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FERNANDO REGO DOMINGUES JUNIOR OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O MARCO CIVIL DA INTERNET converted

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OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO: UMA ANÁLISE DO CASO 
ELLWANGER E DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO ÂMBITO DA INTERNET 
 
Fernando Rego Domingues Junior¹ 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho versa sobre os limites da liberdade de expressão como forma de 
manifestação do pensamento. A análise do tema baseia-se, em especial, na Constituição Federal 
e no julgamento do habeas corpus 82.424/RS (STF), o caso Ellwanger, que teve notória 
repercussão, devido sua importância sobre o discurso do ódio. Primeiramente, o trabalho se 
inicia com as demarcações de conceitos básicos sobre o tema, após, inicia-se o estudo de todas 
as constituições federais acerca da liberdade de expressão. Com a análise dos dispositivos 
constitucionais que asseguram e demonstram a importância da liberdade de expressão em um 
estado democrático de direito, passa-se à análise dos principais votos dos ministros da Suprema 
Corte, que fizeram o sopesamento entre a liberdade de expressão e a dignidade da pessoa 
humana. Por fim, estuda-se a evolução dos meios de comunicação por meio da internet, assim 
como a problemática que envolvem as pessoas com as redes sociais. 
 
Palavras-chave: Direito constitucional. Liberdade de expressão. Dignidade da pessoa humana. 
Supremo Tribunal Federal. Marco Civil da Internet 
 
ABSTRACT 
 
The present work deals with the limits of freedom of expression as a form of manifestation of 
thought. The analysis of the theme is based, in particular, on the Federal Constitution and the 
judgment of the habeas corpus 82.424 / RS (STF), the Ellwanger case, which had a notable 
repercussion due to its importance on hate speech. First, the work begins with the demarcation 
of basic concepts on the subject, after which, the study of all federal constitutions about freedom 
of expression begins. With the analysis of the constitutional provisions that ensure and 
demonstrate the importance of freedom of expression in a democratic state of law, we proceed 
to analyze the main votes of the Supreme Court ministers, who have weighed the balance 
between freedom of expression and the dignity of human person Finally, we study the evolution 
of the media through the internet, as well as the problems that involve people with social 
networks. 
 
Keywords: Constitutional law. Freedom of expression. Dignity of human person. Federal 
Court of Justice. Internet Civil Landmark. 
 
 
 
¹ Bacharel em Direito. E-mail: fernandordjunior@hotmail.com 
 
INTRODUÇÃO 
 
 No Brasil, a liberdade de expressão é uma garantia constitucional que é considerada 
um dos principais elementos do estado democrático de direito. 
Os aspectos da liberdade de expressão são muitos e envolvem a liberdade da atividade 
intelectual, artística, de manifestação do pensamento, entre outros. 
A importância da comunicação em seus variados sentidos, é incomensurável, visto que 
podemos ensinar, aprender, dialogar e até mesmo apaziguar conflitos entre nações. 
Todavia, não muito raro, a garantia constitucional de se expressar tem entrado em 
conflito com um dos fundamentos da Constituição da República Federativa do Brasil, que é a 
dignidade da pessoa humana. 
A dignidade humana é o vértice da Constituição da República Federativa do Brasil, 
trata-se da estrutura de um estado democrático de direito, da qual não se prescinde, sob pena 
dos valores remanescentes assegurados pela Carta Maior serem eliminados 
Essa importância, torna a dignidade humana um sobreprincípio, de tal modo que, mesmo 
em confronto com outro princípio constitucional, deve se prevalecer a dignidade da pessoa 
humana. 
No presente estudo, busca-se demonstrar que a garantia constitucional da liberdade de 
expressão não respalda o discurso do ódio, tampouco oferece guarida ao preconceito e para a 
intolerância, independentemente do meio ou forma de comunicação. 
 Nessa senda, o estudo do habeas corpus 82.424/RS demonstra-se importante, visto que 
o caso Ellwanger, foi emblemático por ter convergido a liberdade de expressão com a dignidade 
da pessoa humana. Nesse diapasão, passa-se à análise do cenário social, que com o advento da 
internet, tem aumentado insofismavelmente os mecanismos para a liberdade de expressão, na 
mesma medida em que as difamações, calúnias e injúrias também aumentaram, com a agravante 
do anonimato e da rápida propagação, como nunca antes a humanidade já vira. 
 
 
 
 
1 CONCEITO DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
 
Antes do estudo sobre o conceito de liberdade de expressão no sentido jurídico, far-se-
-á a análise dos conceitos de liberdade e de expressão sob a ótica filosófica para que seja 
entendido em essência, o que está assegurado na Constituição da República Federativa do Brasil 
de 1988 acerca da liberdade de expressão. 
Segundo Aristóteles, “liberdade é a ausência de condições e de limites, portanto, 
liberdade não sofre limitações e não tem graus, tem sido definida dizendo-se que é livre aquilo 
que é causa de si mesmo”. (ABBAGNANO, 1970, p. 582) 
A palavra expressão, por sua vez, é toda espécie de comportamento que consista na 
produção ou no uso dos símbolos e, portanto, se alia ao conceito geral de linguagem. 
Para Cassirer (ABBAGNANO, 1970, p. 399) há três estágios que designou 
respectivamente como expressão: mimética, analógica e simbólica. 
“Na expressão mimética não há ainda tensão entre o signo linguístico e o conteúdo 
intuitivo ao qual se refere. O significado pode não ter efeito imediato, realizando-se 
gradualmente, pois no seu início a palavra pertence à esfera de mera existência”. 
(ABBAGNANO, 1970, p. 399) 
Trata-se, portanto, de um estágio pelo qual o emissor exterioriza o que se busca 
expressar para o receptor, por meio da imitação, seja por gestos ou até mesmo pinturas. 
Acerca da expressão analógica, explica Cassirer: “é própria de toda espécie de 
comportamento que consista na produção ou no uso dos símbolos e, portanto, se alia ao conceito 
geral de linguagem”. (ABBAGNANO, 1970, p. 400) 
Por fim, a expressão simbólica se difere da intuição e de todas as relações de 
identificação. “A imagem ou palavra, segundo Jung (1987), pode ser simbólica, na medida em 
que implica algo além do seu significado manifesto e imediato, apresenta um aspecto 
inconsciente mais amplo, que nunca é precisamente definido ou esgotado”. (ANDRADE, 2013, 
p. 95) 
Com a fragmentação realizada, compreende-se que liberdade de expressão enseja em 
expor o que está na consciência humana. Para Husserl (pp. 197 e ss.) a “consciência é 
intencionalidade”. A vontade é pura intencionalidade de agir, o que põem a liberdade como um 
agir, como um ato da consciência, não da consciência natural, mas da intencionalidade 
transformada em vontade de agir, esta como um instrumento para o alcance da liberdade 
criadora. 
Portanto, para o ser humano, as formas e meios de comunicação se resumem em expor 
para outrem, o que antes estava na consciência, no plano das ideias. 
Trata-se de um direito de primeira dimensão que se refere às liberdades negativas 
clássicas, no sentido da não interferência do poder do Estado sobre as ações individuais. 
 
2 HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES NO BRASIL COM ACENO À LIBERDADE 
DE EXPRESSÃO 
 
2.1 Constituição Política do Império do Brasil de 1824 
 
Em 1824, D. Pedro I outorga a primeira das Constituições que constam na história do 
Brasil. Em todas as constituições (1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967, EC n. 1/1969 e 1988), 
a garantia constitucional da liberdade de expressão estava assegurada, todavia, com a ressalva 
da Constituição Republicana Federativa do Brasil de 1988, houveram determinadas 
peculiaridades nas anteriores, que por sua vez, de alguma forma, cerceavama preciosa garantia 
da liberdade de expressão. 
Ao estudar tais peculiaridades, começando pela Constituição Política do Império do 
Brasil de 1824, no artigo 179 e seguintes consta a garantia da liberdade de expressão: 
“Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos 
Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a 
propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. 
 IV. Todos podem comunicar os seus pensamentos, por palavras, escritos, e 
publicá-los pela imprensa, sem dependência de censura; com tanto que hajam 
de responder pelos abusos, que cometerem no exercício deste Direito, nos 
casos, e pela forma, que a Lei determinar.” 
Apesar da garantia constitucional supramencionada, há que se ressaltar que o imperador 
exercia o poder moderador, cujo poder poderia influenciar nos âmbitos: legislativo, executivo 
e judiciário. Portanto, a liberdade de expressão como garantia poderia ser cerceada facilmente 
devido à centralização monárquica. 
 
 
2.2 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891 
 
 Sob a influência do direito norte-americano, em 24 de fevereiro de 1891, promulga-se 
a primeira Constituição da República do Brasil (LENZA, 2018, p.265), tendo por relator o 
Senador Rui Barbosa. 
 A divisão quadripartita vigente no império de inspiração de Benjamin Constant fora 
rompida para agasalhar a doutrina tripartita de Montesquieu, estabelecendo como “órgãos da 
soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos e independentes 
entre si” (SILVA, 2008, p. 79) 
 A partir da Primeira Constituição Republicana, surge a proibição do anonimato em 
sua redação: 
“Art. 72. A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no 
país a inviolabilidade dos direitos concernentes a liberdade, a segurança 
individual e a propriedade nos termos seguintes 
§ 12. Em qualquer assumto é livre a manifestação do pensamento pela 
imprensa, ou pela tribuna, sem dependência de censura, respondendo cada um 
pelos abusos que cometer, nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é 
permitido o anonimato.” (grifo meu) 
 
 2.3 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934 
 
Preleciona Lenza que “A promulgação do texto de 1934, abalando, assim, os ideais do 
liberalismo econômico e da democracia liberal da Constituição de 1891. Por isso é que a 
doutrina afirma, com tranquilidade, que o texto de 1934 sofreu forte influência da Constituição 
de Weimar da Alemanha de 1919”. (2018 p. 137) 
No tocante a liberdade de expressão, a referida constituição assim preceituou: 
“Art. 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes 
no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, 
à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 
IX- Em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento, sem 
dependência de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, 
respondendo cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela forma que a 
lei determinar. Não é permitido anonimato. É segurado o direito de resposta. 
A publicação de livros e periódicos independe de licença do Poder Público. 
Não será, porém, tolerada propaganda, de guerra ou de processos 
violentos, para subverter a ordem política ou social.” (grifo meu) 
O período foi conturbado e em 1935 houve o levante comunista, surgindo a figura de 
Luis Carlos Prestes, que liderando a Aliança Libertadora Nacional, teve sua tentativa de 
revolução frustrada por Getúlio Vargas. Nesse cenário, ocorreram repressões às liberdades 
políticas e ideológicas que por sua vez atingiram também as relações de trabalho. 
 
2.4 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1937 
 
 A Constituição de 1937, elaborada sob inspiração da Carta ditatorial polonesa de 1935 
(LENZA, 2018, p.266), teve fortes censuras no que tange à liberdade de expressão, de modo 
expresso na Constituição Federal, como nos dispositivos abaixo: 
“Art. 16. Compete privativamente a União o poder de legislar sobre as 
seguintes matérias: 
[...] 
X- Correios, telégrafos e radiocomunicação; 
[...] 
XVIII- o regime de teatros e cinematógrafos; 
[...] 
XX- Direito de autor; imprensa; direito de associação, de reunião, de ir e vir; 
....” 
Art. 168 - Durante o estado de emergência as medidas que o Presidente da 
República é autorizado a tomar serão limitadas às seguintes: 
[...] 
b) censura da correspondência e de todas as comunicações orais e 
escritas; 
c) suspensão da liberdade de reunião.” (grifo meu) 
 
2.5 Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946 
 
A Constituição de 1946 foi promulgada pela Assembleia Nacional Constituinte do 
mesmo ano. Trouxe novamente as liberdades anteriormente garantidas na Constituição de 1934 
e que foram suprimidas na Constituição de 1937. 
 No que tange a liberdade de expressão, dispunha a Carta de 1946: 
“Art. 141. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros 
residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à 
liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 
§ 5º É livre a manifestação do pensamento, sem que dependa de censura, salvo 
quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um, nos casos 
e na forma que a lei preceituar pelos abusos que cometer. Não é permitido o 
anonimato. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros e 
periódicos não dependerá de licença do poder público. Não será, porém, 
tolerada propaganda de guerra, de processos violentos para subverter a ordem 
política e social, ou de preconceitos de raça ou de classe.” (grifo meu) 
Todavia, percebe-se notória contradição no que toca ao § 5°, do art. 141 com o art. 173 
da Carta de 1946: 
 “Art 173 - As ciências, as letras e as artes são livres.” 
Visto que o artigo 141 em seu parágrafo 5° não contempla a liberdade de expressão em 
espetáculos e diversões públicas, logo, as ciências, as letras e as artes não são livres, como 
dispõem o artigo 173, configurando, portanto, notória contradição. 
 
2.6 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1967 
 
“Na mesma linha da Carta de 1937, a de 1967 concentrou, bruscamente, o poder no 
âmbito federal, esvaindo os Estados, Municípios e conferindo amplos poderes ao Presidente da 
República”. (LENZA, 2018, p. 148) 
 Praticamente não se modificou em relação ao texto anterior, assegurando a livre 
manifestação do pensamento independentemente de censura (salvo para espetáculos e diversões 
públicas), o direito de resposta e a publicação de livros e jornais sem necessidade de licença. 
Diferentemente da Constituição anterior, o que se adicionou ao final do parágrafo oitavo 
do artigo 150 foi que não seriam toleradas “as publicações e exteriorizações contrárias à moral 
e aos bons costumes. 
 
 2.7 “Constituição” de 1969 – EC n. 1, de 17.10.1969 
 
Lenza entende que “Dado o seu caráter revolucionário, podemos considerar a referida 
emenda como a manifestação de um novo poder constituinte originário, outorgando uma nova 
Carta, que “constitucionalizava” a utilização dos Atos Institucionais”. (2018, p. 151) 
 Deste modo, foi sob os efeitos da Emenda Constitucional de 1969 e do AI-5 que as 
liberdades e, consequentemente, a liberdade de pensamento e expressão sofreram determinadas 
supressões. 
 
2.8 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 
 
Conhecida também como a Constituição Cidadã, o Poder Constituinte Originário 
atentou-se em garantir às liberdades,devido ao período instável que se passou. 
Em comparação com as constituições anteriores, a Constituição de 1988 destaca-se, 
visto os consideráveis progressos que nela ocorreram, como na proibição da censura à imprensa, 
o fortalecimento do pluripartidarismo, além do primeiro plebiscito que ocorreu em 21 de abril 
de 1993, pela EC n. 2/92. (LENZA. p. 156) 
Acerca da liberdade de expressão na Constituição de 1988, encontra-se o artigo 5°, 
incisos IV e IX da Constituição Federal que dispõem: 
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
[...] 
 IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; 
[...] 
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de 
comunicação, independentemente de censura ou licença.” 
Há também no Capítulo V da Carta Maior, o artigo 220: 
“Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a 
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer 
restrição, observado o disposto nesta Constituição.” 
Com esse arcabouço constitucional no tocante à liberdade de expressão, fica notório que 
o Poder Constituinte se preocupou em garantir a livre manifestação do pensamento de modo 
inequívoco. Ademais, consta no artigo 60, parágrafo 4° da Constituição: 
“Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
[...] 
 § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a 
abolir : 
 [...] 
IV - os direitos e garantias individuais.” (grifo meu) 
 
Com os dispositivos supramencionados, o Poder Constituinte conferiu à liberdade de 
expressão o status de “cláusula pétrea”, garantindo que os direitos e garantias individuais 
protegidos pela Carta Maior não sejam posteriormente abolidos por ideais que tendam a 
diminuir, ou cessar os valores que são inerentes ao cidadão. 
Nas palavras de Norberto Bobbio (1988, p. 20), trata-se de um mecanismo 
constitucional para manter os parâmetros que se almejou, evitando com isso, possíveis abusos 
dos poderes. 
 
3 A DIGNIDADE HUMANA COMO PARADIGMA LIMITADOR DA LIBERDADE DE 
EXPRESSÃO 
 
“Aristóteles, no início da Política, nos ensina que o homem não quer apenas viver, mas 
viver bem”. (Reale, 1965. p.244) 
Esta expressão pode ensejar em especial na dignidade humana, visto que sem esta, as 
garantias remanescentes asseguradas pela Constituição, iriam se tornar no mínimo insuficientes 
em um Estado democrático de Direito. 
Sobre a dignidade da pessoa humana, José Afonso da Silva (2008, p.105) a conceitua 
como “um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, 
desde o direito à vida’. 
Observado a importância do citado valor, o legislador constituinte não apenas 
reconheceu, como também, inseriu a dignidade da pessoa humana expressamente no inciso III 
do artigo 1° da Constituição de 1988. 
Nesse cerne, Martins assevera que “a nossa Constituição fixa a dignidade humana como 
um dos seus princípios fundamentais, um sobreprincípio, por englobar em si todos aqueles 
direitos fundamentais, quer sejam os individuais clássicos, quer sejam os de fundo econômico 
e social, o que significa que, no conflito entre ele e outros princípios de menor valor, o que se 
apura com a utilização do também princípio da proporcionalidade, prevalecerá o da dignidade 
humana”. (1988, p. 425) 
Isso significa que em eventual choque de princípios, o princípio da dignidade humana 
prevalecerá sobre todos os demais princípios. 
Todavia, as resoluções dos choques entre princípios não se resolvem pura e 
simplesmente, como numa equação matemática da qual se soma e se extrai valores exatos. Um 
dos exemplos que comprova a premissa anterior foi o julgamento do Habeas Corpus 
82.2424/RS no Supremo Tribunal Federal, que não obstante, será melhor explicado em especial 
no próximo capítulo deste trabalho. 
Observado que os choques entre valores constitucionais ocorrem, imprescindível se faz 
nos atentar que a Constituição, além de possuir peculiaridades devido sua natureza de Carta 
Política, possui também preceitos que só servem para o Direito Público (Maximiliano. 1979, p. 
306) 
Visto que a Constituição Federal possui natureza de Carta Política, Konrad Hesse, 
observando suas peculiaridades ressalta que “para o Direito Constitucional, a importância da 
interpretação é fundamental porque, pelo caráter amplo e aberto da Constituição, os problemas 
de interpretação surgem com maior frequência do que noutros setores do ordenamento em que 
as normas são detalhadas”. (2009, p. 102) 
 Nesse diapasão, Carlos Maximiliano (1979, p. 304) ensina que “a técnica da 
interpretação muda, desde que se passa das disposições ordinárias para as constitucionais, de 
alcance mais amplo, por sua própria natureza e em virtude do objetivo colimado redigidas de 
modo sintético, em termos gerais”. 
Portanto, como nos orienta Alf Ross, “a tarefa do pensamento jurídico consiste em 
conceitualizar as normas jurídicas de tal modo que sejam reduzidas a um ordenamento 
sistemático, expondo assim o direito vigente de forma mais simples e conveniente possível”. (, 
2004, p. 204) 
No tocante a interpretação da Constituição da República Federativa do Brasil, sua 
efetivação ocorre pelos ministros do Supremo Tribunal Federal que não obstante, como acima 
mencionado, tiveram que resolver o conflito entre a dignidade humana e a liberdade de 
expressão, estabelecendo, portanto, os limites desta. Acerca da resolução do aludido conflito de 
valores, destaca-se que a suprema corte, não adotou o entendimento de que a garantia da 
liberdade de expressão abrangeria o discurso de ódio. Ou seja, muito embora a “posição de 
preferência” que o direito fundamental da liberdade de expressão adquire no Brasil, assim como 
em outros países, a liberdade de expressão não é absoluta, encontrando restrições “voltadas ao 
combate do preconceito e da intolerância contra minorias estigmatizadas”. (LENZA, 2018, p. 
1211) 
Nesse sentido, aponta Sylvio Motta: 
“O direito à manifestação do pensamento não autoriza toda e qualquer 
manifestação, como, por exemplo a apologia a fatos criminosos (art. 
287 do Código Penal) ou a propaganda do nazismo (Lei nº 7.716/89, 
art. 20, § 1º). Um dos princípios mais interessante do estudo dos direitos 
é o de que ninguém pode deles abusar. O abuso de direito é contrário 
ao próprio direito e gera responsabilidade civil e, dependendo do 
caso, criminal”. (grifo meu) 
 
Conforme demonstrado, no direito brasileiro a proteção à liberdade de expressão possui 
limites, competindo ao judiciário discernir sobre o que é liberdade de expressão e o que é abuso 
deste direito, conforme as peculiaridades de cada caso. 
Portanto, os limites da liberdade de expressão, encontra respaldo no sobreprincípio da 
dignidade humana, visto que a liberdade de uns é limitada pela liberdade ou direitos de outros. 
 
4 O CASO ELLWANGER (HABEAS CORPUS 82.424/RS) 
 
4.1 Os Fatos 
 
Siegfried Ellwanger Castan foi um industrial gaúcho, que considerando-se revisionista, 
passou a escrever muitos trabalhos acerca da Segunda Guerra Mundial. No entanto, suas obras 
eram eivadas de preconceito e de distorções fatuais, que geraram reiterados boicotes nas 
publicações de seus livros. Ellwanger com o intuito de esquivar-se dos boicotes, fundou a 
Revisão Editora Ltda, para propiciar a distribuição de suas publicações.Dentre as obras antissemitas editadas e publicadas por ele, estavam: “Holocausto Judeu 
ou Alemão? – Nos Bastidores da Mentira do Século, cujo teor, ensejou em sua denunciação 
pelo crime de racismo contra os judeus. A denúncia foi recebida em 14/11/1991 pela 8° Vara 
Criminal de Porto Alegre. 
Em 1995, Ellwanger foi absolvido em primeira instância e condenado em segunda 
instância, cuja defesa de Ellwanger impetrou Habeas Corpus (H.C. 15.155), no Superior 
Tribunal de Justiça, porém, o HC foi negado. O indeferido se deu pela 5° Turma do STJ, que 
portanto, confirmou o acórdão do TJRS. 
 
 
 
 
 
4.2 O Julgamento no Supremo Tribunal Federal 
 
A defesa do réu impetrou Habeas Corpus no Supremo Tribunal Federal, cujo relator foi 
o Ministro Moreira Alves. 
Todos os onze Ministros participaram, dentre os quais, oito votaram no sentido de 
indeferimento e três votaram no sentido de deferimento. 
Os Ministros que deferiram o Habeas Corpus, foram: Moreira Alves, Marco Aurélio de 
Mello e Carlos Ayres Britto. Dentre os votos que deferiram o HC, destaca-se o do Ministro 
Carlos Ayres Britto, que fundamentou o seu voto sob a égide de que a liberdade de expressão 
é um direito quase absoluto e que a liberdade deve ser compreendida não somente como o de 
manifestar o pensamento, como também o de expor o fruto da atividade artística, intelectual, 
científica ou de comunicação. 
No que toca aos possíveis exageros, o Ministro Carlos Ayres Britto explana que o art. 
5º, inciso VIII da Constituição Federal, apresenta três hipóteses de excludentes de abusividade, 
quais sejam: a crença religiosa, a convicção filosófica e a convicção política. 
Nesse sentido, ao analisar a obra de autoria do réu, acaba por concluir que tal encontra-
-se dentro do campo da convicção política, ou político-ideológica, tendo como objetivo o 
revisionismo histórico e o debate intelectual. 
Acerca dos oito ministros que indeferiram o Habeas Corpus, são eles: Maurício Corrêa, 
Celso de Melo, Gilmar Mendes, Carlos Velloso, Nelson Jobim, Ellen Gracie, Cezar Peluso e 
Sepúlveda Pertence. Dentre os votos dos aludidos ministros, destaca-se o voto do Ministro 
Celso de Mello, que concluiu que as obras publicadas por Ellwanger possui teor preconceituoso 
e antissemita, cuja prática deve ser veementemente combatida. Nessa senda, discorre Celso de 
Mello: 
“A prerrogativa concernente à liberdade de manifestação do 
pensamento, por mais abrangente que deva ser o seu campo de 
incidência, não constitui meio que possa legitimar a exteriorização de 
propósitos criminosos, especialmente quando as expressões de ódio 
racial – veiculadas com evidente superação dos limites da crítica 
política ou da opinião histórica transgridem, de modo inaceitável, 
valores tutelados pela própria ordem constitucional dos limites da 
crítica política ou da opinião histórica transgridem, de modo 
inaceitável, valores tutelados pela própria ordem constitucional”. (HC 
82.424/RS. p. 629) 
Por fim, afirma que a liberdade de expressão não pode e não deve ser exercida com o 
propósito subalterno de veicular práticas criminosas, tendentes a fomentar e a estimular 
situações de intolerância e de ódio público. 
 
4.3 A importância da decisão do caso Ellwanger pelo Supremo Tribunal Federal 
 
Com o estudo dos votos dos ministros que votaram pelo indeferimento do HC, conclui-
se que o sopesamento entre a garantia constitucional da liberdade de expressão e do princípio 
da dignidade da pessoa humana, prevalece este, pois está hierarquicamente acima dos demais 
princípios constitucionais. 
Sobre os ministros que votaram pelo deferimento do HC, cumpre ressaltar que eles não 
descartaram a importância do princípio da dignidade da pessoa humana, pelo contrário, os 
ministros que deferiram o Habeas Corpus entendem que a democracia necessita da liberdade 
de expressão. 
Nesse diapasão, os ministros entenderam que a liberdade de expressão não é um direito 
absoluto. Sobre o embate entre a liberdade de expressão e a dignidade da pessoa humana, ficou 
ementado: 
“Liberdade de expressão. Garantia constitucional que não se tem como 
absoluta. Limites morais e jurídicos. O direito à livre expressão não pode 
abrigar, em sua abrangência, manifestações de conteúdo imoral que implicam 
ilicitude penal. As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem 
ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites definidos na 
própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, § 2º, primeira parte). O preceito 
fundamental de liberdade de expressão não consagra o “direito à incitação ao 
racismo”, dado que um direito individual não pode constituir-se salvaguarda 
de condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência 
dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica”. (HC 
82.424/RS, p. 524.) 
 
A decisão do caso Ellwanger tornou-se paradigma no ordenamento jurídico brasileiro 
acerca da liberdade de expressão e seus limites. A corte mensurou que a dignidade da pessoa 
humana deve prevalecer caso entre em conflito com outros princípios. 
 
 
 
 
 
5 –AS REDES SOCIAIS, A LEI Nº 12.965, DE 2014, O MARCO CIVIL DA INTERNET 
E O PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
 
5.1 O Desenvolvimento das Redes Sociais 
 
As redes sociais vêm adquirindo cada vez mais espaço nas vidas das pessoas, de modo 
que já há quem fale: com o advento da internet , o corpo humano foi dividido em: cabeça, 
tronco, membros, celular etc. (LÁZARO. 2009) 
Sátira à parte, o desenvolvimento das redes sociais está profundamente ligado com o 
constante aperfeiçoamento na tecnologia, que por sua vez, foi extremamente célere, conforme 
se verificará a seguir. 
Explica Daquino (2012) que “os primeiros relatos de serviços que possuíam 
peculiaridades em sociabilizar dados, surgiram em 1969 com o desenvolvimento da tecnologia 
dial-up e o lançamento da CompuServe, um serviço comercial de conexão com a internet em 
nível internacional, muito propagado pelos estadunidenses (...)” 
Nesse diapasão, continua o autor: 
 
“As constantes inovações, ensejaram em reiterados aperfeiçoamentos de 
modo que em 1971, foi enviado o primeiro e-mail, alguns anos após, já haviam 
ferramentas para que as pessoas passassem a criarem seus perfis virtuais, o 
que facilitou a comunicação digital, apesar dos constantes problemas de 
conexões. Com o continuado avanço na tecnologia, em 2003, o LinkedIn e o 
MySpace, foram criados,(...) sendo aquele voltado para contatos profissionais 
e este mais voltado para compartilhar informações pessoais, fotos e blogs. 
Em 2004, surgiu o grande divisor de águas das redes sociais, o Orkut, que foi 
durante anos a plataforma mais utilizadas pelos internautas brasileiros, até 
perder seu título para a criação de Mark Zuckerberg em dezembro de 2011, o 
Facebook.” 
 
No entanto, acerca de todo esse avanço tecnológico, válido se faz no valer das palavras 
de Flávia Piva Almeida Leite (2016, p.152): 
“O surgimento da era digital, tem suscitado a necessidade de repensar 
importantes aspectos relativos à organização social, à democracia, à 
tecnologia, à privacidade, à liberdade etc. Segundo Newton de Lucca “... 
assim como a Revolução Industrial modificou, no passado as feições do mundo 
moderno, a ainda incipiente Revolução Digital já está transformando as faces 
do mundo pós-moderno.” (grifo meu) 
Um dos importantes aspectos a se pensar, é a problemática da rápida propagação de 
informações, inclusive as falsas, que se alia ao anonimato do usuário, podendo causar danos 
irreparáveis na vida da pessoa que for vítima. 
A título de exemplo, podemos mencionar o triste caso da Fabiane Maria de Jesus, que 
no dia 05/05/2014teve a sua vida ceifada por dezenas de moradores na cidade de Guarujá-SP, 
cuja única falta foi parecer-se com um retrato de uma possível sequestradora do Rio de Janeiro, 
publicado de modo irresponsável no facebook. (CARVALHO. 2014) 
Com isso, importante se faz ressaltar que qualquer pessoa mal-intencionada, pode criar 
um perfil nas redes sociais e se passar por outra, de modo ser importante nos valer da 
advertência que consta na Bíblia Sagrada, em Mateus 7:15: “Cuidado com os falsos profetas. 
Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores”. 
 
5.2 O surgimento e a estrutura da lei n° 12,965, de 2014. 
 
Foi demonstrado no decorrer deste trabalho, que o número de usuários na internet 
aumentou exponencialmente, visto sua abrangência e facilidade em oferecer mecanismos para 
quem dela se utilize. No entanto, os problemas derivados acerca de seu mau uso, vem sendo 
diagnosticado pelos juristas. 
 Nesse sentido, observa BASTOS e TAVARES (2000, p. 698): 
“A utilização da Internet tem implicações diretas com o tão sacramentado 
direito de liberdade, mais precisamente a de manifestação. A questão está 
conectada igualmente ao problema da informação, e do correspondente direito 
a ela poder-se ascender. Daí surge outro aspecto, que é o referente à 
divulgação maciça de informação falsa, como que a tornando, de certa 
maneira uma verdade, pela sua reiterada repetição sem manifestação de 
impugnações na mesma escala. (...) Por outro lado, a invasão de sistemas 
informáticos particulares tem sido uma constante preocupação, 
principalmente por parte dos governos, com relação aos seus dados. Também 
dentro do contexto de proteger a privacidade de informações, é preciso 
estabelecer regras o tanto quanto possível precisas de veiculação de dados 
pessoais por meio da Internet, haja vista que seu acesso é franqueado a todo 
mundo, e, invariavelmente, seu autor não é descoberto.” (grifo meu) 
Visto a problemática que ocorria na internet, o constante aumento do número de 
usuários e a ausência de regras que tratassem acerca do assunto (internet), o legislador brasileiro 
considerou necessário estabelecer regras e princípios que assegurassem sua efetividade. 
Foi nesse cenário que a lei n° 12.965, de 2014, também conhecida como “Marco Civil 
da Internet” foi elaborada, de modo que a aludida lei se instaurou no ordenamento jurídico 
brasileiro, garantindo a tutela de direitos e deveres para todos que façam uso da internet. 
A estrutura da lei n° 12.965, de 2014 (Marco Civil da Internet) é composta por cinco 
capítulos, sendo respectivamente sobre: disposições preliminares; direitos e garantias dos 
usuários; provisão de conexão e de aplicação da internet; atuação do poder público e por fim, o 
último capítulo trata das disposições finais. 
A referida estrutura da lei “Marco Civil da Internet”, possui 32 (trinta e dois) artigos, 
que por sua vez foi objeto de elogios, conforme lembra o advogado e atual (2019) presidente 
da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo: “o criador da rede mundial de computadores 
(www), o físico britânico Tim Berners-Lee, ressaltou aspectos importantes da lei brasileira e a 
considerou uma ferramenta para a liberdade de expressão, da privacidade e do respeito aos 
direitos humanos.” (da Costa, 2014) 
A lei aqui estudada, logo em seu primeiro artigo aduz: 
“Art. 1o Esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso 
da internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria.” 
 
Conforme observado no art. supracitado, a própria lei parece esgotar por si só, todo o 
escopo necessário para se dirimir eventuais imbróglios acerca da internet. 
 Todavia, válido se faz nos valer da ressalva de Carlos Eduardo E. de Oliveira (2014, 
pp. 5 e 6): 
“O Marco Civil não é (e nem quis ser) uma ilha normativa deserta, isolada das 
demais fontes jurídicas. Ele é um dos vários pontos de irradiação normativa que 
disciplina o comportamento dos indivíduos no mundo virtual. A Constituição 
Federal, como lei fundamental do nosso País, dá as coordenadas 
principiológicas incontestes do ordenamento jurídico, ao fluxo da qual 
tramitarão as interpretações que transbordarão do Marco Civil da Internet. 
Trata-se de uma consequência do que se convencionou batizar de 
constitucionalização dos diversos ramos do Direito. Os demais diplomas, como 
o Código de Defesa do Consumidor e outros mais, não serão ignorados, mas 
serão igualmente estimados na regulação dos fatos jurídicos cibernéticos, 
conforme convite expresso do parágrafo único do art. 3º e o art. 6º da nova lei. 
 
 
 
 
 
 
 
5.6.2 O Respaldo do Princípio da Liberdade de Expressão no “Marco Civil da Internet” 
 
No capítulo I (disposições preliminares), o legislador fez inserir expressamente 8 (oito) 
princípios, além de outros previstos no ordenamento jurídico, sendo eles: 
 Art. 3o A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios: 
I –garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de 
pensamento, nos termos da Constituição Federal; 
II - proteção da privacidade; 
III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei; 
IV - preservação e garantia da neutralidade de rede; 
V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio 
de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo 
estímulo ao uso de boas práticas; 
VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos 
da lei; 
VII - preservação da natureza participativa da rede; 
VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que 
não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei. 
Parágrafo único. Os princípios expressos nesta Lei não excluem outros 
previstos no ordenamento jurídico pátrio relacionados à matéria ou nos 
tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte. 
Com essa gama de princípios, percebe-se que muitos desses conteúdos vão ao encontro 
de preceitos já assegurados na Constituição. Todavia, importante se faz ressaltar que o Marco 
Civil da Internet tem o viés de regulamentar o uso da internet, para que se amplie a proteção 
das pessoas que se utilizam da internet, frente a nova dimensão criada pela rede mundial de 
computadores. 
Dentre os princípios supracitados, destaca-se o primeiro inciso, que assegura a liberdade 
de expressão, direito este inclusive assegurado em outros dispositivos da lei que aqui se trata, 
sendo eles: 
“Art. 2o A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o 
respeito à liberdade de expressão (...)” (grifo meu) 
 
[...] 
 
“Art. 8o A garantia liberdade de expressão do direito à privacidade e à nas 
comunicações é condição para o pleno exercício do direito de acesso à 
internet.” (grifo meu) 
[...] 
 
“Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a 
censura (...)” 
[...] 
§ 2o A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou 
a direitos conexos depende de previsão legal específica, que deverá respeitar 
a liberdade de expressão e demais garantias previstas no art. 5oda 
Constituição Federal.” (grifo meu) 
 
Com os dispositivos supramencionados, ficou evidente que o legislador se preocupou 
em garantir a liberdade de expressão na internet. Todavia, cumpre lembrar o que foi 
demonstrado no decorrer deste trabalho, ou seja, a liberdade de expressão como garantia não 
respalda, por exemplo, o que disse George Orwell (2007, p. 139): “ a liberdade de expressão, 
se é que significa alguma coisa,significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem 
ouvir. 
Pelo contrário, a liberdade de expressão possui limites, haja vista o sobreprincípio da 
dignidade humana, que deve prevalecer sobre todos os demais princípios. (Martins. 1988. 
p.425) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONCLUSÃO 
 
A preocupação da Assembleia Constituinte em garantir a liberdade de expressão para o 
povo não foi em vão, visto que sem esse elemento, a vida em sociedade torna-se fragilizada e 
dominada, de modo que nos governos totalitários, o cerceamento da liberdade de expressão é 
uma das primeiras medidas a serem tomadas. 
No Brasil, o Poder Constituinte Originário foi sábio em salvaguardar a liberdade de 
expressão com o status de “cláusula pétrea”, não podendo, portanto, ser suprimida. 
A liberdade de expressão se encontra também no Capitulo I da Constituição Federal, 
sua importância transcende o vultoso prestígio de um direito fundamental, trata-se de um 
verdadeiro sustentáculo da democracia. 
No entanto, essa preciosa garantia, que é por sua vez o oxigênio da democracia, 
infelizmente tem sido distorcida no plano fático. 
Como acima referido, para George Orwell a liberdade de expressão significa o direito 
de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir. Trazendo essa frase e convertendo-a para o 
âmbito nacional, tem-se a impressão que a afirmação feita por George Orwell, tem sido alguma 
espécie de “mantra” para muitos brasileiros. 
Tem sido corriqueiro observar a propagação de “fake news”, crimes contra a honra, 
racismo etc. Crer que a garantia constitucional da liberdade de expressão oferece guarida para 
pessoas com condutas antiéticas e criminosas, além de não ser de bom alvitre é também 
insensato e até lamentável, pois condutas como as tais, além de causarem danos, muitas vezes 
irreparáveis, vai de encontro com o princípio da dignidade humana. 
No presente trabalho, foi estudada a liberdade de expressão como manifestação do 
pensamento. O estudo sopesou a dignidade humana e a liberdade de expressão, buscando 
mensurar os limites deste direito. 
Ante o exposto, concluiu-se que há hierarquia entre os princípios, de modo que a 
dignidade humana deve sempre prevalecer. Compete ao judiciário fazer justiça, tendo como 
parâmetro a dignidade humana, o que significa que nenhum pensamento deve ser manifestado 
publicamente se violentar a dignidade de outro (s) ser (es) humano (s). 
Isso ficou juridicamente decidido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do 
“Caso Elwanger”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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