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Síndrome de Peter Pan (Dan kiley)

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SÍNDROME DE PETER PAN 
 
DAN KILEY 
 
O que é Síndrome de Peter Pan? 
Síndrome de Peter Pan é um estado de imaturidade emocional que 
comea com ansiedade e narcisismo e termina em desespero. E um 
fenômeno sociopsicológico detectado em homens que, embora 
tenham atingido a idade adulta, são incapazes de encarar os 
sentimentos e as responsabilidades dos adultos. No esforço de 
esconder seus fracassos, recorrem ao fingimento e à falsa alegria. 
Seguindo o sucesso de Complexo de Cinderela, Síndrome de Peter 
Pan figura na lista dos livros mais vendidos do "The New York 
Times", há quase um ano, pois explora um fenômeno psicológico 
crescente. 
* * * 
 
Um sério fenômeno sociopsicológico está sendo detectado entre os 
homens, diz o psicólogo Dr. Dan Kiley: centenas de milhares de 
homens nun¬ca cresceram. Há muitos anos o Dr. Kiley vem 
estudando a síndrome. Seu primeiro caso clínico foi quando 
trabalhava com um jovem oficial da Força Aérea. Os sucessivos 
anos de acon¬selhamento de adolescentes, universitários e jovens 
casais recém-casados, ensinaram-lhe muito mais do que "as 
preocupações e as tribulações do amadurecimento... que lentamente 
me levaram a um número alarmante de homens que não 
ama¬dureceram, não cresceram. Alguma coisa estava errada". 
Somente quando relia a peça de Barrie é que ele se defrontou com a 
conexão existente entre o problema que estava testemunhando e o 
herói brincalhão, que a seu ver é realmente "um adolescente muito 
infeliz que se encontra à beira do abismo entre o homem que não 
 
quer ser e o menino que ele já não é ... Como O problema espelha a 
vida ficcional do persona¬gem clássico, facilitando desta maneira a 
explicação e a compreensão, não levei muito tempo para rotular esta 
condição de Síndrome de Peter Pan — ou abreviando SPP". 
O Dr. Kiley também explica que tem observado o crescimento deste 
fenômeno há anos: "Suspeito que ocorram casos isolados há um 
longo tempo, mas somente nos últimos 20 ou 25 anos, entretanto, é 
que as pres¬sões da vida moderna têm exacerbado os fatores 
desencadeadores, resultando num crescimento dramático na 
freqüência do problema. Há razões para se supor que a situação 
piore nesses próximos anos". De acordo com o autor, embora eles 
tenham atingido a idade adulta, esses homens são incapazes de 
encarar os sentimentos e as responsabilidades adultos; distantes de 
suas verdadeiras emoções, eles se escondem atrás de máscaras, 
estando repletos de sentimentos vazios e de solidão, e, como o herói 
da história infantil, eles recor¬rem ao fingimento e à falsa alegria 
num esforço supremo de esconder suas fraquezas dos outros. 
Em Síndrome de Peter Pan, o Dr. Kiley dá uma olhada abrangente 
nu vítima clássica da síndrome — seu perfil social e psicológico e os 
seis maiores sintomas que ela exibe (incluindo a irresponsabilidade, 
a ansie¬dade, a solidão e o chauvinismo); as idades em que 
aparecem, as causas e os padrões de comportamentos manifestos. 
Além de detalhar os sintomas e seus efeitos potencialmente 
desastro¬sos na vida de um homem, o autor oferece conselhos 
práticos para aqueles que querem tentar mudar a situação: pais que 
podem perceber sinais em seus filhos adolescentes; esposas e 
companheiras, amigos e conhecidos, e as próprias vítimas. 
 
 
O autor 
Nascido e educado em Illinois, Dr. Kiley graduou-se com M.A. e Ph. 
D. na Universidade de Illinois. Fez parte da equipe de psicólogos do 
 
VA Hospital em Danville, em Illinois, é administrador e psicólogo 
do Departamento de Corregedoria de Illinois — Divisão Juvenil. 
O Dr. Dan Kiley já publicou três livros de sucesso editorial e tem o 
seu próprio programe de rádio em Chicago. Supervisiona 
seminários e workshops nesta área e também escreve artigos para 
Good Housekeeping e Family Circle, bem como para jornais 
especializados no campo do relacionamento dos adolescentes e 
familiares. Kiley mantém um consultório particular em Chicago, 
onde reside. 
 
* * * 
 
À minha esposa Nancy, uma Sininho que faz de cada dia uma 
aventura. 
 
 
 
Agradecimentos 
 
Merecem minha mais profunda gratidão as seguintes pessoas: Evan 
Marshall, editor sênior em Dodd, Mead, cujo estímulo só é 
suplantado por uma editoração brilhante; Kay Radtke, diretora de 
publicidade, e sua excelente equipe; Howard Morhaim, meu agente 
literário, que bem podia ter sido um grande psicoterapeuta; e 
Donald Merz, Ph. D., amigo e colega que vem supervisionando 
minha pesquisa ao longo dos anos. Estas pessoas fizeram este livro 
infinitamente melhor do que eu sozinho jamais teria conseguido. 
 
 
 
 
Sumário 
Agradecimentos 
Nota do Autor 
Prefácio 
 
 
PARTE I — INTRODUÇÃO AO QUADRO 
1 Reconhece este Homem-menino? 
2 O Adulto Vítima da SPP — Teste 
3 A Síndrome de Peter Pan — Quadro Geral . . . . 
 
 
PARTE II — A SÍNDROME DE PETER PAN 
4. Irresponsabilidade 
5. Ansiedade 
6. Solidão 
7. Conflito Relativo ao Papel Sexual 
8. Narcisismo 
9. Chauvinismo 
10. Crise: Impotência Social 
11. Após os 30 anos: Desalento 
 
 
PARTE III — A MUDANÇA 
12 Para os Pais 
13 Para Esposas e Amantes 
14 Para Irmãos, Irmãs e Amigos 
15 Para as Vítimas 
 
 
 
Nota do Autor 
Os casos apresentados neste livro nele constam por propósitos 
educacionais. A fim de proteger aqueles que lutaram na 
confrontação e superação da Síndrome de Peter Pan, modifiquei 
certos dados secundários e misturei outros. As histórias resultantes 
representam as dificuldades cotidianas reais das vítimas da SPP, e 
ocultam ao mesmo tempo as identidades das pessoas mencionadas. 
Qualquer semelhança entre estas histórias e a de algum indivíduo 
ou família real é pura coincidência. 
 
 
Viver seria uma aventura incrível. 
 
Peter Pan 
 
 
 
 
Prefácio 
Não ameaça a vida; portanto, não é uma doença. Mas põe em risco a 
saúde mental da pessoa; portanto, é mais que incômodo. Seus 
sintomas são bem conhecidos; portanto, não posso dizer que é uma 
descoberta. Porém este quadro jamais foi descrito; portanto, este 
livro traz algo de novo. 
Trata-se de um fenômeno psicológico ainda por catalogar. Ele não 
cabe em nenhuma categoria reconhecível, embora não haja como 
negar sua existência. Em minha área, tal anomalia é denominada 
síndrome. Ou, para usar jargão comum, uma síndrome é um 
conjunto de sintomas expresso por algum tipo de padrão social. 
 
Quero falar-lhe sobre uma síndrome, em nossa sociedade, que está 
causando inúmeros problemas. Todo mundo sabe que ela existe, 
mas até agora ninguém a rotulou ou explicou. 
Venho estudando esta síndrome há anos, na tentativa de 
compreender esse emaranhado de causa e efeito. Suspeito que casos 
isolados há muito vêm ocorrendo; contudo, foi só nos últimos vinte 
ou vinte e cinco anos que as pressões da vida moderna 
exacerbaram-lhe os fatores causais, resultando num dramático 
aumento na freqüência do problema. E temos todos os motivos para 
esperar que piore nos anos vindouros. 
Meu primeiro caso clínico foi uma vítima da síndrome, apesar de eu 
não ter percebido isso na época. Eu trabalhava na Força Aérea 
dando orientação a jovens em vias de "atingir a maioridade" ou com 
problemas no processo de amadurecimento. 
Ele chamava-se George. Tinha vinte e dois anos, mas agia como se 
tivesse dez. Suas expressões emocionais eram exageradas, 
inadequadas e tolas. Falava muito, mas não dizia muito de 
aproveitável. Era hora de ele tomar as rédeas de sua vida, porém 
estava fixado em seus tempos de estudante ginasial. Achei que ele 
ultrapassaria seu medo de "virar adulto". Até hoje desconheço se o 
fez ou não. 
Meus anos de orientação a adolescentes, universitários e jovens 
casais ampliaram meu conhecimento das dificuldades e tribulações 
envolvidas no processo de amadurecimento. Aos poucos fui-me 
dando conta de que um alarmante número de moços nãoestava 
amadurecendo. Algo estava errado. 
Este livro enfoca adultos do sexo masculino que não ama-
dureceram, bem como as razões para isso e o que se pode fazer a 
respeito. Aposto que, depois dos dois primeiros capítulos, você já 
terá identificado alguém que conhece como sendo vítima deste 
problema. Imagino que se surpreenderá à medida que o 
comportamento da pessoa lhe for ficando mais compreensível. 
 
Dos dezessete aos vinte e poucos anos de idade, esses homens 
vivem uma vida impetuosa. O narcisismo fecha-os em si mesmos, 
ao passo que seus irrealísticos egos crêem poder e dever pôr em 
ação tudo o que suas fantasias sugerirem. Mais tarde, depois de 
anos de uma insuficiente adaptação à realidade, a guinada de 180° 
em suas vidas. "Quero" é substituído por "Devo". Obter a aceitação 
dos outros parece o único meio de eles se aceitarem. Seus acessos de 
mau humor e irritação são disfarçados como afirmação masculina. 
O amor é algo "obviamente a lhes ser dado, e nunca aprendem a dá-
lo em troca. Fingem ser adultos; todavia, na verdade, comportam-se 
como crianças mimadas. 
Leva tempo para uma criança inteligente e sensível transformar-se 
num adulto imaturo e zangado. Os pais têm muitas chances de 
reverter o processo; por isso, este é um livro destinado aos pais. Mas 
esposas e amantes têm toda oportunidade de transformar o "nunca" 
em "algum dia"; é por isso que este livro se destina especialmente a 
mulheres que mantenham um relacionamento especial (no 
casamento ou fora dele) com a vítima. Amigos e parentes com 
influência sobre a vida da vítima podem oferecer ajuda; portanto, 
este livro pode ser-lhes de valia. Finalmente, nunca é tarde demais 
para um homem amadurecer por seus próprios esforços; é por isso 
que este livro se destina também à vítima propriamente dita. 
Seja você esposa, amante, pai ou mãe, avô, ou simplesmente amigo, 
bem pode ajudar a vítima, independentemente da idade dela. Em 
sua tentativa de compreendê-la, lembre-se: ame a criança, pois ela 
não se ama; acredite no homem, pois ele não acredita em si mesmo; 
e, acima de tudo, ouça-o, pois ele não ouve a si próprio. A fim de 
sobrepujar esse problema, ele precisa percorrer a maior distância do 
mundo: a que vai de sua boca a seus ouvidos. 
 
 
 
PARTE I 
INTRODUÇÃO AO QUADRO 
1 
Reconhece este Homem-menino? 
 
 
CAPITÃO GANCHO: — Você tem algum outro nome? 
PETER PAN: — Hum, hum. 
GANCHO (ansiosamente): — Legume? 
PETER: — Não. 
GANCHO: — Mineral? 
PETER: — Não. 
GANCHO: — Animal? 
PETER (após consultas com um amigo): — Sim. 
GANCHO: — Homem? 
PETER (desdenhosamente): — Não. 
GANCHO: — Menino? 
PETER: — Sim. 
GANCHO: — Menino como os outros? PETER: — Não! 
GANCHO: — Menino maravilhoso? 
PETER (para consternação de Wendy): — Sim! 
 
Reconhece esta pessoa? A julgar pela idade, é um homem; porém, 
por seus atos, é uma criança. O homem deseja seu amor; a criança 
quer sua compaixão. O homem almeja a aproximação; a criança 
teme ser tocada. Se você enxergar além de sua máscara de orgulho, 
verá sua vulnerabilidade. Se desafiar sua audácia, sentirá seu medo. 
Você acha que conhece bem essa pessoa, mas a verdade é o inverso. 
As contradições são incômodas. As respostas são ambíguas. Fica até 
 
mesmo difícil encontrar as perguntas corretas. Contudo, olhe para 
seus filhos, ou para os de algum amigo, e pergunte-se: "Como seria 
se o corpo dele crescesse e sua mente parasse no tempo?" 
Este homem-menino é vítima de um mal grave. Se não for ajudado, 
amargará muito a vida. Não se trata de doença mental nem de 
incapacidade de convivência em sociedade. No entanto, ele é muito 
triste. Para ele a vida é uma perda de tempo. Ele se esforça por 
camuflar a tristeza com vivacidade e piadas. Em muitos casos isso 
engana, ao menos por alguns anos. Com o tempo, porém, aqueles 
que o amam vão se cansando de sua imaturidade. À primeira vista 
isso parece prematuro e até injusto. Mas analise melhor o quadro, e 
entenderá por que desejam livrar-se dessa pessoa. 
Sua tarefa é identificar esse homem-menino. Quanto antes 
reconhecê-lo, maiores suas chances de auxiliá-lo. Ele pode ser seu 
filho, seu marido, um tio ou um primo. Ou ainda um amigo, um 
vizinho, um colega de trabalho. Ou, se você é do sexo masculino, 
pode ser você! Quem quer que seja ele, pensa que não quer sua 
ajuda. Não a quer porque não sabe que precisa dela. Está tão 
acostumado a encarar a vida como uma caverna vazia que suas 
atitudes do tipo "não ligo a mínima" parecem normais. Se ele ousar 
gostar de alguém, ficará perturbadíssimo. Prefere a paz e a 
tranqüilidade da bela indiferença. 
Possivelmente você não conseguirá identificar esse homem 
enquanto ele tem pouca idade. O contraste entre esta e seu grau de 
maturidade será o primeiro indício. Uma vez identificado o 
problema, você poderá planejar a ajuda a oferecer ou, pelo menos, 
evitar contribuir para as dificuldades dele. Ao compreender a 
complexidade do quadro, você poderá perceber os primeiros sinais 
indicadores da síndrome. Se acaso você for pai ou mãe de um 
menino que apresente esses sinais, poderá aprender como 
interromper tal desenvolvimento deletério. 
O problema começa a aparecer cedo na vida de um homem. Quem 
sabe alguma criança em seu meio esteja agora atingindo o estágio 
 
de crise? Pode ser o filho do vizinho, um dos filhos de algum amigo, 
o líder do grupo de jovens de sua igreja, ou mesmo seu filho. 
Quanto mais íntimo desse menino, maior a probabilidade de você 
interromper o processo. 
A identificação desse homem-menino implica um processo de três 
passos. Este processo foi elaborado de modo que possa oferecer 
objetividade; conseqüentemente, tem um ar um tanto impessoal, 
algo parecido com os livros técnicos de psicologia, onde se estudam 
casos clássicos. 
Em primeiro lugar, defina seu campo de observação. Esse campo inclui 
sua casa, a vizinhança, seu local de trabalho e quaisquer outros 
lugares onde você passe um período significativo de tempo. Onde 
quer que você entre em contato com os outros — é aí que acabará 
vendo essa pessoa. Pode acontecer numa festa, numa reunião de 
Amigos do Bairro, num piquenique familiar, ou no escritório ao 
lado do seu. Se você for pai ou mãe sensível, pode ver este homem-
menino em miniatura à mesa do jantar. Se for uma mulher 
apaixonada, pode talvez vê-lo em sua cama. Se for um homem que 
pensa, pode até localizá-lo no espelho à sua frente. 
Em segundo lugar, assuma o papel de investigador social. Reúna 
dados preliminares, usando este perfil social do caso clássico: 
 
Perfil Social da Vítima 
Sexo: Masculino Idade: De 12 a 50 anos 
 
Cronologia sintomática: 
 
De 12 a 17 anos: Quatro sintomas fundamentais desenvolvem-se em 
graus variáveis: irresponsabilidade, ansiedade, solidão e conflitos 
relativos ao papel sexual. 
 
De 18 a 22 anos: Aparece a negação à medida que o narcisismo e o 
chauvinismo dominam o comportamento. 
De 23 a 25 anos: Período de crise aguda, durante o qual a vítima 
pode procurar ajuda queixando-se de uma vaga, mas profunda 
insatisfação com a vida. Geralmente interpretado como normal pelo 
médico ou terapeuta. 
De 26 a 30 anos: A vítima entra no estágio crônico, representando o 
papel de "adulto". 
De 31 a 45 anos: A vítima casou-se, tem filhos, um emprego estável, 
porém angustia-se por sentir a vida entediante e monótona. 
Após os 45 anos: Aumentam a depressão e a agitação à medida que 
se aproxima a andropausa (climaterio masculino). A vítima pode 
rebelar-se contra um estilo de vida indesejado e sem significado 
próprio, tentando recapturar sua juventude. 
 
Nível socioeconómico: classe média para alta. 
Aparência: Ele é visto como amável e agradável por pessoas que não 
o conhecem muito bem. Tem sorriso insinuante e deixa uma 
primeira impressão excelente. 
Condição financeira: Os mais jovens raramente se sustentam. Aos 
vintee poucos anos ainda moram com os pais, ou destes dependem 
financeiramente. Vítimas com mais idade podem apresentar uma 
situação segura, sentindo, contudo, que não a têm. Costumam ser 
mesquinhas, exceto com relação à satisfação de seus próprios 
desejos. 
Situação marital: Até aproximadamente os vinte e cinco anos, os 
homens costumam manter-se solteiros. Namoram mulheres mais 
novas, ou aquelas cujas ações sugerem imaturidade. Depois de 
casadas, em geral, estas mulheres acabam tendo que manter a 
vítima "na linha". Esta costuma preferir os amigos à família. 
Situação educacional: As vítimas mais jovens levam a faculdade "na 
brincadeira" e têm dificuldade em resolver o que desejam estudar. 
 
Raramente terminam o curso universitário no período normal. As 
vítimas com mais idade sentem-se insatisfeitas com o grau de 
instrução obtido, achando que deveriam ter ido além. Esses homens 
raramente são vistos como vencedores ou empreendedores. 
Situação profissional: Os mais novos têm uma história profissional 
bastante instável. Só trabalham quando sob pressão. Querem uma 
carreira, mas não querem "batalhar". Ofendem-se facilmente com 
relação a empregos que consideram "indignos" deles. Têm 
problemas empregatícios por causa de sua negligência. As vítimas 
de mais idade caem no extremo oposto. Trabalham duro, na 
tentativa de provar seu valor. Têm expectativas irrealistas em 
relação a si mesmos, a seus colegas de trabalho e a seus chefes. 
Vêem-se acometidos pela incômoda idéia de não ter encontrado o 
emprego "certo". 
Família: A vítima geralmente é o filho mais velho de uma família 
tradicional. Os pais permanecem casados e têm boa situação 
financeira. Provavelmente o pai é executivo de alguma empresa, 
enquanto a mãe considera o cuidar da casa e dos filhos como sua 
principal tarefa. Ela talvez trabalhe fora para aumentar.a renda 
familiar, embora não tenha ambições profissionais. 
Interesses: O grande interesse das vítimas mais novas são as festas. 
As mais velhas esforçam-se por se divertir em festas, mas também 
tendem a se envolver além de limites razoáveis em esportes 
comunitários. 
 
O terceiro passo no processo de identificação é a decisão de assumir 
o papel de investigador psicológico. Após reconhecer a vida da vítima 
externamente mediante a utilização do perfil social, use este perfil 
psicológico para avaliar sua vida interior: 
 
Perfil Psicológico da Vítima 
 
Sete traços psicológicos dominam a vida da vítima da SPP. Estão 
presentes em cada estágio de desenvolvimento, porém são mais 
perceptíveis durante o período de crise. No estágio crônico a vítima 
tende a esconder esses traços por trás de uma máscara de 
maturidade. 
Paralisia emocional: As emoções da vítima são inadequadas. Não são 
expressas da mesma forma com que são experimentadas. A raiva 
costuma emergir como fúria, a alegria toma a forma de histeria, e 
uma decepção transforma-se em autopiedade. A tristeza pode 
manifestar-se como alegria forçada, brincadeiras imaturas ou 
risadas nervosas. As vítimas mais idosas afirmam que amam você 
ou que gostam de você, mas não parecem capazes de expressar tal 
amor. Ironicamente, apesar de quando crianças haverem sido 
extremamente sensíveis, estes homens de modo geral parecem ser 
egocêntricos até a crueldade. Acabam chegando ao ponto de 
aparentemente se recusarem a compartilhar seus sentimentos. Na 
verdade, perderam contato com suas emoções, e simplesmente não 
sabem o que sentem. 
Procrastinação: Durante o estágio desenvolvimental, a jovem vítima 
adia as coisas até ser absolutamente forçada a fazê-las. "Não sei" e 
"não me importa" tornam-se sua defesa contra as críticas. Seus 
objetivos de vida são obscuros e mal definidos, principalmente 
porque ela adia para o dia seguinte pensar sobre eles. A culpa força 
a vítima mais idosa a compensar a procrastinação do passado, 
transformando se em alguém que precisa estar sempre fazendo 
alguma coisa. Ela simplesmente não sabe relaxar. 
Impotência nas relações sociais: Não importa quanto se esforcem: as 
vítimas não conseguem fazer amizades verdadeiras. Na 
adolescência são facilmente levadas pelos companheiros. Os 
impulsos assumem a prioridade sobre o sentido do certo e do 
errado. Procurar amigos e ser agradável a meros conhecidos têm 
precedência sobre as demonstrações de amor e a preocupação com a 
 
família. A vítima sofre de uma desesperada necessidade de 
pertencer a grupos; é terrivelmente solitária e entra em pânico se 
está só. Ela pode até mesmo tentar comprar amigos. Durante toda a 
vida tem dificuldade em sentir-se bem consigo mesma. Um falso 
orgulho constantemente impede a aceitação das próprias limitações 
(humanas). 
Pensamento magico: "Se eu não pensar nisso, acabará". "Se eu achar 
que é diferente, assim será". Estes exemplos refletem o "pensamento 
mágico" das vítimas, o qual impede que admitam honestamente 
para si próprias terem cometido erros, e praticamente as 
impossibilita de dizer "desculpe-me". Este processo irracional é uma 
defesa utilizada pelas vítimas para sobrepujarem sua impotência 
nas relações sociais e sua paralisia emocional, de vez que lhes per-
mite culpar outrem por seus enganos. Freqüentemente as leva ao 
abuso de drogas, pois crêem que, quando estão "loucas", seus 
problemas desaparecem. 
Conflitos com a mãe: Raiva e culpa causam uma enorme ambivalência 
em relação à mãe. As vítimas desejam libertar-se da influência 
desta, mas sentem-se culpadas toda vez que o tentam. Quando 
estão com a mãe, há sempre uma tensão no ar, pontilhada por 
momentos de sarcasmos seguidos de momentos de ternura reativa. 
Os mais jovens provocam compaixão de suas mães a fim de 
obterem o que querem, especialmente dinheiro. Ao discutirem têm 
repentes de ira, e depois desculpam-se de modo inconseqüente. Os 
mais velhos têm menos o senso de ambivalência e mais o de culpa 
por causa da dor que causaram a suas mães. 
Conflitos com o pai: A vítima sente-se alienada no relacionamento 
com o pai. Anseia aproximar-se, mas convenceu-se de que jamais 
poderá receber amor e aprovação de seu pai. Mesmo com mais 
idade, ainda idealiza o pai, não compreendendo suas limitações e 
muito menos aceitando seus defeitos. Boa parte da problemática da 
 
vítima com respeito a figuras de autoridade origina-se nos conflitos 
com o pai. 
Conflitos sexuais: A impotência social da vítima estende-se até o 
campo sexual. Logo após a puberdade o rapaz começa a buscar 
desesperadamente uma namorada. Contudo, sua imaturidade e 
maneiras tolas tendem a afastar a maioria das moças. 
Seu medo de ser rejeitado leva-o a ocultar sua sensibilidade por trás 
de uma atitude machista, cruel e impiedosa. Na maioria dos casos o 
jovem permanece virgem até entrar na casa dos vinte, coisa que o 
constrange e leva-o a mentir — freqüentemente a ponto de falar em 
estupro, gabando-se de como "ganhou", ou planeja "ganhar", as 
garotas. 
Uma vez rompida a barreira da virgindade, a vítima pode passar 
para o outro extremo, tendo relações sexuais com qualquer moça 
que o deseje — para provar a si mesmo que é potente. Quando 
decide ficar com uma, liga-se completamente a ela. Seu ciúme só é 
suplantado por sua habilidade em despertar nela a compaixão. 
O homem sente-se provocado (e pode até ficar furioso) frente às 
atitudes de afirmação ou de autonomia da mulher; ele precisa que 
esta seja dependente dele para que possa sentir que a está 
protegendo. Na realidade, ele sente-se impotente para lidar com 
uma mulher de personalidade marcante, que o trata de igual para 
igual, e por isso ele a inferioriza. Anseia partilhar sua sensibilidade 
com uma mulher, porém nega este lado de sua personalidade por 
temer que seus amigos o considerem um fraco e não um "homem". 
Nesta altura você provavelmente já identificou pelo menos um 
homem, em seu meio, como vítima deste quadro. É improvável que 
ele se ajusteperfeitamente à descrição que forneci. É mais provável 
que ele apresente alguns, não todos os atributos examinados. É raro 
o caso clássico existir na realidade. No próximo capítulo 
abordaremos a questão de modo menos objetivo, menos didático, 
digamos assim; passaremos a analisá-la mais subjetiva e 
 
vivencialmente. Então talvez você tenha de enfrentar o fato de que, 
em maior ou menor grau, este mal pode estar afligindo sua vida 
cotidiana. 
Isto nos conduz ao próximo passo: personalizar o processo de 
identificação. Para fazê-lo, você deve formular a seguinte questão: 
em que nível o homem em minha vida apresenta essa problemática? 
Sua resposta o ajudará a resolver o que deseja fazer (se é que o 
deseja) a respeito de sua realidade pessoal. 
 
Resumo 
Identificação: Homens que não amadureceram. 
Categorização: Síndrome de Peter Pan (SPP). 
 
 
 
2 
O Adulto Vítima da SPP —Teste 
 
 
PETER: — Como você se chama? 
WENDY (muito satisfeita): — Wendy Moira Angela 
Darling. E você? PETER (desconsolado com a brevidade de seu nome): 
— Peter Pan. WENDY: — Só isso? 
PETER (mordendo o lábio): — Só. 
WENDY (polidamente): — Sinto muito. 
PETER: — Está tudo bem. WENDY: — Onde você mora? 
PETER: — Segunda à direita e daí sempre em frente 
até a manhã. 
WENDY: — Que endereço engraçado! 
PETER: — Não é, não. 
 
WENDY: — Quer dizer, é isso que escrevem nas cartas? 
PETER: — Eu não recebo cartas. 
WENDY: — Mas sua mãe recebe? 
PETER: — Não tenho mãe. 
WENDY: — Peter! 
 
Trata-se de um mal com um nome simples, e sua identificação 
objetiva é relativamente simples. Entretanto, no que tange à 
subjetividade, determinar quem é portador deste mal pode ser tão 
desnorteante quanto tentar decifrar a localização de "segunda à 
direita e daí sempre em frente até a manhã". 
Deve-se ser cauteloso em rotular um homem adulto como vítima da 
Síndrome de Peter Pan. Na área do diagnóstico sempre se corre o 
risco dos "negativos verdadeiros" (a doença parece estar presente, 
mas não está realmente), e dos "positivos falsos" (a doença parece 
não estar presente, mas na realidade está). 
Para complicar ainda mais as coisas, muitos adultos possuem um 
ou dois atributos da Síndrome de Peter Pan sem, na verdade, 
apresentar a síndrome propriamente dita: digamos, uma 
imaginação fértil e um anseio de permanecerem jovens 
mentalmente. Tais traços não sugeririam inteligência e serenidade? 
A presença de um ou dois atributos da SPP não faz de um homem 
uma vítima da SPP; estar inconsciente por acaso significa que a 
pessoa está morta? Não se contente com a primeira impressão. Um 
homem é vítima da SPP apenas quando os atributos atrapalham seu 
funcionamento e seu desenvolvimento de relacionamentos 
produtivos com outras pessoas. Em outras palavras: os atributos da 
SPP tornam-se um problema quando o homem não mais se 
comporta de maneira infantil, mas simplesmente é infantil. 
Um teste simples ajudará a concluir se o homem em sua vida é ou 
não vítima da SPP. Para os homens que ousam analisar-se, este teste 
pode ser altamente revelador. Porém aviso: se você é vítima da SPP 
 
achará o teste tolo, irrelevante e sem sentido. Você pode até ficar 
irritado. Se isto ocorrer, eu diria que você está se sentindo ameaçado 
pela verdade e tentando ignorá-la, como faz com as outras coisas 
que o perturbam; isto é, assume uma atitude cínica rindo por fora, 
mas morrendo de medo por dentro. 
 
O Teste 
O teste é simples. Leia cada descrição comportamental e assinale o 
grau em que ela se aplica à pessoa em questão. O 0 significa que tal 
comportamento nunca ocorre; 1 significa que esse comportamento 
ocorre às vezes (por exemplo, aconteceu uma ou duas vezes 
espaçadas); 2 significa sempre (ou você mal se lembra de sua «5o 
ocorrência). 
Desde que este teste foi elaborado para esposas e amantes, foi 
escrito do ponto de vista de uma mulher observando seu 
companheiro. Se seu relacionamento com a vítima em potencial é 
diferente, modifique as sentenças onde for necessário para facilitar 
sua avaliação. 
0 1 2 Quando comete um erro, ele reage de forma despro-
porcional à situação, exagerando sua culpa ou procurando 
justificativas que o absolvam. 
0 1 2 Ele esquece datas importantes como aniversários. 
 0 1 2 Numa festa ele a ignora, mas faz o máximo para 
impressionar outras pessoas, especialmente as mulheres. 
0 l 2 É quase impossível para ele dizer "desculpe-me". 
0 1 2 Ele espera de você prontidão para relações sexuais quando ele 
está pronto, pouco levando em consideração sua necessidade de 
jogos introdutórios. 
0 1 2 Ele vai além dos limites para ajudar os amigos, mas 
deixa de fazer as pequenas coisas que você lhe pede. 
 
0 1 2 Ele só demonstra preocupação por você e por seus 
problemas, depois de você queixar-se da indiferença dele. 
0 1 2 Ele só toma a iniciativa em situações em que a atividade 
ou a diversão é do interesse dele. 
0 1 2 Ele parece ter enorme dificuldade em expressar seus 
sentimentos. 
0 1 2 Ele anseia aproximar-se do pai, porém qualquer con-
versa (presente ou passada) com ele é afetada, cerimoniosa e 
superficial. 
0 1 2 Ele não dá ouvidos a opiniões que divirjam das suas. 
0 1 2 Ele tem repentinos ataques de raiva, durante os quais 
recusa-se a acalmar-se. 
Ele fica tão intimidado com os desejos da mãe que chega a 
aborrecer-se com ela por ser tão exigente. 
0 1 2 Ele crê não ter um emprego à altura de sua capacidade, 
mas não faz nada a respeito além de reclamar. 
0 1 2 Faltam-lhe sinceridade e calor humano ao relacionar-se 
com outras pessoas, especialmente com o filho mais velho. 
0 1 2 Ao ingerir álcool, sua personalidade parece mudar; surgem 
um temperamento explosivo, falsas bravatas ou uma alegria 
exagerada. 
0 1 2 Para ele não é possível deixar de participar de algum 
divertimento ou evento com os amigos, indo muito além dos limites 
a fim de não ser deixado para trás. 
0 1 2 Ele expressa chauvinismo através de atitudes como: 
"Acho ótimo minha esposa trabalhar fora, contanto que a casa esteja 
sempre limpa". 
0 1 2 Ele parece ter temores inexplicáveis e falta de auto-
confiança, mas recusa-se a conversar a respeito. 
0 1 2 Ele a acusa de ficar histérica, enquanto ele próprio parece 
superior à situação. Quando você se zanga, ele fica impassível. 
 
Agora some os valores por você escolhidos. Use a seguinte 
classificação para julgar o grau em que o homem em questão está 
comprometido. 
0 a 10 Não é vítima da SPP. São apenas alguns sintomas, e nada 
muito sério. Se há alguma situação incômoda entre vocês, converse 
com ele a respeito. É muito provável que ela possa ser resolvida 
numa atmosfera de amor e cooperação. 
11 a 25 A SPP é uma grande ameaça real. Siga as instruções que 
seguem este teste e, se você é do sexo feminino, prepare-se para 
avaliar-se (ver Capítulo 13). Há algumas providências que você 
pode tomar para melhorar a situação; todavia tenha em mente que, 
quanto mais altos forem os índices nesta categoria, tanto mais terá 
que se esforçar. 
26 a 40 A Síndrome de Peter Pan está instalada. Se o homem não 
procurar ajuda para resolver seus problemas, é aconselhável que 
você discuta com um profissional da área sobre o que pode fazer 
para enfrentar a situação. Veja no Capítulo 13 como avaliar seu 
papel na situação. 
 
PROJETO DE MUDANÇA 
Releia o teste. Quanto mais alto o índice, tanto maior o cuidado com 
que você deve avaliar a gravidade de cada traço que sentiu estar 
presente. Mesmo que a Síndrome de Peter Pan esteja instalada em 
alto grau (índice por volta de 30), ainda há esperança. Essa revisão 
do teste poderá oferecer indícios para a elaboração de um projeto de 
mudança. 
Eis o próximo passo: trace numa folha de papel três colunas com os 
títulos "Nunca", "Às vezes" e "Sempre". Agora repasse novamenteo 
teste, porém desta vez rememorando os últimos seis meses; tão 
acuradamente quanto possível, situe cada traço comportamental na 
 
coluna apropriada. Foi assim que uma mulher de trinta e três anos 
completou este projeto de mudança para seu marido: 
Nunca 
Flerta 
Deixa de ouvir 
Repentes de raiva 
Relacionamentos frios 
Às vezes 
Desconsideração de minhas necessidades sexuais 
Esquecimento de datas 
Egoísta com relação à diversão 
Problemas com bebida 
Faz tudo para sair com os amigos 
Chauvinista 
Nega ter medos 
Sempre 
Reações desproporcionais diante dos erros 
Sem "desculpe"' 
Ajuda os amigos 
Indiferente 
Intimidado pela mãe 
Problema com o emprego 
Não expressa sentimentos 
Distante do pai 
Acima de tudo e de todos 
De acordo com a pessoa que respondeu ao teste, este homem obteve 
índice 25. Quando conversei com ela pela primeira vez sobre o 
índice do marido, surgiram contradições (ele era honesto e terno em 
seus relacionamentos, mas nunca expressava seus sentimentos). 
Tais inconsistências sugeriam que, por mais que ela se esforçasse, 
 
nunca conseguia ser totalmente objetiva. Embora parecesse existir 
algum problema, era provável que ela estivesse interpretando 
erroneamente algumas situações. Afinal de contas, ela amava esse 
homem e, portanto, havia desvios em alguns de seus julgamentos. 
Assim, seu projeto de mudança poderia servir de linha mestra em 
sua análise de como lidar com a SPP do companheiro. Poderia 
também ser útil para relembrá-la de que, ao avaliar o marido, ela 
tinha de levar em consideração a influência de seus próprios 
pensamentos e sentimentos. 
Se você realmente se dispõe a ajudar uma vítima em potencial da 
SPP, necessitará desse projeto como um guia. Depois de elaborá-lo, 
ponha-o de lado, enquanto decide qual o passo seguinte. 
Você poderá tomar essa decisão, colocando-se três perguntas e 
selecionando a que mais deseja ver respondida. As perguntas são 
estas: 
Como foi que ele ficou assim? 
Em que ele está pensando? 
O que posso fazer para ajudá-lo? 
Se "Como foi que ele ficou assim?" é a pergunta mais importante 
para você, então gostará de ler os capítulos de 4 a 9. Neles você 
descobrirá os complexos detalhes do desenvolvimento de uma 
vítima da SPP — como uma criança recua diante da realidade e 
refugia-se na segurança da Terra do Nunca. 
Se "Em que ele está pensando?" é o que mais a preocupa, chamo sua 
atenção para o Capítulo 7, especialmentte para a seção final. É com 
o desenvolvimento do conflito em relação ao papel sexual no fim da 
adolescência que a personalidade tipo Jekyll/Hyde começa a 
formar-se. 
Se "O que posso fazer para ajudá-lo?" é a sua questão central, 
recomendo o Capítulo 13. Nele eu a desafio a confrontar não apenas 
os traços que mais a aborrecem em seu companheiro, como também 
a analisar-se criticamente. É provável que você não se surpreenda 
 
ao descobrir que pode estar inconscientemente reforçando a 
Síndrome de Peter Pan. 
Seja qual for seu próximo passo, sugiro que dedique alguns minutos 
para familiarizar-se com a sintomatologia geral da Síndrome de 
Peter Pan contida no capítulo que se segue. Uma compreensão 
dessa sintomatologia irá auxiliá-la a fincar pé no chão e a resistir à 
tentação de fugir da realidade, fingindo que não há nada de errado. 
 
 
 
 
3 
A Síndrome de Peter Pan: Quadro Geral 
 
 
PETER: — Você me poria na escola? 
SRA. DARLING (amavelmente): — Sim. 
PETER: — E depois eu teria que trabalhar? 
SRA. DARLING: — Acho que sim. 
PETER: — Logo eu seria um homem? 
SRA. DARLING: — Logo, logo. 
PETER (com veemência): — Não quero ir para a escola e aprender 
nada sério. Ah, minha senhora, ninguém vai me pegar e me 
transformar em gente grande. Eu quero ser sempre um menininho e 
me divertir. 
 
 
Todos recordamos a constrangedora história de Peter Pan, certo? 
Aquele despreocupado menino meio efeminado que se recusava a 
crescer. Foi Peter quem nos mostrou o encanto da juventude eterna. 
Foi Peter quem enfeitiçou e deu fim ao Capitão Gancho. Sua canção 
e sua dança quebraram o coração do cruel pirata e o conduziram 
por uma passagem autodestrutiva do tombadilho do navio para os 
dentes do vigilante e voraz crocodilo. 
Peter Pan simboliza a essência da mocidade. A alegria. O espírito e 
o vigor inesgotável. Em suas aventuras com a fada Sininho e as 
demais crianças, ele desperta a criança dentro de todos nós. Ele nos 
atrai. Ele é maravilhoso. Ele nos estende a mão de um fiel 
companheiro de folguedos. Quando permitimos que Peter Pan 
toque nosso coração, nossa alma nutre-se da fonte da juventude. 
Contudo, quantas pessoas percebem o outro lado da clássica 
personagem criada por J. M. Barrie? Há entre nós céticos que leiam 
nas entrelinhas deste inquietante conto? Você já parou para pensar 
em por que Peter queria permanecer jovem? Claro, é duro crescer, 
mas Peter Pan evitava isso a todo custo. O que o fez rejeitar todas as 
coisas do mundo adulto? O que é que ele realmente buscava? Será 
tão simples quanto o texto da obra faz parecer? Seu desejo de 
permanecer jovem não era na verdade uma rígida recusa a 
amadurecer? Se assim é, qual era seu problema? Ou problemas? 
Uma leitura cuidadosa do original de Barrie abriu meus olhos para 
uma realidade assustadora. Embora eu desejasse muito acreditar no 
contrário, Peter Pan era um rapaz muito triste. Sua vida era cheia de 
contradições, conflitos e confusão. Seu mundo era hostil e 
impiedoso. Apesar de toda aquela jovialidade, ele era um menino 
profundamente perturbado, vivendo numa época ainda mais 
perturbadora. Ele resvalou no abismo entre o homem que não 
desejava tornar-se e o menino que não podia mais ser. 
Perdoem-me por usar o conhecimento psicológico para desenterrar 
uma história dada como leve e divertida. Mas sinto-me plenamente 
 
justificado. Uma análise séria desse conto não somente propicia 
uma alegoria didática dos caprichos dos jovens, como ainda 
delineia uma realidade apavorante da qual devem conscientizar-se 
os profissionais da área. Sem que muitos pais e professores 
percebam isso, inúmeros de nossos meninos estão 
inconscientemente seguindo o exemplo de Peter Pan. 
Com crescente freqüência, o pouco conhecido lado de Peter Pan 
vem conquistando corações e almas de um significativo segmento 
de nossa população de meninos. Se não forem libertados, sofrerão 
contínuos conflitos emocionais e sociais. Estou certo de que Peter 
não se aborreceria por eu usar sua história para ajudar outros. Na 
verdade, duvido que ele ligasse para isso. 
As crianças de hoje vivem numa época conturbada; aliás, não 
diferente da turbulência que cercava Peter Pan e sua serena Terra 
do Nunca. Diversamente de nosso travesso herói, porém, é 
impossível às nossas crianças evadirem-se e permanecerem jovens 
para sempre. 
Tal como os contemporâneos de Peter, quem mais está sofrendo são 
as crianças do sexo masculino. Em muitos países, rapazes estão se 
recusando a amadurecer. Milhares, talvez até centenas de milhares, 
encaminham-se para um estágio de vida que os assusta. 
Apavorados, apressam-se a engrossar as fileiras da legião dos 
meninos perdidos. Mais cedo ou mais tarde vários deles superam 
seus temores da vida adulta e desertam da legião. Todavia muitos 
outros rendem-se ao medo e submetem-se à convicção de estarem 
perdidos. A legião dos meninos perdidos tem membros de todas as 
idades. Muitos homens adultos "bem-sucedidos" ainda se 
comportam como os meninos da legião de Pan. 
É mais fácil identificar os membros mais moços. Eles constituem 
uma oportunidade de estudo de contrastes. Externamente não há 
nada de errado com eles. Pelo contrário, são umas jóias raras: 
inteligentes e belos, sensíveis e sinceros, a concretização dos sonhos 
 
e esperanças de todos os pais. Contudo, se permanecem na legião 
por muito tempo, seu comportamentotorna-se um tanto estranho. 
Distanciam-se da realidade, deleitam-se com as ervas naturais do 
solo, brincam de fada e fogem às responsabilidades adultas. 
Estas reencarnações de Pan fazem eco à sua apaixonada rebeldia 
expressa no início deste capítulo. Eles não querem nada com o 
estudo, com o trabalho, nem com qualquer outra coisa vinculada ao 
adulto. Seu desejo é fazer tudo o que for possível a fim de 
permanecerem sendo o que são: crianças que não querem crescer. 
A maioria de nós já acalentou esta fantasia em alguma fase da vida. 
É perfeitamente normal polvilhar um pouco de pó mágico na 
cabeça, principalmente quando se é jovem. Aí pode-se voar para a 
Terra do Nunca acompanhando os amigos de brincadeiras infantis, 
ou simplesmente escapar à realidade nas asas das próprias 
fantasias. Certamente não há nada de errado em desejar reunir-se a 
Peter Pan e seus frívolos companheiros. Quer dizer: contanto que se 
retorne da Terra do Nunca, quando chega a hora de relacionar-se com o 
mundo real. 
Lembro-me de meu encontro com Peter Pan e seu pó mágico. Não 
fiquei invisível aos adultos — o que acontecia a Peter; mas assim 
mesmo tentei um dia voar como ele saltando do alto do galinheiro, 
tal qual meus amigos emplumados. A 
natureza me deu uma lição prática (e dolorosa) sobre a realida- 
de. Eu também disse à minha avó que não ia crescer nunca. Ela 
foi gentil e compreensiva ao responder: "Que bom, Danny. 
Agora vá para a horta e cuide dos tomates". 
A realidade neutraliza os poderes do pó mágico. Se os pais, 
professores e demais adultos envolvidos ajudarem a criança a lidar 
com a realidade, os efeitos de Peter Pan e sua legião rapidamente se 
esvaecerão, permanecendo apenas uma fonte de recordações 
agradáveis. Mas se as crianças entram na adolescência totalmente 
envolvidas na busca da juventude eterna, grandes problemas 
surgem à medida que a realidade vai se tornando nebulosa. E se 
 
atingirem o início da casa dos vinte anos com a mesma atitude 
perante a vida, uma séria crise de identidade as acometerá durante 
essa década. 
Existem muitos rapazes cujas imitações de Peter Pan acabam 
trazendo conseqüências deprimentes. Começam como todos nós, 
tomados pelo fascínio da eterna juventude. Contudo, por uma série 
de razões, chegam a um ponto em que os devaneios sobre a Terra 
do Nunca transformam-se em desastroso pesadelo. Alguns se 
recuperam, mas um crescente número deles não. Seu filho talvez 
seja uma vítima; e também seu marido. 
As crianças que seguem os passos de Peter Pan acabam por 
experimentar um grave problema psicológico que em geral conduz 
à desadaptação social. Muitas se comportam inadequadamente nas 
esferas emocional e interpessoal. Sentimentos de isolamento e de 
fracasso se apoderam delas ao se depararem com uma sociedade 
pouco paciente com os adultos que agem como crianças. Porém as 
pessoas desta sociedade não vêem motivos para se sentirem mal. 
Consideram a situação temporária e, portanto, esforçam-se ao 
máximo por ignorá-la. É desnecessário dizer que a situação piora. 
Pelo fato de o problema espelhar a vida ficcional de um herói 
clássico, facilitando assim sua explanação e compreensão, não 
duvidei em optar pela conveniência de intitular esse quadro 
Síndrome de Peter Pan — ou, abreviando, SPP. 
A SPP tem raízes no início da infância. Entretanto ela só começa a 
manifestar-se na puberdade, aproximadamente aos doze anos. 
Entre os doze e os dezoito anos, quatro sintomas se desenvolvem 
lentamente nos meninos que ainda não renunciaram à busca da 
eterna juventude. Cada sintoma é produto das pressões exercidas 
pela sociedade moderna sobre a família e, em última análise, sobre a 
criança. 
Dos dezoito aos vinte e dois anos, dois ou três sintomas emergem, 
ambos fomentados pelos quatro sintomas básicos. Estes dois 
sintomas intermediários fixam o problema, e preparam o cenário 
 
para o período de crise. Durante essa crise o jovem tem de enfrentar 
e de resolver vários anos de pensamento mágico e de um 
desenvolvimento falho do ego. Se não é bem-sucedido nesse 
processo, provavelmente será presa da SPP por um extenso lapso de 
tempo, talvez pelo resto da vida. 
Apresento brevemente a seguir os seis sintomas e a pressão social 
que age como catalisador no desenvolvimento de cada um deles. 
IRRESPONSABILIDADE 
Atitudes permissivas vêm permeando nossa literatura, nossos 
meios de comunicação e filosofias educacionais há mais de trinta 
anos. Estes passam aos pais a noção de que, na criação dos filhos, 
devem evitar o uso da autoridade e da punição, e jamais estabelecer 
ou forçar os limites no espaço de crescimento da criança. 
Os pais que adotam este método promovem o desenvolvimento da 
irresponsabilidade. Não falo de preguiça nem de pequenas 
negligências, mas de uma completa irresponsabilidade que leva a 
criança a acreditar que as regras não se aplicam a ela. 
Quando tal irresponsabilidade segue sem ser questionada, as 
crianças deixam de aprender hábitos básicos relativos ao cuidado de 
si próprias. Um fracasso nas pequenas coisas (limpeza, boas 
maneiras, método) pode avolumar-se até dar lugar a uma 
indolência que destrói a autoconfiança. A criança pensa: "nunca 
conseguirei lidar com as coisas grandes, já que nem sei lidar com as 
pequenas". 
ANSIEDADE 
As vítimas da SPP são cheias de ansiedade. Logo a tensão começa a 
dominar a atmosfera do lar. E vai crescendo a cada ano. 
Ela cerca a criança, tornando-se finalmente o pano de fundo de 
todas as cenas cotidianas. A causa dessa ansiedade flutuante é a 
infelicidade dos pais. 
 
Os pais das vítimas de SPP sentem-se insatisfeitos com seu 
casamento e consigo mesmos. As razões para esse descontenta-
mento são várias e complexas. Algumas das mais importantes são: 
falta de calor humano e de participação, desproporção na relação 
trabalho/lazer, autodisciplina deficiente e subversão dos papéis e 
dos valores tradicionais. 
A infelicidade de cada um dos pais tem efeito diverso sobre a 
criança. O pai camufla sua dor adotando a atitude do "cara durão", e 
utiliza expressões triviais para demonstrar seu interesse ("Ei, 
homem não chora!" Ou "Ah, isso logo passa!"). O resultado é um 
retraimento na relação pai/filho, onde o filho vê o pai como um 
enigma e uma pessoa de cujo amor e aprovação jamais será 
merecedor. A ansiedade é como uma dor persistente. 
A mãe tenta sofrer em silêncio, mas fracassa. Ela exibe seu martírio 
como uma medalha de guerra, e simula satisfação diante da 
perspectiva de sacrificar sua vida pelos filhos ("Eu realmente nunca 
quis nada para mim além de sua felicidade"). O filho percebe esse 
isolamento e descontentamento. Fica tentando culpar o pai, mas não 
o faz porque precisa de seu amor. Então culpa a si próprio, 
concluindo que a mãe tem boas razões para rejeitá-lo. Esta idéia 
irracional persegue-o constantemente e provoca nele uma ansiedade 
semelhante a um troar ensurdecedor. 
Na maioria dos casos os pais fingem ser felizes. Temem encarar seus 
sentimentos e a verdade. A evitação é facilitada pelo fato de não se 
sentirem muito incomodados, mas apenas muito descontentes. 
Assim, simulam falsos sorrisos e promovem atividades familiares 
nas quais a alegria é forçada; servem-se de palavras bombásticas 
que parecem ricas de significado, mas não têm nenhum conteúdo. 
Aos olhos de um observador leigo nada há de errado com essas 
famílias. Elas parecem bem ajustadas e costumam ser objeto de 
inveja dos vizinhos; contudo, essa aparência externa é ilusória. Na 
verdade, o espectro da inquietação espalha-se como um câncer 
 
emocional, devorando a segurança e a paz de espírito da criança. Os 
pais em gerai não assumem, mas estão juntos por causa dos filhos. 
Não deveriam. Os filhos sofrem por isso. 
 
SOLIDÃO 
As famílias de vítimas da SPP geralmente são abastadas. Os pais 
dão aos filhos dinheiro em vez de tempo. Não ajudam ascrianças a 
aprender como ganhar dinheiro, de modo que elas consideram a 
comida, casa e segurança coisas "caídas do céu", e concentram suas 
energias em encontrar novas maneiras de obter prazeres. 
Prodigalidade sem restrições tem um efeito muito prejudicial sobre 
as crianças. O valor do trabalho é o primeiro a desaparecer, pois os 
filhos consideram o prazer um direito e não um privilégio obtido 
pelo trabalho. Então, com tempo demais à disposição e escassez de 
segurança em casa, procuram sua identidade num grupo. Querem 
desesperadamente achar um lugar ao qual sintam pertencer. 
Em estado quase de pânico, os filhos são seduzidos pelos anúncios 
dos meios de comunicação de massa, os quais apregoam que a 
chave para o "fazer parte" é fazer o que "todo mundo" faz. 
Conseqüentemente a pressão dos amigos invade todos os aspectos 
de suas vidas, compelindo-os a "fazer parte", não importa a que 
preço. A pressão em direção do "ser igual aos outros" esmaga seu 
espírito de liberdade e priva-os da pouca autoconfiança que 
possuem. Eles despendem tanta energia para evitar a rejeição que 
mal têm tempo de apreciar as vantagens do "fazer parte". O 
resultado é a solidão. A solidão é hoje um grande problema. Ela 
afeta tanto os adultos quanto as crianças, sendo que estas pagam o 
maior preço. As vítimas da SPP, ansiosas e irresponsáveis, são 
golpeadas pela solidão que emocionalmente as traga como areia 
movediça. Elas necessitam desesperadamente de amigos; no 
entanto, quanto mais se esforçam, pior se sentem. Muitos apelam 
 
para o abuso de drogas, para a promiscuidade sexual e outros 
vícios, na busca infrutífera de salvação. 
Solidão e riqueza tendem a caminhar juntas. Crianças que não 
avaliam a importância do trabalho não têm muita chance de se 
orgulhar de suas realizações. Sem um honesto orgulho, são mais 
passíveis de ser dominadas pela pressão grupai do que as crianças 
cuja sobrevivência não é tão facilmente garantida. 
As crianças pobres das grandes cidades têm uma necessidade 
premente de "fazer parte", porém esta necessidade tem de enfrentar 
as preocupações relativas à segurança e proteção físicas. Esta 
condição retarda o desenvolvimento da Síndrome de Peter Pan. 
Os meninos de zonas rurais têm mais oportunidade de aprender 
bons hábitos de trabalho, o que frustra o desenvolvimento da SPP. 
Se você puder aceitar a premissa de que a riqueza contribui para a 
solidão, verá por que afirmo que a SPP é um mal suburbano. Com 
raras exceções, a SPP afeta crianças das classes média e alta. Logo 
você verá por que essas crianças são exclusivamente do sexo 
masculino. 
CONFLITO RELATIVO AO PAPEL SEXUAL 
Durante os últimos dez ou quinze anos, os acontecimentos políticos 
e a estratégia adotada pelos meios de comunicação vêm colocando 
nossos meninos num terrível conflito relativo ao papel sexual. Este 
conflito resulta do fato de nossas crianças ouvirem mensagens como 
estas: 
Meninos e meninas, é hora de crescerem, e já! A disposição sexual é 
a chave para você conseguir isso. É fácil passar das fraldas para o 
namoro rapidamente se você "batalhar" para isso. Se fracassar, é 
porque você é "careta". 
As meninas já podem assimilar todas as características tradicio-
nalmente tidas como masculinas. Estas incluem, entre outras, a 
obstinação, a resistência, a auto-afirmação, a procura de satisfação 
 
sexual e a independência financeira. Estes são os atributos que 
garantem a aprovação social e política. Se você não os possui, que 
pena! 
A fim de merecerem "fazer parte" e ser aceitos pelo grupo, os 
meninos devem apegar-se ao papel de machos. Portanto, não aja 
como menina. Isto significa que você não deve: expressar 
sentimentos, admitir fraquezas, ser sensível, renunciar à 
possibilidade de uma conquista sexual e jamais depender de uma 
mulher. Se você ousar assumir algum desses traços femininos, será 
rejeitado por seus companheiros. Será considerado "bicha", fora de 
seu grupo. 
Às meninas permite-se vivenciar tanto os aspectos femininos 
quanto os masculinos de sua personalidade. Freqüentemente são 
pressionadas a fazê-lo, quer queiram quer não. Não se considera 
mais "mulher-macho" ou "sapatão" a menina que deseje jogar 
basquetebol, por exemplo. 
 
Mas isso não se permite aos meninos. Apesar de toda a retórica em 
contrário, a maioria dos meninos ainda não tem o direito de chorar, 
ao menos na frente dos amigos. Todavia, se possuem laços 
familiares fortes, podem romper com essas expectativas rígidas, 
penetrar em território tradicionalmente feminino, e acabar achando 
outros homens iguais a eles. 
Aos meninos que não contam com o apoio familiar restam duas 
opções: ou capitulam diante da chantagem de uma possível rejeição 
do grupo e suprimem a ternura, a sensibilidade e quaisquer outros 
traços considerados fraquezas, não admitindo nunca se sentirem 
alienados e solitários, ou abandonam o campo heterossexual e 
atualizam o lado feminino de suas personalidades, unindo-se a 
certos segmentos da comunidade homossexual que alimentam essa 
atitude. Obviamente não estou dizendo que todos os homossexuais 
 
masculinos o são devido à SPP (embora alguns homossexuais 
realmente se ajustem à descrição da vítima da SPP). 
É irônico e triste que haja considerável apoio político para os 
movimentos feministas e pelos direitos do homossexual, mas nada 
se faça para fortalecer o moral do homem que deseja permissão para 
chorar nos braços da mulher que ama. 
NARCISISMO E CHAUVINISMO 
Estes são os dois sintomas intermediários que emergem nos estágios 
finais da Síndrome de Peter Pan. O narcisismo geralmente precede o 
chauvinismo, proporcionando à vítima um método sistemático de 
projeção das próprias inseguranças sobre outrem. O pensamento 
mágico atinge o ápice neste período, afastando a vítima da 
realidade e fomentando atitudes situadas na fronteira do bizarro. O 
narcisismo fecha o jovem no domínio das próprias fantasias e 
impede o crescimento pessoal advindo de relacionamentos 
significativos com outras pessoas. 
O chauvinismo associado à SPP é muito mais sutil que a altamente 
visível variedade comumente exibida por tiranos e fanfarrões. Ele 
protege a vítima narcisista de decepções e sofrimento sentimentais, 
dando-lhe um "papel adulto" promissor de aceitação, conquanto 
superficial, dos companheiros. As mulheres que se apaixonam por 
vítimas da SPP ficam absolutamente perplexas quando finalmente 
se dão conta do chauvinismo. Ele aparece tão sub-repticiamente que 
a mulher acha que ela é quem tem algum problema. 
O narcisismo e o chauvinismo, juntamente com a irrespon-
sabilidade, a ansiedade, a solidão e o conflito relativo ao papel 
sexual, completam a estrutura sobre a qual assentará o período de 
crise da Síndrome de Peter Pan. 
ESTILO DE VIDA PIRÁTICO 
 
Numa meticulosa leitura dos comentários de Barrie, encontrei o 
conceito que procurava para resumir o padrão comportamental da 
vítima da SPP. Ao fim do Quinto Ato, Cena I, vemos que Peter Pan 
derrotou completamente o Capitão Gancho. O pirata malvado 
comete suicídio atirando-se ao mar e projetando-se nas mandíbulas 
do crocodilo. O autor então comenta: 
Ergue-se a cortina mostrando PETER como um perfeito Napoleão em seu 
navio. A cortina não deverá erguer-se novamente para que possamos vê-lo 
na popa, com o chapéu e os charutos de GANCHO, e com uma pequena 
garra de ferro. 
Barrie sugere que o alter ego de Peter Pan é um pirata. Num dado 
tempo e num determinado espaço, Peter poderia tornar-se tão 
desapiedado e insensível quanto Gancho. Acho isso bem plausível. 
É por isso que sumarizo o estilo de vida da vítima da SPP em uma 
palavra: pirático. 
As vítimas da Síndrome de Peter Pan são uns folgados. Têm 
propensão para risadas ruidosas e para uns bons tragos de qualquer 
bebida alcoólica, e estão sempre procurando divertir-se com um 
grupinho de "adoráveis" meretrizes.São capazes de maldades e de atos inescrupulosos e podem cantar e 
dançar enquanto estão roubando os tesouros da vida alheia. Se 
sentem que você lhes fez algum mal, são tomados de fúria 
instantânea e põem-na(o) a nocaute, ou atravessam seu coração com 
uma promessa e uma mentira. Invadem suas águas territoriais e se 
ofendem com a sua indignação. Se irritados por uma segunda vez, 
farão você caminhar sobre brasas. Então, depois de pilharem 
totalmente seu coração, navegarão em direção ao poente fingindo 
não sentir nenhum remorso nem preocupação. 
 
Pessoas que já foram maltratadas pelo comportamento pirático de 
vítimas da SPP costumam concluir que esse pirata pretensioso não 
 
sente nenhuma preocupação pelo que fez. E é isso que ele quer que 
você ache. Mas pare e raciocine: os piratas não têm lar. Eles anseiam 
por um lugar que possam dizer que é seu. Consomem-se numa 
inquietação que os força a prosseguir na interminável viagem em 
busca da paz de espírito. 
Assim, apesar de a vítima da SPP "roubar" sua confiança, não pode 
usá-la. Confiança nada significa sem amor por si mesmo, e é esse o 
item crucial que falta na vida da vítima. Seu comportamento 
pirático é apenas um consolo temporário no meio de uma vida 
tempestuosa. 
O Capitão Gancho, refletindo sobre a dor e o prazer derivados de 
sua perfídia, coloca isto melhor que eu: 
As crianças deste navio agora vão para a prancha. Esta é a minha 
hora de triunfo! E no entanto algum espírito diabólico me compele a 
fazer um discurso por minha morte, pois posso não ter tempo para 
fazê-lo quando ela chegar. Todos os mortais me invejam; todavia, 
quem sabe não teria sido melhor para Gancho se ele tivesse sido 
menos ambicioso! 
[Após curta interrupção] 
Nenhuma criança me ama. Dizem que as crianças brincam de "faz 
de conta que eu sou Peter Pan", e que é sempre o mais forte que 
quer ser Peter. Elas preferem ser qualquer outro que não o Gancho; 
forçam o mais pequenino a ser o Capitão Gancho. O menorzinho! É 
aí que aparece o câncer. 
É indiscutível a presença do desalento, bem como do arre-
pendimento. Porém não se trata de um arrependimento nascido de 
uma compreensão da natureza do mal feito. Trata-se mais de uma 
espécie de perplexidade brotando da vaga sensação de que as coisas 
não estão se desenrolando conforme os planos. É manifesta a 
ausência de uma auto-avaliação. É quase impossível ao pirata e à 
vítima da SPP suporem poder ter provocado o próprio infortúnio. 
 
Em vez de se arrependerem de seus erros, simplesmente cedem ao 
remorso decorrente da incapacidade de achar alguém a quem 
possam culpar. 
Se você conhece alguma vítima da SPP, sua primeira reação é 
rejeitar esta analogia pirática. Você se agarra à idéia de que ele só é 
um pouco imaturo para a sua idade. Incomoda encarar a 
possibilidade de que alguém tão importante possa ser tão egoísta. É 
preferível ele roubar sua carteira a trair sua confiança. Mas ele não é 
nenhum criminoso, nem doente mental. Ele é um pirata moderno 
navegando a esmo num mar de solidão. 
HÁ CURA PARA A SÍNDROME DE PETER PAN? 
A SPP não é um mal fatal (embora algumas de suas vítimas 
cometam suicídio). Ela é, contudo, devastadora no que toca ao bem-
estar emocional do indivíduo e de sua família. Quando a SPP se 
apresenta completamente desenvolvida, o amadurecimento é 
bloqueado por uma procrastinação fatalista, pelo pensamento 
mágico e irracional e por uma sistemática negação que atinge o 
bizarro. 
Aqueles que amam esses homens frustram-se por completo. As 
vítimas da SPP querem desesperadamente sair do buraco; estenda-
lhes a mão, porém, e será golpeado no coração. Clamam por 
atenção; contudo, quando você tenta ajudá-los, riem-se in-
ternamente de sua insensatez em atendê-los. Os mais idosos têm 
consciência da própria condição, mas recusam-se completamente a 
procurar ajuda ou dela beneficiar-se. Alguns de vocês reconhecerão 
um amigo ou um ser amado como vítima da Síndrome de Peter 
Pan. E ser-lhes-á fácil concordar com a frustração descrita. A gente 
fica sem saber se lhes dá um abraço ou um tapa. 
Trabalhei com esses homens por muitos anos. Vi a Síndrome de 
Peter Pan em seus primeiros estágios, e testemunhei a destruição 
que é seu ápice na meia-idade. 
 
Como você pode imaginar, é duro conseguir que as vítimas se 
entreguem a uma psicoterapia. Internamente elas são tão 
desconcertantes que diversas vezes me vi tentado a pôr grades nas 
janelas de meu consultório para impedir que saíssem voando. Na 
verdade, se tivessem acesso ao pó mágico, com certeza partiriam 
para uma Terra do Nunca subjetivamente criada. 
Meu primeiro encontro com uma vítima da SPP geralmente ocorre 
entre o início de sua adolescência e os vinte e cinco anos de idade. 
Tipicamente esse jovem vive na casa dos pais e estuda ou trabalha 
meio período, com pouco sucesso. Professa-se um heterossexual 
plenamente realizado; na verdade, porém, sente-se muito pouco à 
vontade junto às mulheres. Seu desrespeito e sua irresponsabilidade 
levam seus pais a se preocuparem seriamente com o seu futuro. 
Por uma razão que vocês entenderão mais tarde, é a mãe da vítima 
que acaba conseguindo coagir o filho a procurar ajuda. A ameaça é 
vaga, mas peremptória: "É melhor você dar um jeito em sua vida, ou 
então. . . " 
A mãe não costuma explicitar o que "ou então. . . " significa, mas o 
filho apreende a mensagem: "ou vai, ou a 'mamata' acaba". 
Eu apostaria que a mãe não poria em prática a ameaça, mas o filho 
não deseja correr esse risco. Ele também não quer arriscar-se a ferir 
o coração materno. Assim, ele vem a meu consultório ao menos 
uma vez. Com ares de hostilidade, mas vem. 
Nem bem sentou-se e já começa a reclamar da chantagem da mãe. 
"Não preciso de psiquiatra. Não sou louco. Mas se eu não viesse, ela 
ia continuar me enchendo até eu vir". 
Raramente a vítima admite estar explorando os pais numa idade em 
que já deveria estar cuidando da própria vida. Nem parece disposta 
a falar sobre sua solidão e irresponsabilidade. O prognóstico não é 
bom. Os alicerces e os sintomas intermediários acham-se 
firmemente fincados. 
 
Quando reajo às queixas sobre sua mãe, ele se contorce numa reação 
de culpa. Quase em pânico, escusa-se: "Não foi nada disso que eu 
quis dizer. Não me leve a mal. Minha mãe é ótima. É só que. . . bem, 
acho que ela se preocupa comigo. Mãe é mãe, né?" 
Quando assinalo sua reação defensiva, fica ainda mais nervoso. A 
hostilidade começa a emergir. "Ei, eu não percebi o que tinha dito. 
Esquece, tá? Vamos falar de outra coisa". 
Mudamos o assunto, pois sei que isso não fará a menor diferença. 
Qualquer que seja o tema escolhido, o jovem me "gela", dando de 
ombros, falando monossilabicamente, e usando outras formas 
negativas de resposta a fim de esfriar minha indagação. Ele calcula 
que, mostrando-se frio e descompromissado, me forçará a desistir 
de questioná-lo, e poderá ir dizer à mãe que sim, que foi, e o médico 
não achou nada de errado nele. 
Muitas das vítimas mais jovens são participantes involuntárias da 
psicoterapia. Sendo assim, o processo termina antes de começar. 
Contudo, há casos em que a persistência na reflexão sobre a ligação 
irrealística do jovem com sua mãe conduz a um desfecho produtivo. 
O progresso é lento e entediante. 
Se uma vítima em potencial é atendida antes que o conflito referente 
ao papel sexual se manifeste por inteiro, as chances de uma 
mudança construtiva são boas. Porém, uma vez que a inadequação 
sexual esteja reprimida, o narcisismo e o chauvinismo instalam-se 
metodicamente, e a confrontação resulta em aumento da hostilidade 
e em fuga. 
Se a resistência ao tratamento é definitiva, a maior parte dos jovens 
sai de casa e casa-se. O pó mágico da Terra do Nunca torna-se parte 
de suas almas. Fingem ser felizes com a esposa e a família. Afirmam 
para si mesmos que estão satisfeitos com o trabalho. Negama 
dolorosa evidência de que seus corpos estão enfraquecendo. Têm 
muitas amizades aparentemente duradouras, mas que na realidade 
são superficiais e transitórias. E, como na adolescência, continuam a 
 
divertir-se. Para muitos, o abuso de bebidas alcoólicas é 
considerado um ato social. Outros compulsivamente procuram 
"casos". Sua negligência é justificada como necessidade de relaxar. 
O desalento torna-se um companheiro constante, enquanto a 
solidão toma proporções monstruosas. 
A prevenção da Síndrome de Peter Pan é relativamente fácil. 
Quanto mais cedo a vítima em potencial começar a ser tratada, 
melhor. Tenho certeza de que, se você apreender a totalidade do 
quadro da Síndrome de Peter Pan, será levado pelo impulso de 
ajudar de toda maneira possível. Pois, apesar da raiva, da negação e 
da negligência, as vidas das vítimas da SPP são cheias de tristeza. 
Não existe outra forma de descrever essas vidas. É realmente triste 
que pessoas tão incríveis tenham sido crianças que se evadiam à 
realidade e fingiam viver num perpétuo estado de jovial felicidade. 
Acontece que essa Terra do Nurca acaba transformando-se numa 
terra deserta e estéril. Se permitirmos que permaneçam lá, 
transformam-se em adultos cuja Terra do Nunca vira uma prisão de 
onde é quase impossível escapar. 
Nessa prisão a solidão enfurece-os, mas eles fingem ter amigos; são 
presas da dúvida, mas fingem ser confiantes; anseiam pela 
felicidade, e fingem contentamento; pior que tudo, consomem-se no 
isolamento e fingem ser amados. 
Peço-lhes que não acreditem neles. Tal como seu líder ficcional, as 
vítimas da Síndrome de Peter Pan são sós, terrivelmente sós. 
Quanto à sua afirmação: "Não quero ir para a escola e aprender 
nada sério. Ah, minha senhora, ninguém vai me pegar e me 
transformar em gente grande. Eu quero ser sempre um menininho e 
me divertir" — não acredite nela. Eles mentem para si próprios. 
 
 
 
PARTE II 
A SÍNDROME DE PETER PAN 
Nesta seção explicarei o desenvolvimento da Síndrome de Peter 
Pan. Os pais aqui encontrarão implicações para possíveis mudanças 
em suas estratégias de educação dos filhos. Esposas e amantes 
compreenderão melhor por que o homem a quem amam é 
simultaneamente frustrante e gratificante. Os amigos sentirão 
empatia e mais prontamente estenderão a mão para ajudar. As 
próprias vítimas poderão ganhar consciência e coragem para se 
libertarem da armadilha em que se encontram. 
O grosso de minha explanação centra-se na segunda década de 
vida, aproximadamente. As tentativas de ajudar os jovens a 
amadurecer ensinaram-me que este período se inicia na puberdade 
— aos onze ou doze anos, digamos — e termina por volta dos vinte 
e quatro, época em que a maioria dos jovens entrou na vida adulta. 
Denomino esse período de vida a idade de "atingir a maioridade". 
Já indiquei antes que seis sintomas básicos compõem a Síndrome de 
Peter Pan. Revisarei cada um deles nos próximos seis capítulos. 
Apresento os sintomas e os capítulos cronologicamente, conforme 
as "idades de pico". Minha hipótese é que o sintoma sob 
investigação floresce por um período de dois anos e domina os 
demais durante essa idade de pico. 
 
 
 
 
 
 
 
A melhor maneira de se estudar a Síndrome de Peter Pan e 
visualizar uma estrutura tridimensional composta por sete blocos. 
Primeiramente imagine quatro blocos juntos sobre uma mesa, de 
modo a formar um quadrado. Cada um desses blocos representa 
um de quatro sintomas fundamentais da SPP — quatro alicerces, se 
assim preferir. Esta é a base sobre a qual se constrói a SPP. 
A chave aqui é o conflito quanto ao papel sexual. Uma vez 
instalado, é certa a continuação do mal. 
Agora imagine que dispõe dois blocos sobre os quatro alicerces. 
Estes blocos representam mais dois sintomas da SPP e devem ser 
considerados "intermediários" entre os alicerces e o período final de 
crise. Estes sintomas intermediários fluem 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
da base e, por seu lado, formam a base para o estágio final no 
desenvolvimento da SPP. 
 
 
 
Por fim, coloque um bloco sobre os dois intermediários. Este 
representa o período de crise da Síndrome de Peter Pan. Trata-se de 
uma época em que os seis sintomas convergem para causar a 
impotência nas relações sociais, tão prejudicial à felicidade futura. 
Esta apresentação pode dar-lhe a impressão de que cada um desses 
sintomas se desenvolve de modo previsível; entretanto, não é assim. 
Embora em geral os quatro alicerces apareçam entre as idades de 
onze e dezoito anos, podem desenvolver-se, em diferentes crianças, 
em diferentes idades. Podem, até mesmo, brotar numa seqüência 
diversa da delineada aqui. 
Você pode também ter a impressão de que os quatro sintomas 
devem estar presentes antes de os sintomas intermediários se 
poderem desenvolver. Mas não é assim. Minha experiência ensina 
que o narcisismo e o chauvinismo podem desenvolver-se na 
ausência de um ou dois dos alicerces. Quando isto ocorre, a 
devastação manifestada no período de crise é substancialmente 
menor, e torna-se mais provável a solução da impotência nas 
relações sociais. 
O período de crise da Síndrome de Peter Pan reflete diferentes 
graus de incapacidade. Alguns rapazes podem simplesmente tentar 
um casamento ou uma carreira que prometem anos de chateação, 
mas uma manejável frustração. Outras vítimas sofrem de uma 
impotência tão avassaladora que uma adaptação satisfatória ao 
 
trabalho e um relacionamento afetivo gratificante ficam além de 
suas possibilidades. O grau de incapacidade associa-se diretamente 
à quantidade e à qualidade dos seis sintomas contidos na estrutura 
de blocos. 
No Capítulo 10 personalizarei o estágio de crise da SPP narrando a 
história de Randy, um jovem de vinte e três anos, cuja vida 
dolorosamente demonstra a convergência dos seis sintomas. Você 
verá como a Síndrome de Peter Pan resulta numa impotência social 
que em tudo se infiltra, reduzindo drasticamente a qualidade de 
vida do jovem. 
O último capítulo desta parte analisa homens que nunca 
amadureceram. Você verá como o conflito referente ao papel sexual 
invadiu todos os aspectos significativos de suas vidas. Verá o que 
acontece quando a crise cessa e o desalento passa a constituir-se a 
própria textura da vida. 
 
 
 
 
 
4 
Irresponsabilidade 
 
PETER: — Sou a juventude, sou a alegria, sou um passarinho que 
acaba de sair da casca do ovo. 
 
WENDY: — Mas fugiu por quê? 
PETER: — Porque ouvi meu pai e minha mãe conversando sobre o 
que eu ia ser quando fosse adulto. Eu quero ser sempre um 
menininho e me divertir. 
 
 
 
Será que ser adulto é tão ruim assim? Seja o que for que Peter tenha 
ouvido dos pais, o fato é que ele ficou assustadíssimo. Imagino-o 
descendo a escada da casa para ir pegar um copo de leite na 
cozinha, e acidentalmente ouvindo os pais falarem sobre o seu 
futuro. 
"Pobre Peter", seu pai estaria dizendo. "Ele terá que trabalhar duro, 
agüentar jogo sujo e competição, preocupar-se com a estabilidade 
no emprego, conter a raiva ao ver os impostos comendo seu salário, 
e submeter-se à ladroeira legal das contas de luz, gás. . . " Eu é que 
não o invejo por ter que crescer num mundo como este. . . " 
"E eu me preocupo com a família dele", acrescentaria a mãe. "Peter é 
o tipo do menino que vai morrer de preocupação pela esposa e 
pelas crianças. E, do jeito que vai a situação econômica, acho que a 
esposa dele vai ter que trabalhar fora. Aí seus filhos terão que 
crescer praticamente sem os pais. Ah, que pena. Pobre filho!" 
Ponha-se no lugar de Peter Pan. Se ouvisse essa história de terror 
sobre o seu futuro, você também não gostaria de permanecer 
exatamente como estava? Tudo o que teria de fazer seria concentrar-
se em ser criança. Não seria tão difícil. 
Você teria de brincar o tempo todo, divertir-se independentemente 
do que acontecesse,e fingir que a realidade é uma piada. Acima de 
tudo, teria de esforçar-se dia após dia, ano após ano para tornar-se 
tão irresponsável quanto possível. 
Faz sentido, não? A irresponsabilidade é a chave para se 
permanecer criança. O roteiro parece bastante simples: ser to-
talmente irresponsável, fazer todo o possível para resistir a hábitos 
civilizados, como guardar a roupa, alimentar o cão da família, tirar 
boas notas e dar uma mão em casa. 
A fim de maximizar sua irresponsabilidade, você teria que 
desenvolver hábitos chocantes, como deixar o banheiro na maior 
bagunça, criar uma "zona de guerra" em seu quarto, espalhar copos 
vazios usados, restos de comida e meias sujas pela sala de visitas e, 
mais que isso, ser rude e malcriado quando da visita de adultos à 
 
sua família. E em nenhuma circunstância deveria dizer "por favor" 
ou "obrigado" à sua mãe por tê-lo levado a passear com seus 
amigos. 
Nesta altura, achando que já tinha atingido certo grau de 
irresponsabilidade, você iria querer comparar seu desempenho com 
os de seus colegas. Quantos centímetros de pó acumulado há sob as 
camas deles? Quando foi a última vez que o vizinho escovou os 
dentes? Qual o recorde de dias consecutivos em que só comeu doces 
e coisas do gênero? 
Seu ritmo se estabeleceria conforme as artimanhas de seus colegas. 
Com um pouco de aplicação e quase nenhum esforço pessoal, você 
poderia ser o melhor. Então teria assegurado o direito de reclamar 
cadeira cativa na legião dos meninos que jamais amadurecerão. 
Uma vez assentada a irresponsabilidade, seria interessante você 
empregar certa dose de preguiça para barrar o desenvolvimento de 
qualquer tentativa de maturidade. Pois não é verdade que você não 
quereria que sua mãe dissesse às amigas: "Puxa, meu Peter está 
ficando tão responsável! Ele faz tudo o que-eu peço e nunca me dá 
qualquer problema?" Se isso acontecesse, seus planos iriam por 
terra. Você estaria crescendo. 
Seus amigos podem ajudá-lo a manter sua irresponsabilidade. Com 
eles você aprende a arte e a ciência da protelação. 
"Vou indo" e "daqui a pouco" são suas armas. Aprende também a 
esquecer. "Puxa, mamãe, esqueci!" Ou "você não vai esperar que eu 
me lembre de todas as minhas tarefas, né?" E, quando estas falham, 
sempre poderá aprender novas técnicas de argumentação ou de 
reclamações. "Não é justo", "você sempre implica comigo" e 
"nenhum outro menino tem que fazer isso" — são manobras 
excelentes. 
Você não precisa ser Peter Pan para resistir à maturidade. A 
irresponsabilidade não constitui um sinal automático de 
desadaptação futura. É natural que as crianças se rebelem contra o 
amadurecimento. Crescer é algo assustador, hoje mais do que em 
 
qualquer outra época passada. Só pensar sobre as realidades da 
idade adulta basta para conduzi-lo a um estado de regressão, no 
qual você se enrola em seu cobertorzinho e leva o polegar à boca, 
suspirando pelo tempo em que a decisão mais difícil de tomar era 
qual o brinquedo a escolher. 
Todos nós tivemos momentos de irresponsabilidade. Isso é parte do 
ser criança. Porém, na maioria, nós ultrapassamos a 
irresponsabilidade, e agora a responsabilidade é algo tão habitual 
que precisamos até planejar nossos momentos de lazer. Chegamos a 
um ponto em que não podemos nos evadir à responsabilidade. 
As vítimas da Síndrome de Peter Pan apresentam o problema 
contrário. Eles não podem evadir-ss à irresponsabilidade. É uma 
armadilha que começa como uma inocente e típica rebelião, mas 
acaba transformando-se num estilo de vida do adulto. Uma peça 
fundamental do quebra-cabeça da Síndrome de Peter Pan é a 
completa irresponsabilidade geradora de inépcia nas capacidades 
básicas relativas ao cuidado de si mesmo. 
PICO DA IRRESPONSABILIDADE: 11 A 12 ANOS 
Se a criança tem três anos de idade e enfia purê de batata no nariz, 
isso é normal. Se tem seis e arrumou a cama, ainda que pareça que 
continua desarrumada, ela merece aplauso pela tentativa. Se tem 
nove e a comida que preparou para o almoço queimou, deve ser 
louvada pelo esforço. Porém a uma certa altura algum adulto 
responsável deve dizer: "Você já está grande demais para fazer essas 
tolices". 
As vítimas da SPP nunca dão ouvidos a essa advertência. Ou se o 
fazem, não o registram. Entram no final da adolescência cem sólidos 
hábitos de irresponsabilidade. Muito embora tenham dez ou quinze 
anos a mais, a maioria delas ainda se porta mal à mesa, deixa a 
cama por ser arrumada, e acha que preparar um grande jantar é 
abrir uma lata de salsichas. 
 
A irresponsabilidade é um dos seis alicerces da Síndrome de Peter 
Pan. Ela atinge seu ápice geralmente entre os onze e os doze anos; a 
repentina liberação de hormônios no interior do corpo do menino 
parece estimular a persistência dessa característica. 
Passo a mostrar quatro tipos de irresponsabilidade púbere. Você 
compreenderá o contraste entre eles, persuadindo-se ao mesmo 
tempo de que cada tipo, se não for cuidado, poderá conduzir à 
destruição da responsabilidade no adulto. "Um Anjinho": Esta 
criança parece sempre inocente. O papel angelical aparece sempre 
que existe grande evidência de ela ter algo de errado. Seus olhos 
molham-se instantaneamente, e ela protesta: "Você acha que eu 
pensaria em fazer uma coisa dessas?" O silêncio e a tristeza em seu 
rosto solene e seus lábios trêmulos conquistam seu coração e você se 
esquece de dizer: "Sim". "Ranheta": Esta criança cré que a melhor 
defesa é uma boa ofensa. Ela costuma queixar-se para chantagear os 
pais. Reclama alto e bom som das injustiças de seu poder. Acaba 
por aborrecê-los tanto que eles desistem de mandar e simplesmente 
fazem eles próprios o que competiria ao filho. 
"Cego, surdo e mudo": Se os pais não soubessem como as crianças 
funcionam, achariam que este tipo de irresponsabilidade envolve 
algum tipo de lesão cerebral. Mas um grande número de crianças 
perfeitamente saudáveis utiliza a estratégia do "cego, surdo e 
mudo" para evitar a responsabilidade. Eis como reconhecer essa 
estratégia. Surdo: "Não ouvi você me pedir isso". Mudo: "Eu não 
falei nada disso". Cego: "Nossa, eu nem vi o bilhete que você deixou 
na minha mesa". Cada uma a sua maneira, estas crianças crêem 
poder evitar a responsabilidade se nenhum de seus sentidos parecer 
funcionar direito. 
"O bem intencionado": Como zangar-se com uma criança irres-
ponsável com o jeito de um cachorrinho gentil? Muitos pais 
fracassam diante desse fato. O "bem intencionado" faz rapidamente 
qualquer coisa que você lhe peça, e sorri independentemente de seu 
 
estado de espírito. O problema é que ele nunca executa suas tarefas, 
a menos que você o faça lembrar-se delas uma centena de vezes. 
Este tipo de irresponsabilidade é perigosíssimo, porque os pais 
tendem a evitar atitudes severas para ensinar a criança a assumir 
suas obrigações. 
Vejamos brevemente quatro histórias de crianças, todas elas no pico 
da idade da irresponsabilidade (onze a doze anos). 
Rickey 
O clínico da família disse que ele era um menino cheio de energia 
que exagerava nos salgadinhos e nos doces. O pediatra insinuou 
que Rickey Sharp, de onze anos de idade, talvez fosse hiperativo. A 
orientadora escolar dizia que, por estar enfrentando a puberdade, 
Rickey precisava de compreensão e paciência. A avó dizia que o 
neto, seu orgulho e alegria, estava simplesmente passando por uma 
fase e logo mudaria. De um ou de outro modo, todos estavam 
certos. Mas Ruth Sharp não podia mais esperar. Ela só queria que o 
filho "tomasse jeito". 
Rickey era o típico "anjinho". Tinha grandes olhos azuis, cuja clareza 
e intensidade não haviam mudado desde seu nascimento. Seu 
cabelo loiro e rebelde pareceria mal cuidado em qualquer outra 
criança, mas em Rickey agradava. Sua voz era tão miúda quanto seu 
corpo; ele como que sussurrava ao falar, e mal alcançava o vaso do 
banheiro da igreja.

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