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5. Fases Metaestáveis Conforme foi mostrado, normalmente um aço apresentará uma estrutura que irá depender diretamente do teor de carbono. Por outro lado, as estruturas normais até agora apresentadas são formadas a partir de intensa difusão de carbono do aço. O que acontecerá se a taxa de resfriamento não permitir esta difusão do carbono? 5.1 - Reação Martensítica Se tomarmos um aço de composição eutetóide e o resfriarmos lentamente haverá a formação de ferrita e de cementita a partir da austenita original. Sob condições de resfriamento lento ou moderado, os átomos podem difundir para fora da austenita. Os átomos de ferro podem, então, em um rearranjo em nível atômico, passar para uma estrutura cúbica de corpo centrado. Esta reação ocorre por um processo de nucleação e crescimento, com intensa difusão de carbono no reticulado do ferro. O que acontecerá se resfriarmos rapidamente esta austenita? Com um resfriamento rápido não daremos tempo para a difusão do carbono obrigando que ele se mantenha em solução. À medida que tivermos a austenita a uma temperatura menor que a eutetóide haverá uma força motriz no sentido do ferro passar da estrutura CFC para a estrutura CCC (Fig. 5.1). Fig. 5.1: a) Distorção do reticulado cristalino na transformação martensítica; b) comparação entre as estruturas TCC e CCC. Na tentativa do ferro passar para CCC o excesso de carbono fará com que ocorra uma distorção no reticulado cristalino (Fig. 5.1 e 5.2). A supersaturação de carbono fará com que o ferro passe a apresentar uma estrutura cristalina distorcida tetragonal de corpo centrado. Esta distorção do reticulado devido à supersaturação de carbono faz com que o aço aumente substancialmente a sua resistência mecânica. O tratamento de resfriamento rápido recebe o nome de têmpera e a estrutura resultante será a martensita. A martensita será, então, uma solução sólida supersaturada em carbono e a estrutura, ao invés de ser cúbica de corpo centrado passaria a ser tetragonal de corpo centrado, uma vez que um de seus eixos fica expandido pelo carbono aprisionado. Esta severa distorção do reticulado cristalino é a primeira razão da dureza da martensita. O apreciável aumento da dureza e da resistência mecânica que é possível com a têmpera de um aço tem grande importância e aplicação prática. Assim, lâminas, molas, rolamentos, engrenagens e ferramentas em geral, são empregados no estado temperado. Fig. 5.2: Variação dos parâmetros de rede da martensita e da austenita com o teor de C. Fig. 5.3: Curvas de variação da dureza com o teor de carbono. A dureza a ser alcançada pela estrutura martensítica irá depender diretamente do teor de carbono (Fig. 5.3). Normalmente um aço para ser temperado deve apresentar um mínimo de 0,3% de carbono, sendo que uma dureza máxima já pode ser alcançada com 0,6% de carbono. Um valor mínimo de carbono é necessário exatamente para poder ocorrer distorção do reticulado cristalino fazendo com que a estrutura passe para tetragonal de corpo centrado. Esta distorção do reticulado e as tensões geradas fazem com que, na prática, um aço nunca deva ser usado no estado temperado. A fragilidade associada obriga a que seja realizado um tratamento térmico de alívio de tensões (tratamento térmico de revenido) que pode variar desde 180 C até 600 C. Adicionalmente, quanto maior o teor de carbono, maior a resistência alcançada pela estrutura martensítica, com sacrifício da tenacidade. Fica claro o fato de que quanto maior o teor de carbono, maior será a distorção do reticulado. Para aplicações mecânicas limita-se o teor de carbono de aços a serem temperados na faixa de 0,3 a 0,4% de carbono, visando preservar a tenacidade do componente. Para aplicações como molas e lâminas, por exemplo, o teor de carbono pode ser aumentado para a faixa de 0,6% uma vez que a resistência mecânica deve ser a máxima possível. Para algumas aplicações especiais o teor de carbono pode ser ainda mais elevado. Para rolamentos, por exemplo, utiliza-se um teor de carbono na faixa de 1%. Neste caso, o teor de carbono para o máximo de resistência mecânica já foi até ultrapassado. O carbono em excesso passa a formar carbonetos que, em uma matriz martensítica de alta resistência e dureza, confere ao material uma resistência maior ao desgaste. Há situações em que a resistência ao desgaste deve ser máxima de tal forma que são empregados aços com até 2% de carbono. Nesta classe estão, por exemplo, alguns aços ferramenta para trabalho a frio. A estrutura martensítica (Fig. 5.4 a) lembra o aspecto de agulhas, o qual é explicado pelo mecanismo de formação de cisalhamento da estrutura. A micrografia mostrada, com agulhas bem delineadas, é a estrutura de um aço com alto teor de carbono que apresenta uma quantidade razoável de austenita não transformada (austenita retida) Na prática normalmente a estrutura é bem mais refinada, sendo que o tratamento térmico de revenido atenua a forma das agulhas que são característica marcante da martensita (Fig. 5.4 b). Fig. 5.4: a) Estrutura martensítica resultante da têmpera: agulhas de martensita bem delineadas sobre um fundo de austenita retida; ampliação 1220 x. b) martensita revenida a 594 C (partículas pequenas de cementita, em matriz de ferrita ); ampliação 9300 x. a) b) 5.2 - Reação Bainítica Enquanto que a transformação eutetóide (austenita em ferrita mais cementita) depende de intensa difusão de carbono, a transformação martensítica, ao contrário, é adifusional. Quanto maior a taxa de resfriamento maior a quantidade de martensita formada. O que aconteceria se resfriássemos rapidamente a austenita sem atingir a faixa de temperatura de formação da martensita? Ao resfriarmos rapidamente a estrutura austenítica até a faixa de 300C, por exemplo, não daríamos condições para que fosse formada a estrutura perlítica uma vez que a difusão do carbono a esta temperatura seria extremamente prejudicada. Na tentativa do ferro passar de CFC para CCC ocorre a nucleação de cristais de ferrita com plaquetas descontínuas de cementita. Esta estrutura, denominada bainítica, concorre em dureza e resistência mecânica com a martensita revenida. A Fig. 5.5 mostra a diferença entre os mecanismos de formação da perlita e da bainita; a Fig. 5.6 mostra a micrografia da bainita. Fig. 5.5: Diferença entre os mecanismos de formação da perlita e da bainita. A dificuldade de difusão do carbono faz com que os carbonetos fiquem dispersos na bainita (Avner). Fig. 5.6: Micrografia eletrônica de transmissão de uma réplica que mostra a bainita superior. Um grão de bainita cruza diagonalmente a figura, e consiste em partículas de Fe3C alongadas e em forma de agulha, no interior de uma matriz de ferrita. A fase que circunda a bainita é a martensita. This document was created with Win2PDF available at http://www.daneprairie.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.
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