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O PIB na ótica da oferta e da demanda O PIB valor adicionado O PIB per capita O PNB Inflação e índices de preços Taxas de juros Desemprego Unidade 4 - Grandes Agregados O PIB na ótica da oferta e da demanda O PIB na ótica da oferta O PIB sob a ótica da oferta pode ser definido como o valor de todos os bens e serviços finais produzidos em determinado período de tempo (VASCONCELLOS, 2006, p. 204). Vamos entender os termos desse conceito: a) a palavra valor refere-se aos preços que permitem agregar bens diferentes, ou seja, é por meio da soma dos valores da produção que se podem somar laranjas com geladeiras, com serviço educacional etc. Dessa forma, o produto nacional é avaliado em termos monetários, e a moeda é a unidade padrão de agregação; b) o conceito fala de bens e serviços finais: isso significa que os bens intermediários, como matérias-primas e componentes, não são considerados; c) o fato de ser em determinado período de tempo significa que a produção de bens e serviços é um fluxo, mas define-se em dado período de tempo, trimestre, ano etc. Por exemplo, fala-se do resultado do PIB anual e fala-se também do resultado do PIB por trimestre (VASCONCELLOS, 2006). Segundo Vasconcellos, (2006, p. 204), os conceitos de bens intermediários e de bens finais dependem da utilização que se faz do bem ou serviço mais do que de uma característica física. Tudo que é vendido diretamente a famílias, governo e setor externo é considerado um bem final. Nesse sentido, a reposição de peças ou a exportação de matérias-primas também são consideradas como bens finais. Também são bens finais as matérias-primas que permanecem em estoque, já que não foram utilizadas na elaboração de outros produtos no período. Portanto, o PBI sob a ótica da oferta será: somatório da produção x preço de cada setor da economia (são três setores: primário, secundário e terciário). Ou seja: PIB = de tudo que foi produzido no setor primário (agricultura, pecuária, pesca e extração vegetal) multiplicado pelo preço que foi vendido + de tudo que foi produzido no setor secundário (indústria, extração mineral) + de tudo que foi produzido no setor terciário (serviços, comércio, transportes, comunicação). Veja a tabela a seguir que sintetiza os principais resultados para o PIB referentes ao último trimestre de 2015 e os quatro trimestres de 2016, segundo a ótica da produção (oferta). Os dados mostram o PIB a preço de mercado. Aqui cabe uma distinção entre PIB a preço de mercado (PIBpm) e PIB a custo de fatores (PIBcf). O PIBpm inclui o valor dos impostos indiretos (aqueles que incidem sobre o produto como o IPI e o ICMS, eles são somados) e os subsídios (transferência que o governo porventura tenha feito para as empresas a fim de reduzir o preço final da mercadoria, eles são subtraídos). Já o PIBcf mede a produção como a soma dos custos dos fatores de produção necessários a essa produção. Portanto, o PIBpm refere-se ao valor pago pelos consumidores. TABELA 1 - PIB a preços de mercado do Brasil - Ótica da oferta - Trimestres % Fonte: Dados do PIB retirados do IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais. Alguns dados da tabela foram adaptados pelos autores objetivando melhor didática. O PIB pela ótica da demanda O PIB pode ser medido também pela ótica das despesas realizadas pelos agentes econômicos - as famílias (consumidores), as empresas, o governo e os estrangeiros. Nesse caso, trata-se da soma das despesas das famílias com bens de consumo, despesas com investimentos das empresas, gastos do governo e gastos do setor externo com o produto nacional. O investimento em estoque também irá compor essa ótica, pois, na prática, nem tudo que é produzido será consumido. Portanto, temos até agora duas formas para aferir o valor do PIB: a) a partir de quem vende o produto ("por ramo de origem"), que é o produto nacional propriamente dito; b) a partir dos agentes de despesas ("por ramo de destino"), que é a despesa nacional (VASCONCELLOS, 2006, p. 205). Para facilitar nosso estudo, vamos ampliar a tabela 1, introduzindo o PIB pela ótica da demanda, a renomeando de tabela 2 a seguir. Vamos supor que tudo que foi produzido foi consumido. TABELA 2 - PIB a preços de mercado do Brasil - Ótica da oferta e ótica da demanda - Trimestres % Fonte: Dados do PIB retirados do IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Contas Nacionais. Alguns dados da tabela foram adaptados pelos autores objetivando melhor didática. Perceba que seja o PIB aferido pela ótica da oferta ou pela ótica da demanda, o resultado é o mesmo. Entenda agora os componentes do PIB ótica da demanda: - Consumo (C) refere-se aos bens e serviços adquiridos pelos consumidores. - Consumo do governo ou gastos do governo (G) refere-se aos bens e serviços adquiridos pelos governos federal, estadual e municipal. Não inclui transferências governamentais nem pagamentos de juros da dívida pública. - Formação bruta de capital fixo (FBCF) refere-se aos investimentos, é a aquisição de bens de capital, ou seja, a aquisição de bens que serão utilizados no processo produtivo, como máquinas e equipamentos. - Exportações (EX) é a aquisição de bens e serviços do país por estrangeiros. - Importações (IM) é a aquisição de bens e serviços estrangeiros por consumidores, empresas e pelo governo de um país. (BLANCHARD, 2001) Investimentos em estoques é a diferença entre produção e vendas. Este é outro componente. Aparece no PIB como variação de estoque ( E) ou investimento em estoques, embora nosso exemplo da tabela tenha suposto que tudo que foi produzido foi consumido. (BLANCHARD, 2001) A ótica da demanda pode ser escrita da seguinte forma: PIB = C + G + FBCF + EX - IM + E O PIB valor adicionado Valor adicionado Por problemas de medição, costuma-se, na prática, medir o produto nacional pelo valor adicionado (ou valor agregado) por setor. Consiste em calcular o que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada etapa do processo produtivo (VASCONCELLOS, 2006, p. 206). O valor adicionado é, portanto, o valor bruto de produção menos o consumo de produtos intermediários (matérias-primas e componentes). Para entender melhor, vamos utilizar um exemplo extraído de (PAULANI e BRAGA, 2006). Economia hipotética H, fechada (não realiza transação com o exterior) e sem governo. - existem quatro setores, cada um com uma empresa: - produção de sementes (setor 1) - produção de trigo (setor 2) - produção de farinha de trigo (setor 3) - produção de pão (setor 4) Situação 1 - Empresa do setor 1 produziu sementes no valor de $ 500 e vendeu-as para o setor 2 - Empresa do setor 2 produziu trigo no valor de $ 1500 e vendeu-o para o setor 3 - Empresa do setor 3 produziu farinha de trigo no valor de $ 2100 e vendeu-a para o setor 4 - Empresa do setor 4 produziu pães no valor de $2520 e vendeu-os aos consumidores. Produto da economia H na situação 1 - sementes no valor de $ 500 - trigo no valor de $ 1500 - farinha de trigo no valor de $ 2100 - pães no valor de $ 2520 Perceba que o setor 1 adicionou à economia $ 500; o setor 2 adicionou $ 1.000, pois $ 500 foi a compra do trigo do setor 2, que já estava contabilizado na produção dessa economia; o setor 3 adicionou na economia $ 600; o setor 4 adicionou na economia $ 420. Então, o produto (ou valor adicionado) de cada setor será: - Setor 1: $500 - Setor 2: $1500 - $500 = $1000 - Setor 3: $2100 - $1500 = $600 - Setor 4: $2520 - $2100 = $420 Produto total ou valor adicionado total: $ 2520. Veja que esse valor é equivalente a produção do setor 4, que produziu pães e vendeu aos consumidores finais. Vamos retornar ao conceito de PIB apresentado no início dessa unidade: o PIB sob a ótica da oferta pode ser definido como o valor de todos os bens e serviços finais produzidosem determinado período de tempo (VASCONCELLOS, 2006, p. 204). Isso quer dizer que, pela ótica da oferta, a avaliação do produto total da economia consiste na consideração do valor efetivamente adicionado pelo processo de produção em cada unidade produtiva. Assista ao vídeo e entenda como é calculado o PIB real a partir dos dados do PIB a preços de mercado, chamado de PIB nominal. Videoaula: Calculando o PIB real O PIB per capita O PIB per capita Trata-se do PIB dividido pela quantidade e habitantes do país. Esse é um indicador utilizado no cálculo do IDH, Índice de Desenvolvimento Humano. A metodologia de cálculo desse índice inclui três variáveis: a longevidade, a educação e o PIB per capita. Por isso, segundo Vasconcellos (2006), o PIB per capita tem alta correlação com a classificação do IDH. O PNB O PNB O produto nacional bruto corresponde ao valor dos bens e serviços finais produzidos exclusivamente com o uso de fatores de produção de propriedade de residentes do país. Veja o exemplo do Brasil: aqui existem empresas nacionais e empresas estrangeiras, muitas multinacionais. A produção de todas as empresas instaladas no Brasil (nacionais + estrangeiras) irá compor o PIB do Brasil. Entretanto as empresas estrangeiras enviam renda para o exterior, por exemplo, enviam lucro para seus países de origem. Por outro lado, existem empresas brasileiras com filiais em outros países e, da mesma forma, recebem lucros oriundos dessas empresas. O PNB reflete o que de fato ficará com os residentes do país. No exemplo do Brasil, falamos do lucro, mas compondo a renda temos também os salários, ou aluguéis e os juros. Assim, o PNB é o PIB menos a renda enviada ao exterior (REE) mais a renda recebida do exterior (RRE). Ou seja, PNB = PIB - REE + RRE. Nessa unidade, avançamos na teoria macroeconômica por meio do PIB, o principal indicador de crescimento econômico. Por meio do estudo das suas várias óticas de mensuração, entendemos como as decisões de produção, de consumo, de gastos do governo e de investimento das empresas relacionam-se na economia. Para encerrar essa unidade, assista à videoaula a seguir: Videoaula: Desvendando o Crescimento Econômico Inflação e índices de preços Conceito de inflação Define-se inflação como o aumento contínuo e generalizado dos preços de uma economia. Perceba que quando uma economia apresenta, por exemplo, crescimento dos preços em um determinado semestre no montante de 2%, mas no semestre seguinte queda dos preços no montante de 1%, não se pode caracterizá-la como uma economia inflacionária. Também não se caracteriza inflação quando alguns dos bens e serviços sofrem aumento dos preços enquanto outros sofrem redução dos preços. Tal fato pode ocorrer em função de ajuste de demanda e oferta, como no caso dos produtos agrícolas: nos períodos de safras, quanto a oferta aumenta, os preços tendem a cair e, ao contrário, nos períodos entre safras, quanto a oferta diminui, os preços aumentam. Portanto, vê-se que ocorre inflação quando a elevação dos preços é generalizada, ou seja, todos os bens e serviços da economia têm elevação nos preços. Algumas dúvidas devem ter surgido na sua mente: o que causa inflação? O que pode acontecer no país que propicie esse aumento persistente e generalizado dos preços da economia? Existe apenas uma causa ou pode haver vários fatores que contribuem para a inflação? Para responder essas questões, vamos entender os tipos e quais as causas para cada tipo de inflação. É importante registrar que a teoria econômica distingue basicamente dois tipos de inflação, a inflação de demanda e a inflação de custos, embora outras causas como a inércia inflacionária e as expectativas de inflação futura estejam associadas à inflação. Inflação de demanda Esse tipo de inflação ocorre quando existe excesso de demanda agregada em relação à produção (oferta) disponível de bens e serviços. Segundo Vasconcellos (2006), a inflação de demanda pode ser entendida como "dinheiro demais à procura de poucos bens". A probabilidade de que ocorra inflação de demanda aumenta quando a produção de bens e serviços se aproxima do pleno emprego de recursos produtivos. Entenda como: caso ocorra desemprego em larga escala na economia, é de se esperar que um aumento da demanda agregada deva corresponder a um aumento da produção de bens e serviços, pela maior utilização de recursos antes desempregados, sem que necessariamente ocorra aumento generalizado dos preços. Quanto mais nos aproximamos do pleno emprego, mais se reduz a possibilidade de expansão rápida da produção, caracterizando um excesso de demanda agregada, que ocasionará elevação dos preços (VASCONCELLOS, 2006, p. 340). O gráfico abaixo representa a inflação de demanda, que pode ser ilustrada em termos de curva de oferta agregada (OA) e de demanda agregada (DA). Nele, (P) indica o nível de preços e (Y), a produção. Partindo da posição original de equilíbrio representada pela intersecção de (DA0) com (OA), sendo o preço de equilíbrio igual a P0 e a produção de equilíbrio igual a Y0, verificamos que o deslocamento da curva de demanda implica a elevação do nível de preços. Veja que a curva de oferta agregada (OA) permanece praticamente estável, enquanto a curva de demanda agregada (DA) é elevada de (DA0) para (DA1), deslocamento para a direita de sua posição original, ocasionando a elevação no nível de preços de P0 para P1. FIGURA 1 - Inflação de demanda Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Anima, 2017. Mas o que causa o aumento da demanda agregada? Segundo exposto por Viceconti e Neves (2007), são, com tudo mais mantido constante: aumento dos investimentos; aumento dos gastos do governo; aumento das exportações; redução dos tributos; redução das importações; aumento da oferta de moeda. Todos esses fatores concorrem para o deslocamento da curva de DA para a direita de sua posição original. Mas como combater a inflação de demanda? De acordo com Vasconcellos (2006), no curto prazo, a demanda agregada é mais sensível a alterações de política econômica que a oferta agregada, já que na OA os ajustes se dão a prazos relativamente longos. Assim, a teoria econômica indica instrumentos de política econômica que reduzam a DA por bens e serviços. Os mais comumente utilizados são a elevação da taxa de juros, as restrições de crédito, o aumento de impostos e a redução dos gastos públicos. Inflação de custos A inflação de custos é provocada por uma diminuição da oferta agregada (OA). Nesse caso, o nível de demanda permanece o mesmo, mas os custos de certos insumos importantes aumentam e eles são repassados aos preços dos produtos (Vasconcellos, 2006). O gráfico abaixo representa a inflação de custos, que pode ser ilustrada em termos de curva de oferta agregada (OA) e de demanda agregada (DA). Nele, (P) indica o nível de preços e (Y), a produção. Partindo da posição original de equilíbrio representada pela intersecção de (DA) com (OA), sendo o preço de equilíbrio igual a P0 e a produção de equilíbrio igual a Y0, verificamos que o deslocamento da curva de oferta agregada implica a elevação do nível de preços. Veja que a curva de demanda agregada (DA) permanece estável, enquanto a curva de oferta agregada (OA) é reduzida de (OA) para (OA'), deslocamento para a esquerda de sua posição original, ocasionando a elevação no nível de preços de P0 para P1. FIGURA 2 - Inflação de custos Fonte: Núcleo de Educação a Distância (NEaD), Anima, 2017. Mas o que causa a diminuição da oferta agregada? De acordo com Viceconti e Neves (2007, p. 398), as principais causas para a diminuição da OA são as elevações de custo provocadas por: a) Aumentos de salários acima de aumentos da produtividade, em função de pressão de sindicatos trabalhistas fortes. b) Aumentos autônomos das margens de lucros das empresas em mercadosmonopolistas ou oligopolistas. c) Aumentos de preços agrícolas em função de intempéries climáticas (geadas, temporais etc.) ou de outros fatores que reduzam a produção da agricultura. d) Elevação autônoma de preços de produtos importados, que sejam matérias-primas importantes na produção de bens na economia (exemplo: quadruplicação dos preços do petróleo em 1973 pelo cartel dos países produtores). e) Desvalorização real da taxa de câmbio. Mas como combater a inflação de custos? De acordo com Vasconcellos (2006, p. 343), normalmente a política usual para combater a inflação de custos é a política de rendas: o controle direto de preços, o que pode ocorrer tanto por meio de uma política salarial mais rígida, quanto pelo controle ou tabelamento de preço dos produtos. Segundo o autor citado, embora seja uma política impopular, não se deve descartar combater a inflação de custos com uma política monetária contracionista, que reduz a demanda agregada, compensando, assim, a elevação de preços devido às pressões de custo. Outras causas para a inflação: a inércia inflacionária e as expectativas No Brasil, além das causas tradicionais, associa-se ao processo inflacionário a chamada inércia inflacionária e também as expectativas de inflação futura. Vamos entender cada uma delas. Em um contexto de altas taxas de inflação, é preciso manter o poder de compra dos rendimentos, ou seja, é preciso manter o poder de compra dos salários, aluguéis e contratos, por exemplo. A maneira encontrada para manter esse poder de compra foi indexando os rendimentos aos índices de variações de preço, isto é, aos índices de inflação passada. A inércia inflacionária é provocada, portanto, pelos mecanismos de indexação formal, que reajustavam os contratos, os salários, os aluguéis, e pelos mecanismos de indexação informal, que reajustavam os preços no comércio, na indústria e nas tarifas públicas. Tais mecanismos de indexação provocam a perpetuação das taxas de inflação anteriores, pois essas taxas eram repassadas aos preços correntes. Veja a exemplificação do caso brasileiro feita por Vasconcellos (2006): Mesmo sem terem apresentado aumentos significativos de seus custos, muitos setores simplesmente elevavam os preços de bens e serviços pela inflação geral do país, divulgada pelas instituições de pesquisa. Por essa razão, nos planos anti-inflacionários adotados após 1986 no Brasil, as autoridades adotaram o congelamento de preços e salários, para tentar eliminar a chamada memória inflacionária, ou seja, o congelamento de preços e salários objetivava desindexar a economia. Outro recurso foi a troca da unidade monetária, em que durante algum tempo coexistiram uma moeda inflacionada (como o cruzeiro real) e uma moeda teoricamente sem inflação (como o real), indexada ao dólar. (VASCONCELLOS, 2006, p. 343) Já a chamada inflação de expectativas ocorre quando os agentes econômicos elevam os preços devido a suas expectativas de que no futuro o nível de preços irá aumentar, resguardando, assim, seus lucros. Perceba que nesse caso os agentes econômicos acabavam por gerar inflação devido às incertezas quanto ao futuro. No Brasil, tais incertezas foram provocadas pelos planos econômicos que congelaram os preços e salários. Quando os preços foram congelados nesses planos, muitos comerciantes experimentaram prejuízos, pois para muitos o congelamento se deu em um nível mais baixo de preços. Distorções provocadas por altas taxas de inflação As altas taxas de inflação provocam distorções na economia. Ocorrem efeitos sobre a distribuição de renda do país, já que os salários e outras rendas fixas perdem o poder de compra sobre os investimentos dos empresários no país, desorganizando o mercado de capitais sobre o financiamento do setor público e sobre o balanço de pagamentos. A respeito dos impactos sobre a distribuição de renda, perceba que os assalariados e aqueles que recebem renda fixa (como os proprietários de imóveis de aluguel) perdem o poder de compra do seu salário, ou seja, a quantidade de bens e serviços que eles podem adquirir com seu salário e renda fixa diminui. No caso dos salários, dizemos que houve redução do salário real (medido em termos de poder de compra). Em relação ao mercado de capitais, este fica desorganizado em contextos de inflação alta. Isso porque haverá uma grande diferença entre as taxas de juros nominais e as taxas de juros reais. Vamos entender o porquê com um exemplo extraído de Viceconti e Neves (2007, p. 392): Suponhamos, por exemplo, que uma determinada pessoa empreste a outra, no prazo de um ano, a importância de $10.000,00 (dez mil unidades monetárias) cobrando uma taxa de juros de 10% a.a (dez por cento ao ano). Isso implica dizer que, no final do ano, o credor receberá do devedor $11.000,00, correspondentes a $10.000,00 de restituição do principal, mais os juros de $1.000,00. Ocorrendo, entretanto, uma inflação de mais de 10% no ano, o credor não conseguirá nem reaver o principal emprestado. Por exemplo, se a inflação for 15%, o valor principal, corrigido em termos de poder aquisitivo da moeda, que deveria ser entregue ao credor, seria de: $10.000,00 + 15% de $10.000,00 = $11.500,00 - valor superior aos $11.000,00 que efetivamente ele receberá a título de amortização do empréstimo e de juros. Por meio desse exemplo, você percebe que se torna muito difícil as operações no mercado de capitais em contextos com alta taxa de inflação. Tal fato reduz o valor dos investimentos privados e, consequentemente, o crescimento econômico no longo prazo. Outra consequência para esse fato está na tendência dos poupadores de fazer suas aplicações em ativos reais como ouro e imóveis (ativos tangíveis com valor intrínseco), na tentativa proteger o seu patrimônio da desvalorização da moeda (VICECONTI; NEVES, 2007). O setor público também terá dificuldades com as altas taxas de inflação. Veja por que: a receita tributária consiste na principal fonte de recursos do Estado. Entretanto existe um intervalo de tempo entre o cálculo dos tributos e o pagamento destes ao Estado pelos agentes econômicos (empresas e famílias). Com isso, a receita dos tributos diminui em termos reais, contribuindo para o surgimento de déficits nos orçamentos governamentais. Para financiar seus déficits, normalmente o governo vende títulos públicos, mas já sabemos que os poupadores desistirão desse tipo de investimento no contexto de inflação crônica. Caso o governo tenha de recorrer à emissão de moeda para financiar seu déficit, a inflação será ainda maior. Em relação ao balanço de pagamentos (que é o registro contábil de todas as transações de um país com o resto do mundo), também haverá distorções. As elevadas taxas de inflação, em montantes superiores à elevação dos preços internacionais, encarecem o produto nacional relativamente ao produzido no exterior. Nesse sentido, haverá estímulos às importações e desestímulos às exportações. A balança comercial (uma das contas do balanço de pagamentos) tende a ficar deficitária. Segundo Vasconcellos (2006, p. 339), tal fato pode provocar um verdadeiro círculo vicioso: na tentativa de minimizar o déficit, o governo permite desvalorizações cambiais, depreciando a moeda nacional a fim de estimular as exportações e desestimular as importações. Acontece que com as importações mais caras, ficam mais caros também produtos essenciais para o país e para a indústria que precisam ser importados, como o petróleo, os fertilizantes, os equipamentos sem similar nacional. Os custos de produção de setores que utilizam matéria-prima importada irão aumentar, consequentemente os preços desses produtos também irão aumentar, ocorrendo nova elevação de preços. Esses foram alguns exemplos das distorções que ocorrem em um país que enfrenta inflação alta. Veja alguns dados do Brasil: O Brasil enfrentou esse problema na década de 1980 (chamada de década perdida) até a primeira metadeda década de 1990. Em 1993, iniciou-se no país a implantação do Plano Real objetivando a estabilização do nível de preços. A partir de 1994, segundo o INPC/IBGE, as taxas de inflação foram caindo: em 1993 (2.489 % a.a.), em 1994 (929 % a.a.), em 1995 (22 % a.a.), em 1996 (9,1% a.a.), em 1997 (4,3% a.a.), 1998 (2,5% a.a.). Entretanto em 1999 (8,43% a.a.), a taxa de inflação voltou a subir. Várias questões internas e externas contribuíram para a mudança de cenário, mas tal fato levou o governo brasileiro a mudar a política de combate à inflação, passando a adotar o Sistema de Metas de Inflação (SMI) em vigor até a atualidade. Para enriquecer o seu estudo sobre a inflação, assista à videoaula a seguir: Videoaula: Regime de metas de inflação e seus efeitos sobre a economia brasileira. Índices de preços do Brasil A inflação é o crescimento dos preços. A taxa de inflação mede o ritmo desse crescimento e, para isso, são calculados os índices de preços. Vamos entender agora esses índices no Brasil, sua metodologia de cálculo e os responsáveis por esse cálculo. As informações que utilizaremos nessa exposição foram extraídas de publicações do Banco Central do Brasil disponíveis no site www.bacen.gov.br. Conceituando índices de preços Índices de preços são números que agregam e representam os preços de determinada cesta de produtos. Sua variação mede, portanto, a variação média dos preços dos produtos dessa cesta. Podem se referir, por exemplo, a preços ao consumidor, preços ao produtor, custos de produção ou preços de exportação e importação. Os índices mais difundidos são os índices de preços ao consumidor, que medem a variação do custo de vida de segmentos da população. (BACEN, 2016, p. 5) Para o cálculo de um índice de preço, alguns elementos da metodologia precisam ser definidos, como: a) O objetivo desse índice, que, por exemplo, pode ser medir a inflação sofrida pelos empresários do ramo de construção, pelos consumidores em geral e pelos consumidores de baixa renda. b) A região de coleta dos dados. Nesse caso, como exemplo, tem-se o Índice de Preços ao Consumidor, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), que coleta dados apenas do município de São Paulo. c) As fontes e as formas da coleta de dados, por exemplo: qual o tipo e tamanho de pontos comerciais que participarão da pesquisa, quais setores entrarão na pesquisa, quais as formas de entrevista (pessoalmente ou por telefone) etc. d) A periodicidade da coleta, se mensal ou trimestral, por exemplo. e) Os bens e/ou serviços que serão inseridos na cesta a ser pesquisada. Por exemplo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utiliza a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) para identificar os bens e serviços mais consumidos por cada faixa de renda e, assim, constroem as cestas que compõem o IPCA, o IPCA-15 e o Índice Nacional de Preços ao consumidor (INPC). Por que existem no Brasil tantos índices de preços? Veja algumas explicações: Os diversos índices de preços foram construídos ao longo do tempo, com diferentes finalidades. O IPC-Fipe, por exemplo, foi criado pela Prefeitura de São Paulo, com o objetivo de reajustar os salários dos servidores municipais. O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) - foi instituído para ser usado no reajuste de operações financeiras, especialmente as de longo prazo, e o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) - para balizar o comportamento dos preços em geral da economia. O INPC é o índice balizador dos reajustes de salário, e o IPCA corrige os balanços e demonstrações financeiras trimestrais e semestrais das companhias abertas, além de ser o medidor oficial da inflação no país. (BACEN, 2016, p. 6) As tabelas abaixo mostram os principais índices de preços do Brasil e foram organizadas de acordo com o instituto de pesquisa. TABELA 1 - Principais índices de preços do Brasil - IBGE Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2016, p. 8. (Adaptada). Informações adicionais da tabela: o IPCA- 15 é uma prévia do IPCA, com período de coleta diferente, mas com metodologia de cálculo semelhante. TABELA 2 - Principais índices de preços do Brasil - FGV Fonte: Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2016, p. 8. (Adaptada). TABELA 3 - Principais índices de preços do Brasil - FIPE Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2016, p. 8. (Adaptada). Outra curiosidade: qual a importância dos principais índices de preços do Brasil? O IPCA é o mais relevante dos índices empregados no Brasil no que se refere à política monetária, já que foi escolhido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) como referência para o sistema de metas para a inflação implementado em junho de 1999. Além disso, as Notas do Tesouro Nacional, um dos títulos públicos mais negociados no mercado, oferece rentabilidade indexada ao IPCA. O INPC é muito utilizado em dissídios salariais, pois mede a variação de preços para quem está na faixa salarial de até cinco salários mínimos. O IGP-DI é bastante tradicional: sua história remonta a 1944. É empregado contratualmente para correção de determinados preços administrados. Até 2005, por exemplo, servia como referência para reajuste das tarifas de telefonia fixa, que, em janeiro de 2006, passaram a ser corrigidas pelo Índice de Serviços de Telecomunicação (IST), que é composto por combinação de índices, entre os quais, IPCA, INPC, IGP-DI e IGP-M. O IGP-M é o índice mais empregado como indexador financeiro, até mesmo para títulos da dívida pública federal. Também é usado na correção de alguns preços administrados, como o preço de energia elétrica. O IPC-Fipe, apesar de restrito ao município de São Paulo, tem peculiaridades de metodologia e de divulgação (resultados quadrissemanais), que reforçam sua relevância (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2016, p. 8). Para finalizarmos nosso estudo sobre os índices de preços, é importante destacar o Índice de Custo de Vida (ICV) calculado pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Segundo informações disponibilizadas no site www.dieese.org.br, desde 1955 o DIEESE apresenta o ICV da cidade de São Paulo, verificando mensalmente a variação de preços de mais de 1.000 itens de consumo por meio da Pesquisa de Orçamentos Familiares, que inclui dados sobre alimentação, habitação, transporte, vestuário, educação, saúde, recreação, dentre outros. Também realiza a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos desde 1959 para o município de São Paulo. Atualmente, essa pesquisa é realizada em 26 capitais e no Distrito Federal, acompanhando o valor médio de 13 itens essenciais de alimentação. Outra importante pesquisa é a PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego. Também iniciada em São Paulo em 1985, mas atualmente inclui cinco regiões. Você aprendeu nessa unidade sobre a inflação, seus tipos e causas, os efeitos da inflação na nossa vida e como a inflação é mensurada no Brasil. Para encerrar, assista ao vídeo trabalhando com índices de preços. Bons estudos. Vídeoaula: Trabalhando com índices de preços Taxas de juros Taxa de juros A taxa de juros representa o custo financeiro do dinheiro. Refere-se a um índice utilizado em economia e em finanças para determinar a rentabilidade de uma poupança ou o custo de um crédito, sendo que na prática podem ocorrer diferentes tipos de índices que se empregam nessas medidas. A taxa de juros é calculada em porcentagem e com frequência é aplicada de forma mensal ou anual. Mas por que existem diferentes tipos de índices ou taxa de juros? Porque se trata de uma relação entre dinheiro e o tempo. Isso quer dizer que quando uma pessoa ou empresa decide obter um empréstimo ou outro tipo de crédito, na maioria das vezes, tanto maior será a taxa de juros quanto maior for o tempo para o pagamento desse empréstimo ou crédito. De forma análoga, quanto maioro tempo que o poupador decidir manter o seu dinheiro em dada aplicação financeira, na maioria das vezes, maior será sua rentabilidade. Em relação aos empréstimos ou outro tipo de crédito, o risco envolvido na operação torna-se uma questão relevante. Perceba que quanto maior o risco de uma operação maior deverá ser a taxa de juros de forma a fornecer ao credor um prêmio maior pelo risco que ele vai se submeter. Atenção: taxas de juros maiores ou prêmio maior pelo risco não é garantia de retorno, mas é um incentivo a qualquer um para se submeter ao risco. Os fatores que aumentam o risco na concessão de empréstimos ou outro tipo de crédito podem ser citados como o perfil do cliente, ou o prazo da operação, a motivação pela utilização do empréstimo, o planejamento do uso do dinheiro, ou a situação do mercado financeiro relacionada à política monetária vigente no país (por exemplo, quanto maior a taxa de reserva compulsória aplicada, menor será a oferta de moeda para empréstimos ou outro tipo de crédito, o que eleva a taxa de juros). O risco de crédito bancário também está relacionado com o spread, que consiste na diferença entre a taxa de juros resultante da captação de recursos e da aplicação de recursos nas instituições financeiras, além de considerar os diversos tipos de risco aos quais o banco está sujeito. Assim, quanto maior o spread, maiores são os custos de captação de recursos e, portanto, maior a probabilidade de inadimplir e maior o risco de crédito DIAS; ICHIKAVA (2011), citado por SILVA (2014, p.173). Embora o ambiente macroeconômico afete a carteira dos bancos, estes reagem a fim de obter as melhores oportunidades disponíveis ou mesmo de se proteger (SOUZA, 2007), citado por (SILVA, 2014, p. 173). É por isso que no mercado financeiro do Brasil observam-se várias taxas de juros sendo cobradas em diferentes operações: empréstimo consignado, empréstimo pessoal a correntistas de bancos comerciais, cheque especial, cartão de crédito etc. Pense nas taxas de juros desses exemplos e perceba que quanto maior o risco, maior a taxa de juros. As taxas de juros cobradas pelas instituições bancárias, portanto, guardam relação com as expectativas de inadimplência dessas instituições. Tais expectativas são influenciadas pelo cenário macroeconômico. Assim, observe a figura abaixo, que mostra o processo interativo entre a taxa de juros, o risco de crédito e a macroeconomia. Cenário macroeconômico Expectativas de inadimplência Custos Spreads Taxas de juros Volume de crédito Fonte: SOUZA, 2007, citado por: SILVA, 2014. Dessa forma, como resumido por Souza (2007) citado por Silva (2014, p. 173), as mudanças no cenário econômico afetam o risco de inadimplência das carteiras de crédito, que modificam as estruturas de custos, os spreads e as taxas relativas às operações. Se na economia o custo do dinheiro dita o volume de investimentos, logo, alterações do volume de crédito acarretam consequências para o desenvolvimento econômico. A Matemática Financeira é a área que apresenta as técnicas necessárias para determinar e analisar as taxas de juros em operações de investimentos e financiamentos de quaisquer naturezas: seja o crédito a pessoas físicas e a empresas, os financiamentos habitacionais, o crédito direto ao consumidor e outros. Essas técnicas financeiras são também úteis quando você tem de se decidir entre investimentos alternativos. Nessas situações, é o uso dessas técnicas que permite conhecer os custos e os eventuais benefícios dessas operações, possibilitando tomadas de decisão mais racionais. (PUCCINI, Ernesto Coutinho. Matemática financeira e análise de investimentos. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB, 2011.) Veja como é determinada a da taxa de juros simples: Sendo (J) o valor do juros gerados por um capital (C) em um determinado período unitário de tempo (ap), a taxa de juros (i) para essa unidade de tempo, expressa em forma unitária, é definida como: i= ap (chamada fórmula unitária). Essa taxa de juros (i) pode ser expressa também em forma percentual, bastando ajustar a fórmula: i= *100 ap (chamada fórmula percentual). Exemplo: Um capital (C) de $ 500,00 rende juros de $ 10,00 em dois meses. Qual a taxa de juros (i)? Resolução: A resposta vem da própria definição de taxa de juros (i) e dos dados, a saber: C = $ 500,00 J = $ 10,00. Aplicando as fórmulas da taxa de juros (i) apresentadas, usando a fórmula unitária, temos: i= ap i= ab i = 0,02 ab (ao bimestre). Agora, usando a fórmula percentual: i= *100 ap → i= (100) → i = 0,02 (100) ab i = 2 % ab (ao bimestre). É importante destacar a diferença entre taxa de juro nominal e taxa de juro real. As taxas de juros nominais constituem-se em um pagamento expresso em porcentagem, mensal, trimestral, anual etc., que um tomador de empréstimos faz ao emprestador, em troca do uso de determinada quantia em dinheiro. Caso não ocorra inflação no período, a taxa de juro nominal será igual à taxa de juro real (VASCONCELLOS, 2006). Entretanto quando há inflação, torna-se importante distinguir as duas taxas. Assim, enquanto a taxa de juro nominal mede o preço pago ao poupador por suas decisões de poupar, incluindo as perdas que sofre por efeito da inflação, ou seja, de transferir o consumo presente para o consumo futuro, a taxa de juro real mede o retorno de uma aplicação em termos de quantidades de bens, isto é, já descontada a taxa de inflação (VASCONCELLOS, 2006). Desemprego DESEMPREGO O nível de empregos da economia é feito através de pesquisas e sensos realizados por organismos de pesquisa tais como IBGE, DIEESE, entre outros, é divulgado mensalmente apresentando a quantidade relativa de desempregados em relação a população economicamente ativa. Portanto, para que tenhamos uma compreensão completa a respeito do conceito de desemprego é preciso que nos sejam apresentados dois conceitos extremamente importantes que são os conceitos de População em Idade Ativa (PIA) e População Economicamente Ativa (PEA). No primeiro caso, PIA, temos a soma de todas as pessoas que estão em uma determinada faixa etária, no caso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 14 a 65 anos, que habitam na localidade, sem nenhum tipo de restrição. Para o conceito de PEA, consideram-se apenas as pessoas na idade ativa que não tem nenhum tipo de limitação física e ou psicológica que impeça a busca por um trabalho. É muito importante frisar também que só é considerado desempregado aquele que está a procura de um trabalho. Na verdade, é preciso que saibamos que há mais de uma "modalidade" de desemprego quando estudamos o conceito de maneira teórica. A saber, podemos dividir o conceito de desemprego em 3 tipos basicamente, sendo eles: Desemprego Friccional ou Desemprego Natural: Está relacionado aos agentes que estão desempregados porque estão mudando de trabalho, ou que ainda estão procurando e, ainda, não o encontraram por conta das características do mercado como (informação assimétrica), que faz com que algumas vezes a vaga e o trabalhador indicado existam, mas ainda não tenham "se encontrado". Quando se diz que uma economia atingiu o seu desemprego natural, é o mesmo que dizer que ela apresenta sua taxa mínima de desemprego. Desemprego Estrutural: Este é causado por alterações na estrutura produtiva da economia, gerando um contingente de desempregados que "perdeu" a sua alocação no mercado de trabalho. Por exemplo, quando há um avanço tecnológico e a mão de obra de determinada função é substituída por maquinário, fazendo com que a profissão em questão se torne obsoleta. O caso dos datilógrafos, por exemplo, ou os cobradores do transporte coletivo. Desemprego Conjuntural ou Desemprego Cíclico: Este é o mais "temido" dos desempregos, é o que está relacionado a conjuntura econômica, ou seja, está relacionado com o nível da atividade econômica. Quando a economia sofredesaceleração em seu ritmo é natural que as empresas reduzam seu quadro de funcionários já que o nível de produção é menor. É importante mencionar também, dois conceitos muito mencionados pelos economistas que são o Desemprego voluntário e o subemprego. No primeiro caso, quando a pessoa apesar de estar em idade ativa e não ter nenhum tipo de limitação que impeça o trabalho, ele decide não buscar por emprego. Um exemplo disso seriam os estudantes universitários que tem a possibilidade de apenas se dedicar aos seus estudos, sem a necessidade de procurar uma ocupação. O subemprego se refere a agentes que estão empregados em outras funções ou em empregos que não seriam condizentes com a sua formação e experiência profissional. Isso acontece muito em momentos de recessão econômica, pois o fato da necessidade de uma renda acaba por levar alguns agentes ao subemprego. Desta forma, para conhecer o nível de emprego ou desemprego de uma economia é preciso observar os índices calculados pelos institutos de pesquisa responsáveis, já que eles seguem metodologias que levam em consideração todos estes conceitos teóricos. A pergunta que deve surgir neste momento é: Como e quem calcula os índices de desemprego no Brasil? Antes de mais nada é importante mencionarmos que não há apenas um ou dois índices de desemprego, muitas instituições patronais (Federação das Industrias, Câmara de Comércio, etc) calculam índices de desemprego específicos em suas áreas de atuação. Entretanto, em relação ao emprego no Brasil em termos gerais (todos os setores) dois índices se destacam, que são o do IBGE e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômicos (DIEESE). Cada um deles segue uma metodologia específica e a seguir explicaremos de maneira resumida o que é cada um destes índices. IBGE a PNAD e a PME Até março de 2012 o IBGE apresentava os dados de emprego no país através da Pesquisa Mensal do Emprego. Essa pesquisa segundo o próprio IBGE era: "uma pesquisa de periodicidade mensal sobre mão-de-obra e rendimento do trabalho. Os dados são obtidos de uma amostra probabilística de, aproximadamente, 38.500 domicílios situados nas Regiões Metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre". A partir de março de 2012 o IBGE passou a apresentar a taxa de desemprego a partir da Pesquisa de Amostragem Domiciliar Contínua, a PNAD contínua. Essa pesquisa: "Visa acompanhar as flutuações trimestrais e a evolução, no curto, médio e longo prazos, da força de trabalho, e outras informações necessárias para o estudo do desenvolvimento socioeconômico do País. Para atender a tais objetivos, a pesquisa foi planejada para produzir indicadores trimestrais sobre a força de trabalho e indicadores anuais sobre temas suplementares permanentes (como trabalho e outras formas de trabalho, cuidados de pessoas e afazeres domésticos, tecnologia da informação e da comunicação etc.), investigados em um trimestre específico ou aplicados em uma parte da amostra a cada trimestre e acumulados para gerar resultados anuais, sendo produzidos, também, com periodicidade variável, indicadores sobre outros temas suplementares. Tem como unidade de investigação o domicílio". A PNAD é uma pesquisa muito ampla que acaba por fornecer diversas informações a respeito da vida do brasileiro e não apenas o índice de ocupação da mão de obra e o rendimento médio do trabalhador. Temas e tópicos pesquisados ao longo do ano em determinada visita: • Habitação (1a visita); • Características gerais dos moradores (1a visita); • Informações adicionais da força de trabalho (1a visita); • Outras formas de trabalho (afazeres domésticos, cuidados de pessoas, produção para o próprio consumo e trabalho voluntário) (5a visita); • Trabalho de crianças e adolescentes (5a visita); e • Rendimentos de outras fontes (1a e 5a visitas). A taxa de desemprego apresentada pela PNAD sempre com uma taxa trimestral, mas na verdade ela é auferida mensalmente já que a divulgação é a partir de trimestres móveis. Por exemplo, em abril será divulgada a taxa do trimestre janeiro, fevereiro e março, já no mês de maio, será apresentada a taxa do trimestre fevereiro, março e abril e assim por diante. DIEESE e a PED O DIEESE apresenta a taxa de desemprego através da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), que segundo o próprio órgão pode ser definida como: "A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) é um levantamento domiciliar contínuo, realizado mensalmente, desde 1984, na Região Metropolitana de São Paulo, em convênio entre o DIEESE e a Fundação Seade. O reconhecimento da importância da PED como instrumento de análise da realidade socioeconômica concretizou-se com solicitações da implantação da Pesquisa em outras regiões do país, a partir de 1987. As atividades de assessoria e acompanhamento das PEDs regionais por parte da Fundação SEADE e do DIEESE têm se dado de forma contínua, em convênio com diversas instituições. Atualmente, a PED é realizada no Distrito Federal e nas Regiões Metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e mais recentemente Fortaleza, constituindo o Sistema PED. O apoio financeiro e o reconhecimento institucional da PED como parte integrante do Sistema Público de Emprego, por parte do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) foram inestimáveis na consolidação deste novo sistema de produção estatística". A PED apresenta diversos aspectos interessantes, já que apresenta dados de maneira estratificada para grupos específicos, ou seja, além de apresentar os dados de maneira consolidada e para todas as regiões mencionadas na descrição, o DIEESE apresenta também por grupos como jovens, emprego doméstico, entre outros. Os grupos apresentados no site do órgão para consulta são: • Resultados mensais • Resultados anuais • Boletim Juventude • Boletim Trabalho e Construção • Mulheres • Regiões Especiais • Emprego Doméstico • População Negra • Jovens • Estudos Especiais • Estudos Setoriais Outro aspecto interessante é que o DIEESE apresenta um estudo em que é calculado o valor que o salário mínimo deveria apresentar para que fossem garantidos todos os fatores relacionados a ele na Constituição Federal de 1988. Esse é um aspecto interessante pois o valor apresentado sempre se encontra muito acima do valor real do salário mínimo, gerando sempre uma reflexão a respeito deste indicador. Referências ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à economia. São Paulo: Atlas, 2000. 922 p. GREMAUD, Amaury Patrick et al. Manual de Economia. 5ª ed. São Paulo: Saraiva 2006. IBGE: https://www.ibge.gov.br/ DIEESE: https://www.dieese.org.br/