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Diversidade Botânica Conquista e Diversificação da Vida na Terra Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Cristine Gobbo Menezes Revisão Textual: Prof. Ms. Selma Aparecida Cesarin 5 • Conquista e Diversificação da Vida na Terra • Gimnospermas: Características Gerais • Evolução da Semente • Coniferophyta • Evolução das Espermatófitas • Cycadophyta, Ginkgophyta e Gnetophyta • Angiospermas: Características Gerais Nesta Unidade, abordaremos dois grupos que efetivamente conquistaram o ambiente terrestre se libertando da necessidade da água para sua reprodução. A origem destes organismos ocorreu justamente em um período da evolução da Terra de grande transformação – a formação do supercontinente Pangea. O clima se tornou mais seco e a superfície terrestre se modificou, com a formação de regiões montanhosas. Neste contexto, as espermatófitas tiveram uma grande expansão, colonizando ambientes novos. Trataremos de dois grupos de plantas bastante familiares devido à sua importância econômica e usos relacionados ao nosso cotidiano: gimnospermas e angiospermas. Gimnosperma agrupa linhagens antigas (≈ 340 MA) de espermófitas (plantas com semente), das quais apenas 4 possuem representantes na flora atual totalizando cerca de 840 espécies. Angiospermas, contudo, é um grupo monofilético mais recente (≈ 150 MA) no qual surgiram características peculiares como a flor e o fruto, que revolucionaram o ambiente terrestre. Conquista e Diversificação da Vida na Terra 6 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra Contextualização A efetiva independência da água apenas foi conquistada em um grupo de traqueófitas: as espermatófitas. Este grupo não necessitava mais da água para sua reprodução e estava livre para conquistar novos ambientes, longe dos rios e pântanos. O domínio do solo emerso a partir do Mesozoico O aparecimento dos tecidos condutores, o revestimento das partes aéreas por material impermeabilizante e o desenvolvimento de raízes e de folhas com estômatos permitiram às pteridófitas ocupar e dominar os espaços emersos por mais de uma centena de milhões de anos. No entanto, no período Carbonífero, e possivelmente no final do Devoniano, isto é, há mais de 350 milhões de anos, surgiu em alguns grupos de traqueófitas uma estrutura nova: a semente. O aparecimento das sementes trouxe uma vantagem significativa em relação às adaptações das pteridófitas à vida fora da água. Essas primeiras espermatófitas apresentavam sementes nuas e integravam o grupo que chamamos de gimnospermas, o qual gradualmente passou a ocupar a maior parte dos espaços disponíveis e a competir vantajosamente com as outras plantas vasculares. Um aspecto importante das plantas com um sistema xilemático desenvolvido foi o aparecimento do hábito da arborescência que, associado ao sistema radicular desenvolvido, atuou de maneira dramática acelerando o intemperismo e alterando a estrutura e a composição química dos solos. Nesse processo foram pouco a pouco substituindo as florestas de pteridófitas arborescentes e passaram a dominar as paisagens terrestres. As gimnospermas se expandiram grandemente a partir do Permiano e dominaram a flora no Mesozóico. A hegemonia das gimnospermas foi rapidamente quebrada com o aparecimento das angiospermas, também chamadas de plantas com flores e que também se caracterizam por darem às suas sementes uma proteção extra, encerrando-as em uma estrutura que chamamos tecnicamente de fruto. O aparecimento das angiospermas no início do Cretáceo foi um acontecimento de tremenda importância para a história da vida na Terra. No curto período geológico de algumas dezenas de milhões de anos o grupo apresentou potencial incrível de diversificação, expandiu suas fronteiras e dominou efetivamente solos emersos em praticamente todas as latitudes do planeta onde não havia gelo permanente. Em termos de diversidade o grupo só perde para os insetos e fungos, organismos que, como o homem, dependem das angiospermas para sobreviver. Fonte: Eurico Cabral de Oliveira. Introdução à Biologia Vegetal. 2.ed. São Paulo: Edusp. 2003, 272p. 7 Conquista e Diversificação da Vida na Terra Na Unidade anterior, vimos que atualmente a classificação botânica está incorporando informações sobre a filogenia dos grupos de organismos, buscando agrupar táxons evolutivamente relacionados. Também estudamos sobre a diversidade de organismos coletivamente chamados de criptógamos – exceto fungos – e que não são evolutivamente relacionados (já que pertencem a domínios e filos diferentes). Nesta Unidade, trataremos de organismos que gradativamente substituíram as florestas de pteridófitas e licopódios primitivos para, atualmente, dominar os ambientes terrestres: as gimnospermas e angiospermas. O ambiente terrestre apresenta condições limitantes, tais como influência da gravidade no transporte de fluídos e manutenção do porte ereto, perda de água por evaporação, absorção de nutrientes a partir do solo, exposição à maior radiação UV, entre outras. Já vimos que algumas algas, assim como as briófitas, podem viver em ambiente terrestre ainda que estes grupos de organismos não possuam adaptações específicas para a vida terrestre, sendo, por este motivo, pouco representados neste ambiente. As primeiras adaptações surgiram em Pteridophyta, Lycophyta e as demais linhagens de plantas vasculares primitivas. Porém, estes grupos retiveram a dependência da água para a reprodução sexuada. Durante o Devoniano (400-350 MA) – período no qual algumas linhagens primitivas de plantas vasculares desapareceram e também se formaram extensas áreas de florestas de pteridófitas e licopódios – água não era um problema, já que os continentes possuíam extensas áreas alagadas. O Devoniano foi marcado como um período de estabilidade ambiental, mas ao final dele, o ambiente começou a se modificar gradativamente. Apesar de continuar quente, surgiram períodos de variação sazonal e deu-se início a um processo de “desertificação”. Foi neste ambiente que surgiu uma adaptação evolutiva que permitiria a conquista efetiva do ambiente terrestre: a semente. Diálogo com o Autor Umas das mais espetaculares inovações que surgiram durante a evolução das plantas vasculares foi a semente. As sementes são um dos principais fatores responsáveis pela dominância das plantas com sementes nas floras atuais – uma dominância, que se tornou progressivamente maior durante um período de várias centenas de milhões de anos. A razão é simples: a semente representa um grande valor de sobrevivência. A proteção que uma semente proporciona ao embrião e a reserva de alimento que lhe está disponível nos estágios críticos de sua germinação e do seu estabelecimento dão grande vantagem seletiva às plantas com semente em relação a seus ancestrais e parentes com esporos livres, ou seja, plantas que liberam seus esporos (RAVEN et al., 2007, p. 426). Assim, a semente “libertou” as plantas terrestres dos ambientes úmidos ribeirinhos e permitiu que as plantas conquistassem ambientes mais altos e mais secos (OLIVEIRA, 2003, p. 202). 8 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra Evolução da Semente A semente teve um papel fundamental para a adaptação das plantas a um ambiente em constante modificação, garantindo a sobrevivência do embrião por meses ou até anos, até que condições ideais para o desenvolvimento da plântula surgissem. Diálogo com o Autor Na verdade, a semente é simplesmente um óvulo maduro contendo um embrião. O óvulo imaturo consiste em um megasporângio envolvido por uma ou duas camadas adicionais de tecido, os tegumentos (RAVEN et al., 2007, p. 428). Em plantas vasculares heterosporadas (que produzem esporos femininos e masculinos), como a Selaginella,tanto o esporo feminino (megásporo) quanto o masculino (micrósporo) são liberados no ambiente. Os esporângios (megasporângio e microsporângio nos quais os esporos femininos e masculinos, respectivamente, são produzidos) organizam-se em folhas especializadas – megasporofilo e microsporofilo – que em alguns grupos podem se organizar em estróbilos. A partir de Gimnosperma, cada megasporângio tem apenas uma célula mãe que dá origem a megásporos, sendo apenas um funcional. O megasporângio é coberto por uma ou duas camadas de tegumento com uma abertura no ápice chamada micrópila, por onde micrósporos (grãos de pólen) podem entrar em contato com megásporo. O megagametófito (a planta haplóide) não tem mais vida livre e se desenvolve dentro do megásporo funcional que permanece retido no megasporângio. A tendência de redução do gametófito (observada já nas primeiras plantas vasculares) chega ao extremo em angiospermas, reduzindo-se a somente 8 células. O esporófito, que é a fase de vida dominante, começa seu desenvolvimento imerso no tecido do megagametófito. Portanto, um óvulo imaturo (Figura 1) é formado por uma ou duas camadas de tegumento cobrindo o megasporângio (nucelo) que contém o único megasporócito (célula mãe) que dará origem a quatro megásporos, sendo apenas um funcional. 9 Figura 1. Representação esquemática do óvulo em gimnospermas e angiospermas atuais. Micrópila Micrópila Tegumento Nucelo Nucelo Megasporócito (célula-mãe) Megasporócito (célula-mãe)Funículo parede do ovário Estilete ovário Tegumentos Gimnosperma Angiosperma Em resumo A partir das espermófitas (plantas com sementes), modifica-se a unidade de dispersão – de megásporos para sementes. O megasporângio tegumentado (óvulo) retém o megagametófito (planta haplóide) e o megásporo funcional, dando origem à semente. A fase haplóide, antes dominante em briófitas, é agora extremamente reduzida e totalmente dependente do esporófito. Você Sabia ? O registro fóssil é bastante incompleto quanto à evolução do óvulo das espermatófitas atuais. Contudo, uma das primeiras plantas com sementes, a Elkinsia polymorpha (lado), possuía óvulos em ramos férteis (equivalentes aos megasporofilos) e protegidos por lobos tegumentares com pouca ou nenhuma fusão entre eles. Aparentemente, durante a evolução, estes lobos se fundiram e deram origem aos tegumentos dos óvulos atuais. Em óvulos maduros, os tegumentos dão origem à testa (casca) da semente. Fonte: RAVEN et al. 2007. Lobos do tegumento Cúpula Óvulo Evolução das Espermatófitas Embora a semente tenha um valor adaptativo alto, por conferir maiores chances de sobrevivência ao esporófito jovem (o embrião), esta não é a única sinapomorfia que reúne estas linhagens de planta, tampouco a única explicação para sua atual dominância nas floras atuais. Uma série de modificações chave garantiram o sucesso e incrível diversificação destes grupos e trataremos aqui de algumas delas. 10 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra Diálogo com o Autor Um passo crítico para a evolução das sementes foi a evolução da heterosporia: a produção de dois tipos de esporos (micrósporos e megásporos), que produzem dois tipos de gametófitos (masculino ou microgametófito, que produz o esperma; e feminino ou megagametófito, que produz um ou mais ovos). A heterosporia evoluiu muitas vezes nas linhagens distintas de plantas vasculares, incluindo licófitas, pteridófitas, equisetófitas e espermófitas (JUDD et al., 2008, p.168). A existência de esporângios femininos e masculinos ofereceu à evolução a base para o desenvolvimento do óvulo e sementes (Figura 2). A especialização dos esporos por sexo aconteceu independentemente em diferentes linhagens, sendo em geral acompanhada da redução do número de megásporos. Na linhagem das espermatófitas, esta redução levou a um único megásporo funcional, devido ao aborto dos demais. Figura 2. Representação dos passos hipotéticos para o desenvolvimento do óvulo das espermatófitas modernas. Em linhagens ancestrais pteridófitas, a heterosporia surgiu independentemente e seguida da redução do número de megásporos produzidos. O óvulo surgiu a partir de um megasporângio que no ancestral das espermatófitas foi recoberto com camadas de tecidos estéreis do espermatófito, como lobos do tegumento e cúpula (em Elkinsia polymorpha) e, posteriormente, fundidos como nas plantas atuais. Esporângio Esporos Homoesporos ancestral Heterosporias Microesporos Megásporos Gametó�to feminino Nucelo Tegumento Redução de uma megásporos e endósporos Esporângio envolto por tegumentos Disponível em: nickrentlab.siu.edu Além da heterosporia, outra importante adaptação foi a presença de câmbio, um tecido meristemático secundário responsável pelo crescimento em largura dos ramos de uma árvore. 11 De acordo com o crescimento vertical da planta, que é orientado pelo meristema apical, o tronco cresce em largura devido ao meristema secundário produzindo novos vasos (xilema e floema secundários). Estes garantem o transporte eficiente de fluídos, assim como a sustentação mecânica da planta. A produção de xilema e floema secundários é, entre as plantas atuais, uma característica única para as espermatófitas. Mas houve um grupo de plantas extintas, as progimnospermas (Progimnospermophyta), que apresentavam características intermediárias entre as espermófitas e pteridófitas. De acordo com o registro fóssil, as florestas, durante 370-340 MA foram dominadas por progimnospermas. Embora a reprodução destas espécies envolvesse dispersão de esporos, seu sistema vascular apresentava câmbio vascular bifacial semelhante ao encontrado em coníferas atuais, responsável pela produção de xilema e floema secundários ou, dito de outra forma: responsável pela produção de lenho. Os fósseis de Archaeopteris (Figura 3), comuns para a região do leste da América da Norte, sugerem que esta progimnosperma podia atingir 17 metros de altura ou mais. Portanto, tanto a heterosporia quanto a produção de lenho a partir de meristema secundário (câmbio) precedem o surgimento das sementes. Figura 3. Representação de uma árvore de Archaeopteris sp. Ao lado, seu ramo fértil fossilizado. Disponível em: devoniantimes.org, wikimedia commons Os primeiros registros fósseis de plantas com sementes remetem à 365 milhões de anos (MA), de uma progimnosperma chamada Elkinsia polymorpha. Na figura 4, é possível observar o surgimento de linhagens de plantas com sementes e a extinção de alguma delas no decorrer das últimas Eras. Existem 5 filos (Divisões) de plantas com sementes que possuem representantes atuais: Cycadophyta, Ginkgophyta, Coniferophyta, Gnetophyta e Antophyta. Os quatro primeiros representam linhagens de Gimnospermas, Antophyta agrupa o clado das plantas com flores (angiospermas). 12 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra Figura 4. Representação das linhagens de plantas com sementes ao longo de milhares de anos. As linhagens em laranja foram extintas. A largura das linhas sugere a diversidade de espécies em um determinado período de tempo. A escala temporal é em milhões de anos (MA). Quaternário Ce no zo ic o Er a m es oz oi ca Er a pa le oz oi ca Cretáceo Voltziales Jurássico Triássico Permiano Carbonífero Devoniano Terciário 65 144 206 248 290 354 417 Gimnospermas existentes Be nn et tit al es Ca yt on ia le s Cy ca do ps id a Pe nt ox ya le s Ly gi no pt er id op si da G lo ss . G ig an . G in kg op si da G ne to ps id a Co rd ai ta le s Pi no ps id a / C on ifero ps id a Angiospermas Monocots Eudicots Rosids Asterids Caryophyllids Basal eudicots Gimnospermas extintas e sementes samambaias “Progymnosperms” Aneurophytales Archaeopteridades M ag no lli ds Ba sa l a ng io sp er m s Adaptado de: w w w .seedbiology.de Fonte: http://www.seedbiology.de/evolution.asp.Gimnospermas: Características Gerais As Gimnospermas constituem um grupo que inclui as plantas vasculares com sementes nuas. Há quatro filos de gimnospermas com representantes atuais (Cycadophyta, Ginkgophyta, Coniferophyta e Gnetophyta), mas sua monofilia é ainda discutível. Alguns autores defendem que Gnetophyta é filogeneticamente relacionada à família das coníferas Pinaceae. Neste caso, Coniferophyta seria um táxon parafilético e esta hipótese é conhecida como gnepinus. Outra hipótese sugere que Gnetophyta seja o grupo mais próximo às angiospermas, sendo o clado Gnetophyta + Antophyta genericamente chamado de antófitas. Até pteridófitas e licófitas, a ocupação do ambiente terrestre esteve restrita a áreas alagadas e ribeirinhas, muito comuns durante o Devoniano. No entanto, o ambiente terrestre sofreu transformações e o clima passou por um processo de “aridização”, ficando cada vez mais seco devido à formação do supercontinente Pangea. Neste ambiente, um grupo emergente de plantas que apresentavam características de resistência à seca e independência da água para reprodução foram obviamente beneficiados, expandindo-se para ambientes que as demais plantas não seriam capazes de colonizar. As gimnospermas se distribuem amplamente em áreas mais frias do Hemisfério Norte, onde podem ser o elemento dominante das florestas. 13 No Brasil, estão pouco representadas, incluindo apenas cerca de 3% do total (≈ 30 espécies) de espécies existentes no mundo (SOUZA, 2014a). A independência da água deve-se ao surgimento do óvulo, assim como à mudança no modo de dispersão dos gametas. Em gimnospermas, o gameta masculino perdeu o flagelo e não é mais disperso sozinho; ao invés disso, o microgametófito – agora chamado de grão de pólen – parcialmente desenvolvido é liberado para ser transportado pelo vento. A germinação do grão de pólen ocorre na proximidade de um megagametófito, produzindo o tubo polínico que irá levar o gameta masculino diretamente até o arquegônio para fecundar o megásporo. Contudo, um estado intermediário deste processo é encontrado em Ginkgo e cicadófitas, porque o microgametófito nestas linhagens é haustorial e pode crescer durante meses, absorvendo nutrientes do nucelo, até que finalmente libere os gametas masculinos multiflagelados que nadarão até o arquegônio para fecundar a oosfera. Muitas gimnospermas produzem um líquido viscoso que é liberado pela micrópila – a gota de polinização – para favorecer a captura de grãos de pólen. A polinização é feita principalmente pelo vento, mas alguns besouros pouco especializados podem atuar como polinizadores. O desenvolvimento do grão de pólen foi importante para a independência da água e para a expansão das gimnospermas em novos ambientes, já que sendo levado pelo vento poderia alcançar plantas distantes umas das outras. Além disso, sua morfologia é importante para a identificação taxonômica e também informativo para estudos de reconstrução climática devido ao seu extenso registro paleontólogico. Isso é possível porque em sua camada mais externa apresentam esporopolenina, uma substância resistente à fossilização. Coniferophyta Trata-se do grupo mais abundante de gimnospermas, surgiu no Carbonífero Superior (≈ 300MA) e atualmente é representado por 630 espécies em 70 gêneros. A planta vascular mais alta, Sequoia sempervirens é uma conífera que pode atingir até 113 metros. No Brasil, está representada por apenas duas famílias: Araucariaceae (Araucaria angustifolia) e Podocarpaceae (com 9 espécies distribuídas em quase todo o território nacional), além de 7 espécies de Pinaceae que foram introduzidas. Durante o período Permiano (290-245 MA) o grupo sofreu uma grande diversificação, talvez devido às características de resistência à seca terem sido vantajosas nos períodos frios e secos que se seguiram. Estas características também explicam sua atual distribuição abundante em regiões áridas e temperadas. 14 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra Diálogo com o Autor Coníferas permanecem importantes em regiões mais frias, como as florestas boreais da América do Norte e Ásia, onde espécies de pinheiros, abetos e píceas dominam a vegetação. Outras coníferas — particularmente Araucariaceae, Cupressaceae e Podocarpaceae – são proeminentes em regiões frias do Hemisfério Sul. Coníferas são espécies com valor ornamental, e sua madeira é usada para produção de papel, construção civil, e muitas outras propostas. Frequentemente são chamadas de plantas “sempre verdes” devido à persistência da folhagem em muitas espécies, ou como “softwoods” porque sua madeira é mais macia que a de muitas angiospermas (JUDD et al., 2008). O termo conífera refere-se ao arranjo das folhas férteis (microsporófilos e megasporófilos) em estróbilos com formato de cone. Entre as coníferas, provavelmente as espécies mais conhecidas pertençam à família Pinaceae. Pinus (Pinaceae) agrupa cerca de 90 espécies e pode ser reconhecido pelo arranjo foliar único. As folhas são reduzidas a acículas e agrupadas em um número espécie-específico (de 3 a 8 acículas) presas a uma base caulinar. Este arranjo de folhas pode, em condições especiais, produzir raízes e formar um novo pinheiro. A epiderme foliar é coberta por uma cutícula espessa que evita a perda de água e, além disso, as folhas possuem vida longa (de 2 a 4 anos, chegando até 45 anos em Pinus longaeva). Figura 5. Estróbilos de algumas coníferas. A: Estróbilos femininos de Tsuga canadensis; B: Estróbilos femininos de Pseudotsuga sp.; C: Estróbilos femininos de uma conífera; D: Estróbilos masculinos de Pinus sp., liberando grãos de pólen. Observe as folhas aciculares organizadas em feixes na figura D. Fotos de C. G. Menezes. Fotos de C . G . M enezes. Pinus são plantas monóicas, com cones femininos e masculinos na mesma árvore, sendo comum que os microstróbilos (masculinos) distribuam-se nos ramos mais baixos e os megastróbilos (femininos) nos ramos mais altos, para captar grãos de pólen vindos de plantas vizinhas. 15 Os grãos de pólen de Pinus são facilmente reconhecíveis devido a apresentarem alas (Figura 6b). Os estróbilos femininos não são formados por folhas férteis, mas por escamas ovulíferas (Figura 6a). A diferença de termos deve-se à origem caulinar do estróbilo. As escamas são dispostas em espiral, portando dois óvulos, e suportadas por uma bráctea estéril. Cada óvulo é constituído de nucelo (megasporângio), envolto por tegumento espesso e com a micrópila voltada para o eixo do estróbilo. Em geral, o megagametófito produz vários arquegônios, que resultam em várias oosferas. Eventualmente, mais de uma oosfera pode ser fecundada e começar a se desenvolver em embrião, mas apenas um sobreviverá. Este evento é conhecido como poliembrionia e é comum em outras gimnospermas. Contudo, a fecundação em Pinus é extremamente morosa. Após a captura de grãos de pólen pela gota de polinização, esta se retrai, fazendo com que entrem em contato com o nucelo e comecem a germinação. Após 1 ano da polinização, o microgametófito maduro produz a célula espermatogênica, mas, somente após 15 meses, o tubo polínico alcança o arquegônio, liberando dois gametas masculinos (originados da divisão da célula espermatogênica) no interior do citoplasma da oosfera. Para Pensar Quais seriam as consequências de mudanças ambientais para espécies como Pinus, que possuem um processo de reprodução extremamentelento? Reflita sobre o investimento energético para o desenvolvimento da geração-filha, e também sobre quantas gerações uma gimnosperma é capaz de produzir. Figura 6. Estruturas reprodutivas de coníferas. A: Corte longitudinal de um estróbilo feminino; B: Microscopia eletrônica do grão de pólen alado de Pinus sp.; C: Constituição da semente. Fonte de A e C: http://www.bio.miami.edu/dana/dox/altgen.html; C: http://www.asknature.org/ strategy/3fc16cc9d4184dcddd5d3d9142f222a1#.U9lCSvldXNc. A Escama ovulífera Bráctea estéril Testa da semente Nucela Embrião Óvulo Micrópila Eixo da pinha B C 20 µm Fonte: A: www.vcbio.science.ru.nl, B: www.asknature.org, C: www.bio.miami.edu 16 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra As sementes de coníferas são notáveis por apresentar tecidos de diferentes gerações: esporofítica diplóide (envoltório da semente e nucelo) e a geração gametofítica que dá origem ao embrião. O gametófito supre o embrião com reserva de alimento e este é constituído de dois meristemas apicais que darão origem à raiz e caule (arranjados em um eixo hipocótilo-radicular) e vários cotilédones (frequentemente 8). Quando o estróbilo está maduro, as escamas abrem-se liberando as sementes. Pinus, particularmente, pode apresentar sementes aladas que são dispersadas pelo vento. Embora a discussão aqui tenha focado especialmente em Pinaceae, Coniferophyta compreende 7 famílias. Na figura 7, estão representadas algumas destas famílias. Note que o estróbilo pode conter um único óvulo (como em Podocarpaceae e Taxaceae), assim como estruturas carnosas podem estar presentes. Tais estruturas servem de alimento para animais que contribuem com a dispersão das sementes. Destas famílias, destaca-se ainda Araucariaceae, pela excelente qualidade da madeira e consumo das sementes para alimentação humana. Assim como Taxaceae pela produção do paclitaxel – comercialmente conhecido como Taxol – empregado para o tratamento de alguns tipos de câncer. Figura 7. Representantes de algumas famílias de coníferas. A. Podocarpus macrophylla (Podocarpaceae); B: Chamaecyparis obtusa (Cupressaceae); C: Taxus baccata (Taxaceae); D-F: Araucariaceae, D: hábito, E: estróbilo masculino, F: estróbilo feminino. JU D D et al. (2008). Outro destaque importante é a presença de estruturas carnosas e coloridas em algumas gimnospermas. A cor destas estruturas é dada por flavonóides envolvidos com a proteção da planta, pigmentos conhecidos como antocianinas. A partir de Gimnosperma, estes pigmentos desenvolveram uma nova função: atração de animais dispersores. Esta característica, que tem distribuição reduzida em gimnospermas, terá uma grande expansão em angiospermas, colorindo flores e frutos para atração de polinizadores e dispersores. Este talvez seja um dos primeiros passos dados para a coevolução entre plantas e animais. 17 Cycadophyta, Ginkgophyta e Gnetophyta Cycadoophyta agrupa plantas semelhantes a palmeiras, dióicas (plantas femininas e plantas masculinas) que podem atingir até 18 metros. No Brasil, está representada somente por 6 espécies de Zamiaceae (SOUZA, 2014b), embora espécies de Cycas (Cycadaceae) sejam muito utilizadas para projetos paisagísticos. São frequentemente muito tóxicas e têm um importante papel na fixação de carbono devido à interação com cianobactérias. Ginkgophyta é um relicto evolutivo, já que no passado foi amplamente distribuída, e diversa, restando atualmente uma única espécie atual nesta Divisão: Ginkgo biloba. São árvores que podem atingir até 30 metros, dióicas, sua sementes têm um envoltório carnoso e fétido, mas sua semente é consumida como iguaria na China e Japão. Estas duas divisões são as mais antigas entre as gimnospermas atuais e compartilham o microgametófito com crescimento haustorial. Nestas espécies, o gameta não é entregue diretamente até a oosfera, mas, despejado junto com o citoplasma do microgametófito no interior do arquegônio, nadando ativamente até atingir a oosfera. Por isso, os gametas de Cycadophyta e Ginkgophyta são os únicos que possuem flagelos entre as espermatófitas. Gnetophyta agrupa três famílias bastante peculiares: Gnetaceae, Welwitschiaceae e Ephedraceae. As duas últimas são comuns em regiões áridas, como o deserto da Namíbia, por exemplo. Gnetaceae possui representantes arbóreos e trepadeiras. As características que se destacam nessa divisão é a semelhança de seus estróbilos à inflorescências (agrupamento de flores) de angiospermas, presença de elementos de vasos (células mais especializadas) e ausência do arquegônio. Observe na figura 8 a organização dos estróbilos femininos de Gnetaceae e a gota de polinização (8A), além das sementes carnosas (8B) e a disposição das folhas (8C). Figura 8: Características gerais de Gnetaceae. A: Estróbilos femininos; note que há uma projeção micropilar por onde é secretada a gota de polinização (indicado pelas setas vermelhas). B: Sementes carnosas e coloridas de Gnetum sp. C: Um ramo vegetativo com folhas opostas, semelhante à muitas angiospermas. JU D D et al. (2008). 18 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra Angiospermas: Características Gerais Angiospermas é o componente dominante das floras atuais. O termo angiosperma se refere à proteção dada às sementes deste grupo: o fruto. Todas as angiospermas estão incluídas em uma única divisão: Anthophyta (anthos = flor), a qual inclui pelo menos 300.000 espécies, mas se considerarmos algumas estimativas de espécies ainda não descritas podemos alcançar 450.000 espécies. O Brasil, sendo um país tropical e megadiverso, possui cerca de 32.288 espécies (18.306 endêmicas) de angiospermas distribuídas em todo o território, ocupando diferentes habitats, como terrestre, aquático, epifítico (crescendo apoiada sobre outras plantas), reofítico (crescendo sobre rochas) etc. Diálogo com o Autor Em suas características vegetativas e florais, as angiospermas são extremamente diversas. Em tamanho, elas variam desde espécies arbóreas como Eucalyptus, de mais de 100 metros de altura, com troncos de aproximadamente 20 metros de diâmetro, até algumas espécies de lentilhas-d’água, as quais são plantas simples, flutuadoras, muitas vezes mal alcançando 1 milímetro de comprimento. Algumas angiospermas são escandentes, alcançando a altura da copa das plantas da floresta tropical, enquanto outras são epífitas que crescem naquelas copas. Muitas angiospermas, como os cactos, são adaptadas a crescer em regiões extremamente áridas. Por mais de 100 milhões de anos, as plantas com flor têm dominado o ambiente terrestre RAVEN et al. (2007). Em termos de modo de nutrição, quase todas as angiospermas são de vida livre, mas algumas desenvolveram meios alternativos para obter, ao menos parcialmente, seus nutrientes, como as plantas parasitas, saprofíticas e carnívoras (Figura 9). Fungos e bactérias associados às raízes também podem desenvolver importante papel na captação de nutrientes e na comunicação química entre plantas. Figura 9. Angiospermas que possuem possuem formas alternativas de nutrição. A: Cuscuta campestris Yunck., um gênero bastante comum de plantas parasitas. B: Monotropa uniflora L., um representante de plantas saprófitas (que absorvem matéria orgânica degradada). C: Drosera sp. representando as plantas carnívoras com armadilha “adesiva” (as presas são capturadas e digeridas por substâncias excretadas pelas gotículas sobre as folhas). A: dias-com-arvores.blogspot.com.br, B: www.massnature.com, C: Vítor F. O. de Miranda 19 No aspecto reprodutivo, no entanto, surgiu no ancestral das angiospermas uma estrutura denominada carpelo, uma estrutura em forma de garrafa que contém o óvulo. Uma sequência hipotética para a evolução do carpelo estárepresentada na figura 10. Figura 10. Representação de uma sequência hipotética para o surgimento do carpelo no ancestral das angiospermas. O megasporófilo deve ter se dobrado sobre si mesmo, tendo as margens fundidas ou seladas de alguma modo, e os óvulos protegidos no interior. Megasporó�lo portanto óvulos nas margens Evolução do carpelo Megasporó�lo se enrola sobre si mesmo, deixando os óvulo no lado interno As margens do megasporó�lo ancestral, agora fundidas, dão origem ao carpelo. Nas angiospermas mais basais, como Amborella trichopoda Baill., o carpelo não é completamente soldado, mas selado por uma substância secretada pelo ovário. Além disso, uma flor pode conter um único carpelo, mais de um carpelo de algum modo conectado, ou vários carpelos separados e o conjunto de carpelos é chamado de gineceu. Estas características são importantes para a identificação de grandes grupos e também em chaves de identificação de gêneros ou espécies. Além do desenvolvimento do carpelo, e das características distintivas já mencionadas, surgiu em angiospermas a estrutura que melhor representa a divisão Anthophyta: a flor. Diálogo com o Autor A flor é um sistema caulinar determinado – ou seja, um ramo que cresce por um tempo limitado – com esporófilos, os quais são folhas que portam esporângios. (...) A estrutura que mais bem define a flor é o carpelo (...). O carpelo contém os óvulos, os quais se desenvolvem em sementes após a fecundação, enquanto o carpelo se desenvolve na parede do fruto. RAVEN et al. (2007, p. 454). As flores podem estar isoladas ou agrupadas em inflorescências, que em geral refletem uma estratégia da planta para aumentar a atração dos polinizadores. O eixo de uma flor solitária ou de uma inflorescência é chamado de pedúnculo, enquanto o eixo de uma única flor em uma inflorescência é chamado de pedicelo. Uma flor pode ser constituída dos seguintes elementos: sépalas, pétalas, estames e carpelos. Sépalas e pétalas são folhas modificadas para a proteção dos órgãos reprodutivos e atração de polinizadores e, por isso, frequentemente são coloridas. 20 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra O conjunto de sépalas é chamado de cálice, assim como o conjunto de pétalas é chamado de corola e, para se referir a ambos, frequentemente usa-se o termo perianto. Em algumas famílias, estas estruturas podem servir de alimento ao polinizador, ou oferecer recompensas como óleos, néctar, resinas, ou mesmo abrigo e calor – algumas abelhas solitárias podem se abrigar do frio noturno dentro de flores. Os estames são compostos de um filete, que suporta as anteras, local onde ocorre a produção e liberação dos micrósporos (grãos de pólen). O modo como os estames se abrem (sua deiscência) é uma característica taxonômica importante e tem relação com o modo de transferência do pólen para o agente polinizador (seja animal ou outro, como vento). O grão de pólen também pode fazer parte da dieta de alguns animais, nestes casos, as plantas visitadas compensam a pilhagem produzindo grandes quantidades de pólen. O carpelo, já citado, é uma estrutura em forma de garrafa composta, da base ao ápice, de ovário (que contém os óvulos), estilete (por meio do qual crescem os tubos polínicos) e estigma (que recebe, seleciona e dá suporte à germinação do pólen). Estes elementos – se dispostos em círculo – são chamados de verticilos, e seus conjuntos recebem nomes usados frequentemente. São eles (em ordem): cálice, corola, androceu e gineceu. Quando todos os quatro verticilos estão presentes, chamamos a flor de completa. Mas, se qualquer destes verticilos, e até mesmo mais de um deles, estiver ausente, a flor é chamada de incompleta. Além disso, quando a flor possui gineceu e androceu (bissexual) a chamamos de flor perfeita. Mas se tiver apenas carpelos (flores carpeladas) ou apenas estames (flores estaminadas), diz-se que é uma flor imperfeita (Figura 11). Figura 11. Representação dos elementos florais e de flores imperfeitas e perfeitas. antera antera �lete �lete pétalas pétalas estigma estigma estilete estilete ovário ovário óvulo óvulo sépalas sépalas sépalas Androceu Gineceu receptáculo receptáculo receptáculo Flor imperfeita estaminada Flor imperfeita carpelada Flor perfeita Quanto à disposição, as partes florais podem estar arranjadas em espiral (como em Magnolia) ou arranjadas em verticilos (disposição mais frequente nas eudicotiledôneas). Além disso, a disposição do ponto no qual se prendem o cálice, a corola e o androceu varia em relação ao ovário (ou ovários), e esta é uma classificação útil para identificação de famílias. Se eles estiverem inseridos abaixo do ovário, o ovário é denominado súpero. Se os estames, cálice e corola se inserirem próximo ao topo do ovário, este é ínfero. 21 Em função da posição do perianto e estames, a flor pode ser classificada como hipógina (quando o ovário é súpero, ou seja, os demais verticilos inserem-se abaixo do ovário), epígina (quando o ovário é ínfero, ou seja, os demais verticilos partem de acima do ovário) ou perígina (quando cálice, corola e androceu se fundem formando um tubo curto – o hipanto – que se insere abaixo do ovário). Veja exemplos na figura 12. Finalmente, as flores podem ser classificadas quanto a sua simetria em radial (ou actinomorfa) e bilateral (ou zigomorfa) (Figura 13). A simetria é definida pelo número de planos possíveis para obter duas metades exatamente iguais da flor. Portanto, depende da disposição de todos os elementos florais. Se houver mais de um plano possível, ela é dita actinomorfa (como a flor de girassol). Se, no entanto, há um único plano possível, as flores são chamadas zigomorfas (como orquídeas). A simetria está relacionada à especifidade na transferência do pólen para o agente polinizador (neste caso, um animal), sendo que flores zigomorfas possuem mais alto grau de especialização na transferência, porque existe uma única posição que permite a interação do animal polinizador com a planta. No caso das orquídeas, muitas vezes há interação espécie-específica com o polinizador. Além disso, o pólen não é liberado isoladamente, mas em “pacotes” conhecidos como políneas. Figura 12. Classificação das flores em função da posição dos elementos florais em relação à posição ovário. Imagens extraídas de JUDD et al. (2008). Antera Pétala Sépala Pedúnculo �oral Receptáculo �oral Óvulo Óvario Linha do receptáculo Ovário súpero Flor hipógina Antera Pétala Sépala Pedúnculo �oral Receptáculo �oral Óvulo Óvario Linha do receptáculo Ovário ínfero Flor epígina Antera Pétala Sépala Pedúnculo �oral Receptáculo �oral Óvulo Óvario Linha do receptáculo Ovário semi-ínfero Flor perígina Antera Pétala Sépala Pedúnculo �oral Receptáculo �oral Óvulo Óvario Linha do receptáculo Ovário súpero Flor hipógina Antera Pétala Sépala Pedúnculo �oral Receptáculo �oral Óvulo Óvario Linha do receptáculo Ovário ínfero Flor epígina Antera Pétala Sépala Pedúnculo �oral Receptáculo �oral Óvulo Óvario Linha do receptáculo Ovário semi-ínfero Flor perígina Antera Pétala Sépala Pedúnculo �oral Receptáculo �oral Óvulo Óvario Linha do receptáculo Ovário súpero Flor hipógina Antera Pétala Sépala Pedúnculo �oral Receptáculo �oral Óvulo Óvario Linha do receptáculo Ovário ínfero Flor epígina Antera Pétala Sépala Pedúnculo �oral Receptáculo �oral Óvulo Óvario Linha do receptáculo Ovário semi-ínfero Flor perígina JU D D et al. (2008). 22 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra Figura 13. Flores com simetria actinomorfa (girassol) e zigomorfa (orquídea).JU D D et al. (2008). Explore Assista ao vídeo (em inglês) sobre a interessante Ophrys apifera (Orchidaceae) que as flores mimetizam o corpo de uma abelha fêmea, enganando as abelhas macho que saem à procura de fêmeas durante a estação reprodutiva, fazendo-os transportar pólen entre diferentes plantas: https://www.youtube.com/watch?v=GV0oLYLgSJs. Alternativamente, este video está em português (de Portugal), mas o primeiro vale a pena ser assistido, mesmo para os alunos que não dominem o idioma inglês: https://www.youtube.com/ watch?v=3X_3JCMbWVg. Outras características reprodutivas relevantes das angiospermas são a completa ausência de arquegônios, micrósporos imóveis e a presença do estigma, que seleciona e favorece a germinação de grãos de pólen da mesma espécie, muitas vezes nutrindo ou controlando o crescimento do tubo polínico. E, finalmente, a polinização e dupla fecundação caracterizam e distinguem o processo de reprodução das angiospermas das demais plantas. Chama-se de polinização o processo pelo qual o pólen, após ser liberado pelas anteras, é transportado até o estigma, onde germina, produzindo o tubo polínico. Como flores perfeitas, são comuns entre angiospermas, seria esperado que a autopolinização também fosse um evento recorrente, já que ambos os sexos estão presentes na mesma flor. Mas, vez que a autopolinização reduz a diversidade genética das espécies (assim como o cruzamento entre parentes em animais), embora possa ocorrer em muitas espécies, as angiospermas desenvolveram muitos mecanismos para evitar ou atrasar a autopolinização, favorecendo a polinização cruzada (a partir do pólen de outras flores). O transporte do pólen em gimnosperma é realizado sobretudo pelo vento. Em angiospermas, também existem muitas espécies – principalmente gramíneas – que são polinizadas pelo vento, num processo chamado anemofilia. 23 Mas, ocorreu uma diversificação muito grande deste processo, em parte devido à coevolução entre plantas e animais. Insetos (entomofilia), abelhas (melitofilia), beija-flores (ornitofilia) e morcegos (quiropterofilia) podem atuar como agentes polinizadores. Em contrapartida, as flores apresentam modificações na sua forma e cor para melhor atrair e se adaptar aos seus polinizadores. Este conjunto de adaptações é chamado de síndrome de polinização. Assim como a polinização, a dispersão das sementes pode ocorrer por agentes como o vento ou a água, ou ainda por processos explosivos do fruto. Mas adaptações incríveis surgiram de acordo com o agente dispersor. Frutos com apêndices, asas, pêlos, ou ainda resistência a processos digestivos dos animais dispersores, são alguns exemplos. O processo de reprodução em angiospermas, como já dito, inclui a germinação do grão de pólen no estigma. Os grãos de pólen são geralmente dispersos ainda imaturos, com duas células: a célula geradora e a célula do tubo. Quando ocorre a germinação, a célula geradora se divide em duas dando origem a dois gametas. Por outro lado, o megagametófito (também chamado de saco embrionário) maduro é composto de 8 células: três antípodas localizadas no lado oposto à micrópila, duas sinérgides ao lado da oosfera junto à extremidade da micrópila, e dois núcleos polares localizados no centro. A dupla fecundação ocorre porque tanto a oosfera se funde a um dos gametas liberados, originando o embrião, quanto os dois núcleos polares se fundem ao outro gameta. Esta segunda fecundação resulta no núcleo primário do endosperma, o tecido nutritivo para o embrião, que é geralmente triplóide (3n). Toda essa diversidade morfológica é reflexo da amplitude de ambientes colonizados pelas angiospermas e do seu sucesso sob diferentes condições ambientais. Aqui, descrevemos esta diversidade morfológica, alguns dos termos básicos que serão encontrados na literatura e, especialmente, em chaves de identificação de espécies, gêneros e famílias. Na próxima Unidade estudaremos um pouco sobre a evolução das angiospermas e os ambientes brasileiros nos quais elas estão presentes. 24 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra Material Complementar Explore Um dos passos fundamentais para o surgimento das sementes, que levou à efetiva conquista e diversificação da vida na Terra, foi a produção de lenho e floema secundário. Tecidos produzidos por um meristema secundário conhecido como câmbio vascular bifacial, que apareceu a primeira vez em organismos chamodos de progimnospermas. O grupo mais bem documentado de progimnospermas são as espécies de Archaeopteris, uma arbórea que dominou as florestas no final do Devoniano e modificou a aparência da Terra. A seguir, dois links para conteúdos (em inglês) sobre este grupo: http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/325782.stm, http://www.devoniantimes.org/who/pages/archaeopteris.html. Parte da grande radiação e diversificação das angiospermas, apesar de seu surgimento relativamente recente na história evolutiva, é sua interação e dependência de agentes polinizadores. Um dos agentes mais importantes, é sem dúvida as abelhas. Contudo, recentemente tem se observado o declínio das populações de polinizadores pelo mundo. Saiba mais sobre as consequências deste declínio nos links a seguir: - Polinizadores em risco de extinção são ameaça à vida do ser humano. Ministério do Meio Ambiente – Brasil: http://www.mma.gov.br/informma/item/9976-polinizadores-em-risco-de- extin%C3%A7%C3%A3o-%C3%A9-amea%C3%A7a-%C3%A0-vida-do-ser-humano; As abelhas e a sustentabilidade dos serviços de polinização. Material de divulgação elaborado pelo professor doutor Carlos Alberto Garófalo (Usp/ Ribeirão Preto): http://www.sga.usp.br/wp-content/uploads/13.pdf; Como a extinção de Apis mellifera L. pode afetar a estrutura de uma rede de interação abelha-planta em mata com Araucária?: http://200.144.182.130/bioabelha/images/pdfs/ projeto31/paralelas/n_2010_krug_et_all.pdf. 25 Referências JUDD, W. S. et al. Plant Systematics – A phylogenetic approach. 2.ed. Sunderland: Sinauer Associates, Inc., 2008. 611p. OLIVEIRA, E. C. de. 2.ed. Introdução à biologia vegetal. São Paulo: Edusp, 2003. 272 p. RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHORN, S. E. 7.ed. Biologia Vegetal. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 830 p. SOUZA, V. C. Gimnospermas. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 2014a Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB128477. SOUZA, V. C. Zamiaceae. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. 2014b. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/jabot/floradobrasil/FB256. 26 Unidade: Conquista e Diversificação da Vida na Terra Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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