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Cinco lições de psicanálise - Primeira lição

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FREUD, S. Cinco Lições de Psicanálise: Primeira Lição (1910). In: Obras Completas (volume IX), São Paulo: Companhia das letras, 2013.
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Tema de discussão: O nascimento da psicanálise
Conceitos: trauma, fantasia, hipnose, sugestão, associação livre, catarse, elaboração psíquica
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Psicanálise como método – início pautado na hipnose e catarse
“Tentarei lhes dar, de maneira bastante concisa, uma visão de conjunto da origem e do desenvolvimento desse novo método de pesquisa e cura.” (p. 167)
Contexto – Breuer e Anna O.
“Era estudante e me preparava para as últimas provas quando outro médico de Viena, o dr. Josef Breuer pela primeira vez usou esse procedimento com uma jovem histérica (entre 1880 e 1882). Vamos abordar inicialmente esse caso clínico [Anna O.] e sua terapia. Ele se acha exposto minuciosamente nos Estudos sobre a histeria, que Breuer e eu publicamos depois.” (p. 167, grifos meus)
Freud abandona a concepção organicista da histeria
“É certo que avançaremos um trecho ao lado dos médicos, mas logo devemos nos separar e seguir o dr. Breuer num caminho bastante peculiar.” (p. 167) 
Sintomas de Anna O.
“A paciente do dr. Breuer, uma moça de 21 anos e com elevados dotes intelectuais, desenvolveu ao longo de sua doença, que já durava mais de dois anos, uma série de distúrbios físicos e psíquicos que requeriam atenção. Ela tinha uma paralisia espástica, acompanhada de insensibilidade, nas pontas dos dois membros direitos do corpo, às vezes o mesmo problema no lado esquerdo, distúrbios nos movimentos dos olhos e variadas deficiências da visão, dificuldade em manter a cabeça erguida, severa tosse nervosa, nojo de alimentos; certa vez foi incapaz de tomar líquidos durante semanas, apesar da sede martirizante; mostrava uma diminuição da faculdade de expressão que chegou à perda da capacidade de falar e compreender a língua materna, e, por fim, sofria de estados de ausência e confusão, delírios, alteração de toda a personalidade [...]” (p. 167-168) 
Histeria X Doença orgânica
“Nem sempre é fácil diferenciar uma histeria de uma enfermidade orgânica séria [por exemplo, cerebral].” (p. 168-169, grifos meus) 
Paciente de Breuer - histeria: “[...] a doença apareceu quando ela cuidava do pai que muito amava, durante a grave doença que o levou à morte [...]” (p. 168-169)
Quanto ao saber médico e a histeria: “[...] todo o seu saber, todo o seu treino anatomofisiológico e patológico de nada lhe servem ante as singularidades dos fenômenos histéricos.” (p. 169)
A compreensão da histeria por Breuer: hipnose, sugestão, fantasias, catarse, talking cure, elaboração psíquica
Breuer ao contrário dos médicos que não consideravam a histeria, buscou compreendê-la: 
“[...] Havia-se observado que a enferma, em seus estados de ausência, de alteração e confusão da psique, murmurava algumas palavras que pareciam originar-se de outra situação que lhe ocupava o pensamento. O médico, tendo-se informado dessas palavras, punha a moça numa espécie de hipnose e as repetia, para fazer com que relacionasse algo a elas. A enferma procedeu dessa forma, e reproduziu para o médico as criações psíquicas que a dominavam durante as ausências e se haviam denunciado naquelas palavras isoladas. Eram fantasias profundamente tristes, muitas vezes de poética beleza — nós as chamaríamos “devaneios” —, que em geral tinham como ponto de partida a situação de uma garota junto ao leito do pai doente. Depois de relatar certo número dessas fantasias, ela se achava como que liberada, retornando à vida psíquica normal. Esse bem-estar permanecia durante várias horas, mas no dia seguinte dava lugar a uma nova ausência, que do mesmo modo cessava com a exteriorização de novas fantasias. Não se podia escapar à impressão de que a alteração psíquica manifestada nas ausências era consequência do estímulo que emanava dessas fantasias tão carregadas de afetos. A própria paciente, que, curiosamente, falava e compreendia apenas o inglês nesse período da doença, deu a esse novo tipo de tratamento o nome de “talking cure” [cura pela fala] [...]” (p. 170)
Hipnose e catarse
“Logo se verificou, como que por acaso, que mediante essa limpeza psíquica [...] se conseguia fazer desaparecer sintomas patológicos quando a paciente era lembrada, durante a hipnose com exteriorização de afetos, em qual ocasião e em relação com o quê os sintomas haviam aparecido pela primeira vez.” (p. 171)
Exemplos do caso: hipnose e catarse
“[...] sem que pudesse indicar algum motivo, [Anna O.] viu-se de repente impossibilitada de beber. Tomava em sua mão o ansiado copo d’água mas, assim que ele lhe tocava os lábios, o repelia como se fosse uma hidrófoba. Nesses poucos segundos, encontrava-se evidentemente num estado de ausência. [...] um dia, na hipnose, ela discorreu sobre sua dama de companhia inglesa, a quem não amava, e relatou, com todos os sinais de repulsa, como fora a seu quarto e ali vira seu cãozinho, o repugnante animal, bebendo de um copo. Não dissera nada, pois quisera ser gentil. Depois de energicamente dar expressão à fúria que lhe ficara retida, pediu para beber, bebeu sem dificuldade um grande volume de água e despertou da hipnose com o copo nos lábios. Com isso, o transtorno desapareceu para sempre.” (p. 171)
“Até então, ninguém havia eliminado um sintoma histérico por esse meio e penetrado tão fundo na compreensão de suas causas [...]” (p. 171)
Traumas psíquicos
“[...] quase todos os sintomas haviam se originado como resíduos [...] de vivências carregadas de afetos, que, por causa disso, depois denominamos “traumas psíquicos”, e sua peculiaridade se explicava pela relação com a cena traumática que os havia ocasionado. Eles eram, para usar um termo técnico, determinados [determiniert] pelas cenas das quais constituíam resíduos de lembranças, já não precisavam ser vistos como produtos arbitrários ou enigmáticos da neurose.” (p. 171- 172) 
Outros exemplos do caso
“[...] Breuer conta que os transtornos de visão da paciente remontavam a ocasiões como aquela em que a paciente, com lágrimas nos olhos, estava sentada junto ao leito do pai enfermo, quando, de repente, ele lhe perguntou que horas eram. Ela não enxergava com nitidez [...] ou esforçou-se para conter as lágrimas a fim de que o doente não as visse.[...]” (p. 172) 
“Com a recordação [...] sob hipnose, foi eliminada também a paralisia do braço direito, existente desde o início da enfermidade, e foi concluído o tratamento.” (p. 173)
O que Freud percebeu a partir da experiência com Breuer
“Quando comecei a usar o método de investigação e tratamento de Breuer em meus próprios pacientes, anos depois, fiz constatações que se harmonizavam inteiramente com as dele.” (p. 173)
Reminiscências: “[...] podemos formular da seguinte maneira o que até agora sabemos: Nossos histéricos sofrem de reminiscências. Seus sintomas são resíduos e símbolos mnêmicos de certas vivências (traumáticas).” (p. 174)
Coluna da Charing Cross (lembrança rainha morta) e coluna The Monument (lembrança incêndio): “[...] esses monumentos são símbolos mnêmicos, tal como os sintomas histéricos [...]”
“Mas o que diriam os senhores de um morador de Londres que ainda hoje se detivesse pesaroso ante o monumento do cortejo fúnebre da rainha Eleanor, em vez de cuidar dos seus afazeres [...] Ou de outro que, diante do Monument, pranteasse o aniquilamento de sua cidade natal, embora há muito ela se tenha reerguido com tanto mais brilho? No entanto, é como esses dois pouco pragmáticos londrinos que se comportam os histéricos e neuróticos; não apenas recordam vivências dolorosas há muito passadas, mas ainda se prendem emocionalmente a elas, não se desvencilham do passado e por causa dele negligenciam a realidade e o presente. Tal fixação da vida psíquica nos traumas patogênicos é uma das características mais importantes e de maior consequência prática da neurose.”(p. 174-175)
 “[...] cabe enfatizar que a paciente de Breuer, em quase todas as situações patogênicas, tinha de suprimir uma forte excitação, em vez de possibilitar o desafogo da excitação mediante os correspondentes sinais de afeto, palavras e atos. [episódio do cachorro – nojo; não deixar o pai perceber seu medo, tristeza] Depois, quando reproduziu tais cenas diante de seu médico, o afeto antes inibido apareceu com particular veemência, como se tivesse se poupado durante aquele tempo. De fato, o sintoma que restara dessas cenas adquiriu sua maior intensidade quando o tratamento se avizinhava da causa precipitadora e desapareceu após esta ser inteiramente esclarecida. [...]” (p. 176)
Importante efeito da catarse: “[...] pôde-se constatar que a recordação da cena na presença do médico não tinha efeito quando, por algum motivo, ocorria sem desenvolvimento de afetos. [...] Impôs-se a conjectura de que a doença se produzia porque os afetos desenvolvidos nas situações patogênicas tinham a saída normal bloqueada, e que a essência da doença consistia em que esses afetos “estrangulados” sujeitavam-se então a um emprego anormal.[...]” (p. 176)
“Como veem, estamos a ponto de chegar a uma teoria puramente psicológica da histeria, em que atribuímos o primeiro lugar aos processos afetivos.” (p. 176)
Importância dos estados da consciência - consciente e inconsciente: “[...] paciente exibia variadas disposições psíquicas, estados de ausência, confusão e alteração do caráter, além do estado normal. No estado normal ela nada sabia das cenas patogênicas e da relação entre estas e seus sintomas; esquecera estas cenas ou, de todo modo, rompera a conexão patológica. Quando era hipnotizada, conseguia-se, após considerável esforço, chamar-lhe de volta à lembrança estas cenas, e mediante esse trabalho de recordação foram eliminados os sintomas. [...]” (p. 176-177) 
Sugestão hipnótica e amnésia: “[...] Nos notórios fenômenos da assim chamada sugestão pós-hipnótica, em que uma ordem dada sob hipnose é depois cumprida no estado normal, temos um ótimo exemplo das influências que o estado consciente pode experimentar daquele que lhe é inconsciente. Breuer adotou a hipótese de que os sintomas histéricos surgiram nesses estados psíquicos especiais, que ele chamou de hipnoides. Excitações que sobrevêm nesses estados hipnoides tornam-se facilmente patogênicas, pois eles não oferecem as condições para um desafogo normal dos processos de excitação. Então nasce do processo de excitação um produto insólito, o sintoma, e este irrompe como um corpo estranho no estado normal, que não tem conhecimento da situação patogênica hipnoide. Onde há um sintoma encontra-se também uma amnésia, uma lacuna na lembrança, e o preenchimento dessa lacuna implica a eliminação das condições que geraram o sintoma.” (p. 177-178) 
Freud afirma que “[...] a tese dos estados hipnoides de Breuer revelou-se limitadora e supérflua, tendo sido abandonada pela psicanálise de hoje. (p. 178) e aponta “[...] que influências e processo havia a descobrir por trás da barreira dos estados hipnoides postulada por Breuer.” (p. 178)

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