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Direito Civil IV Defesa da Posse

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FACULDADES CATHEDRAL
CURSO BACHAREL EM DIREITO
DEFESA DA POSSE
	
BOA VISTA/RR
MARÇO/2019
FACULDADES CATHEDRAL
CURSO BACHAREL EM DIREITO
ACADÊMICOS
ADRIANA BARBOSA CORRÊA
NAIELLY GARCIA
NAYARA FERREIRA
TAINAH RODRIGUES
VICENTE POERSCHKE
DEFESA DA POSSE
Trabalho para fins de conhecimento e avaliação sistemática de Direito Civil IV, ministrada pelo Prof. Vilmar Antônio da Silva. 
	
BOA VISTA/RR
MARÇO/2019
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO	 4
2.DESENVOLVIMENTO	 5
2.1– Histórico	 5
2.2 – Conceito	6
2.3 – Natureza Jurídica	7
2.4 – Aplicações no Direito	8
2.5 – Principais Implicações no Mundo dos Direitos Reais	9
2.5.1 – Esbulho, Turbação e Ameaça	10
2.5.2 – Autotutela	11
2.5.3 – Proteções e Ações Possessórias	11
3.EXERCÍCIOS	13
4.CONCLUSÃO	21
5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS	22
INTRODUÇÃO
Desde que se fala da existência de uma sociedade já falava-se de posse, talvez com outro nome ou outra finalidade que difere da atual, mas o intuito já existia. A aquisição da posse era defendida por diversos motivos. Esta aquisição, atualmente, pode ser de algumas maneiras: por sucessão que está prevista no art. 1784 do código civil, pode ser feita pela apreensão ou ocupação, através dos direitos reais e através de contratos.
O instituto da posse é de extrema importância que seja esclarecido e entendido, pois é através dele, do dia da posse que se conta, por exemplo o prazo de usucapião e sabendo o instituto da posse pode ser feita a defesa legal da posse, como por exemplo o desforço imediato, previsto no art. 1210 § 1º, do Código Civil. 
O código civil brasileiro estabelece critérios para a defesa da posse, que serão abordados no presente trabalho de maneira sucinta, mostrando também como pode ser feita legalmente a defesa da posse.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Histórico
A data concreta do surgimento da posse não tem como ser descrita, mas desde a antiguidade a defesa da posse foi destaque e desenvolveu-se ao longo dos anos. Em Roma, quando surge o direito romano, o reconhecimento da posse da coisa era a exteriorização do direito de propriedade. O direito de posse era percebido pelas formas de organizações humanas, seja por indivíduos ou grupos que buscavam possuir determinado objeto ou coisa. Era chamado de “posse de direito” a proteção garantida pelo direito romano, tinham a proteção dos direitos reais limitados.
Os primitivos romanos já defendiam a posse utilizando a força, com o passar dos anos o direito de posse passa a ser assegurado pelo direito público.
De acordo com ALOÍSIO SURGIK, a propriedade privada era restrita a casa, ao campo que a circundava e a sepultura familiar, a palavra propriedade ainda não era utilizada, usava-se dominium ou domus (casa), usava dominus para referir-se ao dono, tudo estava relacionado a religião que cultuava deuses lares. O poder sobre a terra era diluído entre a família, chamado de Pater famílias. A posse da terra era concedida ao cidadão em troca de um percentual do dizimo que deveria ser pago regularmente e uma parte da colheita dos frutos. Desde essa época já percebia o direito romano de posse e propriedade, por mais que estivessem com outros nomes.
A funcionalidade da posse e propriedade foi passando a ter novo sentido com o decorrer do tempo até chegar nos dias atuais.
Segundo Maria Helena Diniz, no livro Curso de Direito Civil, volume 4, Direito das Coisas, 2014, p.69. São adotadas duas teorias, a de Niebuhr que defende a tese de que a posse surgiu com a repartição de terras reconquistadas pelos romanos, as possessiones, que eram terras propostas à edificação de cidades, os favorecidos destas terras não tinham a propriedade, então não conseguiam defende-las de possíveis invasores, surgindo assim o interdito possessório, dando direito de proteção jurídica a estas terras. E a teoria adotada por Ihering (teoria promulgada), que traz a posse na medida arbitrária tomada para proporcionar a guarda ou a proteção da coisa litigiosa. A base dessa teoria era a inércia, e o domínio era assegurado pela inércia de das partes. Era usado o pretor que acabou sendo substituído com o passar dos anos, por medidas com critérios mais justos e lógicos, esta medida beneficiou aquele que tivesse melhor prova a seu favor na fase inicial da ação. Aos poucos o processo foi ganhando forma de ação de mérito, podendo reivindicar o direito a posse e a defesa da posse (DINIZ, 2014). 
2.1 - Conceito
Podemos dizer que não existe um conceito único e onipotente de posse, existem vários doutrinadores que divergem no aspecto, sua definição de fato ou de direito. Nosso grupo irá trazer a forma da Lei, doutrinas e seus conceitos divergentes, e logo, condensar o entendimento do conceito.
O código civil não traz a definição de posse, no entanto ele traz, no art. 1196 referências ao possuidor, lê-se: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.”
Nosso ordenamento traz sobre o conceito da defesa da posse, no art. 1210, CC:
“O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.”
A doutrinadora, Maria Helena Diniz, em seu livro Curso de Direito Civil Brasileiro, vol. 4 – Direito das Coisas, 2015, na p. 54, explana o conceito de posse de tal forma: “Caracteriza-se a posse como a exteriorização da conduta de quem procede como normalmente age o dono.”.
Complementando sobre o assunto, Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro – Direito das Coisas, 2014, p. 51:
“Tem posse quem se comporta como dono, e se nesse comportamento já está incluindo o animus. O elemento psíquico não se situa na intenção de dono, mas tão somente na vontade de agir como habitualmente o faz o proprietário (affectio tenendi), independentemente de querer ser dono (animus domini).”
2.3 Natureza jurídica da posse
Entende-se por posse, o poder que uma pessoa tem, sobre determinada coisa, o exemplo mais simples disso é uma casa, como por exemplo: Uma determinada pessoa tem terreno onde constrói sua casa, tendo ele a propriedade e a posse da coisa. Não entrando no mérito da propriedade passaremos direto para a posse. Essa pessoa tem ações possessórias sobre a casa já mencionada, podendo então, defender seu direito de ali habitar, caso alguém venha adentrar em sua terreno querendo tomá-lo mediante violência, este poderá no mesmo instante, usar da legítima defesa ou desforço imediato, não sendo possível tomar tal atitude após a ciência da ação em seu terreno, tendo que fazê-lo IMEDIATAMENTE. Ressalta-se que este estará amparado por lei nos termos do art. 1.210, §1° do Código Civil, que diz: 
“Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1° O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.”
É possível afirmar e comprovar a discussão quando se fala na Posse, mas para darmos início é preciso tentar entender tal discussão na doutrina e até mesmo na legislação vigente, segundo Ihering e sua pesquisa, ele considera a posse como um Direito, mais não apenas um direito qualquer, e sim, um direito subjetivo, aquele que o Estado visa proteger.
Mas há doutrinadores que consideram a posse, como um estado de aparência, como o Doutrinador Silvio Venosa, sendo esta a corrente majoritária no nosso ordenamento jurídico. E por que seria a posse um estado de aparência? Segundo ele, quando o possuidor da coisa é ameaçado ou desapossado da mesma, ele terá que por vezes demonstrar que é possuidor, que tem o direito real, prejudicando então sua tutela e prestação jurisdicional, pois há morosidade eretardo que é justamente o que causa o prejuízo ao possuidor. 
Lembrando que o estado de aparência se origina sem a necessidade de qualquer resquício jurídico, podendo então ter serventia para tomar posse da propriedade, tendo como exemplo o caso de usucapião. Sendo assim, o direito tem que ter e propiciar meio de proteção àqueles que provam ter a titularidade de direito.
Maria Helena Diniz, acredita ser a posse um Direito Real, posto que é a visibilidade e o desmembramento da propriedade, ressaltando o princípio em que o acessório segue o principal, como não existe propriedade sem a posse. 
Ressalta ainda a Doutrinadora, a respeito das características que tal posse tem, condizendo com o direito real. Tais características são: o exercício direto sem intermediário, sua oponibilidade contra todos, o direito real recai sobre o objeto determinado, não tendo em nosso ordenamento jurídico nenhum obstáculo em ser, a posse, considerada um direito real.
Por fim, é interessante notar a controvérsia que é falar de Natureza Jurídica da Posse, pois é algum bem complexo de entrar em consenso, apesar de prevalecer a Posse como um Direito Real, tal conclusão se dar, por levar em conta a sua oponibilidade contra todos, efeito erga omnes, e por ligar uma pessoa a uma determinada coisa.
2.4 Aplicação no Direito
O ordenamento jurídico brasileiro usado atualmente, como já mencionado anteriormente, adota a teoria objetiva. Observa-se no Código Civil Brasileiro, no art. 1196: “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade,” que as questões relativas a posse, a classificação, modo de aquisição, perda e efeitos podem ser tratadas de maneira a contemplar a teoria de Ihering.
Maria Helena Diniz, no livro Curso de Direito Civil Brasileiro, vol. 4 Direito das Coisas, 29a ed., 2014, p. 53, destaca o possuidor:
“Considera-se possuidor todo aquele que tem poder fático de ingerência socioeconômica, absoluto ou relativo, direto ou indireto, sobre determinado bem da vida, que se manifesta através do exercício ou possibilidade de exercício inerente à propriedade ou outro direito real suscetível de posse.”
O possuidor pode proteger seus direitos, mesmo não tendo a propriedade do bem, com previsão legal no ordenamento jurídico brasileiro, em relação a tutela da posse o art. 1210 do Código Civil Brasileiro diz que:
“O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. 
§ 1º O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.
 § 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.”
 
2.5 - PRINCIPAIS IMPLICAÇÕES NO MUNDO DOS DIREITOS REAIS.
O entendimento de doutrinas e forma da lei, é que a posse deve ser protegida por este ser um direito, não somente interesse ás partes, sendo também interesse da justiça proteger juridicamente tal direito.
Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro – Direito das Coisas, 2017, p. 42, explana:
“A posse é protegida para evitar a violência e assegurar a paz social, bem como porque a situação de fato aparenta ser uma situação de direito.”.
2.5.1 - ESBULHO, TURBAÇÃO E AMEAÇA.
	 Sua presunção de defesa contra estes atos é no art. 1210, CC. Entrando nos efeitos da posse levamos em consideração dois aspectos fundamentais, que são: impossibilidade do exercício; e não uso da posse, art. 1389, III, CC.
Esbulho, conceito simples, usando termo jurídico da palavra, é o ato de usurpação pelo qual a pessoa é privada de coisa de que tinha propriedade ou posse, logo, é a perda total da posse. Aqui cabendo à ação de reintegração de posse, de acordo com o art. 560, segunda parte, CPC “O possuidor tem direito a ser reintegrado em caso de esbulho.”.
O art. 161, §1º, II, CP, tipifica o esbulho por violência, grave ameaça ou concurso de mais de duas pessoas:
“Invade, com violência à pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho possessório.”
Turbação, diferente do anterior, é o mero incômodo que está sendo feito em sua posse. Ação a ser feita, manutenção de posse, art. 560, primeira parte, CPC “O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação.”.
Ameaça, onde o possuidor direto ou indireto se vê na eminência de uma possível turbação ou esbulho. Logo, a proteção, defesa, da posse é exercida no preparo para próximos atos de turbação ou esbulho.
Os agentes, vítimas, envolvidas que sofreram e presenciaram atos de esbulho ou turbação, tem o direito da legítima defesa da posse: legítima defesa no momento do ato, agindo da mesma forma que o ordenamento penal descreve a legítima defesa, com os requisitos especiais; e, ato este usado pelas vítimas, descartável. 
Ex.: A, que está tendo uma propriedade sendo invadida por B armado, não pode esperar outro momento para reagir em legítima defesa, o seu próximo passo deve ser a contestação dessa invasão. Caso ele demore momentos após o ato de posse injusta violenta de B, não será mais constado o seu direito de legítima defesa da posse.
2.5.2 - AUTOTUTELA
Fábio Uchoa Coelho, Curso de Direito Civil – Direito das Coisas, 2012, p. 101:
“[...] prerrogativa reconhecida na lei de o possuidor defender a posse com seus próprios meios, independentemente de socorro ao Judiciário.”
Também chamada de autodefesa da posse, possuí dois meios, a legítima defesa, explanada no tópico 2.5.1, e o desforço imediato. Este usado apenas em situações concretas de esbulho.
Desforço imediato, contido na forma da lei no art. 1210, §1º, CC “O possuidor esbulhado poderá restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo.”. Seu prazo não deve ultrapassar dia e ano da data do esbulho, caso aconteça, o esbulhado não terá mais este direito. Logo, neste ato, a vítima já é possuidor indireto da posse esbulhada.
Ex.: Se A sofrer a perda total da posse, ou não estiver no momento em que a posse está sendo esbulhada, este mesmo pode usar do art. 1210, §1º, CC, no prazo de até um ano e um dia da data do esbulho.
Olhemos a explanação sobre o tema de Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro – Direito das Coisas, 2017, p. 139 “O possuidor tem de agir com suas próprias forças, embora possa ser auxiliado por amigos e empregados, permitindo-lhe ainda, se necessário, o emprego de armas de fogo.”.
2.5.3 - PROTEÇÃO E AÇÕES POSSESSÓRIAS
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenwald, Curso de Direito Civil – Reais, 2015, p. 156 “O possuidor merece amparo por ser aquele que retira as utilidades do bem e lhe defere destinação econômica.”.
A proteção possessória engloba tanto a autodefesa, proteção da sua posse com seus próprios meios, quanto a ações possessórias, que é a proteção jurídica da posse.
Aqui se discute unicamente a justiça ou tempo da posse titulada pelos litigantes, logo, o domínio da coisa disputada não entra em assunto a ser visto.
O doutrinador Flávio Tartuce, Manual do Direito Civil, 2017, p. 619:
“Se a ameaça, a turbação e o esbulho forem novos, ou seja, tiverem menos de um ano e um dia, caberá a ação de força nova: o respectivo interdito possessório seguirá o rito especial, havendo liminar nessa ação.
Se a ameaça, a turbação e o esbulho forem velhos, com pelo menos um ano e um dia, caberá ação de força velha, que segue o ora procedimento comum, não cabendo a respectiva liminar. Todavia, será possível, no último caso, uma tutela de urgência ou de evidência, nos termos do arts. 300 e 311, CPC/15. Tal enquadramento depende das circunstâncias do caso concreto.”
Fábio Uchoa Coelho, Curso de Direito Civil – Direito das Coisas, 2012, p. 106 “As ações possessórias são três, sendo estas autorizadas pelo art. 1210, caput CC/02: manutenção da posse,reintegração de posse e interdito proibitório.”.
Manutenção da posse: é o remédio jurídico contra a turbação, pois este é menos agressivo, logo a intensidade é menor.
Levando em consideração que, o ato de turbação é uma restrição do exercício da posse do possuidor direto, a manutenção da posse serve para interromper esta prática.
Reintegração de posse: por obviedade, é o remédio contra o esbulho, aqui se pretende a reposição do possuidor, agora, indireto, em situação pretérita de possuidor direto. Art. 560, segunda parte, CPC “O possuidor tem direito a ser reintegrado em caso de esbulho.”.
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenwald, Curso de Direito Civil – Reais, 2015, p. 171: “O possuidor que se julga esbulhado deve demonstrar a atualidade da posse ao tempo do esbulho [...].”
Interdito Proibitório: aqui é visado à proteção do possuidor de perigo eminente, ou defesa preventiva da posse.
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenwald, Curso de Direito Civil – Reais, 2015, p. 177:
“O interdito proibitório pode ser conceituado como a defesa preventiva d a posse, diante da ameaça de iminentes atos de turbação ou esbulho, objetivando impedir a consumação do ato de violência temido.”
Também sobre o assunto, Arnaldo Wald, Direito Civil – Direito das Coisas, 2015, p.122, explana: “É uma ação preventiva que visa a estabelecer uma pena pecuniária no caso de transgressão do preceito.”
Dito isto, percebemos a preocupação do legislador sobre a agressão que está próxima, em um futuro não distante, onde que, aqui não se espera um pressuposto de posse perdida.
3. - EXERCÍCIOS
QUESTÃO: Leia o texto publicado pela Rede Amazônica. Responda as questões abaixo:
a) Na hipótese de invasão ter sido realizada em 01.01.2019, quais as medidas judiciais e de autotutela de proteção da posse poderia o proprietário da área tomar no dia de hoje? Explique porque e fundamente em lei, doutrina e jurisprudências do STJ e TJRR.
R= Primeiro falemos da medida de autotutela de proteção da posse que poderia ter sido usada. Pela leitura do caso é visto que o possuidor já havia sido esbulhado pelos invasores, logo, se tornando possuidor indireto. Mas por não ter passado ano e dia, este possuidor indireto poderia ter usado o desforço imediato, tendo amparo legal no art. 1210, §1º, CC: “O possuidor esbulhado poderá restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo.”.
O amparo do prazo está previsto no art. 558, CPC/15:
“Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da [...].”
Observemos o doutrinador Flávio Tartuce, Manual de Direito Civil, 2017, p. 623:
“A legítima defesa da posse e o desforço imediato constituem formas de autotutela, independente de ação judicial [...]. Havendo esbulho, a medida cabível é o desforço imediato, visando a retomada do bem esbulhado.”
Já no caso da medida judicial, o autor poderia usar a ação possessória de reintegração de posse com pedido de liminar, pois não passara ano e dia da invasão. Dito isto, o autor estaria usando seu direito contido no art. 562, caput, CPC/15:
“Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração [...].”
Jurisprudência do TJRR:
“APELAÇÃO CÍVEL – REINTEGRAÇÃO DE POSSE – POSSE ANTERIOR – AUSÊNCIA DE PROVA – RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. A reintegração de posse depende da demonstração da posse anterior, do esbulho e da perda posse (CPC, art. 561). 2. Ausente a prova da posse anterior, o pedido de reintegração deve ser rejeitado.
(TJ-RR - AC: 0010158332584 0010.15.833258-4, Relator: Des. , Data de Publicação: DJe 19/09/2018, p. 08).”.
b) Antes de adentrar no mérito, é importante relembrar um dos principais requisitos para a reintegração de posse. Quando o possuidor diz ter perdido a posse para um esbulhador, antes de qualquer coisa, é preciso que ele prove que realmente tenha tido a posse anterior do imóvel, e segundo Maria Helena Diniz (Código Civil Anotado. São Paulo: Saraiva, 12ª ed., 2006, p. 950) sobre o esbulho: 
“[...] O ato pelo qual o possuidor se vê despojado da posse injustamente, por violência ou precariedade. Por exemplo, estranho que invade casa deixada por inquilino, comodatário que não devolve a coisa emprestada findo o contrato (...) o possuidor poderá então intentar ação de reintegração de posse.”
De acordo com as informações é de fácil percepção que o proprietário do imóvel não terá direito à autodefesa da posse, tendo em vista que deixou a invasão transcorrer por mais de um ano, tornando-a posse velha de acordo com o art. 1.210, § 1° do Código Civil: 
“Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.
§ 1° O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.”
Sendo assim, de acordo com o Novo Código de Processo Civil 2015, o proprietário poderá se utilizar da via judicial da ação de reintegração de posse, amparada no art. 560 do códex acima mencionado: “Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho.”
Incumbe mencionar que em razão de estarmos tratando de posse velha o juiz não poderá promover uma medida liminar de plano, tendo o juízo, que designar audiência de mediação, conforme o art. 565 do NCPC: 
“Art. 565. No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que observará o disposto nos §§ 2° e 4°.”
Do contrário, poderia haver a liminar, com até um ano e um dia de invasão, como podemos ver na decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Roraima abaixo: 
RESUMO ESTRUTURADO 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. POSSE NOVA. ESBULHO COMPROVADO. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS PARA A CONCESSÃO DA LIMINAR. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 
1. A exemplo do regramento anterior, para a concessão da liminar na ação de reintegração de posse, incumbe ao autor comprovar sua posse, a turbação ou o esbulho praticado pelo réu, bem como a data da ocorrência da turbação ou do esbulho.
2. Da análise dos termos declaração de fls. 59/60, bem como dos boletins de ocorrência de fls. 57/58, denota-se que a fumaça do bom direito restou comprovada, uma vez que os documentos citados indicam que a parte Agravada invadiu o imóvel que estava na posse da parte Agravante.
3. As demandas possessórias não admitem a discussão acerca de domínio ou de propriedade, entendimento este sufragado pelo Código Civil de 2002, conforme se denota do entendimento doutrinário exposto nos enunciados n.º 78 e 79, ambos da I Jornada de Direito Civil.
(TJRR – AgInst 0000.17.001614-1, Rel. Des. JEFFERSON FERNANDES DA SILVA, 2ª Turma Cível, julg.: 25/05/2018, public.: 06/06/2018, p. 08).
É possível ainda notar em algumas das várias decisões do Superior Tribunal de Justiça, sua pacificidade em relação a liminar, ainda sendo, a posse velha, tendo, pois, que seguir os requisitos elencados no art. 273 do Código de Processo Civil, que traz em seu texto: 
“Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela antecipada no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da veromissilhança da alegação.
[...]
§ 3º A execução da tutela antecipada observará, no que couber, o disposto nos incisos II e III do art. 588.”
 Vemos logo abaixo, uma decisão que deixa mais nítido o que traz o artigo retro mencionado:
"AGRAVO REGIMENTAL - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - TUTELA ANTECIPADA REJEITADANA CORTE LOCAL - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE CONHECE E NEGA PROVIMENTO A AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INSURGÊNCIA DO DEMANDADO. 1. O Superior Tribunal de Justiça tem entendimento pacífico no sentido de que é possível a concessão de tutela antecipada em ação de reintegração de posse, ainda que se trate de posse velha, desde que preenchidos os requisitos do art. 273 do CPC. 2. A análise do preenchimento dos requisitos autorizadores da antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional (artigo 273 do CPC) reclama o reenfrentamento do contexto fático-probatório dos autos, providência inviável em recurso especial, ante o óbice da Súmula 7/STJ. 3. Agravo regimental não provido" (AgRg no Ag 1.232.023/PR, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 27/11/2012, DJe 17/12/2012). Nesse contexto, a consonância do acórdão recorrido com a jurisprudência desta Corte atrai a incidência da Súmula nº 568/STJ. Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial. Deixo de tratar dos honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC/2015), haja vista que o recurso especial ao qual se negou provimento é oriundo de acórdão proferido por ocasião de julgamento de agravo de instrumento, sem fixação de honorários sucumbenciais. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 06 de agosto de 2018. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA Relator. (STJ - REsp: 1752612 CE 2018/0173439-8, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Publicação: DJ 20/08/2018)
Frisa-se ainda que, mesmo que o proprietário fosse se utilizar da autotutela, a mesma não poderia ultrapassar determinados limites (aqueles indispensáveis à restituição ou manutenção da posse) sob pena de incorrer no art. 345 do Código Penal Brasileiro, que diz: 
“Art. 345. Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.”
Diante o exposto, verifica-se a possibilidade de o proprietário retomar seus poderes inerentes à propriedade, poderes estes que estão elencados no art. 1.228 do CC, mediante uma ação no poder judiciário.
c) Hipoteticamente, uma senhora (E.S.) disse o seguinte: “São muitas as famílias que estão morando aqui. Muitas delas há mais de 15 anos e outras novatas de venezuelanos. Não acreditamos nessa liminar e não vamos sair daqui. Iremos continuar na área, nas nossas casas e lutar pelo que é nosso”.
Caso todos os invasores tivesse tomado posse e se mantido com posse ad usucapionem por 15 anos, a Sra. E.S. teria razão ou não? Fundamente sua resposta e argumentação em leis, doutrinas e jurisprudências do STJ e TJRR.
R= Se esteve fosse o caso concreto, sim, pois todos estariam na modalidade de ad usucapionem ordinário, pois além do amparo legal no art. 1242, CC, consagra-se os requisitos comum a toda espécie de prescrição aquisitiva, posse ininterrupta e sem oposição. Art.:
“Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.”
Flávio Tartuce, Manual do Direito Civil, 2017, p. 654 c/c p. 655, explana que:
“Expressa o art. 1242 do CC que: ‘Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico’. Como se nota, concentra-se no mesmo dispositivo duas modalidades de usucapião ordinária: a posse manda, pacífica e ininterrupta com animus domini por 10 anos; Justo título; e a boa-fé, no caso a boa-fé subjetiva, existente no campo intencional ou psicológico (art. 1201 do CC).”
Marcos Aurélio Bezerra de Melo, Direito das Coisas, 5ª Ed, 2011, pag. 105, cita que:
“A firmeza da atividade física do homem sobre a coisa que a tem sob sua ordem e vontade, empregando nela atividade, movimentando-a, e investindo trabalho, benfeitorias, sujeitando-a ao seu poder, tem em devolução o fruto econômico às suas necessidades com emprego de recursos, dentro do círculo vicioso de exercer-se o meio ordinário de labor, mantendo fisicamente a coisa e a restituição desta em recursos à subsistência econômica. Nesse movimento contínuo e ininterrupto no correr dos anos cria e fortalece o calor cada vez mais saliente do domínio, que a cada dia mais se proteja, criando e transformando a crisalidade em sua real imagem.”
Ainda sobre Usucapião Ordinária, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenwald, Curso de Direito Civil – Reais, 2015, p. 357, explica que:
“Aqui o legislador aplica o princípio da operabilidade de forma enfática, pois exige a posse contínua e incontestada durante lapso de tempo variável entre cinco ou dez anos.”
Exemplifiquemos a questão com jurisprudências do TJRR e STJ, respectivamente:
“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE USUCAPIÃO - COMPROVAÇÃO DOS REQUISITOS, NOS TERMO DO ARTIGO 1.238 DO CÓDIGO CIVIL SOMA DOS ANTECESSORES DO AUTOR. APELO IMPROVIDO. 1. A Ação de Usucapião objetiva declaração judicial do domínio do possuidor sobre o bem. Com ela o usucapiente pretende o reconhecimento de propriedade com registro no Cartório de Imóveis competente, consolidando seu apropriamento sobre bem imóvel, passando a ser, com o devido registro, o legítimo proprietário. 2. Da análise dos autos os confinantes não se opuseram ao pedido dos Apelados, bem como por meio de provas (EP 01), inclusive testemunhal (fls. 46/52), os Apelados comprovaram que ocupam o imóvel desde o ano de 1.991, sem nenhum óbice. 3. Com referência a alegação de ausência de lapso temporal, por parte do Apelante, esta não prospera, haja vista a comprovação da habitação e residência por 20 (vinte anos), somando-se aí a posse dos seus antecessores, (EP. 01, comprovantes de pagamento de IPTU). 4. O ordenamento jurídico aceita a soma da posse dos antecessores do autor da ação de usucapião, pois comprova o desinteresse do antigo proprietário, de há muito, da entrada do usucapiente no imóvel. 5. Apelo improvido.
(TJ-RR - AC: 0010119043072, Relator: Des. LEONARDO CUPELLO, Data de Publicação: DJe 28/11/2015).
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO HIPOTECÁRIA. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. CESSÃO DE CONTRATO. INADIMPLEMENTO. NULIDADE DA PENHORA POR AUSÊNCIA DE NOMEAÇÃO DE CURADOR ESPECIAL. VALIDADE DA CESSÃO DE CONTRATO. USUCAPIÃO. SÚMULAS 7/STJ E 283/STF. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA HIPOTECA. AUSÊNCIA DE POSSE DE BOA-FÉ. USUCAPIÃO ORDINÁRIA NÃO CONFIGURADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(STJ - AgRg no REsp: 1322079 CE 2012/0092492-9, Relator: Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Data de Julgamento: 03/03/2015, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/03/2015).”
4. - CONCLUSÃO
Pelo exposto, é possível observar a dificuldade que existe em uma definição e conceito preciso sobre a matéria possessória. Por não ter uma definição clara e concisa, as controvérsias são inúmeras, como já exposto, uns acreditam ser a posse um estado de fato, outros acreditam ser um direito, dificultando e ampliando a visão de quem dita o direito.
As dificuldades não param por aí, ao se falar da natureza jurídica da posse, não chegamos a uma conclusão coerente sobre tal natureza ser um estado de fato ou de direito. 
Ao contrário da função social da propriedade, que é algo bem explícito na legislação vigente, não há essa função expressamente designada para a posse, mas ao longo do trabalho, podemos ver a função social da posse, sendo ela também, permitida pelo Estatuto da Cidade Lei n° 10.257/2001, onde é possível o legislador ter uma visão diferente sobre o usucapião, onde o possuidor da coisa, pode, em menos tempo que o previsto, estando ele de boa-fé, reintegrar a posse da propriedade.
Portanto, almeja-se que tal discussão tenha chegado ao objetivo do esperado.5. - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Código Civil. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (com as devidas atualizações).
CHAVES, Cristiano e Nelson Rosenwald - Curso de Direito Civil – Reais – 5. Ed, Volume V, São Paulo: Editora Atlas, 2015.
COELHO, Fábio Ulhoa – Direito das Coisas e Direito Autoral – 4. Ed, Volume IV, São Paulo: Editora Saraiva, 2012.
DINIZ, Maria Helena – Curso de Direito Civil Brasileiro – Direito das Coisas – 29ª Ed, vol. 4, São Paulo: Editara Saraiva
MELO, Marcos Aurélio Bezerra - Direito das Coisas – 5. Ed, Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2001.
TARTUCE, Flávio – Manual de Direito Civil – 7. Ed, Volume único, São Paulo: Editora Forense, 2017.
WALD, Arnold, Ana Elizabeth L.W.Cavalcanti e Liliana Minardi Paesani – Direito Civil – Direito das Coisas – 14. Ed, Volume IV, São Paulo: Editora Saraiva, 2015.

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