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Fichamento - Ideologia Alemã - Marx

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Graduando: Romualdo B. Leite 
Fichamento do livro: A IDEOLOGIA ALEMÃ
PREFÁCIO (p. 17)
“Até o presente, os homens sempre fizeram falsas representações sobre si mesmos, sobre o que são ou deveriam ser. Organizaram suas relações em função de representações que faziam de Deus, do homem normal etc. Os produtos de sua cabeça acabaram por se impor à sua própria cabeça. Eles, os criadores renderam-se às suas próprias criações. Libertemo-los, pois, das quimeras, das idéias, dos dogmas, dos seres imaginários, sob o julgo dos quais definham.” (p. 17)
“[...] Ensinemos os homens a substituir estas fantasias por pensamentos que correspondam à essência do homem, diz um, a comportar-se criticamente para com elas, diz outro; a expurgá-las do cérebro, diz um terceiro – e a realidade existente cairá por terra. 
Estas fantasias inocentes e pueris formam o núcleo da atual filosofia neo-hegeliana que, na Alemanha, não somente é acolhida pelo público com horror e veneração, mas apresentada pelos próprios heróis filosóficos com a solene consciência de sua periculosidade revolucionária mundial e de sua brutalidade criminosa.” (p. 17)
FEUERBACH. A oposição entre a concepção materialista e a idealista (Introdução) (p. 21)
“[...] O processo de decomposição do sistema hegeliano que começara com Strauss, conduziu a uma fermentação universal em que se envolveram todas as “potências do passado”. Nesse caos geral, formaram-se poderosos impérios para logo soçobrarem; heróis efêmeros surgiram para serem, por sua vez, lançados às trevas por rivais mais audazes e poderosos. Foi uma revolução frente à qual a revolução francesa não foi senão um brinquedo de crianças,” (P. 21)
“[...] Os princípios deslocaram-se; os heróis do pensamento lançaram-se uns contra os outros com inaudita precipitação, e em três anos - de 1842 a 1845 – removeu-se o solo da Alemanha mais do que antes em três séculos.” (P. 21)
“[...] tudo isso teria acontecido no domínio do pensamento puro*.” (p. 22)
“[...] Trata-se, certamente, de acontecimento pleno de interesse: o processo de decomposição do espírito absoluto**. Desde que se extinguiu a última chama de vida, os vários elementos desse caput mortuum entraram em decomposição, formando novas combinações e constituindo-se em novas substâncias. Os industriais da filosofia, que até então haviam vivido da exploração do espírito absoluto, lançaram-se então a novas combinações. [...] Mas isto não podia se dar sem concorrência. Inicialmente, tal concorrência foi conduzida de maneira burguesa e sólida. Depois, quando o mercado alemão encontrava-se abarrotado e, apesar de todos os esforços, a mercadoria não encontrava saída no mercado mundial, os negócios começaram a se deteriorar.” (p. 22)
“[...] – é necessário examinar, ao menos uma vez, todo esse espetáculo de um ponto de vista situado fora da Alemanha**.” (p. 22) 
A ideologia em Geral, Especialmente a Alemã***
“[...] até em seus últimos esforços, a crítica alemã não abandonou o terreno da filosofia. Longe de examinar seus pressupostos filosóficos gerais, todas as suas questões brotaram de um sistema filosófico determinado, o sistema hegeliano.” (p. 23)
“[...] Essa dependência de Hegel é a razão pela qual nenhum desses novos críticos tentou uma crítica do conjunto do sistema hegeliano, embora cada um deles afirme ter ultrapassado Hegel.” (p. 23-24).
“[...] Toda a crítica alemã de Strauss a Stirner, limita-se à crítica das representações religiosas*. Partia-se da religião real e da verdadeira teologia. Aquilo que se entendia por consciência religiosa, por representação religiosa, foi posteriormente, determinado diferentes formas. (p. 24)
“[...] O domínio da religião foi pressuposto. E, aos poucos, declarou-se que toda relação dominante era uma relação religiosa e se a converteu em culto: culto do direito, culto do estado etc. Por toda parte tratava-se apenas de dogmas e de crença em dogmas. O mundo viu-se canonizado numa escala cada vez mais ampla, até que o venerável São Max pôde canonizá-lo en bloc e liquidá-lo de uma vez por todas.” (p. 25)
“[...] Os jovens hegelianos criticaram tudo, introduzindo sorrateiramente representações religiosas por baixo de tudo ou proclamando tudo como algo teológico.” (p. 25)
“[...] Jovens e velhos hegelianos concordavam na crença no domínio da religião, dos conceitos e do universal no mundo existente.” (p. 25)
“[...] as representações, [...] os produtos da consciência por eles tornada autônoma - como verdadeiros grilhões dos homens.” (p. 25)
“[...] é evidente que os jovens hegelianos têm que lutar apenas contra essas ilusões da consciência.” (p. 25)
“[...] Exigir, assim, a transformação da consciência vem a ser o mesmo que interpretar de modo diferentemente o que existe, isto é, reconhecê-lo mediante outra interpretação.” (p. 26)
“[...] A nenhum desses filósofos ocorreu perguntar qual era a conexão entre a filosofia alemã e a realidade alemã, a conexão entre a sua crítica e o seu próprio meio material.” (p. 26)
“[...] Os pressupostos de que partimos não são arbitrários, nem dogmas. São pressupostos reais de que só pode fazer abstração a não ser na imaginação. São os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de vida, tanto aquelas por eles já encontradas, como as produzidas por sua própria ação.” (p. 26)
“[...] O primeiro pressuposto de toda história humana é naturalmente a existência indivíduos humanos vivos*. O primeiro fato a constatar é, pois, a organização corporal desses indivíduos e, por meio disto, sua relação dada com o resto da natureza.” (p. 27)
“[...] Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião ou por tudo que se queira. Mas eles próprios começam a se diferenciar dos animais tão logo começam a produzir seus meios de vida... Produzindo seus meios de vida, os homens produzem indiretamente sua própria vida material.” (p. 27).
“[...] O modo como os homens produzem seus meios de vida depende, antes de tudo, da natureza dos meios de vida já encontrados e que Têm de reproduzir.” (p. 27).
“[...] Tal como os indivíduos manifestam sua vida, assim são eles. O que eles são coincide, portanto, com sua produção, tanto com o que produzem, quanto com o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, dependem das condições matérias de sua produção.” (p. 27-28)
“[...] o aumento da população. Ela própria pressupõe um intercambio (verker)dos indivíduos uns com os outros. A forma desse intercâmbio é, por sua vez, condicionada pela produção.” (p. 28)
“[...] As relações entre umas nações e outras dependem do estado de desenvolvimento em que se encontra cada uma delas no que concerne às forças produtivas, à divisão do trabalho e ao intercâmbio interno.” (p. 28)
“[...] cada nova força produtiva tem como conseqüência um novo desenvolvimento da divisão do trabalho.” (p. 29)
“[...] A divisão de trabalho no interior de uma nação leva, inicialmente, à separação entre o trabalho industrial e comercial, de um lado, e o trabalho agrícola, de outro, e, com isso a separação da cidade e do campo e a oposição de seus interesses. Seu desenvolvimento ulterior leva à separação entre o trabalho comercial e o trabalho industrial.” (p. 29)
“[...] cada nova fase da divisão do trabalho determina igualmente as relações dos indivíduos entre si, e no que se refere ao material, ao instrumento e ao produto do trabalho.” (p. 29)
“[...] A primeira forma da propriedade é a propriedade tribal. Ela corresponde à fase não desenvolvida da produção, em que um povo se alimenta da caça e da pesca, da criação de gado ou, no máximo, da agricultura. [...] a propriedade tribal pressupõe grande quantidade de terras incultas. Nesta fase, a divisão do trabalho está ainda pouco desenvolvida e se limita a uma maior extensão da divisão natural no seio da família. A estrutura social limita-se, portanto a uma extensão da família: os chefes patriarcais da tribo, abaixo deles os membros da tribo e finalmente os escravos.” (p. 29-30)
“[...] A segunda formade propriedade é a propriedade comunal estatal, que se encontra na antiguidade, que provém, sobretudo, da reunião de muitas tribos para formar uma cidade, por contrato ou por conquista, e na qual subsiste a escravidão. Ao lado da propriedade comunal, desenvolve-se já a propriedade móvel...subordinada à propriedade comunal.” (p. 30)
“[...] A divisão do trabalho já é mais desenvolvida, encontramos já a oposição entre cidade e campo, e mais tarde a oposição entre os Estados que representam o interesse das cidades e os que representam os interesses do campo; e encontramos no interior das próprias cidades, a oposição entre o comercio marítimo e a indústria. As relações de classes entre cidadãos e escravos estão agora completamente desenvolvidas*” (p. 31)
“[...] A terceira forma é a propriedade feudal ou estamental. Enquanto a Antiguidade partia da cidade e do seu pequeno território, a idade Média partia do campo. [...] Como a propriedade tribal e a comunal, esta também repousa numa comunidade em face da qual não são mais os escravos – como no sistema antigo – mas os pequenos camponeses servos da gleba, que constituem a classe diretamente produtora.” (p. 33-34)
“[...] A essa estrutura feudal da posse da terra correspondia, nas cidades, a propriedade corporativa, a organização feudal dos ofícios. Aqui, a propriedade consistia principalmente no trabalho de cada indivíduo.” (p. 34)
“[...] Assim, a propriedade principal durante a época feudal consistia, de um lado, na propriedade territorial à qual estava ligado o trabalho dos servos e, de outro, no trabalho próprio com pequeno capital dominando o trabalho dos oficiais.” (p. 34)
“[...] No apogeu do feudalismo, houve pequena divisão do trabalho.” (p. 35)
“[...] Na agricultura, a divisão do trabalho tornava-se mais difícil pelo cultivo parcelado, ao lado do qual surgiu a indústria doméstica dos próprios camponeses; na indústria, o trabalho era dividido dentro de cada ofício e muito pouco dividido entre os diferentes ofícios. A divisão entre o comercio e indústria existia já nas cidades antigas, mas não se desenvolveu senão tardiamente nas cidades novas, ao se estabelecerem relações mútuas entre as cidades.” (p. 35)
“[...] indivíduos determinados*, que como produtores atuam de um modo determinado, estabelecem entre si relações sociais e políticas determinadas.” (p. 35) 
“[...] A estrutura social e o Estado nascem continuamente do processo de vida de indivíduos determinados, mas destes indivíduos não como podem aparecer na imaginação própria ou alheia, mas tal com realmente são, isto é, tal e como atuam e produzem materialmente.” (p. 36)
“[...] a produção de idéias, de representações, da consciência, está, de início, diretamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio material dos homens, como a linguagem da vida real.” (p. 36)
“[...] Os homens são os produtores de suas representações, de suas idéias etc.**, mas os homens reais e ativos, tal como se acham condicionados por um determinado desenvolvimento de suas forças produtivas e pelo intercâmbio que ele corresponde até chegar a suas formações mais amplas.” (p. 36-37)
“[...] A consciência jamais pode ser outra coisa do o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real. E, se, em toda a ideologia, os homens e suas relações aparecem invertidos como numa câmara escura, esse fenômeno decorre de seu processo de histórico de vida, do mesmo modo porque a inversão dos objetos na retina decorre de seu processo de vida diretamente físico.” (p. 37)
“[...] totalmente ao contrário do que ocorre na filosofia alemã, que desce do céu à terra, aqui se ascende da terra ao céu. Ou em outras palavra: não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam ou representam, e tampouco dos homens pensados, imaginados e representados para, a partir daí chegar aos homens em carne e osso; parte dos homens realmente ativos e, a partir de seu processo de vida real, expõe-se também o desenvolvimento das reflexões ideológicas e dos ecos desse processo de vida.” (p. 37)
“[...] A moral, a religião, a metafísica e qualquer outra ideologia [...] Não têm história nem desenvolvimento; mas os homens ao desenvolverem sua produção material e seu intercâmbio material, transformam também, com esta sua realidade, seu pensar e os produtos do seu pensar.” (p. 37)
“[...] Não é consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência. Na primeira maneira de considerar as coisas, parte-se da consciência como do próprio indivíduo vivo; na segunda, que é a que corresponde à vida real, parte-se dos próprios indivíduos reais e vivos, e se considera a consciência unicamente como sua consciência *.” (p. 37-38)
“[...] Ali onde termina a especulação, na vida real, começa também a ciência real, positiva, a exposição da atividade prática, do processo prático de desenvolvimento dos homens.” (p. 38)
“[...] As frases ocas sobre a consciência cessam, e um saber real deve tomar o seu lugar. A filosofia autônoma perde, com a exposição da realidade, seu meio de existência. (p. 38)
História
“Em relação aos alemães, situados à margem de qualquer pressuposto, somos forçados a começar constatando que o primeiro pressuposto de toda a existência humana e, portanto, de toda a história*, é que os homens devem estar em condições de viver para poder “fazer história” **. Mas, para viver, é preciso antes de tudo, comer, beber, ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais.” (p. 39)
“[...] O primeiro ato histórico é que, satisfeitas esta primeira necessidade, a ação produção da própria vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje, como a milhares de anos, deve ser cumprido todos os dias e todas as horas, simplesmente para manterem os homens vivos.” (p. 39)
“[...] O segundo ponto a examinar é que, satisfeita esta primeira necessidade, a ação de satisfazê-la e o instrumento de satisfação já adquirido conduzem a novas necessidades – e esta produção de novas necessidades é o primeiro ato histórico.” (p. 40)
“[...] A terceira relação, que já de início intervém no desenvolvimento histórico, é que os homens, que diariamente renovam sua própria vida, começam a criar outros homens, a procriar: é a relação entre homem e mulher, entre pais e filhos, a família. Esta família que no início é a única relação social, torna-se depois, ... uma relação secundária (exceto na Alemanha) e deve, portanto, ser tratada e desenvolvida segundo os dados empíricos existente e não segundo o “conceito de família”, como é hábito na Alemanha*.” (p. 41)
“[...] A produção da vida, tanto da própria, no trabalho, como da alheia, na procriação, aparece agora como dupla relação: de um lado, com relação natural, de outro com relação social – social no sentido que se entende por isso a cooperação de vários indivíduos, [...] Donde se segue que determinado modo de produção ou determinada fase industrial estão constantemente ligadas a um determinado modo de cooperação e a uma fase social determinada, e que tal modo de cooperação é, ele próprio, uma “força produtiva”; [...]” (p. 42)
“[...] a soma das forças produtivas acessíveis aos homens condiciona o estado social, e que, por conseguinte, a “história da humanidade” deve sempre ser estudada e elaborada em conexão com a história da indústria e das trocas.” (p. 42)
“[...] Somente agora, depois de ter examinado quatro momentos, quatro aspectos das relações históricas originárias, verificamos que o homem tem também “consciência” *. Mas, ainda assim não se trata de consciência “pura”.” (p. 43)
“[...] A linguagem é tão antiga quanto a consciência – a linguagem é a consciência real, prática, que existe para os outros homens e, portanto, existe também para mim mesmo; e a linguagem nasce, como a consciência, da carência, da necessidade de intercâmbio com outros homens**.” (p. 43)
“[...] A consciência, portanto, é desde o início um produto social e continuará sendo enquanto existirem homens. A consciênciaé, naturalmente, antes de mais nada, mera consciência do meio sensível mais próximo e consciência da conexão limitada com outras pessoas e coisas situadas fora do indivíduo que torna consciente” (p. 43)
“[...] e o homem se distingue do carneiro unicamente pelo fato de que nele sua consciência toma o lugar do instinto ou de que seu instinto é consciente. Esta consciência de carneiro ou tribal desenvolve-se e aperfeiçoa-se ulteriormente em razão do crescimento da produtividade, do aumento das necessidades [...]. Com isto se desenvolve a divisão do trabalho, que originalmente nada mais era do que a divisão do trabalho no ato sexual.” (p. 44) 
“[...] A divisão do trabalho torna-se realmente divisão apenas a partir do momento em que surge uma divisão entre o trabalho material e o espiritual*.” (p. 44-45)
“[...] Mas ainda que esta teoria, esta teologia, esta filosofia e esta moral etc. entra em contradição com as reações existentes, isto só pode acontecer porque as relações sociais existentes se encontram em contradição com as forças de produção existentes;” (p. 45) 
“[...] de toda esta porcaria conservamos apenas um resultado, a saber: que esses três momentos – a força de produção, o estado social e a consciência – podem e devem entrar em contradição entre si, porque, com a divisão do trabalho, fica dada a possibilidade, mais ainda, a realidade, de que a atividade espiritual e a material*** - a fruição e o trabalho, a produção e o consumo – caibam a indivíduos diferentes; e a possibilidade de não entrarem esses elementos em contradição reside unicamente no fato de que a divisão do trabalho seja novamente superada.” (p. 45-46) 
“[...] A escravidão [...] é a primeira propriedade, que aqui, aliás já corresponde perfeitamente à definição dos economistas modernos, segundo a qual ela a propriedade é o poder de dispor da força de trabalho de outros.” (p. 46)
“[...] Com efeito, desde o instante em que o trabalho começa a ser distribuído, cada um dispõe de uma esfera de atividade exclusiva e determinada, que lhe é imposta, e da qual não pode sair; o homem é caçador, pescador, pastor ou crítico crítico, e aí deve permanecer se não quiser perder seus meios de vida” (p. 47)
“[...] toda classe que aspira a dominação, [...] deve conquistar primeiro o poder político para apresentar seu interesse como o interesse geral, ao que está obrigada no primeiro momento.” (p. 49)
“[...] O poder social, isto é, a força produtiva multiplicada que nasce da cooperação de vários indivíduos exigida pela divisão do trabalho, aparece a esses indivíduos, porque sua cooperação não é voluntária, mas natural, não como seu próprio poder unificado, mas como uma força estranha, situada fora deles, [...].” (p. 49)
“[...] Esta “alienação” – para usar um termo compreensível aos filósofos – pode ser superada, naturalmente, apenas sob dois pressupostos práticos. Para que ele se torne um poder “insuportável”, isto é, um poder contra o qual se faz uma revolução, é necessário que tenha produzido a massa da humanidade como massa totalmente “destruída de propriedades”; e que se encontre, ao mesmo tempo, em contradição com um mundo de riquezas e de cultura existente de fato [...].” (p. 50)
“[...] esse desenvolvimento das forças produtivas (que contém simultaneamente uma verdadeira existência humana empírica, dada num plano da histórico-mundial e não na vida puramente local dos homens) é um pressuposto prático absolutamente necessário [...].” (p. 50)
“[...]apenas com este desenvolvimento universal das forças produtivas dá-se um intercâmbio universal dos homens, em virtude do qual, de um lado, o fenômeno da massa “destituída de propriedade” se produz simultaneamente em todos os povos (concorrência universal), fazendo com que cada um deles dependa das revoluções dos outros [...].” (p. 50)
“[...] Sem isso, 1º) o comunismo não poderia existir a não ser como fenômeno local; 2º) as próprias forças do intercâmbio não teriam podido se desenvolver como forças [...] 3º) toda ampliação do intercambio superaria o comunismo local [...]” (p. 50-51)
“[...] O comunismo não é para nós um estado que deve ser estabelecido, um ideal para o qual a realidade terá que se dirigir. Denominamos comunismo o movimento real que supera o estado de coisas atual.” (p. 52)
“[...] O proletariado** só pode, pois, existir mundial e historicamente, do mesmo modo que o comunismo, sua ação, só pode ter uma existência “histórico-mundial” [...]” (p. 52) 
“[...] A forma de intercambio, condicionada pelas forças de produção existente em todas as fazes históricas anteriores e que, por sua vez, as condiciona, é a sociedade civil; [...] tem como pressuposto e fundamento a família simples e a família composta, o que se costuma chamar de tribo, [...]” (p. 52)
“[...] Vê-se, já aqui que esta sociedade civil é a verdadeira fonte, o verdadeiro cenário de toda a história [...] A sociedade civil abrange todo o intercambio material dos indivíduos, no interior de uma fase determinada de desenvolvimento das forças produtivas [...]” (p. 53) 
“[...] A expressão “sociedade civil”1 aparece no século XVIII, quando as relações de propriedade já se tinham desprendido da comunidade antiga e medieval. A sociedade civil, como tal, desenvolve-se apenas com a burguesia; entretanto, a organização social que se desenvolve imediatamente a partir da produção e do intercâmbio, e que forma em todas as épocas a base do Estado e do resto da superestrutura idealista, foi sempre designada, invariavelmente com o mesmo nome.” (p. 53)
Sobre a Produção da Consciência (p. 53)
“[...] Na história existente até aqui, é certamente um fato empírico que os indivíduos singulares, com a extensão da atividade para uma atividade histórico-mundial, tornaram-se cada vez mais submetidos a um poder que lhes é estranho [...]” (p. 53-54)
“[...] este poder, que tanto confunde os teóricos alemães, será dissolvido; e então a libertação de cada indivíduo em singular é alcançada na mesma medida em que a história se transforma-se completamente em história mundial*.” (p. 54)
“[...]a verdadeira riqueza espiritual do indivíduo depende inteiramente das riquezas de suas relações reais.” (p. 54)
“[...] A dependência multiforme, esta forma natural da cooperação histórico-mundial, dos indivíduos será transformada por esta revolução comunista no controle e domínio consciente destes poderes que, engendrados pela ação recíproca dos homens, impuseram-se a eles como poderes totalmente estranhos e que os dominaram.” (p. 54)
“[...] Vê-se aqui que os indivíduos fazem-se uns aos outros, tanto física como espiritualmente, mas não se fazem a si mesmos, [...]” (p. 55)
“[...] Esta concepção da história consiste, pois, de expor o processo real de produção, partindo da produção material da vida imediata; [...]” (P. 55)
“[...] Não se trata, como na concepção idealista da história, [...] não de explicar a práxis a partir da ideia, mas de explicar as formações ideológicas a partir da práxis material; [...]” (p. 55-56)
“[...] não é a crítica, mas a revolução a força motriz da história, assim como da religião, da filosofia e de qualquer outro tipo teoria. Tal concepção mostra que a história não termina dissolvendo-se na “auto-consciência”, como “espírito do espírito”, mas que em cada uma de suas fases encontra-se um resultado material, uma soma de forças de produção, uma relação criada historicamente com a natureza e entre os indivíduos, que cada geração transmite à geração seguinte; [...]” (p. 56)
“[...] as circunstâncias fazem os homens assim como os homens fazem as circunstâncias.” (p. 56)
“[...] Estas condições de vida, que as diferentes gerações encontram já existentes, decidem também se as convulsões revolucionárias, que periodicamente se repetem na história, serão ou não suficientemente fortes para subverter as bases de todo o existente.” (p. 57)
“[...] Toda concepção histórica, até o momento, ou tem omitido completamente esta base real da história, ou a tem considerado como algo secundário,sem qualquer conexão com o curso da história. Isso faz com que a história deva sempre ser escrita de acordo com um critério situado fora dela.” (p. 57)
“[...] A produção da vida real aparece como algo separado da vida comum, como extra e supraterrestre. Com isto, a relação dos homens com a natureza é excluída da história, o que engendra a oposição entre natureza e história.” (p. 57)
“[...] Enquanto os franceses e os ingleses se atêm à ilusão política, que está certamente mais se próxima da realidade, os alemães se movem na esfera do “espírito puro” e fazem da ilusão religiosa a força motriz da história.” (p. 58)
“[...] Tal concepção é verdadeiramente religiosa; ela postula o homem religioso como sendo o proto-homem do qual parte toda a história, e, em sua imaginação, coloca a produção religiosa de fantasias no lugar da produção real dos meios de vida e da própria vida. Toda esta concepção da história, inclusive sua dissolução, os escrúpulos e as dúvida que dela resultam, não é mais do que um assunto puramente nacional dos alemães e apenas tem interesse local para os alemães, como, por exemplo, a importante questão tratada já inúmeras vezes, a saber: como se passa realmente “do reino de Deus para o reino do homem” - como se esse “reino de Deus” tivesse sempre existido a ser não na imaginação [...]” (p. 58-59)
“[...] (São Bruno chega mesmo a afirmar que “só a crítica e os críticos têm feito a história”) – e quando eles próprios se entregam a construções históricas saltam com grande pressa por sobre todos os períodos anteriores,” (p. 60)
“[...] A palavra comunista que, no mundo real, designa o adepto de determinado partido revolucionário. Toda a dedução de Feuerbach no que concerne às relações recíprocas dos homens visa unicamente a provar que os homens têm necessidade uns dos outros, e sempre tiveram. Ele quer estabelecer a consciência sobre este fato, quer, portanto, com os outros teóricos, criar apenas uma consciência correta sobre um fato existente, ao passo que para o verdadeiro comunista o que importa é derrocar este existente.” (p. 62)
“[...] quando, portanto, milhões de proletários não se sentem de forma alguma satisfeitos com suas condições de vida, quando seu “ser” em nada corresponde à sua essência [...]” (p. 63) 
“[...] * Naturalmente, não nos daremos ao trabalho de explicar aos nossos sábios filósofos que a “libertação” do “homem” não deu sequer um, passo adiante ao dissolverem a filosofia, a teologia, a substância e todo esse lixo de “autoconsciência” [...]” (p. 64-65)
“[...]” somente é possível efetuar* a libertação real do mundo real e através de meios reais; que não se pode superar a escravidão sem a máquina a vapor e muly-Jenny.” p. 65)
“[...]” (...) na realidade, para o materialista prático, isto é, para o comunista, trata-se de revolucionar o mundo existente, de atacar e transformar, praticamente, o estado de coisas que ele encontrou***.” (p. 68)
“[...] A “concepção” feuerbachiana do mundo sensível*** limita-se, de um lado, à simples contemplação deste último e, de outro lado, ao simples sentimento; [...]” (p. 68)
“[...] Ele não percebe que o mundo sensível que o envolve não é algo dado imediatamente, uma coisa sempre igual a si mesma, mas sim o produto da indústria e do estado da sociedade; isto, na verdade, no sentido de que é um produto histórico, o resultado da atividade de toda uma serie de gerações*, cada uma das quais alçando-se aos ombros da precedente, [...]” (p. 67) 
“[...] ”Bruno nos mostra na pág. 110,” as oposições em natureza i história”, como se as duas “coisas” fossem separadas uma da outra, como se o homem não se encontrasse em face de uma natureza histórica e de uma história natural [...]” (p. 68)
“[...] A indústria e o comercio, a produção e a troca das necessidades da vida, condicionam, por seu lado, a distribuição, a estrutura das diferentes classes sociais, para serem por sua vez condicionada por estas em seu modo de funcionamento.” (p. 68) 
“[...] Na medida em que Feuerbach é materialista, não aparece nele a história, e na medida em toma a história em consideração, não é materialista. materialismo e história aparecem completamente divorciados nele, [...]” (p. 70)
“[...] A história nada mais é que a sucessão de diferentes gerações, cada uma das quais explora os materiais, os captais, as forças de produção a ela transmitidas pelas gerações anteriores; [...] modifica as circunstâncias através de a uma atividade totalmente diversa.” (p. 70)
“[...] Assim é que se se inventa, por exemplo na Inglaterra uma máquina que, na Índia ou na china, rouba o pão a milhares de trabalhadores e subverte toda a forma de existência desses impérios, tal invento torna-se um fato da história mundial.” (p. 71)
“[...] As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes [...]. A classe que tem à sua disposição os meios da produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual, [...]” (p. 72)
“[...] As ideias dominantes nada mais são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes [...]” (p. 72)
“[...] Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coisas, também uma consciência e, por isso, pensam; na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que o façam em toda sua extensão e, consequentemente, entre outras coisas, dominem também como pensadores, como produtores de ideias; que regulamentam a produção e a distribuição dos de seu tempo; e que suas ideias sejam, por isso mesmo, as ideias dominantes da época.” (p. 72)
“[...] A divisão do trabalho, [...], expressa-se também no seio da classe dominante como divisão do trabalho espiritual e material, de tal modo que, no interior desta classe, uma parte aparece como os pensadores desta classe (seus ideólogos ativos, conceptivos, que fazem da formação de ilusão desta classe a respeito de si mesma seu modo principal de subsistência) [...]” (p. 72-73) 
“[...] A existência de idéias revolucionárias em uma determinada época já pressupõe a existência de uma classe revolucionária, sobre cujos pressupostos já dissemos anteriormente o necessário (pp. [48-53])” (p. 73)
“[...] cada nova classe que toma o lugar da que dominava antes dela é obrigada, para alcançar os fins a que se propõe, a apresentar o seus interesses como sendo o interesse comum de todos os membros da sociedade [...] é obrigada a emprestar às suas ideias a forma de universalidade e apresentá-las como as únicas racionais, as únicas universalmente validas.” (p. 74)
“[...] A classe revolucionária surge, desde o início, não como classe, mas como representante de toda a sociedade, porque já se defronta com uma classe; aparece como a massa inteira da sociedade frente à única classe dominante*. Ela consegue isso porque no início seu interesse realmente ainda está ligado ao interesse coletivo de todas as outras classes não-dominantes e porque, sob a pressão das condições prévias, esse interesse ainda não pôde desenvolver-se como interesse particular de uma classe particular.” (p. 74)
“[...] Quando a burguesia francesa derrubou a dominação da aristocracia, permitiu que muitos proletários se elevassem acima do proletariado, mas unicamente na medida em que se tornaram burgueses. Cada nova classe estabelece sua dominação sobre uma base mais extensa do que a classe que até então dominava, [...]” (p. 75)
“[...] uma vez que as ideias dominantes tenham sido separadas dos indivíduos dominantes e, principalmente, das relações que nascem de uma dada fase do modo de produção, e que com isso chegue-se ao resultado de que na história das ideias sempre dominam [...]” (p. 75).
 “[...] Este método histórico, que reinou sobretudo na Alemanha, e com razão, deve ser explicado a partir da conexão com a ilusão dos ideólogos em geral – por exemplo, com as ilusões dos juristas, dos políticos 9incluindo entre estes os estadistas práticos) - [...]” (p. 77)
[B. A BASE REAL DA IDEOLOGIA]
[1.] Intercâmbio eForça produtiva (p.77)
“[...] A maior divisão do trabalho material e intelectual é a separação entre a cidade e o campo. A oposição entre a cidade e o campo começa com a transição da barbárie à civilização, da organização tribal ao Estado, da localidade à nação [...]” (p. 77-78)
“[...] A existência da cidade implica ao mesmo tempo a necessidade da administração, da polícia, dos impostos etc. [...]”. (p. 78)
“[...] A cidade já é o fato da concentração da população, dos instrumentos de produção, do capital, dos prazeres e das necessidades, ao passo que o campo evidencia exatamente o oposto: o isolamento e a separação. A oposição entre a cidade e o campo só pode existir nos quadros da propriedade privada.” (p. 78)
“[...] o trabalho volta a ser aqui o fundamental, o poder sobre os indivíduos, e enquanto existir esse poder, deve existir a propriedade privada. A superação da oposição entre a cidade e o campo é uma das primeiras condições da coletividade, [...].” (p. 78)
“[...] A separação entre a cidade e o campo pode ser concebida também como a separação entre o capital e a propriedade da terra, [...] como o começo de uma propriedade que tem por base somente o trabalho e a troca.” (p. 79)
“[...] Nas cidades [...] o trabalho particular de cada um era sua única propriedade além do pequeno capital, que consistia quase unicamente nas ferramentas mais necessárias que trazia consigo.” (p. 79)
“[...] a necessidade de edifícios comuns para a venda de mercadorias – numa época em que os artesãos eram também commerçants – e a consequente exclusão de pessoas não qualificadas de tais estabelecimentos, a oposição de interesses entre diferentes ofícios, a necessidade de proteger o trabalho aprendido a duras penas [...] estas foram as causas que levaram trabalhadores de cada ofício a se unirem em corporações.” (p. 79)
“[...] Esses servos, perseguidos no campo por seus senhores, que chegavam isoladamente às cidades, onde encontravam uma comunidade organizada contra a qual eram impotentes e na qual deviam se submeter [...] jamais podiam chegar a ser uma força, já que, se seu trabalho fosse do tipo corporativo e tivesse que ser aprendido os mestres da corporação os subjugava e os organizava de acordo com seus interesses; [...]”(p. 80)
“[...] se seu trabalho não tivesse que ser aprendido e, portanto, não do tipo corporativo, tornavam-se trabalhadores diaristas e jamais chegavam a formar uma organização, permanecendo como uma plebe desorganizada. A necessidade do trabalho de diaristas nas cidades criou a plebe.” (p. 80)
“[...] Estas cidades eram verdadeiras “associações”, criadas pela necessidade imediata, pela preocupação em defender a propriedade e aptas a multiplicar os meios de produção e os meios de defesa de seus membros individuais.” (p. 80)
“[...] Nas cidades, a divisão do trabalho ainda era [inteiramente natural], [...] cada artesão medieval estava completamente absorvido por seu trabalho [...]” (p. 81)
“[...] O capital, nestas cidades, era um capital surgido naturalmente, que consistia em habitação, ferramentas e uma clientela natural e hereditária; transmitia-se de pais para filhos, [...]” (p. 81-82)
“[...] Este capital não era, como o capital moderno, um capital avaliável em dinheiro [...]; mas era um capital ligado diretamente ao trabalho determinado do possuidor, e dele inseparável; era portanto, nesse sentido, um capital corporativo (ständisches kapital).” (p. 82)
“[...] O passo seguinte no desenvolvimento da divisão do trabalho foi a separação entre a produção e o comércio, a formação de uma classe especial de comerciantes, uma separação que já era tradicional [...]”. (p. 82)
“[...] um vínculo comercial que ultrapassava os círculos mais próximos, uma possibilidade cuja realização dependia dos meios de comunicação existentes, do estado de segurança púbica atingido no país e condicionado pelas circunstâncias políticas [...], e das necessidades das regiões acessíveis ao comércio [...]” (p. 82)
“[...] Com a constituição de uma classe especial dedicada ao comércio, com a extensão do comércio através dos comerciantes para além das vizinhanças mais próximas da cidade surgiu logo uma ação recíproca entre a produção e o comércio.” (p. 82)
“[...] As cidades entram* em relação umas com as outras, novas ferramentas são levadas de uma cidade para outras e a separação entre a produção e do comércio não tarda a suscitar uma nova divisão da produção entre as diversas cidades, cada uma das quais logo explorará predominantemente um ramo industrial.” (p. 82-83)
“[...] Na Idade Média, os burgueses em cada cidade eram constrangidos a se unir contra a nobreza rural para salvar sua pele. A extensão do comércio e o estabelecimento de comunicações levaram cada cidade a conhecer outras cidades que haviam imposto os mesmos interesses, na luta contra a mesma oposição*.” (p. 83)
“[...] A partir das numerosas burguesias locais das diferentes cidades nasceu lentamente a classe burguesa. As condições de vida dos diferentes burgueses, em decorrência da oposição às relações sociais existentes e do tipo de trabalho que isto impunha, tornaram-se simultaneamente condições comuns a todos eles e independentes de cada indivíduo**.” (p. 83)
“[...] Com o surgimento do vínculo entre as diferentes cidades, essas condições comuns se transformaram em condições de classe. [...]” (p. 83)
“[...] a própria burguesia só se desenvolve paulatinamente, dentro de suas condições; ramifica-se, por sua vez, em diferentes frações, de acordo com a divisão do trabalho, e acaba por absorver em si todas as classes possuidoras preexistentes” [...]” (p. 83-84)
“[...] Os indivíduos isolados apenas formam uma classe na medida em que têm que manter uma luta comum contra outra classe; no restante, eles mesmos defrontam-se uns contra os outros na concorrência. (p. 84)
“[...] a classe autonomiza-se em face dos indivíduos, de sorte que estes últimos encontram suas condições de vida preestabelecidas e têm, assim, sua posição na vida e seu desenvolvimento pessoal determinado pelar classe; [...]” (p. 84)
“[...] trata-se do mesmo fenômeno que o da subsunção dos indivíduos isolados à divisão do trabalho, e tal fenômeno não pode ser suprimido se não supera a propriedade privada e o próprio trabalho.” (p. 84)
“[...] Aquele trabalho que, desde o início dependia do uso de uma máquina, mesmo sob forma rudimentar, não tardou a revelar-se como mais capaz de desenvolvimento.” (p.86)
 
“[...] A tecelagem, que os camponeses praticavam até então como atividade acessória para obterem as vestimentas necessárias, foi o primeiro trabalho que recebeu um impulso e um amplo desenvolvimento graças à extensão do comércio. A tecelagem foi a primeira e continuou sendo a mais importante manufatura.” (p. 86)
“[...] a necessidade de luxo disso resultante e favorecida, sobretudo, pela extensão progressiva do comércio, proporcionaram à tecelagem, quantitativa e qualitativamente, um impulso que a obrigou a abandonar a forma de produção anterior.” (p. 86) 
“[...] Ao lado dos camponeses, que teciam para seu próprio uso – que continuaram a subsistir e continua até hoje – apareceu nas cidades uma nova classe de tecelões, cujos tecidos eram destinados ao conjunto do mercado interno e, frequentemente, também aos mercados externos.” (p. 86)
 
“[...] a tecelagem foi exercida principalmente em aldeias e povoações organização corporativa, as quais gradualmente tornaram-se cidades e, inclusive as mais florescentes cidades de cada país.” (p. 86)
“[...] Com a manufatura livre da corporação, transformaram-se também as relações de propriedade.” (p. 86)
“[...] O começo das manufaturas trouxe consigo simultaneamente, um período de vagabundagem, causado pelo desaparecimento da vassalagem feudal, e pela dispensa dos exércitos que haviam sido reunidos e servido aos reis contra os vassalos [...]”. (p. 87)
“[...] isto já mostra como esta vagabundagem está ligada estreitamente à decomposição do feudalismo.” (p. 87)
“[...] Já no séculoXIII, nos encontramos com épocas isoladas desse tipo, mas a vagabundagem só se estabelece de maneira permanente e generalizada em fins do século XV e começo do século XVI. Estes vagabundos - tão numerosos que o rei Henrique VIII, da Inglaterra, entre outros, manou enforcar cerca de 72 mil - [...]” (p. 87)
“[...] Com a manufatura, as diversas nações entraram em relação de concorrência, empenhando-se em lutas comerciais por meio de guerras, [...]. O comércio a partir de então tem significação política.” (p. 87-88)
“[...] A manufatura e em geral o movimento da produção receberam um enorme impulso através da extensão do comércio, em consequência da descoberta da América e da rota marítima das Índias Orientais.” (p. 88)
“[...] Através da colonização dos países descoberta recente, a luta comercial entre as nações recebeu novo alimento e, com isso, tornou-se mais extensa e encarniçada.” (p. 88)
“[...] A expansão do comércio e da manufatura acelerou a acumulação do capital móvel, enquanto que nas corporações - que nenhum estimulo recebiam para aumentar a sua produção - o capital surgido naturalmente permanecia estável ou até diminuía. O comércio e a manufatura criaram a grande burguesia; nas corporações, encontrava-se a pequena burguesia, que então já não dominava mais, como antes, nas cidades, mas devia curvar-se à dominação dos grandes comerciantes e manufatureiros*.” (p. 88-89)
“[...] a indústria, na maior parte importada do estrangeiro e exigida pela necessidade de empregar a crescente população urbana, não podia dispensar os privilégios a ela concedidos, [...].” (p. 89)
“[...] Os direitos alfandegários surgiram dos tributos que os senhores feudais impunham aos comerciantes que atravessavam seus territórios, como resgate da pilhagem; tais tributos foram, mais tarde, igualmente impostos pelas cidades e, [...]” (p. 89)
“[...] O segundo período começou em meados do século XVII e durou até quase meados do século XVIII. O comércio e a navegação se tinham desenvolvido mais rapidamente do que a manufatura, que desempenhava papel secundário; as colônias começaram a se tornar fortes consumidoras [...]” (p. 90)
“[...] Esse período começa com as leis sobre a navegação e os monopólios coloniais. A concorrência das nações entre si, era eliminada, dentro do possível, por meio de tarifas, proibições e tratados; e, em última instância, as guerras [...]” (p. 90)
“[...] A nação marítima mais poderosa, a Inglaterra, mantinha sua preponderância no plano comercial e na manufatura. Nota-se já aqui a concentração em um só país.” (p. 90)
“[...] As cidades comerciais, e particularmente as marítimas, tornaram-se relativamente civilizadas e aburguesadas, enquanto que nas cidades fabris prevalecia pequena burguesia. Cf. Ajkin¹, por exemplo.” (p. 92)
“[...] O século XVIII foi o século do comércio. Assim informa Pinto² expressamente: [...]” (p. 92)
“[...] A concentração do comércio e da manufatura em um só país, a Inglaterra - [...] - criou progressivamente para esse país um relativo mercado mundial e, com isso, uma procura dos produtos ingleses manufaturados, [...]” (p. 93)
“[...] Tal procura que ultrapassava as forças de produção, foi a força motriz que, criando a grande indústria e com ela a utilização de forças elementares para fins industriais, a maquinaria e a mais extensa divisão do trabalho deu nascimento ao terceiro período da propriedade privada desde a Idade Média.” (p. 93)
“[...] a grande indústria universalizou a concorrência [...]. Através da concorrência universal obrigou todos os indivíduos ao mais intenso emprego de suas energias”. Destruiu onde foi possível, a ideologia, a religião, a moral, etc., e onde não pode fazê-la, converteu-as em mentiras palpáveis.” (p. 94)
 “[...] A concorrência logo obrigou todo país que quisesse conservar seu papel histórico a proteger suas manufaturas com novas medidas alfandegárias (as antigas eram já insuficientes em face da grande indústria), [...]” (p. 94)
“[...] Foi ela que engendrou a história mundial, na medida em que tornou cada nação civilizada, e cada indivíduo membro dela dependentes do mundo inteiro para satisfação de suas necessidades, e que destruiu o anterior caráter natural e exclusivista das diferentes nações.” (p. 94)
“[...] Onde quer que penetrou, destruiu o artesanato e, em geral, todas as fases anteriores da indústria. Completou a vitória [da] cidade comercial sobre o campo.” (p. 94-95)
“[...] Em geral, a grande indústria engendrou em todas as partes as mesmas relações entre as classes da sociedade, destruindo com isso a peculiaridade das diferentes nacionalidades.’ (p. 95).
“[...] enquanto a burguesia de cada nação conserva ainda interesses nacionais particulares, a grande indústria criou uma classe cujos interesses são os mesmos em todas as nações e em que toda nacionalidade está destruída; uma classe que realmente se desembaraçou do mundo antigo e que, ao mesmo tempo, com ele se defronta.” (p. 95)
“[...] Não é apenas a relação com o capitalista, mas é o próprio trabalho, que a grande indústria torna insuportável para o trabalhador.” (p. 95)
 
“[...] Do mesmo modo, os países que desenvolvem uma grande indústria influem sobre os países mais ou menos não-industriais, [...]” (p. 96) 
 
“[...] A concorrência isola os indivíduos uns dos outros, não apenas os burgueses, mas ainda mais os proletários, apesar de aglutiná-los.” (p. 96)
“[...] Em cada período, ocorreu uma união das forças produtivas existentes, na medida em que as necessidades assim o exigiram.” (p. 96)
[2.] Relação do Estado e do direito com a propriedade (p. 96) 
“[...] Tanto no mundo antigo, como na Idade Média, a primeira forma de propriedade é a propriedade tribal, condicionada entre os romanos principalmente pela guerra e entre os germanos pela pecuária.” (p. 96)
“[...] A verdadeira propriedade privada, começa, tanto entre os povos antigos como entre os povos modernos, com a propriedade mobiliária. – (Escravidão e comunidade) [...]” (p. 97)
“[...] Nos povos surgido na Idade Média, a propriedade tribal desenvolve-se passando por etapas diferentes – propriedade feudal da terra, propriedade mobiliaria corporativa, capital manufatureiro – até chegar ao capital moderno, condicionado pela grande indústria e pela concorrência universal, isto é, até chegar à propriedade privada pura, [...]” (p. 97)
“[...] A esta propriedade privada moderna, corresponde o Estado moderno, o qual, comprado paulatinamente pelos proprietários privados através dos impostos, cai completamente sob o controle destes através da dívida pública, [...]” (p. 97)
“[...] A burguesia, por ser uma classe e não mais um estamento, é obrigada a se organizar nacionalmente, e não mais localmente, a dar uma forma geral ao seu interesse médio.” (p. 97)
“[...] Através da emancipação da propriedade privada em relação à comunidade, o Estado adquire uma existência particular, ao lado e fora da sociedade civil; mas este Estado não é mais do que a forma de organização que os burgueses necessariamente adotam, tanto no interior quanto no exterior, para a garantia recíproca de sua propriedade e de seus interesses.” (p. 97-98)
“[...] A autonomia do Estado ocorre hoje em dia apenas naqueles países onde os estamentos ainda não se desenvolveram totalmente, até se transformarem em classes, onde ainda desempenham um certo papel, os estamentos já eliminados nos países mais avançados, [...]” (p. 98)
“[...] Como o Estado é a forma na qual os indivíduos de uma classe dominante fazem valer seus interesses comuns e na qual se resume toda a sociedade civil de uma época, segue-se que todas as instituições comuns são mediadas pelo Estado e adquirem através dele uma forma política.” (p. 98)
“[...] Daí a ilusão de que a lei se baseia na vontade e, mais ainda, na vontade destacada de sua base real – na vontade livre.” (p. 98)
“[...] O direito privado desenvolve-se simultaneamente com a propriedade privada, a partir da desintegração da comunidade natural.” (p. 98)
“[...]Entre os romanos, o desenvolvimento da propriedade privada e do direito privado não tem nenhuma consequência industrial ou comercial porque todo seu modo de produção continuou a ser o mesmo*.” (p. 98-99)
“[...] Entre os povos modernos, onde a comunidade feudal foi desenvolvida pela indústria e pelo comércio, o nascimento da propriedade privada e do direito privado marcou o começo de uma nova fase, capaz de ulterior desenvolvimento.” (p. 99)
“[...] na Itália e mais tarde em outros países, o altamente desenvolvido direito privado romano foi imediatamente adotado de novo e considerado como autoridade.” (p. 99)
“[...] o desenvolvimento propriamente dito do direito começou em todos os países – na França no século XVI – e, em todos eles, à exceção da Inglaterra, teve por base o Código Romano.” (p. 99)
“[...] Não se deve esquecer que tanto o direito como a religião não têm história própria.” (p. 99) 
“[...] No direito privado, as relações de propriedade existentes são declaradas como sendo resultado da vontade geral.” (p. 99)
“[...] Cada vez que, através do desenvolvi[mento] da indústria e do comércio, surgem novas formas de intercâmbio (por exemplo, companhias de seguros etc.), o direito tem sido sempre obrigado a admiti-las entre os modos de adquirir a propriedade¹.” (p. 101)
[3.] [Formas de Propriedade e Instrumentos de Produção Naturais e Civilizados] (p. 101)
“[...] Manifesta-se aqui, portanto, a diferença entre os instrumentos de produção naturais e aqueles criados pela civilização. O campo (a água etc.) pode ser considerado como um instrumento de produção natural. [...]” (p. 101)
“[...] No primeiro caso, quando se trata de um instrumento de produção natural, os indivíduos são subordinados à natureza; no segundo caso, a um produto do trabalho.” (p. 101)
“[...] O primeiro caso pressupõe que os indivíduos estão unidos por um laço qualquer, por exemplo a família, a tribo, o próprio solo etc.; o segundo caso pressupõe que são independentes uns dos outros e que se mantém juntos apenas através da troca.” (p. 101)
“[...] No primeiro caso, a troca é essencialmente troca entre os homens e a natureza, uma troca na qual o trabalho dos primeiros é trocado pelos produtos da natureza; no segundo caso, é predominantemente uma troca dos homens entre si.“ (p. 101-102)
“[...] na pequena indústria e em toda a agricultura anterior, a propriedade é a consequência necessária dos instrumentos de produção existentes; [...]” (p. 102)
“[...] Na grande indústria, a contradição entre o instrumento de produção e a propriedade privada é o produto da grande indústria que deve estar já bastante desenvolvida para criá-la.” (p. 102) 
“[...] Na grande indústria e na concorrência, todo o conjunto de condições de existência, inclinações e limitações individuais está fundido em duas formas mais simples: propriedade privada e trabalho.” (p. 102-103)
“[...] Com o dinheiro, toda forma de intercâmbio e o próprio intercâmbio estão postos para os indivíduos como algo acidental.” (p. 103)
“[...] No próprio dinheiro já está implícito que todo intercâmbio anterior era apenas intercâmbio de indivíduos sob determinadas condições, e não de indivíduos enquanto indivíduos.” (p. 103)
“[...] Estas condições, agora, se reduzem a duas: trabalho acumulado ou propriedade privada e trabalho real do outro lado.” (p. 103)
“[...] Por outro lado, os próprios indivíduos estão inteiramente subordinados à divisão do trabalho e, por isso mesmo, se vêm na mais completa dependência de uns em face dos outros.” (p. 103) 
“[...] Através da divisão do trabalho, já está dada desde o início a divisão das condições de trabalho, das ferramentas e dos materiais, e, com isso, a fragmentação do capital acumulado entre os diferentes proprietários; [...]” (p. 103)
“[...] Quanto mais a divisão do trabalho se desenvolve e a acumulação aumenta, mais se torna aguda essa fragmentação.” (p. 103-104)
“[...]Dois fatos, então, revelam-se aqui*. Primeiro as forças produtivas aparecem como inteiramente independentes e separadas dos indivíduos, como um mundo próprio ao lado destes, o que tem seu fundamento no fato de que os indivíduos. que são as forças daquele mundo, existem fragmentados e em oposição mútua, ao passo que, por outro lado, essas forças só são forças reais no intercâmbio e na relação desses indivíduos.” (p. 104)
“[...] Apenas os proletários da época atual, inteiramente excluídos de toda autoatividade, estão em condições impor sua autoatividade completa e não mais limitada, que consiste na apropriação de uma totalidade de forças produtivas e no desenvolvimento daí decorrente de uma totalidade de capacidades.” (p. 105)
“[...] Todas as apropriações anteriores foram limitadas; os indivíduos, cuja autoatividade estava limitada por um instrumento de produção e por um intercâmbio limitados, apropriavam-se desse limitado instrumento de produção e alcançavam assim mais do que a uma nova limitação.” (p. 105-106)
“[...] Seu instrumento de produção tornava-se propriedade sua, mas eles mesmos permaneciam subsumidos à divisão do trabalho e a seu próprio instrumento de produção.” (p. 106)
“[...] O moderno intercâmbio universal não pode ser subsumido aos indivíduos senão quando for subsumido a todos.” (p. 106)
“[...] Com a apropriação das forças produtivas totais pelos indivíduos unidos, termina a propriedade privada.” (p. 106-107)
“[...] Os indivíduos não mais subsumidos à divisão do trabalho foram representados pelos filósofos como um ideal sob o nome “homem”, e todo esse processo que acabamos de expor foi concebido como sendo o processo de desenvolvimento do “homem”; de tal modo que, em cada fase histórica, o “homem” foi introduzido sorrateiramente por sob os indivíduos anteriores como a força motriz da história.” (p. 107)
“[...] Graças a esta inversão, que desde o início faz abstrações das condições reais, foi possível transformar toda a história num processo de desenvolvimento da consciência.” (p. 107)
“[...] Finalmente, da concepção da história que acabamos de expor obtemos os seguintes resultados: 1.º) No desenvolvimento das forças produtivas chega-se a uma fase onde surgem forças produtivas [...]; 2.º) As condições sob as quais determinadas forças produtivas poder ser utilizadas são as condições de dominação de determinada classe da sociedade*; [...]**; 3.º) Em toda as revoluções anteriores, o modo de atividade permanecia intacto, e tratava-se apenas de conseguir uma outra forma de distribuição dessa atividade, uma nova distribuição do trabalho entre outras pessoas, enquanto a revolução comunista é dirigida contra o modo anterior de atividade, suprime o trabalho*** e supera a dominação de toda as classes ao superar as próprias classes; [...]; 4.º) A transformação em larga escala dos homens torna-se necessária para a criação em massa desta consciência comunista, como também para o sucesso da própria causa.” (p. 108-109)
“[...], mas também porque apenas uma revolução permitirá à classe que derruba a outra varrer toda a podridão do velho sistema e tornar-se capaz de fundar a sociedade sobre bases novas*.” (p. 109)
[C] Comunismo.
 A Produção da Própria Forma de Intercâmbio
“[...] O comunismo distingue-se de todos os movimentos anteriores pelo fato de subverte fundamentos de todas as relações de produção e de intercâmbio anteriores e, de que aborda pela primeira vez conscientemente todos os pressupostos naturais como criações dos homens que nos precederam, despojando-os de seu caráter natural e submetendo-os ao poder dos indivíduos unidos.” (p. 110)
“[...] O existente, que o comunismo está criando, é precisamente a base real para tornar impossível tudo o que existe independentemente dos indivíduos, na medida em que o existente nada mais é do que o intercâmbio anterior dos próprios indivíduos.” (p. 110)
“[...] A diferença entre o indivíduo como pessoa e o indivíduo naquilo que tem de acidental não é uma diferença conceitual, mas um fato histórico. distinção tem um sentido diverso emépocas diversas [...]. Não é uma distinção que tenhamos que estabelecer para cada época, mas que cada época estabelece por si mesma a partir dos diferentes elementos com que se encontra, [...]” (p.111)
“[...] As condições sob as quais os indivíduos mantêm intercâmbio entre si, enquanto a contradição não aparece, são condições inerentes à sua individualidade e não algo externo a eles;” (p. 111-112)
“[...] Essas diferentes condições, que surgem primeiro como condições da autoatividade e, mais tarde, como através a ela, formam ao longo de todo desenvolvimento histórico uma série concatenada de formas de intercâmbio, cuja concatenação consiste em que a forma anterior de intercâmbio, transformada num entrave, é substituída por outra nova que corresponde às forças produtivas mais desenvolvidas e, por isso mesmo, ao modo mais avançado da autoatividade dos indivíduos - .” (p. 112)
“[...] desde que, em cada fase, essas condições correspondem ao desenvolvimento simultâneo das forças produtivas, sua história é ao mesmo tempo a história das forças produtivas em desenvolvimento e herdadas por cada nova geração, e também, é a história do desenvolvimento das forças dos próprios indivíduos.” (p. 112)
“[...] esse processo ocorre muito lentamente; as diferentes fases e os diversos interesses, jamais são completamente ultrapassados [...]” (p. 113)
“[...] Disso resulta que, inclusive no interior de uma nação, os indivíduos têm desenvolvimentos diferentes, independentemente suas condições pecuniárias, [...]” (p. 113)
“[...] em países como a América do Norte, que começam em um período histórico já avançado, esse processo de desenvolvimento ocorre com muita rapidez. Estes países não têm nenhum outro pressuposto natural senão os indivíduos, que ali se instalaram como colonos movidos pelas formas de intercâmbio dos velhos países, que já correspondem às suas necessidades.” (p. 113)
“[...] Tais países começam, com os indivíduos mais avançados dos velhos países e, portanto, com a correspondente forma de intercâmbio mais desenvolvida, antes mesmo que essa forma de intercâmbio tenha podido impor-se nos países velhos*. [...]” (p. 113-114)
“[...] Segundo a nossa concepção, portanto, todas as colisões da história têm origem na contradição entre as forças produtivas e a forma de intercâmbio, [...]” (p. 115)
“[...] A concorrência com países industrialmente mais desenvolvidos, concorrência provocada pela expansão do intercâmbio internacional, é suficiente para engendrar uma contradição semelhante também em países com indústria menos desenvolvida (por exemplo, o proletariado latente na Alemanha evidenciou-se devido à concorrência da indústria inglesa).” (p. 116)
“[...] Esta contradição entre as forças produtivas e a forma de intercâmbio que, como vimos, ocorreu várias vezes na história anterior sem, contudo, ameaçar-lhe o fundamento, teve que irromper numa revolução, [...].” (p. 116)
“[...] A transformação, pela divisão do trabalho, de forças (relações) pessoais em forças objetivas, não pode ser superada arrancando-se da cabeça essa representação geral, mas apenas se os indivíduos subsumirem novamente essas forças objetivas a si mesmos e superarem a divisão do trabalho*.” (p. 116)
“[...] Apenas na coletividade [de uns e outros] é que cada indivíduo encontra os meios de desenvolver suas capacidades em todos os sentidos; somente na coletividade, portanto, torna-se possível liberdade pessoal.” (p.116-117)
“[...] a liberdade pessoal tem existido apenas para os indivíduos desenvolvidos dentro das relações da classe dominante e apenas na medida em que eram indivíduos dessa classe.” (p.117)
“[...] Na coletividade real, os indivíduos adquirem sua liberdade na e através de sua associação.” (p.117)
“[...] de toda a exposição anterior* resulta que a relação coletiva em que entraram os indivíduos de uma classe, relação condicionada por seus interesses comuns frente a um terceiro, [...] - ou seja, uma relação na qual participavam não como indivíduos, mas como membros de uma classe.” (p. 117)
“[...] Por outro lado, com a coletividade dos proletários revolucionários, que tomam sob seu controle suas condições de existência e as de todos os membros da sociedade, acontece exatamente o contrário: nela os indivíduos participam como indivíduos.” (p. 117)
“[...] A união anterior (de forma alguma arbitrária, como é apresentada, por exemplo, no contrat social¹, mas necessária) era simplesmente uma união com base nestas condições no interior das quais os indivíduos desfrutavam o acaso [...]” (p. 118)
“[...] Os indivíduos partiram sempre de si mesmos, mas, naturalmente, dentro de suas condições e relações históricas dadas, e não do indivíduo “puro”, no sentido dos ideólogos. Porém no curso do desenvolvimento histórico e [...]” (p. 119)
“[...] (não devemos entender isto no sentido de que, por exemplo, o que vive de rendas, o capitalista etc., deixem de ser pessoas, mas sim no sentido de que sua personalidade está condicionada e determinada por relações de classe bem definidas; a divisão surge apenas na oposição destes indivíduos a uma outra classe e, com relação a eles apenas quando entram em bancarrota.) [...]” (p. 119)
“[...] A divisão entre o indivíduo pessoal e o indivíduo de classe, a contingência das condições de vida para o indivíduo, aparecem apenas com a emergência da classe, que é, ela mesma, um produto da burguesia.” (p. 119)
“[...] Para os proletários, ao contrário, a condição de sua existência, o trabalho, e com ela todas as condições de existência que governa a sociedade moderna, tornam-se algo acidental, algo que eles como indivíduos isolados, não controlam, e sobre o qual nenhuma organização social pode dar-lhes o controle*. [...]” (p. 121) (FIM)
Dados bibliográficos:
Marx, Karl & Engels, Friedrich. A ideologia alemã. S. Paulo: Hucitec, 1987. Trad. José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira

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