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1 QUALIDADE DA ENERGIA: OS PROBLEMAS E SUAS SOLUÇÕES Prof. José Wilson Resende, Ph.D Faculdade de Engenharia Elétrica UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 2 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO Prof. José Wilson Resende Ph.D em Sistemas de Energia Elétrica (University of Aberdeen-Escócia) Professor titular da Faculdade de Engenharia Elétrica Universidade Federal de Uberlândia 1.1) O ENTENDIMENTO O Termo “Qualidade da Energia Elétrica” está relacionado com qualquer desvio que possa ocorrer na: • magnitude, • forma de onda • ou freqüência da tensão e/ou corrente elétrica. Esta designação também se aplica às interrupções de natureza permanente ou transitória que afetam o desempenho da transmissão, distribuição e utilização da energia elétrica. 1.2) ITENS DE DEFINIÇÃO DA QUALIDADE DA ENERGIA • Variações da tensão de Curta Duração (VTCD) e de Longa Duração • Harmônicos • Flutuações de Tensão (Efeito Flicker) • Desequilíbrios da tensão • Interrupções • Transitórios 1.3) ALGUNS MOTIVOS PARA O INTERESSE EM QUALIDADE DA ENERGIA • NOVOS EQUIPAMENTOS MAIS SENSÍVEIS AOS DISTÚRBIOS Os equipamentos elétricos produzidos atualmente têm mais “eletrônica” incorporada do que os seus similares de 10-20 anos atrás. Além disso, as indústrias modernas, devido aos baixos níveis de lucros com que operam, também tem se mostrado mais sensíveis aos riscos de perda de produção. Para os consumidores residenciais, a energia elétrica tem sido, cada vez mais, considerada um direito básico, que deveria estar sempre disponível. A conseqüência disso é que um simples decréscimo de tensão, de, digamos, 15%, por alguns mili-segundos, atualmente, significa muito mais reclamações do 3 que alguns anos atrás, mesmo que não haja prejuízos diretos relacionados à mesma. Na ilustração que se segue, é mostrado o histórico de um afundamento de tensão ocorrido no ponto de acoplamento de uma indústria (cuja demanda média é de 60 MW) com uma empresa distribuidora de energia do sudeste brasileiro. Nota- se que o período do afundamento não atinge a 300 ms. No entanto, o evento que se iniciou por volta de 13h, somente permitiu o pleno retorno da indústria depois das 15h! Do lado da concessionária, ela deixou de vender 64 MWh! 4 • MUITOS DOS NOVOS EQUIPAMENTOS CAUSAM MAIS DISTÚRBIOS DE TENSÃO Em geral, a interrupção da operação dos equipamentos tem sido atribuída pelos consumidores, à má qualidade da energia. Por outro lado, muitas concessionárias atribuem a má qualidade da energia aos equipamentos dos consumidores. Os modernos acionamentos eletrônicos de motores, bem como os computadores, não são apenas sensíveis aos distúrbios de tensão: eles também causam distúrbios em outros equipamentos e consumidores. Os conversores sempre geraram correntes harmônicas. Entretanto, somente na década de 90, devido ao crescente aumento desse tipo de equipamento é que essas distorções foram levadas a sério. 1.4) CRESCIMENTO DAS CARGAS ELETRÔNICAS NOS ESTADOS UNIDOS 196 196 197 197 198 198 199 199 2000 0 5 10 15 20 25 P O T Ê N C I A Ano Carga Total Instalada Cargas 5 1.5) NÍVEIS DE SENSIBILIDADE DOS EQUIPAMENTOS ÀS VARIAÇÕES DE TENSÃO Os aparelhos e componentes elétricos possuem requisitos de qualidade de energia elétrica diferentes. Assim, por exemplo, para que o processo industrial seja contínuo, ele pode depender do nível de sensibilidade de um único equipamento. A figura a seguir fornece o nível de sensibilidade às flutuações de tensão de vários componentes e equipamentos. Níveis de sensibilidade para equipamentos e componentes. A figura a seguir mostra as faixas de sensibilidade de alguns eletrodomésticos: Níveis de sensibilidade de vídeo-cassetes, fornos de microondas e relógios digitais Em termos de equipamentos eletrônicos, a Computer Business Equipment Manufacturers Association (CBEMA) elaborou um documento técnico, estabelecendo parâmetros adequados de qualidade de energia, necessários à alimentação de equipamentos eletrônicos sensíveis. Esse documento fornece as curvas de sensibilidade às flutuações de tensão desses equipamentos, conforme 6 ilustrado na figura abaixo. A área compreendida entre as curvas A e B representa os limites seguros de operação desses equipamentos, onde os mesmos estariam isentos de danos ou de operação inadequada. Curva CBEMA 1.6) A ORIGEM DE PROBLEMAS DA QUALIDADE DA ENERGIA SOB O PONTO DE VISTA DOS CONSUMIDORES E DA CONCESSIONÁRIA As causas dos problemas de qualidade da energia nem sempre são fáceis de serem definidas. A figura a seguir mostra os resultados de uma pesquisa realizada por um empresa distribuidora de energia elétrica americana (Georgia Power Company) na qual consumidores e operadores da companhia foram entrevistados. Os diagramas mostram que as opiniões são bem divergentes. Enquanto que ambos os segmentos entrevistados concordam que aproximadamente 2/3 dos problemas são devido à natureza (descargas atmosféricas, por exemplo), os consumidores culparam a empresa distribuidora por 17% dos problemas enquanto que os funcionários da empresa distribuidora assumiram que apenas 1% dos problemas eram devido à própria empresa. Ponto de Vista do Consumidor Outros 3% Consumidor Adjacente 8% Consumidor Afetado 12% Concessionária 17% Causas Naturais 60% Ponto de Vista do Concessionário Outros 0% Consumidor Adjacente 8% Consumidor Afetado 25% Concessionária 1% Causas Naturais 66% 7 Alguns casos práticos podem explicar essas divergências de opinião, conforme abaixo descrito: 1) Seja um chaveamento de capacitor, na rede da empresa distribuidora: Embora normal e rotineira, essa manobra pode causar sobretensões transitórias em uma indústria próxima, que podem causar má-operação em equipamentos dessa indústria. 2) Outro caso: seja uma falta que ocorra no sistema da empresa distribuidora. Ainda que tal falta seja prontamente eliminada em poucos ciclos, ela pode causar afundamentos na tensão de alimentação do consumidor, com a duração também de alguns poucos ciclos. Tal afundamento pode provocar, por exemplo, o desligamento de um inversor na indústria. Obviamente, nenhum dos dois casos citados poderão ser monitorados pela empresa distribuidora! Visando contornar as crescentes preocupações com a qualidade da energia, as empresas distribuidoras de energia elétrica estão desenvolvendo atitudes e programas dos tipos: • Pró-ativos: onde a concessionária está interagindo com os consumidores , esclarecendo, orientando e promovendo ações educativas, que auxiliam na solução dos problemas elétricos do consumidor. • Reativos: onde a concessionária responde prontamente às reclamações dos consumidores. 8 1.7) METOLOGIA PARA ANÁLISE DA QUALIDADE DA ENERGIA A qualidade da energia, tal como a qualidade de outros produtos, é difícil de ser quantificada. Embora existam padrões para se avaliar a qualidade da tensão, em última análise, o que vale mesmo, para o consumidor, é saber se seus equipamentos irão funcionar (e bem). Se a energia elétrica fornecida não for adequada para tal, então, para o consumidor, está faltando “qualidade” na energia. Identificação dos Problemas Referentes a Qualidade da Energia • Subtensão Temporária • Interrupções • Transitórios de Chaveamento • Harmônicos • etc... Coleta de Dados e Desenvolvimento de Modelos Iniciais • Dados do Sistema de Suprimento (Concessionária) • Dados da Instalação Consumidora• Características dos Equipamentos Afetados Realização de Computacionais • Transitórios • Fluxo Harmônico • Fluxo de Carga Desenvolvimento de Programa de Mediçã • Pontos de Monitoração • Grandezas a Monitorar • Requisitos da Instrumentação • Ajustes dos Instrumentos Avaliação de Resultados Desenvolvimento de Soluçõe • Identificar as Causas do Problema • Realizar Simulações para Avaliar as Soluções Propostas • Analise Econômica das Soluções Propostas 9 1.8) QUALIDADE DA ENERGIA (Power quality) E QUALIDADE DA TENSÃO: As empresas concessionárias de energia somente têm ação sobre a tensão. Elas não têm meios de controlar a corrente que uma determinada carga absorve. Assim, em geral, quando alguém mencionar a “Qualidade da energia”, provavelmente ele estará se referindo à qualidade da tensão que está sendo suprida. Qualquer significativa alteração na magnitude e/ou frequência da tensão provavelmente causará um problema de qualidade da energia. Ainda que os geradores possam gerar uma tensão praticamente senoidal, as correntes que fluem pelo sistema podem causar uma grande variedade de distúrbios na tensão. Vejamos alguns exemplos: 1) Correntes distorcidas, causadas por cargas não-lineares (geradoras de harmônicos), ao circularem pelas impedâncias do sistema, também distorcerão as tensões. Estas, por sua vez, poderão perturbar outros consumidores. 2) Correntes devido a descargas atmosféricas podem escoar através do próprio sistema elétrico, causando altas tensões de impulso, que podem ultrapassar os isoladores, causando CURTO-CIRCUITOS. 3) A corrente resultante de um curto pode causar, em uma barra, um grande afundamento da tensão ou até mesmo, o seu desaparecimento. A tabela a seguir mostra a classificação dos fenômenos eletromagnéticos associados à qualidade da energia. 10 CATEGORIAS E CARACTERÍSTICAS DE FENÔMENOS ELETROMAGNÉTICOS ASSOCIADOS À PERDA DA QUALIDADE: Categoria Conteúdo Espectral Típico Duração Típica Amplitude de Tensão Típica 1.0 - Transitórios 1.1 - Impulsivos 1.1.1 - Nanosegundo 5 ns < 50 ns 1.1.2 - Microsegundo 1 µs 50 ns - 1 ms 1.1.3 - Milisegundo 0.1 ms > 1 ms 1.2 - Oscilatórios 1.2.1 - Baixa Freqüência < 5 kHz 3 - 50 ms 0/4 pu 1.2.2 - Média Freqüência 5 - 500 kHz 20 µs 0/4 pu 1.2.3 - Alta Freqüência 0.5 - 5 MHz 5 µs 0/4 pu 2.0 - Variações de Curta Duração 2.1 - Instantânea 2.1.1 - “Sag” 0.5 - 30 ciclos 0.1 - 0.9 pu 2.1.2 - “Swell” 0.5 - 30 ciclos 1.1 - 1.8 pu 2.2 - Momentânea 2.2.1 - Interrupção 30 ciclos -3 s < 0.1 pu 2.2.2 - “Sag” 30 ciclos - 3 s 0.1 - 0.9 pu 2.2.3 - “Swell” 30 ciclos - 3 s 1.1 - 1.4 pu 2.3 - Temporária 2.3.1 - Interrupção 3 s - 1 minuto < 0.1 pu 2.3.2 - “Sag” 3 s - 1 minuto 0.1 - 0.9 pu 2.3.3 - “Swell” 3 s - 1 minuto 1.1 - 1.2 pu 11 Esses fenômenos estão a seguir descritos. 1.5) TRANSITÓRIOS ELETROMAGNÉTICOS Os transitórios podem ser relacionados com tensões ou correntes, em geral, são divididos em duas categorias: transitórios impulsivos e transitórios oscilatórios. 1.5.1) TRANSITÓRIOS IMPULSIVOS Um transitório impulsivo é um repentina alteração unidirecional (em polaridade) na tensão e/ou corrente de regime permanente. Os pontos de destaque de um transitório impulsivo são os seus tempos de crescimento (rising time) e de decaimento (decay time). A próxima figura ilustra um transitório impulsivo de uma corrente, devido a uma descarga atmosférica. Categoria Conteúdo Espectral Típico Duração Típica Amplitude de Tensão Típica 3.0 - Variações de Longa Duração 3.1 - Interrupção Sustentada > 1 minuto 0.0 pu 3.2 - Subtensão > 1 minuto 0.8 - 0.9 pu 3.3 - Sobretensão > 1 minuto 1.1 -1.2 pu 4.0 - Desequilíbrio de Tensão regime permanente 0.5 - 2% 5.0 - Distorção da Forma de Onda 5.1 - Nível DC regime permanente 0 - 0.1% 5.2 - Harmônicas de ordem 0-100 regime permanente 0 - 20% 5.3 - Interharmônicas 0 - 6 kHz regime permanente 0 - 2% 5.4 - “Notching” regime permanente 5.5 - Ruído faixa ampla regime permanente 0 - 1% 6.0 - Flutuação de Tensão < 25 Hz intermitente 0.1 - 7% 7.0 - Variação da Freqüência do Sistema < 10 s 12 Descrição típica de um transitório impulsivo: “1,2 x 50 µs 2000V” . Isso significa que esta onda atingiu seu valor de pico (2000V) em 1,2 µs e ela decaiu para metade de seu valor 50 µs. Devido às altas frequências envolvidas, a forma de onda de um transitório impulsivo é bastante influenciada pelos componentes do circuito envolvido. Assim um transitório impulsivo pode ser bastante forte em um local e não ter um grande efeito logo à frente, justamente porque as resistências, indutâncias e capacitâncias, em conjunto, podem atenuar (como podem também amplificar) os efeitos. Corrente devido a uma descarga atmosférica 1.5.2) TRANSITÓRIOS OSCILATÓRIOS Um transitório oscilatório é uma súbita alteração tanto na polaridade positiva como na negativa do sinal original (tensão e/ou corrente) de regime permanente, conforme ilustrado na figura abaixo. Eles podem ser subdivididos em transitórios de alta, média e baixa frequência. a) Transitórios de alta frequência: • Componente de frequência primária: é maior que 500 kHz. • Duração: o transitório é da ordem de alguns poucos µs. Esses transitórios são, em geral, uma reação do sistema elétrico a um transitório impulsivo (como uma descarga atmosférica). b) Transitórios de média frequência: • Componente de frequência primária: estão na faixa de 5 a 500 kHz. • Duração: algumas dezenas de µs. A seguir é mostrado o resultado da energização de uma linha de subtransmissão, de classe de tensão 88 kV, a vazio. Inicialmente são mostradas as tensões fase-neutro no transmissor. O valor de pico é da ordem de 71,8 kV (equivale a kVkV 8,712. 3 88 = ). 13 Em seguida são ilustradas as tensões fase-neutro, no receptor, que está sem carga. Repare que, a partir da energização, a tensão na fase vermelha atinge um valor de pico de, praticamente o dobro do valor de regime permanente. Para melhor visualização do transitório ocorrido, os primeiros 0,7 ms da figura acima são ampliados a seguir. Repare que, na fase acima referida, a tensão fase-neutra atinge o valor de pico de aproximadamente 160 kV! (f ile BARU_60.pl4; x-v ar t) v :X0343A v :X0343B v :X0343C 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7[ms] -160 -120 -80 -40 0 40 80 120 160 [kV] (f ile BARU_60.pl4; x-v ar t) v :X0343A v :X0343B v :X0343C 0 4 8 12 16 20[ms] -160 -120 -80 -40 0 40 80 120 160 [kV] (f ile BARU_60.pl4; x-v ar t) v :X0335A v :X0335B v :X0335C 0 4 8 12 16 20[ms] -80 -60 -40 -20 0 20 40 60 80 [kV] 14 c) Transitórios de baixa frequência: • Componente de frequência primária: estão abaixo de 5 kHz. • Duração: entre 0,3 e 50 ms. Este tipo de transitório é muito encontrado em redes de transmissão e de distribuição. Exemplo típico: a energização de bancos de capacitores através de disjuntores (frequência: entre 300 e 900 Hz, duração: 0,5 a 3 ciclos.), conforme ilustrado abaixo: Transitório oscilatório de baixa frequência causado pela energização de capacitores Existem transitórios oscilatórios, cujas frequências principais estão abaixo de 300 Hz, como no caso de ferroressonâncias em transformadores a vazio ou energização de transformadores: Transitório oscilatório de baixa frequência, causado pela ressonância de um transformadora vazio 15 1.6) VARIAÇÕES DE TENSÃO DE LONGA DURAÇÃO Nesta categoria se enquadram as variações do valor RMS de uma tensão que perdurem por mais de 1 min. Essas variações podem ser do tipo sobretensões ou subtensões. Em geral, essas lentas oscilações não são causadas por curto-circuitos, mas sim devido a lentas variações de carga. São mais aparentes em sistemas fracos. A figura abaixo ilustra uma variação de tensão de longa duração, em um sistema de 13,8 kV/220V, durante uma semana, no lado de 220V de um transformador de rua: Período: de 17/10/2002 a 24/10/2002 118 120 122 124 126 128 130 132 17 /1 0/ 02 - 09 :4 0 17 /1 0/ 02 - 13 :5 0 17 /1 0/ 02 - 18 :0 0 17 /1 0/ 02 - 22 :1 0 18 /1 0/ 02 - 02 :2 0 18 /1 0/ 02 - 06 :3 0 18 /1 0/ 02 - 10 :4 0 18 /1 0/ 02 - 14 :5 0 18 /1 0/ 02 - 19 :0 0 18 /1 0/ 02 - 23 :1 0 19 /1 0/ 02 - 03 :2 0 19 /1 0/ 02 - 07 :3 0 19 /1 0/ 02 - 11 :4 0 19 /1 0/ 02 - 15 :5 0 19 /1 0/ 02 - 20 :0 0 20 /1 0/ 02 - 00 :1 0 20 /1 0/ 02 - 04 :2 0 20 /1 0/ 02 - 08 :3 0 20 /1 0/ 02 - 12 :4 0 20 /1 0/ 02 - 16 :5 0 20 /1 0/ 02 - 21 :0 0 21 /1 0/ 02 - 01 :1 0 21 /1 0/ 02 - 05 :2 0 21 /1 0/ 02 - 09 :3 0 21 /1 0/ 02 - 13 :4 0 21 /1 0/ 02 - 17 :5 0 21 /1 0/ 02 - 22 :0 0 22 /1 0/ 02 - 02 :1 0 22 /1 0/ 02 - 06 :2 0 22 /1 0/ 02 - 10 :3 0 22 /1 0/ 02 - 14 :4 0 22 /1 0/ 02 - 18 :5 0 22 /1 0/ 02 - 23 :0 0 23 /1 0/ 02 - 03 :1 0 23 /1 0/ 02 - 07 :2 0 23 /1 0/ 02 - 11 :3 0 23 /1 0/ 02 - 15 :4 0 23 /1 0/ 02 - 19 :5 0 24 /1 0/ 02 - 00 :0 0 24 /1 0/ 02 - 04 :1 0 24 /1 0/ 02 - 08 :2 0 24 /1 0/ 02 - 12 :3 0 24 /1 0/ 02 - 16 :4 0 24 /1 0/ 02 - 20 :5 0 25 /1 0/ 02 - 01 :0 0 25 /1 0/ 02 - 05 :1 0 Dia Te ns ão F un da m en ta l [V ] Fase A Fase B Fase C 1.6.1) SOBRETENSÕES Uma sobretensão é um acréscimo no valor eficaz (ou RMS) da tensão maior que 10% e que dure mais de 1 min. Sobretensões, normalmente, são resultados de desligamentos de grandes cargas, energização de bancos de capacitores ou ajuste errado de taps de transformadores. 1.6.2) SUBTENSÕES Uma subtensão é um decréscimo no valor eficaz (ou RMS) da tensão maior que 10% e que dure mais de 1 min. Em geral, são devido a fatores opostos àqueles que causam sobretensões. 1.6.3) INTERRUPÇÃO SUSTENTADA É quando a tensão ficou com valor nulo por um período maior que 1 min. Essas interrupções, quando acontecem, em geral são permanentes e, para seu reparo, requerem a intervenção humana. 16 1.7) VARIAÇÕES DE TENSÃO DE CURTA DURAÇÃO (VTCD) São variações de tensão, tipicamente causadas por faltas, energização ou desenergização de grandes cargas, que duram apenas enquanto o sistema de proteção não atua. Dependendo do local e do tipo de falta, essas variações de tensão podem ser do tipo de afundamento temporário (conhecido por sag), elevação temporária (citado como swell na literatura internacional) ou a perda temporária da tensão (interrupção temporária). 1.7.1) INTERRUPÇÕES TEMPORÁRIAS Uma interrupção ocorre quando a tensão decresce para um valor abaixo de 0,1 pu, por um período menor que 1 min. As interrupções podem ser o resultado de faltas, defeitos em equipamentos, etc. As durações das interrupções são subdivididas em três categorias: • Instantâneas: interrupções que duram entre 0,5 e 30 ciclos • Momentâneas: interrupções que duram entre 30 ciclos e 3s • Temporárias: interrupções que duram entre 3s e 1 min A duração da interrupção depende do tempo de atuação da proteção. Os religadores automáticos geralmente limitam as interrupções causadas por faltas não-permanentes, em menos que 30 ciclos. Por outro lado, se a causa da interrupção for a falha de um equipamento, a duração da interrupção não é muito certa. Algumas interrupções devido a faltas no sistema, podem ser precedidas de um afundamento (sag), conforme ilustrado a seguir. Nesta figura, durante os 3 primeiros ciclos da falta, a tensão cai para cerca de 0,20 pu. Em seguida, a tensão cai para zero, permanecendo assim por aproximadamente 1,8s, quando, finalmente, o religador atua, restaurando a tensão plena. Interrupção momentânea de tensão devido a falta, seguido de religação. 17 1.7.2) AFUNDAMENTOS TEMPORÁRIOS (SAGS) Os afundamentos temporários de tensão (sags), compreendem os decréscimos entre 0,1 e 0,9 pu do valor original (1,0 pu) da tensão, durante 0,5 ciclo até 1 min. Tal como para as interrupções, as durações dos sags são subdivididas nas mesmas três categorias: • Instantâneas: afundamentos que duram entre 0,5 e 30 ciclos • Momentâneas: afundamentos que duram entre 30 ciclos e 3s • Temporárias: afundamentos que duram entre 3s e 1min A próxima figura mostra um típico sag do tipo “instantâneo” (durou cerca de 0,067 Seg – 4 ciclos), causado por uma falta fase-terra em um alimentador vizinho, oriundo da mesma subestação. Durante 3 ciclos, ocorre um afundamento de cerca de 80%. Em seguida, o disjuntor da subestação é capaz de retirar a falta (os tempos de retirada das faltas dependem da magnitude da corrente e do tipo da proteção de sobrecorrente, mas em geral, estão na faixa de 3-30 ciclos). Afundamento de tensão temporário, devido a falta fase-terra A figura abaixo ilustra o efeito da partida de um grande motor de indução. A tensão cai bruscamente para cerca de 0,8 pu e, em seguida, começa a subir. Esta etapa de retomada do valor original da tensão leva 3s. Portanto, é um sag temporário. Note a diferença nas escalas de tempo entre esta e a figura anterior. Afundamento de tensão causado por partida de grande motor de indução 18 1.7.3) SOBRETENSÕES TEMPORÁRIAS (SWELLS) As sobretensões temporárias conhecidas como swells são definidas como um acréscimo entre 10% e 80% no valor nominal da tensão. Tal como para os sags, os swells estão, em geral associados a faltas. No caso dos swells, em geral, as sobretensões ocorrem em curtos fase-terra (nas fases em que não houve o curto), conforme ilustrado na figura abaixo. Swell temporário em uma fase em que não houve curto-fase terra A severidade da sobretensão depende do local da falta e da impedância do aterramento. Por exemplo, em um sistema não-aterrado (impedância de seqüência zero infinita), a tensão fase-terra de uma fase em que não ocorreu o curto, será de 1,73 pu! Por outro lado, nas proximidades de uma subestação de um sistema aterrado, se acontecer um curto fase-terra do lado estrela, do transformador, praticamente não haverá swell porque a impedância de seqüência zero será baixa. Tal como para as interrupções e sags, os swells são subdivididos nas mesmas três categorias: • Instantâneas: afundamentos que duram entre 0,5 e 30 ciclos • Momentâneas: afundamentos que duram entre 30 ciclos e 3s • Temporárias: afundamentos que duram entre 3s e 1min Na próxima página é apresentada uma ilustração relativa às origens dos defeitos do tipo VTCD em indústrias, no Brasil. De 100% dos defeitos registrados, 18,06% provocam a parada do processoprodutivo. Destas paradas, 15,38% vêm da Rede Básica e os demais 84,62% são devido à Distribuição. Destes defeitos oriundos da Distribuição, apenas 9,09% são, de fato, defeitos ocorridos na rede de Distribuição. Os demais 90,01% são causados por ddeeffeeiittooss eemm iinnssttaallaaççõõeess ddee tteerrcceeiirrooss,, ddeeffeeiittoo nnaa pprróópprriiaa iinnssttaallaaççããoo ddoo cclliieennttee,, ppiippaass,, aabbaallrrooaammeennttoo ddee ppoosstteess,, mmaannoobbrraass,, ddeessccaarrggaass aattmmoossfféérriiccaass,, eettcc…… 19 DDeeffeeiittooss eemm iinnssttaallaaççõõeess ddee tteerrcceeiirrooss,, DDeeffeeiittoo nnaa pprróópprriiaa iinnssttaallaaççããoo ddoo cclliieennttee,, PPiippaass,, AAbbaallrrooaammeennttoo ddee PPoosstteess,, MMaannoobbrraass,, DDeessccaarrggaass AAttmmoossfféérriiccaass,, eettcc…… DDeeffeeiittooss ddaa rreeddee ddaa ddiissttrriibbuuiiddoorraa:: SSeemm ppaarraaddaa ddee pprroocceessssoo pprroodduuttiivvoo OOrriiggeemm nnaa RReeddee BBáássiiccaa Origem na Distribuição Origem dos defeitos :: CCoomm ppaarraaddaa ddee pprroocceessssoo pprroodduuttiivvoo 20 1.8) DESEQUILÍBRIOS DE TENSÃO Um sistema elétrico se desequilibra quando as correntes nas três fases não são mais iguais em módulo e/ou não estão mais defasadas de 120 gráus. Quem causa os desequilíbrios: a) Cargas desbalanceadas, tais como fornos a arco e tração elétrica. b) Quando muitas cargas monofásicas de pequeno porte não estão bem distribuidas nas três fases. c) Abertura de uma única fase. De acordo com o Teorema de Fortescue, três fasores, desequilibrados, de um sistema podem ser substituídos por três sistemas equilibrados de fasores. Os três conjuntos equilibrados são: 1. Componentes de sequência positiva, consiste de 3 fasores iguais em módulo, defasados de 120o, e tendo a mesma sequência que os fasores originais. 2. Componentes de sequência negativa, consistindo de 3 fasores iguais em módulo, defasados de 120o, e tendo a sequência da fase oposta a dos fasores originais. 3. Componentes de sequência zero, constituído de 3 fasores iguais em módulo com defasagem de 0o entre si. Assim, se um sistema tem a sequência de fases abc, as sequências de fases dos componentes de sequência positiva e negativas, serão respectivamente abc e acb. Exemplo: sejam 3 fasores originais de tensão, Va, Vb e Vc , que serão decompostos nos três conjuntos abaixo: Vc1 Va1 Vb1 Va2 Vc2 Vb2 Va0 Vb0 Vc0 A soma gráfica dos 3 sistemas dará: 21 ............................... Va0 Va2 Va1 Va Vc1 Vc2 Vc0 Vc Vb1 Vb2 Vb0 Vb REFERÊNCIA Desta figura tira-se que: Va = Va1 + Va2 + Vao Vb = Vb1 + Vb2 + Vbo Vc = Vc1 + Vc2 + Vc0 Os valores de cada componente de seqüência pode ser tirado de: Va0 = 1/3 (Va + Vb + Vc) Va1 = 1/3 (Va + aVb + a2Vc) Va2 = 1/3 (Va + a2Vb + aVc) • Como avaliar o gráu de desbalanço: A maneira mais usual de se conhecer o gráu de desbalanceamento de uma tensão é dividir a tensão de sequencia negativa (Va2) pela tensão de sequência positiva(Va1): %Desb= Va2/ Va1 Estando a componente de sequencia zero (Vo) presente, pode-se também usar a relação Vo/V1. Desbalanços de tensão menores que 2%, em geral, são causados por cargas monofásicas. Faltas fase-terra ou fase-fase podem causar desbalanços maiores que 5%. A figura abaixo mostra um exemplo dos gráus de desbalanços, conforme definidos acima, para um consumidor residencial monitorado por uma semana. 22 Desbalanço de tensão observado durante uma semana • Consequências: Os equipamentos trifásicos, operando com tensões desbalanceadas, normalmente funcionarão inadequadamente. Os motores de indução, por exemplo, ao serem alimentados com tensões desequilibradas, ficarão submetidos a dois torques: o torque normal (devido às tensões de sequência positiva) e um torque de sentido oposto (devido às tensões de sequência negativa). Isso provoca sobrecarga e aquecimento superior ao normalmente esperado. Em consequência, a vida útil dos motores fica reduzida. A figura abaixo ilustra os efeitos resultantes do desequilíbrio de tensão em um motor de indução trifásico. Nota-se que um desequilíbrio de 2% nas tensões tornará as correntes 17% desbalanceadas e causará uma elevação de temperatura de 65° (quando normalmente seria de 40°). Efeitos do desbalanço de tensão na elevação de temperatura de motores de indução trifásicos. A figura a seguir mostra a elevação das perdas em um motor de indução trifásico em função dos desbalanços nas tensões. 23 Efeitos do desbalanço de tensão na elevação das perdas em motores de indução trifásicos. Outra carga bastante afetada pelos desbalanços de tensão são os conversores. Em condições de tensões balanceadas, um conversor de 6 pulsos já injetam correntes harmônicas de ordem 5, 7, 11, 13, 17, 19, etc. Entretanto, se forem alimentados por tensões desequilibradas, eles poderão gerar, além das ordens harmônicas já citadas, as harmônicas de ordem 3, 9, 15, 21, etc. ou até as harmônicas de ordem par. Isso pode levá-los à instabilidade harmônica, que os impedirá de operar. 1.9) DISTORÇÕES DE ONDA As distorções da forma de onda são desvios da forma de onda senoidal original. Não são fenômenos transitórios mas, sim, permanentes. Existem 5 tipos de distorções de onda: a) Desvio dc (dc offset) b) Harmônicos c) Interharmônicas d) Efeito notching e) Ruídos 1.9.1) DESVIO DC (DC OFFSET) Este efeito é causado pela presença de correntes ou tensões contínuas em um sistema CA. Uma das causas disso são os retificadores de meia-onda. Corrente DC podem saturar transformadores, causando aquecimento e perdas adicionais, além de fazê-los gerar correntes harmônicas. 1.9.2) HARMÔNICOS Harmônicos são ondas senoidais (de tensão e/ou corrente) cujas frequências são múltiplas inteiras da frequência fundamental (60 Hz, por exemplo). As ondas 24 distorcidas podem ser decompostas em uma soma de senoides ( a fundamental e as harmônicas), conforme ilustra a próxima figura. • Quem causa: Equipamentos que operam de maneira não linear, como conversores, reatores, transformadores saturados, etc. Eles geram correntes não-senoidais que, ao circularem pelo sistema elétrico, causam quedas de tensão em cada ordem harmônica. Assim as tensões nos barramentos ficarão, também, distorcidas. Graph0 (V ) -100.0 -80.0 -60.0 -40.0 -20.0 0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0 t(s) 0.0 0.001 0.002 0.003 0.004 0.005 0.006 0.007 0.008 0.009 0.01 0.011 0.012 0.013 0.014 0.015 0.016 0.017 Decomposição de uma onda distorcida em uma série de senóides • Exemplos de tensões e correntes distorcidas: As correntes harmônicas, em geral, são as causadoras das distorções nas tensões. A figura (a) abaixo ilustra uma tensão de um barramento, a qual foi distorcida devido à injeção de corrente ilustrada na figura (b). Nas duas figuras, as harmônicas são de baixa ordem (5, 7, 11 e 13). Repare que, embora a corrente seja bastante distorcida, a tensão ficou com um conteúdo harmônico bem menor. (a) (b) Exemplos de tensão e corrente distorcida. A figura a seguir mostra outro exemplo de tensão e correntes distorcidas. Neste caso, a corrente (figura (b)) foi produzida por inversores controladores de velocidade de motores. Esta corrente apresenta harmônicos de altas ordens, devido 25 à frequência de chaveamento do inversor. Observe que a tensão (figura (a)) está bem mais distorcida do que no caso anteriormente comentado. (a)(b) Exemplos de tensão e corrente distorcida. As tensões distorcidas, ao alimentarem equipamentos e/ou controles digitais projetados para operarem com tensões puramente senoidais, poderão causar a má operação destes. As consequências das correntes harmônicas são, principalmente, os sobreaquecimentos em cabos, transformadores, etc., bem como o acréscimo nas perdas joulicas. • Exemplos de efeitos de harmônicas: • Decréscimo na vida útil de transformadores com as correntes harmônicas: Vida útil de um transformador em função da “DHI” • Aumento de perdas em motores de indução alimentados por tensão distorcidas: Perdas elétricas de motores de indução em função de “DHT” 26 DISTORÇÕES HARMÔNICAS INDIVIDUAIS: a) De Tensão: (%) x100 V VDHI 1 n V = b) De Corrente: (%) x100 I IDHI 1 n I = DISTORÇÃO HARMÔNICA TOTAL DE TENSÃO: [%]100. 1 2 V V DHT hmáx h h V ∑ == 27 A seguir são apresentadas, a título de ilustração, formas de onda de corrente de diversas cargas não-lineares: 11)) GGeerraaççããoo ddee hhaarrmmôônniiccooss ddee uummaa FFoonnttee CChhaavveeaaddaa Forma de onda 100 90,02 71,5 48,1 26,7 8,9 2,9 7, 128,03 1 3 5 7 9 11 13 15 DHT Ordem harmônica - n e DHT (%) 0 20 40 60 80 10 12 14 DDHI 28 22)) GGeerraaççããoo ddee hhaarrmmôônniiccooss ddee uumm NNoo--BBrreeaakk Forma de onda 100 26,2 5,33 8,21 3,14 4,89 2,53 28,6 1 5 7 11 13 17 19 DHT Ordem harmônica - n e DHT (%) 0 20 40 60 80 100 120 DHI 29 33)) GGeerraaççããoo ddee hhaarrmmôônniiccooss ddee uumm IInnvveerrssoorr Forma de onda 100 65,33 28,47 20,44 15,33 11,6 10,5 7,66 8,03 6,5 5,8 5,11 4,74 78,92 1 3 5 7 9 1 1 1 17 19 21 23 25 DHT Ordem harmônica - n e DHT 0 20 40 60 80 100 120 DHI 30 44)) GGeerraaççããoo ddee hhaarrmmôônniiccooss ddee uummaa llââmmppaaddaa fflluuoorreesscceennttee ccoommppaaccttaa Forma de onda 100 86,44 71,5 45,76 22,03 14,56 12,47 124,6 1 3 5 7 9 11 13 DHT Ordem harmônica - n e DHT(%) 0 20 40 60 80 10 12 14 DHI 31 1.9.3) INTERHARMÔNICAS Alguns equipamentos, como os cicloconversores, fornos a arco, produzem correntes distorcidas, compostas de harmônicas não-múltiplas da frequência fundamental, que são denominadas de interharmônicas. Normalmente, seus valores são baixos, não causando problemas. No entanto, podem surgir ressonâncias entre transformadores e capacitores em paralelo exatamente nessas frequências não-múltiplas da fundamental. 1.9.4) NOTCHING Notching é um distúrbio de tensão, periódico, causado pela comutação, em um conversor, de um diodo (ou tiristor) para outro. Essa comutação cria um curto- circuito, de duração de cerca de 1 ms, que resulta na redução da tensão de alimentação do conversor. A figura a seguir ilustra uma tensão com notching. O notching acontece durante todo o tempo em que o conversor opera. Uma análise espectral de uma tensão com notching mostrará um conteúdo de altas frequências. Equipamentos normalmente usados para análise harmônica convencional (até a 50ª harmônica) poderão não detectar a presença deste fenômeno. Exemplo de efeito notching causado por conversor trifásico O efeito notching pode causar a má operação de equipamentos eletrônicos e controles lógicos de processos que estejam alimentados por um barramento cuja tensão seja portadora deste efeito. 1.9.5) RUÍDO “Ruído” é um sinal de altíssima frequência superposto ao sinal de tensão de frequência fundamental (ver a figura a seguir). Essas altas frequências são causadas principalmente por equipamentos eletrônicos que estejam com aterramentos ineficientes para retirarem esses ruídos do sistema. Tal como o efeito notching, os ruídos podem afetar equipamentos que necessitem de tensão senoidal pura. Filtros e transformadores isoladores podem reduzir os ruídos. 32 Exemplo de onda deformada por ruído 33 1.10) FLUTUAÇÕES DE TENSÃO (EFEITO FLICKER) As pequenas flutuações de tensão não afetam muito as cargas dos consumidores residenciais. No entanto, à medida que essas variações se tornam mais frequentes, os consumidores ficam irritados. Isso acontece porque o olho humano é sensível a essas rápidas variações, quando elas afetam as lâmpadas. Isso pode ser verificado através da figura abaixo: uma variação de tensão da ordem de 0,5% provoca uma variação de aproximadamente 0,75% na potência de uma lâmpada incandescente. A variação na intensidade luminosa, no entanto, foi da ordem de 1,75%! Na língua inglesa, essas rápidas e visíveis variações na luminosidade de uma lâmpada são denominadas de flicker. Assim, esse fenômeno ficou popularmente denominado de flicker. As flutuações de tensão do tipo flicker são variações bruscas e intermitentes de pequeno valor (entre 0,1% e 7%) no “envelope” de tensão. O que torna esse fenômeno importante é a rapidez com que essas variações ocorrem. Ao se analisar a envoltória da tensão na figura abaixo, percebe-se que há momentos de tensão elevada (durante alguns ciclos) e momentos de afundamento de tensão (também durante alguns ciclos). Variação de tensão do tipo flicker. 34 A próxima figura mostra os limites máximos de tolerância admitidos, estatísticamente, por um grupo de consumidores, em função do número de oscilações ocorridas por período de tempo. Observa-se que, na pior condição de sensibilidade (entre 3 e 7 variações por segundo), a variação de tensão não deve ser superior a 1%. Curva de limite de tolerância das oscilações A figura abaixo ilustra a variação da tensão eficaz, ao longo de 5 segundos, medida em uma barra de 13,8 kV, que alimenta um laminador de usina siderúrgica. Repare que a variação, em torno de valor nominal é pequena: oscila entre valores compreendidos entre 13,4 kV (-3%) e 14 kV (1,4%),porém é muito rápida. Tensão 35 Método Padrão Para medição de FLICKER � Critérios do Método: O método requer o cálculo de duas variáveis, a saber: PST - Índice de Severidade de “Flicker” pelo Método de Curta Duração - “Short-Term Probability”; Período de Avaliação: 10 minutos. PLT - Índice de Severidade de “Flicker” pelo Método de Longa Duração - “Long-Term Probability”; Período de Avaliação: 2 horas. O nível de severidade de “Flicker” PST, de curta duração é definido pela expressão a seguir: � Avaliação PST: 5010311,0 .08,0.28,0.0657,0.0525,0.0314,0 PPPPPPST ++++= onde: P0,1 - Nível de “Flicker” excedido durante 0,1% do período de observação; P1 - Nível de “Flicker” excedido durante 1% do período de observação; P3 - Nível de “Flicker” excedido durante 3% do período de observação; P10 - Nível de “Flicker” excedido durante 10% do período de observação; P50 - Nível de “Flicker” excedido durante 50% do período de observação; O tempo de observação recomendado é 10 minutos. 36 � Avaliação PLT: O nível de severidade de “Flicker” de longa duração, PLT, é definido pela expressão a seguir: ( ) 3 1 12 1 3 12 1 ⎟⎠ ⎞⎜⎝ ⎛= ∑ =i iPSTPLT Cabe observar que a avaliação do “Flicker” pelo método de curta duração (PST) é apropriadamente empregada quando o distúrbio é causado por fontes individuais. Quando da existência de várias cargas perturbadoras com longo e variáveis ciclos, torna-se necessário e conveniente a utilização do índice PLT, o qualcompreende 2 horas (ou 12 intervalos de 10 minutos) de monitoração; 37 Limites Utilizados LIMITE DE SEVERIDADE DE “FLICKER” GLOBAL Tensão Nominal PST PLT < 69 kV 1,0 0,8 ≥ 69 kV 0,8 0,6 LIMITE DE SEVERIDADE DE “FLICKER” POR CONSUMIDOR Tensão Nominal PST PLT < 69 kV 0,6 0,5 ≥ 69 kV 0,5 0,4 38 A figura abaixo mostra a variação da tensão eficaz de uma barra, antes e depois da minimização da flutuação. O equipamento usado para tal foi o Reator Controlado a Tiristores(RCT). Quando um reator controlado a tiristor é instalado junto de um banco de capacitores chaveado a tiristores (CCT), tem-se o arranjo abaixo ilustrado, o qual é comumente denominado de Compensador Estático (ou, SVS (Static Voltage Compensator)). Reatores Capacitores 39 Válvulas de tiristores 40 1.11) QUADRO RESUMO: Tipo de Distúrbio Causas Efeitos Soluções Transitórios Impulsivos -Descargas atmosféricas; -Chaveamentos de cargas. -Excitação de circuitos ressonantes; -Redução da vida útil de motores, geradores, transformadores, etc. -Filtros; -Supressores de surto; - Transformadores isoladores. Transitórios Oscilatórios -Descargas atmosféricas; -Chaveamentos de: capacitores, linhas, cabos, cargas e transformadores. -Mal funcionamento de equip. controlados eletronicamente, conversores de potência, etc.; -Redução da vida útil de motores, geradores, transformadores, etc. -Filtros; -Supressores de surto; - Transformadores isoladores. Sub e Sobretensões -Partidas de motores; -Variações de cargas; -Chaveamento de capaci- tores. -Pequena redução na velocidade dos motores de indução e no reativo dos bancos de capacitores; -Falhas em equipamentos eletrônicos; -Redução da vida útil de máquinas rotativas, transformadores, cabos, disjuntores, TP’s e TC’s; -Operação indevida de relés de proteção. -Reguladores de tensão; -Fontes de energia de reserva; -Chaves estáticas; -Geradores de energia. Interrupções -Curto-circuito; -Operação de disjuntores; -Manutenção. -Falha de equipamentos eletrônicos e de iluminação; -Desligamento de equipamentos; -Interrupção do processo produtivo (altos custos); -Fontes de energia sobressalentes; -Sistemas “no- break” ; -Geradores de energia. Desequilíbrios -Fornos a arco; -Cargas monofásicas e bifásicas; -Assimetrias entre as impedâncias. -Redução da vida útil de motores de indução e máquinas síncronas; -Geração, pelos retificadores, de 3o harmônico e seus múltiplos. -Operação simétrica; -Dispositivos de compensação. 41 Tipo de Distúrbio Causas Efeitos Soluções Nível CC -Operação ideal de retificadores de meia onda, etc. -Saturação de transformadores; -Corrosão eletrolítica de eletrodos de aterramento e de outros conectores. Harmônicos -Cargas não- lineares. -Sobreaquecimento de cabos, transformadores e motores de indução; -Danificação de capacitores, etc. -Filtros; -Transformadores isoladores. Interharmônic os -Conversores estáticos de potência; -Cicloconversores; -Motores de indução; -Equipamentos a arco, etc. -Inteferência na transmissão de sinais “carrier”; -Indução de “flicker” visual no “display” de equipamentos. “Notching” -Equipamentos de eletrônica de potência. Ruídos -Chaveamento de equip. eletrônicos de potência; -Radiações eletromagnéti- cas. -Distúrbios em equip. eletrônicos (computadores e controladores programáveis). -Aterramento das instalações; -Filtros. Oscilações de Tensão -Cargas intermitentes; -Fornos a arco; -Partidas de motores. -“Flicker” ; -Oscilação de potência e torque nas máquinas elétricas; -Queda de rendimento de equipamentos elétricos; -Interferência nos sistemas de proteção. -Sistemas estáticos de compensação de reativos; -Capacitores série. Variações na Freqüência do Sistema Elétrico -Perda de geração, perda de linhas de transmissão, etc. -Pode causar danos severos nos geradores e nas palhetas das turbinas, etc. 42 1.12) PARCERIA ENTRE CONSUMIDOR E CONCESSIONÁRIA Na busca de fornecimento de energia com qualidade a um cliente ou região, três situações podem ocorrer: a) A CAUSA DA PERTURBAÇÃO É DEVIDO AO CONSUMIDOR Nesse caso, quaisquer dos seguintes aspectos devem ser analisados em conjunto ou em separado: • Ajustes dos taps dos transformadores; • Ajustes das proteções primárias e secundárias; • Carregamento excessivo dos transformadores; • Capacidade inadequada de cabos, barramentos, etc.; • Conexões elétricas frouxas; • Nível de isolamento baixo de chaves, cabos, barramentos, etc.; • Presença de cargas não lineares; • Partidas de motores de indução; b) A CAUSA DA PERTURBAÇÃO É ORIUNDA DA CONCESSIONÁRIA São características dessa situação as seguintes causas: • Baixos valores dos índices de continuidade; • Níveis elevados de tensão de fornecimento; • Flutuações de tensão excessivas; • Altas distorções harmônicas de tensão; c) A CAUSA DA PERTURBAÇÃO REQUER UMA SOLUÇÃO PARCEIRIZADA A fonte de distúrbio tanto pode estar no interior da instalação do cliente, bem como no sistema supridor. Pode ocorrer um grande número de situações. Aqui será abordada uma delas. Considere que uma concessionária, devido às circunstâncias de localização das fontes geradoras, disponha de um sistema com um baixo nível de potência de curto-circuito. Instala-se na região de concessão uma indústria com máquinas de alta tecnologia, dotada de cargas não lineares e de motores de grande porte. Esta indústria reclama da qualidade da energia junto à concessionária. Esta é uma situação em que o cliente e a concessionária devem participar da solução. Deverão ser investigadas duas hipóteses: I) A perturbação tem origem na concessionária? II) A perturbação tem origem no cliente? Vejamos as duas hipóteses: 43 I) A perturbação tem origem na concessionária? I.1) Defeito no sistema provoca oscilações de tensão no cliente. Esse caso é, tipicamente, uma deficiência da concessionária no que diz respeito principalmente à baixa potência de curto-circuito do sistema supridor. A solução definitiva pode custar somas vultosas e inviáveis, pelo lado econômico da concessionária, podendo mesmo levar anos para a sua viabilidade. Porém, soluções parciais podem minorar a questão, tais como incrementar a manutenção preventiva no sentido de aumentar o índice de continuidade do sistema como um todo, de forma a reduzir o número de perturbação do cliente em particular; reestudar os esquemas de proteção etc. I.2) Cargas não lineares de outros clientes poluem o sistema supridor. Esse é o caso típico de um terceiro cliente estar injetando harmônicos no sistema supridor e que até então não era reclamado por não haver nenhuma carga sensível a esse tipo de perturbação. II) A perturbação tem origem no cliente? Esta situação está, em seguida, ilustrada com duas hipóteses: II.1) Necessidade de partida do motor com elevado grau de atrito. Nesse caso, a partida do motor requer um elevado nível de curto-circuito no ponto de acoplamento do consumidor. Se a concessionária não dispõe de sistema elétrico adequado a esta situação, o cliente deve, inicialmente, arcar com a solução que consiste, a principio, em inserir entre o motor e a rede elétrica um conversor de frequência ou outro dispositivo que permita o acionamento do motor nas condições previstas. II.2) Cargas sensíveis à variação de tensão Essa situação se caracteriza quando o cliente necessita de uma variação de tensão muito estreita, inferior, portanto, aos níveis estabelecidos pela Portaria 047/78 - DNAEE. Se os níveis devariação de tensão praticados superarem os valores legais estabelecidos, a solução para a questão global deve ser de parceria. A concessionária investe no sistema de regulação de tensão até atingir um nível de tensão economicamente viável, porém nunca inferior aos valores legais estabelecidos, e o cliente reduz os níveis de sensibilidade dos seus equipamentos, até alcançar o valor desejado. Em alguns países da Europa, a empresa fornecedora de energia elétrica supre o cliente com uma determinada qualidade de energia, normalmente de padrão elevado, até porque o sistema elétrico europeu se constitui uma gigantesca malha, com fontes de geração conectadas nos mais diversos pontos do referido sistema. Se o cliente, por necessidade do seu processo produtivo, reivindicar valores superiores 44 de qualidade de energia, a empresa fornecedora ajusta um contrato com o cliente, em que o mesmo irá pagar pelo incremento dos índices de qualidade. No caso de a empresa fornecedora não atingir os valores de qualidade pactuados, o cliente é ressarcido dos prejuízos tomados, dentro dos limites acordados. Pode-se concluir que não existe solução única para todas as questões de qualidade de energia, e cada caso deve ser objeto de estudos e entendimentos continuados.
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