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resumo Hans Kelsen

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Felipe Rassini
RA: 23980
Direito Matutino
RESENHA HANS KELSEN
IV- Estática Jurídica
Atos de coerção são atos a executar mesmo contra a vontade de quem por ele é atingido e, em casos de resistência, com o emprego da força física. As sanções aparecem sob duas formas diferentes: como pena e como execução (execução forçada). Ambas constituem um mal, ou como queiram alguns (sob a forma negativa), a privação da vida, no caso das penas corporais outrora usadas (como a privação da vista, a amputação de uma mão ou da língua), a privação do uso de um membro do corpo, ou o castigo corretivo: a provocação de dores; no caso da pena de prisão, a privação da liberdade; no caso das penas patrimoniais, a privação de valores patrimoniais, especialmente da propriedade. Ambas as espécies de sanções- pena e execução (civil)- são aplicadas tanto pela autoridade judicial como pela autoridade administrativa, em processo para o efeito previsto.
De outro lado, as sanções do Direito Internacional geral não são, na verdade, qualificadas quer como penas, quer como execução civil, mas representam, tal como estas, uma privação compulsória de bens, ou seja, uma lesão estatuída pela ordem jurídica, de interesse de um Estado por parte de um outro Estado. O ilícito (que constitui a violação ao preceito estabelecido na norma positivada) não é negação, mas pressuposto do Direito. E tanto a concordância dos atos conforme as normas como também a violação destas, constitui pressuposto do Direito e não apenas a violação da norma, como se costuma pensar.
Não é qualquer qualidade imanente e também não é qualquer relação com uma norma metajurídica, natural ou divina, isto é, qualquer ligação com um mundo transcedente ao Direito positivo, que faz com que uma determinada conduta humana tenha de valer como ilícito ou delito – mas, única e exclusivamente o fato de ela ser tornada, pela ordem jurídica positiva, pressuposto de um ato de coerção, isto é, de uma sanção. A norma, ao contrário do individuo, não pode ser “lesada” pelo ato de coerção dirigido contra ele.
A conduta de um individuo prescrita por uma ordem social é aquela a que este individuo está obrigado. Deve haver uma distinção entre dever jurídico e norma jurídica, pois uma norma jurídica é quem institui um dever jurídico. O dever pressupõe obrigação, e tal obrigação é decorrência do estabelecimento de uma regra, feita através de uma norma. A sanção, por conseguinte, poderia ser aplicada tanto em casos de violação de tais normas(hipótese mais comum) como em casos de observância de determinadas normas (sanções-prêmio), em situações em que a própria norma tenha estabelecido tais recompensas, como estímulo à sua efetividade, como ocorre com mais freqüência na seara tributária. Existe uma diferença entre dever jurídico e dever-ser, sendo o primeiro termo usado exclusivamente para definir uma ordem jurídica positiva, que não possui qualquer espécie de implicação moral, enquanto que o segundo termo (dever-ser) é usado sempre de forma associada a idéia de um valor moral, mesmo que tal valor seja relativo, já que não se deve admitir a validade de uma moral absoluta. Se se diz que quem está juridicamente obrigado a uma determinada conduta deve, por força do Direito, conduzir-e ao modo prescrito, o que com isso se exprime é o ser-devido – ou seja, o ser positivamente permitido, o ser autorizado e o ser prescrito – do ato coercitivo que funciona como sanção e é estatuído como conseqüência da conduta oposta.
O individuo contra quem é dirigida a conseqüência do ilícito, é juridicamente responsável por ele. Indivíduo obrigado e individuo responsável não são sinônimos. È se obrigado a uma conduta conforme ao Direito e responde-se por uma conduta antijurídica: a responsabilidade individual é aquela direcionada, de forma geral, a todo e qualquer indivíduo, sendo que sua ocorrência, no caso concreto, realiza a individualização da conduta, e respectivamente, da pena a ser aplicada. Já a responsabilidade coletiva constitui elemento característico da ordem jurídica primitiva e está em estreita conexão com o pensar e o sentir identificadores dos primitivos, pois á falta de uma consciência do eu, suficientemente acusada, o primitivo sente-se de tal modo uno com os membros do seu grupo.
Quando a ordem jurídica faz pressuposto de uma conseqüência do ilícito, uma determinada ação ou omissão através da qual é produzido ou não é impedido um evento indesejável (por exemplo, a morte de um homem), pode distinguir-se da hipótese em que o mesmo evento ou sucesso se verificou sem qualquer previsão ou intenção. No primeiro caso, fala-se em responsabilidade pela culpa, no segundo caso, de responsabilidade pelo resultado. A indenização deve ser entendida como uma responsabilidade, ou melhor, como uma obrigação de se ressarcir os prejuízos materiais ou morais causados a um individuo, por outro individuo. Tal prestação, a ser exigida de forma coercitiva pelo aparelho estatal, constitui uma forma de sanção. Quando esta sanção não é dirigida contra o delinqüente, mas contra um outro individuo que está, com o delinqüente numa relação pela ordem jurídica determinada, a responsabilidade tem sempre o caráter de uma responsabilidade pelo resultado. Desta forma, a responsabilidade tem o caráter de responsabilidade pela culpa, em relação ao delinqüente e o caráter de responsabilidade pelo resultado, em relação ao objeto da responsabilidade.
Usualmente, contrapõe-se ao dever jurídico o direito como direito subjetivo, colocando este em primeiro lugar. O Direito avulta tanto no primeiro plano, que o dever quase desaparece por detrás dele. Para se distinguir, tem o direito, como “direito subjetivo”, de ser distinguido da ordem jurídica, como “direito objetivo”. A situação em questão é esgotadamente descrita como o dever jurídico do indivíduo (ou do indivíduo) de se conduzir por determinada maneira em face de outro indivíduo. Neste sentido, a função de uma ordem jurídica positiva (do Estado), que põe termo ao estado de natureza, é, de acordo com esta concepção, garantir os direitos naturais através da estatuição dos correspondentes deveres. Se se afasta a hipótese dos direitos naturais e se reconhecem apenas os direitos estatuídos por uma ordem jurídica positiva, então verifica-se que um direito subjetivo, no sentido aqui considerado, pressupõe um correspondente dever jurídico, é mesmo este dever jurídico.
Em relação à distinção entre direitos reais e direitos pessoais, sob a antiga jurisprudência romana costuma distinguir-se entre o direito sobre uma coisa (jus in rem) e o direito em face de uma pessoa (jus in personam). Tal distinção induz em erro, pois também o direito sobre uma coisa é um direito em face de pessoas.
O direito real subjetivo por excelência é a propriedade. É definida pela jurisprudência tradicional como domínio exclusivo de uma pessoa sobre uma coisa, e por isso mesmo, distinguida dos direitos de crédito que apenas fundamentam relações jurídicas pessoais. As duas espécies de situações caracterizadas pela jurisprudência tradicional como relações jurídicas pessoais relações jurídicas reais serão classificadas e distinguidas como direitos reflexos absolutos e direitos reflexos relativos. O direito reflexo de propriedade não é propriamente um direito absoluto; é o reflexo de uma pluralidade de deveres de um número indeterminado de indivíduos em face de um e o mesmo indivíduo com referência a uma e a mesma coisa, diferentemente de um direito de crédito que apenas é reflexo de um dever de um determinado indivíduo em face de um outro indivíduo também determinado. O direito reflexo desempenha na teoria tradicional um papel decisivo, se bem que este direito de um nada mais seja do que o dever de outro ou de todos os outros de se conduzirem, em face daquele, de determinada maneira.
Ao direito subjetivo de alguém, se refere a definição, encontrada na jurisprudência tradicional, segundo a qual o direito subjetivo é determinado como interesse juridicamente protegido. No entanto, este interesse da comunidade,ou melhor, a proteção deste interesse através do dever funcional dos órgãos aplicadores do direito, não é em regra designado como direito subjetivo reflexo. O direito subjetivo como permissão positiva, a situação designada como titularidade de um direito ou direito subjetivo também pode consistir no fato de a ordem jurídica condicionar uma determinada atividade, por exemplo, o exercício de uma determinada indústria ou profissão, a uma autorização, designada como concessão ou licença, que é concedida, quer sob os pressupostos determinados pela ordem jurídica, quer segundo a livre apreciação do órgão competente. O exercício da referida atividade se a autorização devida, emanada da autoridade competente, é proibido, quer dizer, está sujeito a uma sanção.
Com relação aos direitos políticos, os mesmos costumam ser definidos como a capacidade ou poder de influir na formação da vontade do Estado. Quando assim se fala, pensa-se, no entanto, na forma geral de aparição das normas jurídicas, que formam esta ordem nas leis. A participação dos súditos das normas na atividade legislativa é a característica principal da forma democrática de Estado. Entre os direitos políticos são também contados os chamados direitos fundamentais, e os direitos de liberdade (isto é, o da inviolabilidade) da propriedade, a liberdade da pessoa, a liberdade de opinião, entre outros tipos de liberdades.
O poder jurídico descrito anteriormente como direito subjetivo – direito privado ou direito político –é apenas um caso particular da função da ordem jurídica que aqui designamos por atribuição de um poder ou competência ou autorização. Nesta direção, a função da ordem jurídica designada como atribuição de um poder ou competência refere-se somente à conduta humana. Só a conduta de um indivíduo é que é pela ordem jurídica autorizada. Ao individuo que pode realizar tal conduta é pela ordem jurídica atribuída a capacidade de se conduzir desta maneira.
Vale salientar ainda que o exercício do poder jurídico, como função jurídica é da mesma espécie que a função de um órgão legislativo, dotado pela ordem jurídica do poder de criar normas gerais, e que as funções dos órgãos judiciais e administrativos, dotados pela ordem jurídica do poder de criar normas individuais por aplicação daquelas normas gerais. A tais funções específicas, essenciais ao funcionamento do Estado e à garantia do Estado de Direito, dá-se o nome d competência.
Em relação à organicidade, as atribuições de competências são dos órgãos do Estado, e os mesmos são essenciais para a realização dos objetivos daquele Estado, dentre eles o bem comum e a justiça social, o que é relativo, segundo os padrões culturais de uma determinada sociedade. Desta forma, cada órgão possui uma parcela de poder ou de competência, que lhe é próprio.
Doutrina tradicional designa como capacidade (de gozo) de direitos a capacidade de um indivíduo para ser titular de direitos e deveres jurídicos ou para ser sujeito de direitos e deveres. No Direito moderno não há pessoas incapazes de direito (como os escravos). No entanto, nem todas as pessoas possuem capacidade de exercício. Desta forma, os menores e doentes mentais não possuem capacidade de exercício. Por isso, tais pessoas têm, segundo o Direito moderno, representantes legais aos quais compete exercitar, por elas, os seus direitos, cumprir os seus deveres e criar, por elas deveres e direitos através de negócios jurídicos. Convém destacar que tais pessoas não possuem, na verdade, capacidade de exercício, mas tem capacidade de direitos. Em estreita conexão com os conceitos de dever jurídico e de direito subjetivo está, segundo a concepção tradicional, o conceito d relação jurídica, sendo esta definida como relação entre sujeitos, quer dizer, entre o sujeito de um dever jurídico e o sujeito do correspondente direito ou como relação entre um dever jurídico e o correspondente direito. Dizer que dever e direito se correspondem significa que o direito é um reflexo do dever, que existe uma relação entre dois indivíduos dos quais, um é obrigado a uma determinada conduta em face do outro. Uma relação jurídica entre dois indivíduos, melhor, entre a conduta de dois indivíduos determinada por normas jurídicas, existe no caso de um direito subjetivo no sentido específico da palavra, quer dizer: quando a ordem jurídica confere ao individuo, em face do qual outro está obrigado a conduzir-se de determinada maneira, o poder jurídico de, através de uma ação, iniciar um processo que conduzirá à norma individual, a estabelecer pelo Tribunal, pela qual é ordenada a sanção prevista pela norma geral e a dirigir contra o indivíduo que se conduz contrariamente ao dever. Neste caso existe uma relação jurídica entre o indivíduo dotado deste poder jurídico e o indivíduo obrigado.
Segundo a teoria tradicional, sujeito jurídico (pessoa) é aquela sujeita a um dever jurídico ou a uma pretensão ou titularidade jurídica. Aqui, deve-se ter em conta que a afirmação de que um indivíduo é sujeito de um dever jurídico, ou tem um dever jurídico, nada mais significa senão que uma determinada conduta deste indivíduo é conteúdo de um dever pela ordem jurídica estatuído. Segundo a teoria tradicional, o conceito de pessoa física (homem enquanto sujeito de direitos e deveres – teoria tradicional; e como portador de direitos e deveres jurídicos, podendo funcionar como portador de tais direitos e deveres não só do individuo, mas também outras entidades), de pessoa jurídica (corporação), a pessoa jurídica como sujeito agente (capaz de exercer direitos e suportar obrigações), a pessoa jurídica como sujeita de deveres e direitos (quando figuramos a corporação como pessoa atuante (agente), mas também quando a representamos como sujeito de deveres e direitos, entendendo por direito, na esteira do uso tradicional da linguagem, não apenas um direito subjetivo no sentido técnico da palavra, no sentido de poder jurídico, portanto, mas também uma permissão positiva.
Quando se diz que a ordem jurídica confere a um indivíduo personalidade jurídica torna a conduta de um individuo conteúdo de deveres e direitos, é a ciência jurídica que exprime a unidade destes deveres e direitos no conceito de pessoa física, conceito do qual podemos nos servir, como conceito auxiliar, na descrição do direito, mas do qual não temos necessariamente de nos servir, pois a situação criada pela ordem jurídica também pode ser descrita sem recorrer a ele.
Deve-se superar o dualismo de Direito no sentido objetivo e Direito no sentido subjetivo, afastando este dualismo ao analisar o conceito de pessoa como a personificação de um complexo de normas jurídicas, ao reduzir o dever e o direito subjetivo (em sentido técnico) à norma jurídica que liga uma sanção a determinada conduta de um indivíduo e ao tornar a execução de sanção dependente de uma ação judicial a tal fim dirigida; quer dizer: reconduzindo o chamado direito em sentido subjetivo ao direito objetivo.
O que é chamado de estática jurídica constitui em verdade um sistema de normas postas em um determinado ordenamento jurídico, as quais são estabelecidas em um sistema de supra-infra-ordenação, e possuem como principal objetivo a realização de um patamar mínimo de validade delimitação jurídica, indispensável para a garantia de segurança nas relações entre Estado particulares e entre particulares. A oposição a esta idéia é suscitada como sendo a dinâmica jurídica, ou seja, o atributo natural de mutação do direito, que deve perseguir as mudanças que ocorrem no âmbito de cada sociedade ao longe de determinado período histórico.
V – Dinâmica Juridica
Dizer que uma norma que se refere à conduta de um indivíduo “vale” (é “vigente”), significa que ela é vinculativa, que o individuo se deve conduzir do modo prescrito pela norma. O fundamento de validade de uma norma só pode ser a validade de uma outra norma pois só podemos fundamentar algo do dever-ser com algo do dever-ser e algo do ser com algo do mundo do ser. Sendo esta segunda norma a norma superior em detrimento da primeira,que será a inferior. O fundamento de validade poderia ser que ela é posta por uma autoridade, humana ou supra-humana, como nos Dez Mandamentos. A norma a qual devemos obedecer as ordens de Deus seria a norma que daria fundamentação para as ordens Dele. No silogismo, a premissa maior é a proposição de dever-ser que enuncia a proposição que verifica um fato da ordem do ser, fazendo um elo entre as anteriores. Apenas uma autoridade competente pode estabelecer normas válidas, e uma tal competência somente se pode apoiar sobre uma norma que confira poder para fixar normas. A esta norma se encontram sujeitos tanto a autoridade dotada de poder legislativo como os indivíduos que devem obediência às normas por ela fixadas. A norma fundamental é a norma última superior. Ela é a última e a mais elevada, sendo então pressuposta, e não posta no ordenamento. O fundamento desta norma não é posto em questão, já que ela só serve para fundamentar todo o resto. Ela também é a fonte comum, em que todas as outras normas do ordenamento direta ou indiretamente se dirigem. É ela que constitui a unidade de uma pluralidade de normas enquanto representa o fundamento de validade de todas as normas pertencentes a essa ordem normativa.
As normas de um ordenamento estático, quer dizer, a conduta dos indivíduos por elas determinada, é considerada como devida (devendo ser) por força do seu conteúdo, porque a validade pode ser conduzida a uma norma a cujo conteúdo pode ser subsumido o conteúdo das normas que formam o ordenamento, como o particular ao geral. Esta norma, pressuposta como norma fundamental, fornece não só o fundamento de validade como o conteúdo de validade das normas delas deduzidas através de uma operação lógica. Só que a norma fundamental só pode ser considerada fundamental quando seu conteúdo seja havido como imediatamente evidente, significando que ela é dada na razão prática. Este conceito se torna insustentável, pois a função da razão é conhecer e não querer e o estabelecimento de normas é um ato de vontade. Por isso, não pode haver norma imediatamente evidente.
O sistema dinâmico é caracterizado pelo fato de a norma fundamental pressuposta não ter por conteúdo senão a instituição de um fato produtor de normas, a atribuição do poder a uma autoridade legisladora ou uma regra que determina como devem ser criadas as normas gerais e individuais do ordenamento fundado sobre esta norma. A norma fundamental limita-se a delegar numa autoridade legisladora, quer dizer, a fixar uma regra de conformidade com a qual devem ser criadas as normas deste sistema. A norma que constitui o ponto de partida da questão não vale por forçado seu conteúdo, ela não pode ser deduzida da norma pressuposta através de uma operação lógica. Uma tal norma pertence a um ordenamento jurídico que se apóia numa tal norma fundamental porque é criada pela forma determinada através dessa norma fundamental e não porque tem um determinado conteúdo. Em algumas tribos, o costume é o fato criador de normas.
O sistema de normas que se apresenta como uma ordem jurídica tem essencialmente um caráter dinâmico. Uma norma jurídica não vale porque tem um determinado conteúdo, quer dizer, porque o seu conteúdo pode ser deduzido pela vida de um raciocínio lógico de uma norma fundamental pressuposta, mas porque é criada por uma forma determinada – em última análise, por uma forma fixada por uma norma fundamental pressuposta. Por isso, todo e qualquer conteúdo pode ser Direito. As normas de uma ordem jurídica têm de ser produzidas através de um ato especial de criação. São normas postas, quer dizer, positivas, elementos de uma ordem positiva. E o modo como estas são produzidas é regulado pela norma fundamental. Neste sentido, a norma fundamental é a instauração do fato fundamental da criação jurídica e pode, nestes termos, ser designada como constituição no sentido lógico-jurídico, para a distinguir da Constituição em sentido jurídico-positivo. Ela é o ponto de partida de um processo: do processo da criação do Direito positivo. Ela própria não é uma norma posta, posta pelo costume ou pelo ato de um órgão jurídico, não é uma norma positiva, mas uma norma pressuposta, na medida em que a instância constituinte é considerada como a mais elevada autoridade e por isso não pode ser havida como recebendo o poder constituinte através de uma outra norma, posta por uma autoridade superior. O problema dessa norma se dá quando se leva em conta uma ordem jurídica internacional. Na questão do fundamento da validade de uma Constituição, esta é validada por ela anteriormente posta.
A norma fundamental se refere imediatamente a uma Constituição determinada, efetivamente estabelecida, produzida através do costume ou da elaboração de um estatuto, eficaz em termos globais, fundamentando esta Constituição e ordem coercitiva de acordo com ela criada. Está fora de questão se o conteúdo da Constituição é justo ou injusto. Na pressuposição da norma fundamental não é afirmado qualquer valor transcedente ao Direito positivo. Na medida em que só através da pressuposição da norma fundamental se torna possível interpretar o sentido subjetivo do fato constituinte e dos fatos postos de acordo com a Constituição como seu sentido objetivo, quer dizer, como normas objetivamente válidas, pode a norma fundamental, na sua descrição pela ciência jurídica ser designada como a condição lógico-transcendental desta interpretação. A função desta norma é fundamentar a validade objetiva de uma ordem jurídica positiva, isto é, das normas, postas através de atos de vontade humanos, de uma ordem coercitiva globalmente eficaz, ou seja, interpretar os sentidos subjetivos destes atos como seu sentido objetivo. A fundamentação da validade de uma norma positiva que prescreve uma determinada conduta realiza-se através de um processo silogístico.
Como a norma fundamental é o fundamento de validade de todas as normas pertencentes a uma mesma ordem jurídica, ela constitui a unidade na pluralidade destas normas. Poderá haver normas que se contradizem colocadas por diferentes instituições. Este conflito não é uma contradição lógica, pois esse tipo de contradição só pode ocorrer entre proposições falsas e verdadeiras e as normas só podem ser classificadas como válidas e inválidas. Mas não é errado que se diga que há uma contradição entre elas e que somente uma das duas pode ser tida como objetivamente válida. Esse problema será resolvido pela via da interpretação. Se as normas estiverem em níveis hierárquicos diferentes a superior vence e a inferior é invalidada. Se elas forem do mesmo nível e postas pelo mesmo órgão a norma estabelecida em último lugar sobreleva à norma fixada em primeiro lugar, ou seja, ganha a mais nova. Se forem do mesmo nível mas postas por órgãos diferentes as duas disposições sobrevivem e se deixa a conclusão para o tribunal no momento da aplicação da lei ou quando as duas normas só parcialmente se contradizem, que uma norma limita a validade da outra. Com efeito, a norma fundamental não empresta a todo e qualquer ato o sentido objetivo de uma norma válida, mas apenas ao ato que tem um sentido, a saber, o sentido subjetivo de que os indivíduos se devem conduzir de determinada maneira. O ato tem de – neste sentido normativo – ser um ato com sentido. Confusões também podem ocorrer entre duas decisões judiciais. O conflito é resolvido pelo fato de o órgão executivo ter a faculdade de escolher entre observar uma ou outra das decisões, ou seja, efetivar ou não a pena ou a execução civil, observar uma ou outra das normas individuais. Com efeito, a norma fundamental determina: a coação deve ser exercida sob os pressupostos e pela forma determinados pela Constituição que seja, globalmente considerada, eficaz, pelas normas gerais, postas em conformidade com a Constituição, que sejam, de modo global e individual eficazes. A eficácia é estabelecida na norma fundamental como pressuposto da validade. Entre uma norma que determina a criação de outra e a norma criada não pode haver contradição, pois a normacriada tem o seu fundamento de validade na norma superior.
O domínio de validade de uma norma pode ser limitado, especialmente. As normas de uma ordem jurídica valem enquanto a sua validade não termina, de acordo com os preceitos dessa ordem jurídica. Na medida em que ela regula sua própria criação, ela regula o inicio e o fim da validade de suas normas. O princípio de que a norma de uma ordem jurídica é válida até sua validade terminar por um modo determinado através desta mesma ordem jurídica, ou até ser substituída pela validade de uma outra norma desta ordem jurídica, é o principio da legitimidade. Este principio, no entanto, só é aplicável a uma ordem jurídica estadual com uma limitação muito importante: no caso de revolução, não encontra aplicação alguma. Uma revolução no sentido amplo da palavra, compreendendo também o golpe de Estado, é toda modificação ilegítima da Constituição, isto é, toda modificação da Constituição, ou a sua substituição por uma outra, não operadas segundo as determinações da mesma Constituição. Quando há a modificação da Constituição vigente ou a substituição da mesma, uma grande parte das leis promulgadas sob a antiga Constituição permanece, como costuma dizer-se, em vigor. O que existe, não é uma criação de Direito inteiramente nova, mas recepção de normas de uma ordem jurídica por uma outra. Mas também essa recepção é produção de Direito. O conteúdo destas normas permanece na verdade o mesmo, mas o seu fundamento de validade mudou, modificando-se assim a norma fundamental. Os atos que surgem com o sentido subjetivo de criar ou aplicar normas jurídicas já não mais são pensados sob a pressuposição da antiga norma fundamental, mas sob a pressuposição da nova norma fundamental. Se a antiga Constituição tivesse permanecido eficaz, não haveria qualquer motivo para pressupor uma nova norma fundamental no lugar da antiga. O princípio que aqui surge em aplicação é o chamado princípio da efetividade. O princípio da legitimidade é limitado pelo princípio da efetividade.
Nessa limitação entra-se a conexão entre validade e eficácia. É apenas a relação entre o dever-se da norma e o ser da realidade natural. Existem duas teses:
Não existe conexão de espécie alguma entre eficácia e validade (tese idealista)
A validade do Direito se identifica ma sua eficácia (tese realista)
O Direito Internacional só vale em face de um Estado quando é reconhecido por este, isto é, pelo seu governo, com base na Constituição do Estado. Com efeito, o Direito Internacional, nesse caso, apenas é uma parte integrante da ordem jurídica estadual representada como soberana e cujo fundamento de vigência é a norma fundamental referida à Constituição eficaz. Pode-se considerar também o Direito Internacional não como parte integrante da ordem jurídica, e sim como uma ordem supra ordenada a todas as ordens jurídicas estaduais. O Direito Internacional então, passa a ter uma norma que representa o fundamento de vigência das ordens jurídicas estaduais. Nesse caso a norma que fundamenta a ordem jurídica é posta, e não proposta. Pois o Direito Internacional tem uma norma que reconhece aos indivíduos o poder de, com base na Constituição eficaz, criar e aplicar, como governo legítimo, uma ordem normativa de coerção. O problema da norma é deslocada, mas não é o seu fundamento de vigência ultimo. Mas o Direito Internacional também tem sua norma fundamental, que é pressuposta. Se o fundamento de vigência das ordens jurídicas estaduais se encontra numa norma da ordem jurídica internacional, esta é concebida como uma ordem jurídica.

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