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Direito Constitucional Paulo Lépore AULA1 Conceito de Constituição e Supremacia Constitucional

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Curso	Ênfase	©	2018
DIREITO	CONSTITUCIONAL	–	PAULO	LÉPORE
AULA1	CONCEITO	DE	CONSTITUIÇÃO	E	SUPREMACIA	CONSTITUCIONAL
O	 professor	 inicia	 o	 curso	 saudando	 os	 alunos	 e	 deixando	 seus	 contatos	 nas	 redes
sociais,	onde	são	encontradas	dicas,	informações	e	atualizações	diárias.
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Seguindo,	 são	 passadas	 algumas	 dicas	 bibliográficas	 para	 o	 estudo	 para	 Analistas	 e
Técnicos	 dos	 Tribunais	 e	 MPU:	 Direito	 Constitucional,	 Noções	 de	 Direito	 Constitucional	 e	 de
Direito	Administrativo,	Revisaço	de	Direito	Constitucional	e	Simulaço	de	Direito	Constitucional,
todos	de	sua	autoria	e	coautoria,	editados	pela	JusPodivm.
Passa-se,	 agora,	 ao	 estudo	 do	 primeiro	 tópico	 do	 nosso	 curso,	 qual	 seja	Conceito	 de
Constituição	e	Supremacia	Constitucional.
1.	CONCEITO	DE	CONSTITUIÇÃO	E	SUPREMACIA	CONSTITUCIONAL
Iniciamos	 nosso	 estudo	 com	 uma	 introdução	 ao	 Direito	 Constitucional,	 disciplina
jurídica	que	pertence	ao	grande	ramo	do	Direito	Público.
O	 Direito	 Constitucional	 é	 uma	 disciplina	 que	 tem	 por	 objeto	 o	 estudo	 das	 normas
constitucionais,	as	quais	se	encontram	no	corpo	de	uma	Constituição.	A	Constituição,	por	sua
vez,	é	um	documento	que	materializa	as	principais	regras	e	princípios	políticos	e	jurídicos	de
um	determinado	Estado	Nacional.
A	Constituição	é	norma	suprema	de	regência	e	organização	de	um	Estado	Nacional.	O
Brasil	é	um	Estado	Nacional	e	tem	a	sua	Constituição,	da	mesma	forma,	os	Estados	Unidos,	o
México,	Portugal	e	a	França.	
Muitas	 são	 as	 formas	 de	 definição	 de	 uma	 Constituição.	 A	 mais	 simples	 delas	 é	 se
tratar	de	norma	suprema	de	organização	política	e	jurídica	de	um	Estado	Nacional.
Lembre-se	que	o	Estado	Nacional	é	um	instituto	que	possui	alguns	elementos	básicos.
O	primeiro	desses	elementos	é	o	território.	Nesse	território	é	preciso	se	ter	um	povo,	 isto	é,
pessoas	que	estejam	ligadas	a	um	Estado	e	seu	território.	Esse	povo	precisa	estar	no	território
de	forma	pacífica,	para	o	convívio	social.	Esse	povo,	nessas	condições,	passa	a	ser	dotado	de
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soberania.	 Soberania	 significa	 dizer	 que,	 naquele	 espaço,	 aquelas	 pessoas	 terão	 a
possibilidade	de	ditar	suas	próprias	normas	de	convívio,	não	podendo	pessoas	de	fora	intervir
nessas	definições.
São	 quatro,	 portanto,	 os	 elementos	 básicos	 constitutivos	 de	 um	 Estado	 Nacional:
território,	 povo,	 finalidade	 pacífica	 e	 poder	 soberano.	 A	 Constituição	 deve	 disciplinar	 esses
quatro	elementos.
Na	doutrina	muito	se	discute	sobre	o	que	é	e	sobre	o	sentido	da	Constituição,	havendo
grande	 divergência	 sobre.	 Muito	 se	 questiona	 se	 a	 Constituição	 deve	 ser	 analisada	 apenas
sobre	o	ponto	de	vista	jurídico,	político,	sociológico	ou	cultural.	Essas	discussões	são	bastante
comuns	em	provas.	Por	isso,	passa-se,	a	seguir,	ao	estudo	dos	diversos	sentidos	e	conceitos
que	a	doutrina	empresta	às	Constituições.
1.1.	SENTIDO	SOCIOLÓGICO
O	primeiro	conceito	é	o	sociológico,	idealizado	por	Ferdinand	Lassale.
Para	Lassale,	a	Constituição	organiza	o	Estado	e	a	vida	em	sociedade,	mas	é	preciso	ter
cuidado,	 pois	 as	 sociedades	 estão	 organizadas	 segundo	 algumas	 relações	 de	 poder.	 As
pessoas	vivem	e	se	relacionam	por	meio	de	poder.
Uma	Constituição	para	ser	efetiva	precisa	respeitar	essas	relações	de	poder.	Por	 isso,
Lassale	diz	que	a	Constituição	deve	 representar	a	soma	dos	 fatores	 reais	de	poder
em	 uma	 determinada	 sociedade,	 sob	 pena	 de	 ela	 se	 tornar	 uma	 mera	 folha	 de
papel.	Essa	ideia	é	muito	comum	de	cobrança	nas	provas,	portanto,	é	bom	estar	atento.
É	fato	que	cada	Estado	possui	a	sua	Constituição,	normalmente	materializada	em	um
documento	 escrito.	 Deve-se	 atentar	 para	 que	 essa	 Constituição	 escrita	 possua	 um	 sentido
sociológico,	 isto	 é,	 que	 ela	 efetivamente	 se	 preste	 àquela	 sociedade.	 A	 Constituição	 deve
efetivamente	expressar	aquilo	que	acontece	no	corpo	social.
Se	 a	 Constituição	 não	 representar	 efetivamente	 o	 modo	 como	 as	 pessoas	 se
relacionam,	tampouco	os	 fatores	de	poder	se	dão	na	realidade,	ela	será	uma	mera	 folha	de
papel.
Nas	 provas	 a	 cobrança	 do	 tema	 é	 comum	 da	 seguinte	 forma:	 Segundo	 Ferdinand
Lassale	 a	 Constituição	 deve	 ser	 a	 soma	 dos	 fatores	 reais	 de	 poder	 de	 uma	 determinada
sociedade.	Também	é	possível	a	 seguinte	 formulação:	O	sentido	sociológico	de	Constituição
determina	 que	 ela	 represente	 a	 soma	 dos	 fatores	 reais	 de	 poder	 de	 uma	 determinada
sociedade,	sob	pena	de	se	tornar	mera	folha	de	papel	sem	efetividade	social.	Quaisquer	das
duas	formas,	a	alternativa	estará	correta.
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1.2.	SENTIDO	POLÍTICO
O	sentido	político	de	Constituição	é	atribuído	a	Carl	Schmit.
Aqui,	o	entendimento	que	prevalece	é	que	a	Constituição	serve	a	quem	detém	o	poder
em	determinada	 sociedade,	 especialmente	 ao	 governante	 ou	 líder	 político.	 Ela	 servirá	 para
que	o	governante	estabeleça	o	modo	como	a	sociedade	deve	se	organizar.
Assim,	a	Constituição	não	deve	se	preocupar	com	aspectos	sociológicos,	mas	exprimir
sentido	político.	A	Constituição	não	precisa	ser	um	espelho	da	sociedade;	ela	precisa	ser	seu
paradigma,	sua	referência.	Ela	deve	ser	um	modelo	a	ser	atingido.
Carl	Schmit	diz	que	em	um	sentido	político	a	Constituição	é	uma	decisão	política
fundamental.	É	por	isso	que	ao	se	olhar	uma	Constituição	é	possível	identificar	quais	são	as
normas	 mais	 importantes	 e	 que	 dizem	 respeito	 a	 essa	 decisão	 política	 fundamental.	 Por
exemplo,	 uma	norma	que	 estabelece	 a	 separação	 de	 poderes	 é	 relacionada	 com	a	 decisão
política	de	um	Estado.
Assim	sendo,	somente	se	pode	chamar	de	norma	constitucional	ou	norma	de	conteúdo
constitucional	aquilo	que	diz	respeito	a	uma	decisão	política.	Por	isso,	se	dentro	do	corpo	de
um	 documento	 que	 se	 intitula	 Constituição	 existir	 normas	 que	 não	 reproduzem	 decisões
políticas,	elas	serão	reconhecidas	como	meras	leis	constitucionais.
A	distinção	entre	normas	efetivamente	constitucionais	e	 leis	constitucionais	repercute
na	 classificação	 das	 Constituições,	 conforme	 se	 verá	 adiante.	 Adiantando,	 a	 Constituição
material	 é	 aquela	 que	 traz	 normas	 com	 conteúdo	 constitucional,	 as	 quais,	 por	 exemplo,
versam	 sobre	 a	 organização	 dos	 poderes,	 organização	 político-administrativa	 do	 Estado,
direitos	fundamentais,	dentre	outros	aspectos.
De	outro	modo,	existem	normas	na	Constituição	que	possuem	um	conteúdo	de	menor
expressão,	 a	 exemplo	 do	 art.	 242,	 §2º,	 da	 CF/88,	 que	 determina	 que	 o	 Colégio	 Pedro	 II
permanecerá	na	órbita	federal.	Essa	é	uma	norma	que	está	na	Constituição,	mas	não	possui
conteúdo	constitucional.
Nas	 provas	 é	 comum	 se	 dizer	 que	 Carl	 Schmit	 prega	 que	 uma	 Constituição,	 em	 um
sentido	 político,	 deve	 ser	 uma	 decisão	 política	 fundamental,	 espelhando	 normas	 com
conteúdo	 constitucional.	 Tudo	 aquilo	 que	 não	 tiver	 relação	 com	 uma	 decisão	 política
fundamental	deve	ser	considerado	mera	lei	constitucional,	tendo	menor	importância.
1.3.	SENTIDO	JURÍDICO
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O	mais	importante	dos	sentidos	é	o	jurídico,	pois	gera	maior	repercussão	para	o	estudo
do	Direito	Constitucional	e	do	Direito	de	forma	geral.	O	sentido	jurídico	é	atribuído	ao	jurista
austríaco	Hans	Kelsen.		
Para	 Kelsen	 a	 Constituição	 é	 um	 objeto	 do	 mundo	 jurídico,	 portanto,	 deve	 ter	 um
sentido	 jurídico.	Constituição	é	norma	 jurídica,	sendo	paradigmamáximo	de	validade	do
ordenamento	jurídico.
Kelsen	é	conhecido	por	ter	desenvolvido	a	Teoria	Pura	do	Direito.	Para	Kelsen	o	Direito	é
uma	ciência	pura;	por	isso,	quando	da	sua	análise,	não	se	faz	necessária	a	preocupação	com
aspectos	sociológicos,	 filosóficos,	culturais	ou	políticos.	Os	elementos	do	Direito	são	puros	e
seguem	uma	lógica.	Assim,	para	se	entender	o	Direito	não	há	necessidade	de	ser	referências
em	outras	ciências.			
Segundo	a	Teoria	Pura	do	Direito	o	objeto	de	estudo	do	Direito	é	a	norma,	que	pode	ser
um	princípio,	uma	regra	ou	mesmo	estabelecer	uma	finalidade	a	ser	perseguida.	Por	exemplo,
o	princípio	do	contraditório,	que	diz	que	em	um	processo	judicial,	sempre	que	uma	parte	falar
a	outra	possuirá	o	direito	de	contraditar.	Assim,	 todos	são	ouvidos	e	 todas	as	verdades	são
esclarecidas.	Esse	é	um	princípio	do	Direito.
Kelsen	defende	que	para	a	análise	do	Direito	e	as	normas	jurídicas	somente	importam
as	próprias	normas.
Para	Kelsen	a	validade	de	uma	norma	jurídica	é	verificada	quando	uma	norma	que	lhe	é
superior	a	sustenta.	Assim,	Kelsen	diz	que	se	um	juiz	profere	uma	sentença	judicial,	para	se
saber	se	essa	sentença	será	cumprida,	ou	não,	deve-se	observar	se	o	provimento	judicial	está
assentado	ou	não	em	uma	norma	que	seja	hierarquicamente	superior.
A	Teoria	Pura	de	Kelsen	prega	que	temos	um	ordenamento	jurídico	escalonado.	As
normas	 do	 Direito	 brasileiro	 estão	 hierarquicamente	 organizadas.	 A	 representação	 gráfica
disso	é	dada	pela	famosa	“Pirâmide	de	Kelsen”.	Na	base	da	pirâmide	estão	os	atos	infralegais,
no	meio	as	normas	legais,	e	no	topo	as	normas	constitucionais.
Assim,	tendo-se	uma	sentença,	que	e	um	ato	abaixo	das	leis,	para	saber	a	sua	validade
devem-se	olhar	as	leis.	Para	saber	a	validade	das	leis	deve-se	observar	a	Constituição.
A	 pirâmide	 espelha,	 portanto,	 um	 ordenamento	 jurídico	 escalonado	 que	 trabalha	 em
um	plano	de	validade.	Uma	norma	deve	retirar	seu	fundamento	de	validade	de	outra
norma	hierarquicamente	superior.
No	 topo	 da	 “Pirâmide	 de	 Kelsen”	 está	 a	 Constituição,	 o	 paradigma	 máximo	 do
ordenamento	jurídico	de	cada	Estado.	Acima	dela	não	há	outras	norma.
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Para	esclarecer	o	paradigma	de	validade	de	uma	Constituição	Kelsen	afirma	que	toda
ciência	e	teoria	devem	contar	com	verdades	pressupostas,	não	contestáveis.	Assim,	por	ficção
diz-se	 que	 a	 Constituição	 retira	 sua	 validade	 de	 uma	 norma	 hipotética	 fundamental.	 Essa
norma	hipotética	fundamental	traz	apenas	um	preceito:	“cumpra-se	a	Constituição”.
A	Constituição	é	o	ato	normativo	mais	 forte	do	ordenamento	 jurídico.	Qualquer	 lei	ou
ato	que	a	contrarie	não	será	válido.
Duas	são	as	 formas	de	se	entender	o	sentido	 jurídico	da	Constituição.	A	Constituição
em	seu	sentido	 jurídico	possuirá	um	duplo	papel.	Por	 isso,	a	doutrina	diz	que	a	constituição
possui	 um	 sentido	 lógico-jurídico	 e	 um	 sentido	 jurídico-positivo.	 Aquele	 nos	 faz	 entender	 a
Constituição	é	o	fundamento	e	o	paradigma	dela	mesmo	(é	a	norma	hipotética	fundamental).
Ela	aparece	aqui	como	um	elemento	pressuposto	para	tornar	possível	a	Teoria	Pura	do	Direito
de	Hans	Kelsen.
Em	 seu	 sentido	 jurídico-positivo	 a	 Constituição	 é	 um	 ato	 posto,	 uma	 norma	 positiva
suprema,	cujo	fundamento	máximo	de	validade	é	a	Constituição	posta.

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