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1 Capítulo 4 – Geografia económica 1. Introdução à Geografia Económica 1.1 Conceitos Fundamentais Introdução A Geografia Económica (GE) é o estudo da configuração espacial das atividades económicas. Todas as atividades económicas (produção, distribuição, consumo) ocorrem num dado local. Essa configuração depende: • De um elevado número de agentes económicos - empresas, famílias, Governo, instituições privadas e públicas que interagem entre si; • De decisões passadas; • Da distribuição dos recursos naturais (ex: clima, relevo, água). Quem estuda GE procura compreender esta complexa rede de relações. Espaço De modo a analisar os padrões e as interações espaciais, o espaço é usualmente dividido em “regiões”, as quais correspondem a: • Países • Distritos • Concelhos • Etc. Regiões Funcionais – aquelas em que a intensidade dos fluxos é maior no seu interior do que é para com o seu exterior. Ex: Área Metropolitana de Lisboa. 2 Esta definição de espaço remete para espaço discreto. Mas o espaço também pode ser definido em termos contínuos. Uma análise típica neste contexto é a da localização empresarial, uma vez conhecidas as localizações dos fornecedores de inputs e dos mercados finais. Um aspeto crucial da GE é ser eminentemente realista, pois incorpora o conceito de espaço diferenciado. Cada decisão locacional tem de ter em conta que as condições naturais afetam o sucesso da empresa. A localização depende da importância relativa de cada fornecedor ou do mercado final. Outras razões pelas quais o espaço é diferenciado: 3 Fricção da Distância Todos os indivíduos têm de sistematicamente percorrer distâncias para realizar as suas atividades. Essa necessidade limita o que conseguimos fazer num intervalo de tempo: • A nossa produtividade; • O nosso nível de interação social; • O nosso aproveitamento do lazer. Há 3 formas de ultrapassar a distância: • Transporte de pessoas – o indivíduo ir de onde está para onde quer ir; • Transporte de carga – alguma coisa vir de onde está até onde o indivíduo está; • Comunicações – nada físico se desloca, apenas informação (ex: telefonar, encomendar pela internet). Custos de Transportes São fundamentais para explicar as deslocações (ex: comércio, turismo) e possuem duas componentes: • Custo terminal – refere-se a serviços que ocorrem no começo e/ou fim da viagem. Inclui carga/descarga de bens ou pessoas, taxas, custo com o aluguer do espaço onde o meio de transporte fica quando não está em movimento, etc. é um custo cobrado por viagem; • Custo associado ao percurso – envolve o custo com os combustíveis, trabalho, depreciação do veículo. É um custo cobrado por km. São todos reduzidos pela distância 4 Transportes e Tempo Seja no transporte de pessoas seja no transporte de carga, o custo não é o único fator relevante. Há dois outros fatores relevantes: i. Rapidez • Tudo o resto constante, as pessoas preferem viagens curtas (porque não gostam de viajar ou pelo custo de oportunidade desse tempo); • Também para a carga, a rapidez é relevante. Vários bens perdem valor com o tempo. ii. Pontualidade • Para as pessoas: por exemplo, se a forma como se deslocam para o emprego não for pontual (ex: filas de trânsito) são levadas a agir conservadoramente ⇒ chegar mais cedo que o necessário nos dias bons para não chegar tarde nos dias maus. • Para carga: é necessário que as diferentes peças provenientes dos vários fornecedores cheguem a tempo de modo a: - Evitar parar a produção; - Evitar custos elevados de armazenamento. Transportes e Comunicações Sendo transportes e comunicações formas de superar a fricção da distância, será razoável supor que o papel dos transportes tem vindo a diminuir devido ao desenvolvimento das telecomunicações? - Não aconteceu! Em larga medida, transportes e telecomunicações são complementares. Um Exemplo: Mercado Sem e Com Espaço Um mercado é um local ao qual as pessoas se dirigem para trocar bens e serviços. Podem variar em escala desde pequenos mercados locais até à escala mundial. 1. Mercado Sem Espaço 5 2. Mercado Com Espaço Na perspetiva tradicional não há referência ao espaço. Assume-se que compradores e vendedores estão no mesmo local (ou então que o s custos de transportes são nulos). Uma das formas de introduzir o espaço é considerá-lo, por exemplo, na função de oferta de um mercado de um bem agrícola, o qual está localizado num dado ponto. Quanto mais afastado do mercado, maiores serão os custos de transporte que o produtor enfrenta. Se existirem custos de transporte, como é normal e realista que existam, então a curva da oferta de mercado é mais adequadamente representada por uma curva com a configuração do seguinte gráfico do que pela do gráfico anterior. Ignorar os custos de transporte pode ser enganador em termos das conclusões previstas. 6 1.2 Modelos de Interação Espacial Introdução Uma das questões vitais em GE é a estimação de fluxos entre localizações: interações espaciais. As interações espaciais são movimentos de pessoas, carga ou informação entre uma origem e um destino. Vão traduzir-se numa relação procura/oferta com expressão geográfica. Exemplos: idas para o emprego, turismo, comércio, migrações. Para que uma interação espacial ocorra é preciso que se verifiquem simultaneamente 3 condições: Condição 1 – Complementaridade: Tem de existir uma complementaridade entre a procura e a oferta por parte das regiões que interagem (uma de origem e outra de destino). O fluxo ocorre porque existe interesse. Condição 2 – Ausência de melhor alternativa: Existe uma interação espacial entre uma região de origem e de destino e essa interação só se concretiza se não existir nenhuma melhor alternativa quer para a localização de origem, quer para a localização de destino que permita o mesmo tipo de transação económica. Ex. Farmácia. Condição 3 – Transferibilidade: Só há interação se existirem infraestruturas de transporte que suportem esse fluxo. Ainda tem que acontecer que os custos de transporte e comunicações sejam inferiores aos benefícios da transação em causa. 7 Matrizes Origem/Destino O conjunto de interações espaciais existentes podem ser representadas numa matriz origem/destino em que: • As linhas são as localizações de origem (informação de emissividade); • As colunas são as localizações de destino (informação de receptividade). Construção de uma matriz origem/destino: Modelos de Interação Espacial De modo a estimar a dimensão dos fluxos, a hipótese mais comum é a de que esses fluxos dependem de 3 coisas: 𝑻𝒊𝒋 = 𝒇(𝑽𝒊,𝑾𝒋,𝑺𝒊𝒋) Onde: 𝑻𝒊𝒋 → Interação entre i e j 𝑽𝒊 → Atributos da localização de origem 𝑾𝒋 → Atributos da localização de destino 𝑺𝒊𝒋 → Atributos da separação entre i e j. Pode ser medido em distância km, tempo de transporte e custos de transporte. Com base nesta formulação geral podemos ter 3 tipos de modelos de interação espacial. Modelo Gravitacional: mede a interação entre todos os pares de localizações. Modelo de Potencial de Mercado: mede a interação entre uma localização e todas as outras. A região C é uma região muito atrativa 8 Modelo de Área de Mercado: apura a fronteira das áreas de mercado entre2 localizações. Modelos básicos de interação: Ex. em 𝑇!": 𝑇!" = !"×!"! = 10.9 → A intensidade dos fluxos é de 10.9. Esta intensidade aumenta se as regiões estiverem mais próximas ou se 𝑽𝒊 ou 𝑾𝒋 forem maiores. Funciona excecionalmente bem para a maior parte dos fluxos. Ex. em 𝑇!: 𝑇! = !"!! + !"!! + !"!! = 3.8 Ex. em 𝐵!" = !!!!"!" = 4.9 Fronteira de mercado: é indiferente ir adquirir bens ou serviços a um sítio ou a outro. Modelo Gravitacional Este modelo diz-nos que a atração entre 2 objetos (neste caso, localizações) é proporcional à sua massa e inversamente proporcional à sua distância. Teremos então: 𝑻𝒊𝒋 = 𝒌𝑷𝒊𝑷𝒋𝑫𝒊𝒋 9 Exemplos: 𝑇!" = 0.00001× 1 000 000×2 000 000800 = 25 000 𝑇!" = 0.00001× 2 000 000×2 000 000400 = 100 000 Este modelo pode ser aprofundado no sentido de incluir alguns parâmetros que possam ser calibrados. 𝑻𝒊𝒋 = 𝒌 𝑷𝒊𝝀𝑷𝒋𝜶𝑫𝒊𝒋𝜷 Modelo de Área de Mercado Neste contexto, podemos salientar 2 contributos: a. Lei de Reilly: o objetivo é determinar o ponto de indiferença entre 2 localizações, 10 por forma a determinar a área de mercado de cada uma. Esse ponto depende de: • Distância entre as localizações; • Dimensão respetiva (ex: população). Podemos obter esse ponto através da seguinte fórmula: b. Lei de Huff: assume-se que os clientes têm a possibilidade de escolher ser clientes de uma localização face às alternativas existentes. O ponto de indiferença é aquele em que os clientes têm igual probabilidade de selecionar uma ou outra localização. O mérito desta perspetiva é que deixa espaço para a escolha, não se trata de uma decisão definitiva entre uma ou outra localização.
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