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O Efeito Placebo

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O Efeito Placebo
Autores:  Daniele Vanderlei de Almeida Silva  Lívia Araújo Alves  Joselma de Oliveira Farias  Joselma de Oliveira Farias | Publicado na Edição de:  Abril de 2015
Categoria:  Psicologia Geral
Resumo: Com a ascensão de tratamentos médicos e remédios inovadores, que exaltam o poder da mente, viu-se a necessidade de comprovar a eficácia desses procedimentos. Inserido nesse contexto, os estudos sobre o Efeito Placebo são de fundamental importância para entender como um fármaco inerte pode desencadear respostas benéficas à saúde de um indivíduo. Essas pesquisas ainda estão em fase inicial e desde já geram polêmica no meio acadêmico, porém todos reconhecem que algo acontece no cérebro dos pacientes, o desafio agora é entender o que desencadeia essa reação. Sendo assim, temos por objetivo esclarecer a comunidade acerca do Efeito Placebo, relatando sua importância e seus usos na medicina atual. Foram analisados ainda de que forma esse efeito interfere no cotidiano da sociedade e como são feitos esses estudos.
Palavras-chave: Efeito Placebo, medicina, remédios, substâncias inócuas, fármacos.
1. Introdução
Segundo o dicionário médico Hooper, “placebo (do latim placere, significando "agradarei") é a denominação de um fármaco ou procedimento inerte (sem princípios ativos) que produz efeito benéfico ou maléfico à saúde de um indivíduo”.
A “descoberta” do Efeito Placebo se deu no ano de 1796, quando o médico norte-americano Elisha Perkins, patenteou o chamado “Tractor Perkins”, um aparelho composto por duas varetas de metal que se agitadas ao redor do paciente tinham a capacidade de eliminar o fluido elétrico nocivo, que segundo Perkins era a raiz de todo o sofrimento.
Os poderes curativos do dispositivo chamaram a atenção do médico John Haygarth [01], que em experiências controladas conseguiu provar que, apesar da veracidade dos resultados do tratamento com o Tractor Perkins, o mesmo efeito seria conseguido com uma réplica do dispositivo feita em madeira.
Haygarth foi o primeiro médico a demonstrar que é possível obter respostas positivas em tratamentos com procedimentos inertes ou “ineficazes”, o que hoje conhecemos por Efeito Placebo. Muitos acreditam que o efeito placebo seja psicológico, devido a um efeito real causado pela crença ou por uma ilusão subjetiva. Se eu acreditar que a pílula ajuda, ela vai ajudar. Ou a minha condição física não muda, mas eu sinto que ela mudou. Por exemplo, Irving Kirsch, um psicólogo da Universidade de Connecticut, acredita que a eficácia do Prozac [02] e drogas similares pode ser atribuída quase que inteiramente ao efeito placebo.
Em um estudo publicado em junho de 1999, Kirsch e Guy Sapirstein [03] analisaram 19 testes clínicos de antidepressivos e concluíram que a expectativa de melhora, e não ajustes na química do cérebro foram responsáveis por 75 por cento da eficácia das drogas.
"O fator crítico," afirma Kirsch (1999), "são nossas crenças a respeito do que irá acontecer conosco. Você não precisa confiar nas drogas para ver uma profunda transformação." Em um estudo anterior, Sapirtein analisou 39 estudos, feitos entre 1974 e 1995, de pacientes depressivos tratados com drogas, psicoterapia, ou uma combinação de ambos. Ele descobriu que 50 por cento do efeito das drogas se deve à resposta placebo.
 O efeito placebo, apesar de ser um tema pouco abordado, gera muita polêmica entre a comunidade científica; pois o surgimento de terapias alternativas tais como, Homeopatia [04], Cromoterapia [05], entre outras, consideradas “terapias mágicas”, que exaltam o poder da mente, põem em cheque a importância dos estudos do sobre o Efeito Placebo que serve para testar a veracidade desses procedimentos terapêuticos.
A grande questão em torno do placebo se dá pela alta taxa de respostas positivas aos tratamentos inócuos, que podem variar de 20 a 100 por cento dos indivíduos analisados. Esse fato aumenta a curiosidade em descobrir os fatores que levam a um índice tão elevado de respostas benéficas dos pacientes.
Sendo assim, o objetivo específico desse artigo foi identificar e pontuar os fatores que influenciam no processo de cura. De forma geral, esse tipo de estudo tem por finalidade evitar que cheguem ao mercado, drogas ou terapias cuja eficácia não é comprovada cientificamente. É um meio de proteger a sociedade de procedimentos ineficazes e terapeutas charlatões.
O método utilizado foi o de pesquisas bibliográficas em sites e em artigos científicos publicados anteriormente.
2. Fundamentos Teóricos
2.1 Definição de Efeito Placebo
Segundo Brissos Lino [06] (pág. 02, 2008), “por placebo entende-se uma substância inerte, ou cirurgia, ou terapia “a fingir” usada como controle numa experiência, ou administrada a um paciente tendo em vista o seu possível ou provável efeito benéfico”. O tema ainda é objeto de estudo, visto que até o presente momento não se chegou a uma resposta objetiva para a eficácia do placebo, existindo assim várias teorias para explicar o sucesso do procedimento inerte.
2.2 Teorias explicativas
Existem muitas correntes científicas que tentam explicar como um fármaco ou procedimento inerte consegue obter sucesso no tratamento de alguns transtornos. Deteremo-nos às duas correntes principais que são mais aceitas pelo meio acadêmico.
2.2.1 Condicionamento clássico ou Pavloviano [07]
É uma resposta inconsciente na qual as condições fisiológicas vão se adaptando ao “remédio”.  Por exemplo, se um placebo é administrado em uma pessoa pela primeira vez, será obtida uma resposta limitada ou nenhuma resposta; conforme esse medicamento é administrado as respostas vão se tornando melhores. Também pode ocorrer da seguinte maneira: primeiramente é administrado um fármaco ativo por um determinado período de tempo (que pode ser de aproximadamente cinco dias), após esse período, o paciente passa a receber o placebo, porém, seu organismo continua respondendo da mesma maneira, pois já está condicionado ao medicamento sendo administrado daquela forma, naquele período de tempo. Nesse tipo de procedimento, se o paciente souber que está tomando algo sem princípio ativo, o tratamento deixa de funcionar.
2.2.2 Um mecanismo consciente de duas partes
A expectativa de recompensa: A esperança do paciente de que a sua situação irá melhorar, ativa a rede de recompensas no cérebro, na região do núcleo accumbens [08], ajudando na sua recuperação, visto que o indivíduo se sentirá mais motivado a realizar o tratamento.
Modulação de ansiedade: “Se eu te der um tratamento e te disser que a tua dor vai diminuir, a tua ansiedade vai decrescer, desencadeando a libertação de neurotransmissores no teu cérebro,” diz Fabrizio Benedetti [09].
Nesse caso, o paciente está respondendo ao tratamento de maneira consciente, já que a resposta está vindo do psicológico. A resposta não se dá por “extinto” ou somente por reações químicas ocorridas dentro do organismo e sim por uma junção do fisiológico com o consciente, visto que se o indivíduo em questão souber que está tomando um placebo, este passa a ser ineficaz.
2.3 Usos e importância
O placebo é eficaz para reduzir a ansiedade do paciente, controlando uma série de respostas orgânicas que dificultariam a cura espontânea:
Aumento da frequência cardíaca e respiratória
Produção e liberação de adrenalina na circulação sanguínea
Contração dos vasos sanguíneos
Essas reações são úteis em situações de perigo ou fuga contra agressores externos, porém dificultam o processo de cicatrização e o fluxo de leucócitos, nessas situações o Efeito Placebo se mostra útil. Ele também pode ser usado para verificar a validade de medicamentos e técnicas de tratamento. Consiste, no uso de cápsulas ou medicamentos intravenosos desprovidos de substâncias ativas ou contendo produtos inertes e inócuos, ou ate mesmo,  cirurgias  que são administrados a grupos de cobaias humanas ou animais para comparar o efeito da “esperança ou fé” no tratamento de doenças, a fim de evitar possíveis resultados terapêuticos a tratamentos sem valor.
Nesse estudo chamadoduplo-cego, o pesquisador não sabe qual grupo recebeu o medicamento ativo indicado para o tratamento e qual grupo recebeu o placebo. Isso serve para evitar que as opiniões do médico influenciem na pesquisa. Ele apenas saberá fazer a distinção entre o grupo que tomou placebo e o grupo que recebeu o medicamento verdadeiro quando obtiver em mãos os resultados dos exames.
A droga apenas será considerada eficaz se suas respostas positivas forem maiores que as do placebo. Comprovando que placebo é o tratamento inerte. Já Efeito Placebo é quando se obtém um resultado positivo através da administração de um placebo.
2.4 Tipos de placebo
Os placebos são divididos em dois tipos: inertes e ativos.
Inertes: são os que não possuem nenhuma ação farmacológica. Por exemplo, pílulas de açúcar ou de farinha.
Ativos: possuem algum princípio ativo, porém este não é usado para o fim que lhe é designado. Por exemplo, um comprido de vitamina C poderá aliviar a dor de cabeça de um indivíduo que acredita estar tomando um analgésico.
2.5 Tipos de Efeito Placebo
Os placebos têm efeito positivo quando o paciente relata alguma melhora. Possuem efeito negativo quando eles relatam que houve piora ou surgimento de algum efeito colateral desagradável (neste caso é conhecido como nocebo, palavra derivada do latim nocere, que significa provocar dano).
2.6 Ética
Imaginemos a seguinte situação: Existia certo problema de saúde cuja cirurgia real produzirá menos efeitos positivos do que a cirurgia placebo. Os médicos, obviamente, optariam pela cirurgia falsa. Por questões éticas, deveriam explicar a seus pacientes que havia dois tipos de cirurgia para seus problemas: uma clássica e uma experimental. Ambas eram efetivas, mas a experimental produziria melhores resultados. Seria dada, aos pacientes, a chance de escolher.
É importante ser honesto com os pacientes e clientes. Por mais que o efeito placebo exista, e obtenha respostas positivas na maioria das vezes, não é justo nem ético tratar pessoas com procedimentos e/ou medicamentos inócuos sem que elas saibam disso.
3. Considerações Finais
As pesquisas sobre o efeito placebo ainda estão numa fase muito insipiente, sem uma variedade de resultados concretos; as futuras investigações talvez se foquem no efeito placebo ao nível da medicina tradicional. Benedetti já deu início, pesquisando o efeito placebo de drogas reais.
Numa pesquisa, verificou-se que o analgésico metamizol se aplicado por via intravenosa era mais eficaz para reduzir a dor pós-operatória dos pacientes, já que a administração do mesmo composto feita através de um tubo previamente aplicado era ineficaz. Sendo assim, o efeito analgésico da injeção devia-se inteiramente ao efeito placebo.
A ideia de que a forma como um medicamento é administrado pode influenciar em sua eficácia é algo revolucionário. Agora, o desafio dos médicos será definir qual a utilização mais eficaz e ética do efeito placebo.
Existem inúmeros fatores simbólicos que podem influenciar no tratamento de determinado paciente, o que podemos chamar de contexto psicossocial. Segundo Benedetti, “A imagem e as palavras do médico, o cheiro dos medicamentos, os aparelhos do hospital: todos estes estímulos sensoriais e sociais permitem ao paciente reconhecer que a terapia está a ser levada a cabo.” Fazendo que estes se sintam motivados e esperançosos em relação à cura.
Esse mesmo contexto psicossocial pode também definir a força e o tipo de efeito (placebo ou nocebo). Por exemplo, o número, a cor e a embalagem tem a capacidade de influenciar na resposta ao tratamento.
“Num estudo realizado nos EUA no qual foi dado um comprimido de açúcar inerte a metade dos participantes, tendo a outra metade recebido acupuntura simulada (as agulhas não perfuravam mesmo a pele), verificou-se que a acupuntura simulada era significativamente mais eficaz a aliviar a dor do que o comprimido de açúcar, enquanto este ajudava os pacientes a dormir” (KAPTCHUK, 2006).
Um experimento como esse, serve para provar que o placebo é útil tanto no tratamento de doenças e transtornos como no alívio sintomático dos pacientes. Quanto mais dramático é o tratamento placebo, melhores são as suas respostas.
Também é notório que qualquer droga medicamentosa administrada tem além do seu efeito real farmacológico, um efeito placebo, e eles dificilmente podem ser separados um do outro. Foi realizado no Hospital São Paulo, experiências com uma substância que teria propriedades antiepilépticas. Para participar da pesquisa foram escolhidos pacientes portadores de epilepsia severa, que no ano anterior tiveram pelo menos uma crise por semana, cujo organismo não reagia mais a nenhum medicamento.
O estudo seguiu o modelo duplo-cego e obteve a aprovação do comitê de ética do hospital. No grupo dos que tomaram o placebo estava um paciente chamado João [10], que era um homem humilde e apresentava duas ou três crises convulsivas por semana. Durante os seis meses de pesquisa, em que recebia uma pílula de açúcar por semana, João não apresentou nenhuma crise. Os médicos afirmam que seria difícil explicar a ele o fim da experiência, então, durante mais de ano continuaram a lhe administrar o placebo.
Analisando-se a história de João no contexto atual do sistema de saúde brasileiro, vemos que os pacientes são geralmente atendidos em ambulatórios, enfrentando longas filas de espera e consultas rápidas, cada vez com um médico diferente. Não há o vínculo médico-paciente. Quando são selecionados para participar de algum estudo, recebem muita atenção da equipe médica, em horários agendados e possuem o tratamento supervisionado do início ao fim. Ao ser tratado de maneira tão afetuosa, o paciente deseja melhorar como forma de agradecimento aos profissionais que o atenderam com tamanha atenção.

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