Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
5a AULA LIMITES DE CONSISTÊNCIA 1. Introdução Para a caracterização de um solo fino é necessário conhecer: - sua granulometria e suas propriedades de plasticidade. Plasticidade: propriedade que o solo possui de ser submetido a grandes deformações sem sofrer ruptura ou fissuramento. estado sólido estado semi-sólido estado plástico estado líquido umidade LC LP LL Estado líquido: o solo se apresenta como um fluido denso (flui entre os dedos); não possui resistência ao cisalhamento. Estado plástico: o solo apresenta comportamento plástico, podendo sofrer grandes deformações sem apresentar rupturas ou fissuramento; perde a capacidade de fluir, adquirindo uma certa resistência ao cisalhamento. Estado semi-sólido: o solo mostra-se quebradiço ao ser deformado, não apresentando mais comportamento plástico. Estado sólido: o solo não sofre mais redução de volume com o processo de secagem, deixando portanto de ser saturado. Os teores de umidade limites entre os estados de consistência são chamados de Limites de Consistência ou de Atterberg. Recebem as seguintes denominações: limite de liquidez (LL), limite de plasticidade (LP) e limite de contração (LC). 2 2. Determinação dos Limites de Consistência a) Limite de liquidez Utiliza-se neste ensaio o aparelho de Casagrande (prato de latão em forma de concha, base de ebonite, com um excêntrico ligado a uma manivela) e um cinzel padronizado, conforme indicado na figura. 3 Procedimento • O solo a ser utilizado deve ser previamente seco ao ar, destorroado e passado na peneira de 0,42 mm (peneira no 40). • Acrescenta-se água ao solo até se obter uma pasta homogênea. • Transfere-se com uma espátula parte do material para a concha, moldando-o de forma que na parte central a espessura seja da ordem de 10 mm. Com auxílio do cinzel, abre-se uma ranhura na massa de solo, dividindo-a em duas partes. • Gira-se a manivela e conta-se o número de golpes necessários para que as bordas inferiores da ranhura se unam ao logo de 13 mm do comprimento. • Retira-se uma pequena quantidade de solo da região de contato para determinação da umidade. • Acrescentando-se água ao solo, repete-se o processo várias vezes (quanto maior o teor de umidade, menor o número de golpes para fechar a ranhura); obtêm-se assim diversos pares de valores de umidade x número de golpes. Os números de golpes determinados devem estar contidos na faixa de 40 a 10. 4 Cálculo • Traça-se o gráfico w x log n, onde n é o número de golpes. Nesse gráfico, a variação da umidade com o n pode ser ajustada a uma reta. • O Limite de Liquidez é a umidade obtida nesse gráfico para n= 25. { { { { { 40 45 50 55 60 65 70 75 80 10 50 Número de golpes (log) LL=61 25 b) Limite de Plasticidade Utiliza-se no ensaio uma placa de vidro esmerilhada e um gabarito (cilindro de aço com diâmetro de 3 mm de diâmetro). Procedimento • O solo a ser utilizado deve ser previamente seco ao ar, destorroado e passado na peneira de 0,42 mm (peneira no 40). • De forma a se ter a massa de solo numa umidade conveniente para início do ensaio de LP, toma-se cerca de 50 g do material preparado para o ensaio de LL, com teor de umidade correspondente a cerca de 50 golpes. 5 • Da pasta de solo assim formada, são separadas três porções de cerca de 10 g cada uma. Procede-se com cada porção da forma descrita a seguir. • Forma-se com cada porção uma pequena “bola”, que deve ser rolada entre a palma da mão e a placa de vidro, com pressão suficiente da mão para lhe dar um formato cilíndrico; continua-se o processo de rolagem até que o cilindro atinja um diâmetro de 3 mm, o que se verifica comparando o seu diâmetro com o do gabarito. Quebra-se, então, o cilindro em diversos fragmentos; juntam-se, por amassamento, os fragmentos, e a “bolinha” resultante é novamente rolada entre a palma da mão e a placa de vidro. • O procedimento descrito acima é repetido diversas vezes até que, ao atingir o diâmetro de 3 mm, o cilindro comece a apresentar fissuras. Nesta situação, diz-se que o solo está no Limite de Plasticidade. Coloca-se então o material do cilindro em uma cápsula de alumínio para determinação da umidade. • O Limite de Plasticidade é tomado como sendo a média dos teores de umidade das 3 porções submetidas ao ensaio. c) Limite de Contração Solos argilosos saturados, quando se contraem em secamento lento, alcançam um certo volume total mínimo sem perda da saturação; a seguir, se o processo de secamento prossegue, ocorre a perda de saturação, praticamente sem redução adicional de volume. O teor de umidade em que o solo deixa de sofrer redução de volume é chamado Limite de Contração. 6 água água água água sólidos sólidos sólidos sólidos sólidos ar ar 1 2 3 4 5 { { {{{ 15 20 25 30 35 40 15 20 25 30 35 40 peso (gf) 45o volume de água é numericamente igual ao peso de água 1 2 345 Procedimento • O solo a ser utilizado deve ser previamente seco ao ar, destorroado e passado na peneira de 0,42 mm (peneira no 40). Acrescenta-se água ao solo até atingir uma umidade pouco acima do LL. • Coloca-se o material assim preparado no interior de uma cápsula de porcelana de volume conhecido Vi. Deve-se evitar a infiltração de bolhas de ar no solo, quando de sua colocação na cápsula. • Determina-se o peso do solo Pi (Pi = Psolo + caps. - Pcaps.). • Deixa-se o solo no interior da cápsula secar em estufa. Após secagem, determina- se o peso da “pastilha” seca de solo (Ps). • Determina-se o volume da pastilha Vf através da imersão em mercúrio e da pesagem do mercúrio deslocado:, Vf = Pf/γmerc com γmerc = 13,6gf/cm3 7 Cálculo s wfi i s wfi s si s wfisi s w P )VV(w P )VV( P PP P )VV(PP P PLC γ−−=γ−−−=γ−−−== ou de outra forma (se o peso específico dos grãos γs é conhecido): )1 P V( P )PV( P )VV( P V P PLC ss f w s w s s f s wsf s war s w γ −γ= γγ− = γ− = γ == 3. Índice de Plasticidade A diferença entre o limite de liquidez e o limite de plasticidade, portanto a faixa de umidade na qual o solo se comporta plasticamente, é denominada de Índice de Plasticidade (IP). IP = LL - LP Quanto maior o IP, maior é a faixa de umidades em que o solo apresenta comportamento plástico. Quando o material não apresenta plasticidade (pedregulhos e areias limpos ou com muito pouca quantidade de finos), considera-se IP nulo e escreve-se IP = NP (não plástico). água água ar sólidos sólidos sólidos Vi Vi-Vf Pi Pw Ps Ps Vf 8 4. Exemplo de Cálculo dos Limites de Consistência Foram os seguintes os dados obtidos em ensaios de LL e LP realizados sobre o solo 2, cuja curva granulométrica foi apresentada na 3a aula. LIMITE DE LIQUIDEZ no da cápsula 213 230 328 223 209 peso úmido +cápsula (gf) 14,91 13,99 13,74 14,75 14,01 peso seco + cápsula (gf) 13,33 12,71 12,17 12,84 12,09 peso da cápsula (gf) 10,65 10,60 9,66 9,91 9,27 umidade (%) 59,0 60,7 62,5 65,2 68,1 número de golpes 50 40 32 22 16 { { { { { 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 10 100 número de golpes25 LL=64,4% LIMITE DE PLASTICIDADE no da cápsula 303 241 184 288 263 peso úmido +cápsula (gf) 12,32 12,87 15,43 12,84 11,80 peso seco + cápsula (gf) 11,77 12,46 14,99 12,44 11,27 peso da cápsula (gf) 9,86 11,05 13,43 11,02 9,42 umidade (%) 27,92 29,08 28,21 28,17 28,65 LP - umidade média (%) 28,4 RESULTADOS OBTIDOS LL = 64% LP = 28 % IP = 36% 9 5. Argilo-Minerais Argilo-minerais são os minerais constituintes mais importantes da fração argilosa dos solos. São três os principais grupos de argilo-minerais: caulinita, ilita e montmorilonita. As partículas de argila, devido a natureza dos argilo-minerais, apresentam forma lamelar e têm carga elétrica negativa, o que provoca a atração de cátions (Na+, K+, Ca++) e moléculas de água. A água que é atraída pela partícula juntamente com os cátions é chamada água adsorvida e a que escoa livremente nos vazios do solo é denominada de água livre. Na+ Na+ Na+ Na+ Na + Na+ partícula de argila Na+ Na + Na+ Na+ distância da partícula água adsorvida água livre concentração de cátions na água livre partícula partícula água adsorvida água adsorvida água livre 10 Quanto maior a carga elétrica negativa do argilo-mineral, maior a quantidade de íons atraídos pela partícula e maior a espessura da camada de água adsorvida. Tem-se portanto uma maior capacidade de retenção de água pelo solo. A carga elétrica pode ser medida através da capacidade de troca catiônica (CTC). A tabela a seguir apresenta os valores de CTC dos principais argilo-minerais. Argilo - mineral Capacidade de troca catiônica (me/100g) caulinita 3 a 10 ilita 25 montmorilonita 100 Obs.: me: miliequivalente - grama. Um equivalente - grama corresponde a 6,02x1023 íons monovalentes (no de Avogadro). Verifica-se pelos dados da tabela que a capacidade de retenção de água cresce na seguinte ordem: caulinita, ilita, montmorilonita. Uma maior capacidade de retenção de água se traduz, no comportamento da argila, por um teor de umidade maior para a mesma passar do estado plástico para o estado líquido. montmorilonita caulinita distância da partícula concentração de cátions na água livre 11 Outro fator que interfere na quantidade de água que é atraída pela partícula é o tipo de cátion adsorvido. Ex.: uma montmorilonita com sódio atrai mais água do que uma montmorilonita com cálcio. A tabela a seguir mostra a influência significativa da natureza mineralógica da argila nos valores de seus limites de consistência: Argilo - mineral Íon LL (%) LP (%) IP (%) montmorilonita Na+ 710 54 656 Ca++ 510 81 429 ilita Na+ 120 53 67 Ca++ 100 45 55 caulinita Na+ 53 32 21 Ca++ 38 27 11 Compare-se por exemplo os valores de LL e LP da montmorilonita Na+ (710% e 54%) com os da caulinita Na++ (53% e 32%). montmorilonita com w = 600% → estado plástico caulinita com w = 60% → estado líquido Essa extrema diferença de comportamento se justifica pela muito maior capacidade de retenção de água da montmorilonita (provocada, como visto, pela sua maior carga elétrica negativa). 5. Atividade Coloidal Define-se Atividade Coloidal como: AC IP fração ila = % arg onde % da fração argila é a porcentagem de material, em peso, com diâmetro < 0,002 mm. 12 A atividade coloidal da argila é usualmente assim classificada: AC<0,75 argila inativa 0,75≤AC≤1,25 argila normal AC>1,25 argila ativa A atividade coloidal fornece uma indicação do tipo de argilo - mineral presente no solo. Tem-se: Caulinita pura AC ≈ 0,3 ilita pura AC ≈ 0,9 montmorilonita pura AC ≈ 5 Exemplo: solo fração argilosa (%<0,002 mm) IP AC Argilo-mineral provável a 100 27% 0,27 (caulinita) b 50 270% 5,4 (montmorilonita) c 10 51% 5,1 (montmorilonita) Convém salientar que nem sempre a fração argila de um solo é constituída de um único argilo-mineral; ao contrário, em geral, observa-se a presença de diferentes tipos de argilo-minerais num mesmo solo. Como se verá em aula posterior, não se usa a curva granulométrica para classificar em argila ou silte a fração fina de um solo. A diversidade desses dois tipos de materiais é distinguida pelo seu comportamento na presença da água, empregando-se para este fim os limites de Atterberg. Pequenas quantidades de argilas muito ativas podem produzir nos solos um comportamento muito mais característico dos materiais reconhecidos como argilosos pelos engenheiros do que elevadas quantidades de outras argilas menos ativas. O solo c, por exemplo, embora só contenha 10% de fração argila, deve ser considerado um solo argiloso, pois apresenta elevada plasticidade, maior inclusive do que a apresentada pelo solo a.
Compartilhar