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Elisabeth Enderle

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA APURAÇÃO DE 
ATO INFRACIONAL PRATICADO POR ADOLESCENTES 
 
 
ELISABETH ENDERLE 
 
 
 
 
DECLARAÇÃO 
 
 
“DECLARO QUE A MONOGRAFIA ESTÁ APTA PARA DEFESA EM BANCA 
PUBLICA EXAMINADORA”. 
 
 
ITAJAÍ (SC), 08 de novembro de 2010. 
 
 
___________________________________________ 
Professor Orientador: MSc. Patrícia Elias Vieira. 
 
 
UNIVALI – Campus Itajaí-SC 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA APURAÇÃO DE 
ATO INFRACIONAL PRATICADO POR ADOLESCENTES 
 
 
 
 
 
 
ELISABETH ENDERLE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itajaí (SC), novembro de 2010. 
 
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA APURAÇÃO DE 
ATO INFRACIONAL PRATICADO POR ADOLESCENTES 
 
 
 
 
 
 
ELISABETH ENDERLE 
 
 
 
 
Monografia submetida à Universidade do 
Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito 
parcial à obtenção do grau de Bacharel 
em Direito. 
 
 
 
 
Orientador: Professora MSc. Patrícia Elias Vieira 
 
 
 
 
 
 
 Itajaí, 08 de novembro de 2010
AGRADECIMENTO 
A Deus, pelas oportunidades e proteção a mim 
dedicadas. 
A minha família, pela confiança depositada, e que 
mesmo distante estiveram sempre presentes 
nesta empreitada da minha vida. 
Aos amigos, que me apoiaram e demonstraram a 
importância da verdadeira amizade. 
A minha orientadora, Patrícia Elias Vieira, pela 
dedicação, incentivo e colaboração na realização 
deste trabalho. 
Aos mestres, que durante este percurso 
souberam transmitir o conhecimento e a 
experiência que possuem. 
Aos colegas de faculdade, de quem sentirei muita 
falta. 
 
DEDICATÓRIA 
Dedico este trabalho a meus pais, Wilson e 
Domingas, e aos meus irmãos Fernando e Heloísa, 
amores da minha vida. 
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte 
ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do 
Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de 
toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. 
 
Itajaí, 08 de novembro de 2010. 
 
 
 
 
 
Elisabeth Enderle 
Graduando 
 
PÁGINA DE APROVAÇÃO 
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do 
Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Elisabeth Enderle, sob o título A 
Atuação do Ministério Público na Apuração de Ato Infracional praticado por 
adolescentes, foi submetida em 23 de novembro de 2010 à banca examinadora 
composta pelos seguintes professores: Patrícia Elias Vieira, MSc., presidente da 
Banca; Leôncio Paulo da Costa Neto, MSc., membro da Banca, e aprovada com a 
nota [Nota] ([nota Extenso]). 
 
Itajaí, 23 de novembro de 2010. 
 
 
 
 
 
 
 
Patrícia Elias Vieira 
Orientador e Presidente da Banca 
 
 
 
 
 
 
 
 
Antonio Augusto Lapa 
Coordenação da Monografia 
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
art. Artigo 
arts. Artigos 
B.O. Boletim de Ocorrência 
br. Brasil 
CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente 
CC Código Civil de 2002 
CEJURPS Centro de Ciências Sociais e Jurídicas 
CPP Código de Processo Penal 
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente 
ed. Edição 
gov. Governo 
In Em 
MSc. Master of Sciencie - Mestre em Ciências 
orgs. Organizadores 
p. Página 
SC Santa Catarina 
SP São Paulo 
UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí 
www. World Wide Web – rede mundial de computadores 
§ Parágrafo 
 
 
ROL DE CATEGORIAS 
Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à 
compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais. 
Adolescente 
É aquele “(...) entre doze e dezoito anos de idade”.1 
Apuração de Ato Infracional 
É o procedimento pelo qual será apurado o ato infracional, respeitando ao princípio 
de devido processo legal.2 
Apuração de Ato Infracional na fase policial 
É a “(...) realizada pela Polícia Judiciária, quando o apreende e ao produto e os 
instrumentos da infração e determina diligências investigatórias (...)”. 3 
Apuração de Ato Infracional na fase ministerial 
É a “(...) ocasião em que o infrator será apresentado ao promotor de justiça, em 
audiência informal, com os seus pais ou responsáveis, testemunhas e vítimas (...)”. 4 
Apuração de Ato Infracional na fase judicial 
É “(...) quando o adolescente será ouvido pelo juiz, na presença de seus pais ou 
responsáveis e de seu advogado (...)”. 5 
Arquivamento da Notícia de Ato Infracional 
 
1
 BRASIL. Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, 
e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm> 
Acesso em 10.10.2010. 
2
 Conceito operacional elaborado pela autora da pesquisa com base na bibliografia e citações 
identificadas no item 3.1 desta monografia. 
3
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
170. 
4
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
170. 
5
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
170. 
 10 
É o cumprimento da sentença judicial que acolhe o requerimento do Promotor de 
Justiça que requer a extinção do procedimento, ante estar provada a inexistência do 
fato, não haver prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional, ante a 
existência de excludente de antijuridicidade ou culpabilidade, ou de outras situações 
que o Promotor de Justiça julgar cabível.6 
Ato Infracional 
É “(...) a conduta descrita como crime ou contravenção penal”. 7 
Criança 
É “(...) a pessoa até doze anos de idade incompletos (...)”. 8 
Direito da infância e Juventude 
Disciplina jurídica que garante a criança e ao adolescente proteção especial por 
parte da família, da sociedade e do Estado.9 
Direitos Individuais 
“(...) são bens e vantagens conferidas pela norma”. 10 
Doutrina da Proteção Integral 
“Quer dizer amparo completo, não só da criança e do adolescente, sob o ponto de 
vista material e espiritual, como também a sua salvaguarda desde o momento da 
concepção, zelando pela assistência à saúde e bem-estar da gestante e da família, 
natural ou substituta da qual irá fazer parte”. 11 
 
6
 Conceito operacional elaborado pela autora da pesquisa com base na bibliografia e citações 
identificadas no item 3.3.1 desta monografia. 
7
 BRASIL. Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, 
e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm> 
Acesso em 10.10.2010. 
8
 BRASIL. Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, 
e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm> 
Acesso em 10.10.2010. 
9
 Conceito operacional elaborado pela autora da pesquisa com base na bibliografia e citações 
identificadas no item 1.1 desta monografia. 
10
 Apud PRADE, Péricles. In CURY, Munir (coord.). Estatuto da criança e do AdolescenteComentado. 
8 ed. São Paulo: Malheiros LTDA, 2006. p. 351. 
11
 CHAVES, Antônio. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 2 ed. São Paulo: LTr, 
1997. p. 51. 
 11 
Garantias Processuais 
“(...) as garantias são meios destinados a fazer valer esses direitos” individuais, 
“instrumentos pelos quais se asseguram o exercício e gozo daqueles bens e 
vantagens”. 12 
Medida Sócio-educativa 
“As medidas sócio-educativas são aquelas atividades impostas aos adolescentes 
quando considerados autores de ato infracional. Destinam-se elas à formação do 
tratamento tutelar empreendido a fim de reestruturar o adolescente para atingir a 
normalidade da integração social”. 13 
Ministério Público 
“O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do 
Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos 
interesses sociais e individuais indisponíveis (CF, art. 127)”.14 
Remissão Ministerial 
“(...) o perdão feito pelo Promotor de Justiça ao adolescente infrator de natureza 
administrativa. Trata referida norma de verdadeira manifestação da soberania do 
Ministério Público, pois pode o Parquet decidir pela aplicação da medida (...). É 
forma de exclusão do processo”. 15 
 
12
 Apud PRADE, Péricles. In CURY, Munir (coord.). Estatuto da criança e do Adolescente Comentado. 
8 ed. São Paulo: Malheiros LTDA, 2006. p. 351. 
13
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 4 ed. São 
Paulo: Malheiros Editores LTDA, 1997. p. 80 e 81. 
14
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Rideel, 2009. 
p.136 
15
 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente: doutrina e jurisprudência. 11 ed. São 
Paulo: Atlas, 2010. p. 243. 
SUMÁRIO 
RESUMO..........................................................................................XIII 
INTRODUÇÃO .................................................................................. 14 
CAPÍTULO 1 ..................................................................................... 17 
O DIREITO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE NO BRASIL .................. 17 
1.1 A HISTÓRIA DO DIREITO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE NO BRASIL.......17 
1.1.1 A LEI DO VENTRE LIVRE E A INFÂNCIA COMO QUESTÃO SOCIAL...........................18 
1.1.2 O CÓDIGO DE MENORES...................................................................................24 
1.1.3 O NOVO CÓDIGO DE MENORES..........................................................................28 
1.2 DA DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL E AS POLÍTICAS DE 
ATENDIMENTO......................................................................................................32 
1.3 DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO APLICADAS ÀS CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES...................................................................................................39 
CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 49 
A PRÁTICA DO ATO INFRACIONAL ............................................... 49 
2.1 O ATO INFRACIONAL E A INIMPUTABILIDADE PENAL DA CRIANÇA E 
DO ADOLESCENTE..............................................................................................49 
2.2 OS DIREITOS INDIVIDUAIS DOS ADOLESCENTES QUE PRATICAM 
ATOS INFRACIONAIS...........................................................................................56 
2.3 AS GARANTIAS PROCESSUAIS CONFERIDAS AOS ADOLESCENTES 
QUE PRATICAM ATOS INFRACIONAIS..............................................................64 
2.4 AS MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS APLICÁVEIS AOS ADOLESCENTES 
QUE COMETEM ATOS INFRACIONAIS...............................................................74 
CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 85 
AS FASES PROCESSUAIS DA APURAÇÃO DO ATO INFRACIO- 
NAL E A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ............................ 85 
3.1 AS CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES DA APURAÇÃO DO ATO 
INFRACIONAL........................................................................................................85 
3.2 A APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL NA FASE POLICIAL.......................86 
3.3 A APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL NA FASE MINISTERIAL.................93 
3.3.1 O ARQUIVAMENTO DA NOTÍCIA DO ATO INFRACIONAL...........................................97 
3.3.2 A REMISSÃO MINISTERIAL...............................................................................100 
3.3.3 A REPRESENTAÇÃO À AUTORIDADE JUDICIÁRIA.................................................105 
3.4 A APURAÇÃO DO ATO INFRACIONAL NA FASE JUDICIAL.....................111 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................ 121 
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ......................................... 126 
 
RESUMO 
A presente monografia trata da atuação do Ministério Público na apuração de ato 
infracional praticado por adolescentes. Inicialmente, estuda-se a evolução histórica 
do Direito da Infância e Juventude no Brasil, chegando-se na doutrina da proteção 
integral, instituída no ordenamento jurídico pela Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1991, 
enfatizando as medidas protetivas elencadas no artigo 101 do mencionado Estatuto. 
Num segundo momento, aborda-se a questão da inimputabilidade penal dos 
adolescentes, os direitos individuais e garantias processuais assegurados aos 
adolescentes que praticam atos infracionais, tratando também das medidas sócio-
educativas estabelecidas no artigo 112 do ECA. Passo seguinte é feito um estudo 
acerca da conceituação de ato infracional, das fases processuais da apuração do 
ato infracional, destacando-se detalhadamente a atuação do Ministério Público 
nestas fases, quais sejam: a fase policial, a fase ministerial e a fase judicial. O relato 
da pesquisa se dá pelo método indutivo. 
 
Palavras chave: Ato infracional – Ministério Público - Adolescente 
INTRODUÇÃO 
A presente Monografia tem como objeto a atuação do 
Ministério Público na apuração de ato infracional praticado por adolescentes. 
O seu objetivo institucional é produzir uma monografia jurídica 
para obtenção do grau de bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – 
UNIVALI. 
O seu objetivo geral é investigar a atuação do Ministério 
Público no procedimento de apuração do ato infracional, investigar as medidas 
sócio-educativas que podem ser aplicadas aos adolescentes que praticam ato 
infracional e o procedimento para que sejam elas aplicadas, conforme a legislação e 
a doutrina pátrias. 
Para alcançar tal desiderato foram traçados os seguintes 
objetivos específicos: 
a) Observar se existem diferenças entre direitos individuais dos 
adolescentes que praticam ato infracional e garantias processuais conferidas ao 
adolescente que praticam ato infracional. 
b) Catalogar quais as fases de apuração do ato infracional 
praticado por adolescente. 
O interesse pelo tema abordado deu-se em razão de um 
estímulo pessoal à causa da criança e do adolescente, pois durante a faculdade a 
autora realizou estágio na Promotoria de Justiça da Infância e Juventude de 
Balneário Camboriú - Santa Catarina, tendo contato com processos de ato 
infracional e de execução de medida sócio-educativa. 
Para a presente monografia foram levantados os seguintes 
problemas: 
 15 
Qual a diferença entre direitos individuais dos adolescentes 
que praticam atos infracionais e garantias processuais conferidas aos adolescentes 
que praticam atos infracionais? 
Quais as fases de apuração do ato infracional praticado por 
adolescente? 
Quais as formas de atuação do Ministério Público na apuraçãodo ato infracional e quando utilizá-las? 
E, as respectivas hipóteses: 
Hipótese 1: Os direitos individuais são vantagens conferidas 
aos adolescentes pela norma jurídica. As garantias processuais são os meios para 
fazer tais direitos. 
Hipótese 2: O procedimento de apuração do ato infracional é 
composto por três fases: fase policial, fase ministerial e fase judicial. 
Hipótese 3: O Ministério Público atua na fase ministerial e 
judicial da apuração do ato infracional. Na fase ministerial o representante do 
Ministério Público poderá arquivar os autos, conceder remissão ou oferecer 
representação. Na fase judicial o representante do Ministério Público atua como 
autor da ação, visando a alcançar os objetivos de ressocialização e reeducação do 
adolescente. 
 Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do histórico do 
Direito da Infância e Juventude no Brasil, com ênfase à fase da proteção integral, 
adotada pelo sistema legal do nosso País e às medidas de proteção aplicadas às 
crianças e aos adolescentes. 
No Capítulo 2, tratando do ato infracional, conceituação e 
aspectos gerais, os direitos individuais e as garantias processuais dos adolescentes 
que cometem atos infracionais, bem como as medidas sócio-educativas a eles 
passíveis de serem ajustadas, tratando, também, acerca da inimputabilidade penal 
da criança e do adolescente. 
 16 
No Capítulo 3, tratando do procedimento da apuração de ato 
infracional, das fases deste procedimento, a fase policial, ministerial e judicial, 
enfatizando a atuação do Ministério Público em todos os momentos. 
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as 
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, 
seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a 
atuação do Ministério Público na apuração de ato infracional praticado por 
adolescentes. 
Quanto à Metodologia empregada foi utilizado o Método 
Indutivo16. Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas do 
Referente17, da Categoria18, do Conceito Operacional19 e da Pesquisa 
Bibliográfica20. 
Após a exposição dos capítulos, passam-se às considerações 
finais, em que serão apresentadas as sínteses de cada capítulo e as demonstrações 
sobre as hipóteses básicas da pesquisa, e se foram ou não confirmadas. 
 
16
 “[...] pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma 
percepção ou conclusão geral [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e 
prática. p. 86. 
17
 “[...] explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto desejado, delimitando o 
alcance temático e de abordagem para a atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa.” 
PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 54. 
18
 “[...] palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia.” PASOLD, 
Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 25. 
19
 “[...] uma definição para uma palavra ou expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita 
para os efeitos das idéias que expomos [...]”. PASOLD, Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa 
jurídica: teoria e prática. p. 37. 
20
 “Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. PASOLD, 
Cesar Luiz. Metodologia da pesquisa jurídica: teoria e prática. p. 209. 
CAPÍTULO 1 
O DIREITO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE NO BRASIL 
1.1 A HISTÓRIA DO DIREITO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE NO BRASIL 
O direito da infância e juventude em vigor apresenta como 
diretriz a doutrina de proteção integral, instituída pela Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988. 
Cury21 relata que: 
A inspiração de reconhecer proteção especial para a criança e o 
adolescente não é nova. Já a Declaração de Genebra de 1924 
determinava “a necessidade de proporcionar à criança uma proteção 
especial”; da mesma forma que a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos das Nações Unidas (Paris, 1948) apelava ao “direito a 
cuidados assistência especiais”; na mesma orientação, a Convenção 
Americana sobre os Direitos humanos (Pacto de São José, 1969) 
alinhavava, em seu art. 19: “Toda criança tem direito às medidas de 
proteção que na sua condição de menor requer, por parte da família, 
da sociedade e do Estado”. 
Em que pese a legislação internacional ser ampla em tratar 
sobre os direitos das crianças há anos, a história do Direito da Criança no Brasil é 
recente, haja vista que antes da instituição da doutrina de proteção integral no Brasil, 
existiram algumas leis que versavam sobre elas, porém nem sempre seus direitos 
individuais, por si só, eram garantidos. 
Observa Veronese22, que as primeiras leis nacionais a se 
preocuparem com a criança e o adolescente, ainda que de forma precária, estavam 
ligadas ao regime escravista brasileiro. Na Constituinte de 1823, José Bonifácio 
apresentou um projeto com vistas na proteção da criança escrava. Entretanto, tal 
projeto tinha como escopo a preservação da mão-de-obra e não os direitos humanos 
 
21
 CURY, Munir (coordenador). Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 7ª ed. São Paulo: 
Malheiros, 2005. p. 16. 
22
 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999. 
 18 
dessas crianças. Salienta-se que este trabalho foi vetado por D. Pedro I ao outorgar 
a Constituição Imperialista de 1824. 
Por sua vez, a Constituição do Império de 1824 se mostrou 
totalmente omissa em relação aos direitos das crianças, ao passo que o Código 
Criminal fez as primeiras referências sobre a responsabilização penal dos menores. 
Liberati23 assinala que: 
Pelo Código Criminal do Império, os menores de 14 anos estavam 
isentos da punibilidade pelos atos considerados criminosos por eles 
praticados. Os infratores que tinham menos de 14 anos e que 
apresentassem discernimento sobre o ato cometido eram recolhidos 
às Casas de Correção, até que completassem 17 anos. Entre 14 e 
17 anos, estariam os menores sujeitos à pena de cumplicidade (2/3 
do que cabia ao adulto infrator) e os maiores de 17 e menores de 21 
anos gozavam de atenuantes de menoridade. 
De outro norte, a questão da escravidão no Brasil teve 
repercussão nacional em meados dos anos de 1860, fazendo com que o Senado, 
por meio dos movimentos abolicionistas, conseguisse aprovar a lei de autoria de 
Silveira da Mota que estabelecia “a proibição de venda de escravos sob pregão e 
exposição pública, bem como a proibição de, em qualquer venda, separar o filho do 
pai e o marido da mulher”, conforme asseverou Macedo24. 
1.1.1 A Lei do Ventre Livre e a Infância como questão social 
A partir de então, notadamente em 1871, tem-se o marco 
histórico da primeira lei nacional de proteção à infância, a Lei nº 2.040, conhecida 
como a Lei do Ventre Livre ou Lei Rio Branco, a qual concebia liberdade para as 
crianças nascidas de mães escravas, visando impedir a continuidade da escravidão 
por meio dos filhos dos escravos. Contudo, a Lei apresentava cláusulas restritivas, 
escritas de forma clara por Veronese25: 
 
23 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: editora Juarez de Oliveira, 
2002. p. 28. 
24 Apud VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: 
LTr, 1999, p. 11. 
25 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999, p. 12. 
 19 
A Lei estipulava, por exemplo, que o menor deveria permanecer sob 
a autoridade do senhor (proprietário de escravos) e de sua mãe, quejuntos deveriam educá-lo até a idade de 8 anos. Atingida esta idade, 
o proprietário da mãe escrava teria duas opções: poderia receber do 
Estado uma indenização de 600 mil-réis pagos em títulos de Estado, 
a 6%, no prazo de trinta anos ou se utilizar dos serviços do menor 
até que este completasse 21 anos. Quase sempre, o senhor preferia 
ficar com a criança negra, uma vez que a Lei não determinava o 
número de horas de trabalho, o regime sanitário ou a alimentação 
que deveriam receber estes “escravos livres”. Na realidade, isto 
constituía uma nova modalidade de escravidão. 
Embora a Lei do Ventre Livre não salvaguardasse todos os 
direitos das crianças livres, causando mais prejuízos do que benefícios, nota-se que 
sua principal importância foi iniciar um processo de libertação. 
Conrad26 esclarece que a situação de servidão permaneceu, 
haja vista que a Lei do Ventre Livre não conseguiu diferenciar e garantir uma vida 
diversa da dos escravos às crianças. Entretanto, desde a proibição do tráfico de 
escravos para o Brasil, em 1850, até 1888, paulatinamente o regime escravocrata foi 
desaparecendo, surgindo a idéia favorável à imigração. 
Martins27 elucida que: 
Em meados do século XIX, fatores como a imigração, a abolição da 
escravatura, a construção de vias férreas, os melhoramentos 
urbanos e o início da industrialização introduzem algumas 
modificações na estrutura econômica e social do país, contribuindo 
para o desenvolvimento relativo do mercado interno e estimulando o 
processo de urbanização. 
Para Alves28 esse período provocou “uma mudança de 
mentalidade: o conceito de infância passou a ser também uma questão social, 
competência do Estado”. 
Pontua Martins29, que o sistema familiar passa a adotar o 
modelo burguês de habitação, as pessoas se retiram das ruas para suas casas, 
 
26
Apud VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: 
LTr, 1999. 
27
 MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente & Políticas de Atendimento. 
Curitiba: Juruá, 2003. p. 22. 
28
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 03. 
29
 MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente & Políticas de Atendimento. 
 20 
inventando a vida privada e novos hábitos domésticos. Agora a família e a escola 
assumem o papel de socialização, antes atribuído à rua. Nasce também, com a 
criação do Estado Nacional Brasileiro, a normalização médica difundida em todas as 
classes sociais e surgimento de práticas filantrópicas, assistencialistas e medicinais 
para controle das instituições familiares das classes baixas da população. 
Escreve Veronese30, que as instituições assistencialistas 
começam a atuar, ajudando apenas na caridade, não havendo uma preocupação 
direcionada para o ser criança, sendo tais instituições ligadas às associações civis e 
religiosas. 
Destaca a mencionada autora, Veronese31, que inicialmente é 
a Igreja Católica que aparece como fonte, por meio de ordens religiosas, fornecendo 
assistência aos órfãos, abandonados e pervertidos. Bastava dar-lhes casa e comida, 
limitando-se o aprendizado às atividades domésticas e educação familiar, sempre 
baseada na autoridade e obediência. Assim também, descreve que o tipo de 
assistência filantrópica era realizada por associações privadas ou particulares, 
sendo prestada assistência médica ou educacional ou alimentar, de forma 
alternativa. 
Segundo Martins32, é inevitável que a família e a escola 
viessem a sofrer uma forte crise em razão da responsabilidade exercida para 
sociabilização da criança e do adolescente, tornando-se evidente o retorno dos 
mesmos ao espaço público, a rua, destacando que esse retorno se deu: 
“pela porta dos fundos”, é a volta a um espaço já incapaz de 
sociabilizar e nutrir essas crianças e adolescentes com todos os 
instrumentos necessário para mantê-los em correspondência aos 
anseios da sociedade capitalista, surgindo então aquelas figuras 
conhecidas do “menor abandonado”, do “menor de rua”, do “menor 
na rua”, do “menor infrator” (...). 
 
Curitiba: Juruá, 2003. 
30
 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999. p. 18. 
31
 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999. p. 18 e 19. 
32
 MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente & Políticas de Atendimento. 
Curitiba: Juruá, 2003. p. 25. 
 21 
Outrossim, como marco histórico relevante, salienta-se que, 
também no período do Brasil Colônia e Império, houve a instituição da Roda dos 
Expostos nas Santas Casas de Misericórdia, seguindo a tradição portuguesa, 
inicialmente instaladas no Brasil em Salvador e no Rio de Janeiro, no século XVIII, 
posteriormente instituída em São Paulo, ressalva feita por Martins33. 
Para Melo34 tratava-se de “uma roda giratória para recolher 
crianças abandonadas que para aí podiam ser levadas, sem precisarem os pais 
aparecer e se expor”, ou seja, havia a garantia do anonimato dos genitores. 
Os motivos que levavam ao abandono dos filhos são de difícil 
definição, conforme Souza Neto35, que dispõe: 
(...) mas tudo faz crer que as razões eram principalmente de ordem 
econômica e social. Entre as motivações de ordem religiosa e moral 
para o abandono, convém recordar que a doutrina cristã, no decorrer 
da história, consolidou o valor ético da família e condenou 
severamente o adultério, a ponto de o Direito Canônico não admitir a 
ordenação sacerdotal de um filho bastardo. 
Assim, o confinamento em instituições de caridade eram 
práticas comum e que ofereciam assistência precária, razão pela qual foi criada a 
Roda dos Expostos, que visava a proteção das crianças, afastando-as da 
prostituição e vadiagem. 
Porém, estabelece Veronese36 que “na casa dos expostos, 
devido a escassez de recursos materiais e humanos, era grande o número de 
crianças que não resistiam às precárias condições a que eram submetidas”. 
Com o advento da República, a assistência fornecida pela 
Igreja e também de iniciativas filantrópicas no século XIX, demonstraram-se 
insuficientes às necessidades da época. 
 
33
 MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente & Políticas de Atendimento. 
Curitiba: Juruá, 2003. p. 25 e 26. 
34
 Apud LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: editora Juarez de 
Oliveira, 2002. p. 28 
35
 SOUZA NETO, João Clemente de; NASCIMENTO, Maria Letícia (orgs.). Infancia, violência, 
instituições e políticas públicas. São Paulo: Expressão e Arte, 2006. p. 20. 
36
 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999. p.16. 
 22 
Pontua Veronese37 que “fazia-se necessário que as instituições 
formassem o indivíduo na moral, bons costumes, educação elementar e que lhe 
fornecessem ainda uma capacitação profissional”, o que “mais tarde lhe permitiria o 
seu próprio sustento”. 
Levando-se em conta as necessidades da época, por volta do 
século XX, surge a participação do Estado no que tange à assistência à infância, 
afirmando Rizzini38 que agora está voltada a reeducação, ligadas não somente aos 
ensinamentos da fé, mas também à ciência, no âmbito jurídico e pedagógico. 
Assim, o século XX começou sob a égide do Código Penal da 
República de 1890, o qual, segundo Liberati39, declarou a irresponsabilidade de 
pleno direito dos menores de 9 anos de idade, como também dos que possuíam de9 a 14 anos, desde que tivesse agido sem discernimento. Já os que demonstravam 
ter discernimento do ato praticado, eram recolhidos em estabelecimentos 
disciplinares industriais, de acordo com o tempo que o juiz julgasse necessário, 
entretanto sem exceder a idade limite de 17 anos de idade, mantendo-se aqui a 
imposição da pena de cumplicidade ao maior de 14 e menor de 17, bem como a 
atenuante de menoridade, estabelecidas no Código Penal do Império. 
De acordo com o mesmo autor, Liberati40, essa teoria do 
discernimento sofreu diversas críticas em razão dos estabelecimentos industriais 
não terem sido organizados, fato que fez com que as crianças e adolescentes 
fossem lançados às prisões comuns. 
Coaduna Neves de Jesus41, sustentando que em sinal de 
protesto à omissão estatal, no ano de 1899, por meio de esforços particulares, foi 
 
37
 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999. p 21. 
38
 Apud VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: 
LTr, 1999. p 22. 
39
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: editora Juarez de Oliveira, 
2002. p. 28. 
40
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: editora Juarez de Oliveira, 
2002 
41
 JESUS, Maurício Neves. Adolescente em conflito com a lei: prevenção e proteção integral. 
Campinas/SP: Servanda Editora, 2006. p. 41. 
 23 
criado no Rio de Janeiro o Instituto de Proteção e Assistência à Infância, sendo que 
“pouco depois, em 2 de março de 1903, o decreto estadual 4.780 instituiu a Escola 
Correcional XV de Novembro, dedicada a internar menores abandonados para 
prevenir a delinqüência infanto juvenil”. 
Já em 1921, surge a Lei orçamentária sob o número 4.242, de 
5 de janeiro, que além de eliminar o critério de discernimento, fixando a idade de 
responsabilização penal em 14 anos, também “autorizava o governo a organizar o 
serviço de assistência e proteção à infância abandonada e delinqüente e abria 
oportunidade para a criação dos Juízos de Menores”42. 
Discorre Saraiva43, que “contemporaneamente a isso, o 
Decreto nº 16.272, de 20 de dezembro de 1923, criava as primeiras normas de 
Assistência Social visando a “proteger os menores abandonados e delinqüentes”. 
Assim, Neves de Jesus44 relata que: 
Em 1924 surgiu o primeiro Juizado de Menores do Brasil, no Distrito 
Federal, tendo como seu titular o magistrado José Cândido Mello 
Mattos. Para funcionar junto ao juizado criou-se um abrigo destinado 
a recolher e educar os infratores e os abandonados, ou preservar 
estes e reformar aqueles, que ficavam em ambientes separados. 
Entretanto, para o mesmo autor, Neves de Jesus45, “não seria 
a criação de um ou dois abrigos que atenderia a demanda”, acrescentando que 
“jamais se encontrou uma solução que permitisse a execução das medidas previstas 
para a delinqüência infanto-juvenil”. 
Complementa Veronese46 que para alguns, o Juízo de 
Menores, criado em 1924, “foi mais um erro do que um acerto em favor da criança, 
 
42
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p.04. 
43
 SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente em conflito com a lei: da indiferença à proteção 
integral: uma abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. 3. ed. rev. atual. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado Editora, 2009. p. 41. 
44
 JESUS, Maurício Neves. Adolescente em conflito com a lei: prevenção e proteção integral. 
Campinas/SP: Servanda Editora, 2006. p. 41. 
45
 JESUS, Maurício Neves. Adolescente em conflito com a lei: prevenção e proteção integral. 
Campinas/SP: Servanda Editora, 2006. p. 42. 
46
 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999. p. 24. 
 24 
pois lhe faltava uma organização técnico-administrativa, que lhe desse a 
credibilidade necessária”. 
1.1.2 O Código de Menores 
Mais tarde, em 12 de outubro de 1927, por meio do Decreto n. 
17.943-A, é aprovado o primeiro Código de Menores, criado pelo jurista José 
Candido Albuquerque Mello de Matos, também conhecido como “Código Mello 
Matos”, cujo objetivo era desenhar uma política de responsabilidade do Estado, 
assistencialista, "em que o Poder Judiciário tornou-se ente hegemônico no trato das 
questões sociais referentes à criança e ao adolescente, de modo a garantir o 
controle social ao Estado”, esclarece Martins47. 
Contempla Liberati48, que: 
A nova postura legislativa classificou os menores de 18 anos em 
abandonados e delinqüentes; os delinqüentes, com idade superior a 
14 anos, não eram submetidos a processo penal, mas a um processo 
especial de apuração de sua infração; a “Teoria do discernimento” foi 
abolida e a medida de internação ao delinqüente era imposta por 
todo o tempo necessário à sua educação entre 3 e 7 anos; os 
abandonados eram recolhidos e encaminhados a um lar, fosse dos 
pais, fosse de pessoa responsabilizada por sua guarda; aos menores 
de 2 anos, determinava sua entrega, para serem criados “fora da 
casa dos pais”. Previu, também, aquele Código o aconselhamento 
das mães, para evitar-se o abandono dos filhos; o sigilo dos atos 
processuais foi instituído nos casos de acolhimento do menor por 
outra família; o trabalho do menor foi limitado à idade de 12 anos e o 
trabalho noturno foi proibido aos menores de 18 anos. 
Acrescenta Alves49 sobre a medida de internação, que “aos 
delinqüentes abandonados a lei reservava internação de um a cinco anos; e aos 
pervertidos, internação de três a sete anos”, sendo que o internamento seria em 
estabelecimento de reeducação ou profissional, aplicando-se as medidas de 
assistência e proteção aos menores de 14 anos. 
 
47
 MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente & Políticas de Atendimento. 
Curitiba: Juruá, 2003. p. 32. 
48
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: editora Juarez de Oliveira, 
2002. p. 30. 
49
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 5. 
 25 
Para o mesmo autor, Alves50, o Código de Menores de 1927 foi 
se tornando obsoleto, sendo que: 
A doutrina entendia necessário rejeitar as designações menor 
delinqüente e menor abandonado, e propunha a criação de fórmulas 
gerais dentro das quais o menor deveria ser assistido. (...) Por outro 
lado, faltava ao Código estabelecer a possibilidade de uma 
assistência educativa, quer pela família do menor, quer por 
instituições especializadas. 
Do mesmo modo, extrai-se dos ensinamentos de Silva51 que: 
O Código Mello Matos refletia a elite moralista de sua época, os 
“menores” objeto da Lei encontravam-se à margem do sistema 
econômico-social e, em consequência, eram alvo de discriminação e 
condenação moral da mesma forma como ocorria com outros 
excluídos sociais. 
Visando solucionar tal impasse, é criado em 1942, o Serviço de 
Assistência aos Menores, o SAM, segundo Saraiva52: 
(...) um órgão de Ministério da Justiça que funcionava como um 
equivalente do Sistema Penitenciário para a população menor de 
idade. A orientação do SAM é, antes de tudo, correcional-repressiva, 
e seu sistema baseava-se em internatos (...) para adolescentes 
autores de infração penal e de patronatos agrícolas em escolas de 
aprendizagem de ofícios urbanos para os menores carentes e 
abandonados. 
Argumenta Liberati53, que “o SAM foi criado, para cumprir as 
medidas aplicadas aos infratores pelo Juiz, tornando-se mais uma administradora de 
instituições do que, de fato, uma política de atendimento ao infrator”. 
ArremataVeronese54 afirmando que “o SAM não conseguiu 
cumprir suas finalidades, sobretudo devido à sua estrutura emperrada, sem 
 
50
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 5 
51
 SILVA, Marcelo Gomes (coord.). Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude. 
Florianópolis: Coordenadoria de Comunicação Social, 2008. p.20. 
52
 SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente em conflito com a lei: da indiferença à proteção 
integral: uma abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. 3. ed. rev. atual. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado Editora, 2009. p. 44 e 45. 
53
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: editora Juarez de Oliveira, 
2002. p. 60. 
54
 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999. p. 32. 
 26 
autonomia e sem flexibilidade e a métodos inadequados de atendimento”, o que 
gerava “revoltas naqueles que deveriam ser amparados e orientados”. 
Salienta-se Liberati55 que: 
O indicador da institucionalização estava na classe social, na 
pobreza, na miséria, na falta de condições psicológicas e da carência 
assistencial dos pais. O abandono, a vadiagem, a mendicância eram 
motivos suficientes para a intervenção judicial, que determinava a 
internação como forma de “ressocialização” ou de “recuperação” da 
criança e do adolescente. 
Em razão da ineficácia do Serviço de Assistência ao Menor e 
também das demais medidas até então adotadas em face das crianças e 
adolescentes, Neves de Jesus56 relata que: 
A década de 50 foi marcada pelos debates que visavam a 
reformulação da legislação infanto-juvenil”, acrescentando que “o 
desejo de normas mais democráticas cresceu com a Declaração 
Universal dos Direitos da Criança, aprovada pela Assembléia Geral 
das Nações Unidas, a 20 de novembro de 1959 (...). 
Complementa Saraiva57, que com o advento da Constituição 
Federal de 1946 e findada a Ditadura Vargas, “o país viveu um período de 
inspiração liberal. Em 1964, todavia, estabeleceu-se uma ruptura, com a instalação 
da Ditadura Militar”. 
Firma-se, agora, segundo Liberati58, em substituição do Serviço 
de Assistência a Menores – o SAM, a Fundação nacional do Bem-Estar do Menor – 
a FUNABEM ou FNBEM, instituída pela Lei 4.513, de 1º de dezembro de 1964. 
Sustenta Veronese59 que o Governo Militar se sensibilizou com 
o drama da criança brasileira, adquirindo a infância um status de problema social, 
 
55
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: editora Juarez de Oliveira, 
2002. p. 62 e 63. 
56
 JESUS, Maurício Neves. Adolescente em conflito com a lei: prevenção e proteção integral. 
Campinas/SP: Servanda Editora, 2006. p. 53. 
57
 SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente em conflito com a lei: da indiferença à proteção 
integral: uma abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. 3. ed. rev. atual. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado Editora, 2009. p. 49. 
58
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: editora Juarez de Oliveira, 
2002. p.67 e 68. 
 27 
sobre o qual recaiu os preceitos da ideologia de segurança nacional, que eram 
repassados pela política nacional do bem estar do menor, sob a responsabilidade da 
FUNABEM. 
Martins60, por sua vez, acrescenta que a atuação da 
FUNABEM estava ligada ao processo de marginalização, “voltava-se ao 
afastamento da criança do meio em que vivia, classificado como à margem da lei e 
dos bons costumes”, sendo que tal situação tinha responsabilidade atribuída à 
família. 
Destaca-se que a FUNABEM foi instituída na esfera nacional, 
mais tarde surgindo as FEBEMs como sucessoras nos âmbitos estaduais. 
No entanto, destaca Silva61 que: 
(...) esses dois instrumentos de controle social não foram eficientes, 
haja vista o crescente número de crianças marginalizadas e a 
incapacidade de proporcionar qualquer espécie de reeducação. A 
metodologia aplicada pelas instituições de educação e reclusão, em 
vez de socializar a criança e o adolescente, massificava-os e, dessa 
forma, em vez de criar estruturas sólidas nos planos psicológicos, 
biológicos e social, afastava esse chamado “menor em situação 
irregular” definitivamente da vida comunitária. 
Liberati62 acrescenta que: 
As medidas aplicadas aos menores, fossem eles carentes ou 
delinqüentes, tinham natureza punitiva, revestida de proteção 
assistencial. O menor abandonado era internado, porque seus pais 
não tinham condições financeiras; o órfão era internado, porque não 
tinha responsáveis; o infrator era internado, porque, agora, estava 
em situação irregular, por conduta desviante, proporcionada por ele 
próprio. 
Assim, bem pontua Silva63 ao descrever que: 
 
59
 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999. p. 33. 
60
 MARTINS, Daniele Comin. Estatuto da Criança e do Adolescente & Políticas de Atendimento. 
Curitiba: Juruá, 2003. p. 33. 
61
 SILVA, Marcelo Gomes (coord.). Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude. 
Florianópolis: Coordenadoria de Comunicação Social, 2008. p. 22. 
62
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: editora Juarez de Oliveira, 
2002. p. 73. 
 28 
A situação da infância e juventude brasileira, assim como de toda a 
sociedade brasileira, não foi em nada melhorada com o golpe militar 
de 1964. A Constituição da República Federativa outorgada em 
1967, não trouxe qualquer colaboração para a proteção de crianças e 
adolescentes. 
Dentro deste panorama, surge a necessidade de uma nova Lei 
para tratar dos direitos dos menores. 
1.1.3 O novo Código de Menores 
 Veronese64 enfatiza que surge em 1979, por meio da Lei 
6.697, de 10 de outubro, o novo Código de Menores, no qual se estabeleceu um 
novo termo “menor em situação irregular”, o qual se referia ao menor de 18 anos de 
idade “que se encontrava abandonado materialmente, vítima de maus-tratos, em 
perigo moral, desassistido juridicamente, com desvio de conduta e ainda o autor de 
infração penal”. 
Leciona Alves65 que: 
O Código de Menores de 1979 dispunha sobre assistência, vigilância 
e proteção aos menores de 18 anos, que se encontrassem em 
situação irregular, ou entre 18 e 21 anos, nos casos expressos em lei 
(art. 1º). Eram previstas seis situações irregulares – que 
determinavam a competência da Justiça de Menores - , graduadas 
desde o abandona até a infração penal (art. 2º). O Código propunha 
para elas seis diferentes medidas de assistência e proteção, desde a 
advertência ou entrega do menor a seus pais até a internação 
(art.14). Não havia proporcionalidade entre as situações irregulares e 
as medidas, de modo que a aplicação destas dependia de um exame 
socioeconômico e cultural do menor e de sua família. Com isso, as 
medidas detentivas de segurança podiam ser aplicadas 
independentemente da prática de um fato delitivo. O juiz e o 
promotor não eram sujeitos neutros: assumiam uma função tuitiva, e 
não integravam uma tríplice relação processual. Aliás, as medidas 
podiam ser aplicadas mediante procedimentos administrativos ou 
contraditórios, de iniciativa oficial ou provocados pelo Ministério 
Público ou por quem tivesse legítimo interesse (art. 86). 
Neste diapasão, Veronese66 aduz que: 
 
63
 SILVA, Marcelo Gomes (coord.). Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude. 
Florianópolis:Coordenadoria de Comunicação Social, 2008. p. 23. 
64
 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999. p. 35. 
65
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 6 e 7. 
 29 
O processo em que o “menor” se submetia era inquisitorial, isto 
significa que a verdade material se sobrepunha aos direitos da 
pessoa humana, colocando a criança como mero objeto da análise 
investigatória. Em tais processos, não obrigava a lei menorista à 
participação do advogado. A intimidade dessa criança ou 
adolescente era desregradamente vasculhada, sendo que as 
medidas legais chegavam a intervir na família e no meio em que o 
mesmo vivia. 
Importante frisar, as palavras de Neves de Jesus67 ao comentar 
o art. 2º e 3º daquele Código, quando se verifica que faltando estabelecimentos 
adequados, o adolescente poderia ser internado em locais destinados a maiores, 
“garantida a incomunicabilidade”. Assim também, ressalta que o adolescente ao 
“completar vinte e um anos sem que houvesse se declarado o fim da medida 
passaria ao juiz da execução penal que, por seu turno, decretaria o fim da medida se 
julgasse cessada a causa que motivou a internação do infrator (...)”. 
Ao discorrer sobre o tema, o mesmo autor citado no parágrafo 
acima, Neves de Jesus68, comenta que: 
Os critérios incertos de aplicação da lei do Código de menores de 
1979 não foram hábeis a prevenir e tratar o abandono e o desvio 
social da infância e da juventude no Brasil. Além disso, os primeiros 
anos de sua aplicação foram os últimos anos do regime militar no 
país, uma época de transição, abertura política e restabelecimento 
do estado de direito. A sociedade civil, novamente com voz ativa, 
reclamava por novos conceitos, políticas sociais e participação. 
Neto e Nascimento69 descrevem que é diante deste cenário 
que “na década de oitenta, as Igrejas iniciaram um processo de articulação das 
forças da sociedade civil em defesa dos menores”, sendo que: 
Em meados dos anos oitenta, organizou-se o Movimento Nacional 
dos Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), com o objetivo de ser um 
grupo de articulações e pressão para a transformação social. 
Empenhava-se no envolvimento dos meninos e meninas como 
 
66
 VERONESE, Josiane Rose Petry. Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes. São Paulo: LTr, 
1999. p. 38. 
67
 JESUS, Maurício Neves de. Adolescente em conflito com a lei: prevenção e proteção integral. 
Campinas/SP: Servanda Editora, 2006. p. 62. 
68
 JESUS, Maurício Neves de. Adolescente em conflito com a lei: prevenção e proteção integral. 
Campinas/SP: Servanda Editora, 2006. p. 62. 
69
 SOUZA NETO, João Clemente de; NASCIMENTO, Maria Letícia (orgs.). Infancia, violência, 
instituições e políticas públicas. São Paulo: Expressão e Arte, 2006. p. 28. 
 30 
protagonistas da história e na articulação dos diferentes grupos da 
sociedade, em prol dos direitos da criança e do adolescente. Tinha 
consciência de que esta era uma luta comum dos segmentos que 
tinham seus direitos negados, para forçar o Estado a implementar 
políticas sociais e assumir uma postura pedagógica que facilitasse às 
crianças e adolescentes uma leitura crítica da realidade e a nela 
interferir, dentro do possível. 
Segundo Neves de Jesus70, foi a partir deste movimento 
nacional, que “deu-se a reunião de esforços de setores especializados do poder 
público federal e organismos da sociedade civil”, interação que tornou possível 
“transformar em norma constitucional as concepções norteadores da Convenção 
Internacional dos Direitos da Criança, mesmo antes da aprovação desta, que se 
daria em 1989”. 
Conforme Alves71 é a partir de três documentos internacionais 
que surge uma mudança na legislação brasileira referente aos menores, sendo eles: 
(...) as Regras Mínimas para a Administração da Justiça de Menores 
(Regras de Beijing, Res. 40/33, de 29-11-1985, da Assembléia Geral 
das Nações Unidas); a Convenção sobre os Direitos da Criança 
(Res. 1.386, de 20-11-1989, da Assembléia Geral da ONU); e as 
Diretrizes para a Prevenção da Delinqüência Juvenil (Diretrizes de 
Riad, Res. 45/112, de 14-12-1990, da Assembléia Geral da ONU). 
Acrescenta ainda, o mesmo autor, Alves72, que “a eles se 
uniram as regras Mínimas das Nações Unidas para Proteção dos Jovens privados 
de Liberdade”. 
Já Neto e Nascimento73 destacam outras legislações 
internacionais que teriam sido incorporadas pela sociedade brasileira para a 
transformação, sendo elas: “a Declaração dos Direitos Humanos de 1948, a 
Declaração de Genebra, de 1923, a Declaração dos Direitos da criança e do 
Adolescente, de 1959 e as Convenções e Recomendações da OIT, de 1955”, 
 
70
 JESUS, Maurício Neves de. Adolescente em conflito com a lei: prevenção e proteção integral. 
Campinas/SP: Servanda Editora, 2006. p. 64. 
71
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 7. 
72
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 7. 
73
 SOUZA NETO, João Clemente de; NASCIMENTO, Maria Letícia (orgs.). Infância, violência, 
instituições e políticas públicas. São Paulo: Expressão e Arte, 2006. p. 29 e 30. 
 31 
acrescentando também o Ano Internacional da Pessoa Portadora de Deficiência em 
1981. 
Para Saraiva74, “este conjunto normativo revogou a antiga 
concepção tutelar, trazendo a criança e o adolescente para uma condição de sujeito 
de direito”, conferindo a eles “direitos e obrigações próprios de sua peculiar condição 
de pessoa em desenvolvimentos”. 
Assim, “a redemocratização do País e a promulgação da nova 
Constituição da República Federativa do Brasil suprimiram a doutrina da situação 
irregular e introduziram a doutrina da proteção integral, afirmada no art. 227” 75. 
O artigo 22776, da Constituição da República Federativa do 
Brasil de 1988, prevê, por sua vez, que: 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à 
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar 
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e 
opressão. 
De acordo com Silva77, “o legislador, motivado pela 
necessidade de criar instrumentos à nova Carta Política, promulgou a inovadora Lei 
nº 8.069/1990, que instituiu o Estatuto da Criança e do Adolescente”, o qual 
concebeu a estes sujeitos “direitos específicos para lhes assegurar o 
desenvolvimento, o crescimento e o cumprimento de suas potencialidades”. 
A Doutrina da Proteção Integral e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente de 1990 serão abordados no próximo item, tocando seus aspectos 
relevantes, suas características e aplicação no Brasil. 
 
74
 SARAIVA, João Batista Costa. Adolescente em conflito com a lei: da indiferença à proteção 
integral: uma abordagem sobre a responsabilidade penal juvenil. 3. ed. rev. atual. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado Editora, 2009. p. 60. 
75
 SILVA, Marcelo Gomes (coord.). Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude. 
Florianópolis: Coordenadoria de Comunicação Social, 2008. p. 25. 
76
 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: 
<http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/> Acesso em: 30 de maio de 2010. 
77
 SILVA, Marcelo Gomes (coord.). Manual do Promotor de Justiçada Infância e Juventude. 
Florianópolis: Coordenadoria de Comunicação Social, 2008. p. 25. 
 32 
1.2 DA DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL E AS POLÍTICAS DE 
ATENDIMENTO 
Como já visto o surgimento e a adoção da doutrina de proteção 
integral no Brasil, resta caracterizá-la, apresentar seus princípios norteadores, as 
diferenças dela advindas e demais aspectos relevantes, a exemplo as políticas 
adotadas para seu atendimento. 
Liberati78 aduz que: 
Essa doutrina tem como referência a proteção de todos os direitos 
infanto-juvenis, que compreendem, ainda, um conjunto de 
instrumentos jurídicos de caráter nacional e internacional, colocados 
à disposição de crianças e adolescentes para a proteção de todos os 
seus direitos. 
Leciona também Liberati79 que tal doutrina assegura um direito 
universal às crianças e adolescentes, sem distinção entre abandonados, carentes e 
infratores. 
É visível que a partir da adoção da doutrina de proteção 
integral “a legislação específica não seria mais um instrumento de controle e 
repressão dos jovens em situação irregular, mas um conjunto de direitos a ser 
assegurados com absoluta prioridade (...) sem discriminação ou privilégios”, de 
acordo com os ensinamentos de Neves de Jesus 80. 
É neste ângulo que complementa Tavares81, afirmando que “o 
regime anterior circunscrevia-se aos menores em situação irregular”, destacando 
que “o atual se estende a toda criança e a todo adolescente em qualquer situação 
jurídica”. 
 
78
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
13. 
79
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
14. 
80
 JESUS, Maurício Neves de. Adolescente em conflito com a lei: prevenção e proteção integral. 
Campinas/SP: Servanda Editora, 2006. p. 65 e 66. 
81
 TAVARES, José de Farias. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 3 ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 1999. p. 07. 
 33 
Em busca de um significado à “proteção integral”, Chaves82 
salienta que: 
Quer dizer amparo completo, não só da criança e do adolescente, 
sob o ponto de vista material e espiritual, como também a sua 
salvaguarda desde o momento da concepção, zelando pela 
assistência à saúde e bem-estar da gestante e da família, natural ou 
substituta da qual irá fazer parte. 
Já Liberati83 explica o sentido da expressão “integral”, 
asseverando que: 
É integral, primeiro, porque assim diz a CF em seu art. 227, quando 
determina e assegura os direitos fundamentais de todas as crianças 
e adolescentes, sem discriminação de qualquer tipo, segundo, 
porque se contrapõe à teoria do “Direito tutelar do menor”, adotada 
pelo Código de Menores revogado (Lei 6.697/79), que considerava 
as crianças e os adolescentes como objetos de medidas judiciais, 
quando evidenciada a situação irregular, disciplinada no art. 2 da 
antiga lei. 
Por sua vez, Cury84 trata do fundamento da doutrina da 
proteção integral, pronunciando que: 
A proteção integral tem como fundamento a concepção de que 
crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, frente à família, à 
sociedade e ao Estado. Rompe com a idéia de que sejam simples 
objetos de intervenção do mundo adulto, colocando-os como titulares 
de direitos comuns a toda e qualquer pessoa, bem como de direitos 
especiais decorrentes da condição peculiar de pessoa em processo 
de desenvolvimento. 
É, portanto, com o surgimento do Estatuto “que o menor torna-
se sujeito de muitos direitos que não lhe eram conferidos por nosso ordenamento 
jurídico”, o que foi ressaltado por Elias85. 
 
82
 CHAVES, Antônio. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 2 ed. São Paulo: LTr, 
1997. p. 51. 
83
 LIBERATI. Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 4 ed. São 
Paulo: Malheiros, 1997, p. 13. 
84
 CURY, Munir; PAULA, Paulo Afonso Garrido de; MARÇURA, Jurandir Norberto. Estatuto da 
Criança e do Adolescente anotado. 3 ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 
2002. p. 21. 
85
 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei n. 8.069, de 13 
de julho de 1990. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 02. 
 34 
Deste modo, com a doutrina protetiva várias mudanças são 
introduzidas, destacando Silva86 as seguintes alterações pilares: 
- A criança e o adolescente deixam a categoria de objeto de tutela 
estatal e passam a sujeitos de direitos, sendo-lhes conferidas todas 
as garantias fundamentais a essa condição (art. 3º do Estatuto). 
- A criança e adolescente tornam-se prioridades absolutas, tendo 
seus reflexos indicados no art. 4 do Estatuto, a saber: “a primazia de 
receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; a 
precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância 
pública; a preferência na formulação e na execução das políticas 
sociais; a destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas 
relacionadas com a proteção à infância e à juventude”. 
- A criança e o adolescente são reconhecidamente pessoas em 
desenvolvimento, devendo a família, a sociedade e o Estado 
respeitarem essa condição (art. 6º do Estatuto). 
Também Silva87, traz três importantes princípios norteadores 
da doutrina de proteção integral, o da prioridade absoluta, o do melhor interesse e o 
da municipalização. Tais princípios são salientados dentre os demais. 
Acerca da prioridade absoluta, Liberati88 diz que: 
Por absoluta prioridade devemos entender que a criança e o 
adolescente deverão estar em primeiro lugar na escala de 
preocupação dos governantes; devemos entender que, primeiro, 
devem ser atendidas todas as necessidades das crianças e 
adolescentes, pois “o maior patrimônio de uma nação é o seu povo, e 
o maior patrimônio de um povo são suas crianças e jovens”. 
Acrescenta Silva89, que é necessária a prioridade absoluta 
“porque a criança e o adolescente são seres em desenvolvimento e, considerando a 
fragilidade natural decorrente dessa condição peculiar, carecem de proteção 
especializada, diferenciada e integral”. 
 
86
 SILVA, Marcelo Gomes (coord.). Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude. 
Florianópolis: Coordenadoria de Comunicação Social, 2008. p. 26. 
87
 SILVA, Marcelo Gomes (coord.). Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude. 
Florianópolis: Coordenadoria de Comunicação Social, 2008. p. 27. 
88
 LIBERATI. Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 4 ed. São 
Paulo: Malheiros, 1997, p. 16. 
89
 SILVA, Marcelo Gomes (coord.). Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude. 
Florianópolis: Coordenadoria de Comunicação Social, 2008. p. 28. 
 35 
Sobre o princípio do melhor interesse, Silva90 adverte que este 
“desponta como um princípio hermenêutico, à medida que orienta, tanto o jurista 
quanto o legislador, a optar pela decisão que melhor atende aos interesses da 
criança e do adolescente”, classificando-o como um “princípio orientador”. 
Relacionado ao princípio da municipalização, entende-se dos 
ensinamentos de Silva91, que este está ligado às políticas de atendimento e a 
descentralização dos atendimentos. Assim, dispõe que: 
(...) municipalizar significa que os demais entes federativos 
transferiram atribuições, antes somente suas, aos Municípios, ente 
mais próximo da realidade das crianças e dos adolescentes 
cidadãos. A municipalização incorpora desde a iniciativa para 
formular programas direcionados ao atendimento dos direitos da 
criança e do adolescente até a execução desses mesmos 
programas. 
Neste panorama, estamos diante da política de atendimento,regulada pelos artigos 86 a 89 do Estatuto da criança e do Adolescente. 
Para Liberati92, podemos entendê-la como: 
(...) o conjunto de medidas, ações, normas, instituições e programas 
criados e desenvolvidos pelo Poder Público destinados ao 
atendimento de crianças e adolescentes, visando à promoção e 
garantia dos direitos fundamentais. Essas ações e programas devem 
suprir as necessidades básicas de todas as pessoas e, em especial, 
de crianças e adolescentes. 
O próprio texto do artigo 86 do ECA prevê que tais ações serão 
governamentais e não-governamentais, ou seja, “as primeiras criadas e mantidas 
pelo Poder Público e, as segundas, por particulares, ainda que subvencionadas pelo 
estado”93. 
 
90
 SILVA, Marcelo Gomes (coord.). Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude. 
Florianópolis: Coordenadoria de Comunicação Social, 2008. p. 30. 
91
 SILVA, Marcelo Gomes (coord.). Manual do Promotor de Justiça da Infância e Juventude. 
Florianópolis: Coordenadoria de Comunicação Social, 2008. p. 32 e 33. 
92
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
82. 
93
 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: doutrina e jurisprudência. 4 ed. São 
Paulo: Atlas, 2003. p. 150. 
 36 
Seguindo, verifica-se que o artigo 8794 do mencionado 
dispositivo legal, estabelece as linhas de ações da política de atendimento, sendo 
elas: 
I - políticas sociais básicas; 
II - políticas e programas de assistência social, em caráter supletivo, 
para aqueles que deles necessitem; 
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico e 
psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, exploração, 
abuso, crueldade e opressão; 
IV - serviço de identificação e localização de pais, responsável, 
crianças e adolescentes desaparecidos; 
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos direitos da 
criança e do adolescente. 
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou abreviar o 
período de afastamento do convívio familiar e a garantir o efetivo 
exercício do direito à convivência familiar de crianças e 
adolescentes; 
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de guarda de 
crianças e adolescentes afastados do convívio familiar e à adoção, 
especificamente inter-racial, de crianças maiores ou de adolescentes, 
com necessidades específicas de saúde ou com deficiências e de 
grupos de irmãos. 
Como políticas sociais básicas, Elias95 destaca que “devem ter 
por finalidade a defesa dos direitos fundamentais de que trata o art. 227 da 
Constituição Federal”, que são segundo Liberati96, “o trabalho, a educação, a saúde, 
a habitação, o abastecimento, o transporte, o esporte, o meio ambiente e o lazer”. 
 
94
 BRASIL. Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, e dá outras providências. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm> Acesso em 10.10.2010. 
95
 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei n. 8.069, de 13 
de julho de 1990. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 62. 
96
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
82. 
 37 
Acercas das políticas e programas de assistência social, em 
caráter supletivo, assevera Liberati97 que estão “ligadas à existência de 
desigualdades sociais, que são incapazes de desaparecer, espontaneamente, pela 
atuação dos mecanismos postos pela política social básica”, o que caracteriza “a 
situação de risco, sugerindo a necessidade de aplicar a ação compensatória”. 
De maneira sucinta, o mesmo autor, Liberati98, trata os incisos 
III a V do artigo 87, do ECA, como “política de proteção especial”, destinada aos 
casos de “crianças e adolescentes considerados em situação de risco pessoal e 
social”, quando “ultrapassam o âmbito das políticas sociais básicas e assistenciais, 
exigindo esquema especial de abordagem e tratamento”. 
No que tange às diretrizes da política de atendimento, estas 
estão traçadas no artigo 88 do ECA, que para Alves99 são: 
a) municipalização do atendimento; b) criação de conselhos 
municipais, estaduais e nacionais dos direitos da criança e do 
adolescente; c) a criação e manutenção de programas específicos, 
observada a descentralização político-administrativa; d) manutenção 
de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos 
respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente; e) 
integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público, 
Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social, 
preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilização do 
atendimento inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato 
infracional; f) mobilização da opinião pública no sentido da 
indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade. 
Também no entendimento de Alves100, as inovações mais 
relevantes do ECA “foi a municipalização do atendimento, notadamente com a 
criação dos Conselhos Municipais e Tutelares, e ainda, dos Fundos Municipais dos 
Direitos da Criança e do Adolescente”. 
 
97
 LIBERATI. Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 4 ed. São 
Paulo: Malheiros, 1997, p. 51 e 52. 
98
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
84. 
99
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 34. 
100
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 34. 
 38 
Em suma, Ishida101 destaca como objetivo do Conselho de 
Direito da Criança e do Adolescente “estabelecer prioridades e definir políticas de 
atendimento dos direitos da criança e do adolescente no município”, acrescentando 
Alves102 que “cada um dos conselhos deve gerir um fundo dos direitos da criança e 
do adolescente, também criado por lei, destinado ao financiamento das políticas de 
atendimento”. 
Contribui Liberati103, afirmando que estes conselhos 
“serão órgãos deliberativos (...) e controladores das ações governamentais nos 
respectivos níveis, em todas as questões relativas ao atendimento dos direitos da 
criança e do adolescente (...)”. 
Destacam-se, também, as palavras de Neves de Jesus104, ao 
fazer menção sobre a criação do “Conselho Nacional dos Direitos da Criança – 
CONANDA”, ao qual compete “elaborar as normas gerais da política nacional de 
atendimento dos direitos da criança e do adolescente, além de zelar pela sua 
aplicação”. 
Já o Conselho Tutelar “é órgão permanente e autônomo, não 
jurisdicional, responsável direto pela primeira atenção à criança e ao adolescente em 
situação de risco pessoal e social” 105. 
Novamente Alves106, atenta que: 
O Conselho Tutelar está habilitado a promover a execução de suas 
decisões, podendo para tanto requisitar serviços públicos nas áreas 
de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e 
segurança, expedir notificações e requisitar certidões de nascimento 
e óbito de crianças e adolescentes. 
 
101
 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: doutrina e jurisprudência. 4 ed. São 
Paulo: Atlas, 2003. p. 149. 
102
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 35. 
103
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
85. 
104
 JESUS, Maurício Neves de. Adolescente em conflito com a lei: prevenção e proteção integral. 
Campinas/SP: Servanda Editora, 2006. p. 70.105
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 35. 
106
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 37. 
 39 
Outrossim, é importante comentar brevemente o artigo 90107 do 
ECA, que prevê: 
Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela 
manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento e 
execução de programas de proteção e sócio-educativos destinados a 
crianças e adolescentes, em regime de: 
I - orientação e apoio sócio-familiar; 
II - apoio sócio-educativo em meio aberto; 
III - colocação familiar; 
IV - acolhimento institucional; 
V - liberdade assistida; 
VI - semi-liberdade; 
VII - internação. 
Assim, verifica-se que “também integram a rede de 
atendimento as entidades a quem se atribui o planejamento e execução de 
programas de proteção e de cumprimento de medidas socioeducativas”108, as quais 
“estão sujeitas à fiscalização do Judiciário, do Ministério Público e dos Conselhos 
Tutelares”. 
1.3 DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO APLICADAS ÀS CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES 
Denota-se do artigo 227 da Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988, que as crianças e adolescentes receberão tratamento 
especial e que contemple os direitos fundamentais, sendo-lhes garantido “o direito à 
 
107
 BRASIL. Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, e dá outras providências. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm> Acesso em 10.10.2010. 
108
 ALVES, Roberto Barbosa. Direito da Infância e da Juventude. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 37. 
 40 
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” 109. 
Ao passo que tais direitos são ameaçados ou violados, afirma 
Liberati110 que as medidas de proteção surgem “proporcionando o restabelecimento 
da situação anterior de regularidade”. 
As medidas de proteção são reguladas pelos artigos 98 a 102 
do Estatuto da Criança e do Adolescente, subdividindo-se em disposições gerais e 
medidas de proteção específicas. 
Nesta ordem, Nogueira111 classifica as medidas de proteção 
em genéricas e específicas. A modalidade genérica “decorrem da ação ou omissão 
da sociedade ou do Estado, da falta, omissão ou abuso dos pais ou responsáveis, e 
da conduta do menor, mas visam protegê-lo”. As especificas, por sua vez, “são as 
previstas no art. 101, incisos I a VIII, e serão determinadas pela autoridade 
competente”. 
Assim, como genérico, analisa-se primeiro o artigo 98112 que 
dispõe: 
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são 
aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem 
ameaçados ou violados: 
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado; 
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável; 
III - em razão de sua conduta. 
 
109
 BRASIL. Constituição Federal da República Brasileira de 1988. Art. 227. 
110
 LIBERATI. Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 4 ed. São 
Paulo: Malheiros, 1997, p. 63. 
111
 NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 4 ed. rev., aum., e 
atual. São Paulo: Saraiva, 1998. p. 146. 
112
 BRASIL. Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, e dá outras providências. Disponível em 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm> Acesso em 10.10.2010. 
 41 
Sobre este dispositivo, Chaves113 ressalta que “tais medidas 
escalonam os menores em três categorias: os carentes, ou em situação irregular, os 
menores vítimas e os que praticaram atos infracionais”. 
Neste norte, como situação irregular das crianças e 
adolescentes, Ishida114 esclarece que será identificada “sempre que se constatar 
situação de abandono ou de risco envolvendo os mesmos”, isso em decorrência das 
hipóteses descritas no artigo acima citado. 
Já Liberati115 prefere considerar os incisos do artigo 98 como 
“base de verificação da real situação de risco pessoal e social em que se encontram 
as crianças e adolescentes”. 
Seguindo nos comentários do artigo mencionado, Elias116 trata 
o inciso I como “uma série de situações advindas de falhas da sociedade ou do 
Estado”. 
Liberati117, por sua vez, exemplifica a omissão da sociedade e 
do Estado, dizendo que isso ocorrerá “quando crianças estiverem vivendo na rua, 
sofrendo maus-tratos em entidade de atendimento à criança, seja governamental ou 
não-governamental, não sendo atendidas por escolas ou hospitais (...)”. 
Adentrando nos comentários do inciso II, Elias118, de maneira 
sucinta assoalha que: 
Se a sociedade e o Estado devem ser cobrados, muito mais deve-se 
exigir dos pais ou responsáveis, por força dos direitos inerentes ao 
pátrio poder ou outro liame legal. Atente-se, por exemplo, ao que 
 
113
 CHAVES, Antônio. Comentários ao estatuto da criança e do adolescente. 2 ed. São Paulo: LTr, 
1997. p. 455. 
114
 ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da criança e do adolescente: doutrina e jurisprudência. 4 ed. São 
Paulo: Atlas, 2003. p. 157. 
115
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
88. 
116
 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei n. 8.069, de 13 
de julho de 1990. São Paulo: Saraiva, 1994. p. 76. 
117
LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
88. 
118
 ELIAS, Roberto João. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei n. 8.069, de 13 
de julho de 1990. São Paulo: Saraiva, 1994. p.77. 
 42 
dispõe o art. 122 do Estatuto, que se refere aos deveres dos pais 
com relação ao sustento, guarda e educação dos filhos menores. 
Assim, também, quanto à obrigação de matricular os filhos na rede 
regular de ensino (art. 55), bem como a obrigatoriedade de cumprir 
medidas determinadas pelo Juiz da Infância e da Juventude (art. 129, 
I a VI). 
De maneira diversa, Liberati119 contempla as categorias 
omissão, abandono, negligência e abuso, afirmando que: 
Por omissão entende-se a ausência de ação ou inércia dos pais ou 
responsável; por abandono, tanto material quanto o jurídico, 
identifica-se o desamparo daquele ser desprotegido; por negligência 
supõe-se o desleixo, o descuido, a incúria, a desatenção, o 
menosprezo, a preguiça e a indolência dos pais ou do responsável. 
(...) o abuso é a exorbitância das atribuições do poder familiar. 
Já em relação ao inciso III, aponta Ishida120 que “referem-se à 
própria conduta do menor”, apresentando Liberati121 como exemplo, a prática de ato 
infracional, “dando origem à ação judiciária, que resultará na imposição de medida 
socioeducativa e/ ou protetiva mais adequada para o caso”. 
No tocante à aplicação das medidas protetivas, Nogueira122 
afirma que podem ser ajustadas “isolada ou cumulativamente, bem como 
substituídas a qualquer tempo, tendo em vista sempre o interesse da criança ou do 
adolescente”, acrescentando que “deve-se levar em conta preferencialmente 
aquelas que visem fortalecer os vínculos familiares e comunitários”. 
De acordo com o parágrafo único do artigo 100123 do ECA, auto 
explicativo, a aplicação das medidas específicas de proteção será regida pelos 
seguintes princípios: 
 
119
 LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da Criança e do Adolescente. 3 ed. São Paulo: Riddel, 2009. p. 
89. 
120
 ISHIDA, Válter Kenji.

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