da realidade e constroem o medo a partir das experiências do espectador. No entanto, os filmes de horror também trabalham com outros artifícios para criar a sensação de medo. O prolongamento do tempo é muito usado para produzir o suspense. Por meio da montagem, o cineasta alterna a imagem da vítima, que sossegada está alheia ao perigo iminente, com a imagem do monstro que vem ao seu encalço. Essa extensão do tempo deixa o espectador ansioso por ele estar onipresente, sabendo do destino da vítima e não podendo impedir. A fotografia também é usada para criar um ambiente de temor. O jogo de luzes e sombras engana as vistas espantadas do público deixando escapar alguns vultos do perigo iminente. Os ângulos de filmagens que transformam a câmera em uma personagem, apenas sugerem o perigo, não mostrando a situação toda. A sombra de uma garra na parede atrás da cama enquanto a heroína dorme cria a tensão. E finalmente, a música acentuada e gradativa emana a sensação de suspense. Um exemplo exageradamente citado, mas que comprova a importância da música, ou a falta dela, dependendo da situação, é o filme de Alfred Hitchcock “Psicose” (Psycho, 1960, EUA). A música no filme de Hitchcock é um personagem que junto com a câmera subjetiva antecipa o perigo. Esse efeito de pavor crescente tem seu auge quando finalmente o perigo se comprova e surge o monstro que ataca a vítima. Além das técnicas da linguagem, a maquiagem, as fantasias e efeitos especiais também auxiliam no susto.
O lado negro da imaginação humana, descrito nos romances góticos, foi revivido no cinema de horror por meio das inúmeras adaptações feitas de textos clássicos desse gênero literário. Notando que aterrorizando o público podiam lotar os cinemas, os cineastas fizeram vários filmes clássicos do terror, como “Frankenstein” (Frankenstein, 1931, EUA), “O Médico e o Monstro” (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1920, EUA), “O Corcunda de Notre-Dame” (The Hunchback of Notre Dame, 1923, EUA), “Carmilla, a Vampira de Karnstein”(The Vampire Lovers, 1970, Inglaterra). Porém, um dos títulos que, provavelmente, teve o de maior número de adaptações foi “Drácula” de Bram Stoker.
Aspectos da Literatura Fantástica
	
	
Na literatura, gêneroancestral, os povos imprimiram as imagens míticas que, ao longo dos séculos, permaneceram vinculadas à fé e ao ponto de vista de cada um. As histórias mitológicas evoluíram lado a lado com a filosofia e a expressão linguística, retratando a vida das divindades, dos protagonistas heroicos e de nossos ancestrais, enfim, dos modelos que habitam os arquétipos humanos.
Aos poucos, porém, com o desenvolvimento das civilizações e do pensamento científico, o sagrado perdeu sua importância central na história da humanidade; mas foi justamente nos relatos literários que ele sobreviveu, alimentando as tradições populares, se metamorfoseando, mudando de endereço, adaptando-se a novas formas e identidades. Desta forma surgiram as narrativas conhecidas como contos de fadas, histórias maravilhosas ou folclóricas. Na análise destas modalidades é possível encontrar os elementos míticos básicos, mesmo que, agora, eles não mais revelem sua essência sacralizada.
A expressão ‘fantástico’ provém do latim ‘phantasticus’, termo que, na verdade, procede do grego ‘phantastikós’; os dois vocábulos têm o sentido de ‘fantasia’. Pode-se então definir a literatura fantástica como a narrativa que é elaborada pelo imaginário, por uma dimensão supostamente inexistente na realidade convencional. Isto porque a literatura, por mais que se tente alicerçá-la no mundo concreto, ela sempre alça voo e se aproxima muito mais da imaginação e da ficção. O gênero fantástico está povoado de ingredientes improváveis, fantasiosos e atualmente desvinculados do cotidiano humano. Esta categoria narrativa está inevitavelmente associada aos acontecimentos maravilhosos, na opinião do escritor argentino Jorge Luis Borges.
Embora os mitos, histórias folclóricas e contos de fadas sejam os elementos básicos da literatura fantástica, muitos englobam nesta modalidade as narrativas góticas, os relatos de terror, a ficção científica e os enredos que contenham doses de fantasia. Ainda inclusos neste gênero estão os sub-gêneros denominados RPGs – Role-Playing Games, jogos que envolvem encenações, nas quais cada participante interpreta um determinado papel, tendo como cenários esferas ligadas ao mundo da imaginação.
A Literatura Fantástica revela-se no Classicismo, tanto nas expressões Líricas quanto nas criações Épicas. Durante a Idade Média as concepções cristãs e pagãs se defrontam também nas canções e na poesia dos trovadores. Nesta época surgem igualmente os ‘romances viejos’, os quais derivariam para a literatura cortês e as novelas de cavalaria. Nestas obras medievais é possível encontrar sem maiores dificuldades os famosos ingredientes do fantástico – seres heróicos, bruxos, aparições, animais fabulosos, objetos ligados à magia, criaturas elementais, conectados aos quatro elementos: as ninfas, silfos, elfos, goblins, duendes, gnomos, os quais habitam o ar, a água, a terra ou o fogo.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_fantástica
http://www.valinor.com.br/8283
Escritores de Literatura Fantástica
	
	
O gênero fantástico se relaciona a tudo que é gerado pelo imaginário, ao que não pertence à realidade convencional. Esta palavra é originária do latim phantasticus que tem sua fonte no idioma grego: phantastikós. O autor Jorge Luís Borges afirma que uma conexão entre causa e efeito de natureza extraordinária vincula os fatos ao longo de uma história fantástica. Isso vale tanto para um livro quanto para um filme desta espécie. Zumbis, criaturas monstruosas de toda espécie, árvores, pedras e animais falantes são alguns dos elementos não definidos como reais, pelo menos dentro dos parâmetros da razão humana, a qual não compreende e rejeita estes eventos. Um dos maiores teóricos desta corrente literária, Tzvetan Todorov, afirma em seu clássico Introdução à Literatura Fantástica, que no âmago de um real orientado por orientações legais, todos os acontecimentos não justificáveis por elas incorrem na hesitação entre a realidade e a imaginação. Assim, a fantasia só está presente nesta incerteza. Normalmente o gênero fantástico abriga três vertentes: a ficção científica, a fantasia e o horror. Aqui me restrinjo à fantasia; eu contemplarei as outras esferas em artigos específicos.
Autores e Obras de Literatura Fantástica
George R R Martin: A Morte da Luz; As Crônicas de Gelo e Fogo; Wild Cards; Night of The Vampyres; Shadow Twin; The Ice Dragon; A Song for Lya; Songs the Dead Men Sing; Fevre Dream; Songs of The Dying Earth.
J. R. R. Tolkien: O Senhor dos Anéis; O Silmarillion; O Hobbit; Sobre Histórias de Fadas; As Aventuras de Tom Bombadil; Roverandom; The Children of Húrin.
J. K. Rowling: Harry Potter; Harry Potter e a pedra filosofal; Harry Potter e a câmara secreta; Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban; Harry Potter e o cálice de fogo; Harry Potter e a Ordem da Fênix; Harry Potter e o enigma do príncipe; Harry Potter e as relíquias da morte; Os contos de Beedle, o Bardo.
C. S. Lewis: As Crônicas de Nárnia; Cartas de um Diabo ao seu Aprendiz; O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, (As Crônicas de Nárnia); Príncipe Caspian (As Crônicas de Nárnia). 
Hans Christian Andersen: O Improvisador; Contos (Contos de Fadas).
Lewis Carroll: Alice no País das Maravilhas; Alice no País do Espelho; Algumas Aventuras de Silvia e Bruno; Rimas do país das maravilhas; A caça ao Turpente; Obras escolhidas.
Marion Zimmer Bradley: A Dama do Falcão; A Espada Encantada; As Brumas de Avalon; A Filha da Noite; A Queda de Atlântida; A Colina das Bruxas. 
Allison Nöel: Os Imortais; Riley; Saving Zoë; Sonhos. 
Raphael Draccon: Dragões de Éter; Fios de Prata – Reconstruindo Sandman.
Eduardo Spohr: A Batalha do Apocalipse; Filhos do Éden: Herdeiros de Atlântida; Filhos do Éden: Anjos da Morte. 
Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_fant%C3%A1stica
http://www.jkrowling.com/pt_BR/#/works/os-livros/
http://ultimato.com.br/sites/jovem/2010/09/22/livros-de-c-s-lewis-publicados-em-portugues/
http://www.raphaeldraccon.com/blog/?page_id=2
O Fantástico e o cinema 
O relato alucinatório - Bráulio Tavares 
É um dos gêneros mais inquietantes da literatura fantástica, e embora tenha sido criado e cristalizado por grande parte dos autores românticos do século 18, eu diria que foi Edgar Allan Poe quem de fato o transformou numa obra de arte.  O relato alucinatório explora até as últimas conseqüências a técnica expressionista de nos mostrar o mundo através dos olhos de um personagem: vemos o que ele vê, sentimos o que ele sente.  Só que, no presente caso, o personagem está vivendo um estado alterado de consciência; e nós com ele.
Poe foi o mestre dos contos de dedução e raciocínio, mas foi também o mestre da alucinação.  Releia, leitor, obras arrepiantes como “O Gato Preto” ou “O Coração Revelador”.  Estamos na mente de um desequilibrado, e a medida do talento de Poe é como consegue nos transmitir essa sensação de desequilíbrio em dois personagens tão diferentes quanto os narradores destes dois contos.Outros mestres do gênero foram o alemão Hoffmann e o francês Maupassant – este último com o agravante de que estava de fato enlouquecendo, e muitos de seus contos refletem esse lento processo de deterioração mental.  No Brasil temos obras como a “Noite na Taverna” de Álvares de Azevedo, uma seqüência de episódios arrepiantes que, no entanto, se focalizam mais na crueldade do que propriamente na alucinação.  Temos “Noite” de Érico Veríssimo, a história de um homem amnésico vagueando pela madrugada insone de Porto Alegre.  Temos os romances de Campos de Carvalho, especialmente “A Chuva Imóvel” e “Vaca de Nariz Sutil”, narrativas na primeira pessoa que nos deixam perceber apenas alguns vislumbres do mundo do lado de fora da mente do narrador.
O relato alucinatório tem um ritmo narrativo próprio, em que o que nos é dito parece fazer sentido mas logo em seguida cai do céu um episódio surrealista ou uma situação absurda.  Quando imaginamos perceber o que está acontecendo, o tapete é mais uma vez puxado de sob nossos pés, e mergulhamos novamente no caos mentaldo protagonista.  Grande parte dessas histórias recorre à primeira pessoa narrativa como uma maneira mais eficaz e mais direta de aprisionar o leitor dentro da gaiola mental do personagem que narra. No cinema temos também exemplos da mesma técnica, como nos filmes de David Lynch (“Veludo Azul”, “Cidade dos Sonhos”), filmes que exigem muito do espectador, não no sentido banal de “dar uma explicação” para o que está acontecendo, mas no sentido de aceitar as regras do jogo, fazer o investimento de atenção e de energia emocional necessários à absorção da história, mesmo sabendo que de tantos em tantos minutos tudo aquilo irá se negado pelo narrador.  O cinema é particularmente propício a esse tipo de relato, por não exigir o esforço de concentração que a leitura exige.  No cinema, que não passa de uma alucinação controlada por imagens e sons, o relato alucinatório encontra sua melhor expressão.
A Construção do fantástico na literatura
Luís Cláudio Nogueira Pedra[1]
Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora
Resumo
As teorias que regem o fantástico são objetos de estudo desde o século XX, muito já se estudou e muito já se disse, porém algo que inquieta a mente e o espírito do ser humano é a busca pela resposta que alivie a sua existência, diante das incertezas materiais e espirituais, ou seja, buscar o real pelo sobrenatural.
É muito difícil marcar com exatidão o início do contar estórias, por isso, o mais adequado é permanecer com a hipótese que nos remete a tempos muito antigos, que ainda não são conhecidos pela tradição escrita. Alguns estudiosos como o grande escritor argentino Jorge Luís Borges, são precisos em afirmar que a forma mais antiga de se narrar estórias é a fantástica, gênero o qual o fez ser conhecido no mundo das letras e pelo qual ele nutre grande apego.  Borges afirma: “que os romances realistas começaram a ser produzidos no fim do século XVIII, início do século XIX, enquanto toda a forma de contar seja ela oral ou escrita, começaram com a narrativa fantástica”.
O presente artigo tem por objetivo fazer um passeio sobre a história da narrativa fantástica até o século XVIII, mostrando que este gênero literário não se prende a uma definição categórica, mas sim, que ele vem atravessando os séculos e tomando as mais variadas formas, ou seja, por ser a subversão do racional e por a razão passar por reajustes conceituais, o fantástico passa por diferentes situações.
Situações que misturam a razão, o real, a fé e o sobrenatural, questões que mexem com os dramas dos indivíduos.
Palavras- chave: Literatura Fantástica; Literatura do medo; Literatura gótica.
 Resumen
Las teorias que llevan el fantástico son objetos de estudió desde el siglo XX, mucho ya se estudió y como también ya lo han dicho, pero algo que alborota la mente y el espiritú del ser humano es la búsqueda por las respuestas que alivie su existencia, delante de las incertidumbres materiales y espirituales, o sea, buscar el real por el sobrenatural.
Es difícil saber con verdadera exactitud cuando fue el comienzo del contar historias, por eso, debemos quedarnos con la hipótesis que nos lleva a tiempos demasiado antiguos y que no son conocidos por la tradición escrita. Algúns estudiosos como el gran escritor argentino Jorge Luís Borges afirman que la forma más antigua de narrar historias, es la fantástica, género que lo hizo conocido en el mundo de las letras y por lo cual tiene gran simpatía. Borges asegura que: “ los romances realistas fueron escritos en el fin del siglo XVIII, comienzo del siglo XIX, mientras toda forma de contar sea ella escrita u oral, empezarón con la narrativa fantástica”.
Este artículo tiene por objetivo hacer un passeo por la historia de la narrativa fantástica hasta el siglo XVIII,enseñando que este género literário no se queda atrapado en una definición categórica, eso es, que el fantástico ha cambiado por los siglos y tiene adquirido muchas formas, o sea, por la subversión del racional y por la razón pasar por cambios conceptuales, el fantástico pasa por distintas situaciones.
Situaciones que mezclan la razón, la realidad, la fé y el sobrenatural, cuestiones que revolven los dramas de las personas. 
Palabras- llave: Literatura Fantástica; Literatura del miedo; Literatura gótica.
O Fantástico na Literatura
Antes das primeiras ideias de literatura realista, achava-se que todo escritor referia-se a passados remotos, a lugares longínquos tirados de sua imaginação, e de fatos bem distantes da realidade da qual se encontravam os mesmos. A simples ideia de que os autores deviam ter compromisso ao narrar os fatos de sua época, e de escrevê-los de forma mais parecida com a realidade, é algo mais recente. Há estudiosos que acreditam que no começo toda forma de fazer literatura era fantástica. Em seu livro, O Fantástico (1988), a professora Selma Calasans Rodrigues relata a opinião do célebre escritor argentino Jorge Luís Borges, que ao ser perguntado sobre o porquê da sua preferência pelo gênero fantástico, ele respondeu que, se baseia no fato inelutável de sua antiguidade: Os romances realistas começaram a ser elaborados nos princípios do século XIX, enquanto todas as literaturas começaram com os relatos fantásticos. (Monegal,1975 apud Rodrigues,1988,p.12). Seguindo a corrente de Borges, têm-se Louis Vax (1970), Marcel Schneider (1964), Emir Rodríguez Monegal (1980), e outros que também acreditam que toda literatura no seu início era fantástica.
No mesmo livro, a autora diz que acredita que uma grande parte, ou, se não, a maioria dos estudiosos concordam que o fantástico nasceu entre os séculos XVIII e XIX, citando alguns teóricos como: Joseph Restinger (1973), Roger Caillois (1967), Tzvetan Todorov (1970), entre outros.(p.17) Jose Paulo Paes em sua introdução à obra Os Buracos da Máscara (1985), citado por Irene Severina Rezende, em sua tese de doutorado intitulada: O fantástico no conceito sócio-cultural do século XX: José J. Veiga (Brasil) e Mia Couto (Moçambique), (2008) afirma que “[...] Não é por acaso que tal romance aparece no final de um século conhecido como o século das Luzes ou o século filosófico. Nele, a Razão assume o mesmo poder dos monarcas do direito divino a fim de esconjurar como fruto da superstição, da ignorância, da sandice tudo quanto não fosse passível de imediata explicação racional ou natural, já que, àquela altura, Razão e Natureza coincidem simetricamente. No seu extremado racionalismo o século XVIII se opôs, de modo frontal e de caso pensado, àquela a que chamava com desdém era do obscurantismo. Vale dizer,a Idade Média.(p.26)”.
Ainda para (Paes,1985 apud Rezende, 2008): o século XVIII, ou século das Luzes foi marcado pelo pensamento racional, época em que os filósofos contestavam e questionavam as ideias irracionais, as superstições e até mesmo atingiam a religião questionando os dogmas da fé. A igreja embebida pelo pensamento racionalista começava a investigar de forma bem detalhada os milagres apresentados pela população. É neste furor de racionalismo que surge a literatura fantástica, contestando tudo aquilo que era racional.
As diversidades de opiniões sobre o nascimento do fantástico são grandes e elas vão de encontro, desde a forma como o gênero nasceu até como ele se subdivide, como afirma Rodrigues (1988), em seu livro existe a corrente que vê o fantástico de forma mais ampla, onde estão incluídos Borges, Monegal, Vax, Schneider, estes estudiosos fazem parte da corrente que trata o fantástico como Latu Senso[2]. Esta corrente afirma que antes do realismo estrito do século XIX, os textos não tinham compromisso em narrar histórias reais, comprometidas com o dia a dia, e que sendo assim, a forma mais antiga de contar histórias é a forma fantástica.
Já a segunda corrente a qual a autora se refere é a corrente do fantástico Strictu Senso[3], corrente cuja própria autora acredita ser bem maior que a primeira e onde podemos encontrar: Restinger (1973), Caillois (1967), Todorov (1970), sendo alguns dos teóricos que fazem parte deste pensamento. Pensamento esteque diz por se elaborar a partir da rejeição do pensamento teológico medieval, essa literatura teve origem no século XVIII, com o iluminismo. O Fantástico nasce daquilo que não pode ser explicado pelas leis naturais, através da racionalidade e do pensamento crítico.
E essa incessante busca e discussão pelo entendimento maior do fantástico fez com que vários teóricos tentassem conceituar de um modo mais específico e rigoroso o gênero fantástico, mas o fantástico, ao que parece se rebela e não se prende quanto a uma definição mais categórica. O próprio Todorov, segundo Flávio Carneiro em Viagem pelo fantástico, do livro Os melhores contos fantásticos de Flávio Moreira da Costa (2006) alerta para a impossibilidade da conceituação absoluta de uma ficção que vem atravessando os séculos e tomando as mais variadas formas, ou seja, por ser a subversão do racional e por a razão também passar por reajustes conceituais o fantástico passa por diferentes situações se transformando com o tempo.
Esse fantástico que segundo Selma Calasans Rodrigues, se elabora a partir do século XVIII, quando grande parte das narrativas tinham como temática fantasmas e seres sobrenaturais, tendo continuidade no século XIX, onde o que reina são temas ligados à loucura e as alucinações e que , através dos teóricos do século XX, se transforma com o surgimento de novas tentativas de estabelecimento das diferenças entre o fantástico, o maravilhoso e o estranho.
Quando o texto proporciona a incerteza entre a razão e o mistério, fazendo com que o racional se depare com o sobrenatural, colocando o leitor num momento de hesitação, diante das explicações objetivas, causando no mesmo à dúvida entre o real e o imaginário, acentuando essa ambiguidade, têm-se neste momento segundo Todorov (1970), o fantástico ocorrendo nesta incerteza; já que no momento em que o leitor escolhe uma ou outra resposta, ele deixa o fantástico, para entrar no gênero estranho ou no maravilhoso, ou seja, o fantástico é o momento da hesitação experimentada por um ser que só conhece as leis naturais, em face a um acontecimento sobrenatural.
No conto de Afonso Arinos, Uma noite sinistra, que faz parte do livro Os melhores contos fantásticos organizado por Flávio Moreira da Costa (2006), pode-se experimentar em alguns trechos um pouco deste momento de hesitação, de dúvida por meio do qual o escritor quer fazer com que o leitor se submeta,fazendo com que o mesmo se pergunte se os acontecimentos têm origem natural, terrena, se podem ser dadas explicações físicas, ou se estas ações são de cunho fantasmagórico, sobrenatural.
O conto trata de um arrieiro que certa noite ao explorar uma fazenda antiga, que num primeiro momento não parece ser mal-assombrada, mas o personagem com decorrer da narração acredita piamente que está sendo alvo de deboches, de brincadeiras e de armações de seres sobrenaturais. O autor, através do personagem Manuel não deixa claro para o leitor se todo acontecimento é realmente sobrenatural, se há interferência de fantasmas, assombrações ou se é apenas a imaginação do próprio arrieiro, que passa a ver no real o sobrenatural. Descrevendo assim
“[...] Entrou. Viu a sala da frente, sua rede armada, e, no canto da parede, embutido na alvenaria, um grande oratório com portas de almofadas entreabertas. Subiu a um banco de recosto alto, unido à parede, e chegou o rosto perto do oratório, procurando examiná-lo por dentro,quando um morcego enorme,alvoroçado, tomou susto, ciciando, e foi pregar-se ao teto, donde os olhinhos redondos piscaram ameaçadores.
- Que é lá isso, bicho amaldiçoado? Com Deus adiante e compaz na guia, encomendando Deus e a Virgem Maria!...[...] (p.632).”
No trecho acima Manuel Alves explora a casa totalmente escura e chega a sala onde há um oratório de madeira embutido na alvenaria. Quando o arrieiro aproxima o rosto do oratório tentando examiná-lo mais de perto, um grande morcego alvoroçado sai voando de dentro do móvel, dando um grande susto no arrieiro e fazendo com ele use frases de esconjuro. O autor neste momento descrevendo a cena quadro a quadro, da á impressão de que o personagem esteja se movimentando bem devagar, passo a passo, naquele cômodo e vai esmiuçando detalhes da chegada do arrieiro perante o oratório, criando um suspense quanto ao que poderá vir a acontecer. Quando o próprio autor desfaz o clímax e diz ao seu leitor que era apenas um morcego alvoroçado. Mas ao mesmo tempo Arinos já dá uma pista de que algo sobrenatural estará ou não por acontecer, no momento em que Manuel ao levar o susto e pronunciar uma frase de esconjuro. Analisando este trecho do conto poderíamos afirmar que o autor com a explicação racional, teria adentrado ao gênero estranho. Gênero que será estudado junto com o maravilhoso mais a frente. Já no segundo trecho do conto “[...] A janela, num grito estardalhaçante, escancarou-se e uma rajada rompeu por ela adentro latindo qual matilha enfurecida; pela casa toda houve um talatar das portas, um ruído de reboco que caí das paredes altas e se esfarinha no chão. [...] (p.633)”.
Pode-se notar que o escritor se utiliza do recurso da prosopopéia, que é a figura de linguagem que atribui a objetos inanimados, qualidades dos seres vivos para deixar o conto com um certo “ar” mais sobrenatural. Logo em seguida no trecho abaixo o autor nos leva ao sobrenatural, narrando que Manuel Alves, ouve gargalhadas sarcásticas, sente umas pancadinhas assustadas e algo fazendo psiu, psiu, psiu! tudo isso acontece em um salão vazio de um casarão escuro, somente banhado pela luz da lua, todos esses ingredientes podem levar o leitor a um primeiro momento optar por uma explicação sobrenatural dos fatos ocorridos “[...] Pouco depois, um estrépito medonho abalou o casarão escuro e a ventania – alcatéia de lobos rafados – investiu uivando e passou a disparada, estroando uma janela. Saindo por aí, voltaram de novo os austros furentes, perseguindo-se, precipitando-se, gargalhando sarcasticamente pelos salões vazios. Ao mesmo tempo, o arrieiro sentiu no espaço um arfar de asas, um soído áspero de aço que ringe e, na cabeça, nas costas, umas pancadinhas assustadas. Pelo espaço todo ressoou um psiu, psiu, psiu!... e um bando enorme de morcegos sinistros torvelinhou no meio da ventania.[...](p.634)”.
E em outro trecho Manuel, acha que é tudo obra do maligno “[...] Começou a sentir que tinha caído num laço armado, talvez, pelo maligno. De vez em quando, parecia-lhe que uma cousa lhe arrepelava os cabelos e uns animálculos desconhecidos perlustravam seu coro em carreira vertiginosa. Ao mesmo tempo, um rir abafado, uns cochichos de escárnio pareciam acompanhá-lo de um lado e de outro.
- Ah! Vocês não me hão de levar assim, não! – exclamava o arrieiro para o invisível. – Pode ser que eu seja onça presa na arataca. Mas eu mostro! Eu mostro!”
Afonso Arinos brilhantemente joga a todo momento com a percepção do leitor brincando com o texto, ora ele dá uma explicação racional aos acontecimentos, podendo ser o vento, os morcegos e outros animais que vivem naquele casarão, todos esses elementos acrescidos da escuridão e da solidão do personagem, podem mexer com a imaginação do arrieiro. Em outro instante o autor deixa o leitor a cargo do sobrenatural, através das gargalhadas sarcásticas em salões vazios, de cochichos de escárnio, um rir abafado, ou no momento em que Manuel desafia a suposta assombração.
É neste momento em que leitor decide optar por qual explicação aceitar, se tudo aquilo não passa de simples imaginação do arrieiro e que aqueles fatos têm explicação natural ou se era algo realmente sobrenatural, neste exato momento de indecisão têm-se o fantástico e Todorov, (1970), lembra que esse momento de hesitação do leitor é muito frágil que pode sumir a qualquer minuto e que á dúvida se concentra na experiência particular do leitor e que o texto obrigue o leitor a considerar o mundo dos personagens como um mundo de personagens vivos. Tveztan Todorov, mostra que o fantástico não é uma ciência exata, que a resposta correta está nofim da sentença, mas sim,que o gênero fantástico é adaptável se transforma e joga com o leitor, faz com que o leitor participe da narrativa mexendo com sua credulidade e colocando-o em dúvida quanto aos fatos.
Palavra do latim phantasticu, que se originou do grego phantastikós, os dois oriundos da palavra phantasia. Que segundo Rodrigues, (1988): refere-se ao que é criado pela imaginação, ao que vêm da fantasia, o que não existe na realidade. Aplica-se portanto a um fenômeno de caráter artístico, como é a literatura, cujo o universo é ficcional, por mais que se queira aproximá-la da realidade. Diferente de magia, que é uma forma de interferir na realidade, já que a definição de magia segundo a autora é arte ou ciência oculta com que se pretende produzir, por meio de certos atos e palavras, e por interferência de espíritos, gênios e demônios, efeitos e fenômenos extraordinários, contrários ás leis naturais. E ainda segundo Rodrigues (1988) a literatura pode se utilizar de uma causalidade mágica que se opõe à explicação oferecida pela lógica científica, mas ela não é mágica. O texto pertence a literatura fantástica, já que o termo fantástico se aplica a fenômenos artísticos, como a literatura.    Essas histórias fantásticas mesmo que ficcionais, intrigaram e ainda intrigam gerações, fazendo com que o ser humano busque incessantemente explicações para aqueles “fatos” que ele não consegue compreender sob à luz das leis naturais, dando espaço na literatura para o surgimento da literatura fantástica. Literatura essa que encontrou no horror e no medo incutido no século XVIII um amplo e vasto caminho para o seu nascimento e desenvolvimento.
2. O Início da Literatura do Medo. 
O escritor e teórico do século XX, H.P. Lovecraft em seu livro: O Horror Sobrenatural em Literatura (2007) afirma que a literatura fantástica é a literatura capaz de despertar o medo no leitor e no mesmo livro, ele afirma que a emoção mais antiga e mais forte incutida no ser humano desde a antiguidade é o medo, e o medo mais poderoso é o medo do desconhecido, ou seja, a história de horror é tão antiga como o pensamento e a fala humanos. E o escritor de histórias de medo, para ter sucesso em suas narrativas, faz o papel de conduzir o leitor a uma sensação de pavor. O medo segundo H.P.Lovecraft (2007) é algo que nos causa uma sensação de satisfação, desde que o leitor no decorrer da narrativa se identifique com o personagem através de sustos, calafrios, desassossego, impotência e fatalidade. Criaturas sobrenaturais vivem em outra dimensão espreitando nossas fraquezas, esperando um pequeno vacilo para cruzar o portal que divide os dois mundos, o mundo espectral do mundo humano para nos fazer de vítimas principais, verdadeiros sacrifícios humanos. E é nesta fantasia que o medo do desconhecido aparece, ele vêm e vai, jogando com a ambiguidade da  tensão e do prazer. Esse fato juntando-se ao medo do desconhecido podem explicar porque a literatura de horror conserva admiradores desde a antiguidade.
O terror, o medo e o horror aparecem nos folclores e nas sociedades mais primitivas; eles fazem parte do desenvolvimento de todas as raças, ficando incrustados nas narrativas e nos escritos sagrados mais antigos. Para H.P.Lovecraft (2007) eles eram, aliás, uma característica saliente no elaborado cerimonial mágico com seus rituais para a evocação de demônios e espectros que floresceu desde tempos pré-históricos e atingiu seu apogeu no Egito e nas nações semitas. Para Rezende (2008), citando o estudioso Adolfo Bioy Casares, o fantástico é um gênero muito antigo, que nos remete a tempos que não estão em nossas memórias e que nessas narrativas fantásticas, os autores já usavam o medo como um dos recursos técnicos principais para o entretenimento do público leitor. E o escritor afirma que “Velhas como o medo, as ficções fantásticas são anteriores à literatura. As assombrações povoam todas as literaturas: estão na Zendavesta, na Bíblia, em Homero e Nas Mil e uma Noites. Talvez os primeiros especialistas no gênero foram os chineses. O Admirável Sonho do Aposento Vermelho e até novelas eróticas e realistas, como Kin Ping Mei y Sui Hu Chuan, e até os livros de filosofia, são ricos em fantasmas e sonhos”. (Casares, 1965 apud Rezende, 2008, p.28).
Peter Penzoldt (1952) em seu estudo The Supernatural in fiction, tese de phd, defendida aos 24 anos,afirma que: com exceção dos contos de fadas, todas histórias sobrenaturais ,são histórias de medo, que nos obrigam a perguntar se o que se crê ser pura imaginação não é, no final das contas realidade. (Penzoldt,1952 apud Rezende, 2008. p.28). As histórias de horror são tão antigas como o próprio ser humano, tão velhas como o próprio sentimento do medo, elas estão cristalizadas em nosso dna, formaram pilares para a formatação de toda uma cultura, moldaram homens e mulheres, crianças e idosos, ricos e pobres, foram e se constituíram  parte importante na construção da sociedade, elas sobreviveram ao longo dos séculos, pois o medo, o terror, o horror, são sentimentos que vivem dentro do homem, que já fazem parte da sua história e do seu espírito. Para Lovecraft (2007).
A Idade Média, imersa em trevas propícias à fantasia, deu um enorme impulso em sua expressão, e tanto Oriente como Ocidente se empenham em preservar e ampliar a herança sobrenatural seja do folclore aleatório, seja da magia e cabalismo academicamente formulados que a ele desceram. Bruxas, lobisomens, vampiros e demônios necrófagos, incubaram, sinistros, nos lábios de bardos e velhas, e não precisaram de grande estímulo para dar o passo final cruzando a fronteira que separa o canto ou a história rimada da composição literária formal.(p.19-20). Lovecraft explica a diferença entre o fantástico do Oriente, um fantástico “colorido e deslumbrante” e o do Ocidente, que foi um fantástico envolto em uma aura de terror e de mistério. No Oriente, a narrativa fantástica tendeu a assumir um colorido e vivacidade deslumbrante que quase transmudou em completa fantasia. No Ocidente, onde o místico germano descera de suas escuras florestas boreais e o celta recordava estranhos sacrifícios em bosques druídicos, ela assumiu uma intensidade terrível e uma convincente seriedade de atmosfera que duplicaram a força de seus horrores meio narrados, meio sugeridos. (p.20). No Ocidente, muito deste horror que assolava pessoas se deu por conta dos rituais de fertilidade: cultos profanos que usavam a noite para seus encontros. Sociedades secretas, seitas e religiões, como a religião de Íbis[4], eram transmitidas de gerações a gerações, crenças druídicas e cristãs, eram marcadas por sabás[5] em florestas solitárias, nos Halloweens[6] e nas estações de procriação de ovinos, bovinos e caprinos. Todas essas crenças se tornaram um extenso material para as lendas de feitiçaria, onde as bruxas faziam pactos com Satã para obtenção de seus desejos e a famosa “Missa Negra”[7], artífice da teologia invertida de adoração a Lúcifer. O enraizamento do espírito medieval de horror na Europa apesar dos pequenos progressos tecnológicos aumentou ainda mais, com as crises de doenças e pestes que assolavam um continente que, apesar de ser mais desenvolvido que outros do hemisfério Ocidental, carecia naquela época de um enorme avanço nas mais variadas áreas da ciência e tecnologia. É de suma importância lembrar que, naquele período, letrados como pessoas incultas acreditavam nos acontecimentos sobrenaturais para o bem, como as doutrinas benévolas da Cristandade, e também para o mal como aberrações de bruxarias e magia negra. Lovecraft (2007), diz que não foi de um passado vazio que mágicos e alquimistas da Renascença – Nostradamus[8], Dr. John Dee[9], Robert Fludd[10], e outros – surgiram.
Nesse terreno maravilhoso, nutrido por lendas e mitos sombrios, a literatura fantástica vive até hoje, apenas disfarçada pelas modernas técnicas de escrita, sendo que muitas narrativas fantásticas foram tomadas emprestadas de fontes orais antigas e que agora fazem parte do legado deixado pelos antigos para humanidade.Na Idade Média, em geral, pode-se perceber uma grande importância dada ao demoníaco no espírito do público leitor, uma influência muito intensa pelo medo real da bruxaria, cujo pavor mais intenso, começa a tomar forma no continente Europeu com as cruzadas de caça às bruxas. A tudo isso ainda deve-se somar os tratados sobre bruxaria e demonologia, que tem papel preponderante na imaginação já fértil do leitor com o passar dos anos, porém o público leitor que constituía as camadas mais altas da população começava a perder a fé no sobrenatural pendendo para o lado do racionalismo. Ressurge o sentimento romântico, com um novo tipo de exaltação da natureza e um deslumbramento com os tempos antigos. Isso faz com que os escritores promovam novas formas de assombro e horror, projetando uma nova forma de escrita para os contos fantásticos, a novela gótica, seja ela em prosa longa ou curta, esta escrita está destinada a crescer em número e em beleza de recursos técnicos de suas narrativas. Segundo Lovecraft (2007) quando se pensa nisso, é realmente notável que a narrativa fantástica como forma literária fixa e academicamente reconhecida tivesse um surgimento final tão tardio. Já que o impulso e a atmosfera são tão antigos quanto aos primórdios da humanidade, mas às histórias fantásticas típicas da literatura padrão são filhas do século XVIII.
 3. A Literatura Gótica do Século XVIII
 	As paisagens assombradas, a dança das bruxas, o obscuro demonismo, são apenas amostras da riqueza da literatura fantástica no século XVIII; a maioria das narrativas daquele século, eram baseadas em uma literatura recheada de histórias de fantasmas e seres sobrenaturais em fim era uma literatura que causava medo. Para Oliveira (2010) o gótico foi a primeira literatura que pode ser chamada de “terror/horror”, com o uso consciente dessas emoções a fim de causar medo ou apreensão.
Já para Lovecraft (2007) a literatura do século XVIII, aproveitando-se do medo existente nas pessoas, obteve o momento ideal para a criação de um tipo inovador de cenários, com castelos góticos com sua antiguidade espantosa, vastas distâncias e ramificações, alas desertas e arruinadas, corredores úmidos, catacumbas ocultas e uma gama de fantasmas e lendas apavorantes que criavam um clímax de suspense e de um pavor demoníaco no público leitor. E ainda para o mesmo autor foi um jovem mundano inglês, chamado, Horace Walpole, que tinha uma paixão pelos romances e mistérios medievais, que deu um grande impulso a esse tipo de literatura do século XVIII, com a publicação, em 1764, de O Castelo de Otranto[11] que obteve grande sucesso na sua primeira edição e poucos meses depois viria à acrescentar no subtítulo da segunda edição da obra o termo: A Gotich History. Uma história sobrenatural, que exerceu grande fascínio em um público carente das verdadeiras narrativas de horror, que a receberam com muita seriedade e que obteve um grande sucesso e que logo viria a se tornar um marco sem precedentes na literatura sobrenatural, estimulando de várias formas uma escola imitativa do gótico, que viria a inspirar vários escritores, dentre eles Edgar Allan Poe.
A literatura gótica pertenceu a um período quando as narrativas desafiavam tudo o que era racional, em prol de fatos fantasiosos. Para Jefferson Donizetti de Oliveira, (2010), citando Sandra Vasconcelos (2007), em sua dissertação intitulada Um sussurro nas trevas: Uma revisão da recepção crítica e literária de Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo o gótico surge para perturbar a superfície calma do realismo e encenar os medos e temores que rondavam a nascente sociedade burguesa e que o romance gótico seria a resposta aos medos e incertezas experimentados neste período. A literatura gótica surgiu para questionar a razão, demonstrando que o mundo não era tão organizado e belo quanto os racionalistas propunham e que cada ser humano tinha seu lado obscuro, sua faceta ainda desconhecida. Os romances góticos deveriam envolver o leitor no conto, propondo um exagero de emoções e um ambiente mais escuro, cheio de dor, perigo, provocando prazer no leitor. Para Oliveira (2010), citando Edmund Burke (1757). Tudo que seja de algum modo capaz de incitar ideias de dor e de perigo, isto é, tudo que seja de alguma maneira terrível ou relacionado ao terror constitui uma fonte do sublime, isto é, produz a mais forte emoção do que o espírito é capaz. Digo a mais forte emoção, por que estou convencido de que ideias de dor são muito mais poderosas do que aquelas que provêm do prazer. (p.120). O sublime segundo Burke é despertado no ser humano através de sentimentos obscuros como: escuridão, incerteza, medo, provocando emoções mais fortes do que podemos suportar. Porém esse “horror”, só se torna prazer quando nos colocamos a uma distância segura do perigo, ou seja, no caso do século XVIII, as histórias de terror, onde o leitor não entra em contato físico com o perigo, sendo apenas expectador.  As histórias de terror do século XVIII, viriam a ser objetos de estudo para os psicanalistas e até hoje elas servem de modelos para as histórias de terror atuais. Os escritores góticos juntaram a suas histórias de além túmulo um pouco de romances sentimentais, misturando-os com a definição de sublime de Burke, criando assim a ficção gótica. Conforme Sandra Vasconcelos, os autores da literatura gótica “[...] pintaram o tema da inocência perseguida e o romance doméstico e sentimental, com tons mais escuros, adicionando-lhes figuras das trevas e do mal. Tingia-se desta forma o mundo claro e racional do Iluminismo e dos valores humanistas com os temores e ansiedades que constituíam o outro lado do progresso e da modernidade representadas pela industrialização, pelas revoluções políticas, pela urbanização e pelas mudanças nas organizações familiares e sociais, dando voz ao reprimido, aos conflitos irresolvidos, ao inominável – ao que Freud chama de unheimlich.”[12] (Vasconcelos, 2007 apud Oliveira, 2010.p.121).
 	Grande parte dos escritores do século XVIII eram conhecedores das lendas e dos mitos de suas regiões tudo isso combinado a ingredientes realistas, como o medo que as pessoas tinham do desconhecido, castelos envoltos em mistérios, paisagens desoladas, cemitérios proibidos, o próprio medo da escuridão, entre outros, poderiam levar o leitor à crença real de que tal fato relatado nas narrativas era verdade e, juntando a tudo isso, o desejo dos autores de chocar a população com suas histórias, constituem os ingredientes de uma verdadeira novela gótica do século XVIII. Para Anne Rice, autora de Entrevista com o vampiro (1975). Os escritores escrevem pelo que mais lhe obceca. Perdi minha mãe quando tinha quatorze anos. Minha filha morreu aos seis anos. Perdi minha fé católica. Quando escrevo a escuridão está sempre ali. Dirijo-me para onde está a dor. (Revista People 05/12/1988). O escritor não se utiliza dos recursos técnicos e tradicionais da literatura gótica, como se fosse uma fórmula matemática, dizendo exatamente que efeitos vai causar no leitor. Esses recursos e efeitos nascem da forma mais simples e natural. Muitas vezes o escritor está submerso nesta aura de escuridão, tristeza, medo, ou está à busca de respostas para o seu medo do desconhecido, deixando transparecer em suas histórias e fazendo com que o leitor compartilhe de suas angústias. Outro ponto que se deve frisar na literatura gótica é a descrição minuciosa das paisagens, pois para Chiari, (2008) a descrição da paisagem é fundamental para a literatura gótica porque através dela os sentimentos são suscitados nas personagens, e por sua vez, no leitor. Os lugares horrendos, sombrios e misteriosos, criam uma atmosfera que sugerem como serão os acontecimentos e emoções. Para Lovecraft (2007) além das paisagens, as novelas góticas ainda incluíam nobres perversos e tirânicos, heroínas santas, muito perseguidas e que sofrem os maiores terrores e que geralmente, são o foco de simpatia do leitor; um herói valoroso,sem mácula,sempre bem nascido, mas frequentemente usa trajes humildes ;a convençãode nomes estrangeiros altissonantes, principalmente italianos, para os personagens; e uma série de acessórios como luzes estranhas,alçapões úmidos,dobradiças que rangem,cortinas se mexendo e tudo mais. Todas essas indicações da novela gótica do século XVIII,  podem ser encontradas na obra O Castelo de Otranto.
Gisele Gemmi Chiari aborda a questão da importância da descrição da paisagem no conto de horror, já H.P.Lovecraft descreve os elementos essenciais para a trama da novela gótica do século XVIII, enumerando esses elementos.
Primeiramente: O nobre perverso e tirânico, fazendo o papel de vilão.
 “Manfred, príncipe de Otranto,tinha um filho e uma filha, esta uma bela donzela de dezoito anos, que se chamava Matilda e Conrad, o filho três anos mais novo, era um jovem feio, doente e nada disposto. Mesmo assim, ainda gozava dos favores de seu pai, que nunca deu mostras de amor por sua filha [...] (p.02). [...] A família conhecendo bem o caráter severo de seu príncipe. Não se atreveu a exteriorizar sua preocupação quanto a antecipação do casamento. Hippolita, a esposa, uma dama afável, uma vez havia se aventurado a comentar sobre o perigo de casar seu filho tão rápido, considerando a sua curta idade e seu péssimo estado de saúde, mas nunca recebeu respostas, mas sim, indagações sobre sua própria esterilidade, pois havia dado ao seu esposo apenas um herdeiro. [...] (p.02). [...] Aqueles que sabiam pelo seu afeto pelo jovem Conrad ficaram espantados com tamanha insensibilidade do príncipe. [...] (p.03).
- Cafajeste! O que diz? Gritou Manfred saindo do seu transe com uma tempestade de ira, e agarrando o jovem pelo pescoço. Disse: - Como te atreves a proferir essa deslealdade? Pagarás com a tua vida. [...] (p.04).
 [...] – Querido pai, sou eu sua filha. Manfred retrocedeu e gritou:
- Vai embora que eu não quero nenhuma filha!
E fechou a porta com tanta força que Matilda, ficou aterrorizada. [...] (p.06).”
 	Pode-se notar como o príncipe Manfred era um nobre totalmente perverso, frio e severo, já que não tinha, como diz no primeiro trecho citado, amor por sua filha Matilda. Sua esposa Hippolita também sofria com seus mal tratos, pois no decorrer da obra ela sempre é acusada de ser estéril, motivo esse que vai fazer com que Manfred tente se casar à força com a noiva de seu falecido filho, Isabella, tentando quebrar a maldição que o impede de tomar posse definitiva do castelo. Em segundo lugar, têm-se a mocinha santa, muito perseguida, que sofre maiores terrores e é o foco da simpatia do leitor.
 “[...] – Meu Deus, senhor. Não duvide de meu afeto. Eu estava com o coração na mão. A Conrad teria lhe dedicado todos meus cuidados, e qualquer que seja o fardo que me aguarde, sempre serei fiel a sua memória e lhes considerarei como pais: ao senhor e sua esposa. [...] (p.7). [...] Aonde esconder-se? Como escapar da perseguição que infalivelmente aconteceria por todo castelo. [...]. (p.9). [...] Palavras não podem descrever o horror da situação da princesa. Sozinha em tão deprimente lugar, impressos em sua mente estavam todos os terríveis acontecimentos do dia, sem esperança de escapar, aguardando a qualquer momento a chegada de Manfred e muito aterrorizada, sabendo que estava ao alcance de alguém, que se ocultava pelas imediações. Todos estes pensamentos mexiam com seu atribulado cérebro e estava a ponto de ficar louca com suas apreensões. [...] (p.10)”
 	Isabella, a jovem e pura heroína que fora destinada a casar com Conrado o filho do perverso príncipe de Otranto. Um rapaz de aparência nada agradável e com a saúde tão debilitada que no dia de seu casamento com Isabella é esmagado pelo elmo pertencente a estátua de Alfonso, o bom. Esse fato desencadeia a obsessão de Manfred por desposar Isabella, a mocinha santa e pura, perseguida pelo nobre tirano. Em terceiro lugar e descrito por H.P.Lovecraft, está o herói valoroso e sem mácula, sempre bem-nascido, porém frequentemente encontrado em trajes humildes.
 “[...] O que posso fazer para ajudá-la?  Eu morreria para defendê-la, mas não estou familiarizado com o castelo. [...] (p.10). [...] Não dou valor a minha vida – respondeu o desconhecido – e, para mim será uma grande satisfação perdê-la, tratando de livrá-la da tirania de Manfred. [...] (p.11). [...] - Sou um campesino da aldeia vizinha e meu nome é Theodore. A princesa me encontrou a noite na abóbada. Com certeza eu nunca a havia visto antes. [...] (p.30). [...] - A injustiça que comete comigo – disse Theodore – me convence que fiz bem em livrar a princesa de sua tirania. Que ela seja feliz, qualquer que seja o meu destino! [...] (p.31). [...] O impassível jovem recebeu a amarga sentença com uma resignação que comoveu a todos os corações, menos o de Manfred. [...] (p.31).”
 	Têm-se nesse momento o nobre Theodore que se revela filho de Alfonso, o verdadeiro dono do castelo. Theodore se esconde sob o disfarce de um simples camponês, se preparando para reclamar o seu direito sobre o Castelo de Otranto, que fora usurpado por Manfred. Os trechos acima mostram como Theodore e valoroso e sem mácula, aceitando seu destino, sem implorar por sua vida. Passado todos estes infortúnios, Theodore se casa com Isabella e assume o trono que lhe é de direito enquanto Manfred se recolhe a um mosteiro e sua doce esposa entristecida procura asilo num convento vizinho. Finalmente em quarto lugar H.P.Lovecraft fala de uma série infinita de acessórios de palco, ou seja, artifícios utilizados pelo escritor para deixar a história mais sobrenatural aos olhos do leitor.
 “[...] Manfred se levantou para seguir a jovem, quando a lua que então estava alta e brilhava na janela da frente,os presenteou com a vista das plumas do elmo fatal, que alcançava a altura das janelas, mexendo detrás para frente como em uma tempestade, acompanhada de um som seco e sussurrante. [...] (p.08). [...] Neste instante o retrato de seu avô que estava pendurado sobre o banco onde eles estavam sentados, exalo um suspiro profundo e inchou seu peito. [...] (p.08). [...] É um gigante revestido com armadura, pois eu vi o pé e a perna e eram tão grandes como o elmo que está no pátio. Ouvimos que o gigante se movia lentamente, pois ouvimos o barulho de sua armadura, como se ele estivesse deitado e tivesse levantado. [...] (p.16). [...] Neste momento um trovão sacudiu o castelo até suas fundações. A terra estremeceu e se ouviu um barulho metálico sobrenatural de armadura. [...] (p.72). [...] Acompanhado por um trovão, ascendeu ao céu, onde as nuvens abriram caminho para deixar ver a imagem de São Nicolas. Uma vez recebida a sombra de Alfonso. [...] (p.72).”
 	O Castelo de Otranto é uma história simples, que segundo H.P.Lovecraft (2007) é carente de um verdadeiro e absoluto terror, que faz a literatura fantástica. Contudo, era tal a sede da época por toques de estranheza e de temas espectrais, que a narrativa foi recebida com seriedade pelos leitores e ascendeu a um pedestal de grande importância na história da literatura. E por último têm-se a descrição das paisagens citada por Gisele Gemmi Chiari, onde a autora afirma que esta descrição é de suma importância para suscitar os sentimentos nos personagens e por sua vez nos leitores.
 “[...] A parte baixa do castelo estava repleta de vários claustros intrincados e não resultava fácil para alguém tão ansioso encontrar a porta que se abria para a caverna. Um terrível silêncio reinava naquelas regiões subterrâneas, salvo, por algumas correntes de ar, que às vezes, golpeavam as portas que Isabella havia aberto e cuja as dobradiças rangiam, projetando seu eco pelo labirinto totalmente escuro. [...] (p.08). [...] Havia em seu rosto um pouco de alegria momentânea ao perceber um incerto e nebuloso raio de luar procedente do teto da abóbada, que parecia ter se desprendido e do qual caiam pedaços de reboco ou de pedra. Isabella não conseguia distinguir bem de que material eram. Isabella se apressou a chegar até essa greta, quando viu uma forma humana junto ao muro. [...] (10).”
 	Nota-se nos trechos acima a preocupaçãodo escritor com a descrição minuciosa dos detalhes da paisagem. Horace Wapole dá muita importância a elementos que podem ser pequenos para a narrativa, mas que juntando-se a outros  vão montando verdadeiras paisagens desoladoras tudo isso interferindo diretamente nas ações das personagens e nos sentimentos dos leitores.
O século XVIII caminhava para seu fim, na literatura a novela gótica dos nobres perversos, das mocinhas puras, dos heróis valorosos, das luzes estranhas, de alçapões, de cortinas se mexendo e de dobradiças rangendo, se estabelece como forma literária. Mais contos vão surgindo, fazendo o terror e o suspense virarem moda. Um gemido numa galeria distante, um som apavorante, ou um rastro de sangue no chão do castelo, dados geográficos e históricos incorretos, todos esses elementos criavam nos contos góticos uma força assustadora enquanto permaneciam inexplicados. Chega o século XIX e com ele ocorre uma mudança no gênero fantástico, doenças mentais, o uso de alucinógenos, sonhos e presságios começam a fazer parte das narrativas e dos contos fantásticos.
 4. Referências 
ARINOS, Afonso. Uma noite sinistra. In: DA COSTA, Flávio Moreira (org.). Os melhores contos fantásticos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.p. 631 – 637.
 CARNEIRO, Flávio. Viagem pelo fantástico. In: DA COSTA, Flávio Moreira (org.). Os melhores contos fantásticos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.p. 9-11.
 CHIARI, Gisele Gemmi. A Presença do Medievalismo em Gonçalves Dias: Um estudo das Sextilhas de Frei Antão. 2008. 224f. Dissertação (Mestrado em Literatura Brasileira) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
DE OLIVEIRA, Jefferson Donizeti. Um sussurro nas trevas: Uma revisão da recepção crítica e literária de Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo. 2010. 187f. Dissertação            (Mestrado em Literatura Brasileira) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
 LOVECRAFT, H.P. O horror sobrenatural em literatura: 1890-1937. Tradução de Celso M. Paciornik. São Paulo: Iluminuras, 2007.
 REZENDE. Irene Severina. O fantástico no conceito sócio-cultural do século XX: José J. Veiga (Brasil) e Mia Couto (Moçambique). 2008. 241f. Tese (Doutorado em estudos comparados de Literaturas de língua portuguesa) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
 RICE, Anne. Entrevista a Revista People. Disponível em:<http://www.spectrumgothic.com.br/literatura/literatura_gotica.htm>. - Acesso em: 16 Fev.2012.
 RODRIGUES, Selma Calasans. O fantástico. São Paulo: Ática, 2006.
 SÁ, Márcio Cícero de. Da literatura fantástica (teorias e contos). 2003.135f. Dissertação (Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
 TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Tradução de Maria Clara Correa Castello. 1ª reimpr. da 3.ed. de 2004. São Paulo: Perspectiva, 2007.
 WAPOLE, Horace.El Castillo de Otranto. Disponível em:<http://www.edu.mec.gub.uy/biblioteca_digital/libros/W/Walpole,%20Horace%20-%20El%20Castillo%20de%20Otranto.pdf> - Acesso em: 06. Fev.2012.
 [1] Bacharel em Comunicação Social: habilitação em Publicidade e propaganda pela Universidade de Passo Fundo (UPF/RS), Licenciatura em Letras/Espanhol pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP/ CAMPUS-PETRÓPOLIS -RJ), Especialização em Metodologia do Ensino da Língua Espanhola pela Universidade Regional Integrada (URI/ CAMPUS ERECHIM- RS), Professor na Escola Estadual Sebastião Cerqueira (ALÉM PARAÍBA/MG), Mestrando em Literatura pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF).
[2] http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_fant%C3%A1stica – acessado 06/02
 [3] http://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_fant%C3%A1stica – acessado 06/02
 [4] De acordo com a tradição popular em alguns países, o íbis é a última ave a desaparecer antes de um furacão e a primeira a surgir depois da tempestade passa.
[5] Sabá (português brasileiro) ou sabat (português europeu) é o dia semanal de descanso e/ou tempo de adoração que é observado em diversas crenças.
[6] A origem do halloween remonta às tradições dos povos que habitaram a Gália e as ilhas da Grã-Bretanha entre os anos 600 a.C. e 800 d.C.Originalmente, o halloween não tinha relação com bruxas. Era um festival do calendário celta da Irlanda, o festival de Samhain, celebrado entre 30 de outubro e 2 de novembro e marcava o fim do verão (samhain significa literalmente "fim do verão").
 [7] A Missa Negra é um ritual cerimonial de Magia negra e Satanismo que visa uma inversão da missa da Igreja Católica.
[8] médico da Renascença que praticava a alquimia (como muitos dos médicos do século XVI). Ficou famoso por sua suposta capacidade de vidência.
[9] foi um matemático , astrônomo, astrólogo, geógrafo e conselheiro particular da rainha Elizabeth I. Devotou também grande parte de sua vida à alquimia, adivinhação, e à filosofia hermética.
[10] Sua vida foi fortemente ligada ao esoterismo. Estudou artes em Oxford, no Saint John the Baptist College, e medicina no College of Physicians de Londres.
[11] é um romance de 1764 escrito por Horace Walpole. É o primeiro romance da literatura gótica, tendo inspirado muitos autores posteriores, como Ann Radcliffe, Bram Stoker, Daphne du Maurier e Stephen King. O príncipe Manfred apropria-se indevidamente de um castelo pertencente à sua família, mas uma antiga maldição o impede de tomar a posse definitiva do castelo.
[12] conceito de uma instância onde algo pode ser familiar, mas estranho ao mesmo tempo, resultando em um sentimento de que seja desconfortável estranha ou desconfortável familiar.
LITERATURA FANTÁSTICA
Antes de desenvolver com mais profundidade o conceito de Fantástico neste capítulo, achamos oportuno começar a explicar essa palavra pelo dicionário. O vocábulo Fantástico está registrado no dicionário da seguinte forma: A palavra “Fantástica” segundo o dicionário Aurélio significa, 1. Só existe na fantasia ou imaginação; imaginário, ilusório, irreal. 2. Fantasmagórico (relativo a, ou próprio de fantasmas) 3. Caprichoso, extravagante. 4. Incrível, extraordinário, procedimento que só existe na imaginação. É um termo originário do latim phantasticus (-a, -um), que, por sua vez, provém do grego (phantastikós) – são palavras que têm origem na fantasia. 
Daí surge à literatura fantástica, uma literatura que origina-se da imaginação, o que não existe no mundo real. É o tipo de literatura que não tem a menor preocupação em relatar fatos que existam na realidade, fatos que consideramos como próprio deste mundo que estamos inseridos. A narrativa contemporânea não possui uma singularidade, a qual é constituída por uma diversidade e pluralidade, mas, conforme os autores consultados, podemos encontrar alguns traços que predominem, por exemplo, a irracionalidade. A irracionalidade é uma tendência dominante da literatura contemporânea, e aqui, na narrativa fantástica é o que vamos encontrar em abundância, pois sua característica é justamente a criação de relatos irreais, imaginários, como vimos na definição do vocábulo “Fantástico”. 
Para Salvatore: A corrente do chamado “Realismo Fantástico”, pelo contrário das correntes realistas, contesta esta falsa crença, pondo em relevo o que há de absurdo e desumano na realidade individual e social. O Fantástico passa a ser utilizado como recurso expressivo para evidenciar a inexistência de fronteiras entre o real e o imaginário, o natural e o abnorme. (SALVATORE, 1990, p. 435). 
A literatura, de maneira geral, é uma criação do imaginário, porém a estética realista camufla essa característica, que é própria da literatura, fazendo com que esta ficcione a realidade, no entanto, no gênero fantástico essa ‘realidade’ é irrelevante, aqui a literatura é tratada como algo da imaginação, irreal, isto é, a literatura não tem o intuito de imitar a realidade, mas mostrar o seu verdadeiro papel, ser fruto da imaginação. Nesse gênero somos levados a acontecimentos estranhos, mas o leitor está ciente que não deve levá-los em consideração. O fantástico dessa forma coloca que a função da literaturanão é reproduzir o real, mas transpor esse real, misturando-o com o irreal. A literatura Fantástica opõe-se a essa falsa crença da realidade, e põe em destaque o que há de mais bizarro, quer na realidade social, quer na individual, mostrando que não existem fronteiras entre o real e o imaginário. 
De fato, a narrativa Fantástica é toda criação literária que não dá importância a realidade vivida no mundo, não existe fronteira entre real e irreal, ambas misturam-se. Isso quer dizer que, esse tipo de prosa literária não se preocupa em retratar a realidade, tal como a vivenciamos. Há ainda outra teórica, cujos estudos são relevantes para nossa pesquisa, Coelho (1984, p. 31) fala que “conforme a época, o realismo ou imaginário acabam por predominar no ato criador ou no gosto do público”. E, principalmente nas últimas décadas do século XX, têm desenvolvido com muita frequência esse tipo de narrativa. E quando o escritor opta pela narrativa de registro fantasista, ele “ora descobrir ‘o outro lado’ da realidade, __ o não imediatamente visível ou conhecido, transfigurando-a pelo processo metafórico (representação figurada)” (COELHO, 1984, p.31). Nesse sentido, a prosa fantástica não se identifica com a realidade em que vivemos, mas sim com uma realidade imaginada, fantasia, imaginário, desconhecido. Porém, não há uma criação de um novo mundo, o que acontece nesse tipo de narrativa é uma mistura entre o real e o imaginário, não há limites entre ambos. Mas nenhuma das formas quer a literatura real, quer na irreal, nenhuma dessas formas é melhor ou pior, em matéria de literatura. O que existe é a relação de conhecimento entre os homens e o mundo em que se encontram. A autora chama atenção para a forma como as narrativas eram escritas em seus primórdios: [...] a literatura foi essencialmente fantástica: Na infância da humanidade, quando os fenômenos da vida natural e as causas e princípios das coisas eram inexplicáveis pela lógica, o pensamento mágico ou mítico dominava. Ele está presente na imaginação que criou a primeira literatura: a dos mitos, lendas, sagas, cantos, rituais, contos maravilhosos, novelas de cavalaria, etc. (COELHO, 1984, p. 32). Podemos dar como exemplo, o conto de fadas, aqui encontramos em grande quantidade o sobrenatural; A Odisseia, Dom Quixote, ambos são encontrados elementos maravilhosos, é claro, que em diferentes graus, e são as maiores narrativas do passado. 
À proporção que o homem avança nos conhecimentos científicos, tecnológicos, começa a explicar os acontecimentos pela razão, consequentemente a literatura que representa a vida, também traz em suas obras como característica dominante à “razão”. No entanto, como nenhuma conquista da ciência é definitiva, a todo o tempo surgem novas descobertas, o que é verdade hoje, amanhã pode não ser, é verdade até que prove o contrário, assim as épocas de convicção na ciência se mesclam com descrenças. Com isso, vemos surgir novamente à descoberta da fantasia, imaginação. 
O iniciador do realismo fantástico na América Latina foi o argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), de família conservadora e tradicional. Em seus livros apareciam acontecimentos irreais. “Em seus livros de contos e outros, acontecimentos pseudo-históricos encontram-se mesclados com o irreal [...] Seus temas preferidos são a magia, a eternidade, o inferno, a ciência cabalística”.(1990:435). Outro escritor bem conhecido em nossa literatura é o colombiano Gabriel García Márquez, 1928, com sua obra Cem anos de solidão. Nesse romance há uma mistura de história e lenda, a realidade do dia-a-dia entrelaçando com sonhos. Esse autor vive atualmente no México. Salvatore, ainda cita outros escritores da literatura fantástica Hispano-americanas, como: Julio Cortazar (1914-1884); Miguel Angel Asturias (1899-1974); Alejo Carpentier (1904-1980) e Carlos Fuentes, 1929, esse escritor vive atualmente no Reino Unido. Certamente, o principal romancista dessa vertente é Franz Kafka. 
A narrativa fantástica foi tida durante muito tempo como gênero menor, entretanto na segunda metade do século, ganhou destaque a vertente fantástica latino - americana. Massaud Moisés (2001) comenta sobre a repercussão da literatura Hispano - americanas das últimas décadas do século XX, conforme esse autor essa literatura Hispano – americana pode ser nomeada de fantástico, ou mágico. 
Na Europa também produziu obras fantásticas, mas é diferente da Hispano – América e do Brasil. Na literatura fantástica européia, o autor preocupa-se em preservar a realidade, são abordados temas fantásticos, sobrenaturais, mas no final da obra, o escritor soluciona todos os problemas apresentados, com uma explicação racional. Entretanto, a produzida na América Latina não respeita o racional, e não tem a preocupação com a verossimilhança, pelo contrário transgride-a. Vale ressaltar, que o século XX foi de grandes descobertas, mudanças de paradigmas, e a literatura como acompanha a evolução do homem tornou-se produto desse meio, sofreu influências marcantes jamais vistas em outras épocas. Em face desse acelerado desenvolvimento científico, tecnológico, cultura, social, etc., é natural que a racionalidade fosse novamente superada por suas conquistas, pois todos esses progressos do mundo moderno trouxeram alguns problemas ao homem, que de repente viu-se frente a frente com tantas dificuldades, que é gerado dessas transformações, então a racionalidade, já não consegue solucionar algumas dificuldades, e dessa forma há uma busca da fantasia para solucionar os conflitos do ser humano que o racional não consegue resolver, por exemplo, conflitos de ordem existencial, angústia da alma, da mente, etc., isso é devido a esse mundo contemporâneo. Logo, a literatura Fantástica tornou-se um importante tópico da literatura contemporânea. 
Na leitura da narrativa fantástica percebemos que, no início os fatos narrados, aparentemente fazem parte do mundo real, todavia, no decorrer da leitura nos deparamos com fatos irreais, misteriosos, inexplicáveis, e esses acontecimentos estranhos em si mesmos são próprios desse gênero, sem eles o fantástico não aconteceria, sua existência é necessária. Mas o interessante é que os tais fatos estranhos não causam nenhuma surpresa a personagem, pelo contrário, é como se isso fizesse parte de sua história, pertencesse a sua realidade, ou seja, o ocorrido é totalmente natural a vida da personagem. Assim o verossímil funda-se com o inverossímil. No início da leitura desse gênero não acontece nada de anormal, estamos num mundo como o nosso, sem seres estranhos, como, fantasmas, alma - do - outro - mundo, ser invisível, ou qualquer tipo de ato que a razão não possa explicar, todavia, de repente surgem fatos inexplicáveis, que não podem ser explicados pelas leis deste mundo familiar. Isso quer dizer que, na literatura fantástica somos levados a um mundo exatamente como o nosso, que estamos acostumados sem seres estranhos, ou qualquer tipo de acontecimento que a razão não possa explicar, porém, de repente surgem fatos inexplicáveis, que não podem ser explicados pelo bom senso. E, quando isso acontece, quem o percebeu (personagem) deve escolher se esse acontecimento realmente aconteceu ou se é fruto de sua imaginação. Todorov (2007) afirma a esse respeito: Aquele que o percebe deve optar por uma das duas soluções possíveis; ou se trata de uma ilusão dos sentidos, de um produto da imaginação e nesse caso a leis do mundo continuam a ser o que são; ou então o acontecimento realmente ocorreu, é parte integrante, mas nesse caso esta realidade é regida por leis desconhecidas para nós. (TODOROV, p. 30). Neste sentido, a personagem deve fazer uma escolha, se o que viu é fruto de sua imaginação, ou realmente aconteceu, e nesse caso não existe uma explicação racional. Essa conclusão ser ou não real é solucionada no final da obra, a qual deve ter uma explicação racional, ou não, porém existem obras que o mistério continua após o final do enredo. Vale referir aqui a diferença entre a personagem da corrente realista e da literatura

Continue navegando