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Inflação e planos economicos

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1
INFLAÇÃO
I) INTRODUÇÃO:
 A inflação é um fenômeno por demais conhecido das sociedades 
monetárias e se caracteriza pela alta generalizada e persistente dos 
preços, de tal forma que uma simples elevação de preços que não 
se prolonga, ou mesma uma alta que se restrinja a apenas 
determinados tipos de produtos não caracteriza um processo 
inflacionário.
 A inflação é também a expressão de que algo está desequilibrado 
em determinada economia onde esta se apresenta. Afinal, a 
inflação é como uma febre que avisa que o corpo está doente e 
precisa ser tratado. Assim é que a inflação provoca diversos 
problemas no sistema de preços, no mercado de crédito, no 
mercado de trabalho, etc. Mas, sua principal conseqüência é o 
processo de concentração de renda que desencadeia e a crescente 
disputa por fatias da renda nacional e não apenas pelo crescimento 
desta renda. Isto porque se os preços estão subindo, ninguém quer 
esperar que estes subam primeiro para depois subir o seu. Todos 
procuram se antecipar e com isso saem na frente aqueles com 
maior poder de mercado, o que vai transferindo a renda dos mais 
frágeis para os mais poderosos e alterando os preços relativos de tal 
modo que determinados produtos vão ficando mais caros frente a 
outros.
 Uma característica sempre encontrada nos processos 
inflacionários é o crescimento mais que proporcional da quantidade 
de moeda no sistema e, embora até hoje alguns discutam se o 
aumento da quantidade de dinheiro provoca a inflação ou se a 
elevação dos preços é que acaba por exigir mais moeda, o 
importante é que existe uma correlação muito grande entre 
quantidade de moeda e preços. Assim, a primeira teoria explicativa 
sobre inflação teve por base a teoria quantitativa da moeda que 
pode ser resumida com a seguinte equação: MV=PT; onde: M é a 
quantidade de moeda, V é a velocidade de circulação da moeda, P 
são os preços e T é o volume ou quantidade física de mercadorias. 
Assim, sabendo-se que no curto prazo a velocidade de circulação é 
culturalmente constante e o volume de produção também o é já que 
não se altera rapidamente, poder-se-ia afirmar que um aumento na 
2
quantidade de moeda significaria um correspondente aumento nos 
preços, mantendo-se a igualdade. Obviamente, por esta teoria, o 
combate a inflação seria simples e único. Bastaria diminuir a 
quantidade de moeda do sistema que a inflação cairia aos níveis de 
preços desejados. Neste caso não importam o desemprego causado 
nem a quebradeira de empresas. Afirma-se que os que não fossem 
capaz de se manterem seria porque “viviam” da própria inflação, 
não cabendo-lhes lugar em um mercado competitivo. De todo 
modo, estes possivelmente seriam reaproveitados quando a 
economia retomasse seu curso normal de crescimento sem inflação.
 A sofisticação dos elementos de análise através do tempo, foram 
dando lugar a tipificação de diagnósticos de inflação. Dentre os 
mais conhecidos temos 4 tipos de inflação:
1) Inflação de Demanda: Derivada diretamente da teoria 
quantitativa da moeda, afirmava que a inflação tinha origem no 
aumento desmesurado da quantidade de moeda resultante de 
um governo perdulário acompanhados por agentes econômicos 
que se comportavam como o governo, gastando mais do que 
arrecadavam ou do que seus respectivos poder de compra. Este 
comportamento acabava por criar uma demanda maior que a 
oferta, com o que os preços subiam sancionados por uma oferta 
adicional de moeda. O combate à inflação deveria, portanto, 
seguir a receita de diminuir os gastos do governo ao nível do 
que este arrecadasse de impostos (fim do déficit público) e 
restrições ao crédito. Feito isto, bastava controlar a quantidade 
de moeda do sistema e impedir o governo de fazer novas 
emissões de moeda.
 Principais instrumentos de política monetária para controlar a 
quantidade de moeda no sistema:
a) Depósito compulsório bancário: Consiste na fixação pelo 
Banco Central, da percentagem dos depósitos do público 
junto aos bancos, que devem ser colocados indisponíveis 
3
para uso e empréstimos junto ao Banco Central. Assim, se o 
Banco Central aumenta a percentagem do depósito 
compulsório, diminui a quantidade de dinheiro na economia;
b) Política de Open-Market: Consiste na colocação ou 
recompra de títulos públicos do Tesouro Nacional junto ao 
mercado. Assim, se o governo quiser diminuir a quantidade 
de moeda no sistema, ele emite títulos e os troca por 
dinheiro no mercado. Aí, retira este dinheiro do mercado até 
a data de seu vencimento ou antes disso, se quiser 
novamente aumentar a quantidade de dinheiro do sistema. 
Para tanto, basta recomprar o título e devolver o dinheiro ao 
mercado;
c) Controle do Crédito: Consiste em o Banco Central proibir 
que os agentes financeiros emprestem acima de determinado 
valor total, geralmente menor do que no ano anterior, ou 
ainda que financiem bens ou mesmo emprestem dinheiro 
para pagamentos em muitas prestações. Com isso, limitam a 
demanda dos agentes privados por novos bens de consumo 
ou gastos exagerados;
d) Política de Redesconto. Consiste em fixar a taxa de juros 
que vai incentivar ou desincentivar o banco a redescontar 
um título junto ao Banco Central. Ou seja, quando por 
exemplo uma empresa vende para recebimento futuro, ela 
pode esperar a data de vencimento da obrigação ou título ou 
então, ir a um banco e descontar este título de tal forma que 
o banco fica com o título e lhe paga o valor deste, 
descontado o valor da taxa de juros que ele cobra. 
Poderíamos exemplificar como um título de R$ 100,00 que 
seria descontado por R$ 95,00 ( taxa de juros de 5%). Na 
data de vencimento, o banco poderia resgatar o título pelo 
valor original (R$ 100,00). Mas, também, poderia não 
querer esperar a data de vencimento e fazer a mesma 
operação com o Banco Central que poderia redescontar este 
título à determinada taxa de juros. É obvio que os bancos 
somente vão procurar o Banco Central se a taxa de juros 
cobrada por este for baixa e, neste caso, o Banco Central 
estará colocando dinheiro no mercado, porque estaria 
trocando um título de dívida futura, por dinheiro agora. Para 
desincentivar os bancos a fazerem tal operação, basta elevar 
a taxa de juros.
4
Medidas de controle dos gastos públicos e de restrições ao 
crédito (aumento da taxa de juros ou controle de crédito) 
aliados a “sintonia fina” que poderia ser feita quase que 
diariamente com estes instrumentos de política monetária, 
diminuiriam sensivelmente a quantidade de moeda e a 
demanda da economia, o que seria suficiente para acabar com 
a inflação segundo os defensores desta teoria de inflação de 
demanda.
2) Inflação de Custos: Este tipo de inflação aconteceria em 
mercados onde há imperfeições na concorrência. Ou seja, 
onde existissem sindicatos de trabalhadores muito poderosos 
e empresas que dominassem mercados, poderíamos assistir a 
uma espiral inflacionária a partir de algum “choque de 
preços” inicial. Assim, a partir de um aumento em uma 
matéria-prima largamente utilizada na economia como o 
petróleo, por exemplo, ou de uma mudança na taxa de 
câmbio que favorecesse as exportações mais tornasse mais 
caros os produtos importados, começaria um processo de 
repasse para os preços daquele aumento de custos. Mas, isto 
afetaria o poder de compra dos salários, então os sindicatos 
iriam reivindicar o repasse para seus salários do reajuste dos 
preços. Entretanto, como salários são custos para as 
empresas, estas se viam diante da necessidade de reajustar 
seus preços novamente, o que produziria nova onda de 
reivindicações salariais e posteriormente reajustes de preços, 
criando um círculo vicioso interminável. É óbvio que dentro 
desta ótica, se não houvesse interferência dos sindicatos nem 
empresas capazes de impor preços sem concorrência, o 
aumento de custos inicial seria absorvidono primeiro 
impacto e logo cessaria. Seria, portanto, as interferências 
patronais e/ou trabalhadoras que mantinham as condições 
para o crescimento da inflação. Caberia ao governo como 
agente zelador da concorrência “quebrar” estas resistências 
retirando poder dos sindicatos trabalhadores e abrindo a 
concorrência à novos produtores, para que a inflação não 
resistisse. Se isto não fosse feito é porque o governo não era 
competente o suficiente para administrar a economia e a 
inflação era o resultado disso.
3) Inflação Estrutural: Este tipo de inflação foi diagnosticado 
pelos economistas da CEPAL (Comissão Econômica Para a 
5
América Latina) como sendo característica de países que 
foram ex-colônias e não conseguiram atingir o estágio dos 
países desenvolvidos. Para estes economistas a inflação era 
decorrente de problemas originados da própria estrutura de 
produção dessas economias que por se apresentarem com 
relativo atraso econômico, político e social acabavam por 
refletir estes desequilíbrios de forma inflacionária. Países 
como por exemplo o Brasil, necessitavam de elevados 
gastos governamentais tanto em empresas produtivas em 
setores não atrativos para iniciativa privada, como em infra-
estrutura e para resgatar a dívida social. Só isso fazia com 
que o governo fosse obrigado a gastar mais do que poderia 
arrecadar com uma população em sua ampla maioria de 
miseráveis. Além disso, a produtividade agrícola e de 
mineração era muito pequena porque estava assentada sob 
modo quase feudal de produção e, estes eram os setores 
econômicos mais importantes da economia desses países 
periféricos desde os tempos coloniais. Assim, a inflação 
somente poderia ser combatida a partir de reformas de base 
que mudassem o perfil estrutural da economia.
4) Inflação Inercial: O conceito de inflação inercial deriva da 
lei de inércia da física, no sentido de que um corpo uma vez 
em movimento tenderia a manter este movimento 
infinitamente se não houvesse força contrária atuando em 
sentido oposto ou a interferência do atrito. Transportada a 
idéia para o plano econômico, e diante de uma economia 
indexada, verifico-se que sempre que anunciado o índice de 
inflação, todos tendiam a reajustar seus preços no valor do 
índice anunciado, repetindo como que por inércia os 
reajustes passados. Desta forma a inflação no mínimo se 
repetia no momento seguinte, impedindo o combate a 
inflação. Para combater este tipo de inflação seria necessário 
interromper o movimento inercial e acabar com a indexação 
dos preços e salários aos índices de inflação. 
 II) O Plano Cruzado:
 O Brasil vinha desde a segunda metade dos anos 80, tentando 
praticar políticas gradualistas de combate a inflação que, 
entretanto, não davam resultados na medida em que os preços 
permaneciam se elevando ano após ano, sem dar sinais de 
6
controle. Assim, em finais de 1985, começava a ficar claro que, 
se não fossem aplicados ‘remédios’ mais fortes para controlar a 
alta acentuada dos preços, em pouco tempo o Brasil poderia 
enfrentar o efeito devastador de uma hiperinflação.
 Foi exatamente nas experiências de hiperinflações no mundo, 
como por exemplo às da Bolívia, Alemanha, Iugoslávia, Áustria, 
etc., que os economistas do Brasil foram procurar soluções para 
o problema do combate à inflação. Nestas experiências, os 
economistas puderam constatar que após a inflação atingir 
elevados índices e enorme velocidade de reajustamento de 
preços, abruptamente, como de uma hora para outra, a inflação 
se esgotava e os preços se estabilizavam. Entretanto, quando 
chegado este momento, a economia do país já estava toda 
destruída e o número de desempregados era extremamente 
elevado. A questão era: como conseguir esta estabilidade, sem 
passar pelos dissabores da destruição econômica?
 A partir das análises das experiências, pôde-se constatar que a 
inflação acabava abruptamente, porque esta perdia sua 
funcionalidade, ou seja, quando os reajustes dos preços 
tornavam-se quase que instantâneos no tempo, ninguém mais 
ganhava ou perdia na corrida sobre a renda nacional, apenas que, 
todos se mantinham relativamente na mesma posição à um nível 
de preços mais elevado. Isto, é matematicamente igual a nenhum 
reajuste de preços porque os trocas entre os produtos passavam a 
se dar sempre pelas mesmas quantidades. Ora, se reajustes de 
preços generalizados, quase que instantâneos e nos mesmos 
patamares significavam preços relativos inalterados, os preços 
reais tinham reajuste zero e, poderiam ficar parados. Assim, era 
possível criar uma situação de parada instantânea e abrupta de 
preços, de forma artificial, que atingisse a todos ao mesmo 
tempo, antes que a economia fosse devastada pela hiperinflação.
 Com esta fundamentação teórica, foi elaborado o Plano cruzado 
que tinha como base uma Lei Federal determinando que todos os 
preços da economia permaneceriam ‘congelados’ a partir de 28 
de fevereiro de 1986, no patamar do último preço praticado. 
Assim, a inflação declinou rapidamente e o plano parecia ser um 
grande sucesso. Haviam, entretanto, três problemas que logo 
começaram a ameaçar o plano. Em primeiro lugar, junto com a 
estabilização dos preços o governo concedeu um reajuste de 
salários a todos os trabalhadores e além disso aplicou um 
7
desconto em todas as prestações que ainda estavam por se pagas 
nos próximos meses. Isto, aumentou muito rapidamente o poder 
de compra da população sem que tivessem aumentado a 
quantidade de produtos oferecidos. Em outras palavras: houve 
um grande aumento da demanda sem contrapartida na oferta de 
bens. Em segundo lugar, escaldados por larga experiência de 
controle de preços no Brasil, diversas empresas começaram a 
utilizar mecanismos de burla ao congelamento de preços que 
vieram a viabilizar o aparecimento do ágio. Em terceiro lugar, o 
Brasil encontrava-se carente de reservas de divisas 
internacionais, com o que não poderia enfrentar o 
desabastecimento com importações nem a má vontade dos 
investidores estrangeiros com o tratamento de choque escolhido 
pelo Brasil. Vejamos mais detalhadamente o primeiro problema.
 principais mecanismos de burla ao ‘congelamento’ de 
preços:
 lançar produtos ‘novos’ com diferenças mínimas, 
muitas vezes apenas visuais, com relação ao que já 
estava no mercado;
 modificar a quantidade ou peso de apresentação de 
produto para o consumidor;
 separar produtos antes vendidos conjuntamente ou 
juntar produtos antes vendidos separadamente;
 vender produtos condicionados ao pagamento do 
frete;
Diante de tais mecanismos, e da generalização de práticas iguais ou 
semelhantes, o consumidor se viu obrigado a pagar ágio pelos 
produtos que desejava ou simplesmente não conseguir obtê-los. O 
governo então passou a tentar suprir o abastecimento com 
importações, mas o seu nível de reservas internacionais não 
permitiam compras muito elevadas e, por outro lado, o mercado de 
crédito internacional para o Brasil estava fechado, seja pela falta de 
capacidade de pagamento da economia brasileira, seja pela falta de 
vontade dos investidores internacionais em respaldar uma política 
que estava de alguma forma penalizando a lucratividade de 
empresas estrangeiras aquí instaladas. Ademais, com a prática de 
ágio, os preços estavam na prática sendo reajustados, apenas que, o 
governo deixava de arrecadar impostos sobre a parte do valor 
8
cobrado que ficava fora da nota fiscal. Assim, pouco a pouco, o 
governo foi se rendendo à necessidade de reconhecer os aumentos 
de preços e o retorno a situação anterior de alta generalizada de 
preços. Estavam repostas as condições pretéritas de inflação.
Apesar do fracasso, mas por receio do descontrole inflacionário, o 
Brasil ainda tentou dois outros congelamentos de preços. O 
chamado Plano Bresser, em alusão ao então Ministroda Fazenda, 
em maio de 1987, e posteriormente, o Plano verão, em janeiro de 
1989. Ambos fracassaram pelos mesmos motivos e até de maneira 
mais rápida já que os próprios agentes já conheciam cada vez mais 
a fragilidade do mecanismo de congelamento de preços.
III) O Plano Collor:
 Plano Collor teve como característica inicial o fato de ser um 
conjunto de medidas extremas frente a uma inflação 
descontrolada e, principalmente, com data marcada para ser 
anunciada. Ou seja, o Presidente eleito tomaria posse no dia 15 
de março de 1990 e teria que anunciar um programa audacioso 
de combate a inflação. Isto por si já vinha fazendo com que se 
acelerasse a corrida de preços às vésperas da data “fatal” e 
provocasse um movimento de defesa dos recursos financeiros, 
de tal forma que os aplicadores deslocavam seu dinheiro para o 
local tido como o mais seguro: as cadernetas de poupança.
 A questão que se colocava era: como combater uma inflação 
galopante, tendo o congelamento de preços como instrumento 
desmoralizado em que os detentores da riqueza contestavam a 
capacidade do governo de manter os preços estáveis? Assim, o 
governo sabia que era preciso antes de qualquer coisa retirar a 
capacidade dos aplicadores de recursos financeiros de 
transformar suas riquezas que estavam na forma dinheiro, em 
produtos reais, o que iria provocar uma enorme pressão sobre os 
preços. A quantidade de dinheiro em circulação era muito 
superior a produção e naqueles tempos de inflação galopante a 
tendência de todos os agentes econômicos era se desfazer 
rapidamente do dinheiro que não parava de se desvalorizar, e 
adquirir bens materiais para se defender. Além disso, a dívida do 
governo em títulos com correção monetária era enorme e se nada 
fosse feito seria necessário uma grande emissão de papel moeda 
para poder pagar os compromissos da dívida. Nesta situação o 
9
dinheiro era um bem de pouco valor e isso em nada contribuía 
para o fim da inflação.
 O governo à época se viu diante de algumas opções. Dentre elas: 
a) Simplesmente não reconhecer as dívidas em títulos públicos e 
promover um enorme calote, o que significaria perder toda a 
credibilidade, um desastre jurídico e fulminaria a riqueza 
aplicada em títulos financeiros; b) Rodar papel moeda em 
quantidade suficiente para pagar todas as dívidas, mas isso iria 
produzir uma inflação cavalar no curto prazo e de nada serviria o 
dinheiro recebido pelos aplicadores porque estes não teriam o 
que fazer com aquele dinheiro desvalorizado e nem haveria 
produtos suficientes para atender a demanda resultante dessa 
avalanche de dinheiro; c) manter tudo como estava e procurar 
governar com uma inflação que era explosivamente crescente e 
já estava na casa de 84% ao mês; d) retirar do mercado 
arbitrariamente uma quantidade significativa de dinheiro 
aplicado no mercado financeiro, ainda que de forma apenas 
temporária, de modo a manter baixo o volume mas valorizado o 
papel moeda em circulação.
 Esta última foi a fórmula escolhida porque dava um golpe 
imediato na inflação, sem pulverizar de uma vez por todas com a 
riqueza em títulos, já que havia a promessa de devolução do 
dinheiro posteriormente. Mas apresentava como principais 
defeitos, o fato de ser uma ofensa jurídica porque tornava 
arbitrariamente indisponível o dinheiro de diversos cidadãos e, 
também, porque ao manter existindo aquele dinheiro, o governo 
era alvo fácil de pressão para desbloqueá-lo. De todo modo, o 
plano consistiu em reter, indisponíveis por um ano e meio todos 
os valores depositados em contas bancárias, cadernetas de 
poupança e títulos financeiros que ultrapassassem a 50 mil 
cruzeiros reais de modo a que a economia fosse as poucos se 
recuperando monetariamente e o dinheiro se tornasse a 
mercadoria mais valorizado do sistema, com o que os preços 
cairiam violentamente na medida em que todos precisariam 
vender produtos baratos e rapidamente para conseguir dinheiro 
para suas necessidades. O congelamento de preços neste 
momento entrou apenas como medida adicional, e serviu muito 
mais para a economia ter uma referência de preços naquele 
momento de perplexidade. O fato de até as cadernetas de 
poupança terem sido afetadas, foi decorrência do próprio 
movimento de defesa dos aplicadores que ao perceberem que 
10
seria inevitável uma ação forte e arbitrária do governo no 
mercado de títulos financeiros correram para as cadernetas de 
poupança com objetivo de não serem atingidos. Mas, se depois 
de todos migrarem para as cadernetas de poupança, o governo 
não avançasse sobre elas, de nada teria valido reter o dinheiro 
das outras aplicações na medida em que já não representavam 
mais grandes volumes de recursos.
 No primeiro momento o plano foi um grande sucesso. Apesar do 
desespero de diversos aplicadores, o plano foi inicialmente 
elogiado por economistas de todos os partidos e até pelo FMI. 
Tanto foi assim, que o plano foi aprovado no Congresso 
Nacional, como também, não houve amparo no Judiciário para 
ações de inconstitucionalidade enquanto o plano dava sinais de 
resultados concretos contra a inflação galopante do período 
anterior. A deflação do primeiro mês mostrava que o tiro teria 
sido certeiro, não fosse o fato de que a pressão sobre o governo 
para liberar o dinheiro retido foi superior a capacidade do 
governo de manter o dinheiro fora de circulação. Aos poucos, 
mas já nos primeiros meses, através de artifícios bancários e 
contábeis, além de imagens emotivas na televisão, os principais 
detentores da riqueza conseguiram liberar seus recursos retidos. 
Assim, depois de três meses só permanecia retido o dinheiro dos 
pequenos aplicadores que pouca importância tinha na estratégia 
de combate à inflação, os preços começavam a se mover para 
cima novamente em função do aumento da quantidade de 
dinheiro em circulação e, somente restavam o desacreditado 
congelamento de preços e um governo que começaria a pagar o 
preço da ousadia inicial, sem os resultados prometidos. Nestes 
termos, pelas mesmas razões anteriores a inflação retornou e em 
fevereiro de 1991 o governo tentou um novo congelamento de 
preços para impedir o descontrole que já era iminente.
 Apesar de tudo isso a administração econômica do governo 
Collor foi fundamental para o sucesso posterior do plano real. 
Em primeiro lugar, pela abertura econômica do mercado 
brasileiro aos produtos estrangeiros que aumentou 
significativamente a concorrência obrigando as empresas aqui 
instaladas a produzir com maior qualidade e vender seus 
produtos a preços mais próximos daqueles encontrados no 
mercado internacional; Em segundo lugar porque de uma forma 
ou de outra, a retenção do dinheiro disponível permitiu que o 
governo diminuísse significativamente a sua dívida em títulos, 
11
tornando o governo mais facilmente administrável do ponto de 
vista financeiro; Em terceiro lugar porque mostrou a 
inconveniência de medidas juridicamente questionáveis ainda 
que em nome do bem comum.
 Depois dessa experiência e diante, inicialmente, de um governo 
que já não tinha mais a menor credibilidade, e depois de um 
governo “de transição” como era caracterizado o governo 
Itamar, não restava outra alternativa se não preparar o caminho 
para um novo plano que seria gestado com calma e voltado 
principalmente para as eleições do próximo governo. A 
estratégia do governo passou a ser a de procurar manter estável o 
mercado, com elevadas taxas de juros que pudessem ao mesmo 
tempo conter a explosão do consumo e atrair capitais 
estrangeiros que buscavam elevados rendimentos financeiros 
para suas aplicações. Assim, o governo pode acumular divisas 
em moeda estrangeira o suficiente para arriscar-se em um novo 
plano: O Plano Real.
IV) O Plano Real:
 Diante de uma situação de reservas de divisas elevadas e 
mercado aberto aos produtos estrangeiros,a equipe econômica 
do Governo Itamar pôde se aproveitar das experiências 
anteriores e formular um plano que envolvesse a teoria do 
Plano Cruzado, com a retirada de grande massa de dinheiro do 
mercado sem, entretanto, ferir as regras jurídicas. Ao invés de 
congelar os preços, criou-se um indexador de preços e salários 
chamado URV que variava todo dia de valor de acordo com a 
inflação. Assim, todos passaram, paulatinamente, e a medida 
que confiavam no indexador, à reajustar seus preços e valores 
na mesma data (todo dia) e no mesmo percentual (variação da 
URV), de modo que os preços foram ficando fixos em 
quantidades de URV e, principalmente, mantendo sem 
alteração a relação entre as quantidades de produtos na hora da 
troca. Ou seja, os preços relativos foram ficando estáveis como 
se ninguém reajustasse preços ou o que é a mesma coisa, como 
se todos ajustassem instantaneamente, ou ainda, como se 
tivesse congelado os preços. Apenas, a adesão ao mecanismo 
era, agora, voluntário e feito de forma suave no tempo.
 Ao mesmo tempo, o Governo foi retirando o excesso de moeda 
do mercado, porque, a medida que os preços se estabilizavam 
12
em URV, menos dinheiro era necessário na economia. Além 
disso, o governo tinha como referência para a quantidade de 
moeda a permanecer no mercado, o valor da produção em 
moeda estrangeira e como eram elevadas suas reservas em 
divisas, pôde usá-las como lastro para a moeda nacional. Deste 
modo, quando em julho de 1994 o Governo anunciou que a 
nova moeda, o Real, valeria CR$ 2.750,00, os preços já eram 
estáveis em moeda forte e a quantidade de moeda no sistema já 
era pequena o suficiente para ser valorizada. A quantidade de 
Reais no início era tão pequena que este chegou a valer 
internamente até mais que a moeda americana. Daí em diante, a 
tarefa de manter os preços estáveis passou a ser apenas conter o 
valor do Real muito próximo ao do dólar e, para tanto, era 
preciso praticar uma elevada taxa de juros para estimular e 
atrair o capital estrangeiro e manter permanentemente o lastro.
 O Plano Real foi um grande sucesso em termos de estabilização 
de preços, o que por si já foi importante para acabar com o 
processo de concentração de renda que a inflação causa. Sem 
inflação, os menos favorecidos e sem acesso às contas 
remuneradas puderem ter seu poder de compra mantido e até 
aumentado. Entretanto, a inflação apenas mostrava que havia 
alguma disfunção na economia. Detê-la, como foi feito, era 
apenas a abertura do caminho para as mudanças que se faziam 
necessário para que não houvessem mais causas para seu 
retorno. Para tanto, seria preciso, pelo menos: equacionar a 
forma de financiamento do setor público; promover a 
competitividade das empresas brasileiras para que fossem 
capazes de grandes volumes de exportação e desta forma o 
país poder obter divisas; promover a reforma agrária para 
revolucionar o mercado interno e começar a resgatar a dívida 
social. Infelizmente, mais uma vez o Governo se acomodou na 
popularidade fácil da estabilização e pouco fez. Preferiu manter 
tudo como era antes e financiar seus desequilíbrios com o 
capital estrangeiro especulativo, dívida do setor público e 
produtos estrangeiros importados. 
13
INFLAÇÃO E OS PLANOS BRASILEIROS DE COMBATE 
À INFLAÇÃO
UM TEXTO DIDÁTICO
(VERSÃO PRELIMINAR)
UNIRIO-ESCOLA DE DIREITO
BENEDITO ADEODATO
14

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