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China comunista 2

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CHINA COMUNISTA (2) 
O Livro Vermelho de Mao e a Revolução Cultural 
 
 
Leitura pública do Livro dos 
Pensamentos de Mao, durante a 
Revolução Cultural 
O desastre econômico e social provocado pelo Grande Salto para Frente (o projeto de 
desenvolvimento experimentado pela China entre os anos de 1958 e 1960) gerou 
conflitos internos de grandes proporções no PCCh, abrindo caminho para a perda de 
poder de Mao Tsé-Tung. 
 
A direção política do Estado chinês ficou nas mãos de um triunvirato integrado pelo 
vice-presidente, Liu Shao-chi; pelo primeiro-ministro, Chu Enlai, e pelo dirigente 
partidário, Deng Xiaoping. As críticas que emergiram do seio do PCCh contrárias ao 
governo de Mao Tsé-Tung eram válidas em razão do retrocesso econômico e social 
provocado pelo projeto desenvolvimentista idealizado pelo dirigente chinês. 
 
Durante os três anos de vigência do Grande Salto, estima-se que cerca de 16,5 milhões 
de chineses (em sua maioria, camponeses) tenham morrido de fome e doenças 
causadas por desnutrição. Para recuperar a economia, os novos dirigentes do Estado 
chinês reavivaram alguns princípios característicos do sistema capitalista como, por 
exemplo, recompensas por esforços no trabalho. Eles também desmontaram as 
comunas rurais e readotaram o gerenciamento técnico na condução da produção 
econômica. 
Construção do socialismo e o Exército de Libertação Popular 
Mao Tsé-Tung não perdeu o poder por completo. Ele manteve-se como líder supremo 
do Exército de Libertação Popular (ELP) e, com o apoio dos militares e de facções 
políticas atuantes dentro do PCCh, Mao retomou as rédeas do Estado chinês, 
reconduzindo a seu modo a construção do socialismo. 
 
A lealdade do ELP ao PCCh e de ambos ao próprio Mao Tsé-Tung se fortaleceu à 
medida que as relações internacionais da China com seus vizinhos fronteiriços 
ameaçaram a integridade do território chinês. No início dos anos 60, as relações da 
China com a Índia e a ex-aliada URSS se deterioraram ainda mais. Nessa mesma 
conjuntura, Mao e seus aliados lançaram um programa de educação política 
objetivando converter todos os soldados do poderoso ELP em comunistas fiéis e 
obedientes ao PCCh. 
 
Mao deflagrou, em 1965, a contra-ofensiva sobre as facções políticas rivais dentro do 
PCCh que controlavam o Estado chinês. Ele criticou ferozmente aqueles que 
preconizavam a readoção de alguns princípios capitalistas na economia, além de 
apontar a burocratização e o elitismo que já se manifestavam dentro e fora do PCCh. 
 
Mao também defendeu a transferência do controle da Revolução para as mãos das 
massas (camponeses e operários), sob coordenação do Partido, como forma de 
avançar na construção de um sistema socialista próximo da igualdade absoluta. Para 
atingir esses objetivos, Mao Tsé-Tung decidiu aplicar ao conjunto da sociedade 
chinesa um vasto programa de educação política, seguindo o modelo aplicado ao ELP. 
Revolução Cultural 
A Revolução Cultural começou oficialmente no outono de 1965. Com apoio do ELP, 
Mao e seus seguidores coordenaram um amplo expurgo que atingiu todas as esferas 
da vida social, política e econômica. Membros do PCCh, burocratas, políticos, 
militares e cidadãos comuns foram atingidos por uma onda repressiva. 
 
A esposa de Mao, Jiang Qing, se transformou na figura dominante nas artes. Chamada 
de ditadora cultural, Qing exerceu domínio absoluto e determinou o que podia ser 
escrito, pintado, editado, cantado e exibido nos teatros e cinemas. Muitos cursos 
universitários foram fechados, professores e diversos profissionais ligados à produção 
artística perderam seus cargos e foram banidos para o campo. 
 
Os alvos principais da doutrinação política que permeava a Revolução Cultural foram 
os jovens, em particular os estudantes de nível médio e universitário. Os jovens foram 
dispensados das aulas e o Estado providenciou alimento, transporte e alojamento 
para que percorressem o país, de cidade em cidade, como aguerridos militantes de 
esquerda. 
O Livro Vermelho e a Guarda Vermelha 
Usando uma braçadeira vermelha em um dos braços, milhões de jovens formaram a 
Guarda Vermelha. A base doutrinária para a ação dos militantes era o célebre "Livro 
Vermelho" de Mao. 
 
Um dos trechos do livro dizia: "O pó se acumula se um quarto não é limpo com 
freqüência, nossas faces ficam imundas se não forem lavadas com freqüência. A 
mente de nossos camaradas e o trabalho de nosso Partido também podem ficar 
empoeirados e também precisam ser varridos e lavados. O provérbio 'a água corrente 
nunca fica choca e os vermes nunca roem uma dobradiça' significa que o movimento 
constante impede a contaminação pelos germes e outros organismos". 
 
Os militantes da Guarda Vermelha tinham por encargo desfechar a crítica aos 
revisionistas, aos direitistas, aos burgueses, aos burocratas do Partido e do Estado e 
até mesmo àqueles que adotavam estilos ocidentais de comportamentos. Além da 
crítica, eles também humilhavam e castigavam todos que resistiam à doutrinação 
socialista. 
 
Durante o período em que a Guarda Vermelha atuou, a sociedade chinesa foi abalada 
por perseguições, execrações e julgamentos sumários em praças públicas. A Guarda 
Vermelha cometeu muitas atrocidades e espalhou o terror pela China. Também 
ocorreram muitos conflitos, alguns deles de grande proporção, principalmente no 
final da década de 1960, envolvendo militantes extremistas da Guarda Vermelha e as 
massas. 
 
*Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em 
ciências sociais. É autor do livro "Comissão Justiça e Paz de São Paulo: Gênese e 
Atuação Política - 1972-1985".

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