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Fichamento Cap.6

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Sarah Elizabeth Andrade – Direito diurno, 1ª fase, 2014.2 
BOBBIO, Norberto. A Teoria das Formas de Governo. 10. ed. UnB. 
 
Capítulo 6 – Maquiavel 
 
 Com Maquiavel, se iniciam novas coisas no pensamento político, que são 
tratadas principalmente em “O Príncipe” e “Comentários sobre a Primeira Década de 
Tito Livio (os Discorsi)”, abordados por Bobbio, sendo que as duas obras são bem 
diferentes. O pensador introduz uma denominação utilizada até hoje: Estado. 
 A primeira grande diferença do que vimos até agora: os governos, para ele, são 
divididos em 2 apenas e não 3 como seus antecessores propuseram. O principado 
(reino, governo de um só) e a república (aristocracia, democracia, governo de muitos). 
O que distingue os vários tipos de república são se ela é dirigida pela vontade de um 
só ou de muitos. Observamos que ele não apenas dividia os governos em 2, mas 
também não os subdividia em “bons” ou “maus”, como visto anteriormente. Ele divide 
pelo modo como foi conquistado. 
 Os autores anteriores tinham suas teorias baseadas na observação, na história 
e com isso formulavam seus pensamentos. Já Maquiavel se destacou por querer 
buscar a verdade efetiva das coisas e ir direto ao ponto, ser mais fiel à realidade ao 
invés de imaginar governos que nunca foram reais. As partes que se refere à historia, 
não recorre à grega, mas sim à romana (exemplo perfeito de que o Estado ou é um 
principado ou uma república). 
 Se o principado ou república não cumpre seu devido papel, ela se torna 
defeituosa e, portanto, instável. Os governos intermediários também são instáveis por 
podem ir pra qualquer um dos dois lados. Porém aqui há uma contradição. Maquiavel 
era defensor da estabilidade do Estado misto, então como, agora, defende que os 
intermediários (nem republica, nem principado, provavelmente um misto) seja 
instável? Bobbio acredita que não é qualquer mistura de formas de governo que 
resultam em um verdadeiro governo misto (portanto, bom). Por isso essa não seria 
uma contradição, já que “governo misto” e “intermediário” não seriam a mesma coisa. 
O governo intermediário corresponderia à dois tipos de governo que conflitaram e 
chegaram a um acordo provisório. 
 Em “O Príncipe”, o principal tema é o “principado novo”, aquele no qual o 
homem que nunca foi príncipe, se vê tendo que manter e governar um Estado na 
condição de principado. Há ainda o “principado hereditário”, aquele que é herdado e 
passado de geração para geração, porém esse não é o foco do autor. Nele pode haver 
barões, a nobreza que vai aconselhar e ajudar o príncipe a governar, tornando-o não-
absoluto. Mas também existe o príncipe que reina segundo sua vontade, mesmo tendo 
alguns ministros servindo como seus servos (monarquia despótica, relação do senhor 
e seu servo, de Aristóteles). 
 O principado novo pode ser de 4 maneiras. Pela virtude, pela fortuna, pela 
violência ou pelo consentimento dos cidadãos. Esses dois primeiros pontos, são 
cruciais, já que a definição dos mesmos são importantíssimas para o estudo de 
Maquiavel. Virtude seria a capacidade de dominar uma circunstancia e fortuna, o curso 
dos acontecimentos, que não dependem da vontade humana. Para Maquiavel, as 
realizações não dependem apenas do mérito pessoal ou estar a favor das 
circunstancias, mas uma junção das duas coisas. “Se pode aceitar que a sorte decide 
a metade dos nossos atos, mas que nos permite o controle sobre a outra metade.” 
(Maquiavel citado na pagina 87, §4). Entretanto, os principados conquistados pela 
fortuna (pela sorte) tendem a durar menos, já que não foi conquistado pelo próprio 
mérito, por isso difícil de ser mantido. Para ele, todos os príncipes novos são tiranos, 
já que só vão legitimar seu principado com o tempo, porém não com uma conotação 
negativa, pelo contrário, são “indivíduos cosmo-históricos”, como disse Hegel. 
 Os príncipes que adquirem novos Estados pela violência são tiranos também, 
porém com sentido tradicional. Porém “bom” ou “mau” para Maquiavel seria a 
capacidade de manter o Estado, independente de como o conquistou, e depende 
também se essa crueldade utilizada foi bem ou mal utilizada. A bem empregada é 
aquela utilizada no começo e depois diminui tanto quanto possível, sendo substituídas 
por boas ações. Já a mal empregada é aquela que aumenta com o tempo, o que faz 
com que não consigam se manter no poder. Mas como ele pode defender a 
crueldade? “Os fins justificam os meios” ele irá dizer. A finalidade é se manter no 
poder, se ele conseguir isso, será julgado por Maquiavel como bom, já que conquistou 
o objetivo, não importando quais meios foram utilizados pra isso. 
 Quanto à república, Maquiavel segue a linha de Políbio, se limitando à 
constituição romana e falando exatamente sobre os 3 temas que estudamos no 
capitulo de Políbio. Ele diz que há 3 espécies de governo (monárquico, aristocrático e 
popular) e que quem pretende por ordem em uma cidade deve escolher a que mais 
lhe convém segundo os objetivos. Vale transcrever um trecho de seu livro, exposto 
logo no inicio da página 90 de Bobbio: 
“E se parecem tanto aos primeiros, aos quais correspondem, que podem com 
facilidade ser confundidos com eles. Deste modo, a monarquia se transforma em 
despotismo; a aristocracia, em oligarquia; a democracia, em permissividade. Em 
conseqüência, todo legislador que adota para o Estado que vai fundar uma destas três 
formas de governo não a mantém por muito tempo; não há o que apossa impedir de 
precipitar-se no tipo contrário, tal a semelhança entre a forma boa e a má.” Quanto à 
transformação de um governo para o outro, ele também diz o mesmo que Políbio, 
tendo a mesma visão quanto à instabilidade das constituições simples também, assim 
como a lei dos ciclos históricos. Entretanto, ele acredita que quando o ciclo retorna ao 
início, não retorna exatamente igual antes, já que nenhum Estado agüentaria sofrer as 
mesmas coisas várias vezes, mas sim seria tomado por outro Estado, mais organizado 
(que aquele que está no último grau de decadência do ciclo), que governaria com mais 
sabedoria. 
 Essa característica dos dois autores de uma visão histórica se deve ao fato de 
acreditaram que a natureza humana possui certas constâncias, sempre as mesmas 
paixões, o que consequentemente irá resultar praticamente nas mesmas coisas, 
servindo assim para fazer previsões de acontecimentos e poder remediá-los antes que 
ocorram. 
 Assim, Maquiavel também defende a estabilidade e a sabedoria de se escolher 
um governo misto ao invés de um simples, já que todos possuem vicitudes que, 
observando na história, podem ser superadas, misturando as coisas boas de cada um. 
 Ele também da uma certa introdução sobre a sociedade civil, discorrendo sobre 
os conflitos e os interesses antagônicos de classes diferentes, que podem ser 
benéficos para elaboração de uma constituição mista.

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