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CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROF. Antonius Henricus Maria de Knegt. METODOLOGIA DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO 1 5. ESPECIFICAÇÃO DE TERMOPARES E TERMORESISTÊNCIAS 5.1 Introdução: Os dois sensores de temperatura mais utilizados industrialmente são o termopar e a termoresistência. Ambos devem estar imersos no ambiente cuja temperatura se deseja medir sendo por isto classificados como sensores de contato. Para que a medição seja completada devem também atingir a mesma temperatura do meio a ser medido. Proporcionalmente a temperatura deste meio, ocorre no sensor uma variação na resistência elétrica (termoresistências) ou é gerada uma milivoltagem (termopares). Neste capítulo apresenta-se procedimentos para especificação de termopares e termoresistências. 5.2 Termopares: Verifica-se na prática, que se conectarmos as extremidades de dois condutores de materiais X e Y diferentes, e estas extremidades estiverem a temperaturas diferentes T1 > T2, haverá circulação neste circuito de uma corrente elétrica. Este fenômeno é conhecido como EFEITO SEEBECK (naturalmente derivado do nome de seu descobridor). Um circuito dete tipo é denominado par termoelétrico ou simplesmente TERMOPAR. Caso este circuito seja aberto num ponto qualquer, aparecerá neste ponto uma força eletromotriz. Por convenção, o condutor X é considerado positivo em relação ao condutor Y, se a corrente fluir na direção indicada na figura com T1 > T2. par termoelétrico - termopar Além do efeito Seebeck, dois outros fenômenos também serão observáveis caso haja circulação de corrente elétrica no circuito, independentemente desta estar sendo gerada externamente ou induzida pelo próprio termopar: EFEITO PELTIER: Calor será absorvido na junção mais quente e calor será liberado na junção mais fria. Para tanto, no caso da figura acima a junção p, para absorver calor do ambiente em torno dela deverá estar a uma temperatura um pouco abaixo deste ambiente. Analogamente, a junção q para liberar calor tem de estar a uma temperatura acima do ambiente próximo. CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROF. Antonius Henricus Maria de Knegt. METODOLOGIA DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO 2 EFEITO THOMSON: Este efeito se refere à liberação ou absorção de calor que ocorre quando uma corrente elétrica atravessa um condutor homogêneo que está submetido a um gradiente de temperatura: Calor será liberado, ao longo do condutor, sempre que o sentido da corrente for o mesmo que o sentido do gradiente de temperatura, e calor será absorvido, ao longo do condutor quando os sentidos de corrente e gradiente forem opostos. Na verdade, os fenômenos de liberação e absorção de calor dos efeitos Peltier e Thomson são sustentados por respectivamente uma tensão de Peltier e uma tensão de Thomson, as quais superpostas, compõe a tensão de Seebeck. Finalmente, é necessário citar ainda um outro fenômeno termoelétrico que ocorre sempre que uma corrente elétrica atravessa um condutor que é o efeito Joule. 5.2.1 Potência termoelétrica: Para um determinado par termoelétrico A,B submetido a uma pequena diferença de temperatura teremos: dEs = A,B dT, onde o coeficiente de proporcionalidade A,B (coeficiente de Seebeck) é também chamado de Potência termoelétrica. A potência termoelétrica é o valor da inclinação da curva numa dada temperatura (veja figura). Quanto maior a potência termoelétrica de um termopar, dentro de uma faixa estreita de temperatura, maior será a variação de sua FEM, correspondente a uma variação de temperatura T. CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROF. Antonius Henricus Maria de Knegt. METODOLOGIA DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO 3 5.2.2 Recomendações para instalação de termopares: Para obter uma boa medição é necessário que a junta de medição esteja bem no meio do ambiente cuja temperatura se deseja medir. O comprimento mínimo recomendado, para minimizar erros causados pela condução de calor ao longo da proteção, é de dez vezes o diâmetro externo do tubo ou poço de proteção do termopar (ver figura). Recomenda-se também uma distância mínima de 100 mm do cabeçote a parede do processo, para que a temperatura máxima de utilização dos fios/cabos de compensação ou extensão não seja excedida. 5.3 Termoresistências: A resistência elétrica de vários materiais muda com a temperatura de forma repetitiva, formando a base da medição resistiva de temperatura. Os materiais hoje empregados com esta finalidade caem em duas classes principais: condutores (metais) e semicondutores. Os resistores metálicos foram empregados primeiro e por isto são comumente chamados de termoresistores. Mais recentemente a terminologia “Resistance Temperature Detectors” (RTD) vem sendo utilizada. Ao segundo tipo de material empregado, o semicondutor, dá-se a denominação genérica “Termistor”. 5.3.1 Construção física do sensor: Um fio de platina ou níquel é enrolado de maneira helicoidal e encapsulado dentro de um bulbo cerâmico. Outro método consiste em depositar um filme fino de platina sobre o isolador (ver figura). CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROF. Antonius Henricus Maria de Knegt. METODOLOGIA DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO 4 Construção física dos termoresistores. 5.3.2 Tempo de resposta das termoresistências: Para completar a medição com termoresistores é necessário que o sensor atinja a mesma temperatura que o processo. Para tanto, o calor do processo têm passar através do tubo de proteção, da isolação mineral ou do ar que preenche o tubo para em seguida aquecer o bulbo cerâmico que contém o resistor. Todo este conjunto pode ser aproximado por um sistema de 1a ordem. A figura a seguir apresenta os diferentes tempos de resposta em função do diâmetro do bulbo. Quanto menor este diâmetro mais rápida será a resposta do sensor, uma vez que menor será sua capacitância térmica. CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROF. Antonius Henricus Maria de Knegt. METODOLOGIA DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO 5 Tempo de resposta de uma termoresistência com isolação mineral. CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROF. Antonius Henricus Maria de Knegt. METODOLOGIA DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO 6 5.4 Critérios para especificação de termopar ou termoresistência: 5.4.1 Escolha entre termopar ou termoresistência: As termoresistências podem ser empregadas para medir temperaturas de -200º C até 650º C. Nesta faixa, apesar das desvantagens de custo, fragilidade e tempo de resposta, em princípio, elas devem ser escolhidas devido as vantagens que apresentam conforme tabela abaixo. Para temperaturas acima de 650oC escolhe-se o termopar. Vantagens/desvantagens termopares × termoresistências TERMORESISTÊNCIAS VANTAGENS TERMORESISTÊNCIAS DESVANTAGENS Possuem maior precisão dentro da faixa de utilização do que os termopares. São mais caras do que os termopares na mesma faixa de temperatura. Tem características de estabilidade e repetibilidade melhores do que os Termopares. Range de temperatura menor do que os termopares. Com ligação adequada, não existe limitação para distância de operação Deterioram-se com mais facilidade, caso a temperatura ultrapasse o valor máximo de utilização. Dispensa o uso de fios e cabos de extensão e compensação para ligação. Emprega para isto condutores de comuns de cobre. É necessário que todo o corpo do bulbo esteja com a temperatura estabilizada para medição correta. Curva resistência temperatura mais linear. Tempo de resposta maior do que os termopares. Menos influenciada por ruídos elétricos. Mais frágil mecanicamente. 5.4.2 Caso seja escolhido um termopar: Então o passo seguinte é definir qual é o tipo do termopar. Existem diversos tipos de termopares para diferentes faixas de temperaturas e diferentes atmosferas (oxidantes ou redutoras). A tabela a seguir relaciona os termopares com faixa de temperatura, aplicações e restrições de uso. CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROF. Antonius Henricus Maria de Knegt. METODOLOGIA DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO 7 Tipo Materiais do par Faixa de temperatura Aplicações Restrições T Cobre (+) Constantan(-) -184 a 370 o C a) Resiste a atmosfera corrosiva. b) Aplicável em atmosfera redutora ou oxidante abaixo de 310oC. c) Estável em temperaturas abaixo de 0 o C. a) Oxidação do cobre acima de 310 o C. J Ferro(+) Constantan(-) 0 a 760 o C a) Baixo custo. b) Indicado para atmosferas neutras ou redutoras a) Utilizar tubo de proteção acima de 480 o C. E Chromel(+) Constantan(-) 0 a 870 o C a) Alta potência termoelétrica. b) Alta resistência a corrosão. c) Pode ser utilizado em atmosfera oxidante. a) Baixa estabilidade em atmosfera redutora. K Chromel(+) Alumel(-) 0 a 1260 o C a) Indicado para atmosfera oxidante. b) Para temperaturas mais elevadas tem maior rigidez mecânica que os tipos S ou R e vida mais longa que o J. a) Vulnerável em atmosferas redutoras, sulfurosas como SO2 e H2S, requerendo substancial proteção nestas condições. S Platina10%Rhodio(+) Platina(-) 0 a 1480 o C a) Indicado para atmosfera oxidante. b) Apresenta boa precisão a altas temperaturas. a) Vulnerável à contaminação em atmosferas que não sejam oxidantes. b) Para altas temperatura utilizar isoladores e tubos de proteção de alumina. R Platina13%Rhodio(+) Platina(-) B Platina30%Rhodio(+) Platina6%Rhodio(-) 870 a 1705º C a) Melhor estabilidade do que os tipos S ou R. b) Melhor resistência mecânica. c) Mais adequado para altas temperaturas do que os tipos S ou R d) Não necessita de compensação para junta de referência se a temperatura de seus terminais não exceder 50 o C. a) Vulnerável à contaminação em atmosferas que não sejam oxidantes. b) Utilizar isoladores e tubos de proteção de alumina. Para a escolha do tipo de termopar também deve ser considerada a precisão requerida para a medição e obviamente, o custo. Existem duas classes de precisão para os termopares: a classe Standard que é a mais utilizada e a CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROF. Antonius Henricus Maria de Knegt. METODOLOGIA DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO 8 classe Especial. Os termopares da classe especial são fornecidos na forma de pares com grau de pureza das ligas maiores que a Standard. Além disto, há também um trabalho laboratorial para descobrir num lote de fios, aqueles que melhor se adaptam (casam entre si), conseguindo assim uma melhor precisão na medição de temperatura. Portanto, as opções são: Classe 2 ou 3 (Standard): É o termopar padrão do fabricante, sendo o 3 um pouco mais barato que o 2. Classe 1 (Especial): Opção bem mais cara. Só deve ser empregado se for realmente necessário. A tabela a seguir mostra os limites de erro para cada faixa de utilização de diversos termopares. Como pode ser visto, pode-se especificar um termopar classe 1 especial quando uma melhor precisão for necessária. Naturalmente tais termopares têm custo mais elevado. Veja também que a precisão varia em função da faixa de utilização. CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROF. Antonius Henricus Maria de Knegt. METODOLOGIA DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO 9 Ainda com relação à tabela, observe que a precisão melhora da esquerda para a direita e os termopares mais caros, que são aqueles que contem platina (S, R, e B) estão na parte de baixo da tabela. Então, em geral pode se considerar que o custo aumenta da direita para a esquerda e de cima para baixo. No entanto, o mais barato é o tipo J. 5.4.3 Caso seja escolhido uma termoresistência: Existem sensores de cobre ou níquel, mas em aplicações industriais o mais utilizado é o de platina. Então, em geral isto significa empregar um termoresistor de platina 100Ω a 0oC. Como os termopares, também as termoresistências podem apresentar maior ou menor precisão dependendo de sua classe de fabricação. A figura a seguir mostra o erro em graus em função da temperatura para termoresistores de platina, classe A e classe B. 5.4.4 Exemplos de especificação: Exemplo 1: Seja especificar um sensor de temperatura para a faixa 400 a 700º C com uma precisão de ±1,0%. A faixa de temperatura está ligeiramente acima do limite máximo das termoresistências (650º C). Então vamos escolher um termopar. CURSO DE ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO PROF. Antonius Henricus Maria de Knegt. METODOLOGIA DE PROJETOS DE AUTOMAÇÃO 10 Verificando na tabela, os tipos E, J, K ou N atendem a faixa de temperatura e a precisão requerida. Neste caso escolhe-se o tipo J por ser o mais barato. Portanto: Termopar tipo J classe 2 Standard. Exemplo 2: Escolha um sensor de temperatura para a faixa 700 a 1200º C com precisão requerida de ±4º C. Quatro graus em 1200 corresponde a: 4/1200×100%= 0,33% Pela faixa de temperatura: K classe 2, S/R e B atendem. Tipo K não atende a precisão, S/R classe 2 ou B classe 2 atendem. Com relação a preço os três contém platina. A escolha seria então tipo S ou R classe 2 porque possuem potência termoelétrica maior que o B. Logo: Termopar tipo S classe 2 Standard. Exemplo 3: Escolha um sensor de temperatura para a faixa 100 a 300º C com precisão requerida de ±2,5%. Pela faixa: termoresistência. Quanto a precisão: 0,025×100 = 2,5º C 0,025×300 = 7,5º C Consultando o gráfico “termoresistências limites de erro”: Classe B atende facilmente ( 0,8º C para 100 e 1,8º C para 300). Portanto: Termoresistor de platina (Pt 100) Classe B.
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