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Aula 5 - ATO ADMINISTRATIVO 1 – CONCEITO A exteriorização da vontade administrativa pode ocorrer de diversas formas, notadamente por meio de manifestações unilaterais (ato administrativo), bilaterais (contratos da administração) ou plurilaterais ( consórcios e convênios). Ato administrativo é uma manifestação de vontade unilateral, sob o regime de direito público, pretende produzir efeitos jurídicos com objetivo de implementar o interesse público. O fato de serem praticados no exercício de atribuições públicas faz com que sejam os atos administrativos submetidos a regime de direito público. Assim, ato administrativo: • é manifestação de vontade do Estado ou de quem o represente. Ex.: concessionária. • Visa criar, modificar ou extinguir direitos, tendo por objetivo satisfazer o interesse público. • Enquadra-se no Regime jurídico público. • Sujeito a controle de legalidade. OBS: os demais poderes também praticam atos de administrativos, embora dentro de sua função atípica. 2 - ELEMENTOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS A doutrina majoritária toma como base a Lei de Ação Popular (4717/65). � Agente Competente O ato administrativo deve ser editado por agente público competente. O sujeito é elemento de todo e qualquer ato jurídico. O sujeito do ato administrativo nada mais é que o agente público. Agente público é todo aquele que exerce função pública, de forma temporária ou permanente, remunerada ou não. Os critérios definidores da competência: matéria; território; grau hierárquico; tempo (até criar um órgão competente). A competência administrativa está prevista na lei ou na CF (princípio da legalidade). Trata-se de um dever. É irrenunciável, salvo nos casos de delegação e avocação – são excepcionais e motivadas. Art. 11 a 15 da Lei 9784/99. Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos. Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes. Art. 13. Não podem ser objeto de delegação: I - a edição de atos de caráter normativo; II - a decisão de recursos administrativos; III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial. § 1o O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada. § 2o O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante. § 3o As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado. Art. 15. Será permitida, em caráter excepcional e por motivos relevantes devidamente justificados, a avocação temporária de competência atribuída a órgão hierarquicamente inferior. É possível, portanto, a modificação da competência, desde que não se trata de competência atribuída, com exclusividade, a determinado órgão ou entidade. A modificação de competência pode ser dividida em duas categorias, conforme visto nos artigos acima: a) Delegação: é a transferência precária, total ou parcial, no exercício de determinadas atribuições administrativas, inicialmente conferidas ao delegante, para outra gente público; b) Avocação: é o chamamento, pela autoridade superior, das atribuições inicialmente outorgadas pela lei ao agente subordinado. � Forma A FORMA é o revestimento externo do ato administrativo. É o modo de exteriorização do ato administrativo. A forma exigida pela lei quase sempre é a escrita (no caso dos atos praticados no âmbito do processo administrativo federal, a forma é sempre e obrigatoriamente a escrita). Existem, porém, atos administrativos não escritos, ex. ordens verbais do superior ao seu subordinado; gestos, apitos e sinais luminosos no trânsito, etc. A doutrina tradicional costumava classificar a forma dos atos administrativos como um elemento vinculado. A forma do ato administrativo recebe tratamento diverso daquele conferido aos atos privados. No direito privado há liberdade Na prática de atos, reforçando autonomia de vontade dos particulares. art. 107 CC. Já no direito administrativo vigora o princípio da solenidade das formas, exigindo-se do agente público a edição de atos escritos e o atendimento das formalidades legais, uma vez que o agente público, ao contrário do particular, administra interesse público que dizem respeito a toda coletividade. Vício de Forma 1. Vício sanável = anulável. Admite convalidação. 2. Vício insanável. Não admite convalidação. Nulo. � Finalidade A FINALIDADE é um elemento sempre vinculado. Trata-se do resultado do ato. Nunca é o agente público quem determina a finalidade a ser perseguida em sua atuação, mas sim a lei. Podemos identificar nos atos administrativos: a) Uma finalidade geral ou mediata, que é sempre a mesma, expressa ou implicitamente estabelecida na lei: a satisfação do interesse público; b) Uma finalidade específica, imediata, que é o objetivo direto, o resultado específico a ser alcançado, previsto na lei, e que deve determinar a prática do ato. Assim, a finalidade específica de uma multa de trânsito é punir um infrator, sendo lídimo imaginar que tal punição desestimula as infrações, colaborando com a melhoria do trânsito e, por conseguinte, com a finalidade geral que é o bem comum (interesse público). O desatendimento a qualquer das finalidades de um ato administrativo – geral ou específica – configura vício insanável, com a obrigatória anulação do ato. O vício de finalidade é denominado pela doutrina como DESVIO DE PODER (ou desvio de finalidade) e constitui uma das modalidades do denominado abuso de poder (a outra é o excesso de poder, vício relacionado à extrapolação da competência). � Motivo MOTIVO é a situação de fato e de direito que determina ou autoriza a prática do ato, ou, em outras palavras, é o pressuposto fático e jurídico (ou normativo) que enseja a prática do ato. A doutrina, por vezes, usa o vocábulo “causa” para aludir ao elemento motivo. Ex: na concessão de licença paternidade, o motivo será sempre o nascimento do filho do servidor; na punição do servidor, o motivo é a infração por ele cometida; no tombamento, é o valor histórico do bem etc. O motivo é elemento obrigatório do ato administrativo, essencial, ou seja, o ato administrativo sem motivo é totalmente nulo. Obs.: Motivação A motivação, por sua vez, vem a ser a exposição dos motivos que determinam a prática do ato. Trata-se da exteriorização dos motivos que levaram a Administração a praticar o ato. Mesmo que a motivação seja dispensável, no momento em que é feita, passa a integrar o ato administrativo. Assim, se a motivação for falsa ou viciada, também será viciado o ato. Ex.: ao editar o ato, o chefe do Executivo especifica as justificativas para a pratica do ato. “Considerando a situação de calamidade pública”, “considerando ausência de leitos públicos necessários para o atendimento da população” etc. Muito se discute, sobre a obrigatoriedade da motivação nos atos administrativos. Nos dizeres de Rafael Carvalho “a motivação dos atos administrativos, independentemente de previsão legal expressa, diminuia possibilidade de atuação arbitrariedade ministração. Transparência pública impõe a exposição das razões de fato e de direito que ensejaram a prática de determinado ato. Motivação confere maior legitimidade à atuação estatal, servindo como parâmetro importante de controle judicial e social bem como instrumento inibidor da arbitrariedade administrativa. A obrigatoriedade de motivação é uma exigência constitucional que deriva dos princípios democráticos, da legalidade, da publicidade e da ampla defesa e do contraditório.” Em âmbito federal a motivação vem descrita com princípio no at. 2, VII da Lei 9.784/99. Obs.: Teoria dos motivos determinantes. O administrador está vinculado ao motivo declarado, que deve ser cumprido, mesmo no caso de exoneração ad nutum. Dessa forma, por essa teoria, a validade do ato administrativo depende da correspondência entre os motivos nele expostos e a existência concreta dos fatos que ensejaram a sua edição. EX: hipótese na qual há exoneração de a gente ocupante de cargo em comissão, que inicialmente seria livre, vem acompanhada de motivação. Nesse caso, o ato desoneração somente será considerado válido se as razões nele colocadas tiverem efetivamente ocorrido na prática. Vícios do Motivo O vício de motivo sempre acarretará a nulidade do ato. De acordo com Ricardo Alexandre, o vício de motivo ocorre nas seguintes situações: a) quando o motivo é inexistente; b) quando o motivo é falso; c) quando o motivo é inadequado (incongruência entre o motivo e o resultado do ato). A título de exemplo, se a Administração anula uma licitação fundamentando tal providência em irregularidade que não se verificou, o motivo é inexistente. Se havia uma irregularidade diversa daquela mencionada no ato, o motivo era falso. Por fim, se havia apenas uma pequena falha na licitação, insuficiente para determinar a sua anulação, diz-se que o motivo era inadequado para a edição do ato. � Objeto O OBJETO é o efeito jurídico e material imediato que será produzido pelo ato administrativo. É o próprio conteúdo material do ato, por meio do qual a administração manifesta sua vontade, ou atesta simplesmente situações preexistentes. Ex. é objeto do ato de concessão de uma licença é a própria concessão da licença. Nos atos vinculados, há um motivo corresponde ao objeto; verificado o motivo, a prática do ato (com aquele conteúdo estabelecido na lei) é obrigatória. Nos atos discricionários, há liberdade de valoração do motivo e escolha do objeto dentre os possíveis, autorizados na lei. OBS: discricionariedade X vinculação Trata-se do grau de liberdade na atuação dos agentes públicos quando da prática de atos administrativos. Em determinados casos, o legislador autoriza, expressa ou implicitamente, a realização de opções pela gente, a partir de critérios de conveniência e de oportunidade (mérito administrativo). Nestes casos fala-se em atuação discricionária do agente público. Ex.: autorização de uso de bem público Por outro lado, o legislador pode descrever, na própria norma jurídica, todos os elementos do ato administrativo, que deverão ser observados pela gente, sem qualquer margem de liberdade. Neste caso, atuação é vinculada. Ex.: licença para dirigir Obs.: O mérito administrativo consiste, conforme Hely Lopes “na valoração dos motivos e na escolha do objeto do ato, feitas pela Administração incumbida de sua prática, quando autorizada a decidir sobre a conveniência, oportunidade e justiça do ato a realizar”. É possível dizer, que o mérito é o núcleo dos atos administrativos discricionários. Não há mérito na edição de atos vinculados. Assim teremos nos atos vinculados e discricionários: ELEMENTOS ATO VINCULADO ATO DISCRICIONÁRIO Competência Vinculado Vinculado Finalidade Vinculado Vinculado Forma Vinculado Vinculado Motivo Vinculado Discricionário Objeto Vinculado Discricionário OBS: controle JUDICIAL dos atos administrativos discricionários a) Controle de legalidade: adequação formal do ato administrativo com a legislação; b) Controle de mérito: verificação da conveniência da oportunidade relativas ao motivo e ao objeto do ato administrativo. Neste caso, o controle jurisdicional sobre os atos oriundos dos demais poderes restringe-se aos aspectos de legalidade, sendo vedado ao poder judiciário substituir- se ao administrador e ao legislador para definir, dentro da moldura normativa, qual a decisão mais conveniente ou oportuna para o atendimento do interesse público, sob pena de afronta o princípio constitucional da separação de poderes. Portanto, judiciário deve invalidar os atos ilegais da administração, mas não pode revogar a luz por razões de conveniência oportunidade. 3 - ATRIBUTOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS – CARACTERÍSTICAS • Presunção de Legitimidade • Autoexecutoriedade • Imperatividade a) Presunção de legitimidade Os atos administrativos são presumidamente legítimos, legais, verdadeiros. A presunção é relativa (juris tantum), cabendo a quem alegar sua ilegitimidade o ônus da prova. A consequência prática da presunção de legitimidade é a aplicação imediata do ato. Tem como consequência a própria autoexecutoriedade. A presunção de legitimidade diz respeito à conformidade do ato com a lei; em decorrência desse atributo, presume-se, até prova em contrário, que os atos administrativos foram emitidos com observância na lei. Dessa forma, a presunção de legitimidade autoriza a imediata execução ou operabilidade dos atos administrativos, mesmo que arguidos de vícios ou defeitos que os levem à invalidade. b) Autoexecutoriedade Significa que a administração possui a prerrogativa de executar diretamente a sua vontade, inclusive com uso moderado da força, independentemente da manifestação do poder judiciário. Ex: demolição de obras clandestinas e não utilização de gêneros alimentícios impróprios para o consumo; interrupção de passeata violenta; requisição de bens em casa de iminente perigo público... c) Imperatividade Exatos administrativos são, em regra, interativos pouco erci ativos, uma vez que representam uma ordem emanada da administração pública que deve ser cumprida pelo administrado. São obrigatórios, coercitivos, cogentes. Todo ato administrativo goza de imperatividade? Não. Está presente apenas em atos administrativos que impõem obrigações.
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