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PEDAGOGIA DA TERRA 2

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87 
Revista de Educação 
Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 
Christine Yates Halal 
Universidade Federal do Pampa 
Unipampa 
chrishl77@yahoo.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ECOPEDAGOGIA: UMA NOVA EDUCAÇÃO 
 
RESUMO 
Neste novo século, busca-se uma nova concepção de educação, mais voltada 
à sustentabilidade. A Ecopedagogia, também conhecida como Pedagogia da 
Terra, é uma dessas novas educações onde valores humanos fundamentais 
como amizade, respeito, aproximação entre o simples e o complexo, atenção, 
leveza, carinho, desejo e amor são tratados. Num mundo globalizado, onde 
se busca novas construções paradigmáticas, a Ecopedagogia surge num 
contexto de uma educação voltada à humanidade, para uma sociedade 
sustentável, onde os seres humanos possam interagir com a natureza desde 
o princípio de sua educação, aprendendo a respeitá-la. Além disso, a 
Ecopedagogia trata da forma de aprender a partir de uma visão de mundo. 
A abordagem deste trabalho visa produzir um artigo científico de cunho 
teórico sobre educação ambiental, enfocando a Ecopedagogia. 
Palavras-Chave: pedagogia da terra; educação ambiental; desenvolvimento 
sustentável; ecologia humana; educação do futuro. 
ABSTRACT 
In this new century, a new conception of education is searching, more unsay 
to the sustentability. The Ecopedagogy, also known as Pedagogy of the 
Land, is one of these new educations where basic human values as 
friendship, respect, approach between the simple and the complex, attention, 
lightness, affection, desire and love are treated. In a globalize world, where 
new constructions paradigmatic is found, the Ecopedagogy appears in a 
context of an education unsaid to the humanity, toward a sustainable 
society, where the human beings can interact with the nature since the 
beginning of its education, learning to respect it. Moreover, the Ecopedagogy 
deals with the form to learn from a world vision. The approach of this work 
aims toproduce a scientific article of theoretical matrix on environmental 
education, focusing the Ecopedagogy. 
Keywords: pedagogy of the land; environmental education; sustainable 
development; human being ecology; future education. 
 
Anhanguera Educacional Ltda. 
Correspondência/Contato 
Alameda Maria Tereza, 2000 
Valinhos, São Paulo 
CEP 13.278-181 
rc.ipade@aesapar.com 
Coordenação 
Instituto de Pesquisas Aplicadas e 
Desenvolvimento Educacional - IPADE 
Artigo Original 
Recebido em: 23/10/2009 
Avaliado em: 21/9/2010 
Publicação: 18 de agosto de 2011 
88 Ecopedagogia: uma nova educação 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
1. INTRODUÇÃO 
O homem ocidental, durante o período capitalista e numa visão modernista e 
antropocêntrica, colocou-se sobre a natureza na busca de satisfação e conforto material, 
porém custou a perceber o inexorável esgotamento do meio ambiente (TORALES; LEVY, 
2003). Situações como catástrofes ambientais mais frequentes, crescimento da 
desertificação e graves alterações climáticas fazem com que o homem reflita ante a 
possibilidade da vida tornar-se inexecutável no Planeta Terra (ARAUJO; SILVA, 2007). 
Hoje, percebe-se que as pessoas estão imersas numa crise ambiental sem 
precedentes afetando, inclusive, a própria sociedade. A partir deste fato, surgem novos 
atores sociais, chamados Educadores Ambientais, que atuam mundialmente tanto na 
Educação formal como informal, defendendo a natureza. Para eles, o homem faz parte da 
natureza. Por isso, estes Educadores trabalham como pensadores e ativistas, buscando 
uma sociedade sustentável para as gerações de hoje e do futuro (TORALES; LEVY, 2003). 
“Muito nos interessa a luta desses atores sociais abrindo trincheiras, trilhando 
caminhos para consolidar um novo paradigma, a nova idéia do cidadão ecológico, seus 
movimentos, suas lutas” (TORALES; LEVY, 2003, p.2). A Ecopedagogia, também 
conhecida como Pedagogia da Terra, entendida como movimento pedagógico, abordagem 
curricular e movimento social e político, representa um projeto alternativo global que tem 
por finalidade promover a aprendizagem do sentido das coisas a partir do cotidiano e a 
promoção de um novo modelo de civilização sustentável. 
2. DESENVOLVIMENTO 
2.1. Educação Ambiental 
A Educação é compreendida dentro de uma concepção freireana em que a reflexão sobre a 
realidade é tida como algo possível de buscar o cuidado de seus elementos opressores. 
Nessa concepção, a ação transformadora sobre essa realidade é um passo para a libertação 
do sujeito. Na perspectiva freireana, Educação é essencialmente um ato político que visa a 
possibilitar ao educando a compreensão de seu papel no mundo e de sua inserção na 
história (FREIRE, 1987; ANTUNES, 2002). 
Conforme a Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, 1999), 
Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a 
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e 
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do 
povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. 
 Christine Yates Halal 89 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
De acordo com vários autores, poder-se-ia caracterizar a circunstância do 
despertar da Educação Ambiental a partir de diversos eventos internacionais, como 
publicações de denúncias na forma de livros na década de 60, de que foi marco a 
“Primavera Silenciosa” de Rachel Carson; encontros no final dos anos 70, em Tbilisi, na 
Rússia, palco para a formalização da prática educativa, sendo um projeto transformador, 
crítico e político; ou o surgimento, em vários países, de ações populares na década de 80, 
dedicadas ao crescimento a partir da Revolução Industrial (OLIVEIRA, 2000). 
Os testes nucleares contribuíram para fazer diferença em relação à existência do 
homem no planeta Terra. A partir deste fato macabro, pôde-se encontrar referência com o 
atual termo Educação Ambiental (OLIVEIRA, 2000). 
As pedagogias tradicionais, fundadas no princípio da competitividade, do 
processo seletivo e classificatório, não percebem a formação de um cidadão que precisa 
ser mais cooperativo e ativo. A educação ambiental em muitas escolas tem sido o ponto de 
partida dessa conscientização, embora se saiba que o ensino para um futuro sustentável é 
mais amplo do que uma educação ambiental ou escolar. 
A Educação Ambiental muitas vezes limitou-se ao ambiente externo sem se confrontar 
com os valores sociais, com os outros, com a solidariedade, não pondo em questão a 
politicidade da educação e do conhecimento (GADOTTI, 2000b, p.88). 
A Educação Ambiental multiplica conceitos que muitas vezes servem de 
balizadores de ações pedagógicas em diversos grupos organizados. Fala-nos Reigota 
(1994, p.121) que 
A Educação Ambiental promove a construção de saberes pessoais que são a inscrição de 
subjetividades diversas na complexidade do mundo. Este conhecimento pessoal é 
construído em um processo dialético de confronto com a realidade e de diálogo com o 
outro (com os outros), que dá consistência e coerência ao saber, além de confrontar 
interesses, muitas vezes contrapostos, mas inseridos nos saberes pessoais e coletivos do 
mundo. 
A educação ambiental atua no ponto de vista de cada indivíduo a partir de sua 
relação com os outros, possibilitando o conhecimento pessoal; e sua relação com o mundo, 
contribuindo para seu crescimento como cidadão. 
2.2. Globalização, Educação e Sustentabilidade – um enfoque na Ecopedagogia 
O homem vem há séculos explorando a natureza, usando-a irresponsavelmente em nome 
do desenvolvimento e do seu bem-estar. Com o surgimento da Revolução Industrial, a 
exploração pelos recursos naturais foi exageradae hoje existe uma grande preocupação 
em encontrar alternativas que mudem a mentalidade de que o meio-ambiente nunca vai 
entrar em decadência. 
90 Ecopedagogia: uma nova educação 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
O consumismo, modo de produção capitalista, principal responsável pela 
degradação do meio ambiente e esgotamento dos recursos materiais do planeta, baseado 
no lucro e na exclusão social, distancia cada vez mais ricos e pobres, países desenvolvidos 
e subdesenvolvidos, globalizadores e globalizados. Perdemos o norte, impulsionados por 
uma lógica da acumulação. Esse empenho inumano do paradigma mecanicista nos levou, 
entre outros nefastos resultados, à super-exploração do planeta Terra (GADOTTI, 2005b). 
Segundo Schmied-Kowarzik (1999, p.6), vivemos uma era de exterminismo. Pela 
primeira vez na história da humanidade, pelo descontrole da produção industrial, 
podemos destruir toda a vida do planeta. Passamos do modo de produção para o de 
destruição. “A possibilidade da autodestruição nunca mais desaparecerá da história da 
humanidade. Daqui para frente todas as gerações serão confrontadas com a tarefa de 
resolver este problema” (SCHMIED-KOWARZIK, 1999, p.6). 
O processo da globalização está mudando a política, a economia, a cultura, a 
história, portanto, também, a educação. Esse é um tema que deve ser enfocado sob vários 
ângulos. A globalização remete ao poder local e global fundido numa mesma realidade. A 
escola continuará sendo o principal canal de acesso às necessidades básicas de 
aprendizagem, mas há outros veículos de formação, como rádio, televisão, clubes, 
bibliotecas e outras múltiplas formas de educação comunitária, formal ou não formal, com 
uma vasta gama de tecnologias educacionais apropriadas a essas modalidades de 
formação (SANTOS, 2000). 
A globalização em si não é problemática, pois representa um processo de avanço 
sem precedentes na história da humanidade. O que é duvidoso é a globalização 
competitiva onde os interesses do mercado se sobrepõem aos dos humanos, onde os 
interesses dos povos se subordinam aos dos corporativos das grandes empresas 
transnacionais. Assim, podemos distinguir uma globalização competitiva de uma possível 
globalização cooperativa e solidária. A primeira está subordinada apenas às leis do 
mercado, e a segunda, aos valores éticos e à espiritualidade humana. O capitalismo 
agravou a capacidade de destruição da humanidade do que o seu bem-estar e 
prosperidade (FERREIRA, 2008). 
Hoje, as discussões estão centradas na preservação do presente, com vistas à 
sustentabilidade das gerações futuras. Para Gadotti (2003, p. 11): 
A sustentabilidade tornou-se um tema gerador preponderante neste início de milênio 
para pensar não só o planeta, um tema portador de um projeto social global e capaz de 
reeducar nosso olhar e todos os nossos sentidos, capaz de reacender a esperança num 
futuro possível, com dignidade para todos. 
 Christine Yates Halal 91 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
A educação é de grande importância na formação desta sociedade sustentável, 
pois “a educação, num sentido amplo, cumpre uma iniludível função de socialização, 
desde que a configuração social da espécie se transforma em um fator decisivo da 
hominização e em especial da humanização do homem” (PÉREZ GÓMEZ, 1998, p.13). 
Educação, nos dias atuais, tem a função de mediar o processo ensino-
aprendizagem, o que deve ocorrer de forma significativa, pautada no cotidiano, na 
experiência vivenciada pelos aprendizes. “A educação terá um papel determinante na 
criação da sensibilidade social necessária para reorientar a humanidade” (ASSMANN, 
2001, p. 26). Educar não seria, como dizia Émile Durheim, a transmissão da cultura de 
uma geração para outra, mas a grande viagem de cada indivíduo no seu universo interior 
e no universo que o cerca (DURHEIM apud GADOTTI, 2000b). 
Para Hutchison (2000, p. 164): 
Nossa tarefa para o futuro imediato deve ser a de continuar a articular essa visão e a de 
construir um paradigma curricular para as escolas que nos possa ajudar, da melhor 
forma possível, a recuperar um modo humano autêntico de relação com o mundo 
natural e a enfrentar de modo direto os desafios ecológicos com os quais nos deparamos 
atualmente. 
Neste novo paradigma está inserida a Ecopedagogia, uma educação voltada ao 
respeito da natureza a partir de nossas atitudes diárias e que busca soluções para os 
problemas gerados pelo homem ao meio ambiente. 
O termo sustentabilidade tem sido associado à necessidade de se preservarem os 
recursos ambientais e de promover um tipo de desenvolvimento (humano e econômico) 
capaz de atender às necessidades das gerações atuais sem comprometer a sobrevivência 
das gerações futuras. 
Assim, teremos uma educação voltada para a conscientização de que existe uma 
inter-relação entre o homem e a natureza, e com a degradação do planeta, também será a 
extinção de todos os seres que o habitam. Através da educação para a sustentabilidade 
haverá reflexões e ações que proporcione “uma educação sustentável para a sobrevivência 
do planeta” (GADOTTI, 1998, p. 83). 
Para Francisco Gutiérrez, parece impossível construir um desenvolvimento sustentável 
sem uma educação para o desenvolvimento sustentável. Para ele, o desenvolvimento 
sustentável requer quatro condições básicas. Ele deve ser: a) economicamente factível; b) 
ecologicamente apropriado; c) socialmente justo; e d) culturalmente eqüitativo, 
respeitoso e sem discriminação de gênero (GADOTTI, 1998b, p. 2). 
Essas condições são claras e auto-explicativas. O desenvolvimento sustentável, 
mais do que um conceito científico, é uma idéia mobilizadora, neste início de milênio. 
A Ecopedagogia tece críticas à supremacia neoliberal que assume as relações na 
sociedade contemporânea, caracterizada pelo surgimento de fronteiras econômicas e 
92 Ecopedagogia: uma nova educação 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
financeiras, estimulada pelo livre comércio, gerando desemprego, aprofundamento das 
diferenças entre classes sociais, perda de poder e de autonomia estatal e nacional, além do 
distanciamento dos sujeitos do processo de tomada de decisão. É neste contexto que está 
centrado o debate em torno da sustentabilidade para a Ecopedagogia, ou seja, na 
compreensão da incompatibilidade entre o princípio do lucro, inerente ao modelo de 
desenvolvimento capitalista, e a sustentabilidade, tratada nas diversas dimensões, tanto 
social como política, econômica, cultural e ambiental (GADOTTI, 2000b). 
Gutiérrez e Prado vêem, na base deste modelo de sociedade, uma ordem pré-
estabelecida, ordenada e dominante, que se apoia no poder, na máxima, na norma. 
Conferem essa ordem a uma concepção de mundo derivada da ciência mecanicista de 
Descartes e Newton. Em contrapartida, situa a Ecopedagogia no enfoque flexível, 
progressivo, complexo, coordenado, interdependente, solidário (LAYRARGUES, 2004). 
A Ecopedagogia acredita numa sociedade mais justa, em que o processo 
repressivo dê lugar a uma cidadania planetária, baseada no respeito às várias formas de 
vida no planeta. Conforme as palavras de Gadotti “precisamos de uma Pedagogia da 
Terra, uma pedagogia apropriada para esse momento de reconstrução paradigmática, 
apropriada à cultura da sustentabilidade e da paz. (GADOTTI, 2005a, p.12) “ 
Por isso, a educação deveria mostrar e ilustrar o Destino multifacetado do humano: o 
destino da espécie humana, o destino individual, o destino social, o destino histórico, 
todos entrelaçados e inseparáveis. Assim, uma das vocações essenciais da educação do 
futuro será o exame e o estudo da complexidade humana. Conduziria à tomada de 
conhecimento,por conseguinte, de consciência, da condição comum a todos os humanos 
e da muito rica e necessária diversidade dos indivíduos, dos povos, das culturas, sobre 
nosso enraizamento como cidadãos da Terra (MORIN, 2003, p. 61). 
É nesse contexto, neste novo milênio, que devemos pensar a educação do futuro, 
começando por nos questionar sobre as categorias que podem explicá-la. As categorias 
“contradição”, “determinação”, “reprodução”, “mudança”, “trabalho” e “práxis” 
aparecem frequentemente na literatura pedagógica contemporânea, evidenciando uma 
perspectiva da educação, a perspectiva da pedagogia da práxis (MALDONADO et al., 2004). 
Para pensar a educação do futuro, é necessário observar sobre a técnica de 
globalização da economia, da cultura e das comunicações. Promover a justiça diante do 
direito humano é fundamental ao acesso à educação, mas também à permanência e 
possibilidade de usufruir dos benefícios provadores dela (PAULINO, 2007). Essas 
categorias, clássicas na explicação do fenômeno da educação, constituem-se um 
importante referencial para a nossa prática. Não podem ser negadas, pois ainda nos 
ajudarão, para a leitura do mundo da educação atual e, também, para a compreensão dos 
caminhos da educação do futuro (MALDONADO et al., 2004). 
 Christine Yates Halal 93 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
Aprender é muito mais que compreender e conceitualizar: é querer, compartilhar, dar 
sentido, interpretar, expressar e viver. Os sistemas educativos tradicionais privilegiaram 
a dimensão racional como a forma mais importante de conhecimento. A nova educação 
deve apoiar-se também em outras formas de percepção e conhecimento, não menos 
válidas e produtivas. (GUTIÉRREZ e PRADO, 1999, p. 68). 
2.3. Ecopedagogia 
A Ecopedagogia, também denominada Pedagogia da Terra ou Educação Sustentável, 
surgiu como proposta pedagógica para formação da sociedade sustentável, pois, 
conforme se lê na Carta da Ecopedagogia 
A sustentabilidade econômica e a preservação do meio ambiente dependem também de 
uma consciência ecológica e esta da educação. A sustentatibilidade deve ser um 
princípio interdisciplinar reorientador da educação, do planejamento escolar, dos 
sistemas de ensino e dos projetos político-pedagógicos da escola. Os objetivos e 
conteúdos curriculares devem ser significativos para o(a) educando(a) e também para a 
saúde do planeta (INSTITUTO PAULO FREIRE, 1999, p. 1). 
O documento, ainda que minuta de discussão do Movimento pela Ecopedagogia, 
apresenta a Ecopedagogia como subsídio para ações educativas com a finalidade de 
reorientar o olhar das pessoas, “tendo como propósito a formação de cidadãos com 
consciência local e planetária que valorizem a autodeterminação dos povos e a soberania 
das nações” (INSTITUTO PAULO FREIRE, 1999, p. 1), ou seja, “Uma educação para a 
cidadania planetária”, tendo esta por finalidade “ a construção de uma cultura da 
sustentabilidade, isto é, uma biocultura, uma cultura da vida, da convivência harmônica 
entre os seres humanos e entre estes e a natureza”( INSTITUTO PAULO FREIRE, 1999, p. 
2). É neste contexto que a Ecopedagogia propõe 
uma nova pedagogia dos direitos que associa direitos humanos – econômicos, culturais, 
políticos e ambientais - e direitos planetários, impulsionando o resgate da cultura e da 
sabedoria popular. Ela desenvolve a capacidade de deslumbramento e de reverência 
diante da complexidade do mundo e a vinculação amorosa com a Terra (INSTITUTO 
PAULO FREIRE, 1999, p. 2). 
A Ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, isto é, desenvolver a 
atitude de observar e evitar a presença de agressões ao meio ambiente e aos viventes e o 
desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da água e do ar etc. para intervir no 
mundo no sentido de reeducar o habitante do planeta e reverter a cultura do descartável. 
A tomada de consciência dessa realidade é profundamente formadora. O meio ambiente 
forma tanto quanto ele é formado ou deformado. Precisamos de uma ecoformação para 
recuperarmos a consciência dessas experiências cotidianas. Na ânsia de dominar o 
mundo, elas correm o risco de desaparecer do nosso campo de consciência, se a relação 
que nos liga a ele for apenas uma relação de uso (MMA, 2000, p.2) 
Dizendo de outra forma, trata-se de uma pedagogia cujo objetivo é proporcionar 
discussões, reflexões e orientar a aprendizagem a partir da vivência cotidiana, subsidiada 
na percepção e no sentido das coisas, significativa para o aprendiz a ponto de mudar-lhe o 
comportamento e propiciar a sua interação com o meio em que esteja inserido (local e 
planetário), buscando a harmonia e a sustentabilidade. De acordo com Gutiérrez e Prado 
94 Ecopedagogia: uma nova educação 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
(1999), define-se Ecopedagogia como a “teoria da educação que promove a aprendizagem 
do sentido das coisas a partir da ‘vida cotidiana’.” 
Algumas das características que marcam a Ecopedagogia, como planetaridade, 
cidadania planetária, cotidianidade e pedagogia da demanda, inserem-se nas seguintes linhas 
teóricas: holismo, complexidade e pedagogia freireana. O surgimento do pensamento 
holista data de meados do século XVIII, nas teorias do naturalista inglês Gilbert White 
(GRÜN, 1996), mas é Fritjof Capra uma das principais referências do holismo para a 
Ecopedagogia. Para Capra (2003, p.37), “a concepção do universo como um sistema 
mecânico composto de unidades materiais elementares está atrelada à crença num 
progresso material ilimitado a ser alcançado através do crescimento econômico e 
tecnológico.” Propor novas fundamentações para compreensão do mundo implica uma 
mudança no pensamento, na percepção e nos valores que regem a relação do ser humano 
com o universo. O momento de crise enfrentado pela humanidade contemporaneamente 
faz parte de uma profunda transformação cultural. 
Leonardo Boff, outra referência para a Ecopedagogia, associa estas novas formas 
de significar o mundo a “novos modos de ser, de sentir, de pensar, de valorizar, de agir, 
de rezar (...) novos valores, novos sonhos, e novos comportamentos assumidos por um 
número cada vez maior de pessoas e de comunidades” (BOFF, 1996, p.30). 
A base dessa mudança deve ser ética, fundada no pathos – sensibilidade 
humanitária, inteligência emocional – e no ethos – conjunto de inspirações, valores e 
princípios que orientarão as relações da sociedade com a natureza, dentro da sociedade, 
com o outro, consigo mesmo e com Deus (BOFF, 2003). A Terra é compreendida como 
“novo patamar da realização da história”, como “totalidade físico-química, biológica, 
socioantropológica, espiritual, una e complexa” (BOFF, 2003, p.23). As duas últimas 
características, especialmente, dão o tom da abordagem metodológica desta vertente que 
busca contribuir para a formação de novos valores para uma sociedade sustentável. 
(AVANZI apud LAYRARGUES, 2004, p.38). 
O autor Edgar Morin é outro destaque na Ecopedagogia. Num breve relato, 
alguns de seus elementos são: a recusa a um conhecimento geral e seguro que disfarça as 
dificuldades e dúvidas do processo de compreensão; a busca por ajustes entre ordem e 
desordem, já que para o autor a organização não pode ser reduzida à ordem, mas 
comporta uma “idéia enriquecida” de ordem, que engloba também a desordem; a junção 
entre o singular/local e o universal; a compreensão do mundo a partir de uma abordagem 
transdisciplinar e sistêmica, procurando inclusive estabelecer combinações intersistêmicas 
entre natural e social (MORIN, 1973, 1989, 1998b). 
 Christine Yates Halal 95 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
Por toda parte o princípio de disjunção e o de redução quebram totalidades orgânicase 
são cegos em relação a uma complexidade cada vez menos escamoteável. Por toda parte 
o sujeito se reintroduz no objeto, por toda parte o espírito e a matéria chamam um pelo 
outro em vez de se excluírem, por toda parte cada coisa, cada ser reclama a sua 
reinserção no ambiente (MORIN, 1998a, p.207). 
De acordo com as palavras de Morin, a concepção de Educação que fundamenta 
a Ecopedagogia baseia-se nas teorias de Paulo Freire. Uma das hipóteses centrais da 
Ecopedagogia, o “caminhar com sentido” (GUTIÉRREZ;PRADO, 2000, p. 39), advém da 
educação problematizadora proposta por Freire que coloca em questionamento o sentido 
da própria aprendizagem. 
Da pedagogia freireana sucede também a ética como essência do processo 
educativo e a compreensão deste como relação entre sujeitos que aprendem juntos a partir 
de diálogos entre si e com a realidade a ser compreendida de maneira rigorosa e 
imaginativa (FREIRE, 1998). “Para que se estabeleça esta relação dialógica e ética são 
necessárias: construção do respeito ao outro, relação harmoniosa com o mundo e com os 
homens, ideia sobre a imperfeição e infinitude próprios do ser-humano” (ANTUNES, 
2002, p. 76-78). “A ecoformação, proposta por Gaston Pineau nos anos 1980, é identificada 
por Moacir Gadotti (2000a) como mais uma influência para as propostas da 
Ecopedagogia” (LAYRARGUES, 2004, p.38). 
Tendo em vista o cotidiano ser o lugar da intervenção pedagógica para a 
Ecopedagogia, os diversos espaços educativos são por ela valorizados. 
Não se trata de uma pedagogia escolar, mesmo que considere a escola como 
articuladora dos demais espaços educativos. Para que a escola assuma este papel, ressalta-
se a importância da reestruturação do gerenciamento político-administrativo, financeiro e 
pedagógico dos sistemas de ensino atuais, ou seja, uma descentralização democrática e a 
instauração de relações pautadas no diálogo (GADOTTI, 2000a). 
O conhecimento da Ecopedagogia do ponto de vista da sociedade e da política 
decorre no centro da sociedade civil, preocupado com o meio ambiente por uma ação 
pedagógica efetiva, introduz-se no movimento de renovação educacional como a 
transdisciplinariedade e o holismo (TORALES, 2003). Enfim, a questão da dimensão social 
diferente daquela visão primária naturalista do ambientalismo deve obrigatoriamente 
estar presente nos debates, e consequentemente na educação e na educação ambiental, 
pois segundo Gadotti (2000a, p. 241) “Isso exige, certamente, uma nova compreensão do 
papel da educação para além da transmissão da cultura e da aquisição do saber. Implica 
construção de novas relações.” 
O Movimento pela Ecopedagogia foi criado durante o I Encontro Internacional 
da Carta da Terra na Perspectiva da Educação, em agosto de 1999, na cidade de São Paulo. 
96 Ecopedagogia: uma nova educação 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
A organização do evento ficou a cargo do Instituto Paulo Freire com apoio da Unesco e do 
Conselho da Terra. “O intuito deste movimento é estimular experiências práticas na 
perspectiva da Ecopedagogia que estarão alimentando a construção de suas propostas 
teórico-metodológicas” (AVANZI apud LAYRARGUES, 2004, p.42). 
A Ecopedagogia procura se desenvolver, atualmente, como movimento social e também 
abordagem curricular. O primeiro é marcado por seu surgimento vinculado à ação 
política de Organizações não Governamentais e outros movimentos da sociedade civil 
em torno da discussão e elaboração da Carta da Terra. (AVANZI apud LAYRARGUES, 
2004, p.41). 
A Ecopedagogia implica uma reorientação dos currículos para que incorporem 
certos princípios defendidos por ela. Esses princípios deveriam, por exemplo, orientar a 
concepção dos conteúdos e a elaboração dos livros didáticos. Piaget nos ensinou que os 
currículos devem contemplar o que é significativo para o aluno. Sabemos que isso é 
correto, mas incompleto. “Os conteúdos curriculares têm de ser significativos para o 
aluno, e isso só se realizará se esses conteúdos forem significativos também para a saúde 
do planeta, para o contexto mais amplo” (GADOTTI, 2000b, p. 92). 
Como diz Gadotti (2000a, p.234), para que tenhamos uma Ecopedagogia temos 
de realizar uma educação para o desenvolvimento sustentável, pois as questões 
econômicas que permeiam o ensino devem ser revistas para trabalharmos na formação do 
“cidadão ambiental”. 
Gutiérrez, em seu livro Pedagogia para el Desarrollo Sostenible (MALDONADO et 
al., 2004, p. 85-86), o desenvolvimento sustentável aponta para novas formas de vida do 
“cidadão ambiental”: 
a) Promoção da vida para desenvolver o sentido da existência. Devemos 
partir de uma cosmovisão que vê a Terra como um “único organismo 
vivo”. Entender com profundidade o planeta nessa perspectiva implica 
uma revisão de nossa própria cultura ocidental, fragmentária e 
reducionista, que considera a Terra um ser inanimado a ser “conquistado” 
pelo homem. Uma visão que se contrapõe à cultura ocidental imperialista, 
que nos causa impacto, pela maneira peculiar com que se relaciona com a 
natureza, é a filosofia Maia. Ao invés de agredir a Terra para conquistá-la, 
os maias, antes de ará-la para “cultivá-la” (= cultuá-la), eles fazem uma 
cerimônia religiosa na qual pedem perdão à Mãe Terra por ter que agredi-
la com o arado para dela tirarem o seu sustento. 
b) Equilíbrio dinâmico para desenvolver a sensibilidade social. Por equilíbrio 
dinâmico Gutiérrez entende a necessidade de o desenvolvimento 
econômico preservar os ecossistemas. 
c) Congruência harmônica que desenvolve a ternura e o estranhamento 
(“assombro”, capacidade de deslumbramento) e que significa sentir-nos 
como mais um ser - embora privilegiado - do planeta, convivendo com 
outros seres animados e inanimados. Segundo Gutiérrez (1994, p. 19), “... 
na busca desta harmonia será preciso uma maior vibração e vinculação 
emocional com a Terra...” 
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Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
d) Ética integral, isto é, um conjunto de valores -consciência ecológica- que dá 
sentido ao equilíbrio dinâmico e à congruência harmônica e que 
desenvolve a capacidade de auto-realização. 
e) Racionalidade intuitiva que desenvolve a capacidade de atuar como um 
ser humano integral. A racionalidade técnica e instrumental que 
fundamenta o desenvolvimento desequilibrado e irracional da economia 
clássica precisa ser substituída por uma racionalidade emancipadora, 
intuitiva, que conhece os limites da lógica e não ignora a afetividade, a 
vida, a subjetividade. Ou, como diz Morin e Kern (1993, p. 69-148), por 
uma “lógica do vivente”: 
Nós tivemos que abandonar um universo ordenado, perfeito, eterno, por um universo 
em devir dispersivo, nascido no cenário onde entram em jogo, dialeticamente -isto é, de 
maneira ao mesmo tempo complementar, concorrente e antagônica- ordem, desordem e 
organização. (...) É por isso que todo conhecimento da realidade que não é animado e 
controlado pelo paradigma da complexidade está condenado a ser mutilado e, neste 
sentido, à falta de realismo. 
O paradigma da racionalidade técnica, concebendo o mundo como um “universo 
ordenado, perfeito”, admitindo que é preciso apenas conhecê-lo e não transformá-lo, 
acaba conduzindo à naturalização das desigualdades sociais. Elas deveriam ser aceitas 
porque o mundo é “assim mesmo” e é “natural” que seja assim. A racionalidade técnica 
acaba justificando a injustiça e a iniqüidade. 
f) Consciência planetária que desenvolve a solidariedade planetária. Um 
planeta vivo requer de nós uma consciência e uma cidadania planetárias, 
isto é, reconhecermos que somos parte da Terra e que podemos viver com 
ela em harmonia - participando do seu devir - ou podemos perecer com a 
sua destruição. 
A partirdos estudos realizados, pode-se afirmar que são princípios da 
Ecopedagogia (GADOTTI, 2000b): 
a) O planeta como uma comunidade única; 
b) a Terra como mãe, organismo vivo e em evolução; 
c) uma nova consciência que sabe o que é sustentável, apropriado, faz 
sentido para a existência humana; 
d) a bondade para com essa casa. O endereço dos homens é a Terra; 
e) a justiça sociocósmica: a Terra é um grande pobre, o maior de todos os 
pobres; 
f) uma pedagogia que promove a vida: envolver-se, comunicar-se, 
compartilhar, problematizar, relacionar-se, entusiasmar-se. 
Do “Tratado de educação ambiental para sociedades sustentáveis e 
responsabilidade global”, Gadotti (2000b, p. 95-96) destaca alguns princípios básicos que 
podem revelar a compreensão que os partidários da Ecopedagogia têm da Educação 
Ambiental: 
• Ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo ou 
lugar, em seus modos formal, não formal e informal, promovendo a 
modificação e a construção da sociedade; 
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Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
• abranger uma visão holística, enfocando a relação interdisciplinar entre o 
ser humano, a natureza e o universo; 
• estimular a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos; 
• integrar conhecimentos, aptidões, valores, atitudes e ações, convertendo-
os em experiências educativas das sociedades sustentáveis; 
• auxiliar o desenvolvimento de uma consciência ética sobre formas de vida 
existente, respeitando seus ciclos vitais e impondo limites à exploração 
dessas formas de vida pelos seres humanos. Além disso, a educação 
ambiental é individual e coletiva. Tem intenção de formar cidadãos 
possuidores de consciência local e planetária, que respeitem a 
autodeterminação dos povos e a soberania das nações (FÓRUM GLOBAL 
92, 1992, p. 194-196 apud GADOTTI, 2000b, p.95-6). 
Gadotti (2000b, p.96) esclarece que: “A Ecopedagogia não se opõe à Educação 
Ambiental. Ao contrário, para a Ecopedagogia a Educação Ambiental é um pressuposto. 
A Ecopedagogia incorpora-a e oferece estratégias, propostas e meios para a sua realização 
concreta”. 
No entanto, seus autores compreendem-na como sendo mais ampla que a 
Educação Ambiental “por se preocupar com o sentido mais profundo do que fazemos 
com nossa existência a partir da vida cotidiana” (GADOTTI, 2000b, p.97). 
A “ecologia fundamentada eticamente” é o que embasa a compreensão de 
sustentabilidade defendida pela Ecopedagogia, a qual, segundo Gutiérrez e Prado (2000, 
p. 33), é mais ampla do que aquilo que chamam de “ambientalismo superficial”: 
Enquanto o ambientalismo superficial apenas se interessa por um controle e gestão mais 
eficazes do ambiente natural em benefício do ‘homem’, o movimento da ecologia 
fundamentada na ética reconhece que o equilíbrio ecológico exige uma série de 
mudanças profundas em nossa percepção do papel que deve desempenhar o ser 
humano no ecossistema planetário. 
2.4. Aplicação e Possíveis Caminhos para a Ecopedagogia 
Prática da ecopedagogia em instituições de ensino 
Santana e Lima (2009) desenvolveram um método para inserir a Ecopedagogia no 
currículo escolar. A Escola pesquisada foi a Ramiro Júlio da Paixão, do município de 
Santo Estevão, Estado da Bahia, tendo como objetivo “contribuir com a construção de 
uma nova percepção humana sobre o meio ambiente e sobre todas as formas de vida.” 
(SANTANA; LIMA, 2009, p.03) 
Para alcançar o objetivo, organizou-se o trabalho da seguinte forma: inicialmente, 
os autores fizeram um diagnóstico da realidade, coletando informações sobre as 
necessidades educacionais de professores e alunos, principalmente pelo método de 
 Christine Yates Halal 99 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
observações e diálogos. A seguir, estruturou-se um plano de intervenção, partindo-se do 
“princípio que os currículos escolares, ao incorporarem alguns aspectos defendidos pela 
Ecopedagogia, poderão nortear de outra forma a abordagem aos conteúdos escolares, 
interrelacionados com a questão ambiental” (SANTANA; LIMA , 2009, p.04). Com isso, os 
conteúdos abordados em sala de aula, como a cultura das famílias e a inserção do mundo 
rural, passaram a ter significado aos alunos, indivíduos integrados ao todo, ao planeta. 
Já Sobrinho (2007), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), refletiu sobre a 
importância da inserção da disciplina Ecopedagogia no Currículo do Curso de 
Licenciatura Plena em Pedagogia e as suas contribuições para a formação continuada de 
professores experientes, das séries iniciais do Ensino Fundamental. Utilizou-se um 
questionário para saber informações a respeito dos conteúdos relativos ao meio ambiente 
abordados nas séries iniciais, formas de abordagens desses conteúdos, recursos didáticos, 
contribuições da Ecopedagogia para a formação docente e relações entre o processo 
pedagógico, a cidadania ambiental e a cultura de sustentabilidade. Os conteúdos 
abordados foram ciclo da água, solo, poluição, desertificação, lixo, conservação do meio 
ambiente, queimadas, reciclagem de materiais, meio ambiente e relações do homem, entre 
outros. A abordagem dos conteúdos foi feita da seguinte forma: aulas expositivas 
dialogadas, estudos em grupo, atividades práticas, demonstrações individuais e/ou em 
grupos, visitas e outras. Quando os professores resolveram fazer aulas de campo, 
constataram que os discentes conseguiram respostas mais próximas dos conceitos 
científicos. Já as contribuições da Ecopedagogia para a formação de professores foram 
diversas. A seguir, alguns relatos de docentes sobre esta questão: 
• “A principal contribuição foi o chamamento para uma visão do mundo. E 
pensar sobre a responsabilidade que me é designada na formação do 
cidadão planetário.”; 
• “[...] através dessa disciplina tivemos mais conhecimentos e informações 
para passarmos para os nossos alunos sobre a importância de preservar 
para que tenhamos no futuro: água, ar puro ...” 
• “Contribuiu na abordagem de temas a serem trabalhados e como devem 
ser inseridos no cotidiano escolar!” 
Caminhos para a ecopedagogia 
Tomando como base o capítulo 5 do livro de Gutiérrez (2002, p. 75-76), que trata sobre 
praticar nossas relações cotidianas, podemos adotar outros referencias de indicadores de 
processo: 
Precisamos de novos indicadores (indicadores de processo) que apontem valores que, 
como sabemos, estão em clara contradição com muitas das “verdades” e “princípios” e 
“valores” de uma sociedade patriarcal, hierárquica e dicotômica.” 
100 Ecopedagogia: uma nova educação 
Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
Requeremos novos estilos de vida pessoal, institucional e organizacional. A realidade 
descoberta pela física quântica não está rígida pelas leis mecânicas e lineares, mas pelos 
princípios da abertura, relatividade, complementariedade, iter-relacionalidade e auto-
organização. 
O paradigma da nova ciência fundamenta-se muito mais nos processos que nos 
produtos. Além disso, são os processos dinâmicos, concordantes e harmônicos os 
primeiros produtos aos quais devemos apontar com insistência. A lógica de uma 
sociedade fundamentada em produtos deve dar lugar a outro tipo de lógica que se 
preocupa muito mais pelo crescimento das pessoas que pela produção e acumulação. 
Em vista disso, muitas iniciativas, projetos e atitudes em diferentes ramos, como 
educacional, social, ambiental e econômica, têm nos desvendado experimentar diferentes 
indicadores e caminhos prováveis, comprometendo-se com os princípios ecopedagógicos. 
Nesse sentido, iniciativas educacionais, sociais, ambientais e econômicas, 
incluindo projetos e atitudes revela-nos o sabor humano de experimentar outros 
indicadorese caminhos possíveis, que afirmam na prática o comprometer-se com os 
princípios ecopedagógicos. Alguns exemplos: “Economia Solidária, Projeto Eco-Político 
Pedagógico, Orçamento Participativo, Agenda 21, Rede Virtual de Construção 
Intercultural da Paz, Fórum Social, Protagonismo Infanto-Juvenil e Adulto, Gestão 
Democrática entre tantas outras”, com destaque ao projeto de formação de formadores 
sociais chamado “Projeto JOVemPAZ – Construção intercultural da paz e da 
sustentabilidade”, em parceria entre Escolas Públicas, ONGs, e Empresa Pública, gerando 
uma experiência com os princípios e indicadores que sustentam a cultura ecopedagógica. 
(OLIVEIRA apud OLIVEIRA, 2003). 
Ainda de acordo com Oliveira (2003), 
[...] a cultura ecopedagógica poderá e deverá ser um caminho para um agir sustentável 
em relação às raças, gêneros, culturas locais, sexo, recursos naturais, organizações 
políticas, ambientais, econômicas e sociais, que possibilitará a todos terem o direito de 
viver e escolher os indicadores de qualidade e felicidade de vida, inspirados em 
princípios de respeito, solidariedade, igualdade, justiça, participação, paz, segurança, 
conservação, honestidade, precauções, entre outros valores, que pressupõem uma 
prática ecopedagógica emancipatória, voltada para uma cidadania planetária, ao se fazer 
com o outro e com o mundo. 
3. CONCLUSÃO 
A partir da pesquisa sobre Ecopedagogia, conclui-se que as propostas pedagógicas de 
educação ambiental e sustentável abarcam os interesses e complexidades das discussões 
sobre educação e sustentabilidade, suscitando uma nova visão pedagógica que atenda as 
necessidades da sociedade e da educação contemporânea: a Ecopedagogia. A educação 
deverá ser reorientada tendo como princípio norteador a sustentabilidade do ser e do 
planeta. E isso a Ecopedagogia oferece. Essa nova educação está voltada à formação de 
cidadãos ativos com as questões ambientais. Cabe então à escola inserir em seu projeto 
político pedagógico e no planejamento escolar, objetivos e conteúdos curriculares que 
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Revista de Educação • Vol. XII, Nº. 14, Ano 2009 • p. 87-103 
sejam oriundos da prática cotidiana de sua clientela para se tornarem significativos para 
os mesmos. Pois, somente por meio de ações e reflexões é que se adquire saberes 
necessários para aprender a conhecer, a ser, a fazer e a conviver. Esses saberes deverão 
subsidiar as ações, decisões a fim de perceber o outro, a garantir o respeito e a harmonia 
consigo, com o outro, as nações, a natureza e o planeta. 
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Ambiental, Universidade do Rio Grande, Rio Grande/RS. 
Christine Yates Halal 
Graduação em Engenharia de Alimentos pela 
Universidade Federal do Rio Grande (2002), 
especialização em Gestão Ambiental em 
Municípios pela Universidade Federal do Rio 
Grande (2008), especialização em Didática e 
Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade 
Atlântico Sul do Rio Grande (2009) e mestrado em 
Engenharia e Ciência de Alimentos pela 
Universidade Federal do Rio Grande (2005). 
Atualmente é integrante da Universidade Federal 
do Pampa.

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