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Geologia Estrutural na previsão e contenção de queda de blocos em encostas: aplicação no Granito Santos, SP. 2010. ALEXIA FERRREIRA MORAES ALINE VIRGINIA PONTES BEZERRA ISABELA DANTAS DE SOUZA MATEUS PARANHOS COSTA DA FONSECA MATTHIAS SCHMIDT UNIVERSIDADE FEDERAL DO ALAGOAS CENTRO DE TCNOLOGIA GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL Interesse prático da pesquisa Os estudos geológicos e estruturais na região do Morro de Santa Terezinha merecem destaque devido a diversos episódios de acidentes geológicos que provocaram perda de vidas humanas e perdas materiais. O escorregamento reincidiu em local onde por erosão havia se formado uma ravina, local de escoamento de uma pequena corrente de água Interesse prático da pesquisa Diante do notável histórico de acidentes, novos estudos geológicos e estruturais na região do Morro de Santa Terezinha são importantes para evitar, ou ao menos mitigar, novos casos. Esse é o objetivo perseguido no projeto de instalação de um parque de lazer no sopé da encosta (Bureau 2010), atualmente em fase de edificação. LOCALIZAÇÃO Morro de Santa Terezinha Santos, SP Fonte: Google Maps (2018) GEOLOGIA LOCAL Sustentação por rochas predominantes como: gnaisses e migmatitos oftalmíticos e estromatíticos, Formada por condições tectônicas intensas No Ciclo Brasiliano a intensa deformação regional foi responsável por migmatização, recristalização de milonitos, redobramento e aparecimento de corpos de rochas granitóides porfiróides. Formando o Granito Santos. Tectonismo tardio Falhas com rochas intrusivas básicas GEOLOGIA LOCAL • Granito Santos: é um granito a duas micas, intrusivo, não-orientado, de coloração cinza, ocasionalmente bege a róseo e granulação fina a média. O maciço sustenta os morros de Santa Terezinha, José Menino e Voturuá. Apresenta microclina micropertítica, quartzo e oligoclásio como minerais principais, biotita e muscovita como minerais acessórios, e zircão, epídoto e opacos em menor quantidade. A textura característica é granular hipidiomórfica. • Aplitos e pegmatitos seccionam tanto o maciço rochoso como as demais unidades encaixantes. Os pegmatitos se apresentam zonados, com bordas aplíticas e núcleos grossos: cristais de muscovita e feldspato tendem a se alongar perpendicularmente às paredes de muitos diques e veios. GEOLOGIA LOCAL GEOLOGIA LOCAL Apresenta mineralogia composta de biotita (15%), quartzo (40%) e feldspato (45%). GEOLOGIA DO MORRO DE SANTA TEREZinha Mapeamento estrutural Principal tipo litológico: Granito Santos Nas proximidades do morro, pode ser encontrado de forma localizada um dique intrusivo de diabásio GEOLOGIA ESTRUTURAL A Geologia Estrutural deve ser considerada parte fundamental no estudo de casos isolados e em abordagens regionais sobre o potencial de ocorrência de escorregamentos numa determinada área. As estruturas exercem enorme influência sobre o perfil do solo, forma da encosta, fluxo de água subterrânea e superficial e escavabilidade dos materiais. GEOLOGIA ESTRUTURAL: JUNTAS DE ESFOLIAÇÃO Também podem ser chamadas de juntas de alívio de carga. São descontinuidades extensas, não necessariamente limitadas a superfícies planas. Geralmente, tem um aspecto de “casca de cebola”. Devido ao intemperismo, pode ocorrer o desplacamento das massas rochosas, capazes de se desprender e deslizar encosta abaixo. Geologia estrutural: juntas de esfoliação Concentram-se próximo à superfície, tornando-se mais espaçadas com a profundidade, podendo desaparecer a algumas dezenas de metros de profundidade O deslizamento ocorre caso o mergulho exceda o ângulo de atrito. Reconhecer a existência dessas juntas é importante (INFLUÊNCIA NA ESTABILIDADE DE TALUDES). Esquema, em perfil, de juntas de esfoliação GEOLOGIA ESTRUTURAL: ENCOSTA DO MORRO DE SANTA TEREZINHA GEOLOGIA estrutural: LEVANTAMENTO No projeto, realizado pela empresa Bureau (em 2010), foi necessário o levantamento topográfico, que foi feito por uma outra empresa. Topografia muito acidentada. Impossibilidade de acesso com os equipamentos convencionais. Solução: Uso do scanner laser Leica HDS Com esse levantamento, foi obtido uma nuvem de pontos gerando o mapeamento da encosta. Com a malha 3D e as medidas feitas por rapel, foi elaborado o mapa estrutural da região. Leica HDS GEOLOGIA ESTRUTURAL GEOLOGIA ESTRUTURAL: ESTUDO DE CASO Duas famílias principais de fraturas e juntas: Uma na vertical, com direção noroeste e sudeste (NW-SE) E outra na subvertical, no NE-SW. (nordesde – sudoeste) Uma limitação no levantamento é que não ocorreu a separação das atitudes das juntas e das falhas, sendo necessário uma interpretação dos dados obtidos pelos responsáveis técnicos. As juntas de esfoliação estão razoavelmente regulares, e possuem um predomínio na direção NW-SE e mergulho regular para NE. Geologia estrutural: SISTEMA PRINCIPAL DE FRATURAS Os sistemas de fratura foram divididos em três: o primário, o secundário e o terciário. Primário: apresenta direção média N30E e ângulos de mergulhos entre 60º e 80º. Secundário: direção média N60W e mergulho vertical. Terciário: direção entre N-S e N05E e ângulos de mergulhos entre 60º e 80º. Identificação da direção por meio do rumo GEOLOGIA ESTRUTURAL A estrutura da encosta tem uma presença de diversas fraturas e falhas geológicas. Foram identificados no projeto Bureau: 17 fraturas principais 20 fraturas secundárias 10 fraturas terciárias Devido ao terreno ser, como visto, historicamente acidentado, são permitidas apenas residências unifamiliares. Ou seja, não pode construir: Condomínios, prédios e comércio. Isso ocorre para evitar acidentes, pois essas edificações provocam uma força peso maior no terreno. GEOLOGIA ESTRUTURAL Abertura: cerca de 2cm, com extremos de 10 a 20cm. Nas aberturas maiores ocorre o desplacamento do maciço rochoso. Essas aberturas estavam preenchidas por camada vegetal e não houve presença de calcita ou sílica. A rugosidade e planos de descontinuidade e falhas foi caracterizada de acordo com o seu perfil geométrico e encontrou-se um coeficiente de rugosidade entre 10 a 16 (ou seja, é elevada). GEOLOGIA ESTRUTURAL: CONCLUSÃO No projeto feito pela empresa Bureal, foi considerado coerente adotar ângulo de atrito interno de 45º´nos cálculos de estabilidade de massas de rocha, a partir da caracterização das descontinuidades, e sem admitir presença de volume significativo de água nas mesmas. No projeto, juntas de esfoliação com angulação maior que 45º foram removidas. Movimentação de blocos em encostas Uma movimentação de blocos de rocha ocorre quando um pedaço de rocha desloca-se sobre uma encosta íngreme e cai até a base, enquanto a queda de detritos envolve uma mistura de solo, regolito e rochas. O material depositado acumula-se na base da encosta, na forma de tálus. . As causas da movimentação de blocos podem estar associadas à variação térmica do maciço rochoso, perda da sustentação dos blocos por ação erosiva da água, alívio de tensões, vibrações, ação humana e pela inclinação talude. Movimentação de blocos em encostas: CLASSIFICAÇÃO DA MOVIMENTAÇÃO Fatores condicionantes da movimentação de blocos de rocha FATORES PREDISPONENTES: COMPLEXO GEOLÓGICO: NATUREZA PETROGRÁFICA, ESTADO DE ALTERAÇÃO POR INTEMPERISMO, ACIDENTES TECTÔNICOS, ATITUDE DAS CAMADAS, FORMAS ESTRATIGRÁFICAS COMPLEXO MORFOLÓGICO: INCLINAÇÃO SUPERFICIAL, MASSA, FORMA DE RELEVO; COMPLEXO CLIMÁTICO-HIDROLÓGICO: CLIMA, REGIME DE ÁGUAS METEÓRICAS E SUBTERRÂNEAS; GRAVIDADE; CALOR SOLAR; TIPO DE VEGETAÇÃO ORIGINAL. FATORES EFETIVOS: OS FATORES EFETIVOS PREPARATÓRIOS CLIMÁTICOS ABRANGEM A VARIAÇÃO DA TEMPERATURA, A EROSÃO PELA ÁGUA (OU VENTO), A PLUVIOSIDADE ANTERIOR A UM DETERMINADO EPISÓDIO DE CHUVA ETC. OS FATORES EFETIVOS PREPARATÓRIOS ANTRÓPICOS PODEM SER CLASSIFICADOS EM TRÊS CONJUNTOS: DESMATAMENTO, ALTERAÇÕES NA REDE DE DRENAGEM E USO INADEQUADO DA ÁREA OS FATORES EFETIVOS IMEDIATOS: SÃO AQUELES QUEDEFLAGRAM, OU SEJA, PROVOCAM DIRETAMENTE A MOVIMENTAÇÃO DE BLOCOS DE ROCHA. CHUVAS, TERREMOTOS, CORTES PARA OBRAS CIVIS , DESMONTE DE PEDREIRAS COM EXPLOSIVO Análise de queda de blocos na encosta Método de análise de quedas de blocos em encostas Qualquer levantamento estrutural deve contemplar o registro dos parâmetros listados abaixo (Ramsay e Huber 1987): • Orientação das fraturas. • Espaçamento/frequência, extensão. • Persistência. • “Aspecto”: planaridade relativa e rugosidade relativa. • Grau de abertura e material de preenchimento. • Interrelação de diferentes sistemas de juntas. Esses levantamentos estruturais podem ser lentos ou rápidos, dependendo da extensão da área, da escala de abordagem e do grau de detalhamento exigido pelas aplicações. Assim, a abordagem de cada situação específica deve ser cuidadosamente planejada. Método de análise de quedas de blocos em encostas MÉTODO DE EXECUÇÃO POR RAPEL A técnica possibilitou determinar a orientação e as características de sistemas de juntas de esfoliação que não haviam sido reconhecidas nem caracterizadas com tanto detalhe em trabalhos anteriores. ANÁLISE Maior dificuldade para previsão do início dos deslizamentos: queda/rolamento de blocos. Condição necessária para uma queda de bloco: uma única fratura com orientação desfavorável na encosta. Identificação das juntas de esfoliação: impossibilitada pela existência de vegetação de pequeno a médio porte nas encostas. A execução das medidas por rapel pode garantir acesso a porções fortemente inclinadas da encosta, onde se expõem rochas inalteradas ou pouco alteradas. Além disso, o procedimento de escalada por rapel adotado pela empresa Bureau (2010) para mapear estruturas do Granito Santos pode ser considerado exemplar, porque, diante de uma situação de risco potencial para os geólogos envolvidos, inexperientes em relação à técnica, uma equipe especializada garantiu a infraestrutura e supervisionou o trabalho. Essa ressalva é essencial para evitar a possível repetição autônoma e indevida do procedimento. Isso torna ainda mais remota a possibilidade de se efetuar previsões adequadas em áreas extensas, como as regiões serranas que dominam grande parte das porções costeiras do sudeste brasileiro. Dessa forma, a análise estrutural de áreas de risco em zonas formadas por rochas ígneas de estruturas fraturadas, deveria combinar os métodos de análise e coleta de dados para uma avaliação estatística de descontinuidades presentes, e também ser suficientemente detalhada a ponto de contemplar a situação específica de qualquer junta de esfoliação ou outro tipo de fratura que possa oferecer risco potencial. A identificação visual de juntas de esfoliação é em geral impossibilitada pela existência de vegetação de pequeno a médio porte nas encostas. Assim, deveriam ser desenvolvidas novas tecnologias no campo da investigação geofísica. O aperfeiçoamento da determinação de certos parâmetros pode ajudar a delimitar a extensão, orientação e grau de abertura de juntas de esfoliação. Obras de estabilização As técnicas gerais de melhora e reforço do solo e rocha são usadas para permitir escavações seguras em condições geológicas desfavoráveis. Injeções de maciços rochosos Consolidação: empregada nos maciços rochosos de fundações e taludes. Impermeabilizações: utilizados em barragens e efetuados antes da escavação Obras de estabilização Dreno horizontal profundo: drenar camadas ou feições de um maciço rochoso. Obras de estabilização Ancoragem: conter deformações ou deslocamentos do maciço, melhorando assim sua resistência. Ativas: tirantes Passivas: chumbadores CONCLUSÕES A aplicação da técnica de rapel para coleta de dados estruturais em encosta de alta declividade permitiu obter resultados críticos para avaliação de risco de escorregamentos, desplacamentos e queda de blocos. Estudos geológico-estruturais recentes acentuam a importância das juntas de esfoliação como feições capazes de promover o progressivo isolamento de massas de rocha, que podem se desprender e escorregar encosta abaixo. Juntas de esfoliação acompanham aproximadamente as formas do relevo. Podem criar blocos de rochas propensos a escorregamento em paredes inclinadas de vales, encostas de morros rochosos e falésias. O deslizamento ao longo de planos de esfoliação ocorre caso o mergulho da junta exceda o ângulo de atrito, especialmente quando o sopé do talude tiver sido enfraquecido (naturalmente ou por ação antrópica). Reconhecer a existência de juntas de esfoliação é pois extremamente importante em Geologia de Engenharia, sobretudo devido à sua influência na estabilidade de taludes. Com isso, espera-se que as técnicas de regionalização de padrões de fraturamento se aprimorem cada vez mais, para recompor a geometria interna dos maciços rochosos. Os resultados são de utilidade prática tanto para se avaliar a qualidade e eficiência dos métodos que os geólogos aplicam, como também para melhorar a qualidade do trabalho de geólogos e outros profissionais de engenharia que se interessam em aprofundar-se em estudos de geologia básica e de aplicação. CONCLUSÃO A análise estrutural de áreas de risco deve combinar a avaliação estatística de descontinuidades presentes e a situação específica de cada fratura que possa oferecer risco potencial. Uma vez caracterizadas as famílias principais das fraturas, é viável realizar análise de formação de cunhas. Essa combinação é muito importante para a análise, porque o geólogo que realiza estudos estruturais em áreas de encostas e taludes deve estar atento para detalhes do maciço, como uma descontinuidade isolada, ao mesmo tempo em que busca coletar um conjunto de informações acerca dos padrões locais/ regionais de fraturamento. Se der muita importância para o modelo regional, ou vice-versa, algum aspecto estrutural relevante pode ser ignorado, diminuindo a possibilidade de prever eventuais acidentes, por deficiências do levantamento. Nenhuma cunha favorável ao rumo de mergulho da vertente é formada pelas descontinuidades no presente caso, porque os planos são muito inclinados, até subverticais, e se interseptam no interior do maciço. Excetuadas as importantíssimas juntas de esfoliação, não parece existir no Morro Santa Terezinha outro arranjo estrutural que ofereça risco significativo à estabilidade da encosta
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