Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ECONOMIA E FINANÇAS PÚBLICAS II PARTE FORMAS DE INTERVENÇÃO CONCRETA DO ESTADO NA ECONOMIA PORTUGUESA CAPÍTULO 7 – A INTERVENÇÃO NO SECTOR DOS CUIDADOS DE LONGA DURAÇÃO 1 6.1 Desafios que jus.ficam a crescente importância dos cuidados de longa duração. 6.2 Argumentos teóricos a favor da intervenção pública – Eficiência. 6.3 Tipos de intervenção pública. 6.4 As polí.cas públicas de cuidados de longa duração em Portugal. 6.5 O caso português em contexto internacional. 6.6 Referências bibliográficas. Capítulo 6 – A intervenção no sector da saúde. 2 6.1 DesaOios que justiOicam a crescente importância dos cuidados de longa duração. 3 Mudança demográfica Envelhecimento da População Novas polí.cas Mudança na estrutura familiar Cuidados informais vs cuidados formais Sector informal: família Papel da mulher Inserção no mercado de trabalho Isolamento social dos idosos Nuclearização da família Cônjuges e filhos como principais cuidadores Idosos vivem sós ou com outros idosos 3 6.1 DesaOios que justiOicam a crescente importância dos cuidados de longa duração. 4 Figura 1: Percentagem de população com 80 ou mais anos na OCDE, 2010 e 2050 Fonte: OECD Labour Force and Demographic Database. Paris: OECD, 2010 4 6.2 Argumentos Teóricos a Favor da Intervenção Pública - EOiciência • Principais problemas que dificultam o desenvolvimento de mercados privados de cuidados de longa duração (CLD): a. A probabilidade dos indivíduos necessitarem de CLD pode não ser independente; b. Incerteza quanto ao futuro; c. Seleção adversa; d. Risco moral. 5 6.2 Argumentos Teóricos a Favor da Intervenção Pública - EOiciência a) A probabilidade dos indivíduos necessitarem de CLD pode não ser independente • Se os avanços da medicina prolongarem a vida até ao ponto em que mais pessoas acabem por precisar de CDL o resultado será todos os indivíduos virem a precisar deste .po de cuidados. Esta situação poderá verificar-se se, por exemplo, melhorarem substancialmente os tratamentos rela.vos às doenças cardíacas e ao cancro. Por outro lado, se também melhorar o sucesso dos cuidados prestados às pessoas com elevados níveis de dependência, isso contribuirá para aumentar a esperança de vida das pessoas que recebem CLD. 6 6.2 Argumentos Teóricos a Favor da Intervenção Pública - EOiciência b) Incerteza quanto ao futuro Rela.vamente aos indivíduos que adquirem um seguro quando são jovens, existe uma elevada incerteza rela.vamente à probabilidade de virem a precisar de ter CLD: • A probabilidade de uma pessoa vir a precisar de algum .po de CLD poderá ser menor do que na atualidade porque os avanços médicos poderão permi.r aos indivíduos autocuidarem-se ou porque um conjunto de avanços técnicos poderão contribuir para uma maior autonomia das pessoas. • A probabilidade de uma pessoa vir a precisar de algum .po de CLD poderá ser maior devido ao progresso da medicina, na medida em que poderá aumentar a esperança média de vida e, como consequência, a probabilidade de as pessoas necessitarem cuidados. • O número de anos que cada indivíduo necessitará de CDL poderá ser menor do que na atualidade porque os avanços médicos podem adiar a necessidade desse .po de cuidados. • O número de anos que cada indivíduo necessitará de CDL poderá ser maior porque o progresso da medicina poderá aumentar o número de anos que as pessoas recebem cuidados. • 7 6.2 Argumentos Teóricos a Favor da Intervenção Pública - EOiciência c) Seleção adversa • À semelhança do que sucede no sector da saúde, os indivíduos com maior probabilidade de necessitarem de CLD podem ‘esconder’ essa circunstância quando contratam um seguro. d) Risco moral • Existem duas formas de risco moral: • Uma pessoa que tem um seguro que cobre todos os custos dos CLD tem maior tendência a requerer este .po de cuidados porque os custos de o fazer (nessa altura) são iguais a zero. Este é o denominado ‘third-party payment problem’ abordado na aula sobre a intervenção pública na área da saúde. • Por outro lado, este .po de problema não se aplica apenas à pessoa que precisa de CLD, aplica-se também à sua família. A existência de um seguro aumenta o incen.vo para que a prestação de cuidados não seja feita pelos membros da família. 8 6.3 Tipos de Intervenção • Embora a necessidade de CLD tenha aumentado substancialmente nos úl.mos anos, os seguros privados nesta área não se desenvolveram. • “Evidence from the US suggests that the market for long term insurance has shown a sluggish development. Only about 10 per cent of the elderly benefit from purchasing private LTC insurance” (Costa-Font, 2010: 695) 9 6.3 Tipos de Intervenção • O financiamento dos Cuidados de Longa Duração pode ser feito de duas formas: • Financiamento através dos impostos; • Financiamento através de contribuições para a Segurança Social. 10 6.3 Tipos de Intervenção a) Financiamento através dos impostos • À semelhança do que sucede com os cuidados de saúde (por exemplo, no Reino Unido e em Portugal), os CLD podem ser financiados pelos impostos e o acesso ser universal (como acontece nos países Escandinavos). • Embora em termos de princípio, essa possibilidade exista, em termos prá.cos é uma solução pouco viável poli.camente. Em vários países europeus, o aumento das despesas públicas tem criado uma grande pressão fiscal e poli.camente será dimcil aumentar impostos para financiar sistemas públicos de CLD em que o acesso seja universal. • O consenso em torno do financiamento público dos cuidados de saúde através de impostos é maior do que rela.vamente aos CLD. 11 6.3 Tipos de Intervenção b) Financiamento através de contribuições para a Segurança Social • A lógica deste .po de financiamento passa por alargar os sistemas de segurança social obrigatória para cobrir os CLD. Os trabalhadores passam a pagar uma contribuição maior para a segurança social durante a sua carreira contribu.va para financiar os CLD (por exemplo, na Alemanha, os trabalhadores contribuem mais 1,95% do seu salário para a Segurança Social com este propósito). • À semelhança dos sistemas de pensões, comparando com os seguros privados, esta solução permite uma maior adaptação à mudança. Como as contribuições feitas pelos trabalhadores financiam diretamente os indivíduos que recebem os CDL, se as despesas com este .po de cuidados aumentar no futuro, o nível das contribuições também poderá aumentar. 12 • Em 1945, surge uma nova organização dos cuidados de saúde através das Caixas de Previdência, um seguro social de saúde obrigatório, que .nha por base as organizações profissionais e o modelo de Bismarck, contudo apenas os trabalhadores e os seus dependentes .nhas acesso aos cuidados de saúde. • Apenas em 1974, após a revolução de Abril, surgem os conceitos de universalidade e é reconhecida a saúde como um direito de cada cidadão, sendo, em 1979, criado o Serviço Nacional de Saúde gratuito e acessível a todos os cidadãos. 13 6.4 As políticas públicas de cuidados de longa duração em Portugal 6.4 As políticas públicas de cuidados de longa duração em Portugal • No entanto, os serviços sociais não acompanharam o progresso dos serviços de saúde, mantendo-se tradicionalmente a família como primeira linha de cuidados aosidosos dependentes, sobretudo em zonas rurais. • Contudo, em Portugal mantém-se o cuidado aos idosos no seio da família, caracterís.co dos países da Europa do Sul, mas com uma diferença substancial, as mulheres portuguesas têm elevados níveis de emprego a tempo inteiro, sendo forçadas a conciliar o trabalho com uma elevada par.cipação no trabalho domés.co e nos cuidados aos seus familiares (Santana, 2011). 14 6.4 As políticas públicas de cuidados de longa duração em Portugal • Actualmente, em Portugal, con.nuam a subsis.r dois .pos de redes de suporte às pessoas em situação de dependência, as denominadas redes informais, nas quais se inclui a família, os vizinhos, ou amigos e as redes formais de protecção social. • No caso de pessoas dependentes que ficam em casa, podem candidatar-se a um subsídio para apoio domiciliário adicional, denominado “Complemento por dependência” (criado em 1989). 15 6.4 As políticas públicas de cuidados de longa duração em Portugal • Após a reforma da Rede Nacional de Cuidados Con.nuados Integrados (em 2006), surgem várias estruturas que apoiam as pessoas com doenças crónicas e diferentes níveis de dependência, que reúnem condições para serem cuidados em casa ou numa ins.tuição. • Em termos ins.tucionais as pessoas podem ser albergadas nas unidades de longa duração e manutenção, caso fiquem em sua casa, podem ser apoiadas através de cuidados domiciliários. Esta medida introduziu, pela primeira vez, uma forma coordenada de cuidados con.nuados com carácter de acesso universal e pago por impostos e co-pagamentos mediante o rendimento dos indivíduos. 16 RNCCI Unidades de internamento Unidades de ambulatório Equipas hospitalares Equipas domiciliárias 6.4 As políticas públicas de cuidados de longa duração em Portugal 17 6.5 O caso português em contexto internacional Fonte: OECD Health Data 2011 18 6.5 O caso português em contexto internacional Tabela 1 – Despesas com cuidados de longa duração por fonte de financiamento Fonte: OECD Health System Accounts 2010 Database. Paris: OECD, 2010 19 6.5 O caso português em contexto internacional Tabela 3 – Despesa em cuidados de longa duração (em percentagem do PIB) País 2005 2010 2013 Austrália 0 0.1 : Áustria 1.3 1.5 1.5 Bélgica 1.7 2.1 2.3 Canadá 1.4 1.5 1.4 República Checa 0.2 0.3 0.3 Dinamarca 2.2 2.6 2.5 Estónia 0.2 0.3 0.3 Finlândia 1 0.9 0.8 França 0.9 1.2 1.3 Alemanha 1.4 1.5 1.5 Grécia : 0.1 0.1 Hungria 0.3 0.3 0.3 Islândia 1.8 1.6 1.8 Israel 0.5 0.5 : Japão 0.8 0.9 : Coreia do Sul 0.1 0.7 1 Luxemburgo 1.5 1.4 : Holanda 2.3 2.6 2.9 Nova Zelândia 1.2 : : Noruega 2.2 2.5 2.6 Polónia 0.4 0.4 0.4 Portugal 0.1 0.1 0.2 República Eslovaca 0 0 0 Eslovénia 0.8 0.9 0.9 Espanha 0.6 0.9 0.8 Suécia 0.7 0.6 2.8 Suíça 2 2 2.2 Estados Unidos 0.9 1 0.9 Fonte: OCDE, Health expenditure and financing database, extraído a 30/12/2015 20 21 Barr, N. (2010) ‘Long-term Care: A Suitable Case for Social Insurance’, Social Policy & Administra2on, 44(4): 359-374. Costa-Font, J. (2010), ‘Family .es and the crowding out of long-term care insurance’, Oxford Review of Economic Policy, 26(4): 691-712. Daatland, O. (2001) ‘Ageing, families and welfare systems: compara.ve perspec.ves’, Zeitschri= für Gerontologie und Geriatrie, 34(1): 16-20. OECD Health System Accounts 2010 Database. Paris: OECD, 2010. Santana, S. - Reforming Long-term Care in Portugal: Dealing with the Mul.dimensional Character of Quality. In Reforming Long-term Care in Europe. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2011, 154-169. 6.6 Referências BibliográOicas 22
Compartilhar