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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DO FEMININO.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
CAMPUS SOBRAL 
CURSO DE PSICOLOGIA 
ALUNA: MÍRIAN KAROLINE 
PROFESSOR: ODIMAR FEITOSA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DO FEMININO. 
 
 
 
 
 
 
 SOBRAL-CE 
“Através da historia, as pessoas têm quebrado a cabeça 
com o enigma da natureza da feminilidade”. (Freud, 
1933). 
 
Em sua conferencia sobre a Feminilidade (1933), Freud disse que a psicanalise 
não pretende dizer que é uma mulher, pois esta não seria uma tarefa fácil, e sim 
pergunta como se forma uma mulher, como se da o seu desenvolvimento já que esta é 
uma criança bissexual, por isso a psicanalise não tenta descrever o que é uma mulher 
pois esta é uma tarefa da ordem do indizível. Não era a pretensão de Freud escrever o 
que é uma mulher, o caminho para a menina transformasse em mulher é um caminho 
mais difícil do que aquele caminho realizado pelos homens. Até 1925 o complexo de 
édipo era considerado a base da sexualidade feminina e masculina. A fase que antecede 
o édipo, chamada de fase pré-edipiana não era explorado. E essa fase pré-edipiana é 
muito importante no que diz respeito à feminilidade 
Freud em sua conferencia sobre feminilidade, defende a tese de que a 
feminilidade é uma construção teórica de conteúdo incerto. No primeiro momento Freud 
defende que a mulher é inferior ao homem. A partir do modelo masculino que Freud 
cria sua teoria sobre a sexualidade. Que a diferença anatômica dos corpos produz efeitos 
imaginários e estes que diferencia o feminino para o masculino, mas a partir de 1937 a 
diferença entre o feminino e o masculino fica cada vez mais evidente “... o pênis não é 
uma possessão comum a todas as criaturas que a elas se assemelham”. (Freud, 1923). 
Freud liga à histeria e a neurose a feminilidade. Toda a construção da teoria da 
feminilidade na obra de Freud segundo o próprio tem muitos pontos ambíguos e 
enigmáticos. A feminilidade é associada a passividade, a mulher sente mais necessidade 
de ser amada que amar, a mulher tem que mudar de objeto, seu desejo tem que mudar 
da mãe pro pai. 
 “Quando estudamos as primeiras configurações psíquicas da vida sexual 
infantil, tomamos sempre como objeto [de estudo] a criança do sexo masculino, o 
pequeno menino. Pensávamos que o mesmo deveria acontecer com as meninas, embora 
numa modalidade de alguma forma diferente. Não se podia mostrar claramente em que, 
no decurso do desenvolvimento, esta diferença devia encontrar-se” (Freud, 1925). 
O complexo de édipo tem um papel fundamentas na construção da personalidade 
do desejo do ser humano e é a principal referencia das psicopatologias. 
A questão do que é ser uma mulher ainda é um mistério, através das outras 
mulheres ela busca desvendar esse enigma, procura na outra a resposta do que é ser uma 
mulher. Freud não conseguiu responder a pergunta “O que quer uma mulher?”, ele fala 
que a mulher é um continente obscuro, esse é o principal ponto da questão sobre o que é 
feminilidade. 
A feminilidade é uma conquista da menina em torna-se mulher, tendo em vista 
que ela não nasce mulher e que ela escolhe ou não o caminho para a feminilidade. A 
sexualidade não é despertada na puberdade e sim logo após o nascimento, sendo assim a 
sexualidade é considerada perversa e polimorfa. 
A partir de 1923 Freud aborda novamente sobre a teoria da sexualidade, e fala 
sobre a principal referencia do conjunto da organização genital infantil e diz que esta 
está ligada ao único órgão genital que é considerado, ou seja, o masculino e a partir 
disso Freud cria a sua nova teoria da sexualidade, ligada a primazia do falo e não dos 
órgãos genitais. 
A criança vai descobrir que o pênis não é comum a todas elas e sim comum 
apenas ao menino, que é aí aonde surge à teoria da castração e a partir daí Freud rompe 
com o complexo de édipo igual entre a menina e o menino. 
O percurso de complexo de édipo no menino é bem diferente do percurso da 
menina, a priori a menina ver o clitóris como o pênis e só depois comparando com o 
órgão genital do menino que percebe que é diferente e assim se sente inferior ao 
menino, mas ainda sim acha que um dia ira possuir um órgão como o do menino. 
Ela entende que um dia possuiu esse órgão, mas que foi castrada, o complexo de 
castração da menina e diferente do menino porque pra ela aconteceu de fato à castração 
e no menino fica apenas o medo de perder o falo, “Dá–se assim a diferença essencial de 
que a menina aceita a castração como um fato consumado, ao passo que o menino teme 
a possibilidade de sua ocorrência”. (FREUD,1924). Isso fica na menina como o medo 
de não ser amada. “Sua necessidade não se acha na direção de amar, mas de ser amada”. 
(FREUD, 1914) 
Em 1925, Freud reelabora o complexo de édipo feminino, insatisfeito ele propõe 
uma nova teoria da sexualidade feminina, não mais baseada na teoria masculina. Daí 
surge à inveja da menina em relação ao pênis do menino e a partir desse desejo do pênis 
que surgem algumas consequências como a relação hostil da menina com a mãe porque 
acha que essa e a culpada por ela não ter um pênis. “[...] seu sentimento narcísico de 
humilhação ligado à inveja do pênis, [...] é um ponto no qual ela não pode competir com 
os meninos, e que assim seria melhor para ela abandonar a idéia de fazê–lo.” (FREUD, 
1925). 
Na menina existem três caminhos em relação a sua situação ao complexo da 
castração. No primeiro a menina se sente insatisfeita quando compara o pênis no 
menino ao seu clitóris e assim abre mão da sua sexualidade em geral e como 
consequência disso ocorrem as neuroses ou a inibição sexual. No segundo caminho ela 
ainda tem expectativas de ter um pênis e a consequência disso é a homossexualidade na 
mulher. O terceiro caminho é o caminho de se tornar mulher, sendo o pai o seu objeto e 
o filho o substituto do falo que ela não tem, sendo este o caminho da feminilidade. “(...) 
a situação feminina só se estabelece se o desejo do pênis for substituído pelo desejo de 
um bebê, isto é, se o bebê assume o lugar do pênis, consoante uma primitiva 
equivalência simbólica” (Freud 1932) 
Na menina o complexo de édipo começa quando acaba do menino, e quando 
ocorre o complexo de castração se inicia a entrada no édipo e é ai que ocorre a troca do 
objeto de amor da mãe para o pai. O pai é considerado um ser muito superior à mãe, e 
essa é odiada por ter colocado-a ao mundo como mulher e assim agora sendo sua rival. 
O complexo de castração é a preparação do complexo de édipo na menina. “As 
meninas permanecem nele por um tempo indeterminado; destroem-no tardiamente e, 
ainda assim, de modo incompleto.” (Freud, 1932). 
Freud não chegou a esclarecer o enigma da feminilidade, e concluí que não é 
essa a tarefa da psicanálise, de resolver este enigma, e sim quando a menina torna-se 
mulher. ”Devem concluir que aquele que constitui a masculinidade ou a feminilidade é 
uma característica desconhecida que foge do alcance da anatomia” (Freud, 1932). 
 
 
 
 
Referências 
FREUD, S. A dissolução do complexo de Édipo. (1924) In: Edição Standard Brasileira 
Das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, 
v.19. 
Feminilidade. (1933[1932]) In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas 
Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v.22 
Sexualidade feminina. (1931) In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas 
Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, v.21 
Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. (1905) In: Edição Standard Brasileira das 
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. 7.

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