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1 Higiene brônquica em pediatria Bronchialhygiene in pediatrics Bruna Paula Xavier Andrade Silva1, GiullianoGardenghi2 1Fisioterapeuta. Pós-graduanda em Fisioterapia Cardiopulmonar e Terapia Intensiva. Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada (CEAFI). E-mail: brunapx26@hotmail.com 2Fisioterapeuta. Doutor em Ciências pela FMUSP. Coordenador Científico do Serviço de Fisioterapia do Hospital ENCORE/GO. Coordenador Científico do CEAFI Pós-graduação/GO. Coordenador do Curso de Pós-graduação em Fisioterapia Hospitalar do Hospital e Maternidade São Cristóvão – São Paulo/SP. Resumo Introdução:A fisioterapia respiratória convencional é uma modalidade de tratamento fisioterapêutico, que tem sido amplamente utilizada nos últimos anos e considerada um tratamento coadjuvante de grande auxílio na prevenção e tratamento de enfermidades pulmonares na infância. Objetivo: Apresentar as manobras de higiene brônquica de maior relevância utilizadas em pediatria, sendo elas a percussão torácica, vibração, drenagem postural, exercícios e padrões respiratórios, higiene nasal, desobstrução rinofaríngea retrógada (DRR), aumento do fluxo expiratório (AFE), expiração lenta prolongada (ELPr), técnica de expiração forçada (TEF), ciclo ativo da respiração (CAR), exercícios a fluxo inspiratório controlado (EDIC), oscilação oral de alta frequência (OOAF), máscara de pressão expiratória positiva (PEP) e a inspirometria de incentivo.Métodos:O estudo foi desenvolvido por meio de uma revisãocom artigos científicos publicados no período de 1995 a 2014. A fisioterapia respiratória utiliza as técnicas de higiene brônquica,que consistem em vários procedimentos manuais, posturais e cinéticos dos componentes tóraco- abdominais, que podem ser aplicadas isoladamente ouassociada com outras técnicas, com o objetivo de melhorar a ventilação pulmonar e o descolamento e eliminação de secreção de muco acumulado nas vias aéreas superiores.Conclusão: Se incorporadas à prática pediátrica de rotina para o gerenciamento de doenças respiratórias, as técnicas de higiene brônquica poderão contribuir para a redução da morbimortalidade infantil atribuída a essas doenças e para a melhoria da qualidade de vida da criança e sua família. Palavras-chave:Higiene brônquica em crianças. Fisioterapia respiratória. Técnicas de higiene brônquica. 2 Abstract Introduction: The conventional respiratory therapy is a mode of physical therapy treatment, which has been widely used in recent years and is considered anco- adjuvant treatment of great help in the prevention and treatment of lung diseases in childhood. Objective: To present the bronchial hygiene more used in pediatrics, of great relevance as adjuvants in the treatment of respiratory diseases in children. Method: The study was developed through a systematic review developed with scientific articles published from 1995 to 2014. Respiratory therapy uses the bronchial hygiene techniques, which consist of multiple manuals, postural and kinetic procedures of thoraco-abdominal components, which can be applied alone or in combination with other techniques. We highlight the following maneuvers: postural drainage; percussion or tapping; vibration; chest compression; the cough stimulation or facilitation of cough among others. The basis of the procedures is to detach and remove the accumulated secretion of mucus in the upper airway. Conclusion: If incorporated into routine pediatric practice for the management of respiratory diseases, bronchial hygiene techniques may contribute to the reduction of infant morbidity and mortality attributed to these diseases and to improving the quality of life of children and their families. Keywords: bronchial hygiene in children. Respiratory therapy.Bronchial hygiene techniques. 3 Introdução As doenças respiratórias continuam a ser uma das principais causas de morbimortalidade de crianças no mundo, sobretudo nos países em desenvolvimento1.Nestes países, aOrganização Mundial de Saúde (OMS) estima que, em 1995, 4,3 milhões de crianças com idade inferior a cinco anos morreram por doenças respiratórias agudas, sendo as pneumonias, as principais causas.Segundo as estimavas, cerca de 40 milhões de crianças menores de cinco anos adquirem pneumonia anualmente2. No Brasil, as doenças respiratórias agudas e crônicas também ocupam posição de destaque.No município de São Paulo, no período de 1995 a 2000, o número de internações por doenças respiratórias, na faixa etária de 0 a 4 anos superou todas as demais patologias. As pneumonias também foram as principais causas de internações entre essas crianças (61,27%). Neste período,observou-se um aumento de internações por doenças crônicas, sobretudo a asma3,que em 2012 ainda é uma doença de prevalência elevada na criança e responsável por número significativo de hospitalizações devido às exacerbações4. Segundo a OMS, entre 2000 e 2011, nos países de alta renda, apenas uma em cada 100 mortes é de criança com menos de 15 anos.Ao contrário, em países de baixa renda, quase 4 em cada 10 mortes foram de crianças menores de 15 anos.Predominam as mortes por doenças infecciosas, as infecções respiratórias inferiores. As complicações do parto, devido à prematuridade, asfixia durante o parto e nascimento e trauma estão entre as principais causas de morte de muitos recém- nascidos e bebês5. Em 2012, nos países de renda média e baixa a mortalidade infantil foi de 6,6 milhões de crianças inferiores à faixa etária de cinco anos. Cerca de 44% das mortes ocorreram no período neonatal. As três principais causas das mortes foram a prematuridade, as pneumonias e a asfixia ao nascer6. Esses dados epidemiológicos vêm enfatizar a importância da fisioterapia respiratória como adjuvante no tratamento da maioria das doenças respiratórias em crianças, visto que as infecções podem causar perdas funcionais, tais como as atelectasias ou anormalidades na hematose e/ou na mecânica pulmonar8. Mesmo uma pequena redução no diâmetro da via aérea pediátrica, especialmente em recém-nascidos resulta em redução clinicamente significativa na seção transversal das vias aéreas, resultando em aumento da resistência ao fluxo 4 aéreo e o trabalho de respiração9.As manobras de higiene brônquica visam manter a permeabilidade das vias aéreas, ao mobilizar as secreções e promover o seu deslocamento10. O objetivo deste estudo foi apresentar as manobras de higiene brônquica maisutilizadasem pediatria, de grande relevância, como adjuvantesnos tratamentos das doenças respiratórias em crianças. Métodos O estudo foi desenvolvido por meio de uma revisãocom artigos científicos publicados no período de 1995 a 2014. Este recorte temporal mais amplo teve por finalidade acompanhar a evolução da fisioterapia respiratória e das técnicas de higiene brônquica. Foram realizadas pesquisas em livros e nas seguintes bases eletrônicas: Medline, Lilacs e Scielo. A busca e a seleção restringiram-se ao Ministério da Saúde e aOrganização Mundial da Saúde. As palavras chaves utilizadas foram: fisioterapia respiratória, higiene brônquica, manobras de higiene brônquica. Revisão de Literatura Fisioterapia respiratória A fisioterapia respiratória (FR) pode ser definida como uma especialidade da fisioterapia que utilizaestratégias, meios e técnicas de avaliação e tratamento que buscam a otimização do transportede oxigênio, prevenindo, revertendo ou minimizando disfunções pulmonares, promovendo a máxima funcionalidade e qualidade de vida dos pacientes, sendo de grande importância na atenção pediátrica7. As técnicas de FR de maior relevância utilizadas têm como resultados amelhorada função respiratória, apromoção e manutençãodos níveis adequados de oxigenação e de gás carbônicona circulação e apreservaçãoda função pulmonar11, sem promover grandes transtornos ou repercussões negativas em seu organismo12. As trocas gasosas e a melhoria da mobilidade da caixa torácica, assim como a prevenção de complicações respiratórias são favorecidas pela melhoria da 5 clearencemucociliar, da ventilação e a da prevenção ou eliminação do acúmulo de secreções13. Dois aspectos caracterizam a fisioterapia respiratória: a higiene brônquica, ou seja, a remoçãodas secreções retidas, também utilizada no tratamento de enfermidades do sistema respiratório e, a manutenção da expansibilidade pulmonar11. Fisiologia da limpeza das vias respiratórias O epitélio nasal, assim como o das vias respiratórias da traqueia e dos pulmões é ciliado e esses cílios vibram constantemente na direção da faringe. Todo esse epitélio ciliado é revestido por uma fina camada de muco, segregado da membrana mucosa que recobre suas superfícies, o qual ajuda a limpar o trajeto aéreo, pois os cílios batem na direção da faringe.Assim, pequenas partículas estranhas e muco são deslocados ao longo da traquéia para a faringe, da mesma maneira que os corpos estranhos no nariz são também deslocados para a faringe. Quando este material penetra na faringe, seja por resultado da tosse ou pela ação dos cílios, é expectorado ou engolido14. O reflexo da tosse é praticamente essencial à vida, pois a tosse é um meio pelo qual os corpos estranhos são expelidos, mantendo livre as vias respiratórias. O reflexo do espirro é muito semelhante ao reflexo da tosse, exceto que envolve as vias nasais ao invés das vias respiratórias baixas14. Em condições normais,as secreções são mucoides frequentemente em pequena quantidade. O sistema mucociliar e o reflexo da tosse limpam eficazmente o exsudato inflamatório, o que não ocorre durante a infecção, onde as secreções tendem a ser purulentas e volumosas9,12. O comprometimento no mecanismo mucociliar e da capacidade de expectoração de secreção brônquica pode determinar o acúmulo de secreções brônquicas15, que aumentam a resistência ao fluxo aéreo, dificultam as trocas gasosas e tornam excessivo o trabalho dos músculos respiratórios16. Quando a quantidade de secreção aumenta, como em pacientes com doença pulmonar caracterizada por hipersecreção de muco, a tosse torna-se um mecanismo adicional para a clearancemucociliar. Normalmente a expectoração é contaminada com células da orofaringe, bactérias, alimentos e saliva. Se a quantidade de muco 6 torna-se muito grande para estes dois mecanismos, especialmente nas vias aéreas de pequeno calibre onde a tosse é menos efetiva, o resultado é o acúmulo de secreções12. As constantes intervenções terapêuticas nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), tais como: a entubação traqueal e a traqueostomia, a sedação, a ventilação mecânica em si, a oxigenioterapia com frações inspiradas de oxigênio elevadas, bem como as lesões provocadas pelo procedimento de aspiração traqueal podem comprometer o mecanismo mucociliar15. Cabe ao Fisioterapeuta, como integrante de uma equipe multidisciplinar, amenizar tal problemas, por meio da utilização das mais variadas técnicas destinadas a auxiliar a remoção e a expectoração das secreções brônquicas, afim de evitar o acúmulo das mesmas e melhorar a função pulmonar15. Higiene brônquica As manobras ou técnicas de higiene brônquica são descritas tradicionalmente na literatura como fisioterapia respiratória convencional (FRC).Consistemem vários procedimentos manuais, posturais e cinéticos dos componentes tóraco-abdominais, que podem ser aplicadas isoladamente ou em associação com outras técnicas. Destacam-se as seguintes manobras: percussão torácica, vibração, drenagem postural, exercícios e padrões respiratórios, higiene nasal, desobstrução rinofaríngea retrógada (DRR), aumento do fluxo expiratório (AFE), expiração lenta prolongada (ELPr), técnica de expiração forçada (TEF), ciclo ativo da respiração (CAR), exercícios a fluxo inspiratório controlado (EDIC), oscilação oral de alta frequência (OOAF), máscara de pressão expiratória positiva (PEP) e a inspirometria de incentivo9,10. Os principais objetivos da terapia de higiene brônquica são auxiliar a mobilização e remoção das secreções retidas,melhorar a ventilação pulmonar, promover a reexpansão pulmonar, melhorar o intercâmbio gasoso,reduzir o trabalho respiratório e o consumo de oxigênio. Dessa forma é possível prevenir complicações e acelerar a recuperação do paciente12. Um grande número de técnicas podem ser associadas às modalidades de ventilação mecânica17. As técnicas de remoção da secreção brônquica são utilizadas para facilitar o transporte de muco. Os princípios básicos consistem em descolar e 7 eliminar a secreção acumulada nas vias aéreas, para que a secreção seja carreada às vias aéreas superiores formando glóbulos centrais de muco, que facilitam a sua eliminação por meio da tosse e/ou aspiração traqueal18. Alguns critérios são fundamentais para a indicação da terapia de higiene brônquica e a escolha da técnica de melhor efeito e menor dano. São eles: o diagnóstico funcional, a dificuldade de expectoração do paciente e o impacto da retenção de secreções sobre a função pulmonar19. Na avaliação a beira do leito, alguns sinais ou sintomas podem indicar uma possível retenção de secreções, tais como: a produção ausente ou aumentada de escarro, uma tosse ineficaz, padrão respiratório exaustivo, diminuição dos ruídos respiratórios, presença de crepitações ou roncos, a taquipnéia, a taquicardia ou a febre12. Além do conhecimento da fisiopatologia das doenças respiratórias é essencial para uma melhor compreensão da fisioterapia respiratória e execução das manobras de higiene brônquica, um conhecimento profundo da superfície anatômica dos pulmões para a marcação dos lobos e segmentos broncopulmonares. Uma linha a partir da segunda coluna torácica à sexta costela na linha mamária corresponde à borda superior do lobo inferior ou a maior fissura interlobar. No lado direito uma linha horizontal a partir do esterno ao nível da quarta cartilagem costal, elaborado para atender a linha da grande fissura interlobar marca o limite entre os lobos superior e médio ou menor fissura. A maior parte do pulmão, como vista a partir da parte de trás da caixa é composta do lobo inferior e compreende apenas os vértices do lobo superior. Os lóbulos médios e superiores do lado direito e do lobo superior do lado esquerdo estão representadas na frente9. A fisioterapia para crianças pequenas pode ser feita, de preferência com o bebê deitado sobre o fisioterapeuta ou colo de mãe, de modo que travesseiros possam ser adicionados para que a posição desejada possa ser alcançada. Durante a fisioterapia o bebê deve ser posicionado de tal forma que a cor facial e a respiração podem ser verificadas com frequência. Brinquedos, caixas de música podem ser mostrados para prender a atenção das crianças ao fazer FR para superar seu medo e apreensão10. Os exercícios de respiração são uma parte integrante da fisioterapia respiratória. Eles desempenham um papel importante na desobstrução das vias 8 aéreas e da expansão do parênquima, melhorando a eficiência dos músculos respiratórios9,10. Manobras de higiene brônquica Técnicas Definição Técnicas convencionais Percurssão torácica- tapotagem Vibração manual ou mecânica Aplicação de energia mecânica sobre a parede torácica utilizando-se as mãos ou alguns dispositivos elétricos ou pneumáticos Drenagem Postural (DP) Utilização da gravidade e do posicionamento corporal para mobilização de secreções pulmonares de vias aéreas distais para proximais Exercícios e padrões respiratórios Trabalho da musculatura respiratóriade maneira ativa, direcionada e controlada por comando verbal do fisioterapeuta Técnicas atuais Higiene nasal Instilação nasal de solução fisiológica a 0,9%, com posicionamento da cabeça facilitando a fluidificação da secreção dos seios da face Desobstrução rinofaríngea retrógada (DRR) Manobra de inspiração forçada nasal para desobstrução da rinofaringe, realizada de forma passiva ou ativa de acordo com a idade da criança Aumento do fluxo expiratório (AFE) Técnica de favorecimento de desobstrução brônquica caracterizada por pressão manual toracoabdominal sincronizada, realizada pelo fisioterapeuta durante o tempo expiratório Expiração lenta prolongada (ELPr) Pressão manual toracoabdominal lenta realizada pelo fisioterapeuta, iniciada no final de uma expiração espontânea e realizada até o volume residual Técnica de expiração forçada (TEF) Combinação de uma ou duas expirações forçadas (huffs) e períodos de controle respiratório Ciclo ativo da respiração (CAR) Ciclos repetidos de controle respiratório, exercícios de expansão torácica e técnica de expiração forçada Exercícios a fluxo inspiratório controlado (EDIC) Manobras inspiratórias lentas e profundas executadas em decúbito lateral, com o auxílio de um inspirômetro de incentivo 9 Oscilação oral de alta frequência (OOAF) Aparelho portátil que gera uma pressão positiva oscilatória controlada e interrupção do fluxo expiratório, quando se expira através dele. Máscara de pressão expiratória positiva (PEP) Máscara facial associada a resistores expiratórios de orifícios ou mola, transmitidos à via aérea pressões entre 10 e 20cm H²0 Inspirometria de incentivo Artefato de estímulo inspiratório que utiliza fluxo aéreo e/ou volume associado a um feedback visual ou sonoro O tempo ea duração das manobras de higiene brônquica Asmanobras de higiene brônquicadevem ser realizadasuma a quatro vezes ao dia, de preferência meia hora antes das refeições ou uma hora e meia após as refeições25. A duração total não deve exceder 30 minutos com três a seis minutos em cada posição9. A inalação prévia de um broncodilatador, de preferência salbutamol, pode efetivamente limpar as secreções pulmonares em crianças com broncoespasmo associado9. Áreas diferentes serão drenadas em períodos diferentes. O controle auscultatório norteará o momento de mudar a posição ou de solicitar a tosse para que haja maior deslocamento ou expectoração. Isso evitará o cansaço e o consumo desnecessário de oxigênio do paciente no esforço da tosse12. Os exercícios de respiração ou respiração profunda ou atividade vigorosa, como pular e saltar pode preceder a drenagem postural, a fim de soltar as secreções, desde que tal atividade não seja contraindicada. O procedimento deve ser ensinado aos pais da criança. Uma folha impressa com fotos de várias posições de drenagem explicando os procedimentos deveser colocada à disposição dos pais9. 10 Exercício físicos Os exercícios físicos aumentam a eliminação de muco em até 40% em comparação com a respiração normal e é um componente importante de limpeza das vias aéreas normais. Os exercícios visando a mobilização e a tosse aumentam ainda mais a eliminação do muco.Os exercíciosaumentar a produção de escarro, melhoram a coordenação ventilação/perfusão e a função pulmonar, além do condicionamento geral, da autoestima e a qualidade de vida do paciente15. A imobilidade é o principal fator contribuinte para a retenção de secreções. Em crianças acamadas, a imobilização pode limitar ou impedir o exercício físico, prejudicando sua capacidade de manter a capacidade aeróbica e de volume pulmonar26. A mobilização precoce e a mudança frequente de posição são medidas preventivas contra a atelectasia e a pneumonia pós-operatória. Contudo, uma prévia avaliação física do paciente com comprometimento pulmonar é necessária, porque o cansaço promovido pelos exercícios físicos pode determinar a dessaturação de oxigênio entre os pacientes12. As indicações para a fisioterapia respiratória A escolha da terapia pediátrica para depuração das vias aéreas deve ter como princípios básicos as diferenças anatômicas, fisiológicas, os processos patológicos vigentes e as especificidades dos grupos etários27. Retenção abundante de secreções das vias aéreas e a presença demuco espessoafetam a função normal e os componentes físico-químicos biológicos do sistema de defesa pulmonar. As secreções excessivas ou retidas sofrem alterações qualitativas para se tornar espessa, pegajosa, infecciosa e eventualmente ferem o tecido pulmonar saudável, desorganizando as trocas de oxigênio e gás carbônico30. Crianças com mecânica respiratória e tosse fraca, paralisia das cordas vocais, lesão do tronco cerebral e doenças neuro-muscularessão as que mais se beneficiam das técnicas de higiene brônquica9 Na cifoescoliose a função pulmonar é restrita pela diminuição da complacência da parede torácica e pode resultar em expansão pulmonar desigual levando a incompatibilidade ventilação/perfusão. Esses fatores juntos aumentam o trabalho respiratório e predispõe à insuficiência respiratória9. 11 Em crianças acamadas, a imobilização pode limitar ou impedir o exercício físico, prejudicando sua capacidade de manter a capacidade aeróbica e de volume pulmonar26. Em bronquiolite não foi perceptível os benefícios clínicos ou impacto no curso da doença devido a fisioterapia torácica26. Na asma aguda grave a fisioterapia respiratória não melhora a função pulmonar. Pode ser vantajosa para acelerar a recuperação na presença de atelectasia e secreções retidas, particularmente na criança asmática ventilada. O tratamento inadequado na presença de broncoconstrição pode agravar muito a situação. As manobras de higiene brônquica em pacientes com asma, durante a fase de exacerbação é um tema controverso, pela possibilidade de induzir ou acentuar broncoespasmo pré-existente31. Segundo o estudo de Lanza31 as técnicas de tapotagem e vibrocompressão são seguras e podem ser realizadas em crianças asmáticas com hipersecreção brônquica e hospitalizadas. O grupo avaliado não apresentou mudanças significantes nos valores das frequências: respiratória, cardíaca FR, FC e do pico de fluxo expiratório. Em unidade de terapia intensiva (UTI), a fisioterapia respiratória é o tratamento de escolha apenas para pacientes com atelectasia lobar aguda. A posição prona melhora a oxigenação em alguns pacientes com insuficiência respiratória aguda grave. Há muito pouca ou nenhuma evidência para sugerir que a fisioterapia de rotina na UTI evita complicações pulmonares ou é eficaz no tratamento de doenças pulmonares (com exceção de atelectasia lobar aguda) ou facilita o desmame, diminui a duração da estadia, e reduz a mortalidade ou morbidade20. Contraindicações da fisioterapia respiratória As contraindicações podem ser divididas em absolutas e relativas. As absolutas estão relacionadas às hemorragias com instabilidade hemodinâmica e às lesões de cabeça ou pescoço, até que sejam estabilizadas. As contraindicações relativas são atribuídas aos seguintes quadros: pressão intracraniana superior a 20mmHg; hipertensão arterial sistêmica não controlada; hemoptise maciça; pós- operatório de câncer pulmonar e/ou após radioterapia; hipoxemia; broncoespasmo e 12 hipotensão aguda, cirurgia medular recente ou lesão medular aguda; edema pulmonar associado a insuficiência cardíaca congestiva; fístula bronco-pleural; fratura de costela; embolia pulmonar; derrames pleurais volumosos; crianças e idosos com refluxo gastroesofágico pelo risco de aspiração; e intolerância à posição8. Outras contraindicaçõescitadas por Costa12 se referem a: pós-operatórios de neurocirurgia craniana, pós-operatórios imediatos, pacientes ortopédicos com limitações importantes, hérnia de hiato, paciente em ventilação mecânica e com insuficiência respiratória aguda, infarto do miocárdio, arritmias, insuficiência cardíaca congestiva, angina ao exercício, edema pulmonar, embolia pulmonar, tuberculose ativa, pneumotórax, empiema, derrame pleural volumoso, hipertensão descontrolada, queimaduras e feridas abertas no tórax, osteoporose. Além destas contraindicações, a manipulação externa do tórax não pode ser realizada nos casos de: enfisema subcutâneo, pneumatoceles, pneumotórax, recente infusão espinhal peridural ou raquianestesia, enxertos de pele recentes ou abas sobre as queimaduras no tórax, feridas abertas e infecções da pele do tórax, suspeita de tuberculose pulmonar, contusão pulmonar, broncoespasmo, osteomielite das costelas, osteoporose, coagulopatia, trombocitopenia grave, queixa de dor na parede torácica, marcapasso colocado transvenoso ou subcutâneo recentemente12. São ainda contraindicados todos os posicionamentos nos casos de: aumento da pressão intracraniana, lesão de cabeça e pescoço antes que esteja estabilizada; hemorragia ativa com instabilidade hemodinâmica; cirurgia da coluna vertebral recente ou lesão aguda da coluna vertebral; hemoptise ativa; empiema, fístula broncopleural; grandes derrames pleurais; embolia pulmonar; edema pulmonar associada com insuficiência cardíaca congestiva; pacientes confusos ou ansiosos que não toleram a mudança de posição; fratura de costela; ferida cirúrgica ou tecido de cicatrização. Já a posição de Trendelenburg não pode ser realizada em pacientes nos quais o aumento da pressão intracraniana deve ser evitada (neurocirurgia, aneurismas, a cirurgia do olho), hipertensão não controlada; abdômen distendido; cirurgia de esôfago; hemoptise grave recente, vias aéreas com risco de aspiração (tubo de alimentação ou refeição recente). Enquanto que a posição reversa de Trendelenburg é contraindicada caso haja hipotensão ou tenha sido ministrado um fármaco vasoativo9. 13 Algumas complicações passíveis de ocorrer durante a fisioterapia respiratória convencional são: hipoxemia, aumento da pressão intracraniana, hipotensão aguda, hemorragia pulmonar, dor ou lesão aos músculos, costelas ou coluna, vômitos, aspiração, broncoespasmo e disritmias27. Exercícios de respiração Os exercícios de respiração integram o tratamento de desobstrução das vias aéreas em fisioterapia respiratória e também é usado para a reabilitação pulmonar. Os objetivos dos exercícios de respiração são aumentar o diâmetro das vias respiratórias e ajudar a soltar e deslocar a secreção brônquica evitando o colapso alveolar. Assim sendo promove o aumento da eficiência respiratória e do volume corrente funcional, facilitando a expansão pulmonar e liberação periférica das vias aéreas.Os exercícios são indicados em diferentes patologias, tais como: doenças pulmonares obstrutivas, defeitos pulmonares e presença de atelectasia pulmonar. Os principais exercícios respiratórios são: inspiração máxima sustentada ajudando com sentido tátil, exalando através dos lábios e exercícios de respiração modificados em crianças9. Conclusão A fisioterapia respiratória convencional é uma modalidade de tratamento fisioterápico, que consiste na realização de técnicas de higiene brônquica. É essencial para a desobstrução das vias aéreas de doenças respiratórias agudas e crônicas, com secreções das vias aéreas acumulados. A eliminação das secreções otimiza as trocas gasosas e reduz o trabalho respiratório de crianças cuja mecânicarespiratória é pouco eficiente. Se incorporadas à prática pediátrica de rotina para o gerenciamento de doenças respiratórias, as técnicas de higiene brônquicapoderão contribuir para a redução da morbimortalidade infantil atribuída a essas doenças e para a melhoria da qualidade de vida da criança e sua família. 14 Referências 1 World Heath Organization. 1997: World Health Report. Geneva. WHO, 1998. 2 World Health Organization. 1995: The Division of Diarrhoeal and Acute Respiratory Disease Control. [2013ago 15]. Disponível em: <http://www.who.int/chd/publications/cdd/pofact77.htm>. 3 Toyoshima MTK, Ito GM, Gouveia N. Morbidade por doenças respiratórias em pacientes hospitalizados em São Paulo/SP. RevAssocMedBras 2005; 51(4):209- 213. 4 Lanza FC et al. Técnicas de fisioterapia respiratória não provocam efeitos adversos na função pulmonar de crianças asmáticas hospitalizadas: ensaio clínico randomizado. Rev. Bras. Alerg. Imunopatol2010;33(2):63-68 5 OMS divulga as dez principais causas de morte no mundo de 2000 a 2011. 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