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INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS Lógica e Fundamentos da Matemática Coordenação Pedagógica – IPEMIG IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" INTRODUÇÃO Desde tempos imemoriais observamos os acontecimentos naturais.. 2 Milhares de anos ensinam que contar é comparar entre dois conjuntos qual é o que tem maior ou menor quantidade de objetos e a idéia de um conjunto de números naturais associado às necessidades da contagem faz parte de todas as culturas. Aprendemos a reconhecer sucessões naturais através de ciclos como o das estações do ano, a mudança das fases da lua, a disposição das folhas nas plantas, a freqüência dos batimentos cardíacos ou o ritmo da respiração. Das possibilidades de leituras do mundo e suas complexidades leituras binárias tais como dia ou noite, sim ou não, nascer e morrer, quente ou frio, certo ou errado, ou, verdadeiro ou falso. A apreensão da realidade qualifica-se sob dois estados mutuamente excludentes cujo fundamento é a constante mudança. No século IV a.C. a leitura das dualidades empreendida pelo filósofo grego Aristóteles sistematiza os procedimentos que orientam a razão na busca da verdade e da validade dos argumentos através de uma disciplina que veio a se denominar Lógica. Tida como criação do espírito helênico através dos filósofos Parmênides, Zenão de Eléia e os Sofistas, as raízes da ciência da lógica originam-se também na antiga Índia. Entretanto é a partir de Aristóteles, cujas idéias se mantiveram predominantes na construção do pensamento durante mais de vinte séculos, que a lógica toma forma de um corpo estruturado do conhecimento e forma de todas as ciências. A partir de Aristóteles os enunciados ganham em clareza e simplicidade. A conceituação aristotélica ensina que as sentenças que expressam um juízo devem ter a forma sujeito-verbo ser - predicado onde um termo, o sujeito – a idéia da qual se afirma algo, – liga-se ao outro, o predicado – a idéia que se afirma do sujeito – num nível de concordância tal que a asserção ou será verdadeira ou será falsa. Assim excluem-se concordância lógica as frases exclamativas, interrogativas ou imperativas, pois estas não podem se classificar em verdadeiras ou falsas. A conceituação aristotélica vai se tornar a grande intermediária da linguagem matemática, pois sempre foi óbvio não só aos matemáticos que há uma mediação entre o que é verdadeiro ou falso nos modos de análise das regras do discurso e da demonstração. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" INTRODUÇÃO AOS ELEMENTOS DA LÓGICA MATEMÁTICA I 3 X X X = = X ~ Y X = X Y IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" SUMÁRIO 4 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. ......................................... 2 ELEMENTOS HISTÓRICOS I ................................................................................................................................. 5 ELEMENTOS HISTÓRICOS II ............................................................................................................................. 10 PRIMÓRDIOS PANORÂMICOS HISTÓRICOS III ........................................................................................... 15 PRIMÓRDIOS PANORÂMICOS HISTÓRICOS IV ........................................................................................... 21 AS PROPOSIÇÕES SIMPLES OU CATEGÓRICAS .......................................................................................... 27 DIAGRAMA DE UMA PROPOSIÇÃO ................................................................................................................. 39 LEITURAS DE UM ARGUMENTO ...................................................................................................................... 47 PRINCÍPIOS LÓGICOS FUNDAMENTAIS ........................................................................................................ 61 OS CONECTIVOS E, OU E A NEGAÇÃO NÃO ................................................................................................. 67 AS CONDICIONAIS ................................................................................................................................................ 81 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................................ 94 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" ELEMENTOS HISTÓRICOS I 5 Desde os tempos de Tales de Mileto e Pitágoras, Platão, Aristóteles e considerando a obra escrita em Alexandria pelo matemático grego Euclides por volta de 300 a.C. como início do processo de sistematização do estudo axiomático da matemática, as fronteiras entre a lógica e a matemática nunca foram delimitadas. Entre 600 e 300 a.C. o raciocínio como seqüência de deduções fundamentadas a partir de proposições tomadas como verdadeiras foi sendo assumido como legítimo pelos pensadores gregos. O conceito é simples: derivar o que é desconhecido daquilo considerado conhecido ou compor o todo se conhecendo as partes. O processo contrário, chamado análise, procura decompor o todo em seus elementos constituintes. A conseqüência desses procedimentos, tornada uma das bases de sustentação da fundamentação matemática contemporânea, ficou conhecida como Método Axiomático. Preconizado por Euclides o método axiomático foi problematizado como base de pesquisa fundamental respectivamente em 1882 e em 1889 pelos geômetras alemães Moritz Pasch (1862 - 1930) e David Hilbert (1862 - 1943). Entretanto, desde os tempos de Euclides, tornou-se intuitivo aceitar não só o raciocínio matemático, mas todo raciocínio axiomático como matemático. E é relativamente fácil dizer por que, pois para estabelecer uma proposição num sistema dedutivo é necessário mostrar que ela é conseqüência de certas afirmaçõespreviamente conhecidas ou assim admitidas. Mas cada uma destas afirmações está, por sua vez, na dependência de afirmações que também deverão estar estabelecidas. Entretanto, como o sistema que está sendo articulado não pode retroceder numa seqüência interminável de dependências, concluíram os gregos antigos, um número finito de afirmações tomadas como verdadeiros chamados axiomas, deve ser o ponto de partida para fundamentar as proposições que devem integrar o sistema. Esse modo de raciocínio, precursor do método axiomático contemporâneo, também chamado Axiomática, ao abstrair o significado inicial de certas afirmações ou das relações entre essas afirmações, conduz as conseqüências que podem ser deduzidas por um mesmo tratamento. A segunda importante razão, como instrumento IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 6 de trabalho matemático, permite pesquisar problemas acerca da interdependência ou independência das afirmações que compõe o sistema. § 1. PRIMÓRDIOS I Do século VI ao século III a.C., durante os 300 primeiros anos de desenvolvimento da matemática grega, os conceitos matemáticos foram estudados através das razões lógicas neles contidas e das implicações entre os seus inter- relacionamentos. Esse processo, iniciado com Tales e continuidade com Pitágoras, organiza-se por volta de 300 a.C com os Elementos, obra que procurou coligir todo o conhecimento sobre geometria e a teoria dos números grega. Sem se limitar por aspectos práticos e pesquisando os princípios sobre o espaço, eles revelam a verdadeira natureza de uma demonstração: suas aplicações onde às afirmações não são tão evidentes. Tales, nascido em Mileto, é dos mais antigos dos grandes pensadores gregos. De volta a Mileto, após morar no Egito, indo além dos os conhecimentos que aprendera inicia uma transformação no pensamento quando ensina que as proposições devem ser demonstradas e não aceitas por algum aspecto prático ou utilitário. Responsável pelo estudo da geometria na Grécia antiga, as idéias de Tales tanto contribuem à compreensão da geometria que a ele é creditada a primeira demonstração da história da matemática: o diâmetro de um círculo divide o circulo em duas partes iguais. Essa demonstração, diga-se, contém mais do que a evidência: mostra que as demonstrações não só são possíveis, mas também necessárias. E mais ainda. Quando demonstra que a soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é dois ângulos retos torna implícito tratar de uma propriedade de todos os triângulos que não decorre de medições em certos triângulos. Todo desenvolvimento matemático segue os procedimentos de Tales e Pitágoras, pioneiros do raciocínio dedutivo na matemática, e todo formalismo que exercitamos é originalmente euclidiano. Ao conceito de Tales que toda verdade deve ser demonstrada, Euclides inclui verdades aceitas sem demonstração ao sistematizar a geometria: aquelas chamadas axiomas, de enunciado evidente e comum a todas as ciências, como por exemplo, o todo é igual à soma de suas partes, e aquelas que se denominam postulados. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 7 Significando o que se pede ou está concedido, o que se supõe ou não é obrigado a demonstrar, os postulados foram usados para as questões da geometria. Os axiomas, palavra grega que quer dizer juízo, dogma ou noções comuns, conceito introduzido no raciocínio lógico, segundo se acredita, por Aristóteles, foram utilizados para denominar todo principio aceito como evidente sobre comparações entre grandezas. § 2. PRIMÓRDIOS II Para os gregos antigos era inconcebível que alguém duvidasse dos postulados, mas dúvidas em relação aos axiomas eram tacitamente consentidas. Quando afirmavam que a soma dos ângulos internos de qualquer triangulo é igual a dois ângulos retos, não incluíam leis como existe o triângulo, pois entendiam tratar-se de uma propriedade válida e demonstrável para todos os triângulos. Considerando aceitar a existência hipotética dos objetos geométricos, exigiam em relação às quantidades que elas se afirmassem pela existência e unicidade. Para ilustrar, observe que se x e y são dois números tais que xy = yx é intuitivo ponderar se tais números existem. Ou, se existe um número a tal que a + x = a, deve existir um objeto chamado elemento nulo que deve ser único. Enquanto as quantificações exigem que as questões da existência ou unicidade estejam resolvidas, as leis geométricas aceitam uma existência hipotética. Quando Euclides enuncia que o ponto é aquilo que não tem partes a existência de tal ob-jectum, ou o que está adiante, é solicitado evidente. O ponto assim imaginado não pode ser dividido, não tem espessura e nem dimensão. Pode-se associá-lo às representações da marca da grafite de um lápis sobre uma folha de papel ou a visão que temos da Terra de uma estrela, mas o ponto não existe. O que existe é a idéia de ponto: uma abstração elementar da construção da estrutura conceitual da geometria. O espaço, imaginado conjunto de todos os pontos, surge como abstração decorrente onde a idéia de ponto é o elemento fundamental de construção. Segundo Proclo, filosofo grego do século V e primeiro historiador da matemática pela obra Comentário sobre Euclides, que descreve a geometria grega desde seus primórdios, elemento significava entre os gregos antigos, proposição de uso amplo e IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 8 geral no desenvolvimento de um estudo dedutivo. Assim Aristóteles ensina no livro V da obra Metafísica: elemento é o primeiro componente imanente do qual é constituída uma coisa e que é indivisível em outras espécies. E diz: dentre as proposições geométricas chamaremos de elementos aquelas cujas demonstrações estão contidas nas demonstrações de todas ou quase todas essas proposições. Para Aristóteles, tudo aquilo entendido por ser um e pequeno pode servir a muitas coisas explica a certeza adquirida de que as idéias que são mais universais são mais elementos, pois estão presentes em muitas coisas ou na maioria delas. Dessa convicção decorre que o um e o ponto são elementos, pois são considerados de gêneros universais e indivisíveis. § 3. PRIMÓRDIOS III A expressão todos os pontos, lida como tantos quantos puder imaginar, toma por evidente que o espaço se define através de infinitos pontos. Segundo os gregos antigos, desde que o espaço se constitui de infinitos pontos podem-se imaginar dois ou mais pontos sendo ligados de muitos modos através de linhas. Linhas são figuras que não tem espessura e largura, mas tem comprimento e podem se estenderem indefinidamente. Euclides considera e define as linhas retas, toda linha traçada uniformemente com os pontos sobre si e as superfícies planas, toda superfície traçada uniformemente com suas retas sobre si como construções fundamentais para iniciar o processo de construção da geometria.. Desde que o espaço se constitui de infinitos pontos Euclides denominou figura geométrica ou simplesmente figura a tudo aquilo delimitado por qualquer fronteira ou fronteiras. Assim toda figura se compreende como um conjunto de infinitos pontos e opróprio espaço pode ser lido como uma figura geométrica. Na lógica euclidiana se um triângulo é definido como um polígono de três lados, então polígono deve ser entendido como uma figura e as figuras como objetos constituídos por linhas. Como linha é uma construção fundamental, o processo de definição se interrompe aí. Embora Euclides tenha reconhecido pela necessidade das propriedades não demonstráveis, axiomas e postulados, ele não considerou a importância lógica dos termos não-definidos ou, de acordo com a concepção contemporânea dos matemáticos Bertrand Russel (1872-1970), e Giuseppe Peano (1858–1932) dos conceitos primitivos. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 9 Euclides procura definir todos os termos que utiliza e assim idéias como ponto, reta ou superfície estão na lista de definições. Como não se faz mais distinção entre postulados e axiomas, elas se tornaram sinônimas e se consideram no sentido euclidiano ou, como fizeram Peano e Russel, significando propriedades intuitivamente evidentes, aceitas independentes de qualquer comprovação, propriedades não – demonstráveis ou propriedades primitivas. No sentido que Aristóteles atribui às idéias que são mais universais são mais elementos, podem se destacar a idéia de ponto na geometria e a idéia de número na aritmética. Como também se aceita que os objetos matemáticos se organizem em conjuntos, a idéia de conjunto, um conceito tornado fundamental para todos os ramos da Matemática, tem o significado de coleção e os seus objetos, quaisquer que sejam, dizem-se elementos. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" ELEMENTOS HISTÓRICOS II 10 A partir de cinco axiomas e cinco postulados Euclides organizou um sistema contendo 465 proposições distribuídas em 13 livros que correspondem aos conteúdos da geometria plana e espacial da escola média contemporânea. Segundo especialistas, embora não se conheça nenhum original dos Elementos, as cópias que nos chegaram parecem ter conservado a autenticidade original, pois as proposições e demonstrações foram essencialmente mantidas como foram escritos. A primeira tradução latina completa é de 1120 do filósofo inglês Adelardo de Bath a partir de uma versão que os árabes fizeram no século VIII das traduções dos manuscritos bizantinos dos trabalhos gregos. Desde a invenção da imprensa e até o século XX não só pelas suas mais de 1000 edições, mas por ter sido mantido sem alterações substanciais por quase 23 séculos, os Elementos é o mais influente livro de matemática editado. A impressão que os seus aspectos formais causaram fez dos Elementos modelo da forma de apresentação das idéias em ciências e matemática. Principalmente como idealização de uma estrutura sistêmica fundamentada pelos processos de raciocínio que se tornaram referência de construção da forma das teorias matemáticas e modelo do que deve orientar uma demonstração. Para se ter uma idéia do tratamento dado aos conteúdos desenvolvidos pelos gregos no estudo do espaço, no espaço geométrico definido por Euclides, contemporaneamente chamado espaço euclidiano, as figuras são estudadas num ambiente onde as distancias são preservadas e o movimento é tratado sem implicações: qualquer figura pode ser deslocada sem alteração de forma ou tamanho. Os objetos das experimentações espaciais como cordas esticadas, retângulos, quadrados, triângulos, círculos ou elipses interpretam-se considerando: I. As formas dos objetos convertidas em abstrações chamadas figuras; II. As relações entre as figuras são enunciadas através de axiomas e postulados; III. Definições, axiomas e postulados fixam um sistema ou modelo; IV. Intermediada pela lógica uma teoria é construída contendo um conjunto de resultados compatíveis entre si. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 11 A teoria euclidiana consolida-se através das interações entre um conjunto de axiomas ou postulados e uma lógica de procedimentos. § 1. ORIGENS I No espaço euclidiano, onde inexistem obstáculos e as relações de inclusão estão claramente estabelecidas, as proposições tem caráter universal, as demonstrações não lidam com experimentações e são dedutivas. Desde os tempos de Euclides as leituras da geometria procuram dar uma descrição do mundo justificadas por um modelo de estruturas dedutivas precisas. Nossas experiências diárias contribuem para autenticar o modelo, pois a primeira leitura que aprendemos do espaço ao nosso redor é conceitualmente euclidiana. A partir dos Elementos, duas importantes escolas passam a contribuir para construção do pensamento: aquelas representadas pelos modelos matemáticos do Egito, Babilônia, Oriente antigo e Índia, predominantemente algorítmica, e a escola estritamente lógica e dedutiva, originada com os gregos. Enquanto na matemática grega as estruturas são rigorosamente lógicas e os objetos se caracterizam por determinadas propriedades, na matemática algorítmica as regras operacionais podem variar de acordo com as técnicas, instrumentos ou a urgência de um problema. A matemática grega, organizada sob a forma de um sistema axiomático, trata fundamentalmente do estudo do espaço. A matemática algorítmica, apresentada sob a forma de coleções de regras computacionais, trata fundamentalmente dos números. A matemática dos números tem suas origens com os babilônios, hindus e os árabes. Os gregos deram aos problemas numéricos conotações geométricas: as comparações entre quantidades são associadas aos problemas sobre comprimentos de dois segmentos ou comparações entre áreas. Os babilônios, os hindus e os árabes, introduzindo símbolos e regras operacionais ao raciocínio tornam possível descrever e tratar das grandezas em outros níveis de abstração e eficiência da matemática grega. Mas, característica da cultura matemática oriental, os babilônios, os hindus e os árabes, que não se preocupavam em demasia com demonstrações, não organizaram seus conhecimentos acerca dos números num modelo axiomático. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 12 Assim dos métodos e técnicas das culturas matemáticas gregas e orientais decorre, por respeito ou circunstância, uma tradição que se estende aos primórdios da era contemporânea: a geometria é ensinada sob o formato dado por Euclides nos Elementos e a matemática das quantidades é ensinada como uma coleção de leis e regras operacionais característicos do ensino da Álgebra ou do Cálculo. § 2. ORIGENS II O processo de adoção dos procedimentos axiomáticos pelos gregos antigos, segundo se credita, está ligado à primeira das três grandes crises que a matemática experimentou ao longo de sua história. No século V a.C. se descobre que nem todas as grandezas geométricas da mesma espécie são comensuráveis: existem grandezas que não são múltiplas inteiras de uma outra tomada comounidade de medida. A diagonal d e o lado a do quadrado, por exemplo, não admitem uma unidade de medida comum, pois d = a 2 e 2 não é um número racional. A descoberta da existência dos números irracionais pelos pitagóricos obrigou uma revisão que só foi superada por volta de 370 a.C. com a Teoria das Proporções de Eudoxo. É a leitura dos incomensuráveis que dá a base necessária para construção do sistema dos números reais no século XIX por Richard Dedekind e Karl Theodor Wilhelm Weierstrass A segunda grande crise advém da criação do Cálculo Diferencial e Integral, uma concepção de Leibnitz e do físico inglês Isaac Newton através de estudos independentes. Entretanto as origens do Cálculo estão no século V a.C. quando os paradoxos de Zenão, discípulo de Parmênides e considerado por Aristóteles o criador da dialética, procuram reduzir ao absurdo os conceitos de multiplicidade e movimento. A terceira grande crise é conseqüência dos paradoxos descobertos na teoria dos conjuntos. Desde 1872 quando Cantor começa a usar a idéia de conjunto para tratar das questões ligadas ao Infinito os conceitos da teoria dos conjuntos sistematicamente são absorvidos pela Lógica e pela Álgebra como meio de expressão da linguagem matemática. Intuitiva, a idéia de conjunto é associada a tudo que percebemos como lista, coleção, grupo ou classes de objetos, genericamente denominados elementos, que podem ser números, pontos, pessoas, letras, fatos ou figuras. Exercendo papel IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 13 unificador e influenciando concepções relativas aos fundamentos da matemática, a descoberta de paradoxos colocou sob suspeita os alicerces da própria matemática. A partir do final do século XIX, o advento de novas geometrias ou a descoberta da existência de outras estruturas lógicas e as possibilidades de leituras dos números naturais ou a geometria euclidiana como modelos fundamentais se consolidam através do século XX pela organização dos objetos matemáticos em denominações bem características: conjuntos, grupos, anéis, figuras, números, funções, espaços vetoriais ou espaços topológicos. § 3. ORIGENS III Como mostra a experiência, as crises se revelam interessantes quando permitem que os conteúdos se reformulem pelos processos de reconstrução dos conceitos. O conhecimento é confrontado pela busca de sentidos e ordem ao caos em que às idéias parecem estar e todo caminho se assemelha à desordem natural da experiência. Mas, encontrando diferenças que normalmente não se percebe e relações entre os agentes da experiência, permite desenvolver raciocínios que se conformam como escolas do pensamento. Certamente os estudos para superação das crises na Matemática e as formas de visão do pensamento matemático estão de muitos modos conjugados. Assim, até por volta de 1930 os estudos da lógica e da fundamentação matemática foram compartilhados pelas escolas logicista, intuicionista e formalista, que muitas influências emprestaram ao pensamento. Daí em diante as três escolas se aproximam, inúmeras correntes surgem e as especialidades se multiplicam. Até porque na Matemática as dinâmicas das transformações parecem estar em sintonia com a percepção de Cantor quando ele afirma que a essência da matemática reside em sua liberdade. Certamente Cantor solicita que procuremos ver o conhecimento matemático como de fato ele é: falível, corrigível, tentativo e evolutivo. Numa definição apropriada dos dicionários a matemática é a ciência das quantidades e do espaço. Esta declaração, entretanto, apenas toca o cerne das preocupações de grande parte dos estudantes sobre o que é matemática ou qual é a finalidade da matemática, IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 14 pois cada geração procura uma resposta e cada resposta é confrontada por elementos tanto individuais quanto coletivos. O matemático francês Jacques Hadamard (1865- 1963) observava que a matemática não é só a mais simples de todas as ciências, mas também a mais perfeita e a mais antiga. Certamente a matemática é humanística enquanto arte. É científico-tecnológico quando aplicada. É platônica se imaginamos que os seus objetos de estudo existem independentes das pessoas. É construtivista, quando consideramos como objeto matemático somente aqueles que podem ser obtidos por uma seqüência finita de construções. É formalista, quando se enuncia através dos conceitos primitivos, axiomas, postulados, definições e teoremas. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" PRIMÓRDIOS PANORÂMICOS HISTÓRICOS III 15 O filósofo grego Aristóteles é considerado o primeiro pensador a sistematizar as regras que orientam a razão na busca da verdade e da validade dos argumentos. Discípulo de Platão, com quem estudou dos 17 aos 37 anos, Aristóteles, fundou em Atenas no ano de 355 a.C. o Liceu, sistema educacional que ficava próximo ao templo dedicado ao deus Apolo Lício. As despesas do Liceu eram asseguradas pelas contribuições de particulares e da corte macedônica, pois dos discípulos nada se cobrava. Da corte macedônica, através de Alexandre o Grande, de quem Aristóteles foi tutor, em respeito e afinidade ao preceptor de sua juventude, chegavam também valiosas contribuições de materiais que os estudiosos que acompanhavam as campanhas de Alexandre iam recolhendo. Também chamada escola peripatética, pois Aristóteles costumava expor suas idéias ao ar livre passeando com os alunos sob a sombra das árvores das avenidas de que dispunha o local, o sistema educacional do Liceu, voltado para as pesquisas das ciências, ensinava a desenvolver a investigação dos fenômenos naturais com base na experimentação. O ensinamento de Aristóteles, que aborda vastos campos do conhecimento, é proveniente das anotações dos seus alunos organizados em quatro grandes grupos de obras. Uma delas, sob a denominação Organon, inaugura o estudo da disciplina que os séculos denominaram Lógica. Aristóteles organizou, sistematizou e ampliou o conhecimento cientifico da Antiguidade através de modelos que se tornaram as principais bases de visão do universo. A Lógica Matemática e as lógicas contemporâneas fundamentam-se ou surgiram como crítica a lógica aristotélica, também chamada Clássica. Embora todos tenham motivações para descobrir a verdade e uma aptidão natural que se revela como bom senso, através da lógica pode-se aprender a determinar a partir das informações disponíveis sobre um dado assunto, se as conclusões que inferimos são válidas e o que pode ser entendido como verdade. Melhor se temos como converter as informações para a linguagem que lhe é própria. Apesar da variedade dos elementos da lógica contemporânea, o estudo das estruturas lógicas da Matemática desenvolve-se através dos conceitos, juízos ou relações e o raciocínio. Estes, por sua vez, representam-se, quaisquer que sejam os IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801-IPEMIG – Conhecimento que transforma" 16 meios, como termo, proposição e argumento. Assim, enquanto a proposição é a expressão de um juízo, o argumento é a expressão de um raciocínio. § 1. DESENVOLVIMENTO DA LÓGICA I A preocupação fundamental da Lógica foi compreender a análise do raciocínio desde a formação da idéia até a elaboração dos argumentos. Quando alguém afirma que a porta está aberta, está implícito que a idéia de porta e o conceito de estar aberto são evidentes. Mas, ao se afirmar que a medida da circunferência da Terra é, aproximadamente, 40.000 km ou, que toda função limitada e contínua por partes num intervalo fechado [a, b] é Riemann-Integrável neste intervalo, pressupõe que os conceitos constituintes estão claramente estabelecidos. Certamente algumas idéias são aceitas com tanta naturalidade que dispensam explicações ou definição. Entretanto, quando as sentenças procuram descrever ou argumentar, elas transmitem informações que podem exigir justificativas. Enquanto a sentença a porta está aberta pode dispensar qualquer explicação, a afirmação que declara o valor da medida da circunferência da Terra requer comprovação. Comprovar uma sentença é estabelecer uma conexão entre a afirmativa elaborada a partir de outras previamente conhecidas. Mais precisamente, é construir um conjunto de nome argumento, constituído de n+1 sentenças, cada uma delas chamada premissa, de modo que aquela que requer justificativa é chamada conclusão. Mais detalhadamente, designando por P1, P2, . . . , Pn e C, n + 1 sentenças dadas, um argumento é toda seqüência finita de premissas P1, P2, P3, . . . , Pn, onde C, conseqüência de P1, P2, P3,... é a conclusão. Para usar uma expressão do lógico matemático norte-americano Alfred Tarski (1902–1983), pode-se distinguir na elaboração de um argumento dois níveis de discurso: a linguagem da qual se fala, chamada linguagem-objeto, e a linguagem com a qual se fala, denominada metalinguagem. Na Matemática, onde as conclusões se apresentam como conseqüência de certas premissas admitidas como verdadeiras chamadas hipóteses [hypo (subjazer) + thesis (idéia, teoria)] ou conjunto de dados, os pensamentos, expressos numa IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 17 linguagem própria e característica, necessitam de uma linguagem auxiliar, ou metalinguagem, para tornarem-se compreensíveis. A parte de uma linguagem usual como metalinguagem que apresenta interesse para expressar os conceitos matemáticos na construção de uma hipótese é exatamente aquela constituída por sentenças declarativas que podem ser classificadas, segundo um, e somente um, dos valores lógico verdadeiro ou falso. § 2. DESENVOLVIMENTO DA LÓGICA II Nas vertentes do desenvolvimento da lógica, os megáricos, da escola de Mégara (Sicilia, 450 a.C–380 a.C), fundada pelo filósofo grego Euclides, o Socrático, e os estóicos, da escola Estóica, fundada por Zênon de Cítio (335 a.C - 264 a.C), discípulo de Euclides o Socrático, empregaram nomenclaturas e desenvolveram estudos considerados continuidade dos ensinamentos que não se encontravam em Aristóteles. No entanto, rivalidades entre estóicos e aristotélicos impediram que essas abordagens se reunissem numa só teoria. Após o período estóico segue-se longo período ao qual se credita dedicado ao aperfeiçoamento das técnicas e ensino da Lógica com destaque aos elementos de união entre as lógicas aristotélica e estóica. No período medieval ocidental as tradições se dão mais pelos conteúdos que as controvérsias teológicas significaram. Predominante até o século XVII, as tradições medievais dividiram o estudo da Lógica em dois grandes grupos: Lógica Menor ou Formal e Lógica Maior ou Material. A Lógica Menor, absorvida pelas ciências e filosofia, estuda a forma dos argumentos. A Lógica Maior se ocupa em determinar o conteúdo ou a veracidade das proposições contidas num argumento. Entretanto, às idéias de Aristóteles pouco se acrescentou até o século XVI. Coube ao matemático alemão Gottfried Wilhem Leibnitz (1646–1716) as primeiras antecipações dos estudos que viriam a se tornar no século XIX, fundamentalmente devido aos trabalhos do matemático inglês Geoge Boole (1815 - 1864), do matemático inglês de origem hindu Augustus de Morgan (1806 - 1871) e do matemático alemão Gottlob Frege (1848 - 1925), uma nova forma de lógica: a Lógica Simbólica Clássica, Lógica Abstrata ou Lógica Matemática. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 18 Leibniz, um dos precursores do sistema binário, a partir de 1666 propõe idéias inovadoras às quais chamou lógica matemática e utilizou em vários trabalhos. Mas, como não as publicou, sua importância passou ignorada por seus contemporâneos. Leibnitz construiu a primeira máquina calculadora que realizava multiplicações. Projetada para operar com números na base 10, não chegou a ser convertida para operar no sistema de base 2. Números na base 2, diga-se, comportam muitos algarismos 0 e 1. Por exemplo, o número 10 na base 2, (10)2,escreve-se como 1010 (leia-se um zero um zero), (100)2 =1100100; (533)2=1011011101; (15752)2= 1110110001000. § 3. DESENVOLVIMENTO DA LÓGICA III É Leibnitz quem vê que a Lógica é uma Álgebra ou que a Álgebra é uma Lógica. Critico da lógica aristotélica ao considerar que ela mostra verdades conhecidas, mas não revela novas verdades, Leibnitz foi o primeiro pensador a perceber que as leis do pensamento contêm decodificações essencialmente algébricas ou que a lógica é uma espécie de álgebra ou que a álgebra é uma lógica. As preocupações de Leibnitz na busca de uma linguagem matemática logicamente universal iniciam procedimentos de criação de símbolos universais num simbolismo reduzido com o objetivo de orientar o processo do raciocínio formulando conceitos que facilitem as operações lógicas. Por tudo isso é importante que se note que até então, desde os tempos de Aristóteles, o raciocínio lógico era totalmente desenvolvido com o uso da linguagem corrente e Leibnitz foi o primeiro pensador a ter a idéia de usar uma linguagem artificial para significar a estrutura dos pensamentos. Para tanto observe que uma linguagem, ou todo sistema de símbolos utilizados como meio de comunicação, pode ser classificada em linguagens naturais ou línguas, como o português, o francês ou o inglês, em linguagens artificiais, como a linguagem da geometria, da álgebra ou as linguagens que comunicam instruções a uma máquina. Enquanto as línguas surgem e se desenvolvem a partir de um grupo de indivíduos e estão sempre em transformação, as linguagens artificiais, aquelas onde as IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 19 palavras ou os conceitos são substituídos por símbolos, possuem uma gramática que não se altera com o passar do tempo. Para exemplificar mais de acordo com Tarski, considere o argumento: As raízes da equação x 2 3x + 2 = 0 são x = 1 ou x = 2. Os termos x2 3x + 2 = 0, x = 1 e x = 2 são termos da linguagem matemática, que atua como linguagem – objeto, e a língua portuguesa, que contém a mensagem transmitida, atuam como metalinguagem.Como é grande o interesse contemporâneo pelas metodologias de construção e análise dos argumentos, o estudo das linguagens artificiais que atuem como linguagens-objeto, como é o caso próprio da Matemática, torna-se cada vez mais requisitado. § 4. DESENVOLVIMENTO DA LÓGICA IV Desde o simbolismo de Leibnitz a idealização de uma álgebra da lógica começa a formar contornos em 1847 e 1848 quando, respectivamente, De Morgan e Boole publicam Lógica Formal ou Cálculo de Inferência e Análise Matemática da Lógica. Em Análise Matemática da Lógica Boole diz: Poderíamos, com justiça, tomar como característica definitiva de uma verdadeira Matemática, que é uma forma de raciocinar baseada no uso de símbolos, o uso combinatório destes como interpretação consistente do mundo em que vivemos. E é baseando-se nesse principio geral que eu pretendo estabelecer o Cálculo da Lógica e que reivindico para ele um lugar entre as formas reconhecidas da Análise Matemática. Boole percebeu que o estudo da Lógica se dividia em três estágios: lógica grega, lógica escolástica, ensino filosófico do século X ao século XVI que relacionava dogmas cristãos à filosofia tradicional, e lógica matemática. Em 1854, em Pesquisas sobre as leis do pensamento, Boole dá forma às percepções de Leibnitz . As preocupações de Leibnitz também se fazem presente entre 1879 e 1903 nos estudos de Gottlob Frege, Cantor, Peano, e em 1910 na obra Principia Mathematica de Bertrand Russel e Alfred North Whitehead. Em 1880 Peano e sua escola desenvolvem uma linguagem artificial que dá uma visão universal dos mecanismos lógicos das IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 20 teorias matemáticas. Com 3 conceitos primitivos e 5 axiomas ampliam os domínios da axiomática matemática desenvolvendo a Teoria dos Números Naturais. Completando o ciclo axiomático fundamental Frege elabora um conjunto de princípios que orientem as regras da demonstração e caracterize o que é uma demonstração matemática. Certamente uma proposição está demonstrada se ela decorre de proposições cuja verdade esta estabelecida. A questão, a saber, é: o que garante a verdade das premissas? Embora estudantes de Matemática treinem para lidar com este dilema na geometria e aritmética, este treinamento, como Frege observou, não dá garantias, pois podemos acreditar ter demonstrado aquilo que não estava terminado. As idéias de Frege, baseada na simbologia matemática e na análise formal do discurso, organiza o raciocínio numa espécie de gramática empregada em diversas linguagens, como a proposicional, que estuda a relação dos juízos entre si ou a de predicados, que analisa a estrutura das sentenças. Favorecendo reavaliações no estudo da lógica, a partir daí a lógica aristotélica adquire a denominação Lógica Clássica. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" PRIMÓRDIOS PANORÂMICOS HISTÓRICOS IV 21 Os trabalhos de Boole, De Morgan e Frege promovem a autonomia da Lógica Clássica destacando-a da Filosofia. Boole e De Morgan desenvolvem a álgebra da lógica, os trabalhos de Frege influenciam as pesquisas de Russel e Whitehead, que adotam o simbolismo de Peano, mais simples que o de Frege. Hilbert elabora os critérios que permitem separar nos sistemas lógicos a metalógica destes sistemas. Entretanto apesar da variedade dos elementos da lógica contemporânea, o estudo das estruturas lógicas da Matemática desenvolve-se através dos conceitos, juízos ou relações e o raciocínio. Estes, por sua vez, representam-se, quaisquer que sejam os meios, como termo, proposição e argumento. Enquanto termo é a expressão do conceito, a proposição expressa um juízo e o argumento é a expressão do raciocínio. A leitura de cada um desses seis elementos tem interesse para facilitar a compreensão das estruturas lógicas da Matemática. Segundo Aristóteles, a percepção de um objeto tal como ele é, como forma ou imagem, constitui o primeiro plano de expressão de uma idéia. É uma operação de simples apreensão que produz um conceito. A palavra idéia, do grego idea, forma, imagem, significa noção e conceito, do latim conceptium, aquilo concebido na mente. Quando o espírito, do latim spiritus, sopro, faculdade de compreender, conhecer, imaginar, apreende duas idéias de um conjunto de idéias e as aproxima, ele as compara. Conseqüentemente uma avaliação entre elas é estabelecida. Deste processo, segundo Jacques Maritain, professor do Instituto Católico de Paris (1882 – 1973), decorre um juízo: ato do espírito pelo qual ele une quando afirma ou separa quando nega. Portanto, um juízo é uma operação pela qual formamos uma sentença afirmando ou negando algo a respeito de um sujeito. Para Aristóteles, a sentença que expressa um juízo deve ter a forma sujeito- verbo ser - predicado num nível de concordância tal que a asserção ou será verdadeira ou será falsa. O sujeito e o predicado são termos que expressam um conceito portador de significado com determinada realidade. O verbo ser, ligando o sujeito ao predicado, indica a qualidade atribuída ao sujeito ou, qual comparação ou relação que está sendo estabelecida entre o sujeito e o predicado. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 22 A idéia de relação inclui-se na categoria dos conceitos que aprendemos a denominar como primitivos ou aqueles aceitos independentes de definição. § 1. REPRESENTAÇÃO DE UM CONCEITO A representação material ou simbólica de um conceito ocorre através dos termos, partes ou sinais sensíveis da expressão de uma idéia. Por exemplo, números são idéias representadas através de símbolos chamados numerais. Assim 2, dois, II,..., - -, 8 - 6, deux, two,... , são numerais de um mesmo número: representam à mesma idéia de quantidade. Para outro exemplo, círculos, quadrados, triângulos também se representam naturalmente. Entretanto, idéias como infinito, existência ou eternidade, para as quais não há imagem interior, se representam pelo sentido ou significação de que são portadoras. Enquanto conceitos como liberdade, dignidade, sexualidade, propriedade ou divindade, variam de significado entre os povos ou se alteram no tempo, os conceitos matemáticos procuram a universalidade e perfeição. A versão original da demonstração do teorema de Pitágoras, a idéia de círculo ou o conceito de número primo, por exemplo, desde os tempos de Euclides jamais sofreram correções, mas extensões. Um conceito é tanto mais perfeito quando procura corresponder de forma exata ao objeto apreendido. Assim ele poderá ser claro ou distinto. Será claro se os elementos apreendidos pela mente são capazes de distingui-lo em qualquer outra classe de conceito. Enquanto a idéia de triângulo é clara, pois os elementos percebidos são suficientes para distingui-lo de qualquer outro conceito, como tigres ou círculos, a idéia de polígono está obscura, pois não oferece elementos distintivos para diferenciá- lo, já que um polígono pode ser um triângulo, um quadrado, um losango,... Um conceito será distinto quandoapresenta todos os elementos necessários à sua individuação. Certamente, se um conceito é distinto, ele será claro. Mas nem todo conceito claro é necessariamente distinto. Enquanto a idéia de triângulo retângulo é distinta e clara, a idéia de triângulo é clara, mas não é distinta. Os conceitos podem ser singulares, particulares ou universais. Será singular se representa um só elemento distinto. Por exemplo, o conceito de número cinco ou Pitágoras é um matemático do século V a.C. Será particular quando representa alguns IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 23 elementos de determinado conjunto. O conceito de número impar no contexto dos números inteiros positivos ou o conceito de triângulo retângulo no universo dos triângulos são exemplos. Será universal quando representar toda uma classe. § 2. EXTENSÃO OU COMPREENSÃO I Segundo Maritain, a extensão de um conceito é a sua amplitude em relação aos objetos do pensamento aos quais se aplica e agrupa em sua unidade. Em geral a extensão se dá pelos desdobramentos aos qual a idéia convém ou se aplica, sendo tanto maior de acordo com o número de objetos abrangidos. Assim ela é identificada com a quantidade. A idéia de número inteiro, por exemplo, têm extensão universal, pois abrange, citando algumas extensões, os números inteiros: positivos, negativos, não positivos, não negativos, não nulos, os pares, ímpares, primos, múltiplos, divisores, ou as operações algébricas. A idéia de triângulo também tem extensão universal, pois se compõe pelos triângulos: eqüiláteros, aqueles de lados iguais ou congruentes; isósceles, que tem dois lados iguais; escalenos, de lados com medidas diferentes; acutângulos, aqueles com ângulos internos agudos; obtusângulos, ângulo interno obtuso e dois agudos; retângulos, ângulo interno reto e dois agudos; triângulos inscritos, circunscritos, pitagóricos,... Quando dois conceitos têm a mesma extensão eles se dizem equivalentes. Os conceitos triângulo eqüilátero e triângulo eqüiângulo são equivalentes, pois o triângulo eqüilátero, tendo todos os lados de mesma medida, terá todos os ângulos iguais. A compreensão de um conceito, por sua vez, se dá pelos elementos nele contidos ou o conteúdo da idéia: é a amplitude do conceito em relação aos elementos que o caracterizam ou da identificação do seu significado quanto à qualidade. Por exemplo, uma restrição na extensão da idéia de polígono para figura poligonal triangular, aumenta a compreensão, pois diz que a figura é um triângulo. Uma nova redução para figura poligonal regular determina um triangulo eqüilátero. Através de sucessivas restrições na extensão, digamos figura geométrica, é possível passar para um conceito particular, digamos, triângulo eqüilátero. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 24 Enquanto a extensão torna-se cada vez menor, a compreensão em cada etapa é cada vez maior. Por exemplo, os conceitos número cinco, número impar, número inteiro, número racional, numero real estão em ordem crescente de extensão e em ordem decrescente de compreensão. Portanto, qualidade e quantidade relacionam-se do seguinte modo: quanto maior a extensão, menor será a compreensão e, quanto maior a compreensão, menor a extensão. § 3. EXTENSÃO OU COMPREENSÃO II Os conceitos matemáticos são de extensão infinita. Mas as propriedades que definem o objeto matemático, ou sua compreensão, são em número limitado e bem caracterizado. O conceito de figura geométrica (F), por exemplo, é mais extenso que o conceito de polígono (P). O conceito de polígono é mais extenso que o conceito de quadrilátero (Q) que é mais extenso que o conceito de retângulo (R). Assim Figura Geométrica tem compreensão menor que o conceito de polígono. Polígono tem compreensão menor que o conceito de quadrilátero que tem menor compreensão que o conceito de retângulo. Enquanto o conceito cresce em extensão ele decresce em compreensão. F P Q R I Desde que as extensões de dois conceitos A e B estejam contidas em um conceito mais geral C, os conceitos A e B dizem-se coordenados em relação a C. Os conceitos de retângulo, quadrado, quadrilátero e paralelogramo, estão coordenados em relação ao conceito de polígono. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 25 Os conceitos de Número Par (P) e Número Ímpar ( I ) - veja Diagrama 1 - estão coordenados em relação ao conceito de Numero Inteiro Positivo. Os conceitos de triangulo retângulo (TR) e de triangulo isósceles (TI ) estão coordenados em relação ao conceito de triangulo. Ilustrado pelo Diagrama 2, pode existir um triângulo retângulo e isósceles embora o triângulo isósceles não seja, necessariamente, retângulo. . P I TR TI Diagrama 1 Diagrama 2 § 4. REPRESENTAÇÃO DE UM TERMO OU CONCEITO II O termo é a representação material ou simbólica de um conceito. O termo significa o conceito: ele o substitui. A idéia deixa de ser uma operação mental para se transformar num sinal através de palavras, sons ou figuras. Assim as idéias podem ser registradas, compartilhadas e comunicadas. O termo deve ser considerado segundo a compreensão, função e extensão. Segundo a compreensão, ele é unívoco quando substitui a idéia de um único objeto ou a idéia de uma classe de objetos. São exemplos: o desenho da figura de um círculo, a idéia de ponto e a idéia de conjunto quando representadas por uma letra maiúscula do alfabeto latino ou a idéia de reta representada por uma letra minúscula. Ainda segundo a compreensão será análogo se aplicado a idéias relacionadas por semelhança ou linguagem figurada e será equivoco se estiver se referindo, por exemplo, a conceitos como rosa, cor e rosa, flor. Segundo Aristóteles, o termo exerce a função sujeito ou função predicado de acordo com a extensão ou aos objetos aos quais se refere. Assim o sujeito é universal se ele identifica todos ou nenhum elemento de um conjunto. É particular se faz referência a apenas alguns elementos e singular quando trata apenas de um elemento. O predicado, segundo a extensão, depende da qualidade do enunciado ou dele ser IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 26 afirmativo ou negativo. Assim, enquanto as sentenças afirmativas têm predicado particular, as sentenças negativas têm predicado universal. Na sentença todos os triângulos (A) são triláteros (B), o sujeito triângulo é tomado em sentido universal. O predicado trilátero tem sentido particular, pois não se afirma todos os triláteros são triângulos, mas somente alguns triláteros são triângulos, conforme o Diagrama 1, abaixo a esquerda. Diagrama 1 A B Diagrama 2 AB Na sentença negativa alguns triláteros não são triângulos, veja Diagrama 2, enquanto o sujeito é tomado em sentido particular, o predicado tem sentido universal, pois o ser triângulo é negado a todos os triláteros aos quais faz referência. Do mesmo modo se for dito que nenhum triangulo é trilátero, nega-se a todos os triângulos a possibilidade de pertencer ao conjunto dos triláteros. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" AS PROPOSIÇÕES SIMPLES OU CATEGÓRICAS 27 Aristóteles ensinava que a sentença que expressa um juízo deve ter a forma sujeito-verbo ser - predicado onde um termo, o sujeito, a idéia da qual se afirma algo, – liga-se ao outro, o predicado, a idéia que se afirma do sujeito, num nível de concordância tal que a asserção ou será verdadeira ou será falsa. Decorre da conceituação aristotélica que se excluem de concordância lógica as frases exclamativas, interrogativas ou imperativas, pois estas não se classificam em verdadeiras ou falsas. Também se devem excluir frases com mais de um sentido. De fato. A frase as rosas são vermelhas é ambígua, pois tanto pode significar que algumas rosas são vermelhas quanto todas as rosas são vermelhas. Deve se também evitar dizer frases como as rosas não são vermelhas, pois a ela tanto pode ser entendida como algumas rosas não são vermelhas quanto nenhuma rosa é vermelha. Toda proposição enuncia a inclusão ou exclusão do predicado no sujeito: se o atributo dado ao sujeito faz parte ou não da compreensão deste sujeito. O sujeito e o predicado são termos que expressam um conceito portador de significado com determinada realidade. O verbo ser, ou qualquer outro verbo que faz a ligação entre o sujeito e o predicado, indicando a qualidade atribuída ao sujeito ou, qual comparação ou, qual relação existe entre eles, é chamado conceito relacionante ou relação. Nos enunciados: 2 é número par; y = x2 - 3x + 2 ; x + y = 7; Guilherme François L Hospital escreveu em 1696 Analysis dês Infiniment Petits, o primeiro livro texto de Cálculo publicado no mundo, cada uma dessas sentenças contém um modo de relacionamento entre o sujeito e o predicado. Como Júlia e Luciana se relacionam? São primas. Qual relação existe entre x + y e 7? São iguais. A idéia de relação ocorre quando elementos de certos conjuntos, que podem ser números, idéias, pessoas, fatos,... , estão ligados por expressões do tipo... é prima de .., ... é igual a ..., ...é maior do que ..., ... é autor de ... , ... é elemento de ... Outras palavras relacionantes são: portanto, assim, ou, então, e, se, entre, nem, não, todo, há, existe,... IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 28 Para Aristóteles, as sentenças que emitem um juízo devem ser declarativas, pois em nome da clareza e da precisão devem enunciar sem ambigüidades a inclusão ou a exclusão do predicado no sujeito. As sentenças assim entendidas vão se designar como sentenças declarativas, proposições simples, atômicas ou categóricas. EXEMPLO 1 - OS ELEMENTO DA CONCEITUAÇÃ ARISTOTÉLICA. E 1 A – Conceito / Termo: .................. Homem, país, grandeza, número, conjunto, função, função contínua, triângulo, triângulo retângulo, livro, função seccionalmente contínua, polígono regular, polígono regular convexo inscrito em um circulo,,,, Juízo / Proposição: ................ Todo numero racional inteiro é racional; f(x) = x 2 é uma função contínua; Pingüins são aves,... Raciocínio / Argumento:... Toda função diferenciável é contínua. f(x) = x 2 é uma função diferenciável Logo:.................................... f(x) = x 2 é contínua. E 1 B - A sentença cinco é maior do que 2, simbolizada 5 > 2 Através da relação ... é maior do que... , de símbolo “>”, ao comparar as quantidades 5 e 2, estabelece uma verdade onde o numeral 5 desempenha o papel de sujeito e o numeral 2 significa o predicado. O esquema abaixo ilustra os elementos da proposição 5 > 2: Idéia = número Idéia = número Proposição (juízo) s 5 Termo Sujeito > 2 Termo Predicado Valor lógico verdadeiro Relação entre o sujeito e o predicado IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" E 1 C - São sentenças declarativas ou proposições: P1: 5 é um número inteiro P2: 3 é um número racional P3: 7 > 3 P4: 12 – 4 Comentário: 29 Adotaremos a notação L(P) = V para indicar o Valor Lógico Verdadeiro de uma proposição ou, L(P) = F, para significar sua falsidade. Assim, L(P1) = V, L(P2) = V, L(P3) = V e L(P4) = F. Outra notação conveniente é 1 para designar uma proposição verdadeira e 0, se a proposição é falsa. Assim, L(P1) = 1, L(P2) = 1, L(P3) = 1 e L(P4) = 0. EXEMPLO 2 – SENTENÇAS ABERTAS I E 2 A SÃO SENTENÇAS DECLARATIVAS : Q1: Existe um número inteiro x tal que x > 3 Q2: Existem rosas vermelhas Q3: Qualquer que seja x, x 2 3x + 2 = 0 Q4: Para todo x, (x) = x R1: Se um metal é aquecido, ele se dilata. R2: Se a = 3, b = 3 e c = 3 então a = b = c. R3: Duas retas se interceptam em um e apenas um ponto. R4: Qualquer figura pode ser deslocada sem alteração de forma e tamanho. S1: Todos os triângulos são triláteros S2: Nenhum triângulo é quadrilátero S3: A soma dos ângulos internos de qualquer triângulo é igual a 180 graus. S4: Todos os triláteros são triângulos. Comentário: L(Q1) = V, L(Q2) = V, L(Q4) = V. L(Q3) = F, pois uma equação do segundo grau tem no máximo dois valores que a satisfazem. Entretanto, se tais números referem-se ao conjunto A = {1, 2} então, em relação a este conjunto, a propriedade é verdadeira. L(R1) = V, pois trata de uma propriedade característica dos metais. L(R2) = V, L(R3) = V, L(R4) = V, L(S1) = V, L(S2) = V, L(S3) = V, L(S4) = F. E 2 B - NÃO SÃO SENTENÇAS DECLARATIVAS: X1: Que dia é hoje? X2: Proibido ultrapassar. X3 : Feche a porta. X4: Ah! IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 30 X6: Esplendido! X7: As rosas são vermelhas. W1: x + 5 = 7 W2: x + 3 > 5 W3: x 3 = 5 x 2 W4: x 2 – 3x + 2 0 W5: sen x = Comentário: 3 , W6: sen x = 0,866025403 2 Decorre da conceituação aristotélica que se excluem de concordância lógica frases interrogativas (X1), exclamativas (X4 e X6), imperativas (X2 e X3) e ambíguas (X7). As sentenças W1, W2, W3, W4, W5 e W6, chamadas sentenças abertas ou sentenças abertas simbolizadas, também se excluem de concordância lógica, pois elas representam grandezas variáveis como igualdades ou desigualdades,e assim não são susceptíveis de se classificarem em verdadeiras ou falsas. § 1. SENTENÇAS ABERTAS I As grandezas podem ser constantes ou variáveis. São simbolizadas pelas letras iniciais do alfabeto, se elas conservam sempre o mesmo valor, ou pelas últimas letras se elas são variáveis, segundo uma tradição iniciada, pode-se dizer, pelo matemático, físico e filósofo francês René Descartes (1596 – 1650), que costumava representar as incógnitas ou variáveis de um problema pelas últimas letras do alfabeto latino, sempre utilizando a letra x minúscula. Na Matemática as sentenças abertas representam-se sob a forma de equações ou inequações. A palavra equação, do latim aequatio, designando toda sentença aberta que expressa uma igualdade, tem a mesma raiz de igual, do latim aequalis, e igualdade, do latim aequalitas, aequalitatis. Por igual deve-se entender tudo aquilo que tem a mesma natureza, qualidade ou quantidade. Numa sentença aberta, um ou mais símbolos, cada deles denominado variável, guardam o lugar onde certos elementos podem ser colocados. Algumas substituições dão afirmativas verdadeiras e outras, afirmativas verdadeiras. O conjunto de todos os números, ou de um modo geral, elementos de um dado Conjunto Universal U, também chamado Conjunto Universo, que podem ser substituídos numa sentença aberta é chamado Domínio D de definição da sentença. O conjunto de todos os números, ou IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 31 elementos, de D que satisfazem a sentença aberta – isto é, aqueles que a tornam uma sentença verdadeira - constituem o conjunto Solução, de símbolo S. Na pesquisa do conjunto-solução S de uma sentença aberta em relação a um dado conjunto universo U pode ocorrer que nenhum elemento do conjunto U satisfaz a sentença, e neste caso S é chamado conjunto vazio e simbolizado por S = ou S = { }. Pode ocorrer também que S se constitui de apenas um elemento de U ou S se constitui mais de um elemento conjunto U. Se todos os elementos, ou números, de U satisfazem à sentença, isto é S = U, então ela se diz uma identidade, uma lei ou uma tautologia. Por exemplo, dado U = {1, 2}, observa-se que todos os elementos de U podem ser substituídos na sentença x + 5 = 7. Assim o domínio D de definição da sentença é D = U e para x = 2 obtemos uma sentença declarativa verdadeira, que é falsa para o outro valor de D. Assim S = {2}. Analogamente, substituindo x por 1 ou x por 2 na sentença x 2 3x + 2 = 0, observamos que cada um deles produz uma sentença verdadeira. Como S = U= {1.2} essa equação se diz uma identidade. § 2. SENTENÇAS ABERTAS II Quer represente fatos, conceitos ou idéias, determinar os elementos que satisfazem uma sentença aberta ou resolvê-la em relação a um dado conjunto universo U é procurar expressões mais simples e equivalentes à situação original. Assim a resolução de uma sentença acarreta substituições de termos por outros que lhe são equivalentes numa seqüência tal que os elementos que a satisfazem, ou que transformam numa sentença verdadeira, tornam-se perfeitamente identificáveis. Portanto x + 5 = 7 equivale a x + 5 – 5 = 7 – 5 ou x = 2. Logo x + 5 = 7 é verdadeira para x = 2 e falsa para qualquer outro valor atribuído à variável x. Analogamente a equação x2 - 3x +2 = 0, através de manipulações algébricas adequadas, pode ser substituída por (x – 2)(x – 3) = 0. De acordo com o principio: se o produto entre duas quantidades é nulo então pelo menos uma das quantidades é nula, segue-se que (x – 2)(x – 3) = 0 equivale a afirmar que x – 2 = 0 ou x – 3 = 0. Daí decorre ser x = 2 ou x = 3 os elementos que IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 32 satisfazem a sentença x2 - 3x +2 = 0 e pode-se observar que qualquer que seja o conjunto universo U, D = U e S = { 2, 3 }. Muitas deduções, entretanto, podem ser simplificadas através de uma fórmula: toda equação que expressa uma regra, principio ou fato geral. É o que ocorre com a equação do 1º grau a x + b = 0, com a 0. O elemento b . que a satisfaz é dado pela da fórmula x = -a Analogamente a determinação dos elementos que satisfazem a equação do 2º 2 4 grau ax 2 + bx + c = 0, é simplificada pela fórmula são números quaisquer. x b b 2a ac , onde a 0, b e c E 3 A – EXEMPLO 3 - SENTENÇAS ABERTAS II A Sentença 5x - 8 = 4 (2x - 6) - 3x + 7 é falsa para qualquer valor de x. De fato. De 5x - 8 = 8x - 24 - 3x + 7 decorre 5x - 8 = 5x – 17. Daí, 5x - 5x = -17 + 8 ou 0 = -11. A equação é chamada Contraditória, pois nenhum número, qualquer que seja, jamais a verifica. Em termos do conjunto-solução S diz-se que ele é vazio: S = E 3 B - A sentença 5x - 8 = 4 (2x - 6) - 3x + 16 é verdadeira para qualquer x. De fato. De 8 = 8x - 24 - 3x + 16 decorre 5x - 8 = 5x – 8. Daí 5x - 5x = 8 – 8 ou 0 = 0. A equação é chamada uma identidade. Ela sempre se verifica qualquer que seja o valor de x em qualquer conjunto numérico U: S = U. E 3 C – Verifica-se que nenhum número x do conjunto N = {0, 1, 2, 3,...} satisfaz a equação x2- 3x + 1 = 0. De fato. Através da fórmula de resolução da equação ax 2 + bx + c = 0, onde a 0, b e c 2 4 são números quaisquer e x b24ac (3)2 b b 2a ac , temos a = 1, b = - 3 e c =1. Daí, 4.(1).(1) 9 4 5 . Portanto, os valores de x que tornam a IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 33 sentença dada numa sentença verdadeira são dados por x 3 5 oux 3 5 , que 2 2 não são elementos do conjunto N. Assim S = . E 3 D - Considerando que o conjunto universo da equação N = {1, 2, 3, 4,...}, observamos: 161 x 5 = 7 é o conjunto N, (1) x = 5 não pode ser substituído na equação, pois gera a indeterminação 161 = 0 7. Assim, o valor x = 5 deve ser excluído do domínio D de definição da equação. (2) Qualquer valor diferente de 5 gera afirmativas que podem ser classificadas em verdadeiras ou falsas; (3) O domínio D de definição da equação vai se constituir, portanto, de todos os valores de x diferentes de 5: D = N – { 5 }. (4) Resolvendo a equação encontramos que o único elemento de D que torna a sentença aberta numa sentença verdadeira é x = 28. Daí S = {28}. E 3 E – São Exemplos de Identidades: I) x + 2x = 3x II) 2x + 5 = 5x +10 – 3x – 5 III) (x + 1) 2 = x 2 + 2x + 1 V) x 2 – 4 = (x – 2) (x + 2) IV) (x – 3) 2 = x 2 – 6x + 9 VI) x 3 - 3 2 = (x – 3) (x 2 + 3x + 9) VII) x 5 – 2 5 = (x – 2) (x 4 + 2x 3 + 4x 2 VIII) – (–x) = x § 3. QUANTIFICAÇÃO DE SENTENÇAS ABERTAS Embora as sentenças abertas jamais se classifiquem como verdadeiras ou falsas, se quantificadas elas podem ser qualificadas ou tornarem-se sentenças declarativas. Os quantificadores matemáticos são o quantificador universal, de símbolo “”, lido como para todo... ou qualquer que seja..., o quantificador existencial “”, que se lê existe..., existe algum..., têm o sentido de mais de um ou muitos, mas não todos e o quantificadorexistencial especial “ ! ” que lido como existe apenas um .... IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" EXEMPLO 4 - QUANTIFICAÇÃO DE SENTENÇAS ABERTAS EM U = = { 0, 1, 2, 3, ...} E 4 A SENTENÇAS QUANTIFICADAS VERDADEIRAS I i) x, (x + 1) 2 = x 2 + 2x + 1 : para todo x, (x + 1) 2 = x 2 + 2x + 1 ii) x N / x + 2 = 5 : existe pelo menos um x N tal que x + 2 = 5 iii) |x N / x + 2 = 5 : existe apenas um x N tal que x + 2 = 5 iv) x N, x 2 + 1 > 0 : qualquer que seja x, x 2 + 1 > 0 v) x N, (x) = x : para cada x, (x) = x vi) x N / x 3 = 5x 2 : existe algum x N tal que x 3 = 5x 2 . 34 Se o conjunto universo U não for explicitado, como em (i), conjeturamos que a sentença tem validade qualquer que seja o conjunto universo. E 4 B SENTENÇAS QUANTIFICADAS VERDADEIRAS II i) x N, x + 2 = 5 iii) |x N / x 3 = 5x 2 v) x N / x 2 + 1 > 0 ii) x N, x 3 = 5x 2 iv) x N / (x + 1) 2 = x 2 + 2x + 1 vi) x N / (x) = x E 4 C AVALIAÇÃO LÓGICA DE SENTENÇAS QUANTIFICADAS i) x N/ x + 3 = 10 (F) ii) x N / x + 3 = 5 (V) iii) x N / x + 3 < 10 (V) iv) x N / x + 3 5 (V) v) x N / x + 3 7 (F) vii) x N / x 2 = 4 (V) vi) x N / x 2 = 4 (F) EXEMPLO 5 - QUANTIFICAÇÃO DE SENTENÇAS PARA U = = { 0, 1, 2, 3, ...} E 5 A – As soluções da sentença x2 3x + 2 = 0 são x = 1 ou x = 2. Assim: i) x N, x 2 3x + 2 = 0 (F) IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" 35 ii) x N / x 2 3x + 2 = 0 : Existe elemento que não pertence ao conjunto N que é solução da equação x2 3x + 2 = 0 (F) iii) x N, x 2 3x + 2 = 0 (F) iv) | x N / x 2 3x + 2 = 0 (F) v) x N / x 2 3x + 2 = 0 (V). E 5 B – A sentença 5x + 2 12 i) x N, 5x + 2 12 (F) ii) x N / 5x + 2 1 (V) iii) |x N / 5x + 2 12 (F) iv) x N , 5x + 2 12 (F) Note-se: (1) Adicionando-se 2 a ambos os membros da desigualdade 5x + 2 12, decorre 5x + 2 2 12 2 e ela se preserva como 5x 10; (2) Dividindo-se ambos os membros de 5x 10 por 5, segue-se x 2. Portanto, os números x de N que satisfazem x 2 são S = {0, 1, 2}. Note-se que está implícito neste raciocínio, como em todo raciocínio matemático, um interessante lema matemático: o melhor modo de resolver um problema novo é procurar reduzi-lo a um, ou mais problemas já conhecidos. Assim através das conseqüências técnicas decorrentes dos Axiomas que Euclides enuncia nos Elementos, 5x + 2 12 tornou-se equivalente a x 2. E 5 C - i) x N, x (x + 1) = x 2 + x (V) ii) x N / x (x + 1) = x 2 + x (F) iii) |x N / x (x + 1) = x 2 + x (F) iv) x N / 1 x 3 (V) 2 v) |x N / 1 N (V). Note-se que esta expressão só é verificada para x = 0. x 1 x x x i) x N, 2 x (F). Note-se que se x = 0, encontramos 0 0. 3 5 x x ii) x N / 2 (V) 3 5 x x x iii) |x N / 2 (F). Observe-se que a expressão não se verifica para x = 0. 3 5 IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" § 3. O CONTEÚDO DAS PROPOSIÇÕES SIMPLES I 36 As proposições simples, chamadas por Aristóteles de categóricas, classificam- se quanto a extensão ou quantidade e a qualidade. A qualidade de uma proposição é identificada pela forma como é enunciada: se é afirmativa ou negativa. Assim as proposições qualitativas ou são afirmativas, se o sujeito e o predicado concordam entre si, ou negativas, quando o predicado é negado ao sujeito. São exemplos de proposições categóricas quanto à qualidade: AFIRMATIVAS NEGATIVAS Todos os triângulos são triláteros Alguns triângulos são retângulos. Nenhum triangulo é quadrado Alguns triângulos não são isósceles. As proposições quantitativas são do tipo Universal se o sujeito é afirmado em toda a sua extensão. Se o sujeito se afirma em extensão restrita as proposições quantitativas são chamadas Particulares. Se estiverem se referindo a um só elemento são chamadas Singulares. Como a extensão de uma proposição está subordinada à extensão do termo sujeito, isto significa que para determinar a extensão de uma proposição, basta analisar os quantificadores do sujeito. Assim, são exemplos de proposições categóricas quanto à extensão: UNIVERSAIS PARTICULARES SINGULARES Todos os triângulos são triláteros Nenhum triângulo é quadrado. Alguns triângulos são retângulos Alguns triângulos não são isósceles. O Triangulo ABC é retângulo. O Triangulo ABC não é isósceles. IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" § 4. O CONTEÚDO DAS PROPOSIÇÕES SIMPLES II 37 Desde que a conceituação aristotélica formulou os quatro modos de apresentação das proposições lógicas, convencionou-se classificá-las de acordo com a combinação dos critérios da qualidade e da extensão em A, E, I, O. A e I são as duas primeiras vogais da palavra afirmo. E e O são as vogais de nego. Os quadros abaixo resumem os quatro tipos de proposições categóricas da formulação aristotélica TIPO EXTENSÃO A UNIVERSAL E UNIVERSAL QUALIDADE AFIRMATIVA NEGATIVA FORMA GERAL TODO A É B NENHUMA A É B I PARTICULAR AFIRMATIVA ALGUM A É B O PARTICULAR NEGATIVA ALGUM NÃO É B A partir do quadro geral acima se pode observar como o termo sujeito e o termo predicado é distribuído para cada tipo de proposição. A partir do quadro geral abaixo pode-se verificar a distribuição o sujeito e do predicado para cada tipo de proposição: 1. As proposições do tipo A e E tornam o sujeito universal e as sentenças do tipo E, O torna o predicado universal; 2. As proposições do tipo I e O não distribuem o sujeito e as proposições do tipo A e I não distribuem o predicado. TIPO EXTENSÃO A UNIVERSAL E UNIVERSAL QUALIDADE AFIRMATIVA NEGATIVA EXTENSÃO DO SUJEITO UNIVERSAL UNIVERSAL EXTENSÃO DO PREDICADO PARTICULAR UNIVERSAL I PARTICULAR O PARTICULAR AFIRMATIVA NEGATIVA PARTICULAR PARTICULAR PARTICULAR UNIVERSAL IPEMIG - Instituto Pedagógico de Minas Gerais www.ipemig.com.br (31) 3484-4334 –(31) 8642-1801 -IPEMIG – Conhecimento que transforma" E 6 A - AFIRMAÇÃO EXEMPLO 6 - PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS 38 UNIVERSAL Todos os astronautas
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