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Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia Brasileira Projeto Consolidação e Sustentabilidade da Produção de Rochas para Revestimento na Construção Civil da Região Amazônica Autores Ivan S. C. Mello Cid Chiodi Filho Denize K. Chiodi Atlas de Rochas Ornamentais da Amazonia XI SUMÁRIO CAPITULO 1 - CONCEITOS E DEFINIÇÕES 13 1.1 TIPOLOGIA DOS MATERIAIS ROCHOSOS NATURAIS 17 Rochas Silicáticas (Granitos e Similares) 17 Rochas Carbonáticas (Mármores, Travertinos e Calcários) 18 Rochas Silicosas (Quartzitos, Cherts e Similares) 19 Rochas Síltico-Argilosas Foliadas (Ardósias) 20 Rochas Ultramáficas (Serpentinitos, Pedra-Sabão e Pedra-Talco) 21 1.2 PROSPECÇÃO E PESQUISA GEOLÓGICA DE JAZIDAS 23 Programas Exploratórios Regionais 23 Pesquisa de Detalhe 23 Avaliação de Reservas 24 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 24 CAPITULO 2 - PANORAMA TÉCNICO-ECONÔMICO 25 DO SETOR DE ROCHAS ORNAMENTAIS 2.1 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL E DO MERCADO INTERNACIONAL 27 Considerações Gerais 27 Produção Mundial 27 Mercado Internacional 28 Principais Exportadores 28 Principais Importadores 29 2.2 SITUAÇÃO BRASILEIRA 30 Aspectos Setoriais de Interesse 30 Perfil da Atividade Produtiva 30 Distribuição da Produção Brasileira 32 Exportações 32 Importações 35 Consumo Interno Aparente 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 37 CAPÍTULO 3 - CENÁRIO DA PRODUÇÃO E MERCADO 39 DE ROCHAS ORNAMENTAIS NA AMAZÔNIA FONTES DE CONSULTA 45 CAPÍTULO 4 - ROCHAS ORNAMENTAIS E 47 PARA REVESTIMENTO DA AMAZÔNIA 4.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 49 4.2 MÉTODO DE TRABALHO 49 Seleção de Alvos 50 4.3 CARACTERIZAÇÃO DE ALVOS E OCORRÊNCIAS CADASTRADAS 56 Amapá 56 Amazonas 56 Maranhão 61 Mato Grosso 64 Pará 68 Rondônia 71 Roraima 76 Tocantins 76 CPRM - Serviço Geológico do Brasil XII 4.4 CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES 82 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 83 CAPÍTULO 5 - NECESSIDADES E ESTRATÉGIAS PARA 85 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA PRODUÇÃO DE ROCHAS ORNAMENTAIS NA AMAZÔNIA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 93 OUTRAS FONTES DE CONSULTA 93 CAPÍTULO 6 - CATÁLOGO DE ROCHAS ORNAMENTAIS DA AMAZÔNIA 95 AMAPÁ 97 AMAZONAS 105 MARANHÃO 125 MATO GROSSO 133 PARÁ 171 RONDÔNIA 199 RORAIMA 239 TOCANTINS 259 APÊNDICE A - ENSAIOS E NORMAS PARA 281 CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DE ROCHAS FATORES DE DEGRADAÇÃO DOS REVESTIMENTOS 283 CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA DE ROCHAS 283 Petrografia Microscópica 283 Índices Físicos - Densidade, Porosidade e Absorção d’Água 284 Desgaste Amsler 284 Compressão Uniaxial Simples 284 Resistência à Tração na Flexão 284 Coeficiente de Dilatação Térmica Linear 284 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 286 APÊNDICE B - REFERÊNCIAS TECNOLÓGICAS DE ESPECIFICAÇÃO DE 289 ROCHAS ORNAMENTAIS E PARA REVESTIMENTO REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 294 APÊNDICE C - USOS RECOMENDADOS PARA OS MATERIAIS CADASTRADOS 295 Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia Capítulo 1 Conceitos e Definições Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 15 Rochas podem ser definidas como corpos sólidos naturais, formados por agregados de um ou mais minerais¹. As rochas ornamentais e para revestimento, também designadas pedras naturais, rochas lapídeas, rochas dimensionais e materiais de cantaria, compreendem os materiais geológicos naturais que podem ser extraídos em blocos ou placas, cortados em formas variadas e beneficiados por meio de esquadrejamento, polimento, lustro, etc. Seus principais campos de aplicação incluem tanto o emprego em peças isoladas, como esculturas, tampos e pés de mesa, balcões, lápides e artefatos de arte funerária em geral, quanto em edificações, destacando-se, nesse caso, os revestimentos internos e externos de paredes, pisos, pilares, colunas, soleiras, etc. Do ponto de vista geológico, as rochas são enquadradas em três grandes grupos genéticos: ígneas, sedimentares e metamórficas. As rochas ígneas, ou magmáticas, resultam da solidificação de material fundido (magma), em diferentes profundidades da crosta terrestre. As rochas sedimentares são formadas pela deposição química ou detrítica dos produtos da desagregação e erosão de rochas preexistentes, transportados e acumulados em bacias deposicionais de ambientes subaquáticos (fluviais, lacustres e marinhos) e eólicos (subaéreos). Rochas metamórficas são formadas pela transformação (metamorfismo) de outras preexistentes, normalmente como resultado do aumento da pressão e temperatura no ambiente geológico. Do ponto de vista comercial, as rochas ornamentais e para revestimento são basicamente subdivididas em granitos e mármores. Como granitos, enquadram-se, genericamente, as rochas silicáticas, enquanto os mármores englobam, lato sensu, as rochas carbonáticas. Alguns outros tipos litológicos, incluídos no campo das rochas ornamentais são os quartzitos, serpentinitos, travertinos, calcários (por vezes comercializados como limestones) e ardósias, também muito importantes setorialmente. Granitos, lato sensu, são rochas ígneas, enquanto que os mármores são rochas metamórficas de origem sedimentar. Travertinos e calcários (limestones) são sedimentares, enquanto quartzitos e ardósias são metamórficas, também de origem sedimentar. Serpentinitos são rochas metamórficas de derivação magmática. Também do ponto de vista comercial, rochas isótropas (sem orientação preferencial dos constituintes mineralógicos) são designadas homogêneas (Foto 1.1) e mais empregadas em obras de revestimento. Rochas anisótropas, com desenhos e orientação mineralógica, são chamadas movimentadas (Fotos 1.2 e 1.3) e mais utilizadas em peças isoladas. O padrão cromático é o principal atributo considerado para qualificação comercial de uma rocha. De acordo com as características cromáticas, os materiais são Capítulo 1 Conceitos e Definições Foto 1.1 – Vermelho Brasília (Goiás): granito (biotita granito) homogêneo/isótropo. Foto 1.2 – Porto Rosa (Minas Gerais): granito (anfibólio gnaisse) movimentado/anisótropo. Foto 1.3 – Verde Van Gogh (Minas Gerais): granito (migmatito) movimentado, com padrão fantasia. ¹ Minerais, por sua vez, são elementos ou compostos químicos cristalizados e formados por processos inorgânicos naturais. A composição química, definida dentro de certos limites, propriedades e características próprias atribuem nome a cada tipo mineral, único entre as variedades existentes. Variedades essas que ocorrem de modo mais e menos comum, como constituintes dos diversos tipos de rochas. CPRM - Serviço Geológico do Brasil 16 enquadrados como clássicos, comuns ou excepcionais. Os clássicos não sofrem influência de modismos e incluem mármores vermelhos, brancos, amarelos e negros, bem como granitos brancos, verdes, negros e vermelhos (Fotos 1.4 e 1.5). Os comuns ou de “batalha”, de largo emprego em obras de revestimento, abrangem mármores beges e acinzentados, além de granitos acinzentados, rosados e amarronzados. Os materiais excepcionais são normalmente utilizados para peças isoladas e pequenos revestimentos, incluindo mármores azuis, violeta e verdes, além de granitos azuis (Fotos 1.6 e 1.7), amarelos, multicores e pegmatíticos, estes últimos definindo boa parte dos ora designados granitos exóticos (Fotos 1.8 e 1.9). Os blocos extraídos nas pedreirastêm volume variável entre 5m3 e 8m3, podendo atingir, excepcionalmente, 12m3. Materiais com alto valor comercial permitem, no entanto, o aproveitamento de blocos a partir de 1m3, sobretudo por meio da serragem em talha-blocos. As dimensões-padrão especificadas para blocos de serragem em teares variam de 2,4m x 1,2m x 0,6m (1,73m3) a 3,3m x 1,8m x 1,5m (8,9m3). Os produtos comerciais obtidos a partir da extração de blocos e serragem de chapas, que sofrem algum tipo de tratamento de superfície (sobretudo polimento e lustro), são designados como produtos de acabamento especial (special finished products). Tal é o caso dos materiais que, no geral, aceitam polimento e recebem calibração, abrangendo os mármores, granitos, quartzitos maciços e serpentinitos. Os produtos comerciais normalmente utilizados com superfícies naturais em peças não calibradas, obtidos quase que diretamente por delaminação mecânica e esquadrejamento de placas, são, por sua vez, designados produtos de acabamento simples (simple finished products). Para ilustração, no Brasil, é o caso dos produtos de quartzitos foliados (pedra São Tomé, pedra Mineira, pedra Goiana, etc.), pedra Cariri (calcários placóides), basaltos gaúchos, pedra Paduana ou Miracema (gnaisses folhiados), pedra Morisca, dentre outras (Foto 1.10). Foto 1.4 – Branco Ceará (Ceará): granito (albita granito) branco. Foto 1.5 – Ouro Brasil / New Venetian Gold (Espírito Santo): granito (granito gnaisse) amarelado. Foto 1.6 – Azul Santa Vitória (Bahia): granito (sodalita sienito) azul movimentado. Foto 1.7 – Blue Valley (Espírito Santo): granito (gnaisse a cordierita) azul escuro. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 17 1.1 TIPOLOGIA DOS MATERIAIS ROCHOSOS NATURAIS Rochas Silicáticas (Granitos e Similares) Para o setor de rochas ornamentais e para revestimento, o termo granito designa um amplo conjunto de rochas silicáticas, abrangendo monzonitos, granodioritos, charnockitos, sienitos, dioritos, diabásios/basaltos e os próprios granitos, geradas por fusão parcial ou total de materiais crustais preexistentes (Fotos 1.11 e 1.12). A composição mineralógica desses “granitos” é definida por associações muito variáveis de quartzo, feldspato, micas (biotita e muscovita), anfibólios (sobretudo hornblenda), Foto 1.8 – Mascarello (Minas Gerais): granito (granito pegmatóide) exótico “infiltrado”. Foto 1.9 – Delicattus (Minas Gerais): granito (pegmatito) exótico “feldspatado” . Foto 1.10 – Pedra Morisca (Piauí): arenito conglomerático plaqueado. Foto 1.11 – Preto Cotaxé (Espírito Santo): granito (gabro norito) preto não-absoluto. Foto 1.12 – Verde Pavão / Green Peacock (Espírito Santo): granito (charnockito) verde-escuro. CPRM - Serviço Geológico do Brasil 18 piroxênios (aegirina, augita e hiperstênio) e olivina. Alguns desses constituintes podem estar ausentes em determinadas associações mineralógicas. Diversos outros minerais apresentam- se em proporções bem mais reduzidas, como mineráis acessórios. Quartzo, feldspatos, micas e anfibólios são os minerais dominantes nas rochas graníticas e granitóides (Fotos 1.13 e 1.14). A cor negra, variavelmente impregnada na matriz das rochas silicáticas, é conferida pelos minerais máficos (silicatos ferro- magnesianos), sobretudo anfibólio (hornblenda) e mica (biotita), chamados, no ambiente produtivo, de “carvão”. Nos granitos mais leucocráticos (claros), portanto com menor quantidade de minerais ferro-magnesianos, o quartzo e o feldspato compõem, em média, entre 85% e 95% da rocha. A textura das rochas silicáticas é determinada pela granulometria e hábito dos cristais, e a estrutura é definida pela distribuição desses cristais. Composição, textura e estrutura representam, assim, parâmetros de muito interesse para a caracterização de granitos e sua distinção dos mármores. Rochas Carbonáticas (Mármores, Travertinos e Calcários) As principais rochas carbonáticas abrangem calcários (limestones) e dolomitos, sendo os mármores seus correspondentes metamórficos (Fotos 1.15, 1.16 e 1.17). Os calcários são rochas sedimentares compostas principalmente de calcita (CaCO3), enquanto dolomitos são também sedimentares formadas, sobretudo, por dolomita (CaCO3 .MgCO3). A maior parte das rochas carbonáticas tem origem biológica ou mais propriamente biodetrítica, formando-se em ambientes marinhos pela deposição de conchas e esqueletos de outros organismos (corais, briozoários, etc.). Essas conchas e esqueletos são preservados como fósseis mais e menos fragmentados, perfeitamente reconhecíveis nas rochas pouco ou não metamorfizadas (Foto 1.18). Processos deposicionais conduzidos por precipitação química e bioquímica direta de carbonatos, em ambientes de Foto 1.13 – Café Brasil (Bahia): granito (nefelina sienito) marrom, isento de quartzo. Foto 1.14 – Amazon Star (Rondônia): granito com quartzo azulado. Foto 1.16 – Champagne Veiado (Espírito Santo): mármore de massa grossa. Foto 1.15 – Branco Extra (Espírito Santo): mármore de massa grossa. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 19 água-doce (continentais), determinam a formação de rochas não-fossilíferas e bastante heterogêneas, como as dos tipos travertinos e margas (Foto 1.19). Rochas carbonáticas representam, assim, materiais sedimentares e metassedimentares, constituídos por 50% ou mais dos minerais calcita e dolomita. Calcários (Foto 1.20), epicalcários e mármores calcíticos contêm calcita predominante, enquanto dolomitos, metadolomitos e mármores dolomíticos são rochas similares com predominância de dolomita. Impurezas comuns incluem argilas, quartzo, micas, anfibólios, matéria orgânica/grafitosa e sulfetos. É característica comum uma ampla variedade de cores, texturas, desenhos, cristalinidade e conteúdo fóssil. Rochas Silicosas (Quartzitos, Cherts e Similares) Quartzitos podem ser definidos como rochas metamórficas com textura sacaróide, derivadas de sedimentos arenosos, formadas por grãos de quartzo recristalizados e envolvidos ou não por cimento silicoso (Foto 1.21). Tanto quanto nos mármores, a recristalização mineralógica ocorre por efeito de pressão e temperatura atuantes sobre os sedimentos originais, tornando os quartzitos normalmente mais coesos e menos friáveis que os arenitos. Cherts são rochas silicosas, tanto microcristalinas quanto criptocristalinas, formadas pela precipitação química de sílica (SiO2) em ambientes subaquáticos (Fotos 1.22 e 1.23). Silexitos são rochas similares aos cherts, também de granulação muito fina (textura afanítica), por vezes resultantes de segregações metamórficas e hidrotermais. Os minerais acessórios (Fotos 1.24 e 1.25) mais comuns das rochas silicosas são as micas (filossilicatos), zircão, magnetita/ ilmenita e hidróxidos de ferro e de manganês. As feições estéticas dos quartzitos, sobretudo o padrão cromático, são determinadas pelos minerais acessórios. Quartzitos com pequena participação de filossilicatos (normalmente mica branca) não desenvolvem foliação Foto 1.17 – Giallo Marfim (Santa Catarina): mármore de massa fina desenhado. Foto 1.18 – Cappadocia (Paraná): mármore fossilífero com estromatólitos. Foto 1.19 – Travertino Bege Bahia (Bahia): estrutura maciça. Foto 1.20 – Bege Capri (Ceará): calcário plaqueado. CPRM - Serviço Geológico do Brasil 20 metamórfica e planos preferenciais de partição. Esses quartzitos são, portanto, caracterizados como rochas maciças de textura sacaróide granoblástica, extraídos como blocos nas pedreiras e, posteriormente, serrados em chapas. Quando há mais micas isorientadas, os quartzitos desenvolvem textura sacaróide granolepidoblástica, com planos preferenciais de partição/delaminação aproveitados para extração direta de placas no maciço rochoso lavrado (Foto1.26). Vários quartzitos e metaconglomerados silicosos (Foto 1.27), que, conforme referido, constituem rochas metamórficas de derivação sedimentar, ainda são incorretamente chamados de granitos. Rochas Síltico-Argilosas Foliadas (Ardósias) Ardósias são rochas metassedimentares, de baixo grau metamórfico, formadas a partir de sequências argilosas e síltico-argilosas. A definição científica de ardósia baseia-se, Foto 1.23 – Ônix Bamboo (Tocantins): chert / silexito desenhado. Foto 1.21 – Green Salmon (Bahia): metarenito bege bandado. Foto 1.22 – Iron Red (Minas Gerais): quartzito com hematita / formação ferrífera bandada / itabirito. Foto 1.24 – Azul Boquira (Bahia): quartzito maciço com dumortierita. Foto 1.25 – Sauípe (Bahia): quartzito maciço com fuchsita. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 21 entretanto, na presença de planos preferenciais paralelos de partição, que proporcionam a “clivagem ardosiana”. Os planos de clivagem são formados pela isorientação de minerais placóides e prismáticos, compondo uma estrutura xistosa comum a boa parte das rochas metamórficas. A distinção das ardósias, entre as demais rochas com planos preferenciais de clivagem, é determinada por sua granulação muito fina e pela maior capacidade de partição em superfícies paralelas. Seus principais constituintes mineralógicos incluem mica- branca fina (sericita), quartzo, clorita e grafita. Quantidades variáveis, em geral acessórias, de carbonato, turmalina, titanita, rutilo, feldspato, óxidos de ferro e pirita podem ocorrer. Sendo essencialmente constituídas por minerais estáveis, como o quartzo e filossilicatos (mica e clorita), as ardósias são resistentes à meteorização e, por isso, bastante duráveis. Algumas impurezas, sobretudo as carbonáticas, podem contribuir para a diminuição de durabilidade das ardósias, quando atacadas por soluções ácidas. As variedades existentes são comercialmente tipificadas pela cor, anotando-se ardósias cinza, verde, roxa (vinho), preta e grafite (Fotos 1.28, 1.29, 1.30 e 1.31). As ardósias de cor cinza, preta e grafite podem dar origem à ardósia “ferrugem” (Foto 1.32), como resultado da oxidação de finas lamelas interestratificadas de pirita (sulfeto de ferro). Rochas Ultramáficas (Serpentinitos, Pedra-Sabão e Pedra-Talco) Serpentinito, pedra-sabão e pedra-talco são designações técnicas e comerciais, aplicadas para variedades metamórficas Foto 1.26 – Pedra São Tomé (Minas Gerais): quartzito foliado branco. Foto 1.27 – Marinace (Bahia): metaconglomerado polimítico verde. Foto 1.28 – Ardósia (Minas Gerais): variedades texturais e cromáticas de ardósia cinza. Foto 1.29 – Ardósia (Minas Gerais): variedades texturais e cromáticas de ardósia grafite e preta. CPRM - Serviço Geológico do Brasil 22 de rochas ultramáficas. A constituição mineralógica dessas variedades é basicamente definida por serpentina, tremolita/ actinolita, clorita, talco e carbonato, em diversas associações, marcadas pela ausência de quartzo e feldspato. Os serpentinitos têm cor verde-escuro ou vermelho- escuro (Fotos 1.33 e 1.34), mostram mais resistência à abrasão e aceitam polimento, sendo assim utilizados para revestimentos. No setor de rochas ornamentais e para revestimento, os serpentinitos são comumente tratados como mármores verdes (por exemplo, Verde Alpi e Verde Guatemala). A pedra-sabão, um pouco mais macia que os serpentinitos, tem coloração cinza-escura e destina-se, sobretudo, à elaboração de fornos domésticos, lareiras, pequenos revestimentos, panelas, caçarolas, chapas e grelhas para alimentos, além de outros usos decorativos. Sua principal característica é aceitar altas temperaturas (até 1.500oC) e reter calor, permanecendo aquecida por longos períodos. Foto 1.30 – Ardósia (Minas Gerais): variedades texturais e cromáticas de ardósia verde. Foto 1.31 – Ardósia (Minas Gerais): variedades texturais e cromáticas de ardósia vinho/roxa. Foto 1.32 – Ardósia (Minas Gerais): variedades texturais e cromáticas de ardósia ferrugem/multicolor ou rusty. Foto 1.33 – Verde Dunito (Goiás): serpentinito. Foto 1.34 – Rosso Sacramento (Minas Gerais): serpentinito. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 23 A denominada pedra-talco é riscada pela unha e untuosa ao tato, exibindo aspecto mosqueado e cores que vão do marrom ao esverdeado. É utilizada principalmente para a confecção de objetos decorativos, destacando-se a arte estatuária. 1.2 PROSPECÇÃO E PESQUISA GEOLÓGICA DE JAZIDAS As faixas potenciais e a forma de distribuição das rochas; a vocação dos terrenos para ocorrência de materiais comuns, clássicos, excepcionais e exóticos; as feições estéticas esperadas; o presumível quadro de reservas; as perspectivas de alteração estética dos materiais aplicados; a dimensão dos blocos lavráveis; e o próprio método mais recomendado de lavra, entre outros parâmetros de interesse, podem ser inferidos por meio de condicionantes geológicas regionais e locais. Tanto em programas exploratórios regionais quanto na pesquisa de detalhe, os levantamentos geológicos são orientados para a definição de bons materiais, em condições físicas e quantidades apropriadas para exploração. Todos os fatores interferentes negativos, para a qualificação de materiais, devem ser cuidadosamente avaliados antes de se atribuir favorabilidade a uma região ou alvo específico. Programas Exploratórios Regionais Em âmbito regional, a simples distinção dos ambientes geológicos e dos domínios geotectônicos permite fixar bases previsionais para diferentes tipos de rochas. A coloração azul, por exemplo, muito valorizada comercialmente, é devida à presença de minerais como sodalita (em intrusões e complexos alcalinos, sobretudo sieníticos), dumortierita (em quartzitos), cordierita (em gnaisses) e quartzo azulado (em rochas vulcânicas, subvulcânicas e graníticas ácidas, associadas a ambientes de alta pressão). As rochas portadoras desses minerais estão, via de regra, associadas a ambientes específicos, caracterizáveis em mapas geológicos para efeito de prospecção. Da mesma forma, os granitos movimentados e desenhados, com padrão fantasia, representam expressão de rochas gnáissico-migmatíticas, devendo ser assim procurados em faixas antigas de embasamento cristalino. Os granitos homogêneos, não movimentados, associam-se a corpos intrusivos com formas elípticas ou arredondadas, mais ou menos bem delimitadas no terreno, rastreáveis em fotos aéreas convencionais e imagens de satélite, por meio de estruturas circulares/semicirculares. Em muitos casos, assinaturas aerogeofísicas gamaespectrométricas (canais de U, Th, K, relações U/Th, Th/K e contagem total), além de composições coloridas falsa-cor de imagens de satélite, podem compor padrões amostrais de interesse para prospecção. Para os mármores, algumas condicionantes geológicas importantes podem ser também mencionadas: • estruturas organógenas, do tipo estromatólito, que são, no Brasil, geneticamente associadas a paleoambientes específicos das faixas de dobramento proterozóicas portadoras de sequências carbonáticas, definem padrões estéticos movimentados e muito apreciados no mercado; • concentrações de matéria orgânica e outras impurezas contidas em sequências carbonáticas podem dar origem a mármores negros e com outros padrões cromáticos muito valorizados comercialmente; • a massa fina de alguns mármores, como, por exemplo, daqueles explorados na região de Carrara, na Itália, parece ser mais característica dos materiais dolomíticos do que dos materiais calcíticos, pois estes últimos mostram tendência à recristalização, com aumento de grãos minerais durante o metamorfismo; e • as rochas carbonáticas de caráter dolomítico são mais competentes que ascalcíticas durante os processos de deformação que acompanham o metamorfismo. Essa característica física implica o quebramento e a formação de veios, do tipo Arabescato, nos mármores dolomíticos, e em dobramento, nos mármores calcíticos. Todos os parâmetros mencionados, tanto para mármores quanto para granitos, podem ser geologicamente discriminados e utilizados nas campanhas de avaliação regional, representando guias prospectivos de interesse para materiais com algumas características estéticas desejáveis. Programas exploratórios regionais constituem, assim, principalmente em áreas mais ínvias e geologicamente ainda pouco conhecidas, importante ferramenta para o desenvolvimento do setor de rochas ornamentais. Seus objetivos e a execução revestem-se de caráter institucional sendo, por isso, recomendados como ação governamental. Pesquisa de Detalhe Os objetivos da pesquisa de detalhe estão relacionados à qualificação dos materiais e à viabilização da lavra, sobretudo em maciços rochosos. Os trabalhos necessários envolvem reconhecimento e amostragem das variedades litológicas aflorantes, caracterização petrográfica de rochas selecionadas, tipificação e caracterização comercial dos materiais priorizados, cálculo aproximado de reservas, indicação de métodos de lavra, testes de serragem e polimento, bem como avaliação de mercado e divulgação comercial dos materiais selecionados. As variedades litológicas aflorantes devem ser avaliadas, priorizando-se as feições estruturais, composicionais e fisiográficas do maciço. Diferenciações litológicas muito acentuadas ocasionam problemas na tipificação comercial dos materiais, podendo dificultar a garantia de suprimento de padrões estéticos homogêneos. A capa de intemperismo pode ter espessura variável e produz alterações cromáticas, principalmente em granitos, merecendo por isso algum tipo CPRM - Serviço Geológico do Brasil 24 de verificação no terreno. A dimensão de blocos e matacões em superfície fornece uma noção preliminar sobre o grau de fraturamento do maciço, permitindo assim inferências a respeito do tipo de lavra e dimensão dos blocos lavráveis. Amostras de pequeno volume coletadas em superfície, selecionadas e representativas, sem restrições estruturais e composicionais, devem ser utilizadas para a elaboração de placas de mostruário. Materiais que apresentarem bons resultados (fechamento, brilho, espelhamento, padrão cromático e desenho) podem ser submetidos a ensaios de caracterização tecnológica, a fim de definir sua adequação a padrões normatizados. Testes de serragem e polimento devem ser efetuados, com os materiais selecionados, em blocos de dimensões exigidas para o beneficiamento industrial (serragem em teares ou talha- bloco e lustração das chapas em politrizes-padrão). Esses testes dependem de uma lavra-piloto e são efetuados mediante a efetiva caracterização de materiais com boa qualidade, que mostrem quantidade adequada para a lavra. A lavra-piloto ou experimental é de fundamental importância para a conclusão da pesquisa de detalhe, da caracterização da jazida e do teste de mercado dos materiais. Com a lavra experimental, são determinados os índices esperados de recuperação na lavra final e definida a viabilidade econômica do empreendimento mineiro. Muitas vezes, a recuperação próxima à capa de alteração do maciço não reflete a realidade do corpo rochoso subjacente, sendo necessária a abertura de bancadas e, portanto, a remoção de volume mais considerável de estéril. Avaliação de Reservas Para a determinação preliminar e expedita de reservas, efetua-se o cálculo do volume da frente considerada, por meio da simulação de figuras geométricas (em relevos alongados) ou de seções transversais com bancadas hipotéticas (em relevos abobadados). Do volume calculado, subtrai-se 20% correspondentes a capeamentos de solo e imperfeições do relevo; do restante, subtrai-se 50% relativos a perdas presumíveis na lavra, estimando-se assim a reserva potencial teoricamente explotável. Como materiais aproveitados em volume, pequenas reservas de rochas ornamentais permitem longos períodos de exploração. Por exemplo, um maciço com apenas 100m x 100m x 50m, desmontado a uma razão de 1.000 m3/mês, tem reservas suficientes para 42 anos de atividade. Com uma taxa de recuperação de 50%, a lavra desse maciço permitirá a produção de 7,5 milhões m2 de chapas, durante a vida útil do empreendimento. Mais do que pela exaustão de suas reservas, um jazimento, ou pedreira, como o antes referido, encerrará suas atividades pela saturação de mercado do material extraído. A quantidade de reservas não é assim tão importante como a sua qualidade. Ao contrário das commodities minerais metálicas, no setor de rochas pode-se dispensar o atributo quantitativo como vetor principal de valorização ou valoração das jazidas. Isto é verdadeiro tanto para um jazimento específico quanto para o quadro de reservas de um país ou região, não fazendo muito sentido referir que essas reservas são suficientes para centenas ou milhares de anos de explotação. Assim, é o mercado que quase invariavelmente determina o encerramento das atividades de uma pedreira ou polo produtor, não a exaustão de suas reservas. Mesmo nos materiais pegmatíticos exóticos, em que os corpos são relativamente pequenos e as reservas naturalmente reduzidas, a lavra não é normalmente paralisada pelo esgotamento da jazida, mas pelo deslocamento da empresa extratora para outras frentes com novos materiais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHIODI FILHO, C. Aspectos técnicos e econômicos do setor de rochas ornamentais. Rio de Janeiro: CNPq/Cetem, 1995. 75 p. Série Estudos e Documentos, 28. CHIODI FILHO, Cid, RODRIGUES, E. de P. Guia de aplicação de rochas em revestimentos. São Paulo: Abirochas, 2009. 160 p. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia Capítulo 2 Panorama Técnico-Econômico do Setor de Rochas Ornamentais Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 27 2.1 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL E DO MERCADO INTERNACIONAL Considerações Gerais A produção mundial noticiada de rochas ornamentais e para revestimento evoluiu de 1,8 milhão t/ano, na década de 1920, para um patamar atual de 105 milhões t/ano. Cerca de 41 milhões t de rochas brutas e beneficiadas foram comercializadas no mercado internacional, em 2009¹, destacando-se que o notável crescimento do intercâmbio mundial caracterizou as décadas de 1980 e 1990 como a “nova idade da pedra” e, o próprio setor de rochas, como uma das mais importantes áreas emergentes de negócios mineroindustriais. Em âmbito mundial, estima-se que o setor de rochas esteja atualmente movimentando transações comerciais de US$ 100-120 bilhões/ano. Uma condicionante setorial relevante é o cada vez mais intenso controle ambiental das atividades produtivas, determinante para a necessidade de conservação de energia e a extração e o uso otimizados de matérias-primas. Cresce, assim, a oferta e demanda de tecnologias limpas para atividades extrativas e industriais; a elaboração de chapas mais delgadas para revestimentos em geral; e a oferta de materiais artificiais aglomerados, importantes para o aproveitamento de rejeitos e melhoria dos índices de recuperação na lavra e beneficiamento. As projeções de consumo/produção e intercâmbio mundial, das matérias-primas minerais para construção civil, não apontam mudanças de paradigmas, sugerindo a manutenção da tendência de crescimento da demanda dos materiais rochosos naturais para revestimento. Estima-se que, no ano de 2025, a produção mundial de rochas ornamentais ultrapassará a casa dos 400 milhões t, correspondentes a quase 5 bilhões m² equivalentes/ano, multiplicando-se por cinco o volume físico das transações internacionais anteo patamar de 2006 (Figura 2.1). Produção Mundial Segundo MONTANI (2010), a produção mundial estimada de rochas ornamentais, no ano de 2009, totalizou 104,5 milhões t, correspondentes a cerca de 1,14 bilhões m² equivalentes de chapas com 2 cm de espessura. Essa produção envolveu 60,9 milhões t (58,2%) de rochas carbonáticas, 38,0 milhões t (36,4%) de rochas silicáticas e 5,7 milhões t (5,4%) de ardósias e outras rochas xistosas (Tabela 2.1). Como resultado do desenvolvimento de tecnologias mais adequadas para lavra e beneficiamento de materiais duros, a participação das rochas silicáticas no total da produção evoluiu de 10%, na década de 1920, para o patamar atual de quase 40%. Um dos principais responsáveis por esse crescimento foi, sem dúvida, o Brasil, que, a partir da década de 1980, colocou centenas de novos granitos no mercado internacional. A China foi a maior produtora mundial, em 2009, com 31,0 milhões t. O segundo maior produtor mundial foi a Índia, com 13,2 milhões t. Seguem, com produção entre 7,0-8,0 milhões t, o Brasil, a Turquia e a Itália. Figura 2.1 - Evolução e projeção da produção e do intercâmbio mundial de rochas ornamentais e para revestimento (2000-2025). Fonte: MONTANI, 2007. Capítulo 2 Panorama Técnico-Econômico do Setor de Rochas Ornamentais 1 As informações disponíveis sobre o mercado internacional, quando da elaboração deste texto (novembro/2010), são referentes ao ano de 2009 e devidas a MONTANI (2010). CPRM - Serviço Geológico do Brasil 28 Ao longo da década de 2000, cresceu significativamente a produção de países extra-europeus, caso da China, Índia, Irã, Turquia e Brasil, enquanto permaneceu inalterada, ou até com leve declínio, a produção dos players europeus tradicionais, como a Itália, Espanha, Portugal e Grécia. Mercado Internacional A evolução recente do mercado internacional é mostrada na Tabela 2.2, em que se observa o aumento da participação das rochas processadas especiais (posição NCM2 6802) no total do volume físico comercializado. A maior parte dessa expansão está sendo canalizada pela China e Turquia, atualmente os maiores exportadores de rochas processadas (vide Figura 2.3). A redução do volume físico do comércio internacional, em 2008, foi a primeira registrada desde o início formal da tabulação de dados mundiais, na década de 1970. Principais Exportadores A China foi responsável por 28,6% do total do volume físico das exportações mundiais de rochas ornamentais em 2009 (Tabela 2.3), tendo-se, na sequência, a Índia (12,9%), a Turquia (11,9%), a Itália (6,9%), o Egito (4,8%), a Espanha (4,8%) e o Brasil (4,1%). Mais especificamente, em 2009, o Brasil foi o segundo maior exportador de rochas silicáticas brutas (código NCM 2516), representadas por blocos de granito; o quinto maior exportador de rochas processadas especiais (código NCM 6802), relativas, sobretudo, a chapas polidas de granito; o terceiro maior exportador de produtos de ardósia (código NCM 6803), atrás da Espanha e China; e o sétimo maior exportador de rochas processadas simples (código NCM 6801), representadas, no caso brasileiro, quase que essencialmente por produtos de quartzitos foliados (pedras do tipo São Tomé). ANO MÁRMORES GRANITOS ARDÓSIAS TOTAL 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t 1926 1.175 65,6 175 9,8 440 24,6 1.790 1976 13.600 76,4 3.400 19,1 800 4,5 17.800 1986 13.130 60,5 7.385 34,0 1.195 5,5 21.710 1996 26.450 56,9 17.625 37,9 2.425 5,2 46.500 1998 29.400 57,6 19.000 37,3 2.600 5,1 51.000 2000 34.500 57,8 21.700 36,3 3.450 5,9 59.650 2002 39.000 57,8 25.000 37,0 3.500 5,2 67.500 2004 43.750 53,9 33.000 40,6 4.500 5,5 81.250 2006 53.350 57,5 34.800 37,5 4.600 5,0 92.750 2008 61.000 58,0 38.300 36,5 5.700 5,5 105.000 2009 60.850 58,2 38.000 36,4 5.650 5,4 104.500 Fonte: compilado a partir dos dados de MONTANI (2010). Tabela 2.1 Produção Mundial de Rochas Ornamentais - Perfil Histórico. Tabela 2.2 Evolução do Mercado Internacional de Rochas Ornamentais e para Revestimento (2005-2009). PRODUTOS / CÓDIGO NCM 2005 2006 2007 2008 2009 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % RSB 2516 10.266 28,5 10.562 25,5 11.429 24,7 10.816 23,9 8.909 21,7 RCB 2515 6.265 17,4 7.495 18,1 8.271 17,9 9.384 20,8 9.466 23,0 RPE 6802 14.582 40,4 18.138 43,8 21.150 45,8 19.791 43,8 18.199 44,3 RPS 6801 3.689 10,2 3.804 9,2 3.814 8,2 3.702 8,2 3.262 8,0 PA 6803 1.256 3,5 1.369 3,3 1.568 3,4 1.500 3,3 1.242 3,0 Total 36.058 100 41.368 100 46.232 100 45.193 100 41.078 100 RSB – rochas silicáticas brutas; RCB – rochas carbonáticas brutas; RPE – rochas processadas especiais; RPS – rochas processadas simples; PA – produtos de ardósia. Fonte: compilado a partir de MONTANI (2006 a 2010). 2 Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) é um sistema harmonizado, de codificação e classificação de mercadorias para comércio internacional, aplicado pelos países desse bloco econômico. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 29 Principais Importadores Na Tabela 2.4, são mostrados os 12 maiores importadores mundiais, responsáveis por 60,6% do total das importações efetuadas em 2009, o que revela a concentração de vendas em poucos mercados. Existem, no caso, três perfis de mercados ou países importadores: a) países principalmente importadores de rochas brutas, que as beneficiam para atendimento do mercado doméstico e para exportações, como, por exemplo, a China e Itália. Esses países são também, invariavelmente, grandes produtores; b) países importadores de rochas brutas e processadas, basicamente para atendimento do mercado doméstico como, por exemplo, o Reino Unido, Taiwan e a Alemanha. Esses países são, normalmente, produtores pouco expressivos; c) países principalmente importadores de rochas processadas, para atendimento do mercado doméstico como, por exemplo, o Japão, os EUA e a Coréia do Sul. Esses países, da mesma forma, são produtores e exportadores pouco expressivos. A China foi a maior importadora mundial, em 2009, praticamente só adquirindo rochas brutas. Em segundo lugar ficaram os EUA, país importador quase só de rochas processadas. A variação anual registrada entre os anos de 2005 e 2007 traduziu o aquecimento da economia mundial e a pressão de demanda exercida por determinados mercados imobiliários, como os da China, dos EUA, do Golfo Pérsico e de alguns países da Europa. Com a mudança do cenário internacional, tanto o mercado americano, quanto outros importantes mercados importadores, sofreram retração em 2008 e 2009. Tabela 2.3 Principais Países Exportadores de Rochas Ornamentais - Evolução do Volume Físico e Participação Porcentual no Total Mundial (2005-2009). PAÍSES 2005 2006 2007 2008 2009 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % China 8.896 24,7 10.338 25,0 11.533 25,0 11.793 26,1 11.733 28,6 Índia 4.044 11,2 4.522 10,9 5.571 12,1 5.426 12,0 5.311 12,9 Turquia 3.045 8,4 4.041 9,8 4.736 10,2 4.886 10,8 4.868 11,9 Itália 3.122 8,7 3.261 7,9 3.342 7,2 3.154 7,0 2.835 6,9 Espanha 2.442 6,8 2.403 5,8 2.635 5,7 2.445 5,4 1.968 4,8 Egito 972 2,7 1.094 2,6 1.330 2,9 2.085 4,6 1.973 4,8 Brasil 2.157 6,0 2.536 6,1 2.475 5,4 1.990 4,4 1.673 4,1 Fonte: compilado a partir de MONTANI (2006 a 2010). Tabela 2.4 Principais Importadores Mundiais de Rochas Ornamentais – Volume Físico (2005-2009). PAÍSES 2005 2006 2007 2008 2009 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % 1.000 t % China 4.554 12,6 6.007 14,5 7.245 15,7 8.207 18,2 8.166 19,9 EUA 3.727 10,3 4.943 11,9 5.277 11,4 3.956 8,8 3.147 7,7 Itália 2.483 6,9 2.738 6,6 2.655 5,7 2.307 5,1 1.594 3,9 Taiwan 1.896 5,3 1.931 4,7 1.608 3,5 1.484 3,3 1.312 3,2 Coréia do Sul 1.833 5,1 2.110 5,1 2.526 5,5 2.528 5,6 2.470 6,0 Alemanha 1.795 5,0 2.407 5,8 2.596 5,6 2.098 4,6 1.967 4,8 Japão1.735 4,8 1.563 3,8 1.459 3,2 1.238 2,7 1.223 3,0 Espanha 1.430 4,0 1.573 3,8 1.653 3,6 1.273 2,8 858 2,1 Holanda 1.308 3,6 1.3012 3,2 1.226 2,7 1.199 2,7 903 2,2 Bélgica 1.115 3,1 1.415 3,4 1.453 3,1 1.177 2,6 1.091 2,7 França 1.093 3,0 1.340 3,2 1.331 2,9 1.286 2,8 1.095 2,7 Reino Unido 994 2,8 1.336 3,2 1.387 3,0 1.185 2,6 991 2,4 Fonte: compilado a partir de MONTANI (2006 a 2010). CPRM - Serviço Geológico do Brasil 30 2.2 SITUAÇÃO BRASILEIRA Aspectos Setoriais de Interesse Os produtos comerciais do setor de rochas ornamentais, incluindo blocos, não devem ser entendidos e tratados como commodities, mas sim como specialties ou manufaturas. A garantia de mercado, que traduz a efetiva capacidade de comercialização dos produtos do setor, é assim tão importante quanto a garantia de produção e beneficiamento de suas matérias-primas. O setor de rochas é fundamentalmente integrado por micro e pequenas empresas3 de lavra (mineradoras), beneficiamento (serrarias), acabamento (marmorarias) e serviços, cuja realidade é muito distinta das grandes empresas do setor mineral. As micro e pequenas empresas brasileiras ainda não têm suas necessidades bem atendidas e entendidas pelos programas governamentais de fomento, que são tradicionalmente mais focados e dirigidos para as grandes empresas e projetos mineroindustriais de commodities. Pelo exemplo que se tem do Estado do Espírito Santo, a estruturação de Arranjos Produtivos Locais (APL’s) é um dos elementos mais importantes para o desenvolvimento do setor de rochas no Brasil. Essa estruturação depende, entre outras coisas, da verticalização da atividade produtiva, com lavra e beneficiamento das matérias-primas de interesse comercial. O fortalecimento dos APL’s só é dinamizado mediante concessão de incentivos fiscais e tributários, como base para atração de empreendimentos e desoneração da produção. São tecnicamente conhecidas as diversas possibilidades de aproveitamento de rejeitos/resíduos de rochas ornamentais como matéria-prima de uso industrial. É preciso promover a aproximação entre as indústrias potencialmente consumidoras desses resíduos e os possíveis fornecedores, em um trabalho conhecido como simbiose industrial. Em função da crise econômica internacional instalada em 2008, barreiras tarifárias e, sobretudo, não tarifárias têm sido cada vez mais utilizadas como mecanismo de proteção de mercados. Constituem exemplos as taxas de importação mantidas pela China, já antes de 2008, para produtos acabados e semiacabados, que inviabilizam a entrada de chapas polidas brasileiras em seu mercado; a tentativa de desqualificação das telhas de ardósia brasileira no mercado europeu e, particularmente, na marca CE, por iniciativa de entidades e produtores concorrentes espanhóis; e a campanha movida contra a utilização de bancadas de granito, em ambientes internos, no mercado dos EUA, sob a alegação de que emitiriam gás radônio. As bases competitivas desejáveis para o setor de rochas são sistêmicas e muitas vezes dependentes de fatores externos ao próprio setor, vinculados a políticas públicas e mecanismos institucionais de fomento para a atividade produtiva, como os que agora se tenta promover por meio do primeiro Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia. Perfil da Atividade Produtiva A cadeia produtiva de rochas ornamentais e para revestimento envolve, em seu eixo principal, a extração de matérias-primas em pedreiras, seu desdobramento por Figura 2.2 – Cadeia produtiva de rochas ornamentais. Fonte: MELLO, 2004. 3 Sob qualquer critério de classificação, são muito raras, no setor de rochas, as empresas de médio porte e inexistentes as de grande porte. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 31 serragem em produtos semiacabados e o recorte e preparação de produtos finais (Figura 2.2). Participam ainda, dessa cadeia produtiva, fabricantes de máquinas, equipamentos e insumos diversos utilizados pelos elos centrais, bem como fabricantes de produtos para limpeza e conservação, após aplicação e uso dos revestimentos. As serrarias de blocos e polimento de chapas, junto com as marmorarias, shoppings da construção e depósitos de chapas, são os principais integrantes da estrutura de oferta (produção), enquanto que as construtoras e os consumidores individuais são os principais integrantes da estrutura de demanda (consumo). As serrarias constituem atualmente os principais fornecedores das construtoras e suas obras maiores, enquanto as marmorarias permanecem como fornecedoras preferenciais dos pequenos consumidores (consumidores individuais ou pequenas obras). Pode-se, ainda, observar que os denominados depósitos de chapas são os principais fornecedores dos materiais importados, apesar do crescimento das importações diretas efetuadas pelas grandes construtoras. Estima-se que os negócios brasileiros do setor de rochas ornamentais, nos mercados interno e externo, inclusive relativos aos serviços e à comercialização de máquinas, equipamentos e insumos, tenham movimentado cerca de US$ 3,8 bilhões em 20094. Cerca de 10 mil empresas (Tabela 2.5), dentre as quais pelo menos 500 exportadoras, integram sua cadeia produtiva e respondem por 120 mil empregos diretos e 360 mil indiretos. As marmorarias perfazem mais de 60% das empresas do setor e são responsáveis pela maior parte dos empregos agregados, conforme apontado na Tabela 2.6. Destaca-se que, no Brasil, é de apenas US$ 10 mil o custo estimado para a geração de um emprego direto no setor de rochas, contra algumas centenas de milhares de dólares, por exemplo, na indústria automobilística. O parque brasileiro de beneficiamento tem capacidade instalada, de serragem e polimento de chapas, para 70 milhões m²/ano, a partir de rochas extraídas em blocos e caracterizadas por gerarem a maior parte dos denominados produtos de processamento especial (special finished and semifinished products). Essa capacidade é acrescida de mais 50 milhões m²/ano em produtos de processamento simples (simple finished products), obtidos principalmente a partir de rochas portadoras de planos naturais de desplacamento (ardósias, quartzitos e gnaisses foliados, calcários e basaltos plaqueados, etc.). SEGMENTO Nº ESTIMADO DE EMPRESAS PARTICIPAÇÃO Marmoraria 6.100 61,0% Beneficiamento 2.000 20,0% Lavra 900 9,0% Exportadoras 500 5,0% Serviços 400 4,0% Indústrias de Máquinas, Equipamentos e Insumos 100 1,0% Total 10.000 100% Fonte: CHIODI FILHO (2009b). Tabela 2.5 Empresas do Setor de Rochas Ornamentais Operantes no Brasil - 2009. Tabela 2.6 Distribuição dos Empregos por Ramo de Atividade na Cadeia Produtiva do Setor de Rochas Ornamentais – 2009. SEGMENTO Nº ESTIMADODE EMPREGOS PARTICIPAÇÃO Marmoraria 60.000 50% Beneficiamento 32.000 27% Lavra 18.000 15% Exportadoras 2.000 2% Ensino e Serviços 4.000 4% Indústrias de Máquinas, Equipamentos e Insumos 2.000 2% Total 120.000 100% Fonte: CHIODI FILHO (2009b). 4 Este texto foi elaborado em novembro/2010 sendo, portanto, de 2009 as últimas informações atualizadas para o Brasil. CPRM - Serviço Geológico do Brasil 32 A maior parte das atividades de lavra e beneficiamento primário concentra-se em APL’s, como os de mármores e granitos do Espírito Santo, de ardósias e quartzitos foliados de Minas Gerais, de gnaisses foliados do Rio de Janeiro, de basaltos plaqueados do Rio Grande do Sul, de travertinos da Bahia, de calcários plaqueados do Ceará, etc. Os Estados da Região Sudeste do Brasil, com destaque para São Paulo, têm a maior concentração de marmorarias (cerca de 70% do total brasileiro), além da maior capacidade instalada para trabalhos de acabamento. A estrutura de preços dos diversos produtos comerciais do setor de rochas é bastante diferenciada, entre os mercadosinterno e externo. Os preços de produtos brasileiros para o mercado interno são quase sempre inferiores àqueles praticados para o mercado externo, em uma proporção de até 1:3. Esse diferencial pode oscilar para menos, nos mármores (1:1), e para mais, nas ardósias (1:10). Os materiais e produtos brasileiros de primeira linha são preferencialmente exportados. Os produtos semiacabados, a exemplo das chapas polidas, agregam de três a quatro vezes mais valor de comercialização que o dos blocos das matérias-primas que lhes deram origem. Os produtos acabados, como tampos de pias, mesas e balcões, dentre outros, agregam até dez vezes mais valor que o de suas matérias-primas. A partir dos dados registrados para as exportações brasileiras de 2008 e 2009, apresenta-se na Tabela 2.7 o preço médio dos principais grupos de produtos colocados no mercado internacional. Distribuição da Produção Brasileira A partir de estudos realizados pelo INSTITUTO METAS (2002), para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), evidenciou- se a existência de 18 aglomerações produtivas relacionadas ao setor de rochas ornamentais e de revestimento no Brasil, envolvendo atividades de lavra em 10 estados e 80 municípios da Federação (Tabela 2.8). Mais amplamente, foram registrados 370 municípios com recolhimento da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM), para extração de rochas ornamentais. A Região Sudeste tem a maior concentração desses aglomerados, demonstrando a relação direta entre polos de produção e consumo regionais. Os Estados da Região Norte, que total ou parcialmente integram a área de abrangência da Amazônia Legal, constituem as últimas grandes fronteiras brasileiras para produção e beneficiamento de rochas ornamentais. A produção brasileira de materiais rochosos naturais, para ornamentação e revestimento, foi estimada em 7,6 milhões t, em 2009. Essa produção inclui granitos e similares, mármores, travertinos, ardósias, quartzitos maciços e foliados, basaltos e gabros, serpentinitos, pedra-sabão e pedra-talco, calcários, metaconglomerados polimíticos e oligomíticos, cherts, arenitos, xistos diversos, etc. Assume-se a existência de 1.400 frentes ativas de lavra, sempre a céu aberto e em maciço ou matacões, responsáveis por cerca de 900 variedades comerciais de rochas colocadas nos mercados interno e externo. O perfil da produção brasileira, por tipo de rocha, é mostrado na Tabela 2.9, observando-se que os materiais comercialmente classificados como granitos correspondem a quase 50% do total produzido. A distribuição regional dessa produção é mostrada na Tabela 2.10, salientando-se que a Região Sudeste do Brasil responde por quase 70% do total. A distribuição da produção pelos Estados é mostrada na Tabela 2.11, tendo-se o Espírito Santo e Minas Gerais como os dois principais polos de lavra do Brasil. Exportações A partir da década de 1990, o Brasil experimentou notável adensamento de atividades em todos os segmentos da cadeia produtiva do setor de rochas ornamentais e para revestimento5. Os principais avanços decorreram do aumento das exportações, que evidenciaram forte evolução qualitativa e quantitativa. Qualitativamente, foi modificado o perfil das exportações, com o incremento da venda de rochas processadas semiacabadas, principalmente chapas polidas de granito, bem como produtos acabados de ardósias e quartzitos foliados. Tabela 2.7 Preço Médio dos Principais Produtos Brasileiros de Exportação no Setor de Rochas – (2008/2009). Produtos Preço Médio Faixa de Variação do Preço Códigos Fiscais de Referência Blocos de granito e similares US$ 540/m³ US$ 300 - 1.500/m³ 2516.12.00; 2516.11.00 Blocos de mármore e similares US$ 780/m³ US$ 600 - 1.200/m³ 2515.12.10 Chapas polidas de granito US$ 46/m² US$ 30 - 200/m² 6802.93.90; 6802.23.00 Chapas polidas de mármore US$ 56/m² US$ 35 - 150/m² 6802.21.00; 6802.91.00 Produtos de ardósia US$ 13/m² US$ 10 - 25/m² 6803.00.00 Produtos de quartzito foliado US$ 17/m² US$ 12 - 40/m² 6801.00.00 Produtos de pedra-sabão US$ 80/m² US$ 60 - 120/m² 6802.29.00 Fonte: compilado a partir de consulta à base Alice (http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/), do MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. 5 Neste texto, designa-se como rocha ornamental e de revestimento apenas os materiais rochosos naturais, excluindo-se os produtos aglomerados/industrializados a partir de ligantes resinóides. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 33 Tabela 2.8 Principais Aglomerações Produtivas do Setor de Rochas no Brasil. REGIÃO AGLOMERAÇÕES IDENTIFICADAS ESTADO NÚMERO DE MUNICÍPIOS Sudeste Pedra Paduana RJ 1 Ardósias Papagaio MG 8 Mármores e Granitos Cachoeiro de Itapemirim ES 8 Granitos Nova Venécia ES 6 Quartzitos São Thomé MG 6 Granitos Baixo Guandu ES 4 Granitos Medina MG 4 Granitos Candeias - Caldas MG 16 Granitos Bragança Paulista SP 4 Quartzitos e Pedra-Sabão Ouro Preto MG 4 Quartzitos Alpinópolis MG 2 Região Centro-Oeste Quartzitos Pirenópolis GO 2 Região Sul Basaltos Nova Prata RS 7 Ardósias Trombudo Central SC 1 Região Nordeste Travertinos Ourolândia BA 2 Granitos Teixeira de Freitas BA 2 Pedra Cariri CE 2 Pedra Morisca PI 1 Total 18 Aglomerações Produtivas de Rochas 10 Estados 80 Municípios Fonte: INSTITUTO METAS (2002). Tabela 2.9 Perfil da Produção Brasileira por Tipo de Rocha – 2009. Fonte: CHIODI FILHO (2009b). TIPO DE ROCHA PRODUÇÃO (MILHÃO t) PARTICIPAÇÃO Granito e similares 3,6 47% Mármore e Travertino 1,3 17% Ardósia 0,7 9% Quartzito Foliado 0,6 8% Quartzito Maciço 0,2 3% Pedra Miracema 0,2 3% Outros (Basalto, Pedra Cariri, Pedra-Sabão, Pedra Morisca, etc.) 1,0 13% Total estimado 7,6 100% Tabela 2.10 Distribuição Regional da Produção Bruta de Rochas Ornamentais no Brasil - 2009. REGIÃO PRODUÇÃO (MILHÃO t) PARTICIPAÇÃO Sudeste 5,10 67,2% Nordeste 1,78 23,4% Sul 0,30 3,9% Centro-Oeste 0,32 4,2% Norte 0,10 1,3% Total estimado 7,60 100% FONTE: CHIODI FILHO (2009b), com atualizações. CPRM - Serviço Geológico do Brasil 34 Quantitativamente, essas exportações evoluíram de 900 mil t, em 1997, para 2,5 milhões t, em 2007, alavancadas pelas vendas de blocos para a China e de chapas polidas para os EUA. No ano de 2006, o Brasil chegou, assim, a colocar-se como o quarto maior produtor e exportador mundial de rochas ornamentais e para revestimento, superando vários players europeus tradicionais e notabilizando-se pela excepcional geodiversidade de suas matérias-primas. O crescimento brasileiro foi simpático a uma expressiva rearticulação mundial do setor, marcada pelo deslocamento de atividades FIGURA 2.4 - Evolução anual do faturamento das exportações brasileiras de rochas ornamentais – 1998-2009. RSB: blocos de granito; RCB: blocos de mármore; RP: rochas processadas. (*) 2010 projetado. FONTE: CHIODI FILHO (2010), com atualizações. de lavra e beneficiamento para países extraeuropeus, como China, Índia, Turquia, Irã e o próprio Brasil (Figura 2.3). Com a instalação da crise do mercado imobiliário dos EUA, em 2007, e posteriormente, já em 2009, com a recessão da economia mundial, recuaram tanto a produção quanto, sobretudo, as exportações brasileiras de rochas ornamentais. O volume físico dessas exportações recuou de 2,5 milhões t, em 2007, para 1,99 milhões t, em 2008, e 1,67 milhões t em 2009, enquanto o faturamento caiu respectivamente de US$ 1,1 bilhão para US$ 955 milhões e US$ 724 milhões (Figura 2.4). Os 12 principais destinos das exportações brasileiras de rochas ornamentais, em 2009, são mostrados na Tabela 2.12, em que se observa a grande concentração de vendas para os mercados dos EUA e da China. A participação dos EUA, no faturamento dessas exportações, recuou de60,5%, em 2006, para 50,1%, em 2009. A participação da China é crescente, tendo alcançado 10,4% do faturamento e 29,2% do volume físico das exportações em 2009. De janeiro a novembro de 2010, as exportações brasileiras atingiram um faturamento de US$ 883,9 milhões, com variação positiva de 35,13%, em relação ao mesmo período de 2009. Essa elevação foi motivada pela recomposição do estoque de chapas nos EUA e pela ainda aquecida demanda de blocos na China. Estima-se que as exportações brasileiras de rochas ornamentais fechem o ano de 2010 com um faturamento próximo de US$ 940 milhões (vide Figura 2.4), correspondentes a uma expansão de 30% sobre a de 2009. Figura 2.3 – Rearticulação mundial do setor de rochas ornamentais e de reves- timento: evolução da participação relativa no mercado internacional de rochas processadas especiais – Código NCM 6802. Fonte: CHIODI FILHO, 2009b, com atualizações. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 35 Importações As importações brasileiras de rochas ornamentais evidenciaram dois picos de elevação ao longo dos últimos 15 anos. O primeiro ocorreu em 1998, com 73,5 mil t importadas, e o segundo em 2008, com 91,2 mil t (Figura 2.5). Ambos coincidiram com períodos de aquecimento da economia e queda da cotação do dólar. Apesar de ainda estimulada pela valorização do Real e pelo aquecimento do mercado interno da construção civil, a taxa de variação das importações foi negativa, em 2009, refletindo o impacto da crise econômica internacional. A exemplo das exportações, essas importações de rochas ornamentais ganharam novo impulso em 2010, tendo-se registrado 81,2 mil t e um incremento de 38,4%, no período de janeiro a novembro, se considerado o mesmo período de 2009. Figura 2.5 - Evolução do volume físico das importações brasileiras de rochas ornamentais – 1994-2009. (*) 2010 projetado. FONTE: CHIODI FILHO (2009a), com atualizações. REGIÃO ESTADO PRODUÇÃO (1.000 t) TIPO DE ROCHA Sudeste Espírito Santo 3.000 Granito e mármore Minas Gerais 1.800 Granito, ardósia, quartzito foliado, pedra-sabão, pedra-talco, serpentinito, mármore e basalto Rio de Janeiro 200 Granito, mármore e pedra Paduana São Paulo 100 Granito, quartzito foliado Sul Paraná 100 Granito e mármore Rio Grande do Sul 100 Granito, basalto e quartzito Santa Catarina 100 Granito, ardósia e mármore Centro-Oeste Goiás 270 Granito, quartzito foliado, serpentinito Mato Grosso 20 Granito Mato Grosso do Sul 30 Granito e mármore Nordeste Bahia 600 Granito, mármore, travertino, arenito e quartzito Ceará 430 Granito e pedra Cariri Paraíba 350 Granito e conglomerado Pernambuco 100 Granito e quartzito Alagoas 130 Granito Rio Grande Norte 100 Mármore e granito Piauí 70 Pedra Morisca e ardósia Norte Rondônia 50 Granito Roraima 10 Granito Pará 20 Granito Tocantins 20 Granito, chert (quartzito), serpentinito Total Brasil 7.600 Tabela 2.11 Distribuição Estadual da Produção de Rochas Ornamentais no Brasil - 2009. Fonte: CHIODI FILHO (2009b), com atualizações. CPRM - Serviço Geológico do Brasil 36 PAÍS FATURAMENTO(US$ 1.000) PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL (%) VOLUME FÍSICO (TONELADAS) PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL (%) EUA 362.695,68 50,1 454.292,72 27,2 China 75.049,05 10,4 488.207,28 29,2 Itália 41,847,79 5,8 153.133,94 9,2 Canadá 25.456,90 3,5 27.086,65 1,6 Reino Unido 18.927,96 2,6 47,111,50 2,8 Venezuela 18.898,29 2,6 29.554,35 1,8 Alemanha 18.255,87 2,5 42.469,38 2,5 México 16.868,30 2,3 26.743,12 1,6 Espanha 14.952,34 2,1 39.332,30 2,4 Holanda 10.216,86 1,4 21.099,62 1,3 Hong Kong 10.141,52 1,4 51.304,05 3,1 Taiwan 9.368,36 1,3 56.694,36 3,4 Fonte: compilado a partir de consulta à base Alice – MDIC (http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/) . Tabela 2.12 Principais Destinos das Exportações Brasileiras de Rochas Ornamentais – 2009. A maior parte das importações brasileiras de materiais rochosos naturais refere-se a chapas polidas de mármores, travertinos e calcários provenientes da Turquia, Espanha, Itália e Grécia. Tem-se observado crescimento, também bastante expressivo, de chapas aglomeradas, nesse caso importadas, sobretudo, da China. No período de janeiro a novembro de 2010 essas importações totalizaram 25,4 mil t, o que representa aumento de 44,2% em relação a 2009. Consumo Interno Aparente A partir dos dados de produção, exportação e importação, é mostrado, na Tabela 2.13, o consumo interno aparente de rochas ornamentais, estimado em 59,3 milhões m² equivalentes (chapas com 2 cm de espessura), no ano de 2009. Estima-se que esse consumo interno deva aproximar-se dos 70 milhões m² equivalentes em 2010. Tabela 2.13 Consumo Interno Aparente de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Brasil - 2009. TIPO DE ROCHA CONSUMO (MILHÕES M2 EQUIVALENTES)* PARTICIPAÇÃO Granito 27,0 46% Mármore e Travertino 15,0 25% Ardósia 5,0 9% Quartzitos Maciço e Foliado 5,5 9% Outros 5,4 9% Mármores importados 1,4 2% Total estimado 59,3 100% (*) Chapas com 2 cm de espessura equivalentes. Fonte: CHIODI FILHO (2009b), com atualizações. Tabela 2.14 Distribuição do Consumo Interno Aparente de Rochas Ornamentais no Brasil, por Estados e Regiões - 2009. ESTADO/REGIÃO CONSUMO (MILHÕES M2 EQUIVALENTES)* PARTICIPAÇÃO São Paulo 27,3 46% Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais 14,2 24% Região Sul 8,3 14% Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste 9,5 16% Total estimado 59,3 100% (*) Chapas com 2 cm de espessura equivalentes. Fonte: CHIODI FILHO (2009b), com atualizações. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 37 A distribuição estimada desse consumo interno é apresentada na Tabela 2.14. O Estado de São Paulo respondeu por quase 50% do total, que atinge 70%, quando somados todos os Estados da Região Sudeste. Tabela 2.15 Brasil: Repartição da Produção, Intercâmbio e Consumo Interno de Rochas Ornamentais - 2007/2009 (valores em 1.000 t). PARÂMETROS 2007 2008 2009 Produção de Rochas Brutas 7.970 7.800 7.600 Importação de Rochas Brutas 14,34 21,20 15,53 Disponibilidade de Rochas Brutas 7.984,34 7.821,20 7.615,53 Exportação de Rochas Brutas 1.185,76 912,55 809,60 Rochas Brutas para Processamento 6.798,58 6.908,65 6.805,93 Rejeito de Processamento (41%) 2.787,42 2.832,55 2.790,43 Produção de Rochas Processadas 4.011,16 4.076,10 4.015,50 Importação de Rochas Processadas 62,57 70,04 51,08 Disponibilidade de Rochas Processadas 4.073,73 4.146,14 4.066,58 Exportação de Rochas Processadas 1.315,93 1.077,22 863,03 Consumo Interno 2.757,80 3.068,92 3.203,55 Consumo em m2 equivalente x 1.000.000 51,07 56,83 59,33 Consumo per capita (m2 x 2 cm espessura)* 0,28 0,31 0,31 Consumo per capita (kg)** 14,91 16,58 16,86 (*) 54 kg/m²; (**) 190 milhões de habitantes em 2009. Fonte: CHIODI FILHO (2009b), com atualizações. A planilha de cálculo do consumo per capita, para os anos de 2007 a 2009, é mostrada na Tabela 2.15. Mesmo ainda inferior a 20 kg/ano, o consumo per capita brasileiro já é significativo, em relação ao dos países economicamente mais desenvolvidos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHIODI FILHO, C. Aspectos de interesse sobre o mercado interno de rochas ornamentais e de revestimento. Informe Abirochas, São Paulo, n. 22, 2006. ______ Balanço das exportações e importações brasileiras de rochas ornamentais em 2008. Informe Abirochas, São Paulo, n. 03, 2009a. ______ O setor de rochas ornamentais e de revestimento. In: FENAFEG – Feira Nacional de Fornecedores e Empresas de Geologia, 4, 2009, São Paulo. Palestra..., São Paulo: Instituto de Geociências-USP, 2009b. ______ Síntese das exportações brasileiras de rochas ornamentais e de revestimento em 2009. Informe Abirochas, São Paulo, n. 01, 2010. INSTITUTO METAS. Identificação, caracterizaçãoe classificação de arranjos produtivos de base mineral e de demanda mineral significativa no Brasil. Belo Horizonte: MCT/CGEE/CNPq/Fiemg, 2002. 1 CD-ROM. MELLO, I. S. C. A cadeia produtiva de rochas ornamentais e para revestimento: situação, desafios e alternativas para inovação e competitividade dos elos de produção. In: MELLO, I. S. C. (coord.) A Cadeia Produtiva de Rochas Ornamentais e para Revestimento no Estado de São Paulo. São Paulo: IPT, 2004. p. 27-79. MONTANI, C. Stone – repertorio economico mondiale. Milano: Faenza Editrice, edições de 1998 a 2009. MONTANI, C. Stone – XXI rapporto: marmo e pietre nel mondo. Carrara: Aldus Casa di Edizioni in Carrara, 2010. 195 p. Atlas de Rochas Ornamentais da Amazonia Capítulo 3 Cenário da Produção e Mercado de Rochas Ornamentais na Amazônia Atlas de Rochas Ornamentais da Amazonia 41 A produção estimada de lavra de rochas ornamentais na região amazônica ainda não ultrapassa 120 mil t/ano, o que corresponde a menos de 2% do total brasileiro (Figura 3.1). Atividades formais de lavra são noticiadas apenas nas porções sul-sudeste de Rondônia, norte-noroeste do Mato Grosso, centro-norte do Tocantins e sul do Pará (Foto 3.1). Novas frentes de lavra, experimentais, estão sendo desenvolvidas nos Estados de Roraima e Mato Grosso (Foto 3.2). Figura 3.1 – Participação dos Estados na produção extrativa de rochas para revestimento no Brasil. Foto 3.1 – Pedreira em maciço da Gramazon, desenvolvida sobre charnockitos com quartzo azul (granito Blue Star), próximo à localidade de Jarú, em Rondônia. Lavra em bancadas altas, com furação coplanar adjacente para os cortes de traseira. Fios diamantados são utilizados para cortes laterais e de levante. Foto 3.2 – Lavra experimental da empresa Criúva Florestal e Mineradora, desenvolvida em maciço granítico próximo à localidade de Nova Bandeirante, no norte do Mato Grosso. Capítulo 3 Cenário da Produção e Mercado de Rochas Ornamentais na Amazônia CPRM - Serviço Geológico do Brasil 42 A maior parte da produção conhecida é de materiais exóticos, incluindo granitos com quartzo azul (Rondônia), metabasaltos com estrutura de pillow lava (Pará), cherts/quartzitos (Pará, Mato Grosso e Tocantins) e metaconglomerados polimíticos (Pará). O perfil dos materiais extraídos sugere que a atividade produtiva está ainda condicionada a produtos exóticos de alto valor agregado, devido aos elevados custos de produção e transporte vigentes. Esses materiais são lavrados na forma de blocos com dimensões adequadas para serragem de chapas em teares. A extração de paralelos e pedras marroadas, geralmente para calçamento e meio-fio, tem distribuição geográfica mais ampla do que a dos blocos, envolvendo rochas graníticas convencionais (Foto 3.3). Ainda mais restrito que a lavra de blocos, é o seu beneficiamento na região amazônica. Apenas a Gramazon Granitos da Amazônia, empresa instalada na cidade de Ji-Paraná, em Rondônia, possui planta industrial de beneficiamento, para serragem de blocos e produção de chapas e lajotas. A planta industrial da Gramazon opera com modernos equipamentos importados (Itália) e tem capacidade instalada para a produção de 22 mil m²/mês de chapas e lajotas. São utilizados teares multilâmina e talha-blocos multidisco, automáticos, além de politrizes multicabeça, também automáticas, para tratamento de chapas e bordas esquadrejadas (Fotos 3.4 a 3.14). Foto 3.3 – Exploração de pedra marroada e paralelos, por associados da Coopergran, a partir de matacões graníticos aflorantes nas proximidades de Alta Floresta (MT). Foto 3.5 – Pátio de estocagem de blocos destinados à serragem em teares e talha-blocos na Gramazon. Observa-se que o carregamento de containers com produtos beneficiados é efetuada na própria empresa. Foto 3.6 – Conjunto de teares multilâmina de aço, automáticos, utilizados para obtenção de chapas a partir da serragem de blocos na Gramazon. Foto 3.7 – Talha-bloco multidisco, utilizado para elaboração de tiras e lajotas padronizadas na Gramazon. Foto 3.8 – Serra-ponte automática utilizada para esquadrejamento de chapas na Gramazon. Foto 3.4 – Galpão industrial da empresa Gramazon, localizada na cidade de Ji-Paraná (RO). Atlas de Rochas Ornamentais da Amazonia 43 Os produtos comerciais da Gramazon são todos elaborados com materiais extraídos pela própria empresa, a maior parte dos quais em Rondônia e uma fração menor no Mato Grosso. Esses produtos são comercializados nos mercados interno (40% em volume) e externo (60% em volume), podendo ser encontrados em várias das grandes marmorarias instaladas nas capitais amazônicas e nas demais regiões brasileiras. As exportações diretas da Gramazon são efetuadas pelo porto de Manaus, depois de transporte hidroviário a partir de Porto Velho. Não são poucas as traders que adquirem produtos da Gramazon e depois os exportam, tanto por portos do Norte e Nordeste quanto, sobretudo, do Sudeste e, particularmente, de Vitória (ES). As únicas exportações registradas para a região amazônica são, a propósito, do Estado de Rondônia e essencialmente devidas à Gramazon. No período de janeiro a outubro de 2010, essas exportações somaram US$ 773,8 mil, dos quais US$ 730,2 mil referentes a chapas polidas de granito (código fiscal 6802.93.90). A maior parte dos materiais extraídos nos Estados do Pará e do Tocantins é exportada. Essas exportações são de produtos beneficiados e creditadas a outros Estados da Federação em que o beneficiamento e o embarque são realizados. O mercado de materiais rochosos naturais de revestimento, da região amazônica e suas capitais, é preferencialmente atendido por marmorarias, apesar do avanço recente das serrarias do Espírito Santo no fornecimento direto às grandes construtoras. Cerca de 80% dos materiais comercializados por essas marmorarias são Foto 3.9 – Inspeção de chapas polidas na Gramazon. Foto 3.10 – Carregamento de chapas polidas para atendimento de mercado regional na Gramazon. Foto 3.11 – Lajotas calibradas e polidas, acondicionadas em pallets cintados, para exportação, na Gramazon. Foto 3.12 – Estação de tratamento de água e separação de lama da serragem e polimento, com uso de filtros-prensa na Gramazon. Foto 3.13 – Corte de cubetes e pedra pavê, executado com prensa hidráulica, nas instalações da Gramazon. Todos os materiais são extraídos em áreas próprias da empresa. Foto 3.14 – Aproveitamento de casqueiros (sobras laterais dos blo- cos serrados em teares), para lajes de pavimentação, na Gramazon. CPRM - Serviço Geológico do Brasil 44 adquiridos como chapas polidas, procedentes do Estado do Espírito Santo (Foto 3.15); 10% vêm de outras regiões, principalmente do Nordeste do Brasil e, particularmente, do Ceará; e os restantes 10% são produtos da empresa Gramazon (granitos) ou importados (mármores), neste caso, também preferencialmente fornecidos por empresas do Espírito Santo. Algumas das maiores marmorarias já estão oferecendo chapas de produtos aglomerados (compound stones ou engineered stones), cujo consumo parece tender ao crescimento. Importações diretas de materiais rochosos naturais, principalmente chapas polidas de mármores e travertinos europeus, têm sido efetuadas por empresas de Rondônia, do Amazonas, do Tocantins, do Pará, de Roraima e do Amapá. Observa-se aumento dessas importações (Tabela 3.1), como decorrência direta do aquecimento da demanda do mercado imobiliário. Pela mesma razão, é crescente a importação dos produtos artificiais de ornamentação e revestimento a base de rochas (aglomerados), que evoluiu de 74,9 t, em 2007, para 320,6 t, em 2008, e alcançou 442,8 t, em 2009. A partir de contatos efetuados e entrevistas realizadas em marmorarias das cidades de Porto Velho (RO),Belém (PA) e Manaus (AM), foram percebidas questões de interesse relativas a esse segmento de atividades, destacando-se que: • o mercado imobiliário está superaquecido no Norte do País, o que é devido às grandes obras de infraestrutura em execução e à própria expansão das cidades da região. Como exemplo disso, a despeito de dificuldades de oferta, apenas no mercado da região metropolitana de Manaus, onde atuam cerca de 50 marmorarias e três distribuidoras de chapas, há uma demanda estimada em 40 mil m²/ano a 50 mil m²/ano de rochas para revestimento; • há dificuldade em contratar e manter pessoal qualificado. É evidente a demanda por treinamento para profissionais da marmoraria, em especial os acabadores e medidores; • os principais integrantes da estrutura de demanda são as construtoras, para grandes obras residenciais e comerciais, e os consumidores individuais, para obras menores de construção e reforma residencial; • a maior parte das grandes obras está sendo diretamente atendida por serrarias do Espírito Santo e pela própria Gramazon, que fornecem o revestimento mais amplo de pisos e fachadas. Os consumidores individuais são atendidos pelas marmorarias, que oferecem recortes e acabamentos especiais, sob medida, para projetos residenciais; • fachadas e outros revestimentos em granito são muito valorizados nas capitais da Região Norte. A demanda ainda é concentrada em materiais comuns ou de “batalha” como os de coloração cinza, amarelada, verde e negra, comercializados em uma faixa de preços entre R$ 150/m² e R$ 250/m² (vide Foto 3.15). Os materiais nacionais mais caros podem, por sua vez, atingir R$ 380/m², enquanto o preço dos materiais importados varia de R$ 500-800/m²; • o custo do frete tem forte impacto na formação do preço final dos produtos procedentes da Região Sudeste. Ilustra isso o fato que, seja por cabotagem ou rodovia, o custo do transporte de chapas, por exemplo, para Manaus, equivale a cerca de 30% de seu valor na origem, no Estado do Espírito Santo; • é muito difícil competir em preço com as cerâmicas, bastante utilizadas para o revestimento de áreas de banho. Está aumentando a oferta de chapas aglomeradas, apesar de seu preço bem mais elevado do que o de outros produtos de revestimento. Os preços dos produtos das rochas regionais, fornecidos pela Gramazon, são próximos entre si e mais elevados que os do Espírito Santo; • obras maiores, principalmente governamentais, exigem caracterização tecnológica dos materiais de revestimento especificados. Poucas exigências são feitas pelos consumidores Foto 3.15 – Mostruário de materiais procedentes do Estado do Espírito Santo, oferecidos pela marmoraria Marbras, localizada em Porto Velho (RO). Tabela 3.1 Importações de Materiais Rochosos Naturais pela Região Amazônica. ESTADOS IMPORTADORES 2006 2007 2008 2009 2010* Amapá - - 0,1 - - Amazonas 116,8 147,7 229,8 251,8 244,7 Pará 274,5 478,2 234,6 110,5 356,5 Rondônia - 23,3 218,1 739,0 486,4 Roraima - - 36,3 49,6 12,3 Tocantins - - - 24,3 97,9 Total 391,3 649,2 718,9 1.175,2 1.197,8 (*) Período janeiro-novembro Fonte: Base Alice, do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Atlas de Rochas Ornamentais da Amazonia 45 individuais, o que acirra a concorrência baseada mais no preço do que na qualidade; • apesar da alegada redução da margem de lucro das marmorarias contatadas, existe bastante expectativa de expansão das suas atividades. Isto está sendo determinado por um notável aquecimento da construção civil, em geral, e do mercado imobiliário, em particular. A demanda reprimida para imóveis residenciais parece ser, inclusive, mais acentuada na Região Norte do País; • há um desconhecimento, quase absoluto, de fornecedores, especificadores e consumidores, do potencial amazônico para rochas de revestimento. Os únicos materiais regionais, conhecidos e mencionados pelos marmoristas, são os da Gramazon; • é ainda pouco expressivo o nível de agregação tecnológica nas marmorarias, principalmente para máquinas, e equipamentos e insumos de corte a úmido, cuja utilização se tornou recentemente obrigatória por legislação trabalhista. Há grande dificuldade, manifestada, para incorporação dessas máquinas e instalações periféricas, pelos entraves de acesso a crédito e até pela escassez de oferta no mercado. O que sobressai, assim, em perspectiva, para a Região Amazônica, é o incremento da lavra de rochas ornamentais e a ampliação de seu consumo na própria região, que tem como principal exemplo a pedra Manaus (arenitos da Formação Alter do Chão), utilizada em várias obras arquitetônicas da cidade de Manaus (Fotos 3.16a e 3.16b). Tanto para esse objetivo quanto Foto 3.16 – Exemplo de utilização da pedra Manaus (arenito Alter do Chão): (a) em áreas de acesso ao Teatro Amazonas, localizado no centro da cidade de Manaus e inaugurado em 1896; (b) no detalhe, observa-se aplicação de peças irregulares (opus incertum) e retangulares almofadadas. para exportação de produtos com maior valor agregado, é necessária a verticalização da cadeia produtiva, pela lavra e beneficiamento das matérias-primas. Vale ainda destacar iniciativas como a do projeto Utilização de Artefatos de Pedra na Indústria da Construção Civil, capitaneado pela Companhia Matogrossense de Mineração (Metamat), com parceria do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), ora em desenvolvimento na região de Alta Floresta, norte do Estado do Mato Grosso. Com esse projeto, a Metamat prepara mão de obra para artesanato mineral com rochas e pedras coradas, em sintonia com as atividades da Cooperativa de Produção Comunitária de Artefatos de Pedra para Obra e Construção Civil (Coopergran), bem como promove bases para a nucleação de empreendimentos de rochas ornamentais (Fotos 3.17a e 3.17b). (a) (b) FONTES DE CONSULTA Entrevistas realizadas nas empresas Gramazon (Ji-Paraná, RO); Marbras (Porto Velho, RO); Marmoraria Bela Vista (Alta Floresta D’Oeste, RO); Italtop do Brasil (Manaus, AM); Granmarmore (Manaus, AM); Unigran (Manaus, AM); Muralha Mármores e Granitos (Manaus, AM); Metamat (Alta Floresta, MT); e no 12º Distrito do DNPM (Cuiabá, MT). Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Base Aliceweb. Disponível em <http:// aliceweb.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em 06 dez. 2010. Foto 3.17 (a) e (b) – Instalações da Coopergran, em Alta Floresta (MT). (a) (b) Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia Capítulo 4 Rochas Ornamentais e para Revestimento da Amazônia Atlas de Rochas Ornamentais da Amazônia 49 Capítulo 4 Rochas Ornamentais e para Revestimento da Amazônia 4.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES A Amazônia Legal compreende uma área de 5,2 milhões de quilometros quadrados, equivalente a 61% do território brasileiro. O primeiro imperativo para a prospecção de rochas ornamentais em região tão vasta, com características fisiográficas particulares e os desafios logísticos que caracterizam a Amazônia é determinar o que se busca e onde buscar os materiais de interesse. Destaca-se nesse caso, a excepcional diversidade geológica dos terrenos que a compõem. Mesmo que as unidades líticas amazônicas sejam mostradas de modo bastante simplificado, como indicado na Figura 4.1 em agrupamentos maiores e mais abrangentes, cada uma delas representará um elevado e variado número de tipos rochosos. Vale lembrar, também, que a extração de rochas ornamentais é amplamente praticada nos chamados terrenos cristalinos, aqueles que, na Figura 4.1, englobam todas as faixas com idades proterozoicas a arqueanas, de onde provém a maioria das rochas silicáticas (granitos, quartzitos e outros), ardósias e mármores. As unidades fanerozóicas, constituídas
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