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Estado Islâmico- Teoria Geral do Estado

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INTRODUÇÃO 
Um dos desenvolvimentos mais chocantes no Oriente Médio tem sido a 
rápida ascensão do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS) como uma grande 
ameaça terrorista internacional. 
Embora o crescimento do ISIS pode parecer súbito, a união do grupo pode ser 
rastreada até a invasão iraquiana de 2003, o que desencadeou uma onda de 
sentimento antiamericano que resultou no nascimento de grupos insurgentes contra 
forças ocidentais e grupos étnicos iraquianos. A partir dessas raízes, o ISIS cresceu 
para uma poderosa organização terrorista multinacional com operações sofisticadas, 
capazes de captar e administrar grandes áreas de território. Conforme o ISIS passou 
a usar cada vez mais meios de comunicação ao longo dos últimos anos, o sucesso 
de seus esforços de recrutamento também aumentou. Até abril de 2015, o Estado 
Islâmico inclui mais de 20.000 adeptos de todo o mundo, incluindo homens e mulheres 
das Américas e Europa. 
O ISIS conseguiu recrutar pessoas de 90 países diferentes, com 3.400 
pessoas viajando de países ocidentais para lutar no Oriente Médio. A França e 
Rússia contam com mais de 1.200 recrutas dentro de suas fronteiras, a Alemanha e 
o Reino Unido têm mais de 600 cada, enquanto pelo menos 180 americanos e 130 
canadenses viajaram para o exterior para se juntar ao ISIS. Um dos casos mais 
famosos é o Jihadi John, do Reino Unido, que realizou várias decapitações que 
foram gravadas em vídeo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ORIGEM 
 
O Estado Islâmico, também conhecido como ISIS, sigla em inglês para Estado 
Islâmico do Iraque, é um grupo muçulmano extremista, considerado como a mais 
poderosa organização extremista islâmica da atualidade. Teve início em 2003, com o 
nome Al Qaeda no Iraque (AQI). Mas, após a morte de seu comandante, Abu Musab 
al Zarqawi, em 2006, o AQI foi praticamente aniquilado. No mesmo ano, foi rebatizado 
como Estado Islâmico do Iraque (EII). É formado por sunitas, o maior ramo do 
islamismo. Entre os países muçulmanos, os sunitas são menoridade entre as 
populações do Iraque e Irã, compostas em maioria por xiitas. Em 2013, ao expandir o 
seu poder para a Síria, o grupo muda novamente de nome, passando a se 
autodenominar Estado Islâmico do Iraque e do Levante, também conhecido por sua 
sigla em árabe, Daesh. Ao dominar territórios no Iraque e na Síria, em junho de 2014, 
anunciaram a criação de um califado na região, e finalmente passaram a se chamar 
Estado Islâmico (EI). Na ocasião, Abu Bakr al-Baghdadi é proclamado califa. Nas 
áreas que conquista, o EI rapidamente se organiza para assumir os controles das 
bases militares, bancos, hidrelétricas e campos de petróleo. Eles também instauram 
governo próprio, com ministérios, cortes islâmicos e aparato de segurança. Inclusive, 
é com a cobrança de taxa e impostos, junto com a venda ilegal de petróleo, os 
sequestros e as extorsões, que o EI garante a sua renda diária, estimada em 2 milhões 
de dólares. 
Os sunitas representam 90% da população muçulmana, originalmente tinham 
uma interpretação mais flexível dos textos sagrados e ação política e religiosa mais 
comum e pragmática. Para os sunitas, não é preciso descender de Maomé para ser 
califa. Os xiitas representam 10% seguem princípios mais rígidos e acreditam que 
apenas líderes descendentes da família Maomé são aprovados por Alá e tem 
capacidade de tomar decisões. Os confrontos entre sunitas e xiitas começaram no 
ano 632 com a morte do profeta, seguida disputa sobre quem sucederia como califa. 
Califados é o modelo islâmico de governo, foi extinto em 1924 e simboliza a unidade 
política do mundo islâmico. 
Os sunitas radicais do Estado Islâmico acreditam que os xiitas são infiéis e 
devem ser mortos. Aos cristãos, os extremistas dão três opções: a conversão, o 
pagamento de uma taxa religiosa ou a pena de morte. 
No Iraque, o Estado Islâmico tenta se aproveitar da situação entre curdos, 
árabes sunitas, cristãos e xiitas, que atualmente governam o país, para ampliar 
sua área de controle. Lá, tem a simpatia dos iraquianos sunitas, que estiveram no 
poder durante as décadas de governo Saddam Hussein, perseguindo a maioria 
xiita. Atualmente, os sunitas são perseguidos pelo governo xiita. Na Síria, o EI 
também tem a simpatia de parte dos rebeldes que lutam contra o governo de 
Bashar Al Assad. 
Os Árabes é o maior grupo étnico do Oriente Médio, com cerca de 350 
milhões de pessoas, tem sua origem na Península Arábica que abrange: Arábia 
Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Lêmen, Kuwait, Omã e Catar. Os 
Curdos é o maior grupo étnico do mundo, com cerca de 26 milhões de pessoas, 
tem origem no Curdistão, região que abrange: áreas do Irã, Iraque, Síria, Turquia, 
Armênia e Azerbaijão. Um grupo étnico é um grupo de pessoas que se identificam 
uma com as outras, ou são identificadas como tal por terceiros, com base em 
semelhanças culturais e biológicas. 
“Eles não reconhecem a legitimidade dos Estados que foram implementados 
no Oriente Médio, a partir dos interesses ocidentais, e então, simbolicamente, por 
exemplo, queimam os passaportes, as identidades nacionais. Querem criar uma 
identidade árabe, mas com base numa sustentação sunita do Islã”, explica o 
professor da Universidade de Brasília (UnB) Pio Penna, diretor-geral do Instituto 
Brasileiro de Relações Internacionais (Ibri). 
A instabilidade do governo xiita no Iraque, que não soube se organizar com 
os sunitas, outro ramo do islamismo, e com os curdos, etnia que vive no Norte do 
país, foi o cenário propício para a expansão do Estado Islâmico. O governo xiita 
não soube fazer uma estrutura adequada e sua legitimidade foi desgastada. O 
Estado Islâmico foi explorando essas brechas, principalmente na região Norte do 
país, os Estados Unidos não conseguiram cumprir a promessa de levar 
democracia ao Iraque após a invasão de 2003, que resultou na queda de Saddam 
Hussein, e o Estado iraquiano foi se decaindo. 
O nome inicial era Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que é a região 
da Síria. Eles ganharam tanta confiança que mudaram o nome para Estado 
Islâmico, tirando a dimensão regional. A noção do califado é voltar ao império 
árabe muçulmano. 
A maior parte dos militantes do Estado Islâmico vem de nações árabes, 
entre elas, a Arábia Saudita, o Marrocos e a Tunísia. Estima-se que cerca de 3 mil 
cidadãos de países ocidentais também estejam entre os combatentes. Alguns 
levantamentos indicam que as nacionalidades dos voluntários do EI chegam a 
mais de 80. 
MÉTODOS 
Para poder compreender os métodos utilizados pelo Estado Islâmico, vale-se 
procurar entender a diferença entre o termo de lavagem cerebral e o controle mental, 
parte-se explicando os significados com exemplos. O termo "lavagem cerebral" teve 
início nos anos 50 do século 20 e dizia respeito à doutrinação comunista. Patty Hearst, 
por exemplo, foi sequestrada em seu apartamento, trancada em um armário, 
estuprada e torturada. Ela se tornou membro do Exército Simbionês de Libertação. O 
caso dela é o que chamo de lavagem cerebral, no sentido de que, inicialmente, ela 
jamais teria ido atrás dessas pessoas – foi levada à força e violentada de forma cruel. 
O controle mental é muito mais sutil. É mais provável que você seja seduzido 
pelo recrutador se não sexualmente, pelo emocional. Você o considera seu amigo ou 
mentor, ou alguém que admira. Então tem muito mais uma sensação do que chamo 
de ilusão da escolha, ou ilusão do controle. E, nesse sentido, a doutrinação é mais 
sutil e profunda, porque há mais uma sensação de posse compartilhada das novas 
crenças. O ISIS inicialmente faz uma campanha sutil e sofisticada, o que se chama 
de "período de sedução da persuasão", em que aconteceum bombardeio de amor e 
adulação, do tipo "o que podemos fazer por você?". Mas assim que conseguem cativar 
um recruta, ameaçam sua vida, ameaçam matar a família, e se você sair, sofre 
ameaça de morte, e também vão atrás da família do recruta. 
Por que mulheres inteligentes e estudiosas acabam entrando ao grupo 
Islâmico? Um conceito chave é que não são escolhas esclarecidas. As pessoas não 
sabem exatamente com o que estão se envolvendo. Elas recebem o suficiente de 
informação para formular uma fantasia ou expectativa, por exemplo acham que 
acabariam com a pobreza, a guerra e a criminalidade e cria-se um reino ideal do 
paraíso na Terra. Essa foi a fantasia que se venderam inicialmente. “Não era um grupo 
religioso, de forma alguma. E em duas semanas, percebi que estávamos todos nos 
curvando diante de um altar, rezando para Deus ajudar o messias a dominar o mundo 
e falando em coreano. Só dois anos depois descobri que teríamos que matar todo 
mundo que não se convertesse – e é exatamente isso que o ISIS está fazendo. ” 
Relato de: Steven Hassan, ex-membro da Igreja da Unificação dos Estados Unidos e 
autor de Combating Cult Mind Control. Para quem está olhando de fora, parece que 
as pessoas estão tomando decisões muito ruins, ou que tem alguma coisa muito 
errada com elas para se envolverem com uma coisa que é obviamente estranha. Mas 
se você entra na mente de uma pessoa que está sendo recrutada, é a típica ciência 
da psicologia social que botões se deve apertar para ativar a motivação, a curiosidade 
e o interesse delas. E o que esses grupos querem essencialmente são pessoas que 
têm vontade de ser melhores, ou de fazer do mundo um lugar melhor, de um jeito ou 
de outro. 
O modelo de táticas com doutrinação é ensinado em quatro partes: as pessoas 
se dividem entre aquelas que pensam, sentem, fazem ou creem. Então, quando você 
fala com alguém que pretende converter, é preciso analisá-la. Porque, se for uma 
pessoa que pensa, você vai falar com ela de um jeito muito intelectualizado, envolvê-
la de uma forma muito abstrata. Se for uma pessoa que sente, deve fazê-la se sentir 
amada, como parte de uma comunidade; é um discurso muito voltado para o 
emocional. Se for alguém muito focado na justiça, você fala sobre salvar vidas, 
proteger as crianças, lutar contra o mal e os inimigos que oprimem o nosso povo. Ou, 
se é alguém que crê, Deus escolheu você. Em um dado momento da sua vida, 
dependendo do contexto e quem está ao seu redor, um dos quatro ângulos pode abrir 
um caminho para você. É uma progressão incremental. Se conseguir controlar esses 
quatro componentes mencionados, poderá remodelar a identidade de uma pessoa. 
Essa nova identidade será então dependente e obediente. E, no caso dos cultos 
islâmicos, chegam a literalmente mudar o seu nome como um batismo na nova 
identidade. O doutrinado não pensa que está seguindo seres humanos, mas sim que 
está seguindo o divino. 
OBJETIVOS 
Os militantes do ISIS atribuem a desavença com o Ocidente a um passado 
distante: às sangrentas Cruzadas medievais, que espalharam terror pelo território 
islâmico. Mas, apesar dessa guerra religiosa ter sido mesmo marcante, muçulmanos 
e cristãos conviveram pacificamente durante boa parte da história. Só que os conflitos 
políticos entre os dois mundos se acirraram. Alguns árabes se ressentem da 
influência europeia e americana em suas questões nacionais, inclusive na delimitação 
das suas fronteiras que foram definidas por França e Reino Unido após a 1ª Guerra. 
Sem falar da cobiça ocidental pela região, que é rica em petróleo, gás natural e pedras 
preciosas, o que resulta em frequentes invasões e investidas pela dominação do 
território. 
Um dos objetivos do Estado Islâmico é dominar o Oriente Médio, impedindo 
que os países ocidentais continuem donos de todo poder na região. Na época de 
Saddam Hussein, que governou o Iraque entre as décadas de 1980 e 2000, o país 
era uma das áreas mais poderosas e importantes do mundo árabe, graças às riquezas 
naturais e as vantagens de possuir um Estado laico. Quando os EUA invadiram o país, 
em 2003, alegando a existência de armas de destruição em massa, exigiram 
o desmembramento do exército local. Muitos desses soldados treinados, que 
entraram para diferentes grupos armados, hoje estão no Estado Islâmico, sendo 
natural que tenham os americanos em sua lista de inimigos a combater. Mas por que 
tantas investidas contra a França? Milhões de muçulmanos residem na França e são 
tratados como cidadãos de segunda. Isso irrita essas pessoas. A maioria dos 
terroristas envolvidos no ataque a Paris eram franceses ou belgas, que são vizinhos 
da França. Outro motivo seriam os 200 bombardeios franceses a posições do ISIS no 
Iraque desde setembro de 2014. 
O Estado Islâmico já é, de fato, um Estado. Não no sentido de país reconhecido 
pela ONU, mas como um espaço autônomo, com autoridades e leis próprias. A 
Constituição é a Sharia, sistema de leis baseado em uma interpretação estrita do 
Corão, livro sagrado do Islã. Isso significa que: ladrões pegos em flagrante devem ter 
suas mãos cortadas; crucificar é uma forma legítima de executar infiéis, mulheres de 
inimigos podem ser escravizadas e estrangeiros só podem viver se pagarem 
impostos especiais e se admitirem ser inferiores aos muçulmanos. Isso tudo é lei nos 
domínios do ISIS. 
Atualmente, o Estado Islâmico domina um território que faz parte de Síria e Iraque. 
Segundo levantamento do exército dos EUA, a área ultrapassa 190 mil km². A 
intenção é só crescer. O ISIS não reconhece qualquer tipo de autoridade. Por isso, 
não hesita em invadir territórios de outros Estados. Em seu livro Empire of Fear: Inside 
the Islamic State (Império do Medo: Por dentro do Estado Islâmico, não lançado no 
Brasil), o jornalista Andrew Hosken traça um mapa da área que eles 
pretendem dominar até 2020. O plano é conquistar todo o Oriente Médio, o norte da 
África e países europeus como Portugal e França. 
Hoje, a população sob comando do ISIS soma cerca de 8 milhões de pessoas. 
Mas o Estado Islâmico impõe que muçulmanos de todas as partes do mundo migrem 
para o califado, assim que ele seja consolidado. Os próprios membros da religião que 
não concordarem com pontos do governo, como os xiitas, devem ser mortos. 
Em comunicados, o ISIS proclama que seus ataques são uma forma de iniciar 
o fim dos tempos. Eles acreditam que uma grande batalha contra os infiéis dará início 
ao julgamento final, profetizado no Hadiz, um de seus textos sagrados. Um detalhe 
importante é que, segundo a interpretação da profecia, isso tudo aconteceria em 
Dabiq, na Síria, onde está localizada a base do ISIS. Após decapitar o agente 
humanitário Peter Kassig, em 2014, o executor disse “aqui estamos, enterrando o 
primeiro cruzado americano em Dabiq e esperando avidamente o resto de seus 
exércitos chegarem”. A mensagem deixa claro que o grupo quer atrair o inimigo até o 
seu território para a batalha final e invoca a morte de um falso messias. “Quando o 
inimigo de Alá vir Jesus, ele se dissolverá, assim como o sal se dissolve na água”, diz 
no Hadiz. Os terroristas dão o tom que querem. 
 
CONCLUSÃO 
Sem dúvida, nada justifica as execuções em massa praticadas e exibidas em 
vídeos, a limpeza étnica, a perseguição de minorias religiosas, o sequestro e 
execução pública por decapitação de jornalistas estrangeiros. Infelizmente não são 
exclusivas deste grupo, o uso do terror como arma de guerra já foi muito usado na 
história, mas não é por isso que ganha qualquer justificação. 
Não é questão de loucura e sim de opção tática de guerra. O 
desmoronamento do Exército iraquiano diante da avançada do Estado Islâmico 
deveu-se em boa parte aopavor incutido pelas execuções em massa. As práticas 
ultraviolentas, que remontam aos tempos do fundador da organização al-Zarqawi, 
têm como objetivo apavorar os inimigos e dar uma imagem de invencibilidade que 
atrai a adesão de novos recrutas entre os sunitas. Neste aspeto, Al-Bagdhadi segue 
a doutrina de Bin Laden que dizia: “quando as pessoas veem um cavalo forte e um 
cavalo fraco, por natureza vão gostar do cavalo forte”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
FERNANDES, Cláudio. "Radicalismo do Estado Islâmico"; Brasil Escola. Disponível 
em <https://brasilescola.uol.com.br/historiag/o-radicalismo-islamico-grupo-terrorista-
eiis.htm>. Acesso em 19 de outubro de 2018. 
SCÁTOLA, Aline. “Por Dentro dos Métodos de Controle Mental que o Estado 
Islâmico Utiliza Para Recrutar”; Vice. Disponível em 
https://www.vice.com/pt_br/article/nzjqed/por-dentro-dos-me4todos-de-controle-
mental-que-o-estado-islamico-utiliza-para-recrutar-adolescentes. Acesso em 22 de 
outubro de 2018. 
ISLAMIC, State hails Boko Haram allegiance, threatens Jews and Christians, The 
Times of Israel. 13 mar. 2015. Disponível em: <http://www.timesofisrael.com/islamic-
state-hails-boko-haram-allegiance-threatens-jews-and-christians/> Acesso em 22 de 
outubro de 2018.

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