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TCC A história da loucura

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Prévia do material em texto

FACULDADE SALESIANA MARIA AUXILIADORA 
CURSO DE PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LOUCURA: 
DA PSIQUIATRIZAÇÃO COMO CONTROLE SOCIAL À CIDADANIA 
PELA REFORMA PSIQUIÁTRICA 
 
 
 
 
 
CRISTIANE DA SILVA AZEVEDO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Macaé - RJ 
2018 
 
 
 
 
CRISTIANE DA SILVA AZEVEDO 
 
 
 
 
 
INSTITUCIONALIZAÇÃO DA LOUCURA: 
DA PSIQUIATRIZAÇÃO COMO CONTROLE SOCIAL À CIDADANIA 
PELA REFORMA PSIQUIÁTRICA 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de 
Psicologia da Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora em 
Macaé-RJ, como requisito parcial para obtenção do Título 
de Psicóloga. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Macaé - RJ 
2018 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Ao meu orientador Diego Flores, que gentilmente aceitou esse desafio, e com muita 
dedicação e paciência ,ajudou-me com comprometimento e amizade, desde o início,a 
construir esse trabalho; disponibilizando livros, indicações de literaturas e suas orientações, 
que sem elas certamente não seria possível. 
A todos os meus professores que, de algum modo, e com muita competência contribuíram 
com minha formação ao longo desses cincos anos. 
Ao meu Coordenador de Psicologia Marcelo Santos, que está sempre atento com importantes 
contribuições para o reconhecimento do curso. 
À Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora, com sua equipe de gestores e funcionários se 
comprometendo com competência para o desempenho acadêmico. 
Aos meus amigos e colegas de classe, (alguns levarei para a vida),fazendo parte dessa etapa 
da minha vida. 
Aos meus grandes amigos Rosangela e Henrique que de algum modo se envolveram em 
minha vida, com contribuições importantes. 
Aos meus familiares e amigos que mesmo alguns distantes, estiveram presentes; 
incentivando-me, com orientações importantes nos momentos difíceis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho, primeiramente a Deus que sempre foi minha fonte de inspiração, pois 
nos momentos de dificuldades, desespero, cansaço físico e mental recebi fôlego para 
continuar com minha caminhada acadêmica. Dedico à minha mãe Vera Lúcia que me 
encorajou nos momentos difíceis, ajudando no que fosse preciso, e que com muita dedicação 
cuidou e cuida da minha filha, sem medir sacrifícios, para que eu pudesse chegar até aqui. 
Dedico também este trabalho a minha tia Heloisa Helena, minha segunda mãe, uma pessoa de 
muito valor e grande importância, não só na minha vida, como na vida da minha família, 
sempre muito prestativa e cuidadosa, dedicando seu tempo e ajudando em tudo que for 
preciso. Dedico ao meu esposo Sandro que sempre se comprometeu em me ajudar com minha 
formação, levando-me e buscando todos os dias à faculdade, fazendo silêncio em casa para 
não atrapalhar nos meus estudos, em alguns momentos ele reclamava que eu só tinha tempo 
para os livros! Mas logo passava, pois sabia da importância e da minha dedicação. 
Dedico à minha filha Lorena que no inicio não teve muita paciência em aceitar que todo dia 
eu tinha que ir para a faculdade, mas com o passar do tempo, começou a perceber a 
importância, e a querer ir junto, difícil foi convencê-la do contrário, mas depois deu tudo 
certo! E por ultimo dedico a duas pessoas extremante importantes em toda minha existência, 
meus avós Izabel e Januário (in memorian), pois eles contribuíram de forma ativa na 
formação do meu caráter, aprendi com eles a ser uma pessoa melhor, a ser honesta, sincera, e 
respeito ao próximo, seja ele quem for. Estou certa e acredito que um dia, em algum lugar, 
nos encontraremos novamente, mas até lá, o que fica são as eternas saudades! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Dizem que de louco todo mundo tem um pouco. 
Então considerando que muitos surpreendam-se comigo, 
de louco eu devo ter um muito. 
E quer saber? Hei de ter então muito mais. 
Ninguém se destaca nessa vida sendo igual a todo mundo”. 
 
Augusto Branco 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
INTRODUÇÃO: ....................................................................................................................... 9 
1 CAPITULO I - INVENÇÃO DA PSIQUIATRIA E A MEDICALIZAÇÃO DA 
LOUCURA: ............................................................................................................................. 11 
1.1 DA GRANDE INTERNAÇÃO AO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO: ........................ 12 
1.2 BREVE PERCURSSO HISTÓRICO DA LOUCURA NO BRASIL: ...................... 14 
2 CAPITULO II - PSIQUIATRIA E DEGENERÊNCIA - O RACISMO 
PSIQUIÁTRICO: ................................................................................................................... 16 
2.1 A EUGENIA E O HIGIENISMO COMO CONTROLE SOCIAL: .............................. 18 
2.2 A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS RACIAIS NO BRASIL: ......................................... 21 
3 CAPITULO III - REFORMA PSIQUIÁTRICA E LUTA ANTIMANICOMIAL: 
DESINSTITUIINDO VELHAS PRÁTICAS: ...................................................................... 24 
3.1 PERCURSOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA: ................................ 25 
3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E A CRIAÇÃO DOS SERVIÇOS SUBSTITUTIVOS: 
DIMENSÕES DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: ............................................................... 27 
3.3 A DESINSTITUCIONALIZAÇÃOE OS DESAFIOS À REFORMA PSIQUIÁTRICA 
BRASILEIRA: ...................................................................................................................... 30 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: ........................................................................................... 36 
5 REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS: ................................................................................... 38 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO: 
 
Este trabalho tem por objetivo compreender o processo epistemológico da história da loucura, 
na produção de subjetividades dos indivíduos considerados socialmente fora dos padrões de 
normalidade, vivendo pelas ruas à margem da sociedade. A doença mental passou a ser 
discutida a partir do século XVII, momento que surge a Grande Internação, assim, se 
estabelece a institucionalização da loucura como controle e exclusão social. A partir do século 
XX uma biopolítica se consolida das populações consideradas de risco, surgindo as 
classificações nosológicas, com nova estratégia de intervenção. Surge, então, uma 
mobilização importante para o cenário político e social propondo abandonar o modelo asilar e 
o racismo psiquiátrico fundado sobre a discriminação e segregação. Portanto, com a Reforma 
Psiquiátrica, a loucura pode ser entendida de outro modo, ao doente cabe um tratamento 
humanizado, desinstitucionalizado, com direitos sociais reconhecidos. Nesse sentido, cabem 
alguns questionamentos importantes no campo das políticas sociais, que é fazer valer esses 
direitos e a manutenção dos mesmos. 
 
 
Palavra-chave: Exclusão Social, Institucionalização da Loucura, Reforma Psiquiátrica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This work aims to understand the epistemological process of the history of madness, in the 
production of subjectivities of individuals considered socially out of normality, living on the 
streets at the margins of society. The mental desease began to be discussed from the XVII 
century, when the GreatInternationalization arises, thus establishing the institutionalization of 
madness as social control and exclusion. From the XX century a biopolitics is consolidated of 
the populations considered at risk, with nosological classifications emerging, with a new 
intervention strategy. An important mobilization for the political and social scene arises, 
proposing to abandon the modeling of asylum and psychiatric racism based on discrimination 
and segregation. Therefore, with the Psychiatric Reform, madness can be understood in 
another way, the patient has a humanized, deinstitutionalised treatment with recognized social 
rights. In this sense, there are some important questions in the field of social policies, which is 
to enforce these rights and maintain them. 
 
 
Key words: Social Exclusion, Institutionalization of Madness, Psychiatric Reform. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
INTRODUÇÃO: 
 
A historia da loucura possui dimensões históricas atravessadas por diversas lutas em 
sua trajetória epistemológica, bem como no campo do saber. Partindo de uma reflexão 
filosófica com a contribuição histórica das ciências, buscando compreender esse percurso 
histórico, na medida em que a invenção da psiquiatria e medicalização da loucura teoriza esse 
processo, com inicio na idade clássica até os dias de hoje. 
Providello e Yasui (2013) afirmam que a loucura tornou-se, ao longo da Idade 
Clássica, linguagem interdita, não só ela foi excluída na grande internação ocorrida a partir do 
século XVII, assim, como outras formas de expressão foi fechada pela sociedade em hospitais 
gerais, como por domínio da verdade ligadas à desrazão. Conforme os autores a partir do 
século XIX os psiquiatras resolvem ‘libertar’ os loucos do convívio confinado com libertinos, 
hereges, usurários de drogas, homossexuais, etc..., para dar a eles um tratamento médico. 
Posteriormente, o racismo psiquiátrico a partir do século de XIX com teorias de 
degenerescência,e biopolíticas surgem com a idéia de classificações nosológicas de patologias 
psiquiátricas. Caponi (2012) afirma que políticas higiênicas, psiquiátricas e eugênicas ao meio 
século XIX, tiveram como objetivo melhorar a população e a raça, classificadas como 
anormais, e passaram a ser alvo de intervenção médica. E, no Brasil, como essas políticas se 
afirmaram, com práticas excludentes que ao longo dos séculos definiu o homem pelo seu 
meio social e sua hereditariedade. Conforme Caponi (2012) o processo de cura vinculado à 
restituição de condutas e valores morais, aliados a uma série de exercícios 
corporativos, define-se pelo poder psiquiátrico que se insere diretamente na sociedade 
disciplinar. 
E, por último a Reforma Psiquiátrica do modelo asilar, a pulverização da 
psiquiatrização, que ao longo de três décadas percebe-se avanços positivos na luta contra a 
segregação, visando melhores condições de vida para o portador de doença mental no 
exercício da cidadania com os direitos humanos fundamentais. 
Conforme afirma Ventura (2012) os direitos humanos fundamentais devem, portanto, 
ser respeitados incondicionalmente, especialmente no caso de portadores de transtornos 
mentais. Pressupondo a liberdade de pensamento e a universalização dos direitos individuais, 
sociais e políticos. 
 Conforme esses apontamentos referidos anteriormente, trago as seguintes questões: 
Quais mudanças ocorreram na psiquiatria, desde a transformação da loucura em alienação, 
10 
 
depois transtorno mental, e por fim portador de doença mental? Em que momento a loucura 
passou a ser uma patologia? Quais as contribuições que a reforma psiquiátrica teve para o 
Brasil? 
O objetivo deste trabalho é compreender em linhas gerais o percurso histórico da 
História da Loucura, como um processo de exclusão social, que foi se definindo ao longo dos 
últimos séculos, a partir da medicalização/segregação da loucura. Esse processo passou por 
momentos em que o discurso médico associava visões eugenistas e higienistas à sua prática, 
caracterizando intervenções de controle social francamente racistas. Por fim apresento a 
reforma psiquiátrica como movimento crítico que irá propor a desconstrução de todo o 
dispositivo psiquiátrico e a construção de formas dignas de tratamento e convívio em 
sociedade. 
O tema é relevante não apenas para a psicologia, como profissão totalmente envolvida 
nas questões de saúde mental e direitos humanos, mas para a sociedade como um todo, já que 
o preconceito e o estigma que cercam a loucura são ainda presentes em nosso cotidiano, e 
suas raízes históricas são por muitos desconhecidas. 
Essa pesquisa tem caráter qualitativo, exploratório e bibliográfico. Os estudos 
qualitativos respondem a questões muito particulares, preocupando-se com um nível de realidade que 
não pode ser quantificado. Isto é, penetram no universo dos comportamentos, atitudes e valores 
subjacentes ao objeto e ao contexto pesquisado, buscando o significado de variáveis que não 
podem ser reduzidas à quantificação. (MINAYO, 1998 apud OHIRA, DAVOK, 2008). 
 No que tange ao caráter exploratório, “[...] tem como principal finalidade 
desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas na formulação de 
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.(GIL,1995, P.44 
apud OHIRA, DAVOK, 2008). 
 A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, 
constituído principalmente de livros e artigos científicos. Pesquisas que objetivam a análise de 
diferentes aspectos ou posições acerca de um problema costumam ser bibliográficas, bem 
como pesquisas sobre ideologias. Esse tipo de pesquisa permite ao pesquisador “[...] a 
cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar 
diretamente. Esta vantagem se torna particularmente importante quando o problema de 
pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço” (GIL, 1996, p. 50 apud OHIRA, 
DAVOK, 2008). 
 
 
11 
 
1 CAPITULO I - INVENÇÃO DA PSIQUIATRIA E A MEDICALIZAÇÃO DA 
LOUCURA: 
 
O tema da loucura nem sempre foi tomado como algo necessariamente de ordem 
médica, tampouco uma questão em que a sociedade e o Estado se preocupassem. Estudos 
Foulcaultianos apontam a trajetória histórica de apropriação da experiência humana, da 
loucura pela psiquiatria, demonstrando o processo de objetificação da loucura como doença 
mental. 
Como afirma Machado (2007), a história da loucura tem na psiquiatria seu alvo 
principal: seu objetivo é estabelecer as condições históricas de possibilidade dos discursos e 
das práticas que dizem respeito ao louco considerado como doente mental. A psiquiatria é 
uma “ciência” recente à doença mental com pouco mais de 200 anos e que a intervenção da 
medicina em relação ao louco é datada historicamente 
De acordo com Torre e Amarante (2001), a partir da História da loucura na idade 
clássica inverte a explicação científica das reorganizações institucionais, demonstrando como 
as instituições surgem de necessidades sociais, e não de descobertas científicas ou do 
aprimoramento do conhecimento; o asilo seria o a priori da psiquiatria, e não o contrário. 
Nesse sentido, percebe-se que a segregação do portador de doença mental, está sempre 
vinculada às necessidades sociais. Dessa forma, com a criação de meios para que o “louco” de 
algum modo não incomode, para que ele possa viver sua própria realidade, vista pela maioria 
como irrealidade. No entanto, bem longe para que esse sujeito não incomode, com suas 
distorções, ilusões e verdades. 
Conforme Machado (2007), Foucault parte de um estudo do Renascimento, que tem a 
função de balizar e esclarecer a concepçãoclássica da loucura e o paulatino processo de 
exclusão e, posteriormente, confinamento do louco em instituições de reclusão. Se ainda nesse 
período o louco não era considerado doente, práticas de exclusão já eram comuns. Assim, 
demonstra como o processo da patologização do louco se inicia no século XVIII, pois antes 
disso, não seria possível, falar sobre doença mental, definir características e as verdadeiras 
dimensões do sofrimento mental. 
 
Portanto, 
 
“No Renascimento, não havia hospital ou prisão para o louco; ele vivia solto, era um 
errante, às vezes expulso das cidades, freqüentemente vagando pelos campos, 
entregue a comerciantes, peregrinos ou navegantes. Partindo da Nave dos Loucos, 
12 
 
objeto várias vezes representado pela pintura e pela literatura, o que lhe interessa é, 
através do nível simbólico, analisar uma inquietação própria da época: o 
aparecimento do louco no âmago da questão da verdade e da razão, como ameaça, 
irrisão, ilusão”.( MACHADO, 2007 pag. 37). 
 
 
1.1 DA GRANDE INTERNAÇÃO AO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO: 
 
É já em meados do século XVII que vai surgir a prática de internar no Hospital Geral 
não só aqueles que mais tarde seriam chamados de alienados, mas toda sorte de indivíduos 
considerados imorais, indesejáveis ao convívio social. Portanto, a loucura não era vista 
separadamente da vagabundagem, dos doentes venéreos, dos devassos, todos formavam uma 
massa heterogênea de perturbadores e que, ao serem internados, eram excluídos da sociedade 
no Hospital Geral. (FOUCAULTapud SERVERO, 2009). 
É o que Foucault denominou de “O Grande Enclausuramento”.Para Machado (2009) a 
população constituída pelas práticas e pelas regras do Grande Enclausuramento se forma a 
partir de quatro regiões, que a época clássica, agrupando e excluindo, vai transformar em um 
mundo homogêneo. 
➢ a sexualidade imoral do doente venéreo que adquiriu o mal fora da família , da 
sodomia, prostituição, “devassidão”, “prodigalidade”, “ligação inconfessável”, 
“casamento vergonhoso”; 
➢ fenômenos antes considerados profanação do sagrado que agora significam desordem 
do coração, da alma, desordem moral ou social, como a blasfêmia, o suicídio, ou 
magia, feitiçaria, alquimia, que são desclassificados como erro, engano, ilusão; 
➢ libertinagem, que na época clássica era irracionalismo e subordinação da razão à não-
razão dos desejos do coração; 
➢ a representação do louco representado pelo louco. Na época clássica, o espaço do 
louco é o Grande Enclausuramento. Isso significa que ele não é percebido como 
doente e muito menos como doente mental. 
 
Conforme o autor citado acima, no Hospital Geral não há tratamento, e se um médico 
faz visitas esporádicas a esses estabelecimentos é por medo de que a população internada 
adoeça e possa contaminar a cidade, contraindo principalmente a famosa “febre das prisões”, 
o tifo. Então, 
“O grande enclausuramento é, portanto, um fenômeno eminentemente moral, um 
instrumento de poder político que, laicizando a moral e a realizando em sua 
administração, não apenas exclui da sociedade aqueles que escapam a suas regras, 
mas de modo mais fundamental, cria, produz uma população homogênea, de 
13 
 
características específicas, como resultado dos próprios critérios que institui e 
exerce” (MACHADO, 1988, p. 64-65). 
 
Conforme Machado (2007) para Foucaulta internação do louco na época clássica não 
obedece a critérios científicos expressos pela medicina, mas à ordem da razão, pois aquilo que 
se percebe na relação com o louco não é a doença, mas a desrazão, isto é, uma ausência total 
de razão. O sistema que organiza o tipo de percepção do louco que se encontra na base do 
processo de internação é estruturado pela razão e pela moral ou, em outros termos,uma razão 
ética. 
Já no final do século XVIII, como afirmam Tundis e Costa (1990) partindo dos 
princípios da Revolução Francesa e a declaração dos direitos do homem nos Estados Unidos, 
surgem as primeiras denúncias contra as internações dos doentes mentais, em condições 
precárias, desumanas,sendo socialmente marginalizados sob forma de tratamento médico.As 
insatisfações em relação ao tipo de assistência aparecem com base no liberalismo que está 
surgindo, bem como no desperdício da força de trabalho dos presos internados. Nesse sentido, 
os grupos que conviviam junto aos loucos foram liberados, sendo assim, um novo espaço de 
reclusão aberto ao conhecimento médico. 
 
Dessa forma, 
“Pinel na França, Tuke na Inglaterra, Chiaruggi na Itália, Todd nos Estados Unidos, 
entre outros, serão os principais protagonistas de um movimento de reforma através 
do qual, pela primeira vez, os loucos seriam separados de seus colegas de infortúnio 
e passariam a receber cuidado psiquiátrico e sistemático”. (TUNDIS E COSTA 
p.25 1990) 
 
Assim de acordo com Torre e Amarante (2001), já no decorrer séculos XVIII e XIX a 
história da loucura é quase sinônimo da história de sua captura pelos conceitos de alienação e, 
mais tarde, de doença mental. Esse processo tem seu significado vinculado à criação de um 
novo modelo de homem ou de um novo sujeito na modernidade. Dessa forma,“A loucura se 
torna seu contraponto: é capturada como sujeito da desrazão.” (TORRE, AMARANTE, 2001 
p. 74). 
Com a criação do “modo-indivíduo”, uma nova forma de exercício de poder passa a 
ser constituída; poder não mais centrado unicamente no Estado, mas articulado a ele de várias 
maneiras, materializando-se em práticas, instituições e saberes. Essa forma de exercício do 
poder, denominado de disciplina ou poder disciplinar. (FOUCAULT, 1983 apud TORRE, 
AMARANTE, p.74 – 2001). 
14 
 
De acordo com Amarante (1995), a prática e o saber psiquiátrico se tornarão visíveis 
no lócus manicomial, porém muito além de uma mera evolução tecnológica ou mesmo 
“humanista”, o manicômio concretiza a metáfora da exclusão que a modernidade produz na 
relação com a diferença. 
Foi a partir do século XIX que a ciência médica passou a “descobrir” (produzir) a 
loucura como doença mental, ao lançar sobre ela um tipo específico de olhar, que é o olhar 
disciplinador. Inicialmente, somente possível a partir do asilo, o isolamento do dito alienado 
era condição fundamentalpara seu tratamento, que se caracterizava como um “tratamento 
moral”. É dentro do asilo (manicômio) que a loucura, ao ser produzida como objeto de saber 
pela ciência médica, recebe o estatuto de doença, precisando, portanto, ser curada. 
(FOUCAULT apud SEVERO, 2009). 
Assim, de acordo com a autora citada acima o surgimento do hospício também se 
amarra à constituição do saber sobre loucura, como estando ligado à conduta anormal e 
irregular cuja cura se daria o retorno do louco aos hábitos normais.A disciplina e moralização 
do doente seriam as formas pelas quais em tese se chegaria a essa “cura”, ao passo que se 
afastava do convívio social estes sujeitos economicamente inúteis e politicamente perigosos 
porque eram “irracionais”. 
Nesse sentido, compreende-se que o processo de transformar loucura em doença, 
sempre foi na lógica de jogos de interesses, afirmando a loucura como patologia a partir de 
pesquisas e teorias que legitimam a ação da sociedade e do Estado, dessa forma a doença 
mental, passa ser um problema social e o melhor modo de resolver esse problema seria excluir 
esse sujeito que não se encaixa nos padrões socialmente aceitos. 
Portanto, para o autor, vai efetuar “A produção de doença mental enquanto objeto 
médico e, com, ela toda uma prática de diagnostico, medicalização e estruturação de 
paradigmas que justifiquem internação”.(AMARANTE, 1995 p. 49) 
Percebe-se que o diagnóstico daqueles que estão fora da norma é importante para que 
aspráticas de segregação sejam justificadas a partir dessa concepção, de que o doente mental 
precisa ser tutelado, cuidado em um lugar que não ofereça risco a si mesmo e não incomode, 
sem questionamento desse saber, que é o saber médico. 
 
1.2 BREVE PERCURSSO HISTÓRICO DA LOUCURA NO BRASIL: 
 
15 
 
Em conformidade com Machado (2007), a autora Lima (2008), afirma que até 1830, 
aos loucos era permitida a circulação pela cidade. Eles podiam ser encontrados pelas ruas, 
casas de correções, asilos de mendigos, ou ainda nos porões das Santas Casas da Misericórdia. 
No entanto, conforme a autora citada era raro encontrar algum louco submetido a 
tratamento específico. Em 1830, uma comissão da recém-criada Sociedade de Medicina e 
Cirurgia do Rio de Janeiro realiza um diagnóstico da situação da loucura na cidade. 
Nesse contexto histórico, percebe-se a necessidade de se problematizar, com alguns 
critérios o sujeito que por algum motivo tem sua própria realidade. Percebe o mundo a partir 
doolhar singular que certamente exige uma capacidade maior de entendimento, num esforço 
de um tratamento adequado. 
Conforme, Lima (2008) a luta dos médicos no início do século XIX, pela construção 
do hospício, dirigia-se ao controle e organização, com proposta de investigação, da população 
brasileira. Com a criação do hospício, um grande número de pessoas foi internado. 
De acordo com Lima (2008), a assistência à loucura como discurso científico e olhar 
do médico, a psiquiatria se constitui como campo médico, após a reforma do ensino da 
medicina. As críticas médicas à administração do Hospício reivindicavam a medicalização do 
estabelecimento. Portanto, “ter na sua direção o poder médico, para poder contar com uma 
organização embasada por princípios técnicos. [...] mas também para que o hospício se torne 
um lugar de produção e conhecimento” (AMARANTE, 1994, p. 75 apud LIMA, 2008). 
Nesse sentido, percebe-se que a sociedade apropria-se do saber médico, fato que 
justifica a exclusão social, de maneira que aquele sujeito que não é igual, não é pertencente, 
com base em critérios instituídos, portanto, postos à margem da sociedade. 
De acordo com Lima (2008), a loucura sendo gerenciada pelo discurso médico-
científico no pós Proclamação da República no Brasil, fez com que surgisse uma das noções 
fundamentais para a apropriação da loucura pela medicina: a doença mental. O serviço 
prestado pelo hospício, preponderantemente para tratar da loucura foi o tipo hospitalização 
integral de longa duração. (PORTOCARRERO, 2002, apud LIMA, 2008). 
Portanto, entende-se que a loucura precisa ser tutelada, não se considera a pessoa 
como indivíduo com perspectivas de vida, sonhos e realizações. Qualquer ação do sujeito 
considerado louco tem sua vida controlada, moldada por uma equipe de especialistas, a partir 
do conhecimento científico. No entanto, não importa como esse sujeito vai ficar, se é longe do 
convívio social, esse aspecto seria o que menos importava. 
 
 
16 
 
 
2 CAPITULO II - PSIQUIATRIA E DEGENERÊNCIA - O RACISMO 
PSIQUIÁTRICO: 
 
Conforme Caponi (2012) nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século 
XX começa a se consolidar uma verdadeira biopolítica das populações consideradas de 
risco (para si e para os outros). Segundo a autora surge uma multiplicidade de novas 
classificações nosológicas de patologias psiquiátricas que dará lugar a novas estratégias de 
intervenção, a novas terapêuticas e a um discurso higiênico preocupado em prevenir 
e identificar possíveis desvios patológicos. 
Nesse sentido, entende-se que nesse momento começa a surgir outras preocupações 
em relação à doença mental a partir dos desvios de sujeitos que oferecem riscos à sociedade. 
Dessa forma, as possibilidades que começam a surgir com a classificação de patologias 
percebe-se que tem como objetivo de controle social do portador da doença mental. 
De acordo com Baptista (1992) em conformidade com Caponi (2012) a construção da 
loucura como doença mental se processaria ao longo do século XIX, e teve uma série de 
implicações, dentre as quais é preciso destacar que ela significou um alargamento da noção de 
loucura. 
Portanto, para o autor a ampliação do conceito de loucura seria sofisticada e 
consolidada a partir de meados do século XIX através da teoria da degenerescência.Nesse 
sentido, a loucura passaria a ser vista como uma manifestação mórbida transmitida 
hereditariamente e originada por fatores morais e pelas condições de vida. 
 
Dessa forma, 
 
“Em 1835, o Dr. Sigaut publica, no Diário de Saúde, um artigo intitulado, 
“Reflexões acerca do transito livre dos doidos pelas ruas da cidade do Rio de 
Janeiro” onde defende a necessidade de um hospício na cidade. Para o autor, 
teoriadegenerescência, a loucura a ser vista, em suma como “... uma manifestação 
mórbida transmitida hereditariamente e originada por determinados hábitos 
cotidianos pertencentes tanto à esfera da moralidade... quanto às condições de vida”. 
Ora as possibilidades de rotulação das mais variadas condutas como anormais 
tornavam-se ilimitadas”. ( BAPTISTA, 1992 p.92-93) 
 
De acordo com Portocarrero (2002) as degenerescências podem ser também de ordem mental, 
ou seja indivíduos portador de algum transtorno mental, em que, o fator biológico nesse caso 
teria sua importância na medida em que acreditava-se que a hereditariedade desempenharia 
um papel importante na transmissão de doença mental, portanto, através de estudos a 
17 
 
medicina percebe a necessidade de se construir um tratamento que justifique suas 
intervenções. 
 Para Portocarrero (2002) as doenças mentais podem ter causas diversas e, como afirma 
Robert Castel (1976), o plano do Tratado das Degenerescências de Morel é ordenado em 
função dessa diversidade: intoxicações diversas, influências do meio social ou da 
hereditariedade, doenças adquiridas ou congênitas. Quando instalada, a doença segue seu 
curso e transmite-se a seus descendentes, até a extinção da linhagem. 
De acordo com Morel citado por Caponi (2012) a autora distingue seis tipos de causas 
para a degeneração: 
 
1) Degenerações por intoxicação a maior parte das causas climáticas e abuso de álcool; 
2) Degenerações resultantes do meio social; 
3) Degenerações resultantes de uma afecção mórbida de todos os tipos de doentes que 
habitam os hospitais psiquiátricos; 
4) Degenerações derivadas da imoralidade; 
5) Degenerações provenientes de doenças congênitas ou adquiridas na infância; 
6) Degenerações relacionadas às influências hereditárias; 
 
Conforme Portocarrero (2002) a teoria da degenerescência exerceu uma influência 
marcante sobre a psiquiatria, no final do século XIX; desde Morel os alienistas brasileiros 
usaram irrefletidamente o princípio dos estigmas degenerativos. O conceito de "estigmas 
degenerativos" passa a ser abusivamente utilizado, como causa ou como sintoma, 
ocasionando grande confusão na teoria da alienação mental. 
Nesse sentido, a autora citada acima discorre que as degenerescências são desvios 
patológicos do tipo normal da humanidade, transmitidos hereditariamente; originam-se por 
intoxicações diversas, por moléstias adquiridas ou congênitas ou por influências do meio 
social ou da hereditariedade. A evolução própria à doença mental se explicava pela herança da 
enfermidade que, uma vez instalada, segue seu curso e se transmite à descendência até a 
extinção da linhagem. 
Dessa forma, percebe-se que a doença mental nesse momento histórico era entendida 
pela psiquiatria como um desvio patológico, seja por herança genética ou até mesmo pela 
convivência social esse individuo certamente poderia desenvolver alguma doença mental, 
poréma herança genética teria forte tendência à degeneração. 
18 
 
De acordo com Caponi (2012)na segunda metade do século XIX, começa a se articular 
um novo modo de entender as doenças mentais que já não está relacionado exclusivamente a 
delírios, alucinações, atos violentos ou paixões irrefreáveis, o que até então concentrava 
a preocupação dos alienistas e psiquiatras. Para a autora esse deslocamento permite 
classificar um conjunto cada vez mais amplo de condutas e comportamentos cotidianos como 
patologias psíquicas que demandam intervenções terapêuticas. 
Nesse sentido, a autora citada acima indaga como surge, como se valida e como se 
difunde esse saber médico relacionado ao não patológico e analisa a partir de que 
marco epistemológico, de que saberes e de que estratégias discursivas se consolidou a 
psiquiatria ampliada que surge na segunda metade do século XIX e que hoje parece ter 
renascido com força inesperada. 
De acordo com Morel citado por Caponi (2012) o autor pretendia substituir uma 
classificação sintomática por uma classificação etiológica das doenças mentais, pois somente 
com a determinação das causas poderiam ser elaborados um sistema classificatório de 
patologias e uma terapêutica apropriada. 
 
2.1 A EUGENIA E O HIGIENISMO COMO CONTROLE SOCIAL: 
 
De acordo com Caponi (2012) a partir das políticas higiênicas, psiquiátricas e 
eugênicas1 desenvolvidas no século XIX,o objetivo de melhorar a população e a raça, 
multiplicaram as condutas que,classificadas como anormais, passaram a ser alvo de 
intervenção e gestão médica. 
De acordo com Figueiredo e Cordeiro (2016) em conformidade com a autora acima o 
movimento eugenista,tomava espaço na política de saúde nacional, consolidava a exclusão de 
todos os que não se enquadravam nos padrões convencionais legitimando, através de uma 
perspectiva médica higienista, a legalização da exclusão, mediada pelo discurso científico do 
tratamento e da cura. 
Para (MARTINEZ HERNÁEZ, 2008 apud CAPONI, 2012)tanto nossos sofrimentos 
individuais e cotidianos, quanto nossos vínculos sociais ou políticos passam a estar mediados 
por intervenções preventivas ou terapêuticas, sejam elas médicas ou psiquiátricas, 
 
1 Galton definiu eugenia como o “estudo dos fatores físicos e mentais socialmente controláveis, que poderiam 
alterar para pior ou para melhor as qualidades racionais, visando o bem-estar da espécie” 
 (MAI, D. L.; ANGERAMI. S. L. E. Eugenia negativa e positiva: significados e contradições. Rev. Latino Am. 
Emfermagem – 2006 março-abril; 14(2): 251-8.) 
19 
 
que demarcam as fronteiras do que deve ser considerado um comportamento normal ou 
patológico. 
Nesse sentido, percebe-se que o comportamento do sujeito perpassa por um conjunto 
de ações que de algum modo é justificado pelos saberes instituídos, desse modo o sujeito está 
alienado a um diagnóstico que esses saberes entendem como normal ou patológico, criando 
estratégias e meios de intervenções. 
De acordo com Foucalt citado por Caponi (2012) a biopolítica da população, que 
começa no século XVIII, foi a estratégia que possibilitou, pela primeira vez na história, que o 
biológico ingressasse no registro da política. Sendo assim, as características dessa biopolítica 
propõem o melhoramento da raça e da espécie, parece precisar da construção de corpos sem 
direito, que se configuram como simples ‘vida nua’, às margens das relações de poder. 
 Para Caponi (2012) a estratégia biopolítica não tem o objetivo de curar ou de 
normalizar os desvios; mas a emergência do perigo. Construído um instrumento médico-
político capaz de controlar a hereditariedade da grande família dos degenerados e, ao mesmo 
tempo, controlar as populações e as raças consideradas perigosas: O alvo prioritário dessas 
estratégias era o controle das famílias dos anormais. 
Nesse sentido, percebe-se um racismo psiquiátrico, o sujeito é visto como degenerado 
a partir de sua herança genética. Para as famílias consideradas anormais cria-se um controle 
capaz de identificar algum desvio do sujeito pertencente àquela família. 
Conforme a autora citada, a psiquiatria que se inicia com os teóricos da degeneração 
na segunda metade do século XIX manterá e aprofundará as idéias localizacionistas esboçadas 
por Cabanis, distanciando-se das críticas que Pinel dirigia a esse modelo explicativo de 
doenças mentais. 
Cabanis é um férreo defensor da higiene pública e considera que a sábia aplicação 
de medidas higiênicas pode alterar os efeitos nocivos do clima, e produzir indivíduos de 
excelência, competentes e idôneos, tanto física como moralmente. (EDLER, 2002 apud 
CAPONI, 2012). 
Nesse sentido,seria necessário melhorar a natureza de cada indivíduo em particular e 
aperfeiçoar a natureza humana em geral pela execução de um plano constante e bem 
idealizado. Esses estímulos constantes, essas modificações, podem ser transmitidos e fixados 
por via hereditária (LÓPEZ BELTRÁN, 2004 apud CABANIS, 2012). 
 
 
 
20 
 
Então, 
 
“De acordo com Morel, aidéia de herançase diferencia, como veremos mais tarde, 
tanto das teorias clássicas existentes até o momento, que supunham uma repetição 
nos descendentes das mesmas condutas e dos mesmos delírios que apareciam em 
seus ancestrais, como das teorias dos alienistas, que imaginavam uma herança difusa 
na qual a existência de qualquer fato patológico poderia levar os descendentes ao 
delírio ou à loucura. A herança é uma das causas, sem dúvida a mais importante, da 
degeneração, embora na enumeração dos processos causais ela apareça mencionada 
em último lugar.” (CAPONI, 2012 p.120) 
 
 
Nesse sentido, percebe-se que racismo psiquiátrico é recorrente e tem um caminho 
histórico social percorrido, o sujeito que nasce com alguma patologia ou não, o mesmo pode 
estar sujeito à degeneração, levando em consideração de fato todas as formas e possibilidades 
que configura um sujeito fora da norma. Esse sujeito produz efeitos na sociedade que 
implicam em ações que justificam a segregação. 
De acordo com Torres e Amarante (2001), para o saber psiquiátrico, a degeneração é 
causada pela doença mental, sem nenhuma ligação com as formas de relação institucional que 
se estabelece com a loucura e o louco. A doença mental concebida sob um ponto de vista 
naturalista é a noção que dá o suporte fundamental da prática, do poder e do saber 
psiquiátricos. 
Para Sacks (1995apud TORES e AMARANTE), a doença é um processo no sujeito, 
não é um defeito no corpo, no órgão ou no funcionamento bioquímico. É um processo 
referente à conduta e à forma de olhar. Na doença há uma construção de subjetividade 
radicalmente diversa, por isso nunca se pode tratar o sintoma, é preciso tratar o sujeito. 
 
Dessa forma, 
 
[...] para Foucault codificar a loucura como perigo, isto é, foi preciso fazer a loucura 
aparecer como portadora de certo numero de perigos, como essencialmente 
portadora de perigos e, como isso, a psiquiatria, na medida em que era o saber da 
doença mental, podia funcionar como higiene pública.[..] (FONTES, 2002 p.149). 
 
Nesse sentido, percebe-se que a adversidade do indivíduo não é levada em 
consideração,o sujeito está alienado a um modo de existência que se encaixe em padrões e 
normas instituídas, ou seja, um sujeito adaptado sem levar em conta sua constituição. 
De acordo com Pereira (2008) a teoria da degenerescência, a nascente disciplina 
psiquiátrica encontrava um sólido referencial sobre o qual ancorar suas pretensões a pertencer 
à medicina de pleno direito. A adesão às teses morelianas foi maciça entre os alienistas e 
muitos foram seus continuadores no plano teórico. 
21Nesse sentido, de acordo como autor citado acima o mais importante entre estes 
certamente foi Valentin Magnan. Seus estudos orientaram-se no sentido de criticar o caráter 
excessivamente metafísico, e mesmo religioso, da teoria de Morel. 
De acordo com Pereira (2008) as preocupações centrais de Morel era a concepção 
terapêutica a ser deduzida dos pressupostos da teoria da degenerescência, em particular as 
ações sanitárias e higienistas a serem implementadas pela autoridade pública com o objetivo 
de impedir a propagação das tendências degeneradas entre a população. 
 
2.2 A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS RACIAIS NO BRASIL: 
 
De acordo com Weyler (2006) a instalação do regime republicano no Brasil foi 
acompanhada de mudanças nas formas de compreensão e enfrentamento da loucura. Cunha 
(1990 apud WEYLER) verificou que, ao longo do século XIX, portadores da marca da 
“vesânia”circulavam nas cidades do Segundo Império. Eram os “loucos de rua”. 
Para o autor,o eugenismo, uma espécie de prática avançada do darwinismo social, 
incentivou a administração científica e racional da hereditariedade, por meio de novas 
políticas sociais interventivas que incluíam, sobretudo, uma deliberada seleção social. 
Segundo Weyler (2006) modelos que serviram de apoio à construção de concepções 
da vida psíquica têm como essência o encobrimento da dimensão social e política da vida 
humana, pois reduzem ao plano bio-psíquico uma concepção abstrata e ideológica de “ser 
humano”. 
Nesse sentido, a idéia de poder se fortalece na medida em que se criam políticas 
sociais decorrente de um discurso que a loucura precisa ser tutelada, e o individuo que for 
considerado doente mental, precisa de um local separado para que ele possa receber um 
tratamento adequado. 
 
Portanto, 
 
“A partir de tais práticas, seria possível prever, inclusive, o nascimento de um novo 
tipo de homem, sadio, vigoroso, acima de qualquer tara ou degenerescência. Se o 
“paraíso bíblico o homem destruiu” com “a eugenia o homem criará o paraíso 
terrestre”, é o que prometia Riedel repetindo a fórmula de Renato Kehl, papa do 
eugenismo brasileiro do período” (Reis, 2000 apud WEYLER, 2006 p. 26). 
 
 
De acordo com Facchinetti e Venancio (2006) Henrique de Brito Belford Roxo, 
defendeu a tese Duração dos atos psíquicos elementares nos alienados, em 1900, sob 
22 
 
orientação de Teixeira Brandão. Em 1919, Henrique Roxo já era professor substituto das 
Clínicas Neurológica e Psiquiátrica. Nesse sentido, Roxoentendia que haveria doenças 
mentais advindas do desenvolvimento do cérebro,distinto em cada raça. 
De acordo com as autoras citadas acima, Roxo afirmava que o cérebro dos negros era 
menos evoluído do que o dos brancos e por isso mais propenso a certos tipos de loucura. Para 
Roxo, a inferioridade dos negros não seria devida à sua constituição física ou à cor, mas ao 
fato de que a evolução não havia ainda se estabelecido neles como teria acontecido aos 
brancos. 
 
Portanto, de acordo com Roxo (1907 apud FACCHINETTI e VENANCIO 2006), 
 
➢ Todas as partes do corpo, com ênfase no crânio e na cavidade bucal deveriam ser 
examinadas na observação de um paciente; 
 
➢ Examinar a existência de deformidades cranianas, verificar estrabismo, anotar defeitos 
em dentes e orelhas; 
 
➢ Examinar a existência de deformações ósseas, cegueira, gaguez, entre outros, na busca 
de estigmas físicos e psíquicos que sinalizavam a degeneração; 
 
➢ Somando a noção de características hereditárias e fatores sociais como a escravatura; 
 
 
De acordo com, Facchinetti (2001 apud FACCHINETTI e VENANCIO 2006), o 
controle da população pela higiene mental tinha como um dos seus objetivos, portanto, 
extirpar o caráter excessivo, desregrado e degenerado da raça brasileira para que pudéssemos 
adentrar em um novo patamar – moderno e, por conseguinte, saudável. 
Conforme Oda (2001) a idéia de degenerescência como etiologia da doença mental 
sofreu transformações até ser gradativamente abandonada, declinando principalmente depois 
da terceira década do século XX. Já a neuropsiquiatria localizacionista seria abandonada 
antes, já que só nas demências e em alguns outros quadros orgânicos seu modelo explicativo 
obtinha sucesso. 
Conforme Oda (2001) a visão que o homem branco europeu tinha dos outros povos, 
ditos primitivos, foi, durante boa parte do século XIX e início do século XX, determinada 
pelo racismo científico. Este era uma crença compartilhada culturalmente, com status de 
paradigma científico, e teve importante articulação com a teoria da degenerescência. 
23 
 
Como afirma a autora citada acima, dentre os muitos autores que embasaram suas 
teorias em uma pretensa hierarquia racial destaca-se, por sua influência na medicina, o francês 
Paul Broca, fundador da Sociedade Antropológica de Paris. Os pressupostos básicos de Broca 
eram: 
 
➢ O tamanho do cérebro era diretamente ligado ao grau de inteligência; 
 
➢ As raças humanas ocupavam posições hierarquicamente distribuídas; 
 
➢ O cérebro era maior nos adultos que nos velhos, no homem que na mulher, 
 
➢ Características físicas como a cor do cabelo, pele, olhos, tipos nasais e medidas 
cranianas; 
 
De acordo com Oda (2001), o conceito de degenerescência era corrente na medicina, a 
miscigenação entre raças em diferentes patamares evolutivos resultaria, fatalmente, em 
indivíduos desequilibrados, degenerados, nas suas manifestações comportamentais. 
Especialmente referenciais teóricos de Nina Rodrigues que acreditava que as três raças 
fundamentais (negros, índios e brancos),transmitiriam, "aos produtos de seus cruzamentos 
caracteres patológicos diferenciais de valor” (RODRIGUES 1939 apud ODA 2001). 
Nesse sentido, percebe-se claramente que estudos nesse momento foram totalmente 
debruçados para entender fatores que diferenciavam um sujeito do outro, com base em 
estereótipos e na sua condição social, negligenciando o sujeito que é produzido pelo meio e 
atravessado por múltiplas formas de existência no mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
3 CAPITULO III - REFORMA PSIQUIÁTRICA E LUTA ANTIMANICOMIAL: 
DESINSTITUIINDO VELHAS PRÁTICAS: 
 
De acordo com Brasil (2001), a Reforma Psiquiátrica ou Luta Antimanicomial são 
nomes genéricos dados a uma grande mobilização social que já dura mais de três décadas e 
vem propondo a reformulação das políticas públicas de saúde mental, de modo a abandonar o 
modelo asilar considerado, invasivo e opressor, fundado sobre a discriminação e a segregação, 
privação da liberdade e tolhidas no exercício de sua singularidade e cidadania. 
Amarante (1995) demonstra que o exercício de reconstituição da reforma psiquiátrica 
apresenta-se conectado tanto à possibilidade de revisão dos principais referenciais teóricos 
que influenciam ou possibilitam a emergência desse movimento quanto à reatualização de um 
olhar histórico - critico sobre os paradigmas fundadores do saber/prática psiquiátricos. 
Nesse sentido, segundo o autor, ocorre a necessidade de um olhar a partir de uma 
visão panorâmica e especifica, desde o nascimento da psiquiatria até as propostas de 
reformulação e criticas aos modelos psiquiátricos, com o objetivo de buscar entender o 
movimento de reforma psiquiátrica no Brasil. 
Assim, é necessário compreender de que forma o período pós-guerra torna-se cenário 
para o projeto de reforma psiquiátrica contemporâneo, atualizando criticas e reformas da 
instituição asilar. Destacam-se a antipsiquiatria e as experiências surgidas a partir de Franco 
Basaglia, enquanto instauradoras de ruptura com os movimentos anteriores, colocando em 
questão o próprio dispositivo médico-psiquiátrico e instituições. (AMARANTE,1995). 
De acordo com Amarante (1995) a relação que se estabelece entre sujeito que cura e 
objeto de intervenção subtrai a totalidade subjetiva e histórico social a uma leitura 
classificatória do limite dado pelo saber médico. A codificação dos comportamentos é 
justificada pelo saber componente multiplicado no imaginário social da modernidade. 
 O autor afirma que será só com Basaglia e a experiência antimanicomail italiana que 
a crítica encontrará corpo em reformas que de fato questionassem a estrutura asilar, em seus 
componentes institucionais e discursivos. 
Conforme Ventura e Brito (2012) foi celebrada, no âmbito da ONU, a Declaração dos 
Direitos do Deficiente Mental, em 1971. Em dezembro de 1991 foi também aprovada pela 
Assembléia Geral da ONU a Resolução 46/119 sobre a proteção das pessoas com doenças 
mentais e a melhoria da assistência à saúde mental. Assim, como resposta ao movimento 
internacional, no Brasil, desde a década de 1970. 
25 
 
Para as autoras citadas acima a inclusão somente é possível por meio do exercício da 
cidadania, ou seja, do respeito aos direitos civis, políticos, econômicos e sociais dos 
portadores de transtornos mentais. Nesse sentido, observa-se a importância da luta pela 
preservação do direito à singularidade, à subjetividade e à diferença. 
 
Portanto, 
“A garantia dos direitos das pessoas com transtornos mentais passa pelo constante 
estudo crítico do processo de reforma psiquiátrica, seus êxitos e fracassos, pois a 
reforma psiquiátrica ainda é um processo em construção. Visando contribuir para o 
contínuo repensar, retoma-se nesse trabalho fatos selecionados desde a década de 
1970, considerando sua relevância histórica como agentes antecedentes para a 
alteração da política pública para o atendimento psiquiátrico no país”. (GOULART 
E DURÃES, 2010 apud BARROSO E SILVA, 2011) 
 
 
Dessa forma, o modelo manicomial mostrou-se ineficiente, cronificante e desumano, 
as críticas a esse modelo tornaram-se fortes, especialmente na Europa, e culminaram, a partir 
da década de 1950, em um movimento político-social chamado de desinstitucionalização 
psiquiátrica (VIDAL; BANDEIRA; GONTIJO, 2008 apud BARROSO E SILVA, 2011). 
 
3.1 PERCURSOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA: 
 
Segundo Amarante (1995) em1978, no contexto da redemocratização surge, no Rio de 
Janeiro, o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), que viria a tornar-se o 
ator social estratégico pelas reformas no campo da saúde mental. 
Para Amarante (1995), Procurando entender a função social da psiquiatria e suas 
instituições, para além de seu papel explicitamente médico-terapêutico, o MTSM constrói um 
pensamento crítico no campo da saúde mental que permite visualizar uma possibilidade de 
inversão deste modelo a partir do conceito de desinstitucionalização. 
Conforme Severo (2009), O movimento antimanicomial se justifica a partir da crítica, 
de natureza política, em relação a duas questões: o poder médico e a institucionalização, 
referindo-se ao modelo psiquiátrico de internação da pessoa em hospital de cunho 
socioeconômico: as pessoas são internadas sob o rótulo de “doentes mentais”, porém o que se 
visa não é a cura, mas sim uma exclusão de certas pessoas da sociedade, consideradas não 
produtivas. 
De acordo com Basaglia (1979 apud SEVERO 2009), que foi um líder de um processo 
de reforma psiquiátrica que extrapolou os limites de uma mera reforma tecnicista e 
adaptacionista em psiquiatria, destacou a importância do envolvimento da população no 
26 
 
movimento, para que este não continue com seu caráter elitista maquiado por novas propostas 
científicas. Pois, a voz dos discursos antimanicomiais que integram o movimento dos 
trabalhadores não é a do doente mental, mas de profissionais e de pessoas envolvidas neste 
processo e que não foram rotuladas como doentes. 
 
Portanto, 
O manicômio concretiza a metáfora da exclusão que a modernidade produz na 
relação com a diferença. Com crítica radical ao paradigma psiquiátrico, a tradição 
iniciada por Franco Basaglia e continuada pelo movimento da psiquiatria 
democrática Italiana afirma a urgência de revisão das relações a partir das quais o 
saber médico funda sua práxis.( AMARANTE, 1995 p.50) 
 
Nesse sentido, para Amarante (1995) a tradição Basagliana e todo movimento de 
reforma psiquiátrica na Itália, (que se torna referencia para reforma psiquiátrica 
brasileira),vem matizada com cores múltiplas: 
 
➢ Traz em seu interior a necessidade de uma análise histórico-crítica a respeito da 
sociedade e da forma como ela se relaciona com o sofrimento e diferença; 
➢ Um movimento político: traz a polis e a organização das relações econômicas e sociais 
ao lugar de centralidade e atribui aos movimentos sociais um lugar nuclear; 
 
Conforme Amarante (1995) esta experiência desinstitucionalizadora teve início 
em1960, no manicômio de Gorizia, com o trabalho de humanização do hospital desencadeado 
por Franco Basaglia. A experiência de Gorizila revela o nexo psiquiatria, controle social e 
exclusão e, portanto, a conexão intrínseca entre os interesses político-sociais mais amplos e a 
instituição da ciência psiquiátrica. 
Esse movimento revela a estrutura social e fundamenta três pilares de critica àtradição 
basagliana: (BARROS, 1994,60 apud AMARANTE, 1995) 
 
“A ligação de dependência entre psiquiatria e justiça”; 
“A origem das classes de pessoa internadas”; 
“E a não neutralidade”, 
 
Portanto, 
 
“A expressão de Basaglia em a psiquiatria alternativa: contra o pessimismo da razão, 
o otimismo da prática reunindo as conferências que proferiu no Brasil resume essa 
27 
 
passagem, quando afirma que a “psiquiatria sempre colocou o homem entre 
parênteses e se preocupou com a doença.” (AMARANTE, 1995 p.49) 
 
 
Nesse sentido, percebe-se que a maior preocupação era, e ainda é, manter o controle 
social, as pessoas consideradas doentes, que não se encaixavam dentro dos padrões 
estabelecidos, eram de fato colocadas entre parênteses. Na medida em que a preocupação era 
com a doença, deixando de lado aquele que de fato precisa de cuidado, o sujeito em seu 
sofrimento, que por algum motivo tem suas próprias verdades e modos de ser e agir diferente. 
A construção de um novo espaço social para a loucura exigia que a noção de cidadania 
e a base do saber psiquiátrico fossem colocados em debate. Era preciso inventar novos locais, 
instrumentos técnicos e terapêuticos, como também novos modos sociais de estabelecer 
relações com esses sujeitos. (BIRMAN1992 apud SANTOS et al 2000). 
Segundo Santos et al (2000) a 1ª Conferência Nacional de Saúde Mental no Rio de 
Janeiro, foi realizada em 1987, considerada um marco histórico na psiquiatria brasileira. A 
criação do Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz Cerqueira, em São Paulo, no 
mesmo ano e a intervenção, em 1988, na Casa de Saúde Anchieta, em Santos e o Projeto de 
Lei do deputado federal Paulo Delgado. 
Nesse sentido, conforme Amarante (1995), esse movimento ganhou força e maior 
amplitude com a participação de familiares e de pessoas com transtornos mentais. Dessa 
forma criou-se o lema “Por uma Sociedade sem Manicômios” e iniciou-se uma maciça 
campanha cultural pela adoção da reforma psiquiátrica 
De acordo com Hirdes (2008), a2ª Conferência Nacional de Saúde Mental aconteceu 
em 1992, culminando na 3ª Conferência Nacional de Saúde Mental em2001. 
Portanto,situando as décadas de 1980 e 1990 como marcos significativos nas discussões pela 
reestruturação da assistência psiquiátrica no país. 
Segundo Delgado (1992 apud SANTOS et al 2000), todo cuidado implica um grau de 
tutela, todo serviço de caráter protetivo, tem a funçãode tutela. Entretanto, as atuais 
modalidades assistenciais não visam mais a adequação a um padrão único de subjetividade, 
seu sentido sendo bastante diferente daquele instituído pela clínica clássica. 
Portanto, percebe-se que nesse momento histórico algumas mudanças eram 
necessárias no sentido de se dar voz ao sujeito portador de transtorno mental, que tinha sua 
vida tutelada, exilada, sem nenhuma participação efetiva na sociedade, desconsiderando 
subjetividades, dessa forma valorizando a diferença. 
 
28 
 
3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E A CRIAÇÃO DOS SERVIÇOS 
SUBSTITUTIVOS: DIMENSÕES DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: 
 
A mudança da política pública para o atendimento psiquiátrico não representou a 
concretização do processo de reforma psiquiátrica no Brasil nem em termos legislativos e 
ainda menos para a adaptação dos envolvidos no cotidiano do tratamento psiquiátrico. 
Portanto, para Pinto e Ferreira (2010 apud BARROSO E SILVA, 2011) destacam que, após a 
promulgação da Lei 10.216, outras leis estaduais e diversas portarias e programas foram 
criados para regulamentação do atendimento psiquiátrico comunitário. 
De acordo com Brasil (2004) O Programa "De Volta para Casa", criado pelo 
Ministério da Saúde, regulamenta do auxílio-reabilitação psicossocial para assistência, 
acompanhamento e integração social, fora da unidade hospitalar, de pessoas acometidas de 
transtornos mentais com história de longa internação psiquiátrica. 
Para Brasil (2004), o objetivo é a inclusão social de pacientes e a mudança do modelo 
assistencial em saúde mental, com ampliação do atendimento extra-hospitalar e comunitário, 
facilitadora do convívio social, capaz de assegurar o bem-estar global e estimular o exercício 
pleno de seus direitos civis, políticos e de cidadania, contribuindo de maneira efetiva no 
processo de inserção social dessas pessoas. 
A Portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2002, essa portaria reconheceu e ampliou 
o funcionamento e a complexidade dos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), assim como 
os NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial), os CERSAMs (Centros de Referência em Saúde 
Mental) e outros tipos de serviços substitutivos que têm surgido no país, regulamentados pela 
rede do Sistema Único de Saúde, o SUS. 
 
Conforme Brasil(2004) 
 
“têm a missão de dar um atendimento diuturno às pessoas que sofrem com 
transtornos mentais severos e persistentes, num dado território, oferecendo cuidados 
clínicos e de reabilitação psicossocial, com o objetivo de substituir o modelo 
hospitalocêntrico, evitando as internações e favorecendo o exercício da cidadania e 
da inclusão social dos usuários e de suas famílias.” 
 
 
Conforme, Amarante (2013) por meio da Portaria n. 3.088 de 23 dezembro de 2011, 
foi instituída a Rede de Atenção Psicossocial, (Raps). Com os seguintes objetivos: 
 
29 
 
➢ Promover a vinculação das pessoas com transtornos mentais e com necessidades 
decorrentes de crack, álcool e outras drogas aos pontos de atenção; 
➢ Garantir a articulação e integração dos pontos de atenção das redes de saúde no 
território; 
➢ Qualificando o cuidado por meio do acolhimento, do acompanhamento continuo da 
atenção às urgências. 
 
Amarante (2013), afirma que movimento é um processo, como algo que caminha e se 
transforma constantemente, surgindo novos elementos, novas situações a serem discutidas e 
enfrentadas, a partir de interesses e visões ideológicas, como um processo social complexo. 
Portanto, para o autor pode se pensar a Saúde Mental e Atenção Psicossocial a partir de quatro 
dimensões: 
 
➢ Teórico conceitual – ciências naturais que fundamentaram a constituição de um saber 
psiquiátrico sobre a loucura. 
➢ Técnico-assistencial – trata-se de uma reflexão teórica com a finalidade de trazer para 
o debate o modelo assistencial em saúde e os desafios para atenção básica no Brasil. 
➢ Jurídico-política –tem a finalidade de possibilitar o avanço da Reforma Psiquiátrica no 
Brasil, considerando os diversos sujeitos sociais e coletivos. 
➢ Sociocultural - Discutir a Reforma Psiquiátrica com envolvimento da sociedade 
provocando uma reflexão sobre o tema da loucura. 
 
Conforme Brasil (2001) com a Reforma Psiquiátrica e com as novas políticas públicas 
de saúde mental, as Instituições de enclausuramentos foram substituídas por um conjunto de 
serviços abertos e comunitários para garantir à pessoa com transtorno mental o cuidado 
necessário para viver com segurança em liberdade, no convívio familiar e social tanto quanto 
possível, os quais são: 
 
➢ Serviços de saúde do próprio Sistema Único de Saúde (SUS) disponibilizados a toda a 
população como ambulatórios de saúde mental; 
 
➢ Unidades Básicas de Saúde e do Programa de Saúde da Família, que realizam ações de 
promoção e proteção à saúde mental em vários territórios, tais como: 
 
➢ Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), com o tratamento intensivo de pessoas com 
transtorno mental; 
30 
 
 
➢ Serviços Residenciais Terapêuticos, ajudando na reinserção social das pessoas que 
viveram longo tempo internadas; 
 
➢ Centros de Convivência, como núcleos de produção de cultura e espaço de troca entre 
os usuários dos serviços da saúde mental e a sociedade em geral. 
 
Nesse sentido, conforme cita Brasil (2001) a Lei nº 10.216/2001, em seu artigo 3º, diz 
que é responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência 
e a promoção de ações de saúde às pessoas com transtornos mentais, com a devida 
participação da sociedade e da família. É responsabilidade das Secretarias de Saúde e do 
Ministério da Saúde a implantação dos serviços de saúde que garantam o direito das pessoas 
com transtornos mentais. 
De acordo com Saraceno (1996 apud SILVA; ROSA 2014) O paradigma da atenção 
psicossocial é o balizador das mudanças em curso, compreendido como sinônimo de 
cidadania, tendo em vista três eixos estruturantes: 
 
➢ A moradia, habitar conquistando novos territórios na cidade; 
➢ O combate e desconstruindo estigmas e mitos; 
➢ A ampliação de laços sociais, aumentando a contratualidade, a partir dos valores 
destacados pela sociedade, assegurando processos de geração de emprego e renda, 
potencializando as capacidades das pessoas com transtorno mental; 
 
3.3 A DESINSTITUCIONALIZAÇÃO E OS DESAFIOS À REFORMA 
PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA: 
 
De acordo com Amorim; Dimenstein (2009) a história da reforma psiquiátrica 
brasileira é um processo em construção, que fundamenta as políticas de saúde mental, é a da 
desinstitucionalização entendida como desconstrução de saberes, discursos e práticas 
psiquiátricos que sustentam a loucura reduzida ao signo da doença mental e reforçam a 
instituição hospitalar como a principal referência da atenção à saúde mental. 
Conforme Berlinck; Magtaz e Teixeira (2008) a Reforma Psiquiátrica Brasileira 
realiza, então, por meio de uma complexa e sistemática política pública, consubstanciada em 
leis e portarias ministeriais, leis estaduais e municipais, uma ampla modificação no 
atendimento ao usuário,nesse sentido, redireciona o modelo da assistência psiquiátrica; 
regulamenta cuidado especial com a clientela internada por longos anos. 
31 
 
Dessa forma segundo as autoras citadas a Reforma Psiquiátrica prevê possibilidade de 
punição para a internação involuntária ou desnecessária, de pacientes com longo tempo de 
permanência em hospital psiquiátrico, pela concessão de auxílio-reabilitação psicossocial e 
inclusão em programas extra hospitalares de atenção; inclui assistência de saúde mental para 
os detentos do sistema penitenciário, possibilitando o pensamento sobre um novo modo de 
tratar com a questão dos manicômiosjudiciários. 
Nesse sentido, para Berlinck; Magtaz e Teixeira (2008)a Reforma Psiquiátrica 
Brasileira precisa, também, criar um dispositivo para que tais vivências se transformem em 
experiências, ou seja, em saberes socialmente compartilhados, desenvolvendo capacidades de 
pesquisa em saúde mental. 
De acordo com Silva; Rosa (2014) a Política de Saúde Mental brasileira, desde a 
década de 1990, toma rumos distintos, tendo em vista o novo modelo de atenção à pessoa com 
transtorno mental, advindos com os ideais da Reforma Psiquiátrica e do SUS, além das 
conquistas da Luta Antimanicomial, não é centrado nas internações e medicalização da 
enfermidade, devendo ser priorizado o sujeito em sua totalidade, o contexto social em que está 
inserido. 
De acordo com Bezerra (2007 apud FIGUEREIREDO e CORDEIRO 2016) a reforma 
psiquiátrica brasileira tem vários desafios, que se desdobram em frontes diversas: 
 
➢ Na Assistencial,que se propõem formas de cuidados diferentes daquelas realizadas nos 
hospitais psiquiátricos e nos ambulatórios tradicionais nos diversos lugares em que as 
pessoas em sofrimento psíquico circulam; 
 
➢ Na esfera da clínica, necessário que haja uma construção teórica e prática diárias que 
fundamentem ações reflexivas para lidar com o sofrimento humano considerada a 
grande diversidade cultural existente num país; 
 
➢ A efetivação de uma clínica ampliada, a incorporação de estratégias de ação que 
estejam atentas ao sofrimento, sem negligenciá-lo ou negá-lo, por categorias 
profissionais distintas; 
 
➢ Na dimensão política, através dos órgãos de coordenação de atenção à saúde mental e 
do estímulo desses às transformações nas práticas assistenciais, 
 
32 
 
➢ Na dimensão jurídica, constituindo os mecanismos que possibilitem a inclusão social e 
civil dos que apresentam sofrimento mental, contribuindo para sua autonomia. 
 
➢ Na esfera sociocultural, produzindo uma sensibilidade cultural e social na 
compreensão do sofrimento psíquico, que pode ser feita através das artes: do cinema, 
do teatro, da música, para além das produções acadêmicas e das práticas reflexivas de 
médicos, psicólogos, pesquisadores da saúde mental; 
 
De acordo com Amarante (1995), o tema do movimento antimanicomial brasileiro por 
uma Sociedade sem Manicômios, significa um rumo para o movimento discutir a questão da 
loucura para além do limite assistencial. Nesse sentido, concretiza a criação de uma utopia 
que pode demarcar um campo para a crítica das propostas assistenciais, colocando questões 
teóricas e políticas suscitada a partir da loucura. 
 
Dessa forma, 
 
“O louco, é portanto, uma vítima da alienação geral tida como norma, e é segregado 
por contestar a ordem pública e colocar em evidencia a repressão da pratica 
psiquiátrica, devendo por isso ser definido e reabilitado. É a mistificação dessa 
realidade social alienada que destrói a experiência individual e comportamental, 
inventando o louco, tido como, perigoso e passivo de perda de voz”. ( 
AMARANTE, 1995 p. 47). 
 
A tendência contra-desinstitucionalizante assume maior magnitude após o Projeto de 
Lei Paulo Delgado - 3.657/89, que propõe a substituição progressiva dos hospitais 
psiquiátricos por outras modalidades de assistência. Entretanto, interesses econômicos estão 
em jogo e opõem-se à desinstitucionalização (AMARANTE apud HIRDES, 2008). 
De acordo com Hirdes (2008), o projeto de desinstitucionalização busca a 
reconstrução do objeto (enquanto sujeito histórico) que o modelo tradicional reduziu e 
simplificou. Entretanto, para alcançar este objetivo, faz-se necessário que as novas 
instituições estejam à altura do objeto que está em constante reconstrução em seu modo de 
existência no mundo. 
Para Amorim; Dimenstein (2009) a realidade da saúde mental brasileira, existe uma 
série de impasses que dificultam a concretização do projeto de desinstitucionalização. Nesse 
sentido, o processo de desospitalização sem a real desmontagem do hospital psiquiátrico e o 
deslocamento completo da atenção em saúde mental para serviços substitutivos territoriais, 
33 
 
gera dificuldade de maneira que, os serviços que deveriam ser substitutivos ao hospital 
psiquiátrico não atendem à demanda em saúde mental da população, colaborando para a 
existência de discursos em que a reforma psiquiátrica tem promovido desassistência e 
justificando a manutenção da estrutura psiquiátrica tradicional. 
De acordo com Alverga e Dimenstein (2006) a reforma psiquiátrica, apesar dos 
diversos avanços evidenciados tanto em nível local quanto nacional, ainda apresenta muitos 
desafios e impasses na gestão de uma rede de atenção em saúde mental para o cuidar em 
liberdade. 
Conforme os autores há que se considerar sempre o pilar central para a sustentação 
deste processo: a proposta de projetos terapêuticos ancorados na idéia de reinserção social, na 
busca da afirmação da autonomia e cidadania do louco. 
Para Alverga e Dimenstein (2006) é limitada a luta pela reforma psiquiátrica calcada 
na perspectiva da reinserção social, na busca pela reafirmação dos ideais modernos de 
liberdade, igualdade e fraternidade, sem uma crítica radical aos fundamentos de um processo 
social que se desenvolveu ancorado na rejeição de tudo o que não se identificava com a 
racionalização da vida cotidiana. 
Conforme Amorim; Dimenstein (2009) a desinstitucionalização, como processo 
efetivo de desconstrução de saberes e práticas manicomiais, ainda se coloca como um projeto 
cujas bases precisam ser mais bem desenvolvidas. Nesse sentido, o movimento de reforma 
psiquiátrica brasileira busca a desconstrução da realidade manicomial para além da “queda 
dos muros manicomiais" e a construção de novas realidades, segundo novas bases 
epistemológicas, políticas e sociais, operando transformações de toda uma cultura que 
sustenta a violência, a discriminação e o aprisionamento da loucura. 
Segundo as autoras citadas, a lógica manicomial que atravessa as mais diferentes 
realidades no campo da saúde mental, diz respeito ao caráter asilar, segregante e tutelar dos 
processos de subjetivação na contemporaneidade, para além desse campo específico de 
interesse. O que parece estar presente nos diferentes espaços e tempos, configurando 
diferentes formas de controle da vida que superam as formas disciplinares de aprisionamento 
dos corpos. 
De acordo com Amorim; Dimenstein (2009), a saúde passa, então, a ser entendida não 
mais a partir de parâmetros de bem-estar definidos desde princípios biomédicos e regulados 
pelo Estado, mas como produção da vida possível e com sentido para os sujeitos em suas 
singularidades nos diferentes espaços de sociabilidade e solidariedade em que circulam. 
34 
 
Nesse sentido, para Venturini (2010) ao analisar as práticas psiquiátricas, descobre-se 
que as funções de cura estão aprisionadas naqueles mesmos paradigmas que atravessaram a 
historia da psiquiatria: de um lado o paradigma do tratamento e do outro o paradigma do 
cuidar. 
 
Portanto, 
“O paradigma do tratamento reduz a cura à “estabilização” do paciente, se preocupa 
em evitar as recaídas. A internação hospitalar é vista como a principal oportunidade 
para incidir sobre o evento mórbido. A confiança nos efeitos benéficos dos fármacos 
é alta: seu uso é prolongado e os efeitos colaterais são minimizados.Na 
organização do trabalho prevalece a estratégia da espera – a intervenção se 
dá somente depois de um pedido formal. São escassos os atendimentos em 
lugares externos – no domicílio do paciente, no lugar de trabalho, na escola”. 
 (VENTURINI, 2010 p. 141) 
 
 
De acordo com,Venturini (2010), o cuidar valoriza, ao contrário, as dinâmicas sociais, 
privilegiamo atendimento do paciente. Os modelos organizativos do espaço e o estilo da 
intervenção são caracterizados pelo exercício de ações ativas, visitas domiciliares, 
intervenções nos lugares de trabalho, de estudo, de vida. 
Conforme o autor citado acima o sofrimento e a doença provocam uma alteração tão 
profunda que não é suficiente intervir com um simples ato técnico-reparador: Portanto, existe 
a necessidade de encontrar um novo equilíbrio para a existência. Nesse sentido a cura pode 
ser um modo como os indivíduos se articulam cotidianamente, num diálogo entre pessoas, 
cujas palavras,não se referem num saber científico, e sim, em suas práticas. . 
Conforme Saraceno (apud HIRDES, 2008),a história natural das doenças encontra a 
história natural dos serviços. E pontua a importância de uma revisão e crítica dos serviços 
para as transformações efetivas na vida dos pacientes, uma vez que as variáveis como os 
serviços têm um peso muito significativamente considerado mais importante do que as 
variáveis clínicas. 
Nesse sentido, para Saraceno a importância de um serviço dinâmico e variável que 
contemple as necessidades de quem depende dos serviços em saúde mental, dispondo de um 
atendimento de alta qualidade e alta integração interna e externa. 
 
Portanto, 
➢ na organização as necessidades devem ser voltadas para o pacientes, e não serviços. 
 
35 
 
➢ A integração interna dos serviços não pode estar voltada para a burocratização, mas 
centrada às especificidades de cada pessoa. 
 
➢ A integração externa é referida como a permeabilidade do serviço a saberes e recursos 
existentes que circundam estes saberes e recursos. 
 
Para Hirdes (2008), O paradigma da saúde mental, o deslocamento das práticas para a 
comunidade,o campo psicossocial remetem ao entrecruzamento de saberes e práticas que não 
podem se dar pela soma de disciplinas conexas, mas através de uma redefinição da 
transdisciplinaridade. 
Nesse sentido, percebe-se a necessidade de ser feito um trabalho que de fato esteja 
engajado e comprometido com o desenvolvimento psicossocial do sujeito, não reduzindo o 
mesmo a uma doença, mas o colocando num lugar de protagonista de sua própria existência, 
com participação ativa e autônoma desenhando sua própria história. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS: 
 
Este trabalho se baseia em questões que norteiam o processo histórico da loucura 
desde seu surgimento até os dias de hoje. A principio e historicamente no Renascimento, 
qualquer pessoa que estivesse à margem da sociedade teria o nome de “louco”, como nesse 
momento não havia hospitais e nem prisões os mesmos viviam pelas ruas. Com as mudanças 
ocorridas ao longo da história ao louco alienado, e como é dito hoje, o portador de transtorno 
mental, através da sociedade, profissionais e familiares percorreram um longo caminho para 
dar dignidade àqueles que de algum modo eram diferentes, e precisavam de cuidados. Mesmo 
a psiquiatria sendo institucionalizada, a partir de um discurso médico com bases cientifica, 
caberia nesse momento, à ciência,à razão e ao sujeito louco restaria desrazão. 
Dessa forma, na medida em que as discussões teóricas se ampliam, novas 
possibilidades de existência no mundo também vão aparecendo, a medicina a partir das 
patologias vai se configurando de modo que as doenças mentais tinham seu lugar, ou seja, um 
lugar de exclusão que o sujeito doente torna-se marginalizado por uma lógica biopolítica em 
queo preconceito racial era legitimado. 
Contudo, muitos foram os avanços, e lutas foram levantadas, como a Reforma 
Psiquiátrica, um marco importante na psiquiatria, pois nada poderia ter sido feito se políticas 
sociais, movimentos como a Luta antimanicomial, em que o próprio louco manifesta sua 
existência e exige sua cidadania,além de denunciar seu sofrimento, não tanto pela doença, 
mas por viver confinados, e mantidos em isolamentos desumanos sem as devidas garantias de 
seus direitos. 
Nesse sentido, cabe um novo olhar ao cidadão que em sua forma de expressão não 
esteja dentro dos padrões estabelecidos pela norma, ainda sim, todos devem ter os mesmos 
direitos. Principalmente no que se refere à liberdade do sujeito portador de transtorno mental, 
em um momento histórico de nossa sociedade, em que o discurso de ódio, a discriminação e a 
manipulação dos direitos vêm tomando força colocando em risco direitos anteriormente 
adquiridos. 
A Organização das Nações Unidas afirma, em seu art. 1º, conforme Ventura e Brito 
(2012) que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. 
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de 
fraternidade”. Portanto, a sociedade é dotada de multiplicidades, diversidades e ainda sim 
todos iguais.Mesmo com todos os direitos reconhecidos a partir de lutas e reivindicações nos 
movimentos sociais ainda se tem um longo caminho a ser percorrido, para que muitos direitos 
37 
 
adquiridos possam funcionar de maneira eficaz, que ainda são negados para os usuários e 
familiares. 
Muitos são ainda os desafios em saúde mental, principalmente no que diz respeito aos 
direitos adquiridos na Reforma Psiquiátrica no Brasil. Tanto a sociedade, profissionais e 
acadêmicos da área da saúde, têm uma luta pela frente na manutenção desses direitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
38 
 
5 REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS: 
 
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AMARANTE, P. Loucos pela vida.A trajetória da reforma Psiquiátrica no Brasil. Rio de 
Janeiro 1995. 
 
 
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Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo. Jan.-Jun. 2011, Vol. 12, No. 1, pp. 
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BATISTA, S. A. L, Anuário do Laboratório de Subjetividade e Política. Departamento de 
Psicologia UFF, ano 1 – vol.I – dez. de 1991. 
 
 
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39 
 
CAPONI, S. Loucos e degenerados: uma genealogia da psiquiatria ampliada. Rio de Janeiro: 
Editora FIOCRUZ, 2012. 
 
 
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Contemporâneos da Subjetividade / v.6 / n.2Itaporanga – PB. 2016.

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