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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA CURSO DE MESTRADO EM ENGENHARIA ELÉTRICA Cap GUILHERME DE MAGALHÃES OTTONI DA SILVA DESEVOLVIMENTO DE ALGORITMO PARA PREDIÇÃO DE COBERTURA DE BLOQUEIO DE RÁDIO-FREQUÊNCIA EM HF/VHF/UHF Rio de Janeiro 2009 1 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA Cap GUILHERME DE MAGALHÃES OTTONI DA SILVA DESENVOLVIMENTO DE ALGORITMO PARA PREDIÇÃO DE COBERTURA DE BLOQUEIO DE RÁDIO-FREQUÊNCIA EM HF/ VHF/UHF Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Elétrica do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Elétrica. Orientador: Maurício Henrique Costa Dias. Co-orientador: José Carlos Araujo dos Santos, Ph.D. Rio de Janeiro 2009 2 c2009 INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA Praça General Tibúrcio, 80-Praia Vermelha Rio de Janeiro-RJ CEP 22290-270 Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de arquivamento. É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es) e do(s) orientador(es). 3 S586d Silva, Guilherme de Magalhães Ottoni da Desenvolvimento de Algoritmo para Predição de Cobertura de Bloqueio de Rádio-Frequência em HF/VHF/UHF/ Guilherme de Magalhães Ottoni da Silva. - Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2009. Dissertação (mestrado) – Instituto Militar de Engenharia – Rio de Janeiro, 2009. 1. Software - Implementação. 2. Sistemas de Comunicações. 3. Rádio- Frequência - Bloqueio de Sinais. 4. Ondas Eletromagnéticas – Propagação. II. Instituto Militar de Engenharia INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA Cap GUILHERME DE MAGALHÃES OTTONI DA SILVA DESENVOLVIMENTO DE ALGORITMO PARA PREDIÇÃO DE COBERTURA DE BLOQUEIO DE RÁDIO-FREQUÊNCIA EM HF/VHF/ UHF Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Engenharia Elétrica do Instituto Militar de Engenharia, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia Elétrica. Orientador: Maurício Henrique Costa Dias, Ph.D. Co-orientador: José Carlos Araujo dos Santos, Ph.D. Aprovada em 04 de agosto de 2009 pela seguinte Banca Examinadora: ___________________________________________________________________________ Maurício Henrique Costa Dias, Dr. do IME - Presidente ___________________________________________________________________________ José Carlos Araujo dos Santos, Ph. D. do IME ___________________________________________________________________________ Jorge Luís Rodrigues Pedreira de Cerqueira, Dr. do IME ___________________________________________________________________________ Julio Cesar Rodrigues Dal Bello, Dr. da UFF Rio de Janeiro 2009 4 Dedico este trabalho a meu pai, Domingos Ottoni da Silva. 5 AGRADECIMENTOS À DEUS, por tornar possível a conclusão deste trabalho. Aos meus amigos e familiares, pelo incentivo e motivação nesta jornada. Ao Instituto Militar de Engenharia e à Seção de Engenharia Elétrica, que me selecionou para a realização deste curso de mestrado. Ao meu orientador, Maurício Henrique Costa Dias, e ao meu co-orientador, José Carlos Araujo dos Santos, pelas excelentes orientações neste trabalho. Aos professores Jorge Luís Rodrigues Pedreira de Cerqueira e Julio Cesar Rodrigues Dal Bello, por terem aceitado o convite para participar da banca e por suas críticas, correções e comentários. À empresa CelPlan, em especial ao Sr. Gabriel Zimmer Matallo, por ter fornecido a versão acadêmica do software CelPlanner Suite, que foi de grande importância para entendimento sobre ferramentas de análise de cobertura e pela possibilidade de comparação com os resultados deste trabalho. 6 RESUMO O bloqueio de sinais de rádio-frequência (RF) tem uma importância significativa em algumas operações militares e civis. Para se atingir a situação de bloqueio efetivo, faz-se necessário um amplo planejamento de operações, que envolve a necessidade de informações sobre o local a ser bloqueado, o conhecimento acerca dos sistemas de comunicações envolvidos e a escolha de métodos de estimação de perda de propagação apropriados. Neste contexto, convém utilizar bases de dados geográficos digitais para prover um maior detalhamento da região de interesse. A presente dissertação trata do desenvolvimento de um software para predição de cobertura de bloqueio de rádio-frequência. Este software se propõe a servir de ferramenta de apoio ao planejamento de operações de bloqueio de RF, em particular para dois cenários de aplicação: bloqueio em VHF e UHF em áreas urbanas; e bloqueio em HF e VHF em regiões de florestas densas. Para o desenvolvimento dos algoritmos, foram considerados conceitos fundamentais de Guerra Eletrônica, em especial as condições necessárias para se estabelecer o bloqueio efetivo do sistema-alvo. Ainda, diversos modelos de propagação de ondas eletromagnéticas foram avaliados e selecionados, de acordo com o cenário de análise. Algumas dificuldades de integração dos modelos a bases de dados geográficos foram identificadas, e soluções foram propostas e incorporadas aos algoritmos. Implementações em MATLAB foram geradas e testadas para os dois cenários considerados, assumindo exemplos hipotéticos de operações de bloqueio típicas. 7 ABSTRACT Jamming radiofrequency signals is a very important activity in some civilian and military operations. To achieve the condition of effective jamming, a detailed planning of the operations is necessary, such as the search for informations about the local to be jammed, the knowledge of the used communications systems and the choice of appropriated path loss propagation prediction methods. In this context, the use of geographic information systems of the site to be jammed is recommended. This work addresses the subject of software-based radiofrequency jamming coverage analysis. Algorithms have been designed to assist RF jamming operations planning at two specific scenarios: VHF and UHF systems in urban areas, and HF and VHF systems in dense forests. Fundamental concepts of Electronic Warfare were considered to develop the algorithms, especially the necessary conditions to achieve the effective jamming of the target system. Furthermore, several propagation models were evaluated and selected according to the related scenario. Some difficulties of integration between these models and the geographic information databases were identified, and some solutions were proposed and adopted in the algorithms. Implementations in MATLAB were executed and tested for both studied scenarios, simulating hypothetical examples of typical jamming operations. 8 SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES ............................................................................................... 12 LISTA DE TABELAS .........................................................................................................15 LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS ................................................................... 16 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................181.1 Contexto ..................................................................................................................18 1.2 Objetivo .................................................................................................................. 19 1.3 Motivações e Justificativas ..................................................................................... 20 1.4 Organização da Dissertação ....................................................................................21 2 BLOQUEIO DE RÁDIO-FREQUÊNCIA ..........................................................23 2.1 Modelo Básico do Bloqueio de RF .........................................................................23 2.2 A Razão J/S .............................................................................................................25 2.2.1 Determinação da Razão J/S para Cenários Realistas ..............................................26 2.2.2 Valores Típicos Mínimos para alguns Sistemas ......................................................27 2.3 Predição de Área de Bloqueio ................................................................................ 27 3 MÉTODOS DE PREDIÇÃO DE PERDA DE PROPAGAÇÃO EM H/V/UHF ................................................................................................................ 30 3.1 Mecanismos de Propagação ....................................................................................30 3.2 Formas de Modelagem da Perda de Propagação .................................................... 31 3.3 Modelos para Ambientes Urbanos em VHF e UHF ............................................... 33 3.3.1 Modelo de Okumura-Hata-COST231 .....................................................................34 3.3.2 Outros Modelos Semi-Empíricos ............................................................................38 3.3.3 Métodos para Ajustar Modelos Ponto-Área à Abordagem Ponto-a-Ponto ............. 40 3.3.4 Ferramentas Comerciais Site-Specific .....................................................................44 3.4 Modelos para Ambientes de Floresta em HF e VHF .............................................. 46 3.4.1 Modelo de Dois Raios .............................................................................................47 3.4.2 Modelos de Tamir para Florestas ............................................................................ 51 9 4 ANÁLISE DE COBERTURA DE BLOQUEIO DE RF ....................................58 4.1 Cenários de Interesse .............................................................................................. 58 4.2 Integração de Modelos de Propagação às Bases de Dados para Análise de Cobertura ................................................................................................................ 59 4.2.1 Bases de Dados ....................................................................................................... 60 4.2.2 Análise Baseada em Modelos Semi-Empíricos ...................................................... 62 4.2.3 Análise Baseada em Modelos Teóricos .................................................................. 64 4.3 Uso de Softwares Comerciais Voltados para Sistemas de Telefonia Móvel para Cenários Urbanos ............................................................................................65 5 SOFTWARE DESENVOLVIDO ......................................................................... 69 5.1 Descrição Geral .......................................................................................................69 5.2 Algoritmo para o Cenário Urbano .......................................................................... 70 5.2.1. Metodologia Adotada e Descrição do Algoritmo ................................................... 70 5.2.2. Avaliação do algoritmo: Estudo de Casos............................................................... 73 5.3 Algoritmo para o Cenário de Floresta .....................................................................88 5.3.1 Metodologia Adotada e Descrição do Algoritmo.................................................... 88 5.3.2 Avaliação do algoritmo: Estudo de Casos .............................................................. 90 6 CONCLUSÃO .......................................................................................................98 6.1 Síntese e Principais Contribuições deste Trabalho ................................................. 98 6.2 Sugestões para Trabalhos Futuros .......................................................................... 100 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................101 8. APÊNDICES ......................................................................................................... 106 8.1 APÊNDICE 1: Noções Elementares sobre Bases de Dados Geográficas ...............107 8.1.1 Bases de Dados Vetoriais e Rasterizadas ................................................................ 107 8.1.2 Informações de Altimetria ...................................................................................... 108 8.1.3 Informações de Morfologia .................................................................................... 109 8.1.4 Modelos Digitais de Terreno ...................................................................................110 10 8.2 APÊNDICE 2: Algoritmo Desenvolvido para o Cenário Urbano .......................... 112 8.3 APÊNDICE 3: Algoritmo Desenvolvido para o Cenário de Floresta .....................124 11 LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIG.2.1 Representação da chegada dos sinais do bloqueador e do sistema a ser bloqueado no receptor (FRATER e RYAN, 2001) ......................................24 FIG.2.2 Esquema ilustrativo de área de bloqueio .....................................................28 FIG.3.1 Curvas relacionadas ao método de Okumura (PARSONS, 2000) .............. 34 FIG.3.2 Curvas de ganho da altura e da correção de área do método de Okumura (PARSONS, 2000) ...................................................................................... 35 FIG.3.3 Representação de altura média do terreno para o modelo de Okumura-Hata (PARSONS, 2000) ...................................................................................... 37 FIG.3.4 Representação parcial dos mecanismos de propagação considerados pelo método de Walfisch-Ikegami (WALFISCH e BERTONI, 1988) ................39 FIG.3.5 Difração por obstáculo isolado (PARSONS, 2000) .................................... 41 FIG.3.6 Definição de percursos sk e rk para as expressões recursivas de Millington ....................................................................................................43 FIG.3.7 Cenário base para a aplicação do modelo de perda por vegetação quando um dos terminais está dentro da área de vegetação (UIT-R, 2007) .............44 FIG.3.8 Visualização de perfil no software da CelPlan ............................................46 FIG.3.9 Geometria base para o modelo de dois raios................................................48 FIG.3.10 Geometria base para o modelo de propagação em floresta de TAMIR (1967) .......................................................................................................... 52 FIG.3.11 Representação das regiões analisadas por TAMIR (1977) .. ....................... 53 FIG.3.12 Geometria base para o modelo de propagação na região I de TAMIR (1977) .......................................................................................................... 53 FIG.3.13 Geometria base para o modelo de propagação na região II de TAMIR (1977) .......................................................................................................... 55 FIG.3.14 Geometria basepara o modelo de propagação na região IV de TAMIR (1977) .......................................................................................................... 57 FIG.4.1 Exemplo de uma base rasterizada de altimetria (CELPLAN, 2008) .......... 61 FIG.4.2 Exemplo de uma base rasterizada de morfologia (CELPLAN, 2008) ........62 FIG.4.3 Exemplo de análise de cobertura em um software de predição de 12 cobertura (CELPLAN, 2008) ......................................................................67 FIG.4.4 Gráfico gerado em Matlab a partir da importação de valores de potência recebida do software da CelPlan correspondente ao exemplo da FIG. 4.3 .................................................................................................. 67 FIG.5.1 Gráfico de altimetria do terreno e os posicionamentos das antenas nos exemplos de análise de perfis ......................................................................74 FIG.5.2 Gráfico de morfologia do terreno e os posicionamentos das antenas nos exemplos de análise de perfis ......................................................................75 FIG.5.3 Linha de perfil referente ao primeiro exemplo ........................................... 78 FIG.5.4 Linha de perfil referente ao segundo exemplo ............................................79 FIG.5.5 Gráfico de perfil referente ao segundo exemplo obtido a partir do CelPlan ….................................................................................................... 80 FIG.5.6 Linha de perfil referente ao terceiro exemplo .............................................81 FIG.5.7 Linha de perfil referente ao quarto exemplo ...............................................82 FIG.5.8 Distribuição de potência recebida do bloqueador no quinto exemplo ........ 84 FIG.5.9 Distribuição de potência recebida do sistema alvo no quinto exemplo ...... 84 FIG.5.10 Área de bloqueio efetivo referente ao quinto exemplo ............................... 85 FIG.5.11 Distribuição de potência recebida do bloqueador no sexto exemplo .........85 FIG.5.12 Distribuição de potência recebida do sistema alvo no sexto exemplo ........86 FIG.5.13 Área de bloqueio efetivo referente ao sexto exemplo .................................86 FIG.5.14 Área de bloqueio efetivo referente ao sétimo exemplo ...............................87 FIG.5.15 Foto aérea de uma região da Amazônia ...................................................... 89 FIG.5.16 Gráfico de altimetria correspondente à região da FIG. 5.17 .......................89 FIG.5.17 Configurações adotadas nos estudos de caso do cenário de vegetação ...... 91 FIG.5.18 Potência recebida ao longo de enlaces em floresta para frequências em HF e VHF (polarização vertical) ..........................................................................92 FIG.5.19 Potência recebida ao longo de enlaces em clareira ou mistos para frequências em HF e VHF (polarização vertical) ...........................................................92 FIG.5.20 Potência recebida ao longo de enlaces em clareiras de solo ou água para polarização vertical e horizontal em (a) HF e (b) VHF .............................. 94 FIG.5.21 Potência recebida ao longo de enlaces VHF com polarização vertical em clareiras ou em trechos mistos (floresta - solo) para diferentes graus de 13 irregularidade do terreno .............................................................................95 FIG.5.22 Potência recebida ao longo de enlaces HF em função da altura do receptor para polarização (a) horizontal e (b) vertical ...................................................... 97 FIG.8.1 Foto do centro de Campinas-SP (GOOGLE, 2009) ....................................110 14 LISTA DE TABELAS TAB.2.1 Relações J/S típicas mínimas para alguns sistemas (STAHLBERG, 2000 e TOSCANO, 2006) …......................................................................27 TAB.5.1 Conversão de morfologias adotada …......................................................... 72 TAB.5.2 Posicionamentos das antenas e suas respectivas coordenadas geográficas em todos os exemplos ....................................................................................... 76 15 LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS ABREVIATURAS CDMA Code Division Multiple Access DCT Departamento de Ciência e Tecnologia (do Exército Brasileiro) EB Exército Brasileiro FM Frequency Modulation GE Guerra Eletrônica GGE Grupo Finalístico de Guerra Eletrônica GLO Garantia da Lei e da Ordem GPS Global Positioning System GSM Global System for Mobile Communications HF High Frequency IME Instituto Militar de Engenharia IS-95 Interim Standard 95 ITA Instituto Tecnológico de Aeronáutica MAE Medidas de Ataque Eletrônico MDT Modelo Digital do Terreno OFDM Orthogonal Frequency Division Multiplex PA Ponto-área PBCT Plano Básico de Ciência e Tecnologia PH Polarização Horizontal PP Ponto-a-ponto PV Polarização Vertical RF Rádio-Frequência SRTM Shuttle Radar Topography Mission UHF Ultra High Frequency UIT União Internacional de Telecomunicações VHF Very High Frequency ZF Zona de Fresnel 16 SÍMBOLOS PT Potência de Transmissão PR Potência de Recepção GT Ganho de Transmissão GR Ganho de Recepção L Perda / Atenuação J Potência do bloqueador S Potência do sistema a ser bloqueado J/S Relação dos sinais de bloqueador e do sistema a ser bloqueado J/Smin Relação dos sinais de bloqueador e do sistema bloqueado mínima f Frequência λ Comprimento de onda d Distância horizontal d1 Distância horizontal do ponto de transmissão ao ponto de transição d2 Distância horizontal do ponto de transição ao ponto de recepção b Distância do ponto de transmissão à transição de floresta com clareira σ Condutividade elétrica ε Permissividade elétrica n Índice de refração Tx Transmissor(a) Ti Transmissor(a) i (i = 1, 2, 3, ...) Rx Receptor(a) Ri Receptor(a) i (i = 1, 2, 3, …) Ji Transmissor(a) bloqueador i (i = 1, 2, 3, …) Si Transmissor(a) a ser bloqueado i (i = 1, 2, 3, …) 17 1. INTRODUÇÃO 1.1. CONTEXTO No contexto das telecomunicações sem fio, uma aplicação relacionada à Segurança Pública que se destacou na última década foi a de bloqueio de rádio-frequência (RF), que é uma forma de inviabilizar um determinado tipo de comunicação com a emissão de um outro sinal. Um dispositivo bloqueador insere no espectro eletromagnético, propositalmente, sinais interferentes nas frequências de operação do sinal que se deseja bloquear, degradando a sua recepção. Um dos cenários mais conhecidos para esta aplicação é o de bloqueio de sinais de telefones celulares em presídios, como tão amplamente divulgado na mídia. Entretanto, o bloqueio de RF também se faz interessante como mecanismo de apoio a determinadas operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), para as quais as Forças Armadas são frequentemente convocadas a realizar em situações domésticas extremas. O bloqueio de RF é ainda uma das possíveis operações de Medidas de Ataque Eletrônico (MAE) previstas na doutrina de Guerra Eletrônica (GE) (EXÉRCITO BRASILEIRO, 1999). O domínio do espectro de RF é uma ação importante na estratégia de Defesa baseada em dissuasão, e também em eventuais conflitos externos. A eficácia do bloqueio de RF tende a ser máxima quando a operação é planejada previamente com base em informações detalhadas do cenário-alvo. Em especial, conhecer o comportamento da propagação das ondas eletromagnéticas no ambiente e sob as condições em questão é fundamental para o planejamento, pois permite estimar ou predizer a área de cobertura de bloqueioesperada. A área de cobertura de bloqueio vem a ser a área de efetivo bloqueio do sinal interferente. Em outras palavras, é a área na qual o bloqueador inviabilizará a recepção das comunicações em sua faixa de frequência de operação. Tendo em vista que existe uma grande variedade de cenários e tipos de sistemas de comunicações existentes, a predição da cobertura de bloqueio pode se tornar bastante complexa. A escolha de métodos ou modelos de estimação da perda de propagação é uma etapa crucial neste sentido. Existe uma grande variedade de tipos de modelos de predição de perda de propagação. 18 Podem ser classificados por faixa de frequência, quanto ao ambiente de propagação, como sendo ponto-a-ponto ou ponto-área e quanto ao tipo de abordagem de cálculo (PARSONS, 2000). A escolha do método depende de vários fatores, dentre os quais destaca-se a disponibilidade de informações detalhadas do cenário. Uma forma de implementação de modelos de predição de cobertura bastante flexível e poderosa é a site-specific (ou “local-específica”, em tradução livre). Nesta abordagem, bases de dados geográficos são utilizadas, o que permite realizar predições ponto-a-ponto com grande riqueza de detalhamento, já que aquelas bases trazem informações diversas sobre o terreno que influenciam a propagação, tais como: altimetria, morfologia, propriedades elétricas, dentre outras. É possível aplicar modelos empíricos, métodos teóricos ou métodos numéricos em eletromagnetismo. A escolha por um tipo de modelo ou outro passa pela relação de compromisso entre acurácia da predição, disponibilidade de informações do cenário e esforço computacional. Métodos numéricos tais como traçado de raios e método das diferenças finitas levam a predições acuradas, mas a um grande custo de processamento. Modelos menos acurados como os empíricos ou semi-empíricos, por sua vez, são simples expressões fechadas, e com isso, são rapidamente processados (PARSONS, 2000). 1.2. OBJETIVO O objetivo principal deste trabalho é propor e implementar algoritmos site-specific de predição de cobertura de bloqueio de RF e analisar seus resultados, tendo como objetivos intermediários: realizar pesquisas bibliográficas pertinentes referentes a métodos de propagação, bases de dados geográficas, ferramentas comerciais de planejamento celular e bloqueio de RF; identificar dificuldades de integração de bases de dados geográficas com os modelos de propagação e buscar soluções para estas; e implementar metodologias baseadas em dissertações anteriores do IME, preferencialmente as que não tenham sido utilizadas pelas ferramentas comerciais investigadas, para o cálculo da atenuação média do sinal, analisando os resultados obtidos. Dois algoritmos distintos foram desenvolvidos e implementados em MATLAB para apoio ao planejamento de operações nos seguintes cenários: sistemas móveis em VHF ou UHF operando em áreas urbanas; e rádios em HF e VHF se comunicando em florestas densas, como na Amazônia, por exemplo. 19 1.3. MOTIVAÇÕES E JUSTIFICATIVAS O tema em questão (bloqueio de RF) é de grande relevância para o Exército, o que se constata pelo fato de ser um dos objetivos do Grupo Finalístico de Guerra Eletrônica (GGE) do Plano Básico de Ciência e Tecnologia (PBCT). De fato, alguns estudos sobre o assunto já foram desenvolvidos ou estão sendo desenvolvidos pelo IME com a finalidade de melhorar o entendimento sobre este assunto, tais como: (ARAUJO et al, 2007a); “Bloqueador de Múltiplas Frequências: Concepção de Sistema e Estudo de Caso para Terminais IS-95”, de Ricardo de Souza TOSCANO (2006); “Interferidores de GPS: Análise do Sistema e de Potenciais Fontes de Interferência”, de Carlos Renato Macedo de SOUZA (2005) e “Um Algoritmo de Alarme Antecipado para Sistemas MAGE Radar”, de Nilson Rodrigues da SILVA (2002). Ainda neste rol, pode-se destacar alguns trabalhos locais voltados para o projeto de antenas para aplicações de bloqueio, tais como (D'OLIVEIRA et al, 2008) e (ARAUJO et al, 2007b). É importante salientar a motivação adicional para os estudos locais sobre o assunto, decorrente da pouca disponibilidade de literatura correlata. Alguns trabalhos realizados fora do IME, porém ainda no âmbito nacional, referentes ao tema de Guerra Eletrônica também merecem destaque. Algumas teses e dissertações podem ser citadas, como “Medidas de Proteção Eletrônica utilizando a Transformada Wavelet para a Rejeição do Canal Chaff e Jamming em Radar”, publicada no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de DIAS (2005). Há, ainda, artigos publicados no Simpósio Internacional de Guerra Eletrônica que abordam o tema, tais como: “Simulador de Guerra Eletrônica Não- Com Utilizando Modelagem de Emissões Radar”, de BASTOS (2007) e “Comunicações na Amazônia: Via Satélite ou HF?”, de BASTOS (2006), publicados no Simpósio Internacional de Guerra Eletrônica (SIGE). Além disso, existem artigos publicados no âmbito internacional, tais como: “The Prediction of the Interference and Service Zones in the VHF/UHF Tactical Radio Systems”, de PAUNOVIC et al (1989), que descreve um modelo genérico de predição de área de interferência nas faixas de VHF e UHF, além de sugerir um modelo computacional para a determinação desta predição e apresentar exemplos; “A Communications Analysis Tool Set that Account for the Attenuation due to Foliage, Buildings and Ground Effects”, de COMPARETTO et al (2003), que descreve uma ferramenta de análise de enlaces que considera possíveis atenuações como vegetação e edificações; e “The Communication 20 Resource Planning Tool”, de SCHWARTZ et al (2003), que versa sobre uma ferramenta que realiza planejamento de enlaces táticos de comunicações na presença de possíveis obstáculos e bloqueadores. Para complementar, alguns livros relacionados ao tema de Guerra Eletrônica e, particularmente, ao assunto de bloqueio de RF são bastante relevantes como, por exemplo, “Electronic Warfare for the Digited Battlefield”, de FRATER e RYAN (2001); “Modern Communication Jamming Principles and Techniques”, de POISEL (2004); e “Introduction to Electronic Warfare: Modeling and Simulation”, de ADAMY (2006). Dois cenários, em particular, são bastante importantes para as atividades atuais de Guerra Eletrônica do Exército Brasileiro (EB): regiões urbanas e a Amazônia. No primeiro caso, a ação do EB caracteriza-se pelo emprego de operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), bloqueio de sinais em regiões próximas a presídios e concursos públicos, combate ao crime organizado dentre outras ações. No segundo cenário, atividades de Guerra Eletrônica são importantes em operações de vigilância e missões de patrulha, especialmente em regiões de florestas densas. A baixa disponibilidade de informações sobre o desenvolvimento de ferramentas de planejamento site-specific foi outra motivação para o presente trabalho. Em especial, a escassez de referências, consequência provável do apelo comercial de ferramentas de planejamento de sistemas de comunicações, impôs a necessidade de se propor soluções para as dificuldades de integração de bases de dados geográficas aos modelos de predição pertinentes aos cenários considerados. Alguns exemplos de problemas de integração que precisaram ser resolvidos foram: a escolha do modelo (ou modelos) mais adequados em perfis de morfologia mista; a modelagem da difração nas diferentes condições em que ela se faz presente, em ambos oscenários; e a escolha de modelos de perda por vegetação apropriados. 1.4. ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO O capítulo 1 apresenta as condições gerais do trabalho, seus objetivos, motivações, justificativas e a organização da dissertação. O capítulo 2 aborda conceitos básicos de bloqueio de RF pertinentes a este trabalho. Inicialmente, apresenta-se uma definição detalhada de bloqueio e discute-se sua inserção na doutrina de GE. Modelos básicos de estimação da relação interferência / sinal (J/S) são apresentados. Valores típicos deste parâmetro para efetivação de bloqueio de alguns tipos de 21 sistemas também são indicados. O conceito de área de cobertura de bloqueio é apresentado, e estratégias gerais de cálculo para situações realistas são discutidas. O capítulo 3 traz uma breve revisão bibliográfica sobre diversos modelos de predição de perda de propagação nas faixas de HF, VHF e UHF. Os modelos utilizados neste trabalho são apresentados de maneira mais detalhada, tanto para o cenário urbano quanto para o cenário de floresta. O capítulo 4 descreve os cenários de interesse e aborda o que é necessário para se realizar a análise da cobertura de bloqueio a partir das informações provenientes de bases de dados. Ainda, o capítulo aborda a possibilidade de emprego de ferramentas comerciais de planejamento de sistemas de comunicações também para determinação de cobertura de bloqueio de RF. O capítulo 5 apresenta a estrutura geral dos algoritmos desenvolvidos para os cenários urbano e de floresta. São explicadas as escolhas dos métodos de propagação e tipos de bases de dados para cada cenário, bem como as estratégias de integração assumidas. Exemplos de uso da implementação dos algoritmos em códigos de Matlab nos dois cenários são apresentados e discutidos. Por fim, a conclusão, no capítulo 6, sintetiza as principais contribuições do trabalho e cita algumas propostas para estudos posteriores. 22 2. BLOQUEIO DE RÁDIO-FREQUÊNCIA A interferência em sistemas de comunicações pode ser classificada de diversas maneiras. Entretanto, aqui somente estão descritas aquelas provocadas pelo próprio homem e com a intenção de degradar a recepção do sinal. Estas interferências intencionais, no contexto da Guerra Eletrônica do EB, são denominadas de “Medidas de Ataque Eletrônico” (MAE) (FRATER e RYAN, 2001), (EXÉRCITO BRASILEIRO, 1999). Estas medidas englobam diversas atividades, ente elas, o bloqueio de RF, que corresponde ao escopo deste trabalho. Segundo POISEL (2004), as estratégias mais comuns para a aplicação do conceito de bloqueio sobre um sistema são: - bloqueio com ruído; - bloqueio por tom; - bloqueio com varredura; - bloqueio por pulso; - bloqueio seguidor; - bloqueio inteligente. Alguns procedimentos afetam diretamente o desempenho do bloqueador, facilitando a efetivação de seu bloqueio. Por exemplo, o uso de antenas mais diretivas aumenta o ganho numa dada direção de apontamento desejada e, com isso, sua capacidade de bloqueio naquela região. O seu posicionamento em um local mais elevado, pode, igualmente, melhorar a execução do bloqueio. O mesmo resultado se verifica quando este emissor é posicionado em regiões que minimizam perdas por difrações em obstáculos ou edificações e por vegetação densa. Conclui-se que o conhecimento prévio sobre os aspectos da altimetria e morfologia do terreno é fundamental para o adequado planejamento das operações de bloqueio. 2.1. MODELO BÁSICO DE BLOQUEIO DE RF A área afetada pela irradiação do bloqueador depende diretamente da recepção de dois sinais distintos: o sinal do bloqueador e o sinal do sistema a ser bloqueado. O esquema básico da recepção afetada por bloqueio de RF é mostrado na FIG. 2.1. 23 FIG. 2.1. Representação da chegada dos sinais do bloqueador e do sistema a ser bloqueado no receptor (FRATER e RYAN, 2001) Na FIG. 2.1, nota-se que emissões eletromagnéticas são captadas pelo receptor, oriundas tanto do bloqueador quanto do sistema operante. O sinal do bloqueador tem por objetivo deteriorar a recepção do sinal oriundo da antena transmissora e impedir o estabelecimento desta comunicação. É importante frisar que o bloqueio é percebido, a princípio, apenas no receptor em questão e não necessariamente em todo o sistema do qual ele faz parte. Um enlace de rádio pode ser planejado a partir da potência de seu emissor, dos ganhos das antenas envolvidas e da perda de potência no percurso até o receptor. De modo geral, a potência recebida neste enlace é dada por: P R= PT G RG T L (2.1) onde: - PT e PR são as potências de transmissão e recepção, respectivamente; - GT e GR são os ganhos das antenas transmissora e receptora, respectivamente, na direção do enlace; - L é a perda no percurso. 24 A EQ. 2.1 é um modelo genérico e pode ser aplicada a qualquer sistema. Sendo assim, aplicando-a nos dois sistemas envolvidos no cálculo do bloqueio, e com base na FIG. 2.1, tem-se: J = P J G JR G JT L J (2.2) S= P S GSR G ST LS (2.3) onde J é a potência recebida no terminal bloqueado associada ao bloqueador; S é a potência recebida no terminal bloqueado associada ao sistema; GJR e GJT são os ganhos das antenas do bloqueador e do terminal, respectivamente, na direção de propagação do sinal de bloqueio (J); GSR e GST são os ganhos das antenas do transmissor do sistema e do terminal, respectivamente, na direção de propagação do sinal do sistema (S); e LJ e LS são as perdas nos percursos partindo do bloqueador e do sistema a ser bloqueado, respectivamente. Aproveitando este mesmo cenário e, agrupando a EQ. 2.2 e a EQ. 2.3 em uma mesma equação, com a finalidade de obter uma relação entre as potências do sinal do bloqueador e do sistema a ser bloqueado e entre as perdas de percurso dos sinais do bloqueador e do sistema-alvo, chega-se à EQ. 2.4 (FRATER e RYAN, 2001): J S = P J G JR G JT LS PS G SR GST LJ (2.4) Na EQ. 2.4, o impacto das distâncias percorridas pelo sinal está inserido nos valores de perda LJ e LS. Esta relação J/S é o parâmetro a ser observado para avaliar a efetivação do bloqueio resultante. 2.2. A RAZÃO J/S A principal relação de interesse de um sistema de bloqueio de RF é a razão entre as potências dos sinais interferente (J) e do sistema a ser bloqueado (S), simbolizada como J/S. A relação J/S deve situar-se acima de um valor mínimo (J/Smin) para que o bloqueio do sistema 25 seja considerado efetivo. A relação J/S mínima é função das potências de transmissão de ambos os emissores, dos ganhos das antenas, das perdas de percurso (LJ e LS) e dos tipos de bloqueador e de sistema a ser bloqueado. A partir da EQ. 2.4, verifica-se que a determinação desta relação segue o mesmo princípio do cálculo de um enlace de rádio. A diferença é que, ao invés de calcular a relação entre sinal e ruído, calcula-se a relação entre sinal e interferência. A abordagem mais simples requer, no mínimo, informações sobre os seguintes parâmetros: frequência de operação; distância entre os terminais; ganhos e alturas das antenas transmissora e receptora; e potência de transmissão. Entretanto, modelagens mais realistas em cenários complexos dependem de várias outras informações, em particular altimetria e morfologia do terreno. 2.2.1. DETERMINAÇÃO DA RAZÃO J/S PARA CENÁRIOS REALISTAS O problema principal do modelo básico da EQ. 2.4 é calcular as perdas de propagação dos sinais interferente e bloqueado, ao longo de toda uma região de interesse. A abordagem mais simples é do tipo ponto-área (PA), em que se assume as mesmascondições de propagação para todos os pontos da área analisada, ou seja, o mesmo decaimento de potência com a distância e com a frequência. Em (FRATER e RYAN, 2001) e em (PAUNOVIC et al, 1989), por exemplo, esta é a abordagem sugerida, principalmente na indisponibilidade de dados sobre o terreno. Entretanto, na determinação da razão J/S em cenários realistas, essa abordagem simplificada não leva a estimativas satisfatórias, já que a propagação é fortemente dependente das informações do terreno. Considerando a disponibilidade de informações geográficas sobre a região de interesse, é possível identificar comportamentos distintos de propagação para as diferentes localizações relativas entre bloqueador e sistema. Condições diversas que afetam a propagação podem ser consideradas de forma individualizada para cada par de posições de distribuição do bloqueador e do sistema no terreno, como por exemplo irregularidades e obstáculos elevados ao longo do terreno e diferentes morfologias na mesma região de análise. Em linhas gerais, a razão J/S é determinada realizando-se os seguintes passos: - cálculo da potência do bloqueador (J) na área de interesse; - cálculo da potência do sistema a ser bloqueado (S) na mesma área; - cálculo da relação J/S. 26 2.2.2. VALORES TÍPICOS MÍNIMOS PARA ALGUNS SISTEMAS Os valores típicos de J/S mínimo (J/Smin) variam de acordo com as características do sistema em operação. A TAB. 2.1 mostra valores típicos de J/Smin para alguns sistemas. TAB. 2.1. Relações J/S típicas mínimas para alguns sistemas (STAHLBERG, 2000; SOUZA, 2005; TOSCANO, 2006) Sistema J/Smin IS-95 (CDMA) 18 dB GSM -5 dB Rádios Talk-About -10 dB GPS -14 dB 2.3. PREDIÇÃO DE ÁREA DE BLOQUEIO Abordado o conceito da relação entre as potências do bloqueador e do sistema a ser bloqueado (J/S), bem como seus métodos básicos de cálculo e alguns valores típicos para bloqueio de sistemas existentes, passa-se ao foco principal, que é a determinação da área na qual o valor mínimo da relação supracitada (J/Smin) é atingido, considerando as emissões dos sistemas interferente e bloqueado. A área de bloqueio pode ser definida como sendo toda a região no terreno onde a relação J/S no receptor é maior ou igual ao seu patamar mínimo, ou seja, a área onde a condição da EQ. 2.5 é satisfeita. A FIG. 2.2, representa uma base hipotética contendo informações geográficas, na qual pode-se observar esta definição. J /SJ /S min (2.5) 27 FIG. 2.2. Esquema ilustrativo de área de bloqueio Na FIG. 2.2, o bloqueador está posicionado no ponto PJ enquanto o sistema a ser bloqueado tem seu emissor posicionado em PS. A área marcada em branco é a região onde o bloqueio é efetivo, ou seja, onde a relação J/S supera o valor mínimo, enquanto na área em cinza esta condição de bloqueio não é atendida. Convém observar que o contorno da área destacada no mapa corresponde ao lugar geométrico em que J/S = J/Smin. As estratégias para a determinação desta predição englobam principalmente o uso de modelos de predição de perda de propagação ou a realização de medidas de campo. Em ambos os métodos um estudo em separado dos sinais J e S se faz necessário para realizar uma comparação entre estes, como mencionado na sub-seção 2.2.1. A abordagem no presente trabalho é a do uso de modelos de propagação implementados em software. Há ferramentas computacionais disponíveis para o planejamento de sistemas de comunicações que podem ser aproveitadas para estimar a área de cobertura de bloqueio. Em linhas gerais, se o programa oferece opções de análise de interferência entre estações transmissoras, esta linha de ação é viável. Outra linha de ação é o desenvolvimento de algoritmos próprios para os cenários de aplicação desejados. A motivação do autor passa pela inexistência de ferramentas que atendam 28 aos requisitos da aplicação desejada, ou eventualmente pelo alto valor comercial de certas ferramentas mais completas e poderosas. Em função disto, no presente trabalho, adotou-se a opção de desenvolver algoritmos para os cenários relevantes identificados. 29 3. MÉTODOS DE PREDIÇÃO DE PERDA DE PROPAGAÇÃO EM H/V/UHF 3.1. MECANISMOS DE PROPAGAÇÃO Os fenômenos básicos de propagação são fortemente dependentes da frequência de operação. Nesta seção, são abordados os mecanismos de propagação pertinentes às faixas do espectro eletromagnético consideradas neste trabalho (HF, VHF e UHF). São três os mecanismos básicos de propagação (PARSONS, 2000): por onda terrestre; por onda celeste (ou ionosférica); e por onda espacial (ou direta, ou em visada direta) . No mecanismo de propagação por onda terrestre, existe uma influência marcante das características da superfície terrestre, que, geralmente, comporta-se como um guia de ondas, conduzindo a energia eletromagnética. A onda se propaga acompanhando o relevo. Este mecanismo depende significativamente dos parâmetros elétricos do solo (permissividade e condutividade elétricas). O mecanismo de propagação por onda celeste (ionosférica) corresponde ao que a onda atinge a camada ionosférica, sofre múltiplas refrações (reflexão “virtual”) e retorna à superfície terrestre, atendendo, assim, a enlaces de grandes distâncias. Este mecanismo é dependente diretamente da energia ionizante incidente na ionosfera, em particular da radiação solar. Os níveis médios típicos dessa energia ionizante apresentam algum grau de periodicidade, com ciclos diários, a cada estação do ano e a cada 11 anos (em função do ciclo de explosões solares) (COLLIN, 1985; GRIFFITHS, 1987). A propagação por onda espacial é caracterizada pela radiação em direções radiais à antena. Em meios homogêneos, a trajetória seguida pelo sinal é uma linha reta, mas em meios não-homogêneos, a trajetória sofre um encurvamento devido à variação do índice de refração. A onda espacial está sujeita a diversos fenômenos ao longo de seu percurso. De particular importância se destacam a reflexão, a difração e o espalhamento. A faixa de HF apresenta características bastante variadas e é amplamente utilizada na Região Amazônica. Um mecanismo importante é a propagação ionosférica, apesar da instabilidade do nível de sinal, que não raro impõe a necessidade de troca da frequência de operação em algumas aplicações. Todavia, a propagação por onda terrestre também é relevante, principalmente para enlaces de curtas distâncias. Segundo DAL BELLO (1984), 30 uma variação importante e bastante considerada na prática é a propagação sobre as copas das árvores por onda lateral (TAMIR, 1967), que é de grande interesse visto que é desprovida de fatores cíclicos como os que ocorrem na propagação ionosférica e tem representatividade em distâncias de propagação menores. HF é uma faixa de frequência bastante utilizada para comunicações militares e radioamadoras (JOHNSON et al., 1997). Nas faixas de VHF e UHF, predominam os mecanismos das ondas direta e refletida, em que a visada direta e a reflexão no solo ou em outros obstáculos são os fenômenos mais significativos. Outros efeitos importantes são as difrações sobre obstáculos naturais e prédios, bem como espalhamentos na troposfera. Como a atenuação do sinal é proporcional à frequência, os enlaces nestas faixas são mais curtos que em HF. São faixas utilizadas para a transmissão de FM comercial, radiodifusão de televisão, comunicações celulares, sistemas troncalizados, algumas aplicações militares, dentre outros sistemas. 3.2. FORMAS DE MODELAGEM DA PERDA DE PROPAGAÇÃO O canal de propagaçãode sistemas de rádio-comunicações é um processo estocástico, pois o sinal transmitido está sujeito a fenômenos diversos de propagação de natureza aleatória até chegar ao receptor, além da influência adicional indesejada de ruído e interferências. Em geral, múltiplas cópias do sinal original transmitido chegam ao receptor em tempos e com amplitude e fases diferentes, associadas aos fenômenos de propagação impostos a cada potencial trajetória. O sinal recebido pode ser modelado como o somatório das cópias do sinal original que chegaram ao receptor por múltiplos percursos. Mais ainda, dado o aspecto aleatório das condições de propagação e da dinâmica dos componentes que afetam o canal, a resposta do canal é variante no tempo (RAPPAPORT, 2001). As variações da resposta de canal são usualmente divididas didaticamente em duas: de grande escala; e de pequena escala (RAPPAPORT, 2001; SKLAR, 1999). A caracterização do nível médio do sinal, considerando apenas as variações associadas a grandes deslocamentos compreende os chamados modelos de grande escala. O estudo das rápidas flutuações ocorridas em distâncias bastante curtas (da ordem de poucos comprimentos de onda) ou em pequenos intervalos de tempo, por sua vez, corresponde à análise das variações de pequena escala. A caracterização de pequena escala é de grande utilidade para apoio ao desenvolvimento de especificações de sistemas de comunicações, em especial no que tange à 31 escolha das técnicas de mitigação dos efeitos do canal, tais como codificação corretora de erros, equalização adaptativa, OFDM, entre outras (SKLAR, 1999). Por outro lado, a análise de grande escala é mais significativa para o planejamento de sistemas e enlaces de comunicações, pois a partir da caracterização das variações do nível médio do sinal recebido, é possível realizar predições ou estimações sobre a área de cobertura do sistema em questão. Como o objetivo deste trabalho envolve a estimação de áreas de cobertura de bloqueio, o foco desta seção é sobre modelos de grande escala, em que o nível médio ou mediano do sinal é calculado a partir de informações sobre o sistema e o cenário considerados. As variações de pequena escala existem, mas não são pertinentes a este estudo. Os modelos de perda média do sinal apresentam características bem distintas no que diz respeito à forma de cálculo, ao cenário utilizado e aos parâmetros considerados na determinação da atenuação por propagação. Quanto à forma de cálculo, podem ser classificados como: - modelos semi-empíricos, empíricos ou baseados em medidas; - modelos determinísticos ou teóricos; - métodos numéricos em eletromagnetismo. Os modelos semi-empíricos são modelos representados por equações analíticas fechadas ou curvas geradas a partir de resultados de medições práticas. Já os modelos teóricos consideram os principais mecanismos de propagação tais como por visada direta, reflexão e difração, e procuram determinar a intensidade e fase do vetor campo elétrico em diversos pontos da região analisada. Na prática, a implementação de modelos determinísticos envolve o uso de bases de dados ou modelos geográficos simplificados da região de interesse. Para modelos de cenários mais simples, há modelos teóricos que preveem apenas uma ou duas trajetórias de propagação. Em cenários mais elaborados, as diversas trajetórias de propagação são determinadas por técnicas conhecidas como traçado de raios (RAPPAPORT, 2001; SARKAR et al., 2003). Para sistemas em frequências elevadas e ambientes de dimensões reduzidas, é possível ainda se aplicar diretamente métodos numéricos para calcular as intensidades de campo elétrico na área em questão, abordagem esta que demanda o maior esforço computacional. Os modelos baseados em medidas e os teóricos mais simples possuem a vantagem de proporcionar uma relativa economia de processamento, visto que o cálculo de expressões fechadas exige baixo custo computacional. A presente dissertação privilegiou estas duas abordagens por causa desta vantagem. 32 A disponibilidade de informações do terreno permite outro tipo de classificação de modelos de propagação: - modelos ponto-área (PA); - modelos ponto-a-ponto (PP). Quando não há disponibilidade de informações sobre o terreno, ou quando elas são limitadas, a abordagem pertinente para cálculos de área de cobertura é a PA. Os modelos PA são concebidos partindo-se desta premissa, sendo por isto mesmo, em sua grande maioria, modelos empíricos. Por outro lado, os modelos PP consideram características específicas do cenário que variam para cada par de pontos avaliado. Na realidade, um modelo de propagação pode adotar ambas as abordagens, empregando métodos PA próprios para a região de recepção e/ou métodos PP para considerar detalhes do cenário no enlace entre o transmissor e um ponto de recepção específico. Uma outra denominação pertinente comumente observada na literatura é a dos chamados modelos site-specific (RAPPAPORT, 2001; SARKAR et al., 2003). Esta terminologia se refere ao uso de modelos de propagação (PA, PP ou ambos) para o cálculo de cobertura em uma região ou sítio específico para a qual se dispõe de uma base de dados geográficos. 3.3. MODELOS PARA AMBIENTES URBANOS EM VHF E UHF O foco deste trabalho é a determinação de área de cobertura de bloqueio de RF. Como tal, espera-se que tais regiões, em que J/S > (J/S)min, sejam relativamente pequenas se comparadas à área de cobertura do sistema bloqueado. Em função disso, os modelos considerados na presente revisão assumem a aproximação de terra plana e troposfera homogênea. Como já foi mencionado, esta revisão privilegiou modelos semi-empíricos e teóricos (simplificados) PA em função de sua baixa demanda numérica. Mais ainda, alguns desses modelos são reconhecidamente confiáveis, como se constata na literatura (BERTONI, 2000; PARSONS, 2000; RAPPAPORT, 2001; SARKAR et al., 2003). Não obstante, a disponibilidade de bases de dados permitiu que se considerasse em especial a abordagem conjunta PA com ajustes PP. Os ajustes PP são uma forma de resolver as dificuldades de integração dos modelos PA com bases de dados, com eficiência numérica e coerência com a teoria. 33 3.3.1. MODELO DE OKUMURA-HATA-COST231 Este é um dos métodos mais empregados para cálculo da perda média de propagação em áreas urbanas. OKUMURA et al. (1968) conduziram exaustivas medidas experimentais de campo recebido na região metropolitana de Tóquio, no Japão, ao longo de 2 anos, em fins da década de 60. Do conjunto de dados resultante, Okumura e equipe calcularam curvas de perda mediana de propagação em função de 5 parâmetros principais associados aos cenários cobertos pelo experimento, a saber: distância; frequência; alturas das antenas transmissora e receptora; e morfologia predominante do terreno. A perda L50 (em dB) é determinada pela EQ. 3.1, consultando-se as curvas da FIG. 3.1. L50 = LF + Amu - Htu - Hru - GAREA (3.1) FIG. 3.1. Curvas relacionadas ao método de Okumura (PARSONS, 2000) Na EQ. 3.1, LF é a perda de propagação em espaço livre, Amu é a atenuação mediana relativa à de espaço livre em terreno quase-suave, Htu e Hru são os fatores de correção de altura das antenas transmissora e receptora respectivamente (“ganhos de altura”), e GAREA é um fator de correção para áreas com morfologias menos atenuantes que a urbana (suburbana, quase- 34 aberta e aberta). Estes ganhos são obtidos a partir das curvas da FIG. 3.2. FIG. 3.2. Curvas de ganho de altura ede correção de área do método de Okumura (PARSONS, 2000) As curvas de Okumura são válidas para as seguintes condições: 35 - frequência de operação entre 100 e 3000 MHz; - distância do enlace entre 1 e 100 km; - altura da antena de transmissão entre 20 e 1000 m; - altura da antena de recepção entre 1 e 10 m. No início da década de 80, com a disponibilidade tecnológica de calculadoras científicas e dos primeiros microcomputadores, o uso de curvas e nomogramas se tornou pouco atrativo, por ser comparativamente um processo mais tedioso e menos preciso de cálculo. Com esta motivação em mente, HATA (1982) propôs equações analíticas fechadas a partir de ajustes das curvas de Okumura em função dos 5 parâmetros principais. Para tal, as condições de validade do modelo precisaram ser restringidas para os seguintes intervalos: - frequência (f): de 150 a 1500 MHz; - distância (d): de 1 a 20 km; - altura efetiva da antena transmissora (hTef): de 30 a 200 m; - altura efetiva da antena receptora (hRef): de 1 a 10 m. As expressões de Hata para a perda mediana de propagação (L50) são as seguintes (em dB): - para áreas urbanas: L50−U=69,5526,16 log f MHz−13,82 log hTef −a hRef [44,9−6,55 log hTef ] log d km (3.2) onde a(hRef) é o fator de correção da altura efetiva da receptora, dado por: a hRef =[1,1log f MHz −0,7]hRef −[1,56 log f MHz−0,8] , para cidades pequenas ou médias; a hRef =8,29 [ log 1,54hRef ] 2−1,1 , para grandes cidades e frequências abaixo de 200 MHz; a hRef =3,2 [ log 11,75hRef ] 2−4,97 , para grandes cidades e frequências acima de 400 MHz. Hata não conseguiu ajuste satisfatório deste fator para frequências entre 200 e 400 MHz. Uma abordagem comumente adotada é considerar a transição para estes dois fatores de correção na 36 frequência de 300 MHz, como em (RAPPAPORT, 2001). - para áreas suburbanas: L50−S=L50−U−2[ log f MHz /28] 2−5,4 (3.3) - para áreas abertas: L50−O=L50−U−4,78[ log f MHz] 218,33log f MHz−40,94 (3.4) A correção para a determinação das alturas efetivas parte da análise do plano vertical do terreno que contém as antenas transmissora e receptora. As alturas efetivas são obtidas tomando como base o valor médio da altitude do terreno nas distâncias compreendidas entre 3 e 15 km a partir do transmissor. A FIG. 3.3 ilustra este conceito. FIG. 3.3. Representação da altura média do terreno para o modelo de Okumura-Hata (PARSONS, 2000) Este modelo é considerado perfeitamente apropriado para áreas urbanas e suburbanas, apesar de possuir menor precisão para áreas abertas. Sua maior desvantagem é a sua “lenta” resposta para grandes variações do terreno. Segundo RAPPAPORT (2001), seus valores de predição de perda de percurso desviam cerca de 10 a 14 dB com relação aos medidos na prática. O modelo de propagação de COST-231 é uma extensão do modelo de Hata para frequências de até 2 GHz. É válido para os mesmos intervalos de alturas efetivas de antenas e 37 distâncias, porém para frequências de 1500 a 2000 MHz. Sua fórmula para o cálculo da perda de percurso em áreas urbanas é dada, em dB, por: L50−U=46,333,9 log f MHz−13,82 log hTef −a hRef [44,9−6,55 log hTef ] log d kmC (3.5) onde C é um fator de correção dado por: C = 0 dB, para cidades médias ou áreas suburbanas; C = 3 dB, para centros metropolitanos. Para ambientes suburbanos ou abertos, se aplicam os mesmos fatores de correção de Hata das Eqs. (3.3) e (3.4), respectivamente. 3.3.2. OUTROS MODELOS SEMI-EMPÍRICOS Existem muitos outros modelos de perda de propagação semi-empíricos. Todos eles seguem a mesma metodologia de transformar em equações ou fórmulas resultados obtidos por medidas experimentais. O método de LEE (1998) executa correções de altura efetiva e utiliza valores padronizados de perda de percurso a 1 km do transmissor e coeficiente de decaimento ajustados para algumas metrópoles. A perda mediana (L50) é dada, em dB, por: L50=L0 log d F 020log hef /30 (3.6) onde L0 e γ são fatores específicos para cada cidade e F0 é um fator que considera vários parâmetros relativos à altura e aos ganhos das antenas. O método de Walfisch-Ikegami (PARSONS, 2000) é utilizado para áreas suburbanas e considera as perdas por difração no topo dos edifícios. Um modelo uniforme de distribuição dos prédios é assumido, com suas distâncias de separação idênticas e a mesma altura para todos, como ilustrado na FIG. 3.4. A faixa de frequências de aplicação cobre toda a banda de UHF. 38 FIG. 3.4. Representação parcial dos mecanismos de propagação considerados pelo método Walfisch-Ikegami (WALFISCH e BERTONI, 1988) O modelo de Longley-Rice (RAPPAPORT, 2001) é um dos mais antigos modelos de predição disponíveis, sendo apropriado para a faixa de 40 MHz a 100 GHz e diversos tipos de terreno. Este modelo considera a refratividade da troposfera e a geometria do perfil do terreno, além de perda por difração, teoria da óptica geométrica para enlaces em visibilidade e influência das constantes elétricas do solo e das condições climáticas. O modelo opera em dois modos distintos, que dependem da disponibilidade de detalhes do terreno, em especial do perfil do enlace em questão. Quando essas informações estão disponíveis, parâmetros relativos à propagação podem ser facilmente determinados e a predição pode ser considerada ponto-a-ponto. Todavia, em caso de não existir essa disponibilidade, o método provê técnicas para estimar os parâmetros específicos de percurso de propagação, fazendo com que a predição assuma um aspecto ponto-área. Uma limitação do modelo é o fato de não haver correções devido à presença de edificações e vegetação, nem para contabilizar os efeitos da morfologia da região em que se encontra o receptor. Desta forma, a propagação multipercurso não é considerada (RAPPAPORT, 2001). A UIT (União Internacional de Telecomunicações) apresenta diversas recomendações relacionadas ao emprego de métodos de predição de perda de propagação. Em particular, uma dessas recomendações pertinente ao escopo do presente trabalho é a Rec. UIT-R P.1546-3 (2007), que descreve um método para predições de cobertura ponto-área para serviços terrestres na faixa de 30 MHz a 3000 MHz. O método é voltado para circuitos-rádio terrestres (troposféricos) sobre percursos de terra, mar ou mistos, com comprimentos entre 1 e 1000 km e alturas de transmissão efetivas menores que 3000 m. As expressões e curvas do método correspondem a uma abordagem semi-empírica, em que os parâmetros principais são a 39 distância, as alturas das antenas, a frequência e a porcentagem de tempo. O método inclui ainda correções para contabilizar efeitos pontuais de obstrução do enlace. Outra recomendação pertinente é a Rec. UIT-R 1411-4 (2007), voltada para o planejamento de sistemas de comunicações de curto alcance em ambientes externos e ou de redes locais sem fio, na faixa de 300 MHz a 100 GHz. Os modelos de perda de percurso nela contidos consideram a presença ou não de linha de visada, perda por penetração em edifícios, e os efeitos de multipercursos. 3.3.3. MÉTODOS PARA AJUSTAR MODELOS PONTO-ÁREA À ABORDAGEM PONTO- A-PONTO Os modelos ponto-área funcionam como uma referência para perda de propagação para regiões específicas. Apesar disso, estes modelos desconsideram a presença de fatores adicionais que podem alterar significativamente o sinal. A presença de ondulações no terreno, obstruções diversas, vegetação, lagos, rios, etc. na direção principal de propagação podeprovocar grandes diferenças entre a potência do sinal recebido e a respectiva estimativa a partir de um modelo PA. Torna-se necessário efetuar um cálculo adicional ao modelo PA considerado para minimizar tal distorção. Na maioria dos casos, a análise no plano vertical que contém as antenas transmissora e receptora concentra os aspectos pontuais que mais afetam a perda de percurso. Um dos aspectos mais relevantes na análise do perfil PP é a presença ou não de obstáculos que possam difratar o sinal. O processo mais simples para realizar esta verificação é comparar a parte inferior do elipsóide correspondente a aproximadamente 60% da 1a Zona de Fresnel (ZF) com o perfil do terreno. Caso não haja obstrução daquele elipsóide, não há perda por difração. Em caso de ocorrência de obstrução, pode-se utilizar vários métodos distintos para o cálculo da perda adicional respectiva. O método da difração por obstáculo gume-de-faca isolado é considerado o mais simples, mas é também o mais utilizado. Há várias abordagens para o cálculo da difração por múltiplos obstáculos, tais como os métodos de BULLINGTON (1947), EPSTEIN e PETERSON (1953) e DEYGOUT (1966). Entretanto, no presente trabalho, privilegiou-se o método que considera um único obstáculo (o que provoca a maior perda), por ser o de menor demanda computacional, já que vários outros aspectos PP, que também requerem esforço numérico, foram considerados. 40 Tomando a FIG. 3.5 como referência, sendo h a altura máxima da obstrução acima da linha de visada e R o raio da 1a ZF, o obstáculo considerado é o que corresponde à maior relação h/R. Outros parâmetros relevantes são as distâncias da posição desta elevação ao transmissor (d1) e ao receptor (d2), e a soma delas (d). Segundo a Recomendação P.526 da UIT-R (2007), a atenuação total provocada (Ldif) é dada, em dB, por: Ldif={6,920log v−0,121v−0,1 , v−0,70 , v−0,7 } (3.7) onde o parâmetro de Fresnel v=2h/R e R= d1 d 2/d . FIG. 3.5. Difração por obstáculo isolado (PARSONS, 2000) Outro aspecto importante a se considerar na análise do perfil PP são as ondulações do terreno. No caso de modelos semi-empíricos, ganhos de altura como os dos modelos de Okumura (EQ. 3.1), Hata (EQ. 3.2) e Lee (EQ. 3.6) contabilizam os efeitos das variações suaves da altura do terreno ao longo do perfil considerado na perda de percurso. Em modelos determinísticos, as variações de altura na região considerada podem ser analisadas para se avaliar a condição de especularidade do terreno. Variações de pequena ordem implicam na adequação de uso de modelos como o de dois raios (BERTONI, 2000), em que as componentes direta e refletida no solo compõem o sinal recebido. Terrenos irregulares, por outro lado, espalham o sinal eletromagnético para várias direções além da direção de reflexão especular. Há na literatura abordagens que corrigem o modelo de dois raios para terrenos rugosos tais como os coeficientes de espalhamento de Rayleigh e de Boithias (RAPPAPORT, 41 2001), que levam em consideração o grau de irregularidades do terreno para estimar a atenuação da componente refletida, em função do espalhamento nas demais direções. A mudança de morfologias ao longo do perfil é outro fator bastante recorrente em cenários realistas que afeta o cálculo da perda de percurso. Até onde a presente revisão bibliográfica pôde alcançar, poucas referências abordam esta questão. Embora fora do escopo desta seção, quando a propagação é definida por ondas terrestres em baixas frequências (até HF), uma solução para determinar a perda mediana PA é o método de Millington (1949), que foi proposto originalmente como uma solução heurística para o cálculo da perda de percurso em terrenos mistos, naquelas condições. Medidas de campo do próprio Millington e de outros indicaram a validade da solução. Posteriormente, a UIT-R incluiu o método em uma de suas recomendações (UIT-R, 1992). No método de Millington, a perda mediana em um enlace misto LM (dB) é dada pela EQ. 3.8, que representa a média entre as perdas nos sentidos direto (LD) e reverso (LR), calculadas como indicado nas EQS. 3.9 e 3.10, respectivamente. Os percursos cumulativos recursivos nos sentidos direto (sk) e reverso (rk), por sua vez, são definidos nas EQS. 3.11 e 3.12, respectivamente. A FIG. 3.6 ilustra a composição destes percursos (SEVGI, 2006). LM = 0,5 (LD + LR) (3.8) ( ) ( )∑∑ = − = −= N k kk N k kkD sLsLL 2 1 1 (3.9) ( ) ( )∑∑ = − = −= N k kk N k kkR rLrLL 2 1 1 (3.10) k k n nk dddds +++== ∑ = 21 1 (3.11) kNNN k n nNk ddddr −− = +− +++== ∑ 1 1 1 (3.12) 42 FIG. 3.6. Definição dos percursos sk e rk para as expressões recursivas de Millington Em cenários urbanos, é comum a presença de bosques e parques urbanos. A atenuação provocada pela vegetação destes parques no sinal eletromagnético é bastante significativa nas faixas de VHF e UHF (BERTONI, 2000). Dentre as várias abordagens teóricas e empíricas para modelar a perda por vegetação em bosques, destacam-se as indicadas na Rec. UIT-R P.833-6 (2007). Em particular, o modelo empírico para perda por vegetação na situação representada pela FIG. 3.7 tem a forma dada por. Lveg=Am f [1−e − f d /Am f ] (3.13) onde d (m) é a distância percorrida dentro da região coberta com árvores, γ é a atenuação específica para trechos de vegetação muito curtos (dB/m), e Am é a atenuação máxima (dB). Estes dois últimos usualmente variam com a frequência e com o tipo de vegetação, entre outros fatores. Valores típicos para a atenuação específica γ na faixa de 30 MHz e 60 GHz são indicados na Rec. P.833, para as polarizações vertical e horizontal. A recomendação não traz, entretanto, valores gerais para Am. Apenas dois casos particulares são mencionados na Rec. P.833, para os quais a norma sugere valores para Am. Em particular, para o presente trabalho, propõe-se a adoção dos valores obtidos da contribuição de DIAS (1998), em que são descritos os resultados de medições no Campo de Santana, um pequeno parque urbano no Rio de 43 Janeiro, composto predominantemente de árvores da espécie conhecida como Ficus Religiosa. A faixa de frequência analisada foi entre 0,9 e 1,8 GHz. Os parâmetros propostos por DIAS (1998) são: γ(f) = 6,3.10-3fMHz0,537 (3.14) Am(f) = 0,18fMHz0,752 (3.15) FIG. 3.7. Cenário base para a aplicação do modelo de perda por vegetação quando um dos terminais está dentro da área de vegetação (UIT-R, 2007) 3.3.4. FERRAMENTAS COMERCIAIS SITE-SPECIFIC As ferramentas computacionais que recebem a denominação site-specific são as que utilizam o auxílio de bases de dados geográficas para o cálculo de perda de percurso (BERTONI, 2000). Existem várias destas ferramentas no mercado dedicadas à tarefa de planejamento celular. Os métodos de propagação descritos neste capítulo são amplamente empregados por estes softwares, dependendo dos parâmetros fornecidos pelas bases de dados (Ver Apêndice 1 – Noções de Bases de Dados Geográficas), e usualmente a abordagem ponto- área com adaptações ponto-a-ponto é utilizada. O usuário normalmente escolhe o método de propagação indicado com a possibilidade de se efetuar alguns ajustes para fatores de decaimento com a distância, frequência, entre outros. Vale destacar que o uso de modelos teóricos (traçado de raios) em ferramentas para planejamento de sistemas em cenários externos reduzidos ou em ambientes internos é crescente, em função dadisponibilidade de recursos computacionais cada vez mais rápidos (RAPPAPORT, 2001). Algumas ferramentas site-specific foram identificadas e tiveram suas características 44 gerais resumidas neste texto. Por exemplo, o software WiNGS Planner® (WINGSTELECOM, 2009) tem a finalidade voltada para planejamento celular e foi desenvolvido para as frequências de VHF, UHF e microondas. Utiliza os métodos de Okumura-Hata, COST-231, Walfisch-Ikegami e Lee. A empresa alemã AWE fornece um software para cálculo de perda de propagação baseado em métodos determinísticos. As informações geográficas aproveitadas pelo software permitem a simulação pelo método de traçado de raios. Além disso, a ferramenta permite que o usuário tenha a opção de utilizar métodos semi-empíricos (AWE COMMUNICATIONS, 2008). O software PLANET (2009) considera as frequências de 900 a 1800 MHz e distâncias de propagação inferiores a 50 km. O cálculo da perda por difração pode ser incluído. O modelo geral para a perda de propagação é semi-empírico e emprega as constantes de decaimento análogas às do método de Okumura-Hata, além deste modelo e de outros modelos semi-empíricos. A empresa CelPlan® desenvolveu um software de predição (CelPlanner Suite) de propagação compatível com Windows 95/98/NT que é mais detalhado aqui, visto que foi uma cópia para fins acadêmicos foi cedida ao IME como apoio ao desenvolvimento desta dissertação. Este programa realiza predições na faixa de 100-2000 MHz e opera com bases de dados topográficas, morfológicas e de imagens, além de arquivos com tabelas de ganho de antenas de diversos formatos e fornecedores (CELPLAN, 2008). O conjunto de métodos de propagação utilizado pela CelPlan inclui o de Lee e o de Hata. É permitida a entrada de parâmetros para o cálculo da atenuação, tais como a potência de transmissão, sensibilidade do receptor e posicionamento das antenas. A simulação é feita por meio da entrada dos dados iniciais, da leitura das bases de dados e da escolha do posicionamento do emissor. A apresentação gráfica dos resultados é feita através de um esquema de cores, exibindo, de forma escalonada, os níveis de potência recebida na região. O usuário pode passar o cursor do mouse em um ponto qualquer é será mostrado o valor da potência de recepção, além da altimetria no ponto e seu tipo de morfologia. Uma apresentação no formato de perfil de terreno é opcional e permite observar as possíveis irregularidades do terreno e o decaimento da potência ao longo da linha de perfil, como exemplificado na FIG 3.8. 45 FIG. 3.8. Visualização de perfil no software da CelPlan Na análise de perfil exemplificada na FIG. 3.8, o programa apresenta a curva de decaimento de sinal ao longo do trecho considerado, juntamente com o perfil do terreno e a indicação das morfologias. É possível observar ainda que o programa insere alturas médias adicionais distintas para cada morfologia, para representar o efeito das edificações no cálculo da perde de percurso, em especial no que se refere à difração de Fresnel. A indicação do elipsóide da 1a zona de Fresnel na figura confirma isto. 3.4. MODELOS PARA AMBIENTES DE FLORESTA EM HF E VHF Outro foco do presente trabalho é a cobertura de bloqueio em ambientes de floresta, para sistemas táticos operando em HF ou VHF. O exemplo mais marcante deste cenário é o de operações de MAE em florestas na Amazônia. As operações podem envolver bloqueio de enlaces terrestres dentro da floresta, da floresta para alguma clareira ou embarcação em rio, mas também de enlaces terra-ar, entre operadores dentro da floresta e helicópteros, por exemplo. O cenário típico foco deste trabalho, portanto, compreende regiões de mata fechada, com altura da copa das árvores quase homogênea, entremeada por clareiras, rios e outros leitos d'água. 46 Como destacado no parágrafo inicial da seção 3.3, a cobertura de bloqueio está associada a áreas relativamente pequenas, sempre menores que as áreas de cobertura dos sistemas irradiantes envolvidos considerados isoladamente. Com isso, aquelas mesmas hipóteses simplificadoras de terra plana e troposfera homogênea continuam valendo na escolha de modelos de perda de percurso apropriados. Mais ainda, no caso das faixas de VHF e HF, é pertinente desconsiderar também a componente celeste de propagação, que tende a ser mais fraca que a terrestre na maioria dos casos, como sugerido por TAMIR (1967). Para o cenário em questão, a presente revisão bibliográfica privilegiou modelos determinísticos ou teóricos, até mesmo em função da dificuldade em se encontrar referências de modelos empíricos para a faixa de frequências em questão. Em especial, destacam-se os modelos de TAMIR (1977) para a predição da perda em enlaces dentro da floresta ou da floresta para o ar acima dela. Para os trechos de clareira, rios ou leitos d'água, o modelo de dois raios com componente terrestre (POISEL, 2004) é pertinente. Não há modelos específicos para trechos híbridos de maneira geral, embora para o caso particular de enlaces em que transmissor e receptor estejam em áreas abertas, mas com visada obstruída por trechos contínuos de floresta, a perda por difração pareça ser a contribuição dominante, como verificado experimentalmente por PEDRA (1987), ao menos nas faixas de VHF e UHF. Ainda segundo PEDRA (1987), naquelas bandas de operação, a difração também pode ser o mecanismo dominante nos enlaces em que uma das antenas esteja acima da copa das árvores, e a outra em uma região aberta. Outro caso particular avaliado por PEDRA (1987) em que a difração é importante é quando a antena na região aberta se encontra próxima da fronteira com o trecho de floresta. Neste caso, a atenuação é dada aproximadamente pela metade do valor calculada pela EQ. 3.7, ou seja, menos 6 dB (ASSIS e CERQUEIRA, 2007; FURUTSU e WILKERSON, 1970). 3.4.1. MODELO DE DOIS RAIOS Para as faixas de HF e VHF, o modelo de dois raios mais geral incorpora a contribuição da componente por onda de superfície (terrestre) e ainda a influência da curvatura da Terra. Um modelo simplificado para as duas bandas em questão é proposto por POISEL (2004) para análise de cobertura voltada a aplicações de Guerra Eletrônica, baseado principalmente na teoria reproduzida em (BRAUN, 1986). A FIG. 3.9 ilustra o cenário de 47 aplicação do modelo, identificando as duas trajetórias de propagação (raios). FIG. 3.9. Geometria base para o modelo de dois raios No modelo simplificado de dois raios considerado, a expressão de campo elétrico recebido é a mesma apresentada em (NORTON, 1936), dada por: Ek=E0 [1k e− j1−k A k e− j ] (3.16) onde E0 é a amplitude do campo elétrico no espaço livre, ρk é o coeficiente de reflexão para a polarização linear do tipo k (v – vertical ou h – horizontal), δ é a diferença de fase entre as componentes de propagação direta e refletida, e Ak é o fator de atenuação para a componente terrestre de propagação, na polarização k. A diferença de fase δ é dada por: =2 [d 2hThR 2−d 2hT−hR2] (3.17) onde λ é o comprimento de onda, e hT e hR são as alturas das antenas transmissora e receptora, como indicado na FIG. 3.9. Os coeficientes de reflexão de Fresnel para as polarizações horizontal e vertical são dados, respectivamente, por: 48 h= sen−r−cos2 senr−cos2 (3.18) v= r sen−r−cos2 r senr−cos2 (3.19) onde εr é a permissividade elétrica relativa do solo, que é dada mais especificamente
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