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A visão autopoiética de Niklas Luhmann

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Universidade Católica de Pernambuco
Introdução ao Estudo do Direito II
Prof.: Rosângela Lira
Tema: A visão autopoiética de Niklas Luhmann
Teoria dos Sistemas Sociais
O elemento central dessa teoria é a comunicação, também chamada por ele de célula da sociedade.
A frase de Luhmann “Só nos comunicamos por comunicação” demonstra o caráter autopoiético da mesma. 
Uma conversa é considerada hipercomplexa. Iniciada por algum assunto, ela continua através de discordâncias e concordâncias, mas sempre lembrando-se do tema central, esse movimento é chamado de recursivo. É importante entender que recursividade não quer dizer repetir o que já foi dito, e sim esse movimento de voltamos ao tema com novas informações. Essas novas informações podem ser autorreferência ou heterroreferência. 
A comunicação, segundo Luhmann, é a realização simultânea de três seleções: informação, partilha e compreensão. Por ser autopoiética, não é o indivíduo que estabelece a comunicação, sim o que se diz e o que se entende do que foi dito. Logo, é a própria comunicação que produz comunicação. 
Existem de três meios de sentido: a linguagem, os meios de difusão (imprensa, rádio, televisão e internet) e os meios de comunicação simbolicamente generalizados (MCSG). São nesses meios de sentido que se constituem os sistemas, as formas de sentido.
Os MCSG são responsáveis pela aceitação da informação, mesmo que você não saiba o que é justiça, você entende informação sobre ela.
Como não somos capazes de prever a maneira que o outro irá interpretar, temos apenas uma expectativa.
Expectativa Cognitiva: possíveis de serem alterada a cada conhecimento novo.
Expectativa Normativa: persistem ao invés de mudarem ou se amoldarem e adaptarem diante de desenganos.
Luhmann considera insuficiente a sociologia humanista e o culturalismo regionalista. Para superar os paradoxos e as dicotomias, ele recorre à metodologia circular reflexiva. Essa metodologia consiste em afastar a noção de causa e consequência sobre os eventos, rompendo a continuidade do circulo.
Luhmann conclui que a sociedade é um sistema auto-organizador de comunicação, um sistema que observa a si mesma e o seu ambiente. Capaz de aprender a partir de seus próprios elementos e da influência dos elementos externos, sendo assim, um sistema aberto e fechado ao mesmo tempo.
Uma coisa importante a se entender é que os sistemas se diferenciam, mas não se isolam. Eles estão interligados o tempo inteiro. Os sistemas observam e aprendem com os outros também.
É necessário ressaltar a contribuição de Luhmann sobre os níveis de observação sistêmica.
 
Os sistemas psicológicos e os sistemas sociais, presentes no segundo nível, operam no meio do sentido já que se desenvolvem na linguagem. Eles se diferenciam porque nos psíquicos há nexos de consciências enquanto nos sociais, nexos de comunicação.
No terceiro nível, ele distingue interações, organizações e sociedades.
Uma interação tem seu tempo limitado ao mesmo tempo de duração do contato dentre os que estão em interação.
Na organização, esse tempo persiste à interação, viabilizando que mesmo mudando os indivíduos concretos, a comunicação siga.
Luhmann também aborda a linguagem não-verbal, para ele, o que comunica cada imagem é o reflexo da informação partilhada e compreendida.
Os sistemas se caracterizam por serem funcionalmente diferenciados, ou seja, por deterem unidade. Essa unidade é uma forma de dois lados por se constituir de um sentido positivo e um negativo, como num código binário.
Medium de sentido: o sentido do sistema, como o nome diz.
Código: a unidade interna binária.
Programa: contexto.
Operações: o modo de exercer, fazer, agir.
Relação de Marcelo Neves com Niklas Luhmann
A maior influência de Luhmann no Brasil ocorreu na área do Direito e o maior especialista em sua teoria é Marcelo Neves. 
Marcelo Neves iniciou seus estudos na Faculdade de Direito do Recife, onde se graduou e também fez mestrado. Luhmann passa a fazer parte da carreira de Marcelo Neves quando este foi para Universidade de Bremen fazer doutorado, tendo como co-orientador Luhmann.
Marcelo Neves acredita que a grande contribuição da Teoria dos Sistemas seria o fato de apontar a complexidade da sociedade moderna torna infrutífero qualquer modelo simplista que pretende descrever, esclarecer ou justificar a sociedade a partir de apenas um aspecto, seja este poder (Foucault), luta de classes (Marx), capital simbólico (Bourdieu) ou o agir comunicativo (Habermas). Então, de fato, Neves é um grande apreciador da teoria de Luhmann, porém este possui uma grande dificuldade em aceitar uma transposição direta do modelo proposto à realidade jurídica no Brasil, sendo isto o que se baseou para fazer a tese de seu doutorado. Consistindo, assim, numa ambivalência entre admiração e restrições à sua aplicação em nosso contexto jurídico social. 
Os dois possuíam boas relações, mesmo discordando em alguns pontos. Ainda assim, Luhmann, por sua vez, aceitava as críticas recebidas e procurava incorpora-las em seus textos. Chegou até a existir uma revisão em uma das posições do autor. Sua afirmação era sobre o Estado de Bem Estar, em que a inclusão, definida como acesso e dependência das pessoas aos sistemas sociais, era uma característica da sociedade mundial e condição de diferenciação e auto referência dos sistemas sociais, especificamente a política e o direito. Já Neves, sustentava a ideia de que isso afirmado por Luhmann só teria sentido para a modernidade central, sendo insustentável para países periféricos. Existindo, assim, uma preferência por exclusão e, com isso, haveria bloqueio da autonomia sistêmica, especialmente do direito. Luhmann, no prefácio da tese de Marcelo, reconheceu as dificuldades que ele propunha e depois chegou a responder tais críticas de maneira paradoxal falando que: a exclusão social mina o primado da diferenciação funcional, mas, ao mesmo tempo, é um subproduto dessa mesma diferenciação. 
Marcelo Neves retornou para o Brasil depois de anos na Europa, onde veio para Recife trabalhar na Faculdade de Direito do Recife, porém este não foi valorizado aqui, fazendo que ele saísse da faculdade e fosse trabalhar na Universidade de Brasília. 
	
Bibliografia:
http://www.revistas.usp.br/plural/article/view/68086/78823
https://www.escavador.com/sobre/8086723/marcelo-da-costa-pinto-neves

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