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Aula 8

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Aula 8 – Governos Militares na América Latina
A Inserção do Continente Americano na Guerra Fria 
A América Latina viveu, entre as décadas de 1960 e 1980, uma série de golpes militares que instauraram na região um clima de terror e incertezas quanto ao seu futuro político. Dentro da lógica da Guerra Fria, havia a necessidade de combater o comunismo em todos os lugares e, claro que não podemos deixar de considerar que a ascensão da Revolução Cubana em plena América reforçou ainda mais esse quadro.
O crescimento das ideias comunistas era uma realidade em várias regiões do mundo e isso se deveu principalmente ao fortalecimento da União Soviética no pós-Segunda Guerra Mundial. Já durante os anos 1950, marcadamente, tivemos um forte crescimento do capitalismo naquilo que Hobsbawn chamou de “Os anos dourados”. Esse crescimento evidenciou uma grande necessidade de ampliar as exportações para todas as regiões possíveis e, nesse sentido, a América Latina era considerada importante na rota de consolidação do capitalismo durante o período da Guerra Fria. Prestar auxílio logístico e estratégico para as ditaduras militares que se instauraram na região permitiu um estreitamento de laços maior entre os norte-americanos e seus parceiros, na luta contra o comunismo e garantiu uma grande exportação de capitais na forma de empréstimos a juros que formaram uma bolha financeira na região.
Após a Instauração dos Golpes Militares
Produtos de processos políticos muito específicos em cada país e ligado ao contexto de crescimento do trabalhismo e de anseios democráticos, na região, cada regime visualizou a melhor forma de se manter no poder e diminuir qualquer influência desses setores. Notadamente, percebemos um forte processo de caça aos ativistas políticos que pudessem representar ameaça ao regime, ainda que fosse de cunho teórico.
Considerações do Caso Pinochet
Há quem considere o caso do Chile como a primeira experiência neoliberal da região da América Latina. Por conta dessa experiência neoliberal e abertura ao capital estrangeiro, houve reduzida diminuição nos postos de trabalho e a repressão ao movimento trabalhista acabou por minimizar as contestações ao regime. Houve aumento significativo da pobreza, gerando um intenso retrocesso no país.
Na Argentina
Na Argentina, também tivemos um intenso processo de perseguições que marcaram a ditadura estabelecida naquele país. Com a tomada do poder por uma junta militar que depôs a Presidente Isabelita Perón, tivemos a consolidação das ditaduras no Cone Sul e em grande parte do restante da região. A partir do momento em que os militares assumiram o poder, foi organizada uma intensa perseguição a todos que fossem considerados inimigos do regime.
Posteriormente, no rol de queda das ditaduras militares na América Latina, o país dá início ao seu processo de redemocratização. Apesar da Argentina ter ficado pouco tempo sob domínio de governos militares, sua história não se tornou muito diferente de outros países da região, com repressões, crescimento de dívidas, violações aos Direitos Humanos e busca pela eliminação de opositores. O governo foi exercido por Jorge Rafael Videla (foto), que ficou na presidência do país entre os anos de 1976 e 1981, sendo substituído por outro general devido ao desgaste de seu governo.
Aumento da Dívida Externa
Como ocorreu em outros países, a economia argentina passou por crises e teve um forte aumento da corrupção, elevada a níveis muito altos e que acabou por aumentar significativamente a dívida externa do país. O peso dos sindicatos foi fortemente reduzido com a ocorrência de várias intervenções. Assim como no Chile, houve uma forte abertura da economia para o capital internacional e também eliminação de tarifas; houve queda na produção industrial e o endividamento do país se tornou maior ainda, apesar de vários planos dos militares para tentar equilibrar a vida econômica do país.
Madres de Plaza de Mayo
O desaparecimento tornou-se uma questão interna argentina muito forte, marcando a fase da ditadura militar neste país e tornando-a, ao lado da chilena, uma expressão da violência que marcou a América Latina nos anos 1970. De acordo com Osvaldo Coggiola: “Entre 1976 e 1983 funcionaram na Argentina 362 campos de concentração e extermínio. Por aí passaram mais de 30 mil pessoas dentre os quais militantes políticos, ativistas sociais, opositores ou simples testemunhas incômodas dos tantos sequestros que diariamente se produziam. A maioria delas nunca mais apareceu. Seus filhos, no melhor dos casos, foram criados por tios ou avôs. Outros foram “apropriados” pelos mesmos assassinos de seus pais e ainda permanecem sequestrados, como uma espécie de butim de guerra. A maioria dos que se encontram nessa situação ainda hoje ignora o passado, nem sabe quem foram seus pais verdadeiros”.
Para reclamar os desaparecidos na Argentina, várias entidades foram criadas, sendo a mais famosa delas as Madres de Plaza de Mayo, surgida em 1977, sendo seguida pelas Madres de Plaza de Mayo – Linea Fundadora, uma dissidência da primeira. As mães se reuniam na praça todas as quintas-feiras dando voltas portando fotos de seus filhos desaparecidos, utilizando um lenço branco na cabeça, que na verdade era uma fralda de seus filhos. Assim, elas buscavam formas de dialogar com o governo para obter qualquer informação sobre seus filhos. O mais curioso desse movimento é o fato de que as mães transformaram sua dor em ações concretas.
A entidade existe até os dias de hoje e transformou-se em um movimento de luta contra a ditadura na Argentina e uma forma de pressionar os governos posteriores a buscarem informações sobre os desaparecidos e, também, culpar os responsáveis pelos assassinatos e desaparecimentos.
Brasil
No Brasil, a ditadura se instaurou a partir de 1964 e se autodenominou Revolução de 1964. Implementou-se um golpe arquitetado pelos militares contra o então presidente João Goulart, que era considerado herdeiro do trabalhismo de Getúlio Vargas e buscava implantar no país reformas de base que ameaçavam o poder da elite brasileira. Por sua importância e demografia, o golpe perpetrado no Brasil pode ser considerado como o mais importante da América do Sul.
Ditadura
A ditadura no Brasil foi uma das mais longas da região, durando 21 anos e contando largamente com apoio norte-americano para a sua consolidação, que buscava ver resguardados seus investimentos financeiros na região. O combate ao comunismo foi o principal motivador do golpe, contando com o apoio de grande parte da classe média brasileira, que posteriormente iria ver as reais intenções dos militares ao permanecerem no poder por longos anos. Os setores mais reacionários do país estiveram ao lado dos militares, inclusive o golpe contou com apoio da Igreja Católica.
Implantação dos Atos Institucionais
Após o início da ditadura, o país viu sua estrutura política ser alterada pela implantação de Atos Institucionais que passaram a reger a vida política do país:
Estabelecendo a censura
Suspendendo as garantias constitucionais e as eleições indiretas para presidente da república
Criando o bipartidarismo
Formaram-se, no Brasil, vários grupos de resistência à ditadura tais como o MR-8 e a Guerrilha do Araguaia. Diferentes formas de protesto se consolidaram no país apesar de toda a repressão. O AI-5 marcou definitivamente a repressão no país, principalmente contra o movimento estudantil e acabou por gerar uma década de intensa violência, os anos 1970.
Operação Condor
Para se consolidar na América do Sul, as ditaduras militares estabeleceram uma rede de comunicações que lhes garantia obter informações e prender vítimas do esquema de repressão conjunta organizada entre as ditaduras do Cone Sul. Houve uma unificação das Forças Armadas de diferentes países estabelecendo um pacto para coordenar forças e operações repressivas (A operação incluía sequestro, roubo, assassinato, tortura e desaparecimento de pessoas, contando com o apoio dos norte-americanos, sendo o mais significativoo dado por Henry Kissinger.) e eliminar àqueles considerados inimigos do governo.
Osvaldo Coggiola analisa a Operação Condor e afirma que: “A ação criminosa dos exércitos e das polícias do Cone Sul incluíram, à rotina atroz das desaparições, as torturas, os “voos da morte” (nos quais os prisioneiros políticos eram jogados sobre o Rio da Prata ou sobre oceano, de grandes alturas e ainda vivos) e os roubos de propriedades dos sequestrados. As operações de extermínio atingiam a todos, inclusive oficiais de prestígio como o general uruguaio Ramón Trabal, em Paris, em 1974; o General Juan José Torres, ex-presidente da Bolívia, em Buenos Aires, em 1976 e o general chileno Julio Prats e sua esposa em Buenos Aires, em 1974.” (2001, p. 69)
Justificativa Militar
Para justificar a aliança, afirmavam que era contra a subversão e o comunismo, mas na verdade desejavam minar toda e qualquer forma de resistência ao regime em todos os países que compunham a Operação Condor. E que, quando vieram a público documentos e informações sobre a rede de espionagem, foi fortemente demonstrado o grau de cooperação entre os países do Cone Sul. A América Latina viveu um de seus períodos mais críticos e marcados pela violência, dentro de um contexto de Guerra Fria e de fragilidade das instituições democráticas, conseguindo se recuperar dos efeitos das ditaduras no governo anos depois.
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