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Realismo Movimento que se inicia na segunda metade do século XIX com a retomada do racionalismo e se estende até o início do século XX. Sua principal característica é a tentativa de traduzir a realidade. O Realismo, portanto, é o reflexo da desilusão do homem frente à sociedade: miséria das cidades, crise da produção no campo e péssimas condições de vida. É nesse ambiente que os artistas passam a observar e a externar a verdade possível da realidade, colocando-se contra o tradicionalismo romântico e procurando incorporar os descobrimentos científicos de seu tempo. As principais teorias realistas são: Teoria determinante: Hipolite Taine (1825-1893); doutrina filosófica que afirma que todo evento, mental ou físico, tem uma causa e que evento invariavelmente a segue. Consequência de uma herança, de um meio ou de uma circunstância (momento). Filosofia positivista: Auguste Comte (1789-1857); sistema de filosofia baseada em experiencia e conhecimento empírico dos fenômenos naturais, no qual metafísico e teologia são consideradas como sistemas de conhecimento inadequados e defeituosos. Socialismo utópico: Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865); sociedade na qual as pessoas seriam de natureza ética e senso de responsabilidade moral tão altamente desenvolvidos, que seria desnecessário um governo para regular e proteger essa sociedade. Seu idealizador rejeitou o uso de força para impor qualquer sistema a um povo. Num estado ideal de sociedade, o que ele chamou de “ordem em anarquia”, as pessoas agiriam de uma maneira responsável, ética, de livre arbítrio. Evolucionismo: Charles Robert Darwin (1809-1882); doutrina fundada na ideia de evolução e, mais particularmente, conjunto das teorias explicativas do mecanismo da evolução dos seres vivos. Fisiologismo: Claude Bernard (1809-1882); descoberta de que as doenças nada mais são que anomalias ou distúrbios dos órgãos do corpo humano e não do espírito. Monismo: tipo de pensamento filosófico no qual foi feita a tentativa de eliminar a dicotomia, princípio que afirma a existência única, no ser humano, de corpo e alma. Dessa forma, o subjetivismo romântico foi substituído pela descrição da realidade externa, na qual o escritor pretende retratar a realidade como realmente é, criticando e revoltando-se contra a injustiça e a opressão. A ideologia do Realismo é a crítica ao tradicionalismo da sociedade burguesa, provida da educação romântica (distante da realidade); crítica ao conservadorismo da Igreja (voltada para o passado) que impedia o desenvolvimento natural da sociedade; visão objetiva e natural da realidade; preocupação com a reforma da sociedade com o objetivo de democratizar o poder político e a representação da vida contemporânea, procurando mostrar todos os seus detalhes significativos. O realismo português iniciou-se em 1865 e estendeu-se até 1890, com a publicação de Oaristos, de Eugênio de Castro. As ideias realistas foram introduzidas por um grupo de jovens estudantes de Coimbra, atentos à nova estética vinda da Europa, influenciados pela poesia social de Victor Hugo e pelas ideologias de Hegel, Marx e Engels. O líder do grupo era Antero de Quental, que lutava para divulgar suas novas ideias por meio de suas poesias revolucionárias. Essa atitude gerou uma resposta dos artistas românticos, com a publicação de obras criticando a nova estética. De caráter anticlerical e antimonárquico, tal polêmica ficou conhecida como Questão de Coimbrã e só terminou em 1871, quando o governo interferiu a deu vitória aos realistas. Em 1871, as Conferências do Cassino Lisbonense consolidam o projeto literário, filosófico e político proposto pelos jovens coimbrãos de 1870, que queriam modernizar o país, ligando-o aos objetivos e projetos da Geração Materialista. Nesse contexto, a poesia e a prosa convertem-se em armas de ação, em formas de engajar o escritor na luta social de seu tempo, em modos privilegiados de tentar superar o provincianismo da mentalidade portuguesa. A base do Realismo foi a relação indivíduo X sociedade. A poesia era voltada ao cotidiano e opunha-se ao lirismo romântico, pois revelava as injustiças e desníveis sociais. Desse movimento deriva o naturalismo, que tem como objetivo central comprovar as teses científicas do Positivismo e defender o Racionalismo. A preocupação com a reforma da sociedade portuguesa, por meio da concepção da literatura como um “espelho” que deveria refletir as contradições socias, sintetiza a inserção do Realismo naturalista no país. Trata-se, enfim, da análise e da crítica das principais instituições sociais representativas da sociedade burguesa, com a finalidade de demonstrar que essa classe estava fracassada como regime político-social, e se encontrava, por isso, em declínio. Enquanto a escolha do casamento, visto como estrutura básica do sistema burguês, torna-se um dos temas preferenciais do realismo, a insistência no adultério feminino manifesta alguns elementos típicos do Naturalismo, presentes no movimento. Trata-se da visão determinista segundo a qual a mulher reduz-se à condição de fêmea, submissa aos instintos e às influências ambientais. Além da família em decomposição, outros pilares de ordem social então vigentes, tais como o clero e a aristocracia, são escolhidos como alvos e dissecados em seus vícios e hipocrisias. Características Entre as principais características do Realismo português temos: foco em questões sociais e na realidade como ela é, sem distorções, não mais baseada em idealizações desta e opiniões subjetivas sobre esta realidade; descrição de pessoas comuns, com problemas e limitações como todos os seres humanos; foco na vida cotidiana e na denúncia de falsos valores, trazendo uma moral que, possivelmente, é mais eficaz do que a simples condenação de atitudes que existia em movimentos anteriores, uma vez que mostra a origem e as consequências dos valores falidos da época. O objetivismo aparece como negação ao subjetivismo romântico, mostrando o homem voltado ao exterior. O Realismo reflete a postura do Positivismo, do Socialismo e do Evolucionismo. O materialismo se opõe ao sentimentalismo e à metafísica. O nacionalismo e a volta ao passado são abolidos, pois o Realismo só se preocupa com o presente. Há indiferença e insensibilidade quanto à moral e aos aspectos da realidade que possam ofender o leitor. A linguagem é comum, sem grande observância gramatical. José Maria Eça de Queirós (1845-1900) Nascido em Pávoa do Varzim, Eça de Queirós formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. Considerado o percursor do Realismo em Portugal, revelou em suas obras a hipocrisia e a moral decadente da sociedade do século XIX por meio de uma análise psicológica. Além de suas obras pragmáticas sobre o novo estilo, como Prosas Bárbaras (1905), fez parte do grupo O Cenáculo (1869) e foi um dos membros responsáveis pelas Conferências do Cassino Lisbonense (1871). Em Leiria, onde se preparou para a carreira diplomática, escreveu O Crime do Padre Amaro, obra que inaugura oficialmente o Realismo-Naturalismo português. Eça preocupou-se em criar uma literatura de caráter ideológico, logo, sua descrição torna-se precisa e atenta aos detalhes. O que mais chama a atenção nas obras de Eça é a variedade de sua construção linguística, na qual as frases são diversificadas e dá-se ênfase à linguagem popular, aos estrangeirismos e neologismos. Suas obras são divididas em três fases: 1ª fase (1865-1871): são os primeiros textos do autor, publicados em forma de folhetins reunidos como título prosas Bárbaras. Influenciadas por Victor Hugo e Charles Baudelaire, mostram em suas obras ricas imagens, metáforas e comparações, dando preferência a temas históricos e anticlericais. Obras: O mistério da estrada de Sintra (1871); As Farpas (colaboração num jornal satírico dirigido por Ramalho Ortigão, e mais tarde reunidas no título Uma campanha alegre – 1890-1891); Prosas Bárbaras (1905). 2ª fase (1871-1888): é a fase realista. O crime do padre Amaro, O primo Basílio e Os Maias formam a trilogia que ficou conhecida como Cenas da vida portuguesa. O autor se preocupa em mostrar a sociedade portuguesa: cidade provinciana, influência do clero, pequena e média burguesia de Lisboa, intelectuais, aristocracia e alta burguesia. 3ª fase (1888-1900): é a fase pós-realista, marcada pela desilusão e o abandono aos ideais realistas; defende a política colonialista, o nacionalismo e a vida pura do campo, com as obras A ilustre casa de Ramires, A cidade e as serras e A relíquia.
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