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Revolução Russa 1

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REVOLUÇÃO RUSSA (1) - DESDOBRAMENTOS 
Surge a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas 
O autoritarismo leninista logo se explicitou nos acontecimentos relacionados à 
Assembléia Constituinte. Nas eleições de seus deputados, os bolcheviques só 
conseguiram 25%, dos 36 milhões de votos. Uma vez que eram absoluta minoria, 
dissolveram a Assembléia que só se reuniu em uma única sessão, em janeiro de 1918. 
 
 
 
Lênin discursa em Petrogrado 
 
No mesmo ano, os bolcheviques criaram a agremiação política que se tornaria a única 
legal do país: o Partido Comunista e instituíram a República Federativa Soviética da 
Rússia, com capital em Moscou. A suposta ditadura do proletariado pregada por Lênin 
virou, na prática, a ditadura do Partido Comunista, formado basicamente por 
intelectuais de classe média. Nas palavras do historiador marxista francês Henri 
Avron: 
 
"Os sovietes são a partir de então simples órgãos de execução do Partido, o poder 
central reina de maneira absoluta; ele se resume em três organizações: o Bureau 
político, isto é, o Partido; o Conselho Revolucionário de Guerra, isto é, o exército, e a 
Comissão Extraordinária ou Tcheka, isto é, a polícia; dirigidas respectivamente por 
Lênin, Trostky e Dzerjinsky." 
 
O brevíssimo período de democracia direta e popular exercido pelos sovietes estava 
definitivamente encerrado. O Partido comunista imediatamente começou a 
privilegiar seus membros, em especial os militares e policiais, para garantir sua 
fidelidade. 
A paz de Bret-Litovsky 
Para compensar as medidas impopulares (como um racionamento de alimentos quer 
privilegiava operários e membros do Partido, já em dezembro de 1917), o novo 
governo russo havia aberto negociações de paz com a Alemanha. As conversações se 
arrastaram e foram rompidas em 10 de fevereiro de 1918, pois o comitê diplomático 
comunista, comandado por Trotsky, acreditava (assim como Lênin) que também na 
Alemanha uma revolução socialista aconteceria. 
 
A revolução alemã, no entanto, não aconteceu e, para firmar a paz, no Tratado de 
Brest-Litovsky, os russos foram forçados a ceder ao governo imperial alemão 27% de 
suas terras aráveis, 23% de sua indústria, 73% de seu minério de ferro e 5% do carvão. 
 
Esse foi o primeiro dos grandes problemas que os comunistas tiveram de pagar para 
continuar no poder. Não parariam de pagar outros antes de 1922. Até lá, foram várias 
as insurreições populares que tiveram de enfrentar. Também não era para menos, 
como declarou sarcasticamente um camponês anônimo no 8º Congresso dos 
Sovietes, em março de 1920: 
 
"Tudo vai muito bem. Mas se a terra é para nós, o trigo é para os comissários; a água é 
para nós, mas o peixe para os comissários; a floresta é para nós, mas a madeira para 
os comissários". Por comissários, entenda-se os comissários do povo - nome com que 
os comunistas se batizaram, recorrendo a títulos criados durante a Revolução 
Francesa, que lhes servia de inspiração. 
 
Vermelhos versus brancos 
Além disso, a Rússia mergulhou numa guerra civil. Apoiadores 
do antigo regime, os russos brancos (por oposição aos 
comunistas, vermelhos) tentaram promover uma contra-
revolução. Contaram com a aliança de outros países 
europeus, que não aceitaram a retirada unilateral da Rússia da 
guerra e temiam a expansão do comunismo. 
 
Tropas francesas desembaraçaram em Odessa, tomaram a 
Criméia e o leste da Ucrânia. Ingleses avançaram rumo a 
Petrogrado. Tropas alemãs, francesas e polonesas ocuparam 
o oeste da Ucrânia. Japoneses, americanos e tchecoslovacos 
ocuparam a Sibéria. 
 
Entretanto, o Exército Vermelho (formado a partir da Guarda 
Vermelha), apesar de sofrer essas derrotas, conseguiu 
organizar uma contra-ofensiva, principalmente porque os 
países aliados desconfiavam uns dos outros quanto aos seus interesses na Rússia, em 
caso de derrota dos comunistas. Assim, gradativamente as tropas estrangeiras foram 
se retirando do país. Os últimos a saírem foram os japoneses, em 1922. 
 
Nesse período, os comunistas anexaram diversos territórios, estabeleceram relações 
diplomáticas com os países do ocidente europeu e instituíram a União das Repúblicas 
Socialistas Soviéticas, ou União Soviética, cuja existência se estendeu até 1991. 
Comunismo de guerra 
A guerra civil, porém, exigiu um esforço econômico batizado de comunismo de 
guerra, que constituiu no controle estatal da economia do país. Os camponeses 
boicotaram o processo, sonegando suas colheitas e a fome sobreveio. A indústria 
comandada por operários sem noções de administração não deram certo: a produção 
industrial russa de 1920 equivalia a 18% da produção do país em 1913. 
 
 
 
 
União de soldados, 
camponeses e 
operários, no cartaz 
de propaganda do 
Partido Comunista. 
Em 1921, até os marinheiros do porto de Kronstadt - revolucionários de primeira hora, 
chamados por Trotsky de "honra e glória" da Revolução - se amotinaram contra o 
governo. Uma de suas manifestações, o documento "Por que nós combatemos", dá 
uma idéia de como os princípios da revolução operária tinham sido traídos: 
 
"Ao fazer a Revolução de Outubro, a classe operária esperava obter sua emancipação. 
Mas o resultado foi uma escravidão ainda maior da individualidade humana. O poder 
da monarquia policialesca passou à mão dos usurpadores - os comunistas - que, em 
lugar de dar liberdade ao povo, reservou-lhe o medo dos cárceres da Tcheka, cujos 
horrores ultrapassam em muito os métodos da gendarmeria czarista. [...] Tornou-se 
cada vez mais claro, e hoje torna-se evidente, que o Partido Comunista não é, como 
fingiu ser, o defensor dos trabalhadores. Os interesses da classe operária lhes são 
estranhos. Depois de haver conquistado o poder, há apenas uma preocupação: não 
perdê-lo." 
 
Sublevados, em 1920, os marinheiros de Kronstadt estavam prontos para pegar em 
armas contra os comunistas, declarando: "Aqui [em Kronstadt] foi içada a bandeira da 
revolta contra a tirania dos três últimos anos, contra a opressão da autocracia 
comunista que fez empalidecer os três séculos de jugo monarquista. [...] É aqui em 
Kronstadt que foi lançada a pedra fundamental da Terceira Revolução, que romperá 
as últimas amarras do trabalhador e lhe abrirá o novo e grande caminho da edificação 
socialista". 
Trotsky e a militarização da URSS 
Ironicamente, essa terceira Revolução foi massacrada por Trotsky - teórico da 
revolução permanente. Não foi a única das ironias da história a envolver este líder 
bolchevique. Anos mais tarde, em 1927, ele também iria se rebelar contra a ditadura 
do Partido Comunista. Como os marinheiros de Kronstadt, ele também seria 
massacrado 13 anos depois, em 1940. 
 
Em 1928, porém, Trtosky procurou eximir-se da responsabilidade pelo massacre de 
Kronstadt, escrevendo artigos em que dizia não ter participado pessoalmente da 
repressão. De fato, não participou pessoalmente, mas era o comandante supremo das 
tropas repressoras e assinou a ordem que as pôs em ação. Além disso, não há como 
negar o militarismo de Trotsky nos primeiros anos do regime comunista: ele impôs, 
por exemplo, uma militarização do sistema de produção na União Soviética. Sob suas 
ordens, a disciplina e a hierarquia militar passaram a vigorar nas fábricas russas. 
Nova Política Econômica ou NEP 
Diante da insatisfação geral com tudo isso e do fato de seu poder estar em risco, Lênin 
deu início a um plano econômico que chamou de Nova Política Econômica (NEP), com 
marcados traços capitalistas. Isso representava, em economia, o que o tratado de 
Brest-Litovsky representou em termos militares: ceder os anéis para não perder os 
dedos. 
 
A NEP dirigiu os investimentos para os setores fundamentais da economia, organizou 
comerciantes e agricultores em cooperativas, suprimiu as requisições estatais sobre a 
produção agrícola. Além disso, privatizou pequenas empresas, acabou comoigualitarismo, hierarquizando os salários de acordo com as funções, atraiu técnicos e 
capitais estrangeiros. A NEP foi um sucesso e muitos grupos sociais se beneficiaram, 
pacificando os espíritos. 
A morte de Lênin 
Em 1924, porém, Lênin morreu e seus dois herdeiros políticos passaram a disputar o 
poder: Trotsky, marxista radical, partidário do internacionalismo socialista, ou seja, da 
exportação da revolução para outros países, e Stalin, secretário-geral do Partido 
Comunista, que defendia a teoria do socialismo num só país. Quando o socialismo 
estivesse consolidado na União Soviética e a nação conquistasse a independência 
econômica, o Exército Vermelho se tornaria insuperável e socializaria o mundo. 
Stalin, o "Grande Irmão" 
Politicamente, Stálin era muito mais hábil do que Trotsky. Não demorou a perceber 
que a máquina estatal russa, desde o século 18, se apoiava na burocracia e cooptou os 
burocratas, além de outros líderes revolucionários, isolando seu adversário. Trotsky 
foi obrigado a demitir-se do cargo de Comissário da Guerra e a exilar-se na Turquia 
(1929). Entre 1924 e o exílio de seu rival, Stálin consolidou seu poder na União 
Soviética. 
 
 
A partir daí, passaria a personificar o poder supremo, 
instituindo o que se chama de "culto à personalidade". 
Venerado ou temido como o grande irmão de todos os russos, 
iria concentrar o poder nas próprias mãos até a morte, em 1953 
(inspirou, assim, o personagem Grande Irmão, aquele que tudo 
vê, do romance "1984", de George Orwell). 
 
Quanto a Trostky, foi obrigado a procurar refúgio do outro lado 
do oceano Atlântico, no México. A distância não o protegeu da 
ira de Stalin. Foi assassinado por Ramón Mercader, um agente 
stalinista, que nunca assumiu essa condição, afirmando ter 
agido por conta própria. 
 
Conseqüência direta e inevitável do movimento de outubro de 1917, a história da 
União Soviética sob o governo de Stalin, porém, é uma outra história, da qual muito 
não se sabe. Em primeiro lugar, porque a falsificação sistemática da historiografia foi 
uma prática comum do regime stalinista. Além disso, os arquivos do período 
stalinista, bem como os de seus sucessores até 1991 ainda não vieram totalmente a 
público. 
 
*Antonio Carlos Olivieri é escritor, jornalista e diretor . 
 
 
 
 
Josef Stálin

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