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FILOSOFIA Professor Dênis da Silva Carvalho A aurora da filosofia: Os pré-socráticos A maioria dos primeiros filósofos queriam encontrar o princípio de todas as coisas existentes. Aristóteles Afresco em Paestum, com cena de banquete, século V a.C. A cidade grega e a filosofia O declínio dos mitos Essa passagem ocorreu, no entanto, durante longo processo histórico, sem um rompimento brusco e imediato com as formas de conhecimentos utilizados no passado. Os primeiros gregos compartilhavam de crenças míticas, enquanto desenvolviam o conhecimento racional que caracterizaria a filosofia. Essa transição do mito à razão “significa precisamente que já havia de um lado, uma lógica do mito e que, de outro lado, na realidade filosófica ainda está incluído o poder do lendário”. O mito se opõe ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à palavra que demonstra. Logos e mito são duas metades da linguagens, duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos, sendo uma argumentação, pretende convencer. O logos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à “lógica”; é falso quando dissimula alguma burla secreta (sofisma). Mas o mito tem por finalidade apenas si mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante um ato de fé, caso pareça “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela do irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas as suas criações. GRIMAL, Pierre. A mitologia grega, p. 8-9. Mitologia grega Os gregos cultuavam uma série de deuses: Zeus Hera Ares Atena Entre outros Além de heróis ou semideuses Teseu Hércules Perseu Entre outros Relatando a vida desses deuses e heróis e seu envolvimento com os homens, os gregos criaram uma rica mitologia, isto é, um conjunto de lendas e crenças que, de modo simbólico, fornecem explicações para a realidade universal. Mito de Édipo Laio, Rei de Tebas e marido de Jocasta, vivia amargurado por não ter filhos, pelo que, decidiu consultar o Oráculo, tendo-lhe, este, advertido que filho que gerasse havia de o assassinar. Apesar das advertências, Jocasta engravida e Laio, quando o bebé nasceu, ordenou a um servo que o pendurasse pelos pés numa árvore, para que este morresse. Daí o nome Édipo (que significa pés inchados). O servo de Laio, desrespeitando as ordens, acabou por colocar a criança num cesto e jogou-a ao rio, acabando este, por ser resgatado por um rei duma terra distante, que o elegeu como seu filho. Este, já homem, também consultou o Oráculo, o qual o aconselhou a evitar a sua pátria, pois iria ser o assassino de seu pai e marido de sua mãe. Desconhecendo as suas origens e pensando-se filho de Pôlibo e Mérope, reis de Corinto, Édipo decidiu partir rumo a Tebas. Durante o seu percurso, e no meio de uma encruzilhada, deparou-se com um velho com o qual manteve uma acérrima discussão acabando por matá-lo. Chegado a Tebas decifrou o enigma da Esfinge (monstro com cabeça de mulher e corpo de leão), que impossibilitava a entrada na cidade, e como nunca ninguém o havia decifrado, a Esfinge jogou-se ao mar, tendo Édipo libertado a cidade da sua maldição. Creonte, irmão de Jocasta, havia prometido a mão desta a quem libertasse a cidade da Esfinge, ganhando assim, Édipo, o direito a casar com Jocasta, agora viúva. Casaram, Édipo foi proclamado Rei e tiveram dois filhos e duas filhas, reinando sem grandes dificuldades, até ao dia em que se instala a peste na cidade e Édipo decide consultar o Oráculo, que lhe refere que a peste cessaria quando fosse expulso o assassino de Laio. Édipo dispôs-se a encontrá-lo, mas quando se apercebeu que ele próprio fora o assassino de Laio, seu pai, e o esposo de sua mãe, e vendo que apesar de fugir contra a profecia esta acabou por se realizar, arrancou os olhos e deixou a sua pátria. Uma reflexão sobre as questões da culpa e da responsabilidade dos homens perante as normas e tabus (comportamento que, dentro dos costumes de uma comunidade, é considerado nocivo e perigoso, sendo por isso proibido para seus membros). O exercício da razão na pólis grega Utilização do logos (a razão) para resolver problemas da vida está vinculado ao surgimento da pólis. Pólis forma de organização social e política desenvolvida entre os séculos VIII e VI a.C. Pólis Criada pelo cidadãos Cidadãos dirigiam a cidade Organizada e explicada de forma racional Partenon A prática constante da discussão política em praça pública pelo cidadãos fez com que, com o tempo, o raciocínio bem formulado e convincente, se tornasse o modo adotado para se pensar sobre todas as coisas, não só as questões políticas. Segundo o historiador Jean-Pierre Vernant, o nascimento da filosofia “relaciona-se de maneira direta com o universo espiritual que nos pareceu definir a ordem da cidade e se caracteriza precisamente por (...) uma racionalização da vida social”. Para Vernant, a razão grega é filha da cidade. VERNAT, Jean-Pierre, As origens do Pensamento grego, p. 77 e 95. Planta da Acrópole de Atenas Pré-socráticos Os primeiros filósofos gregos Período pré-socrático é a fase inaugural da filosofia grega. O período pré-socrático abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até o aparecimento de Sócrates (468-399 a.C.). Os pensadores de Mileto: A busca da substância primordial Objetivo dos primeiros filósofos Construção de uma Cosmologia Explicação racional e sistemática das características do universo. Princípio substancial ou substância Primordial “Matéria prima” de que todas as coisa são feitas, (arché em grego) Tales de Mileto (623-546 a.C.) A filosofia teve como berço a cidade de Mileto. Tudo é água. Para Tales, somente a água permanece basicamente a mesma, em todas as transformações dos corpos, apesar de assumir diferentes estados – sólido, liquido e gasoso. Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.) Anaximandro de Mileto Discípulo de Tales. Geógrafo, matemático, astrônomo e político. Nem água nem algum elemento, mas alguma substância diferente, ilimitada, e que dela nascem os céus e os mundos neles contidos. Para Anaximandro, esse princípio é algo que transcende os limites do observável, ou seja, não se situa numa realidade ao alcance dos sentidos. Por isso. Denominou-o ápeiron, termo grego que significa “o indeterminado”, “o infinito”. O ápeiron seria a “massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários. Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.) Anaxímenes. E assim como nossa alma, que é ar, nos mantém unidos da mesma maneira o vento envolve todo o mundo. Tentando uma conciliação entre as concepções de Tales e as de Anaximandro , concluiu ser o ar o princípio de todas as coisas. Isso porque o ar representa um elemento “invisível e imponderável, quase inobservável e, no entanto, observável: o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que “anima” o mundo, aquilo que dá testemunho à respiração”. Pitágoras de Samos (570-490 a.C.) Todas as coisas são números. Para Pitágoras, a essência de todas as coisas reside nos números, os quais representam a ordem e a harmonia. Segundo o historiador Thomas Giles, “pela primeira vez se introduzia um aspecto mais formal na explicação da realidade, isto é, ordem e a constância”. Assim, a essência dos seres, a arché, teria uma estrutura matemática da qual derivariam todas problemas como: finito e infinito, par e ímpar, unidadee multiplicidade, reta e curva, círculo e quadrado e etc. No “fundo de todas as coisas” a diferença entre os seres consiste, essencialmente, em uma questão de números (limite e ordem das coisas). Heráclito de Éfaso Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo. O ser não é mais que o vir-a-ser. Heráclito de Éfeso Concebi a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação. Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: ordem e desordem, o bem e o mal, o belo e o feio, a construção e desconstrução, a justiça e a injustiça, o racional e o irracional, a alegria e a tristeza e etc. Primeiro grande representante do pensamento dialético. “Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição”. Heráclito Parmênides de Eléia (510-470 a.C.) O ente é; pois é ser é nada não é. Dois caminhos para compreensão da realidade Primeiro é da filosofia, da razão, da essência. Segundo é da crendice, da opinião pessoal da aparência enganosa. Caminho da essência para compreender a realidade a) Existe o ser, e não é concebível sua não existência. b) O ser é; o não-ser não é Princípios lógicos de identidade e de não-contradição É no mundo da ilusão, das aparências e das sensações que os homens vivem seu cotidiano. Zenão de Eléia (488-430 a.C.) O que se move sempre está no mesmo lugar. Discípulo de Parmênides elaborou argumentos para defender a doutrina do seu mestre. Com seus argumentos pretendia demonstrar que a própria noção de movimento era inviável e contraditória. Empédocles de Agrigento (490-430 a.C.) A unidade de tudo aquilo que se ama Pois destes (os elementos) todos se constituíram harmonizados, e por estes que pensam, sentem prazer e dor. Defendia a existência de quatro elementos primordiais, que constituem as raízes de todas as coisas percebidas: o fogo, a terra, a água e o ar. Os elementos são movidos e misturados de diferentes maneiras em função de dois princípios Amor – responsável pela força de atração e união e pelo movimento de crescente harmonização das coisas; Ódio – responsável pela força de repulsão e desagregação e pelo movimento de decadência, dissolução e separação das coisas. Demócrito de Abdera (460-370 a.C.) O átomo e a diversidade O homem, um microcosmo Responsável pelo desenvolvimento do atomismo, afirmava que todas as coisas que formam a realidade são constituídas de partículas invisíveis e indivisíveis – átomos. Fatores básicos para as diferentes composições dos átomos Figura Ordem Posição Concepção mecanicista acaso necessidade Pré-socráticos Os primeiros filósofos gregos Pitágoras de Samos (570-490 a.C.) Heráclito de Éfaso Os pensadores eleáticos: A reflexão sobre o ser e o conhecer A partir dessa discussão sobre os contrários, sobre o ser e o não-ser, que se iniciaram a lógica (os estudos sobre o conhecer) e a ontologia (os estudos sobre o conhecer) e suas relações recíprocas. Parmênides de Eléia (510-470 a.C.) Zenão de Eléia (488-430 a.C.) Pré-socráticos Os primeiros filósofos gregos Empédocles de Agrigento (490-430 a.C.) Demócrito de Abdera (460-370 a.C.)
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