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Macroscopia do Tronco Encefálico

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Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2
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MED RESUMOS 2011
NETTO, Arlindo Ugulino.
NEUROANATOMIA
ANATOMIA MACROSCÓPICA DO TRONCO ENCEFÁLICO
(Professor Stênio A. Sarmento)
O tronco encefálico interpõe-se entre a medula e o diencéfalo, situando-se 
ventralmente ao cerebelo, apoiado sobre a região do clivo do osso occipital, na 
base do crânio. Sua origem embriológica se dá a partir das vesículas primitivas 
prosencefálicas do tubo neural: o rombencéfalo dá origem ao metencéfalo (que 
origina a ponte e o cerebelo) e mielencéfalo (que origina o bulbo); e o 
mesencéfalo, ainda como vesícula primitiva, se continua como mesencéfalo até o 
fim do desenvolvimento embrionário do SNC.
Na constituição do tronco entram corpos de neurônios que se agrupam em 
núcleos e fibras nervosas, que por sua vez, se agrupam em tractos, fascículos e 
lemniscos. Estes elementos da estrutura interna do tronco encefálico podem estar 
relacionados com relevos ou depressões de sua superfície macroscópica, e devem 
ser identificados e diferenciados. Muitos dos núcleos do tronco encefálico recebem 
ou emitem fibras nervosas que entram na constituição dos nervos cranianos. Dos 
12 pares de nervos cranianos, 10 fazem conexão com o tronco encefálico. A 
identificação destes nervos e de sua emergência do tronco encefálico é um 
aspecto importante do estudo deste segmento do sistema nervoso central.
O tronco encefálico se divide em: bulbo (situado caudalmente, 
estabelecendo relação direta com a medula); ponte (situada entre o bulbo e o 
mesencéfalo); e mesencéfalo (situado cranialmente, apoiando sobre si os 
hemisférios cerebrais), além da presença do IV Ventrículo dorsalmente ao tronco, 
ventralmente, portanto, ao cerebelo.
BULBO
O bulbo raquídeo ou medula oblonga tem a forma de um tronco de cone, cuja extremidade menor continua caudalmente 
com a medula espinhal. Como não existe uma linha de demarcação nítida entre medula e bulbo, considera-se que o limite entre eles 
está em um plano horizontal que passa imediatamente acima do filamento radicular mais cranial do primeiro nervo cervical (C1), que 
corresponde ao nível do forame magno do osso occipital. O limite superior do bulbo se faz em um sulco horizontal visível no contorno 
ventral do órgão, o sulco bulbo-pontino, que corresponde à margem inferior da ponte. 
A superfície do bulbo é percorrida longitudinalmente por sulcos ora mais, ora menos paralelos, que continuam com os sulcos 
da medula. Estes sulcos, além de delimitar as áreas anterior, posterior e lateral do bulbo, aparecem como uma continuação direta dos 
funículos da medula. A fissura mediana anterior termina cranialmente em uma depressão denominada forame cego. De cada lado da 
fissura mediana anterior existe uma eminência alongada chamada de pirmide bulbar, formada por um feixe compacto de fibras 
nervosas descendentes (tracto córtico-espinhal) que ligam as áreas motoras do cérebro aos neurônios motores da medula. Na parte 
caudal do bulbo, fibras do tracto córtico-espinhal cruzam obliquamente o plano mediano em feixes que obliteram a fissura mediana 
anterior e constituem a decussação das pirâmides. Lateralmente às pirâmides, observa-se uma eminência oval, denominada oliva
(formada por uma grande massa de substancia cinzenta, o núcleo olivar inferior). Ventralmente à oliva, emergem do sulco lateral 
anterior os filamentos radiculares do nervo hipoglosso (XII par de nervos cranianos). Do sulco lateral posterior emergem filamentos 
radiculares que se unem para formar os nervos glossofaríngeo (IX par) e vago (X par), além dos filamentos que constituem a raiz 
craniana ou bulbar do nervo acessório (XI par), a qual se une com a raiz espinhal, proveniente da medula.
A metade caudal do bulbo ou porção fechada do bulbo é percorrida posteriormente por um estreito canal, continuação direta 
do canal central da medula. Este canal se abre para formar o IV ventr‚culo, cujo assoalho é em parte constituído pela metade rostral, 
ou porção aberta do bulbo e a outra metade (mais superior), pela porção posterior da ponte. O sulco mediano posterior termina a meia 
altura do bulbo, em virtude do afastamento de seus lábios, que contribuem para a formação dos limites laterais do IV ventrículo. Entre 
este sulco e o sulco lateral posterior, está situada a área posterior do bulbo, continuação direta do funículo posterior da medula e, 
como este, dividida em fascículo grácil e fascículo cuneiforme pelo sulco intermédio posterior. Estes fascículos são constituídos por 
fibras nervosas ascendentes, provenientes da medula, que terminam em duas massas de substância cinzenta, os nƒcleos gr„cil e 
cuneiforme, situados profundamente à região denominada tubérculo do núcleo grácil (medialmente) e tubérculo do núcleo cuneiforme 
(lateralmente). Quando há a formação do assoalho inferior do IV ventrículo, esses tubérculos se afastam do plano mediano e se
continuam superiormente como o pedúnculo cerebelar inferior.
A porção aberta do bulbo abriga estruturas de importante relações anátomo-clínicas, como o trígono do hipoglosso (mais 
medial) e o trígono do vago (mais lateral) que são projeções superficiais dos núcleos do nervo hipoglosso e vago, respectivamente. 
Estes dois trígonos estão separados da área postrema (região triangular mais caudal da porção aberta do bulbo relacionada com o 
reflexo do vômito) por meio do funículo separans, uma crista esbranquiçada de tecido nervoso.
Quanto à sua função, o bulbo apresenta uma característica que é de controlar o ritmo respiratório, assim como o ritmo 
cardíaco. Tal função é possível ao bulbo pois nele existe neurônios da chamada formação reticular que se agrupa em centros (no 
caso, centro respiratório e centro cardiovascular) responsáveis por receber informações oriundas, principalmente, do núcleo do tracto 
solitário (importante núcleo que recebe fibras viscerais de nervos cranianos) e, em resposta a estas informações, origina estímulos 
que comandam certas funções vitais. Além disso, é no bulbo que se encontra uma área responsável pelo reflexo do vomito, localizada 
profundamente à área postrema, e que também é formada por neurônios da formação reticular.
Arlindo Ugulino Netto – NEUROANATOMIA – MEDICINA P3 – 2008.2
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PONTE
A ponte € a parte do tronco enceflico interposto entre o bulbo e o mesenc€falo. Est situada ventralmente ao cerebelo e 
repousa sobre a parte basilar do osso occipital e o dorso da sela turca do esfen‚ide. Inferiormente, € delimitada pelo sulco bulbo-
pontino e superiormente, dividida do mesenc€falo pelo sulco ponto-mesenceflico.
Na sua base (face anterior), apresentam-se estriaƒ„es transversais em virtude da presenƒa de numerosos feixes de fibras 
transversais que a percorrem. Estas fibras convergem de cada lado para formar um volumoso feixe, o pedúnculo cerebelar médio (ou 
braço da ponte), que penetra no hemisf€rio cerebelar correspondente. Considera-se como limite entre a ponte e o braƒo da ponte o 
ponto de emerg…ncia do N. trigêmeo (V par craniano). Percorrendo longitudinalmente a superf†cie ventral da ponte existe um sulco, o 
sulco basilar, que geralmente aloja a artéria basilar (formada pela uni‡o das duas art€rias vertebrais).
A parte ventral da ponte € separada do bulbo pelo sulco bulbo-pontino, de onde emergem de cada lado, a partir da linha 
mediana, o VI (abducente), VII (facial e interm€dio) e VIII (nervo vest†bulo-coclear) pares cranianos. O VI par (nervo abducente) 
emerge entre a ponte e a margem superior da pirˆmide, bem pr‚ximo ao plano mediano. O VIII par (nervo vest†bulo coclear) emerge 
lateralmente, pr‚ximo a um pequeno e destacado l‚bulo do cerebelo denominado de flóculo. O VII par (facial) emerge medialmente ao 
VIII par, com o qual se relaciona intimamente. Entre os dois, emerge o nervo intermédio, que € a raiz sensitiva e visceral do VII par 
(portanto, quando se fala em nervo facial, se fala, em conjunto, do nervofacial propriamente dito – parte motora – e nervo interm€dio –
parte sensitiva e visceral). Uma compress‡o nessa regi‡o do sulco bulbo-pontino pode levar a uma riqueza de sinais neurol‚gicos 
devido Š emerg…ncia desses importantes nervos cranianos, levando a chamada síndrome do ângulo ponto-cerebelar (baixa 
acuidade auditiva, dificuldade na marcha, v‹mitos, paralisia facial perif€rica).
IV VENTR…CULO
A cavidade do rombenc€falo tem uma forma de losango e € denominada de quarto ventrículo, situado entre o bulbo e a 
ponte ventralmente, e o cerebelo, dorsalmente. Continua caudalmente com o canal central do bulbo (que € a continuaƒ‡o do canal 
central da medula) e cranialmente com o aqueduto cerebral (do mesenc€falo), cavidade atrav€s da qual o IV ventr†culo se comunica 
com o III e recebe o l†quor l produzido para som-lo ao seu. A cavidade do IV ventr†culo se prolonga de cada lado para formar os 
recessos laterais, situados na superf†cie dorsal do pedŒnculo cerebelar. Estes recessos se comunicam de cada lado com o espaƒo 
subaracn‚ideo por meio das aberturas laterais do IV ventrículo (forames de Luschka) e uma abertura mediana do IV ventrículo
(forame de Magendie), situado no meio da metade do tecto do ventr†culo.  por meio destas cavidades que o l†quido cerebro-espinhal
(LCR), que enche a cavidade ventricular, passa para o espaƒo subaracn‚ideo.
Estenose no aqueduto do mesenc€falo pode gerar hidroencefalia, devido ao acŒmulo de l†quor na cavidade do III ventr†culo.
ASSOALHO DO IV VENTRÍCULO
O assoalho do IV ventr†culo, ou fossa rombóide, tem forma losˆngica, sendo formado cranialmente (triangulo superior do 
assoalho do IV ventr†culo) pela parte posterior da ponte e caudalmente (triangulo inferior do assoalho do IV ventr†culo) pela porƒ‡o 
aberta do bulbo. Limita-se †nfero-lateralmente pelos pedŒnculos cerebelares inferiores e pelos tub€rculos do nŒcleo grcil e 
cuneiforme. SŒpero-lateralmente limita-se pelos pedŒnculos cerebelares superiores, ou braƒos conjuntivos, compactos feixes de fibras 
nervosas que, saindo do hemisf€rio cerebelar, convergem para penetrar no mesenc€falo. O assoalho do IV ventr†culo € percorrido em 
toda a sua extens‡o pelo sulco mediano, que se perde cranialmente no aqueduto cerebral e caudalmente no canal central do bulbo. 
De cada lado do sulco mediano, existe a emin†ncia medial, limitado lateralmente pelo sulco limitante. Este sulco separa nŒcleos 
motores (nŒcleo do abducente, por exemplo), mais mediais, dos sensitivos (nŒcleos vestibulares, por exemplo), mais laterais; ao longo 
de seu trajeto, observa-se a fóvea superior e a fóvea inferior, duas depress„es mais evidentes no sulco limitante. 
Medialmante Š f‚vea superior, a emin…ncia medial dilata-se para constituir de cada lado uma 
elevaƒ‡o arredondada, o col‚culo facial, formado por fibras profundas do nervo facial que passam 
pr‚ximos a regi‡o circundando o núcleo do nervo abducente. Na parte mais caudal da emin…ncia 
medial, observa-se uma pequena rea triangular de pice inferior, o trígono do nervo hipoglosso, 
correspondente ao nŒcleo do nervo hipoglosso. Lateralmente ao tr†gono do nervo hipoglosso e 
caudalmente Š f‚vea inferior, existe uma outra rea triangular ligeiramente acinzentada, o trígono do 
vago, que corresponde ao nŒcleo dorsal do nervo vago. Lateralmente ao sulco limitante, identifica-se a 
área vestibular, correspondente aos nŒcleos vestibulares do nervo vest†bulo-coclear (VIII). Cruzando 
transversalmente a rea vestibular, existem finas cordas de fibras nervosas que constituem as estrias 
medulares do IV ventrículo. Estendendo-se da f‚vea superior em direƒ‡o ao aqueduto cerebral, 
lateralmente Š emin…ncia medial, encontra-se o locus ceruleus, rea de coloraƒ‡o ligeiramente escura, 
cuja funƒ‡o se relaciona com o mecanismo do sono.
TECTO DO IV VENTRÍCULO
A metade cranial do tecto do IV ventr†culo € constitu†da por uma fina lˆmina de substˆncia branca, o véu medular superior, 
que se estende entre os dois pedŒnculos cerebelares superiores. Na constituiƒ‡o da metade caudal do tecto do IV ventr†culo, temos 
as seguintes formaƒ„es: uma pequena parte da substˆncia branca do n‚dulo do cerebelo; o pr‚prio v€u medular inferior; e a tela 
cori‚ide do IV ventr†culo (formada pela uni‡o do epit€lio ependimrio que produz l†quido c€rebro-espinhal e que se acumula na 
cavidade ventricular, passando ao espaƒo subaracn‚ideo atrav€s das aberturas laterais e mediana do IV ventr†culo).
MESENC‡FALO
O mesenc€falo interp„e-se entre a ponte (sulco ponto-mesenceflico) e o c€rebro, do qual € separado 
por um plano que liga os corpos mamilares (dienc€falo) Š comissura posterior.
 atravessado por um estreito canal, o aqueduto cerebral (ou do mesencéfalo), que liga o III ao IV 
ventr†culo. A parte do mesenc€falo situada dorsalmente ao aqueduto € o tecto do mesencˆfalo; ventralmente 
temos o pedúnculo cerebral, que por sua vez se divide em uma parte dorsal, predominantemente celular, o 
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tegmento, e outra ventral, formada de fibras longitudinais (das quais participa o tracto córtico-espinhal), a base do pedúnculo cerebral. 
Em cortes transversais, vê-se que o tegmento é separado da base por uma área escura, a substância negra, formada por neurônios 
que contêm melanina. Seguindo essa substância negra, externamente, na superfície do mesencéfalo, existem dois sulcos: um lateral, 
sulco lateral do mesencéfalo e outro medial, sulco medial do pedúnculo cerebral (de onde emerge o III par dos nervos cranianos, o 
óculomotor).
Em uma vista dorsal, o tecto do mesencéfalo apresenta eminências arredondadas, os colículos superiores e inferiores 
(corpos quadrigêmeos), separados por dois sulcos perpendiculares em forma de cruz (sulco cruciforme). Acima dos colículos 
superiores, aloja-se o corpo pineal, glândula endócrina que pertence ao diencéfalo. O nervo troclear, que emerge da porção mais 
caudal do colículo inferior, é o único dos pares cranianos que emerge dorsalmente, contorna o mesencéfalo para surgir ventralmente 
entre a ponte e o mesencéfalo. Cada colículo se liga a uma pequena eminência oval do diencéfalo, o corpo geniculado, através de um 
feixe superficial de fibras nervosas que constitui o seu braço: o colículo superior se relaciona com o corpo geniculado lateral; e o 
colículo inferior se relaciona com o corpo geniculado medial.
Vistos ventralmente, os pedúnculos cerebrais aparecem como dois grandes feixes de fibras que surgem na borda superior da 
ponte e divergem cranialmente para penetrar profundamente no cérebro. Delimitam assim, uma profunda depressão triangular, a 
fossa interpeduncular. O fundo da fossa interpeduncular apresenta orifícios para a passagem de vasos e denomina-se substância 
perfurada posterior.

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