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APOSTILA DO CURSO DE TEOLOGIA FUNDAMENTAL - REVELAÇAO

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DIOCESE DE ESTÂNCIA
INSTITUTO DE TEOLOGIA BEATO JOÃO XXIII
FORANIA DE ESTÂNCIA
CURSO DE 
TEOLOGIA FUNDAMENTAL
Prof. Pe. Iuri Ribeiro dos Santos
Annus Domini
2013
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
I – PARTE: NOÇÃO BÍBLICA DE REVELAÇÃO
 A REVELAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO.
A REVELAÇÃO EM O NOVO TESTAMENTO
II – PARTE: O TEMA DA REVELAÇÃO NOS STOS PADRES
PRIMEIRAS TESTEMUNHAS
SANTO IRINEU
TESTEMUNHAS DA IGREJA GREGA
TESTEMUNHAS DA IGREJA LATINA
III – PARTE: A NOÇÃO DE REVELAÇÃO NA TRADIÇÃO TEOLÓGICA
A ESCOLÁSTICA DO SÉCULO XIII
ESCOLÁSTICOS PÓS –TRIDENTINOS
A RENOVAÇÃO ESCOLASTICA DO SÉCULO XIX
TEOLOGIA DA REVELAÇÃO NO SÉCULO XX
O II CONCÍLIO DO VAT. E A CONSTITUIÇÃO “DEI VERBUM”
IV – PARTE: REFLEXÃO TEOLÓGICA
ENCARNAÇÃO E REVELAÇÃO
MILAGRE E REVELAÇÃO
FINALIDADE DA REVELAÇÃO
V – PARTE: SAGRADA ESCRITURA
Texto
Inspiração
Canonicidade
Verdade bíblica
Interpretação da Bíblia
VI – PARTE: TRADIÇÃO
VII – PARTE: A FUNÇÃO DO MAGISTÉRIO
VIII – PARTE: O DOGMA
IX – PARTE: O ATO DE FÉ�
INTRODUÇÃO
A revelação ou a palavra de Deus à humanidade é a primeira realidade cristã; o primeiro fato, o primeiro mistério, a primeira categoria. A revelação é o mistério primordial, o que nos comunica todos os outros.
A revelação é a primeira das categorias que fundamentam toda a pesquisa teológica. Revelação, Inspiração, Tradição significam para a ciência teológica o mesmo que as noções básicas para as ciências humanas. A revelação é o primeiro fato, primeiro mistério e a primeira categoria do cristianismo.
A revelação observa “a realidade primária e fundamental” do cristianismo. Por isso, é tanto mais de se admirar que a teologia católica não tenha quase examinado e desenvolvido todas as variações desse tema. Em teologia tudo depende da revelação divina, tudo a ela se refere, nada se explica a não ser mediante a sua luz.
Em teologia, contudo há um tratado sobre a revelação. Tratado que estuda o fato revelação e o conjunto de sinais que nos permitam estabelecê-lo com certeza. Se deixássemos de refletir sobre a intervenção de Deus na história e sobre os sinais dessa intervenção, se exporia afinal ao perigo do fideísmo�. 
É estabelecido que Deus falou, e que a aparição do Cristo na história é o ponto mais denso dessa intervenção, já teríamos, sem dúvida, feito muito, mas não tudo. O conceito de revelação é: “A intervenção primeira de Deus que sai do seu mistério, dirigindo-se a humanidade e comunicando-lhe seu desígnio salvífico”. 
Assim, a Teologia Fundamental é o tratado que estuda o fato da revelação e o conjunto de sinais que nos permitam estabelecê-lo com certeza. A teologia fundamental tem as seguintes funções: Teologia apologética e Teologia dogmática.
Também outro conceito muito importante dentro deste tratado teológico é o de Fé como a resposta do homem a Deus que se revela e a ele se doa, trazendo ao mesmo tempo uma luz superabundante ao homem em busca do sentido ultimo de sua vida (CIC no 26).
I – PARTE: NOÇÃO BÍBLICA DE REVELAÇÃO
1) A REVELAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO.
Caracteriza a religião do Antigo Testamento pela afirmação da intervenção de Deus na história, intervenção devida unicamente a sua livre decisão. Essa intervenção pode ser entendida como: encontro de Alguém com alguém; Deus que interpela ao homem e este que lhe responde mediante a fé e a obediência. O fato desse conteúdo expresso acima, dessa comunicação nós o chamamos de “revelação”.
Essa revelação se apresenta, como a experiência da ação de uma Potência Soberana que modifica o curso normal da história e da existência individual. Porém, não é uma manifestação violenta de poder, é uma potência que dialoga, anuncia e explica o seu desígnio de salvação. Sendo que Deus não fala a massa, mas sim, a um povo por meio de seus intermediários que transmitirão sua palavra e exigirá em seu Nome uma resposta.
No antigo testamento ainda não tem um termo técnico que possa traduzir a idéia de revelação, porém, se utiliza muito a expressão “Palavra de Iahweh”, para expressar o termo revelação e a comunicação Divina.
O mais importante no antigo testamento não é ver a divindade, mas sim, ouvir a sua palavra. É por sua palavra que Deus, progressivamente, introduz ao homem no conhecimento de seu ser íntimo�. Traçar, pois, a história da palavra de Deus é traçar ao mesmo tempo a história da revelação. 
Revelação no Antigo Testamento: É a intervenção gratuita e livre de Deus, Santo e o oculto que, progressivamente se manifesta e torna conhecidos seus desígnios salvífico de estabelecer uma aliança com Israel, e depois com todos os povos, para afinal realizar na pessoa de seu ungido a promessa outrora feita a Abrão.
I – As etapas da história da Revelação.
1.1 – Fase Antiga, Gênesis. 
Caracteriza pelas teofanias e manifestações oraculares. Narra que Iahweh apareceu sob formas humanas a Abraão�, para anunciar-lhe o nascimento de Isaac. No antigo testamento nos momentos mais difíceis o povo consultava a Iahweh, seu Deus, que ele sabe estar presentes em todas as suas ações. Fases características do antigo testamento: teofanias – manifestações oracular. Técnicas para penetrar nos pensamentos e segredos dos deuses. Com os profetas essas técnicas arcaicas tendem a desaparecer, dando lugar à experiência da Palavra que prevalece, purifica-se então as técnicas usadas pelos povos politeístas antigos, a era da Palavra de Iahweh. 
1.2 – Fase Mosaica - A aliança no Sinai.
Deus libertador do povo. Liberta das mãos do faraó para fazer uma aliança com o povo, os libertou “De”, mas “Para” ser seu povo escolhido.
Consiste em que Iahweh por seu poder e sua fidelidade, livra o povo do domínio egípcio�, por essa aliança faz desse povo sua propriedade e torna-se chefe da nação. A aliança transformou em comunidades as tribos que tinham saído do Egito, dando-lhes uma lei, um culto, um Deus, uma consciência religiosa�. Torna-se Israel um povo governado por Iahweh.
- O Profetismo.
Nova fase da história da palavra. Os profetas fazem o chamamento à justiça e a fidelidade ao serviço de Deus. Jeremias tentou determinar os critérios da autêntica palavra de Deus: a) A realização da palavra do profeta; b) Fidelidade a Iahweh e a religião tradicional; c) O testemunho do próprio profeta de sua vocação. 
Constitui uma nova etapa da palavra. Os profetas anteriores ao exílio (Amós, Oséias, Miquéias, Isaias) são os guardiões e defensores da ordem moral imposta pela aliança. Sua pregação consiste na interpelação a justiça e a fidelidade, ao serviço do Deus todo poderoso e três vezes santo. 
1.4 – Fase Deuteronômica
Teologia da lei, quem cumpre a lei é abençoado, quem não cumpre é amaldiçoado. A lei não é um simples mandamento, um simples comentário, mas são preceitos acompanhados de evocações históricas, promessas e ameaças que inspira amor e respeito pela lei. 
Tradição oriunda do oriente, que tem duas correntes: legalista e profética�. A história de Israel, com suas desgraças aparecem como conseqüência lógica da infidelidade constante e renovada. Iahweh, revelando sua vontade prometera sua bênção à obediência de seu povo. Israel, pois, se quiser viver, deve por em prática todas as palavras da lei, que saída da boca de Iahweh é fonte de vida. Também chama o decálogo de: as de 10 palavras, estende a expressão a todas as cláusulas da lei, isto é, ao conjunto das leis morais, civis, religiosas e criminais. Nas leis do Sinai, o dabar divino era simples mandamento, sem comentários. No deuteronômio, pelo contrário, os preceitos são acompanhados de evocações históricas, promessas e ameaças, que deve inspirar o respeito e o amor a lei. Consiste a lei em amar a Deus de todo o coração e de toda a alma. 
1.5 A literatura histórica
A palavra de Deus faz a história e se torna compreensível.
É a teologia da história. Pois, conta à realidade da história da salvação e uma teologia da história. A aliança concluída por Iahweh e as condições impostas por Ele supõem, que o curso dos acontecimentos é regulado
pela vontade divina, levando em conta as atitudes do povo eleito. Em última análise, é a palavra de Deus que faz a história e a torna compreensível. O importante nessa literatura histórica é o texto da profecia de Natan que dá a aliança conexões com a realeza e inicia o messianismo real. Com essa profecia a dinastia de Davi tornar-se para sempre a aliada direta de Iahweh, ponto central da história da Salvação.
1.6 Profetismo no exílio� 
Sem deixar de ser uma palavra viva se torna uma palavra escrita. 
Ezequiel é o ministro de uma palavra irrevogável, que anuncia os acontecimentos dando-lhes um desenrolar infalível. Uma das primeiras profecias de Ezequiel é o número e amplitudes das visões. Há palavras que comentam essas visões por si mesmas, são ensinamentos. Uma segunda característica é o tom pastoral da palavra de Ezequiel. Ezequiel começa a formar o novo Israel, como faria um diretor espiritual. Deutero-Isaias, que devemos ler no contexto do exílio, considerar o dabar divino em seu dinamismo a uma só vez cósmica e histórica. Manifesta-se a transcendência de Iahweh primeiramente em natureza. 
1.7 Literatura sapiencial:
Deus usou da experiência humana para dar o homem a conhecer-se a si mesmo.
É testemunha de uma tradição muito antiga de Israel. O mesmo Deus que ilumina os profetas usou a experiência humana para dar o homem conhecer-se a si mesmo. Inicialmente, a sabedoria do livro dos Provérbios, é a simples reflexão, positiva e realista, sobre o homem e seu comportamento, para ajudá-lo a se orientar na vida com prudência e descrição. Assim diz o provérbio: ”Sábio é quem cumpre a lei de Deus, pois toda a sabedoria provém de Deus. Somente Ele a possui plenamente; manifesta-se em suas obras e comunica aos que o amam”.
1.8 O saltério
Resposta do homem à revelação; realização da revelação.
Escrito por Davi e Salomão e assim nasceu a fé de Israel de forma rezada. Este livro foi formado aos poucos, ao longo de toda uma história, é principalmente uma resposta a revelação; mas também revelação, pois a oração dos homens, pelos sentimentos que manifesta, dá a revelação toda a sua dimensão. A grande, a majestade, a potência, a fidelidade, a santidade de Iahweh revelada pelos profetas, refletem-se nas atitudes do crente e na intensidade de sua oração (lex orandi, lex credenti). Em resumo: para os salmistas a palavra de Deus é ao mesmo tempo promessa e potência que se exerce em a natureza e na história�.
1.9 O papel da escritura na história da salvação;
Após o exílio somente é que se constituíram essas grandes compilações, redigidas em camadas sucessivas, com dados muito antigos, chamadas código deutero-canônico e código sacerdotal. Fixando-se, corre o risco de perder um tanto do dinamismo que tivera nos profetas; será preciso atualizá-la sempre, aplicando-a as novas situações históricas, numa releitura constante que por si mesma será um aprofundamento.
II – Valor noético e dinâmico da palavra de Deus
A palavra de Deus vem apresentada etimologicamente como o dabar divino. A palavra não é, pois, uma simples expressão de idéias abstratas, está carregada de sentido, tem um conteúdo noético que vem da concentração do coração sobre o objeto ou de pensamentos que dele se apossam, traduzindo ao mesmo tempo um estado da alma, que de algum modo impregna a palavra pronunciada, articulada. 
Em outras palavras, “A palavra é a expressão corporal do conteúdo da alma, por isso quem dirige uma palavra a outro, faz nascer um pouco de sua própria alma na alma do outro“. Para Israel a palavra tem duplo valor: noético e dinâmico.
Em resumo: a palavra é uma força atuante cujo dinamismo se fundamenta no dinamismo mesmo de quem a pronunciou. Por isso ela é reveladora. Ninguém fala sem se revelar.
III - Revelação cósmica e revelação histórica
A revelação cósmica: Principalmente através da história é que Israel conheceu Iahweh, quando no Egito experimentou seu poder libertador (Deus é um Deus que liberta). Compreendeu Israel que o mesmo Deus que o suscitara do nada da escravidão, também do nada fizera surgir o cosmos. Sua soberania é universal. Sendo que uma vez que a criação é o que foi dito por Deus, ela é também revelação. 
A revelação histórica: começa com Abraão, Moisés e os profetas. Torna-se então palavra plenamente inteligível. Dirige-se Deus ao homem, interpela-o, torna-o participante de seu desígnio, fala-lhe. Torna assim, a revelação mistério de um encontro pessoal entre o Deus vivo e o homem. A lei e a palavra profética são as formas privilegiadas dessa revelação. 
IV - A revelação profética
A revelação profética é a outra forma de revelação histórica. A revelação do Sinai constitui sempre um bloco central da revelação; mas, se perdurou no AT, principalmente através da época dos reis do exílio, se foi aprofundada e desenvolvida, foi mérito principalmente dos profetas. A autoridade e originalidade do profeta vêm de sua experiência privilegiada: ele conhece Iahweh, pois Iahweh lhe falou e confiou sua palavra�. 
O profeta recebeu a palavra não para guardá-la, mas para publicar e anunciar. O profeta é o arauto de Iahweh, escolhido para proclamar as palavras que d’Ele recebeu e ouviu. É o homem da palavra. Está entre os homens como intérprete, autorizado por Deus, de tudo que acontece no mundo, na humanidade e na história. Por fim, o profeta está ligado a Deus por sua palavra.
O campo de ação da palavra profética é a história, da qual é criadora e intérprete. A ação divina, que faz da história uma obra de salvação ou de condenação, é duplamente o efeito da palavra: é a palavra de Iahweh que suscita e dirige os acontecimentos, como também é a palavra de Iahweh que lhes interpreta o sentido. Todas as etapas da história de Israel foram precedidas pela palavra: criação (Gn 1,3), o dilúvio (Gn 6,7), vocação de Abraão (Gn 12,1), vocação de Moises e saída do Egito (Ex 3,14, 30, 31), a marcha desde o Horeb até Cannã (Dt 1,6), vocação de Samuel (1Sm 3), realeza (1Sm 8,7), eleição de Davi (1Sm 15,10), aliança com a dinastia de Davi na profecia de Natã (2Sm 7), divisão do reino de Israel (1 Rs 11,31), queda da casa de Acab (1Rs 21,17-24), o exílio (Jer 25,1-3), ruína de Jerusalém (Ez 1,23), retorno do cativeiro (Is 40,2). Para Israel, a história é um processo que Iahweh dirige para um término que prefixou. A palavra profética não apenas anuncia e suscita a história, como também a interpreta�. 
A história da salvação enfim, é uma seqüência de intervenções Divinas interpretadas pelos profetas.
Conclusão: “Conseqüentemente, Deus, seus atributos, seus desígnios, se revelam, não abstrata, mas concretamente na história e pela história. A mensagem de revelação está incorporada na história. Há progresso no conhecimento de Deus, mas através dos acontecimentos que a palavra de Deus anuncia, realiza, interpreta”.
V - Objeto da Revelação
O objeto da revelação é a revelação do próprio Iahweh e revelação do seu desígnio de salvação. O Deus do AT revela-se inicialmente como um Deus vivo e pessoal, como Aquele que é, em oposição aos ídolos mudos e mortos. Os profetas aos poucos vão educando Israel para uma compreensão sempre mais profunda dos atributos divinos: Amós põe em evidência sua justiça; Oséias, seu amor terno e ciumento. Isaias, sua grandeza e transcendência; Jeremias ensina uma religião mais interior; Ezequiel lembra as exigências da santidade de Deus; Deutero-Isaias, leva para uma religião mais universalista. 
VI - Resposta do homem à revelação
Se Deus fala, o homem deve escutar. Escutar indica a primeira atitude do homem ante a revelação: não de modo material e passivo, mas em disponibilidade totalmente ativa. A palavra ouvida deve ser assimilada pela fé e pela submissão, numa entrega de todo o ser, como fez Abraão.
Revelação e fé são correlativas: a fé do antigo testamento, com efeito, corresponde exatamente ao tipo de revelação que lhe foi feita. No AT a revelação era essencialmente lei e promessa de salvação; a fé, principalmente, obediência e confiança�. 
VII - Traços característicos da Revelação
A revelação é essencialmente interpessoal: Antes que manifestação de alguma coisa é manifestação de alguém com alguém. Iahweh o Deus vivo, estabelece com o homem relação de pessoa a pessoa.
A revelação bíblica é uma iniciativa Divina: não é o homem que descobre a Deus; é Iahweh que antes, se manifesta, quando quer, a quem ele quer.
É a palavra que dá unidade a economia da revelação: a religião do AT é a religião da palavra ouvida. Deus revela e se revela pela palavra. Os profetas comunicam “a palavra de Deus”, seus desígnios e as vontades de Deus, o homem é convidado à obediência da fé.
Pela revelação o homem é posto em confronto com a palavra, uma palavra que exige fé e execução: a sorte do homem dependerá da opção decisiva a favor ou contra a palavra. O objetivo, porém, da revelação é a vida e a salvação do homem, sua comunhão com Deus. 
 A revelação é toda orientada para a esperança de uma salvação que há de vir: cada revelação profética marca uma realização da palavra, mas deixa, ao mesmo tempo, lugar para a esperança de uma realização ainda mais decisiva.
VIII - Conclusão
A noção de revelação é a intervenção gratuita e livre do Deus Santo e oculto que, progressivamente, se manifesta e torna-se conhecido seu desígnio salvífico de estabelecer uma aliança com Israel, e depois com todos os povos, para, afinal, realizar na pessoa de seu Ungido a promessa feita a Abraão, abençoando em sua posteridade todos os povos da terra.
CAP. II: A REVELAÇÃO EM O NOVO TESTAMENTO
2.1 - Introdução
A noção de revelação no NT apresenta-se com maior complexidade e diversidade do que no AT. Entre ambas as alianças, deu-se um acontecimento de capital importância: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora a nossos pais, nos profetas; nestes últimos tempos falou a nos no seu Filho” (Hb 1,1). Em Jesus, o verbo encarnado, o Filho está presente entre nós. Sendo assim, Cristo é a plenitude da revelação.
Revelação no NT: É a ação, sumamente livre e amorosa, pela qual Deus, numa economia de encarnação, já de alguma forma iniciada no AT, dá-se a conhecer em sua vida intima e no desígnio amoroso que eternamente formou, de salvar e reconduzir a si todos os homens pelo Cristo.
2.2 - A tradição sinótica
2.2.1 - Os vocábulos
Na tradição sinótica os termos que descrevem a ação reveladora de Cristo são: pregar (no sentido de proclamar), pregar o Evangelho, evangelizar, ensinar e revelar. Como os profetas, Cristo prega e apresenta sinais. Cristo não recusa os títulos (Mestre, Rabbi etc) e tampouco os reinvidica. Pois, ele é mais que um profeta e rabbi: é o Filho de Deus que partilha dos segredos do Pai. 
Habitualmente os sinóticos apresentam a Cristo ensinando. Ao passo que “Kerigma”, corresponde principalmente ao aspecto dinâmico da palavra. O ensinamento acompanha normalmente o choque do primeiro anúncio da salvação. 
2.2.2 - O Cristo como pregador
Pela sua pregação Cristo continua a tradição dos profetas. Essencialmente sua pregação é o evangelho e o Reino de Deus.Mas, pela sua pessoa ele sobrepassa os profetas.
Cristo continua a tradição dos profetas e aperfeiçoa. Percorre todo caminho predito pelos profetas. Essencialmente sua pregação é o evangelho do Reino: Cristo anuncia a inauguração desse Reino cuja eminência fora anunciada pelo Batista. Como revelador, pela excelência de sua pessoa, sobrepassa os profetas.
É válido lembrar que Cristo não somente prega, mas também convida a outros a participar de sua missão: “E constitui doze deles, para andarem com Ele, e para os mandar pregar”�. Os que acolherem a mensagem dos apóstolos serão salvos; os outros serão condenados�. Entre a pregação de Cristo e a dos apóstolos há continuidade. 
2.2.3 - O Cristo como Doutor
O Cristo ensina, chamam-no de Rabi. Aos 12 anos já ensina no templo entre os doutores. Ensina nas sinagogas e nas montanhas. Ele tem discípulos como os doutores de Israel. Manifesta esclarecimentos, instrui, discute e polemiza. Fala com autoridade de Iahweh.
Cristo quando ensina chamam-no de Rabbi�. O povo e os doutores da lei dão-lhe, umas quarenta vezes esse título. Muitas vezes o ensino de Cristo é ocasional; responde as perguntas, corrige as atitudes (ciúme, instinto de vingança, vaidade e violência) inculca-lhes princípios da nova moral: pobreza, humildade e caridade. Contudo, seu ensino, sua pedagogia é sistemática.
2.2.4 - Cristo Filho do Pai
Cristo é em si mesmo a mais alta manifestação profética, por ser o filho único do Pai, o herdeiro, é por isso que ensina com grande autoridade.
Se o Cristo é em si mesmo a mais alta manifestação profética possível, se ensina com tão grande autoridade, deve-se ao fato de ser Ele o Filho único, o herdeiro, a quem o Pai confiou tudo�. Ele é o Filho, pois conhece o Pai e seus segredos, cujo conhecimento comunica a quem bem lhe apraz. O Filho não pode ser reconhecido pelo que é sem uma luz concedida pelo Pai: graça recusada ao orgulho dos sábios. A aceitação da revelação Divina é obra da Graça.
2.2.5 - A fé, resposta do homem
A resposta condizente com a pregação da Boa Nova é a fé. São os homens convidados a escutar e compreender, isto é, a aceitar na fé a palavra de Deus e viver de acordo. Com efeito, Deus revela-se de forma tão desorientadora que a revelação se pode tornar para os homens pedra de escândalo, ocasião de incredulidade. 
	2.2.6 - Conclusão
Na tradição sinótica, Cristo é o revelador enquanto proclama a Boa Nova do Reino dos céus e ensina com autoridade a palavra de Deus. A fé, dom de Deus, revelação do Pai, é a resposta do homem à pregação do Evangelho. O conteúdo essencial da revelação é a salvação oferecida à humanidade sob a imagem do Reino de Deus, anunciado e instaurado por Cristo. 
2.3 - Atos dos apóstolos
Os atos dos apóstolos refletem a linguagem da Igreja primitiva e sua nova fé. Os verbos concernentes aos atos dos apóstolos são: testemunhar, proclamar o Evangelho e ensinar, formam a função apostólica. 
- Os apóstolos testemunham
A primeira parte dos atos dos apóstolos insiste nos termos: testemunhas e testemunhar. Testemunhar caracteriza a atividade apostólica nos primeiros tempos após a ressurreição. Os que viram o ressuscitado testemunham a sua volta à vida, tomando partido por ele ante os inimigos. Testemunhas são em primeiro lugar os apóstolos, são três as características dos apóstolos: 1)São escolhidos por Deus; 2) São associados a Cristo durante a sua vida; 3) Viram-no após sua ressurreição.
Testemunha por excelência é quem conheceu toda a obra de Cristo, do batismo a ressurreição que é o término e a coroa de um só e único processo de salvação. Testemunhar é, pois, a função própria dos que viram e ouviram a Cristo, que viveram em sua intimidade e tiveram, portanto, uma experiência direta, viva, de sua pessoa, doutrina e obra. Os apóstolos em primeiro lugar são testemunhas da ressurreição, pois, é esse o fato essencial que garante tudo o que procede e tudo o que ainda deve vir. O testemunho apostólico é dado sob o poder do Espírito Santo�. 
2.3.2 - Os apóstolos proclamam a Boa Nova
O testemunho dos apóstolos e dado na pregação ou kerigma. O testemunho implica fidelidade a uma experiência e coragem para atestá-la. Kerigma indica retumbância, poder, expansão, publicidade.
2.3.3 - Objeto do testemunho e da pregação
O que os apóstolos pregam, ensinam, atestam, o que seus ouvintes são convidados a escutar e receber, é o Cristo ou a Palavra sobre o Cristo.
- A fé, resposta do homem
A resposta conveniente ao kerigma e ao testemunho é a fé. Os Atos dos apost. descrevem o aumento continuo dos crentes sob a ação da Palavra.
A fé, segundo os Atos, é algo de global: é uma absoluta e total adesão ao Cristo, é a fé no Senhor Jesus Cristo e em nome de Jesus. É doação ao Cristo, aceitando-o totalmente, com tudo o que isso implica. Comporta também uma “conversão“ quem acredita no Senhor, converte-se.
2.3.5 - Conclusão
Os Atos descrevem a atividade apostólica como em uma continuação da obra de Cristo. Os apóstolos ouviram-no falar, pregar, ensinar, revelar.
Recebeu D’ele a missão de testemunhar, sendo seu depoimento constituinte da nossa fé. Essa fé é a resposta do homem a pregação, esta por sua vez é obra divina, despertada pelo Espírito Santo que interiormente fecunda a palavra extenuada e ouvida.
2.4 - São Paulo
São Paulo para penetrar no âmago da idéia de revelação usa as categorias de “mistério e de Evangelho”.
2.4.1 - Os termos
A simples justaposição dos vocábulos usados já indica o movimento de seu pensamento sobre a revelação. Deus revela, torna manifesto, dá a conhecer, ilumina. Os apóstolos falam, ensinam, pregam, anunciam a Boa Nova.
2.4.2 - O mistério Paulino
A teologia paulina é uma soteriologia,� cuja intuição fundamental se exprime com o conceito de mistério. Principalmente nas epístolas do cativeiro é que o termo aparece em toda a sua plenitude: indica então, o plano divino da salvação manifestado e realizado em Cristo.� Reunindo todos esses elementos de diversos textos, podemos dizer que o mistério, de que fala Paulo, é o plano divino da salvação, oculto desde toda eternidade e agora revelado, pelo qual Deus estabeleceu a Cristo como centro da nova economia, constituindo-o, pela sua morte e ressurreição, único princípio de salvação tanto para os gentios como para os judeus, cabeça de todos os seres, anjos e homens. 
2.4.3 - Etapas da revelação do mistério
Pode-se considerar o mistério em diversos planos:
No plano da intenção (mistério de Deus); na fase inicial o mistério de Deus está oculto: segredo de infinita sabedoria. 
No plano da realização, no Cristo e pelo Cristo (o mistério de Cristo); Mas agora o mistério que outrora estava oculto está manifesto, revelado. Pela vida, morte e ressurreição de Jesus o mistério entrou em fase de realização; em Jesus Cristo cumpre-se e ao mesmo tempo revela-se o desígnio salvífico de Deus. O mistério inicialmente é comunicado a testemunhas privilegiadas: os apóstolos e os profetas. São eles os mediadores e os arautos do mistério. 
No plano do encontro pessoal (mistério do evangelho, da palavra e da fé); revelado a testemunhas escolhidas, o mistério é dado a conhecer a todos os chamados a Igreja. São Paulo estabeleceu uma equivalência “concreta” entre o evangelho e mistério. Em ambos os casos temos a mesma realidade, isto é: o plano da salvação considerado porém, sob ângulos diversos. Sob um aspecto, é um “segredo”, desvendado, revelado, manifestado, transmitido ou comunicado; sob outro, é a boa nova, uma mensagem proclamada anunciada. Evangelho e mistério têm o mesmo conteúdo e objeto. Objeto duplo: soteriológico, isto é: a economia da salvação pelo Cristo, e escatológico, ou seja, a promessa da glória com todos os bens destinados aos escolhidos, frutos da cruz e da morte de Cristo. 
No plano da sua extensão a humanidade (o mistério da Igreja).
2.4.4 - Resposta do homem
É pela fé que se tem acesso ao mistério, ao evangelho, a palavra. Fé que é a resposta especifica do homem a palavra do Evangelho. É pela fé na mensagem que os cristãos se abrem para a salvação. A palavra exige ser escutada, acolhida e guardada. A adesão e submissão à mensagem evangélica que não seria possível de forma meramente natural. É preciso um dom da graça: a “iluminação” que venha de Deus como a criação da luz no primeiro dia. Uma unção divina que desperta a fé nos corações dos que ouvem a palavra de Deus. A palavra de Deus não é um simplesmente um enunciado de verdades; é principalmente uma apresentação da pessoa de Cristo, Senhor e Salvador, e do que Ele significa para todo o homem.
- Aprofundamento do mistério
O conhecimento do mistério e do evangelho é um conhecimento dinâmico, sempre em crescimento. Progresso que se prende a sabedoria do desígnio divino, medir-lhe a profundidade, é preciso que tenha uma alma transformada pelo Espírito: exige uma verta maturidade religiosa.
- Revelação histórica e revelação escatológica
A revelação escatológica será plena manifestação e visão. Essa tensão entre a história e a escatologia, entre a economia da palavra e a da visão, da humildade e da glória, é característica de São Paulo.
- Finalidade do mistério
A finalidade imediata da revelação do mistério e da pregação do Evangelho é levar os homens a obediência da fé.� “Tornar todos os homens perfeitos em Cristo”. “Edificar um templo santo do Senhor”. Por fim tem a finalidade “o louvor a glória e a graça” de Deus. 
2.4.8 - Conclusão 
Segundo são Paulo podemos definir a revelação como: “A ação livre e gratuita de Deus que, no Cristo e pelo Cristo, manifesta ao mundo, a economia da salvação, isto é, seu eterno desígnio de reunir tudo no Cristo, Salvador e cabeça da nova criação”. A comunicação desse desígnio se faz pela pregação do Evangelho, confiada aos apóstolos e profetas do novo testamento. A obediência da fé é a resposta do homem a pregação evangélica, sob a iluminação do Espírito Santo; sendo uma adesão amorosa ao plano de sua infinita sabedoria e caridade. A fé dá o começo a um processo de crescimento contínuo no conhecimento do mistério que atingirá seu termo na revelação de visão. 
2.5 - Epístola aos Hebreus
Dirige-se aos judeus cristãos a epístolas aos hebreus. Demonstra a excelência de Cristo como mediador e a superioridade de seu sacerdócio sobre o da antiga aliança. Faz o paralelo entre a revelação da antiga aliança e a da nova aliança. Para a história da noção de revelação a epístola aos hebreus traz duas novidades; comparação entre a revelação da nova aliança e da antiga aliança, grandeza e exigência da palavra de Deus.
- Revelação da antiga e da nova aliança
O paralelo entre a revelação em ambas às alianças apresentam-se desde o primeiro versículo: “Muitas vezes e de muitos modos falou Deus aos nossos pais, nos profetas; nestes últimos tempos, falou a nos no seu Filho, a quem conferiu o domínio de todas as coisas”.( Hb 1, 1-2). Entre ambas as economias há relação de continuidade (Deus falou), diferença (tempo, modo, mediadores, destinatários), e excelência (superioridade da nova economia). Entre a revelação da antiga e da nova aliança e a da nova Aliança existe uma continuidade e semelhança, mas há também diferença e separação. Primeira diferença: de época. Segunda diferença: quanto ao modo. Terceira diferença: quanto aos destinatários. Quarta diferença: os mediadores da revelação.
É a pessoa do Filho que, em última análise, constitui a superioridade da revelação nova sobre a antiga. É a revelação do antigo testamento, feita pelo intermédio dos anjos, e a revelação do novo testamento, feita pelo Filho de Deus e suas testemunhas. A nova revelação pelo contrário vem do céu, por um mediador celeste, Jesus, que inaugura o caminho novo e vivo, através do véu de sua carne.
- Grandeza e exigência da palavra de Deus
O segundo tema que trata a epístola aos Hebreus e sobre a grandeza e as exigências da palavra de Deus, sempre na perspectiva de comparação entre ambas às alianças. O Cristo tem assim direito a uma fidelidade muito superior a merecida por Moises, como Filho constituído sobre a casa. Os cristãos são convidados a entrar no repouso do Senhor, contanto, porém, que ninguém caia no mesmo exemplo da infidelidade.
- Conclusão
Na epístola aos hebreus o termo mais usado para designar revelação é “palavra”. Numa comparação entre as duas fases da economia da salvação, a epístola põe em evidência a continuidade entre as revelações, ao mesmo tempo a excelência da nova revelação. 
2.6 - São João
Nos sinóticos, atos dos apóstolos e nas epístolas de São Paulo, palavra de Deus é a designação que se dá a mensagem evangélica. A grande novidade de São João é a equação que ele estabelece entre o Cristo, Filho do Pai, e o Logos.
- Jesus Cristo, palavra de Deus e Filho de Deus.
O antigo testamento conhecia também a palavra criadora e reveladora, enviada a terra para revelar os segredos de Deus, a Ele retornando uma vez cumprida sua missão. Mas o antigo testamento não entendia (e dificilmente poderia, pelo seu monoteísmo radical) a Sabedoria e a Palavra de Deus como uma pessoa realmente distinta.
Jesus Cristo é a palavra eterna do Pai, como criadora e reveladora, mas enquanto pessoa. Para João o Logos é uma pessoa, que mantém com o Pai o mais íntimo comércio, dele distinta, Deus, no entanto, como ele mesmo, verbo de Deus, palavra de Deus.
- A gesta do Logos
Apresenta-se o prólogo do Evangelho de São João como a gesta do Logos, um resumo da história da manifestação de Deus por sua palavra. Podemos distinguir três etapas dessa economia. A primeira manifestação de Deus é a criança. Tudo criou com a palavra, Deus criou o mundo pela palavra.
Mas, de fato o homem permaneceu surdo a mensagem de Deus e foi um fracasso: “O Logos estava no mundo, e o mundo por Ele foi feito, mas o mundo não o conheceu”. Por isso Deus escolheu um povo e se lhe manifestou pela lei e pelos profetas; mas essa revelação, como a primeira malogrou: “O Logos veio para sua casa e os seus não o receberam”. Finalmente, depois de ter falado pelos profetas, falou-no Deus por seu Filho. Jesus Cristo é a palavra substancial de Deu, o Filho único do Pai. Realiza-se a revelação porque a Palavra se fez carne e assim se tornou mensagem divina, contando-nos em termos e preposições humanas os segredos do Pai, principalmente o mistério de seu amor por seus filhos. Três elementos fazem de Cristo o perfeito revelador do Pai: sua preexistência como Logos do Deus. A encarnação do Logos. A intimidade da vida permanente do Filho com o Pai, antes e depois da encarnação. 
- A revelação no vocabulário Joanino
Para João o Cristo é a palavra de Deus. Os termos que traduzem a visão interior de João prendem-se, em sua maioria a idéia de revelação: palavra testemunho, luz, verdade, glória, sinal, conhecer, saber, ver manifestar etc. testemunhar é afirmar a realidade de um fato, dando a afirmação toda a solenidade exigida pelas circunstâncias. Um processo, uma contestação, forma o contexto natural do testemunho.
- O Cristo, testemunha do Pai
O Cristo fala como testemunha qualificada, pois é palavra de Deus. O essencial do seu testemunho é que o Cristo é o Filho do Pai, o enviado do Pai. o Salvador do mundo e que, pela fé nele depositado é que os homens poderão chegar a vida eterna.
2.6.5 - O testemunho do Pai
De dois modos testemunha o Pai em favor de seu Filho. Em primeiro lugar pelas obras. É o Pai que pelas obras de Jesus, testemunha em favor de seu Filho.
Mas, para que dêem adesão a palavra do Filho é preciso que o Pai arraste os homens e os de ao Filho. A fé um dom do Pai. E mais, o testemunho é uma ação de toda a trindade. O Espírito finalmente, não apenas possibilita a adesão a verdade, mas age também nos corações para que continue sempre ativa a palavra de Deus recebida na fé. É o Espírito que aplica e interioriza a palavra e o testemunho. 
2.6.6 - O Cristo, Deus que revela e Deus revelado
A revelação parte do Cristo e ao mesmo tempo que do Pai. O Cristo é ao mesmo tempo, pois, o Deus que fala e ao Deus ao qual se fala, quem revela o mistério e é o próprio mistério. 
2.6.7 - Características da Revelação
Em primeiro lugar é como um escândalo feito de forma inaudita e inesperada: que a palavra seja feita em forma de carne e que o acontecimento da salvação nos seja trazido por um homem visível e palpável. A palavra de Cristo coloca o homem ante a uma opção decisiva: a favor ou contra a vida.
A revelação, com efeito, é a luz da vida, já no prólogo Joanino o Logus é luz e vida para os homens. A tragicidade da revelação está em o homem pode fechar os olhos a luz, não aceitar o testemunho e correr assim para a ruína.
2.6.8 - Conclusão
Para João a revelação como palavra de Deus é feita carne, e por essa carne, palavra e testemunho formulada humanamente, dirigida imediatamente aos apóstolos e por eles a toda a humanidade, para atestar a caridade do Pai, que envia o seu Filho entre os homens para que, acreditando nele, tenham a vida eterna. 
A revelação é a ação sumamente livre e amorosa, pela qual Deus, numa economia de encarnação, já de alguma forma iniciada no antigo testamento (pela instrumentalidade da palavra profética), dá se a conhecer em sua vida íntima e no desígnio amorosos que eternamente formou de salvar e reconduzir a si todos os homens pelo Cristo. Ação que se realiza pelo testemunho exterior do Cristo e dos apóstolos e pelo testemunho interior do Espírito que opera internamente para a conversão dos homens ao Cristo. Esse testemunho do Cristo e dos apóstolos é ampliado e confirmado pelos sinais de poder. Dessa forma, pela ação conjunta do Filho e do Espírito, o Pai manifesta e realiza seu desígnio de salvação. 
II – PARTE: O TEMA DA REVELAÇÃO NOS STOS PADRES
Para bem situar a contribuição de Orígenes, seria preciso escrever, pelo menos brevemente, uma história da função reveladora do Verbo encarnado antes de Orígenes. Os historiadores, do dogma, absorvidos por outros problemas (Trindade, cristologia, soteriologia, teologia sacramental etc), não chegaram a perceber suficientemente a grande importância do tema da revelação na teologia dos três primeiros séculos.
É claro que nenhum dos santos padres puderam escrever um tratado sobre a revelação, apesar de muitas vezes podemos encontrar dispersos em seus escritos quase todos os elementos necessários para uma síntese doutrinal sobre o assunto. 
CAP. I – PRIMEIRAS TESTEMUNHAS
1.1 - Os padres apostólicos:
1.1.1 - O autor da didaché recomenda que ninguém se separe dos “mandamentos do Senhor”, mas que todos sigam “a regra do Evangelho”, conformando-lhes as ações.
1.1.2 - Clemente de Roma: atesta a fé recebida. Uma das características de sua epístola é a fidelidade a herança que recebera dos apóstolos e que transmite integralmente. O Cristo é apresentado como mestre cujo ensinamento leva a salvação, sendo os apóstolos mensageiros da Boa Nova por ele anunciada.
1.1.3 - Policarpo (bispo de Esmirna) recomenda aos filipenses que marchem no caminho da verdade traçado pelo Senhor, que sejam “dóceis a palavra da justiça”. Insiste sirvamos ao Senhor “como ele mesmo nos mandou”, assim como os apóstolos que nos pregaram o Evangelho e os profetas que nos anunciaram a vinda do Senhor. 
1.1.4 - Pápias: estabelece oposição entre os “mandamentos estranhos” e os mandamentos dados pelo Senhor, a fé nascidos a própria verdade.
1.1.5 - Inácio de Antioquia: está todo impregnado do novo testamento, principalmente de Paulo e João. Vê em Cristo o conjunto de verdade e da vida, o mediador da revelação e da salvação. Antes de se encarnar, manifestar-se o verbo pela criação do mundo; depois em todo o antigo testamento: os profetas pelo Espírito eram seus discípulos, e o ouviam como a seu mestre.
Os padres apostólicos vêem no Cristo o todo da revelação e o todo da salvação. Nele, verdade e vida estão inseparavelmente unidas. Na encarnação do Filho termina e atinge o seu ponto mais alto a economia da revelação. O Cristo é o conhecimento do Pai. 
1.2 - Os Padres apologetas
Procuram nos sistemas filosóficos do século segundo todos os recursos que pensam poder encontrar e apresentar o evangelho ao mundo helênico, definindo em categorias desse mesmo mundo. Assim, pensam eles, o mistério cristão atingirá essas almas sem as espantar. A teologia, pois, dos apologetas será elaborada a partir da teologia do Logos. Será uma teologia da manifestação do Deus transcendente pelo Logos criador, revelador e salvador.
1.2.1 - São Justino
No pensar de são Justino, o Pai, transcendente, incognoscível, invisível, age através do Logos: por ele criou o mundo; por ele fez conhecer; por ele opera a salvação do mundo. O Logos exerce também a função religiosa como revelador e salvador. Sua ação reveladora, difundida na humanidade manifesta-se mais claramente entre os judeus e nos profetas e é total somente em Jesus Cristo.
Segundo São Justino, toda verdade origina-se do Logos ou Verbo divino. Em cada homem há uma semente, um “germe do Logos”, que lhe permite atingir parcialmente a verdade e exprimi-la. Foi devido a essa participação e sementes do Logos que os filósofos pagãos puderam perceber
alguns raios da verdade merecendo assim o título de cristãos. 
Os profetas são as testemunhas de Deus: “viram e anunciaram a verdade aos homens”. Para falar não usaram demonstrações porque acima de qualquer demonstração era, eles as dignas testemunhas da verdade. 
A doutrina de Justino é doutrina de salvação: o Logos se fez homem, para trazer uma doutrina que renovasse e regenerasse o gênero humano. Doutrina que, contida nas memórias dos apóstolos, “que denominamos Evangelhos”. Somos convidados a receber na fé, conformando-lhe nossa vida. Adesão que se realiza pela “graça” (pois ninguém pode ver ou compreender se Deus e seu Cristo não lhe dão a compreender).
1.2.2 - Atenágoras
Atenágoras acentua que Deus é invisível e incompreensível: somente Deus nos pode ensinar algo sobre Ele. Os preceitos cristãos não são preceitos humanos, foram proferidos e ensinados por Deus. Atenágoras reconhece que o Deus invisível pode, por suas obras ser conhecido pela razão. A ordem do universo manifesta o criador, artífice e arquiteto da beleza e da harmonia invisíveis.
Os filósofos “conseguiram conceber, mas não encontram o ser, pois não se dignaram a aprender de Deus o que Deus se refere, mas de si mesmo o quiseram aprender. É por isso que cada um apresentou opinião diferente sobre Deus, sobre a natureza,sobre as formas e o mundo”.
1.2.3 - São Teófilo de Antioquia:
Também admite que a razão pode apresentar certa demonstração da existência de Deus. Teófilo insiste na importância dos profetas na economia da revelação.e afirma que somente os cristãos possuem de fato a verdade, porque foram instruídos pelo Espírito Santo, que falando nos santos profetas, tudo predisse. 
1.2.4 - Epístola a Diogneto:
Conforme o autor da epístola a Diogneto os cristãos são “defensores de uma doutrina humana”, de origem terrestre: sua fé vem do próprio Deus que “entre os homens estabeleceu a verdade, o Logos santo e incompreensível.”
Pela fé conhecemos a Deus de uma maneira eficaz. Se alguém se espanta de a revelação ter vindo tão tarde, responder o autor que a revelação se realiza no tempo, ma realiza um desígnio eterno do coração de Deus. A epístola insiste na continuidade entre a missão do Logos e a missão da Igreja. O que o Verbo ensinou, e os apóstolos receberam, continua na Igreja. 
1.2.5 - Conclusão:
Mesmo reconhecendo a razão humana poder chegar a certo conhecimento de Deus e captar elementos de verdade moral e religiosa, os apologetas concluem ser necessária a revelação para chegarmos a um conhecimento autêntico do Deus incognoscível e transcendente. 
CAP. II – SANTO IRINEU
A obra de santo Irineu insere-se num contexto de polêmicas antignósticas. Os sequazes de Ptolomeu e Marcião fazem do Cristo o revelador de um Deus desconhecido no AT: teria o Cristo revelado um Deus distinto do Deus da lei e dos profetas. 
Santo Irineu diz que: é impossível conhecer a Deus sem Deus, o Verbo de Deus é que ensina a humanidade a conhecê-lo. É no comentário a Mateus (11, 25-27) que Irineu expressa o que pensa sobre a ação reveladora de Deus e sobre seus fundamentos trinitários dessa ação. “ninguém, pode conhecer o Pai a não ser pelo Verbo de Deus, isto é, se o Filho não o revela. Nem se pode conhecer o Filho se não ao bel prazer do Pai”.� Irineu admira a maravilha unidade e progressão do plano da revelação. Com o Verbo encarnado culmina um processo que se desenvolve desde a origem do mundo: inicialmente pela obra da criação, depois pela lei e pelos profetas, finalmente pela encarnação. 
A correlação entre ambos os testamentos está situada também na perspectiva da economia ou do plano salvífico concebido e realizado por Deus numa história culminada no Cristo. Desde Abraão até o Cristo e os apóstolos, é o mesmo Deus que age, faz suas promessas e as cumpre, seguindo um plano simultaneamente uno e multiforme.
A criação é a primeira etapa da revelação: “é o Filho que aparece, não o Pai: todas as visões desse tipo indicam o Filho de Deus falando e conversando com os homens, pois não é o Pai de todos e o criador do universo... que veio falar com Abraão nesse recanto de terra, mas o Verbo de Deus sempre estava com o gênero humano e que de antemão anunciava os acontecimentos futuros, ensinando aos homens as coisas de Deus”.
A revelação tem características que a distinguem de qualquer doutrina humana. Em primeiro lugar, é essencialmente obra da graça. Em segundo lugar, a revelação é obra de salvação.
Para santo Irineu revelação é: “A epifania de Deus no Cristo e pelo Cristo; é a manifestação do Pai pelo Filho e por todos os meios de expressão possibilitados pela encarnação”.
CAP. III – TESTEMUNHAS DA IGREJA GREGA
3.1 - Os alexandrinos
3.1.1 - Clemente de Alexandria
Clemente procura em primeiro lugar a revelação de Deus: “se, por alguma hipótese, oferecesse aos gnósticos a escolha entre o conhecimento de Deus e a salvação eterna, como se fossem realmente distintas, quando sabemos serem, ao contrário, idênticas, ele não hesitaria um momento em escolher o conhecimento de Deus.” No centro da história humana, como no centro de sua teologia, Clemente coloca o Logos encarnado, o Cristo, fonte de todo o conhecimento e salvador dos homens. 
Como Justino e Irineu, Clemente atribui ao Logos as teofanias. É o Logos quem fala com Abraão, faz as promessas a Jacó, luta com ele. Ao revelar o Verbo tem um só fim: salvar a humanidade: desvenda toda a verdade aos homens para mostrar-lhes a sublimidade da salvação.
A teologia de Clemente situa a própria filosofia na órbita da economia da revelação. Considera-a como um “dom de Deus aos gregos”. A filosofia foi dada aos gregos tendo-se em vista a sua salvação “Antes da vinda do Senhor à filosofia era necessária aos gregos para a justificação”.
- Orígenes
O sistema de Orígenes edifica-se a partir de Deus. “Quando se vê a imagem de alguém, vê-se aquele de quem é a imagem: assim, pelo Verbo de Deus, sua imagem, veremos a Deus”. Orígenes exprimiu-se quase com as mesmas palavras de Clemente. O Verbo procede do Pai, do qual é o revelador nato enquanto sua imagem e palavra. O verbo está naturalmente qualificado para sua missão de revelador, pois antes mesmo de ser enviado para o meio dos homens, ele já é no seio da Trindade a imagem reveladora do Pai.
O Verbo fez-se carne e habitou entre nós, para levar-nos, a nós que éramos carne, a vê-lo tal qual era antes de se fazer carne. A visão material não basta então para nos dá a conhecer o Verbo de Deus. 
Para Orígenes o próprio Cristo, em o Novo Testamento, não se manifestou senão progressiva e parcialmente , pois se o Verbo tivesse manifestado toda a sua glória, o mundo inteiro não poderia conter. A vinda de Cristo é uma promoção do todo o AT. “A luz contida na lei de Moises, oculta sob um véu, brilhou quando da vinda de Jesus, que afastou o véu e fez conhecer rapidamente os bens cuja sombra se continha na terra”. Contra aqueles que queriam dividir os dois Testamentos Orígenes diz: “O Antigo e o Novo Testamento, devem ser lidos do mesmo modo: para se ter o espírito das escrituras, que é o espírito de Cristo, é preciso ter o Espírito de Cristo”. 
Segundo Orígenes a função do teólogo é escrutar as escrituras, pois ali está contida toda verdade. Quanto a revelação natural e a filosofia, Orígenes é muito mais moderado do que Clemente.
3.1.3 - Santo Atanásio
Além do ensinamento de Cristo, Atanásio distingue duas fontes do conhecimento de Deus: uma direta e interior; outra, pelo testemunho da criação. Atanásio fala sobre o conhecimento de Deus por um caminho interior, sendo o homem a imagem e semelhança de Deus, pode conhecer a imagem que é o Verbo de Deus, e nele pode conhecer o Pai,antes mesmo que a imagem se manifeste pela encarnação: “Quando a alma se liberta de qualquer mancha deixada pelo pecado, e não guarda a pureza total senão a semelhança da imagem, por isso mesmo, quando essa imagem é iluminada, como num espelho, pode nela contemplar o Verbo – imagem do Pai – nele contempla o Pai, cuja imagem é o Salvador”.
3.1.4 - São Cirilo
de Alexandria
Seguindo a Escritura Cirilo repete que ninguém viu a Deus e que o conhecimento do Pai nos vem pelo Filho. O Cristo, Verbo encarnado, é a porta e o caminho que conduz ao conhecimento do Pai. Para designar a função reveladora do Cristo, Cirilo dá o título de luz.
3.2 - Os Capadócios
O problema da revelação não preocupa os Capadócios. Em seu horizonte o primeiro plano é ocupado pela Trindade e pela Cristologia. Para eles, a partir do mundo visível, pode o homem chegar a conhecer a Deus, sua existência e seus atributos, mas a essência mesma de Deus continua sendo trevas que não se pode penetrar totalmente.
3.2.1 - São Basílio
São Basílio ensina que somente o Filho e o Espírito conhecem intimamente o Pai. A são Basílio, porém, mais do o dom da doutrina revelada, interessa sua plena assimilação e frutificação na alma por uma “iluminação da gnose”. A gnose é um elemento essencial na assimilação progressiva a Deus, da divinização do cristão. 
3.2.2 - São Gregório de Nissa
Insiste, contra Eunômio, na inacessibilidade da essência divina. Deve-se, contudo, distinguir entre o conhecimento de Deus autor do mundo e o da sua essência.
Deus não apenas se deixa conhecer pela pregação silenciosa do universo, mas vem ao encontro do homem estabelecendo com ele uma comunicação pessoal.
Conclusão: Os capadócios,ao mesmo tempo em que se opõem a Eunômio, reconhecem duplo caminho de acesso no conhecimento de Deus: pela criação visível e pelo ensinamento da fé. Por Cristo nos vem o conhecimento dos mistérios divinos.
3.3 - São João Crisóstomo:
São João Crisóstomo escreve contra os anomeus: repete que Deus, mesmo depois da revelação, continua o Deus oculto e incompreensível. Fala, porém, de forma mais pastoral. Deus é o incompreensível, o inenarrável segundo Crisóstomo e que o perfeito conhecimento de Deus é privilégio do Espírito Santo. 
São João Crisóstomo, não proíbe aos cristãos de aprofundar na fé; recusa, porém, as especulações. Se Deus fala, o homem deve conformar sua vida aos ensinamentos divinos. 
Para Ele, só o Filho e o Espírito conhecem perfeitamente a Deus. O que dele sabemos, nos vem pelos profetas e principalmente pelo Xto, o Filho do Pai que veio trazer aos homens o conhcto da economia salvífica oculta aos anjos e as nações.
São João Crisóstomo não apresenta nada de sistemático sobre a revelação.
CAP. IV – TESTEMUNHAS DA IGREJA LATINA
4.1 - Tertuliano
Para Tertuliano a doutrina revelada e transmitida se identifica, praticamente com as escrituras. Mais que Irineu, insiste Tertuliano no caráter concreto da sucessão apostólica, sobre a assistência do Espírito Santo na transmissão da doutrina revelada. A doutrina da verdade está consignada nas Escrituras, conforme são lidas e entendidas pelas Igrejas apostólicas. 
- São Cipriano
Cipriano, para designar a ação reveladora de Deus adota o termo tradição. O mesmo se deve dizer da tradição apostólica. Cipriano dá, pois, ao termo tradição o sentido ativo e forte de primeira comunicação da verdade, ou seja, revelação. A fonte de origem da verdade cristã é a tradição evangélica e apostólica ou ensinamento do Cristo e a pregação dos apóstolos.
4.3 - Santo Agostinho
Revelação para santo Agostinho: “A revelação não é a comunicação aos homens de uma verdade abstrata: insere-se no tempo e toma forma de uma história: nesta religião o ponto essencial que se deve admitir é a história e a profecia do modo como a providência divina realizará no tempo a salvação do gênero humano, restaurando-o e renovando-o para a vida eterna”. Realizada numa economia de encarnação, a revelação utiliza todos os caminhos da carne.
Como os outros padres da Igreja. Agostinho não tratou ex professo do conceito da revelação, Agostinho afirma que a visão de Deus agora nos é impossível. O mediador de toda a revelação é Jesus Cristo, Verbo de Deus, que por suas palavras e ações veio manifestar-nos e Evangelho de Salvação.
4.4 - Conclusões
4.4.1 - A onipresença do tema da revelação
O incognoscível saiu de seu mistério e manifestou-se aos homens: primeiro ao povo judeu, pela lei e pelos profetas, depois a humanidade toda pelo Cristo, Verbo encarnado, que veio pessoalmente contar-nos os mistérios do Pai. Esse tema da revelação tem diversas causas:
As primeiras gerações cristãs estão ainda sob o impacto da grande epifania.
A preocupação de atingir os pagãos leva os pensadores cristãos a procurar pontos de aproximação entre o cristianismo e o pensamento contemporâneo.
Também os primeiros hereges levaram os pensadores cristãos ao terreno da revelação.�
4.4.2 - Conhecimento natural e o conhecimento sobrenatural
Os padres da Igreja afirmam que Deus é “inefável e incompreensível”. Pelo fato de ser incognoscível aí se percebe a necessidade da revelação.
4.4.3 - Os dois Testamentos: unidade e progresso
No começo do cristianismo um dos maiores um dos maiores problemas é o da relação entre os dois testamentos. Os judaizantes querem conservar a primazia da revelação profética, enquanto os marcionitas estabelecem uma oposição entre ambos. Os padres da Igreja examinaram a relação entre a lei e o Evangelho. salientam a unidade profunda de ambos: “Um só e mesmo Deus é o autor da revelação por seu Verbo ou Logos, sendo a criação, as teofanias, a lei e os profetas, a encarnação etapas dessa única e contínua manifestação de Deus através da história humana”.
4.4.4 - As etapas da revelação
Os pontos principais são: de um lado a lei e os profetas; de outro, os apóstolos e a Igreja; no centro e no ápice o Cristo.
III – PARTE: A NOÇÃO DE REVELAÇÃO NA TRADIÇÃO TEOLÓGICA
CAP. I – A ESCOLÁSTICA DO SÉCULO XIII
Aqui interessa a revelação imediata dirigida aos profetas. Partindo dos dado da Escritura, tradição e ensino da Igreja que descrevem e concebe a noção de revelação. Não é preocupação dos escolásticos do século XIII nem da teologia que os procedeu interrogar-se especialmente sobre a natureza e as propriedades da revelação Cristã. 
1.1 - São Boaventura (1221)
São Boaventura fala ocasionalmente sobre a revelação em seu, “Comentários das Sentenças” de Pedro Lombardo e nos seus comentários bíblicos; fala mais explicitamente em seus comentários bíblicos.
1.1.1 - Revelação e economia da Salvação
O emprego do termo revelação no proêmio ao comentário das sentenças indica-nos a inclinação de seu pensamento: a revelação é luz para o Espírito.� São Boaventura chama a revelação luz interior ou iluminação certa.
Deus revela algo a humanidade quando fala ao homem, isto é, ilumina seu espírito. Revelação, palavra, iluminação são termos conversíveis.
A revelação é uma ação comum a trindade; atribui-se, porém, especialmente ao Filho e ao Espírito. Contudo, o Filho e o Espírito não nos revelaram tudo, mas apenas o necessário para a salvação. A revelação começou com os profetas e só com Cristo e os apóstolos projetaram sua luz total. 
1.1.2 - A revelação profética
Sua doutrina depende de Santo Agostinho e, mais diretamente, de seu mestre Alexandre de Hales. Seu pensamento reduz-se a: primeiro deve se distinguir profecia e dom de profecia. O dom de profecia é um habito que para agir exige uma iluminação divina atual. A profecia por si mesma é um ato transitório. O que caracteriza o verdadeiro profeta é a iluminação para que compreenda o que vem representado. Chama-se infusa essa iluminação, pois que eleva o espírito ao conhecimento do que, por suas próprias forças, não poderia perceber. Podemos, com efeito, distinguir três modos de revelação profética: sensível, imaginativa e intelectual.� 
1.1.3 - Fé e revelação
Da revelação, nasce a fé da ação conjugada da palavra exterior e da palavra interior, do ensinamento e da pregação que fere os ouvidos e do ensinamento do Espírito Santo que fala no segredo do coração. 
1.1.4 - Conclusão
Para São Boaventura a revelação designa em primeiro lugar a ação iluminadora de Deus ou a iluminação subjetiva resultado dessa ação. Tal é a revelação feita aos profetas. Também o ensino de Cristo é entendido como uma iluminação da
humanidade. São Boaventura não distingue claramente as duas noções da revelação e de inspiração. Seguindo a Escritura ele igualmente chama de revelação a iluminação interior pela graça da fé. Salienta o caráter trinitário da ação da revelação, como também no aspecto da economia. Na importância dada a iluminação, percebemos as perspectivas agostinianas. Entre a iluminação do conhecimento natural, da revelação, da fé, da contemplação e da visão Boaventura percebe uma continuidade e um aprofundamento dos dons divinos.
1.2 - Santo Tomás de Aquino (1225)
“Santo Tomás fala várias vezes de revelação: considera-a como operação salvífica, que procede do livre amor de Deus e proporciona ao homem luzes indispensáveis ou simplesmente úteis na busca da salvação; ou como um acontecimento histórico, que se desenrola no tempo e atinge os homens de todos os séculos numa complexa economia de intermediários, de etapas e de modalidades”. 
1.2.1 - A revelação como operação salvífica
Iniciando a suma, Santo Tomás coloca o fato fundamental da revelação como ponto de apoio e de fé cristã. Inspirado pelo livre amor divino, a revelação existente para a salvação do homem. A revelação de verdades de ordem natural sobre Deus e nossas relações com ele, mesmo não sendo absolutamente necessário, era moralmente requerida. 
Santo Tomás considera, pois, a revelação como a ação do Deus da salvação que, livre e graciosamente, fornece aos homens todas as verdades necessárias e úteis para a consecução do fim sobrenatural.
1.2.2 - A revelação como acontecimento da história
A revelação, acontecimento no tempo, apresenta-se a Santo Tomás como uma operação hierárquica, sucessiva, progressiva, polimorfa.
A revelação hierárquica é começada com os anjos e depois os homens: primeiro os maiores entre eles, isto é, profetas e apóstolos. Atinge depois a multidão dos que acolhem a fé.
A revelação é marcada pela sucessão: não se realiza de repente, mas por etapas, que são realizações parciais do desígnio divino. A primeira etapa é patriarcal, destinada a apenas a algumas umas famílias.
A revelação polimorfa (de várias formas) para se tornar conhecido, Deus não desdenhou nenhum meio de comunicação.
1.2.3 - Revelação profética como carisma de conhecimento
Para Santo Tomás profecia é ”Conhecimento, sobrenatural dado ao homem, de verdades que atualmente superam o alcance de seu espírito, que lhe são manifestadas por Deus para o bem da comunidade”. A profecia em primeiro lugar e principalmente é um conhecimento e secundariamente locução.
1.2.4 - Revelação, Escritura, Igreja
O conjunto dos conhecimentos que Deus revelou aos profetas e aos apóstolos chama-se “Doutrina Sagrada”. O objeto da nossa fé é a verdade primeira posta na Escritura, compreendida, porém, segunda a sã doutrina da Igreja. Deus propôs sua doutrina diretamente aos profetas e apóstolos; a nós propõe pela Igreja.
1.2.5 - Da revelação a fé:
Os homens, ao contrário das grandes testemunhas de Deus, apóstolos e profetas, chegam a revelação apenas mediante: de um intermediário humano é que recebem a verdade da fé. 
1.2.6 - Revelação como grau no conhecimento de Deus
Revelação e fé não existem por si mesmas, mas para a visão, pois o fim do homem é chegar, um dia, a contemplar face a face o divino. Nesse sentido a revelação é um conhecimento imperfeito, um momento de nossa iniciação a visão. “De três modos o homem pode conhecer as coisas divinas; pelo primeiro o homem, graças a luz natural da razão, eleva-se ao conhecimento de Deus pela razão; pelo segundo, a verdade divina que ultrapassa os limites de nossa inteligência, desce a nós pela revelação não como evidentemente demonstrada, mas como palavra que se deve crer; pelo terceiro, a alma será elevada para ver perfeitamente o que lhe fora revelado”.
1.2.7 - conclusões
A base da teologia e da fé católica, Santo Tomás coloca o fato primordial da revelação: operação salvífica pela qual Deus, não querendo deixar o homem entregue apenas aos recursos da razão, fornece-lhes todas as verdades necessárias e úteis para a salvação.� Esta operação se realiza por etapas sucessivas, progredindo tanto no âmbito como na compreensão das verdades reveladas. Dos patriarcas e profetas até os apóstolos, formam o depósito sagrado da verdade revelada. A encarnação de Cristo marca a plenitude e a consumação da revelação.
Santo Tomás interessa-se principalmente pela revelação imediata, e mais especificamente pela profética. Esta é para ele, essencialmente um ato cognoscitivo: graças a uma iluminação especial, o profeta julga com certeza e sem erro, conforme a intenção divina, os objetos presentes a sua consciência, chegando assim a posse da verdade que Deus lhe quer comunicar.
O conjunto de verdades que Deus nos dá a conhecer denomina Santo Tomás doutrina que procede da revelação, doutrina sagrada, verdade de fé. Duas coisas são exigidas na fé: “um objeto para ser crido, verdades propostas e o assentimento a essas verdades”.
1.3 Duns Scot
Para ele a revelação é a tradição ativa que faz ao homem da doutrina necessária ou útil para a salvação. Doutrina comunicada aos profetas mediante imagens ou por uma ação direta de Deus na inteligência: palavra interior de Deus, iluminação do profeta.
A ação reveladora do Xto e dos apóstolos é brevemente delineada: o Xto promulga e transmite, os apóstolos promulgam e transmitem à Igreja. 
Características comum do conhecimento dos profetas e dos apóstolos: a certeza inabalável do seu conhecimento.
A doutrina da salvação está contida na Escritura e, complementariamente, na Tradição ou costume universal da Igreja.
CAP. II – ESCOLÁSTICOS PÓS –TRIDENTINOS
No século XVI, o movimento humanista e a necessidade de reagir contra a intemperança do iluminismo protestante suscitam na Igreja um conjunto de novas questões e um imenso esforço que levam a criar uma teologia que estuda as fontes da Revelação por si mesma com maior atenção. Trata-se de uma luta contra a concepção protestante de uma Revelação imediata do Espírito Santo a cada fiel, procurando demonstrar que é suficiente a Revelação mediata.
Melchior Cano e Domingos Banes
Em seus escritos a noção de Revelação aparece apenas indiretamente, por ocasião da análise da fé.
Entende que para se chegar a fé é preciso alguns elementos exteriores (pregação persuasiva, milagres) que induzem a crer, porém, toda persuasão externa e humana não basta, é ainda necessária uma causa interior, isto é, uma luz divina que incite à fé, olhos interiores dados por Deus para ver.
Diz ainda que o fundamento último de nossa fé não é a autoridade da Igreja nem da Escritura, mas a autoridade de Deus que revela. Limita-se a chamar de Revelação a Revelação incriada, que existe em Deus, ou então a iluminação interior da graça de fé que induz a crer. Não chama de Revelação a doutrina de salvação proposta pela pregação da Igreja. 
O seu discípulo Domingos Banes, entende o mesmo modo de Revelação (o efeito que Deus, revelando, produz em nós, efeito pelo qual alguma coisa nos e formalmente manifestada ou revelada).
Francisco Suares
Insiste na Revelação mediata. Revela-se Deus à multidão, não, porém, imediatamente, mas por seus legados.
Tendo Cristo instruído a Igreja apostólica, é pela Igreja que ele instrui cada fiel, “tanto que uma definição da Igreja equivale a uma Revelação”. Logo, quem ouve a Igreja, ouve o próprio Deus que lhe fala. 
Revelação no sentido estrito
É a simples proposição suficiente do objeto revelado, acredite ou não aquele a quem se faz essa Revelação, seja feita interna e imediatamente por Deus mesmo, ou por seus anjos, ou que se faça externamente pela pregação humana. Considera a Revelação a partir do objeto (que se deve crer sub divina auctoritate). Sendo necessário duas coisas para o conhecimento da fé: primeiro a apreensão do que se deve crer; em segundo o assentimento ao que foi proposto. 
Iluminação ou revelação do objeto e da potência
A fé vem de Deus, tanto quanto ao objeto como quanto ao socorro ou à virtude sobrenatural
dada à potência. A doutrina é de Deus e a graça é de Deus. Sob ambos os aspectos podemos devidamente chamá-la de iluminação. Assim, têm-se duas formas de iluminação com uma importante diferença: enquanto a iluminação ex-parte objecti pode ser feita por Deus ou por seus anjos, a iluminação ex parte potentiae faz-se sempre imediatamente por Deus.
Os teólogos distinguem entre a Revelação necessária à fé e a infusão do hábito, entre a Revelação propriamente dita (percebida pela inteligência) e o instinto divino (a infusão da fé não é percebida pelo espírito, mas é operada invisivelmente pelo próprio Deus).
João de Lugo
A revelação como palavra
Tanto a Revelação mediata como a imediata são consignadas pela Escritura como PALAVRA DE DEUS. Afirma que para se verificar o conceito de palavra não basta que apresentemos a alguém um objeto; é preciso que também lhe manifestemos o que pensamos desse objeto. A palavra de per si e imediatamente ordena-se a manifestar-se a alguém o pensamento de quem fala. Na Revelação imediata (os profetas, por exemplo), Deus pode servir-se de sinais sensíveis, como a palavra humana, e assim manifestar o seu pensamento; ou então, agindo internamente, pode gerar imediatamente o conhecimento do objeto que deseja comunicar, manifestando-o como sendo verdadeiramente o objeto de seu pensamento. O mesmo se diz da palavra mediata pela qual Deus atualmente nos propõe o mistério da fé. 
Revelação e hábito ou auxílio da fé
Deus não nos fala enquanto nos dá habitus da fé. Deus, dando-nos a inteligência e o habitus da fé, dá-nos a faculdade que nos torna capazes de ouvir sua voz e de acreditar; não se diz porém, que ele fala, pois a palavra é produção de verbos que exprimem o pensamento de quem fala (a inteligência, ou o habitul da fé, não é verbo de Deus), por isso, a sua produção não é de forma alguma palavra ou Revelação de Deus, portanto, o instinto interior não é nem total nem parcialmente, palavra de Deus). Distingue claramente entre moção interior, que dispõe e inclina ao assenso da fé e ao ensinamento
CAP. III – A RENOVAÇÃO ESCOLASTICA DO SÉCULO XIX
De 1760 a 1840, a Teologia, em de procurar sua inspiração na grande tradição cristã de Santo Agostinho, Santo Tomás, São Boa Ventura, procura seu fundamento nas filosofias sempre mutante da época. Cada vez mais se avilta e cai no marasmo do filosofismo.
De modo particular Pio lX reafirma os direitos do sobrenatural ante o racionalismo e dá novamente à Teologia seu verdadeiro sentido. Nessa renovação sobressaem alguns nomes, tais como Möhler, Kleutgen, Denzinger, Franzelin, Scheeben. ... todos tiveram que falar da Revelação, ... pelo menos para afirmar sua possibilidade e realidade. 
João Möhler
Mais que todos, Möhler foi, na Alemanha, o chefe da renovação teológica. Sua obra “A Unidade da Igreja” é um protesto da vida contra a anemia do reino das luzes. Nessa obra apresenta a Igreja como uma realidade viva, ativa, criadora, que o Espírito do Cristo vivifica sempre. “Para quem penetra o conjunto de nossa fé, a vida do Espírito em nós tem prioridade sobre o ensinamento ou a fé formulada”. 
O que Cristo fizera, fizeram-no os apóstolos por sua vez, formando eles também outros discípulos. Assim, através dos séculos, a Igreja invisível veio sempre da Igreja visível: “Essa ordem exigia a idéia de uma Revelação exterior e histórica, que, por sua própria natureza, exigia um magistério permanente, determinado, exterior, ao se deve referir quem quer que deseje conhecer essa Revelação”... Em Lutero, a autoridade exterior da Igreja transformou-se em autoridade interior e a palavra exterior reconhecida como divina tornou-se voz interior do Cristo e de seu Espírito. A posição protestante... Esquece “que a Revelação interior é condicionada pela palavra exterior e que a inteligência da palavra interior é condicionada pela palavra exterior que se dirige ao homem”.
Se Möhler salienta ao máximo o caráter de objetividade e de exterioridade da Revelação, foi por ter escrito contra os protestantes que tudo sacrificam à subjetividade e à interioridade. 
H. J. Domingos Denzinger
Não foi um inovador como Möhler, muito contribuiu, porém, para uma teologia mais positiva. Ou seja, em poucas palavras: o objeto imediato da Revelação é a própria verdade como verdade, e a Revelação é a comunicação desse objeto pela palavra ou por um sinal adequado, ou pela contemplação direta.
J.B. Franzelin
Como Möhler e Denzinger, também Franzelin orienta seu ensino para as pesquisas positivas. 
Quando Deus fala aos homens, diz, seja imediatamente, como aos profetas e aos apóstolos, seja mediante seus legados, faz que sua palavra seja reconhecida por sinais que a garantem como sendo realmente sua. Esses sinais são os milagres e os carismas sobrenaturais: “o falar divino consiste em palavras como sendo locução divina”. “Pois Deus não fala somente pelas palavras, mas ao mesmo tempo pelas palavras e pelos fatos”. 
Esses fatos, realizados pelo Cristo e pelos apóstolos, pertencem agora à Igreja e constituem sua herança.
Em resumo, eis como Franzelin entende a Revelação: Toda verdade salvífica foi revelada aos apóstolos por Cristo, que ensinava visivelmente e pelo dom de seu Espírito. Essa verdade é o Evangelho que os apóstolos devem pregar a toda criatura e transmitir à Igreja. Esta, por sua vez, conserva e prega a verdade total, definitiva, que recebeu dos apóstolos.
J. Henrique Newman
Ao falar, de passagem, da Revelação, Newman reconhece-lhe as seguintes características: Primária e essencialmente a Revelação é um conhecimento religioso.
Em segundo lugar, a Revelação é um mistério. Dá-nos esclarecimento sobre Deus, mas não suprime o mistério que o rodeia. 
Em terceiro lugar, a Revelação apresenta-se como uma economia. Fez-se em etapas sucessivas, progredindo em qualidade e quantidade, até a plenitude do Cristo. A encarnação é, por excelência, o tipo dessa divina economia.
Em quarto lugar, a Revelação é doutrinal. Transmiti-nos um ensinamento, uma mensagem. 
Finalmente, a Revelação é dogmática: impõem-se autoritativamente. O cristianismo é uma “revelatio revelata”, é uma mensagem definida de Deus para o homem, transmitida por instrumentos escolhidos e recebida como tal mensagem o merece: positivamente recebida, aceita e defendida como verdadeira... vinda daquele que não pode enganar-se nem enganar-nos... É religião dogmática justamente porque religião revelada. Diga-se o mesmo de sua imutabilidade.
M. J. Scheeben
Segundo ele, podemos distinguir três formas de Revelação.
Num sentido amplo, revela-se Deus ao homem pelas obras da criação que refletem seu poder e suas perfeições, pela comunicação da luz interior da razão que nos torna capazes de conhecer as obras de Deus e o próprio Deus em suas obras. Ação que merece ser chamada locução divina.
“Em sentido mais estrito e elevado”, Revelação é o ato pelo qual um espírito apresenta a outro o objeto de seu próprio conhecimento, possibilitando-lhe que, mesmo sem ver por si mesmo o objeto, aproprie-se de seu conteúdo, apoiando-se nas luzes de quem se lhe revela. O veículo dessa Revelação é a palavra dita (locutio formalis).
“Num sentido mais estrirto ainda e também mais alto, denomina-se Revelação divina uma manifestação pela qual Deus torna nosso conhecimento inteiramente conforme ao seu, de modo que o conhecemos como ele a si mesmo se conhece: é a visão face a face”. Nessa Revelação, a manifestação objetiva, real ou verbal, é substituída pela visão sem véu da natureza íntima de Deus. 
Para Scheeben, Revelação é, no sentido estrito, a comunicação ao homem do pensamento divino mediante a palavra humana do Cristo, Logos encarnado.
Outro mérito de Scheeben é ter posto em evidencia o caráter ao mesmo tempo sobrenatural e histórico da Revelação.
O caráter histórico da Revelação mostra-se nas sucessivas fases de sua realização temporal. Na Revelação pública Scheeben distingue duas fases: a Revelação feita à humanidade em seu estado de pecado, Revelação evangélica e redentora. Essa, por
sua vez, realiza-se em duas etapas: a Revelação preparatória do Antigo Testamento e a consumação em o Novo Testamento. O progresso da Revelação é extensivo: a Revelação patriarcal dirige-se a uma família; a mosaica, a um povo; a cristã, à humanidade toda. É também quantitativo e qualitativo: o campo da Revelação alarga-se sem cessar e a luz difundida é cada vez mais abundante. Em Jesus Cristo temos a plenitude da Luz e da Verdade.
CAP. IV – TEOLOGIA DA REVELAÇÃO NO SÉCULO XX
A doutrina comum no começo do século XX
A teologia fundamental, no século XX, estruturou se segundo as indicações do Concilio Vaticano I, e os documentos anti-modernista; definiu a revelação na perspectiva desses documentos. Era preciso proteger-lhe o conceito contra as negações do racionalismo ou contra as contaminações do protestantismo liberal.
Sobre a transcendência da Revelação, bem como no caráter doutrinário do objeto revelado: o que se comunica ao homem é um conjunto de verdades necessárias à Revelação. “Quando dizemos que Deus revelou, entendemos que Deus falou aos homens para lhes manifestar alguma verdade, e que os homens reconheceram sua voz”. “A Revelação é a comunicação, ao homem, de verdades religiosas”.
“A Revelação sobrenatural direta é a manifestação de Deus pela palavra divina, isto é, por um ato de Deus, ordenado direta e imediatamente para manifestar ao homem seu conhecimento próprio”.
“A Revelação nada mais é que a manifestação duma verdade, que Deus realiza no homem mediante a iluminação sobrenatural de sua inteligência”. A essa iluminação corresponde não a ciência, mas a fé. “A Revelação divina, no sentido estrito, é a palavra de Deus, mediante a qual ele se comunica aos homens algo do ele conhece, assim que os homens o creiam pela autoridade de Deus que fala”. O elemento formal dessa palavra usa o conceito de testemunho: a Revelação é uma palavra que atesta uma palavra de Deus que testemunha. 
O conceito modernista de Revelação, representado por Loisy e Tyrrell, insiste Gardeil na finalidade social do carisma profético e na denuntio da verdade revelada. Sendo o conhecimento profético essencialmente um carisma social, deve “comunicar-nos um objeto válido para todos, expresso bastante claramente pra servir de ponto de convergência para todos que procuram o divino”...
É preciso o dado revelado seja comunicado de um modo que lhe garanta o valor exato, absoluto, imutável, indefinidamente transmissível através do tempo e do espaço. Sua comunicabilidade, com essas características, está garantida:
Pelo conteúdo de pensamento proposto por Deus; 
Pela ação do espírito que mantém a fidelidade... ; 
Pelo absoluto de que são capazes algumas afirmações humanas. 
Na Revelação, o que é diretamente ativado não é o coração do profeta, e sim a sua inteligência capaz do absoluto. A Revelação segundo Gardeil, mostra-se como uma ação divina, uma finalidade social, que ativa e dirige a faculdade da afirmação do profeta, assim que os seus julgamentos, proferidos sob a luz divina, seja comunicáveis à toada à sociedade humana.
Ao analisar o processo do conhecimento profético, Gardeil fundamentalmente se mantém fiel aos elementos de santo Tomás. O conhecimento profético, como qualquer outro, supõe...
A luz de divina realça o poder de expressão desses sinais mentais; o profeta, então, “reagindo ante o objeto que lhe é posto ao realce divinamente iluminado”, concebe, afirma e denuncia o que Deus queria que ele afirmasse.
O profeta reafirma o que está vendo, primeiro para si mesmo, depois para os outros homens aos quais tem a missão de esclarecer. Sendo a profecia um a carisma social, é preciso que “o profeta exprima externamente o que julga internamente como verdade revelada por Deus”...
O P. Lagrange escreveu trinta páginas sobre o conceito de Revelação: Primeiro define a partir dos documentos da Igreja, depois lhe dá uma definição teológica. Diz “A Revelação é a ação divina, livre e essencialmente sobrenatural, pela qual deus, querendo conduzir o gênero humano a seu fim sobrenatural que consiste na visão da essência divina, falando-nos pelos profetas e nestes últimos tempos pelo cristo, manifestou-nos um tanto obscuramente mistérios sobrenaturais e também verdades da religião natural, que depois possam ser infalivelmente proposto pela a Igreja, sem mudança de sentido, até o fim do mundo”.
Ao dar a explicação teológica ele define formalmente à Revelação como “palavra de Deus enquanto ensinamento”. Afirmação que fundamenta está em Hebr 1,1; Is 50,4; os 2,4... e nas passagens da escritura onde se diz que as multidões davam ao Cristo o titulo de mestre, (Mt 8.28; Jo 8,13).
Por ele coloca que a Revelação é descrita principalmente como ensinamento, analisada em termos de relacionamento de mestre e discípulo... No Novo Testamento a Revelação ganha um outro sentido; “a palavra é o ato pelo qual alguém diretamente manifesta a outro seu pensamento”. Noção de palavra que inclui três elementos: 
Uma manifestação do pensamento; 
Manifestação direta do pensamento: portanto, o conhecimento de deus a partir de suas obras não verifica estreitamente a noção de palavra; 
Uma dualidade de pessoas concebidas como tais: Deus deve ser conhecido como pessoa que se dirige ao homem como pessoa. Por outro lado também a palavra revelada é um testemunho: isto significa que ela reclama um assentamento baseado na autoridade de quem fala. 
Fatores da renovação e orientações atuais
Ponto de partida: insatisfações e queixas
Entre os teólogos católicos, o que lhe é do seu interesse é a realidade cristã da Revelação. Na realidade, a Revelação apresenta-se nas escrituras de modo muito menos nocional e muito mais pessoal: è antes de tudo a manifestação do próprio deus que, através duma história sacra que culmina com a morte e a ressurreição do Cristo... De fato, diz ele, para os católicos a Revelação é também Revelação do mistério real que é o próprio Deus
Teologia protestante
A maioria dos teólogos protestantes, contemporâneos consagra ao tema da Revelação, não, apenas importantes capítulos, mas obras inteiras. Podemos afirmar que, em seu conjunto, o pensamento concebido como uma manifestação e uma notificação de verdades sobre Deus ou de verdades ditas por Deus. Na Revelação vê, primeiramente, a manifestação pessoal do Deus vivo que ativamente se torna presente ao homem para salva-lo e estabelecer com ele uma comunhão de vida. 
A teologia bíblica protestante insiste fortemente na consideração da Revelação enquanto acontecimento e historia. A Revelação é acontecimento e está ligada a acontecimentos, isto é, aos atos salvíficos de Deus. Não apenas se insere na trama da historia humana: ela mesma é histórica. O que Deus fala, diz G. E Wright, é principalmente o Deus que age.
Ação, acontecimento, encontro: são os aspectos que a teologia protestante atual considera como mais importantes na Revelação. O aspecto doutrinal fica perceptivelmente desvalorizado.
Renovação bíblica e patrística
No ambiente católico, o interesse pela teologia da Revelação deve se a diversos fatores... O primeiro e mais importante é a renovação bíblica e patristica. A atenção dedicada ao dado revelado não poderia de se estender também ao Deus que revela.
Sob os pontos de vista da exegese e teologia bíblica, considera: a) a educação progressiva de Israel: a Revelação é um lento caminhar das trevas para a luz (idéias de Deus, de aliança, de messias, de reino, de salvação, de graça etc.)
Reflexão sobre a teologia
Ponto de partida da teologia é a fé na Revelação, que é testemunho de Deus sobre si mesmo. Mas esse “testemunho é apenas o veiculo de um conhecimento real, que nos é ainda que em mistério, uma realidade divina, como objeto de percepção e amor”. A teologia deve centra - se na história da salvação, nas “imprevisíveis histórias do amor gratuito de deus” a teologia, pois, em segundo lugar, é realista por ser a inteligência da ordem da salvação em sua realização histórica. Finalmente, uma descrição fiel da Revelação deve

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