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Aula 01 – 04/04/2016 O que é criminologia? A criminologia é o estudo das teorias do crime, e se difere da criminalística, pois essa faz parte da perícia, ou seja, das provas que ajudam o juiz a dar o veredito sobre determinado caso. Ex: esfaqueamento na Lagoa – fecharam toda a área para analisar. Ex2: Caso Isabela Nardoni – fizeram todo um estudo do sangue encontrado na tela, no carro. Dessa forma, podemos entender que a criminalística faz um estudo minucioso do crime. Um teor criminológico também pode ser considerado, pois é um estudo da atuação do agente, como por exemplo o estudo feito acerca do caso Eliza Samudio, onde se fez uma análise sobre o goleiro Bruno no dia-a-dia, como era seu comportamento, assim como um tcc sobre as profissionais do sexo na Vila Mimosa pode ser considerado criminologia, dessa forma, entende-se que a criminologia pode tratar de qualquer coisa que remeta a um desvio, ou seja, uma conduta moralmente reprovável. Criminologia não é só o estudo das variáveis que circundam o crime, pode também criar uma relação com o desvio/rechaço moral, que são condutas que a sociedade se impõe de maneira contraria. A criminologia não se ocupa exclusivamente do crime, e ao contrário do que muitos doutrinadores dizem, não é uma ciência auxiliar do Direito Penal. MODELO INTEGRADO DE CIÊNCIAS CRIMINAIS Direito penal: ciência normativa, dogmática no plano do dever ser. Tem como principal função a criação de crimes e a aplicação de penas, de forma respectiva. Processo Penal: Métodos para garantir o Direito Penal. Considerado como ‘direito penal em movimento’ Política Criminal: Sistematização de estratégias para a contenção da criminalidade/delinquência. Ex: Câmeras monitorando as ruas para diminuir os crimes. Divide-se em: Executiva (câmeras de segurança nas ruas, exemplo.), Legislativa (criar leis para conter a criminalidade, exemplo: Lei Maria da Penha) e Judiciária (toque de recolher, exemplo). Criminologia: Ainda na atualidade muitos pensadores e doutrinadores dizem que é uma ciência auxiliar do Direito Penal. É importante entender que, mesmo sendo autônomas, as ciências criminais podem se relacionar. Aula 02 – 11/04/2016 Modelo Integrado de Ciências Criminais é uma criação de doutrinadores alemães, que acreditam que a criminologia não se resume apenas a uma ciência auxiliar. Considerando que o Direito Penal é uma ciência normativa, entende-se que a Criminologia é uma ciência empírica. Por isso, é possível, assim como na Antropologia realizar pesquisas empíricas. Direito Penal Processo Penal Política Criminal Criminologia A criminologia também estuda os desvios morais e sua confluência com o crime. Um exemplo disso é manter uma casa de prostituição (crime) x prostituir-se (desvio moral). Para alguns atores, a criminologia surge em meados do século XIX, com a Escola Positivista. A criminologia critica aponta os dedos para as ciências criminais e para seus defeitos. É considerada uma disciplina plural, que surge em meados do século XIX como início das ciências criminais. Acredita que o problema da criminalidade está em quem pratica o crime, e estuda as características físicas/psicológicas e sociais de quem apresenta conduta delituosa. OBJETO DE ESTUDO DA CRIMINOLOGIA Ao longo do tempo, o objeto da criminologia, ou seja, o principal foco de estudo, se modificou de forma notável. No século XIX, o objeto de estudo da criminologia era o HOMEM CRIMINOSO, e pretendia-se traçar características que diferenciassem os criminosos dos não criminosos. Já na década de 60, passa- se a estudar a reação social em relação a determinados desvios. De acordo com a Escola do Becker, reações sociais são condutas sociais não aprovadas que tendem a ser comparadas com a desaprovação do crime. Na década de 80, estuda-se a vitimologia, ou seja, a pretensão de reverter à reação social, no sentido de que não somente o criminoso que importa, mas também há necessidade de fazer um estudo sobre a vítima. Contudo, na década de 90 o estudo passa a ser o fato criminoso. Um conceito completo de criminologia, descrito por Salo de Carvalho, seria: A criminologia com sua pluralidade de discursos e métodos tornou ilimitadas as possibilidades de exploração (objeto de estudo), podendo voltar sua atenção ao criminoso, a vítima, a criminalidade, a criminalização, a atuação de agências de punitividade, aos desvios não criminalizados e inclusive ao delito e ao próprio discurso dogmático. SISTEMA INQÚISITORIO Momento nefasto na maneiro de punição na maior parte da Europa Ocidental. Quem escolhia o chefe do executivo era quem ocupava o maior cargo da igreja. No sistema inquisitório, o acusador e o julgador eram a mesma pessoa, o que tornava improvável uma sentença de absolvição. Nesse período, a conduta com maior recorrência era a conduta do herege, ou seja, o distanciamento dos dogmas da Igreja. Esses estariam contradizendo o conhecimento que prevalecia na época. Processo Penal criado para que a manutenção da ordem e da paz siga nas mãos da Igreja Católica. Nesse sistema havia um sistema de provas tarifadas, onde o topo pertencia à confissão do crime, que em outras palavras significa dizer que a confissão era definida como a prova plena/mais importante para o processo. O réu era objeto de intervenção para que houvesse a confissão, o que em geral se dava através de tortura. Se confessasse seria morto também, mas a forma como essa morte se daria seria diferenciada, com menor presença de tortura, além de ter sua alma salva. Não era admitida a presença de advogados, porque o réu não era considerado sujeito de direitos. Com o progresso da ciência, todo esse sistema passa a ser questionado, e há uma migração do modelo teocêntrico (Deus no centro das ideias), para o modelo antropocêntrico, que coloca o homem como centro de todas as decisões/ideias. Tudo isso contribui para que o poder da Igreja Católica fosse diminuído ao longo dos séculos. Atualmente, o Papa Francisco tem se manifestado de forma contraria as verdades da Igreja Católica, como por exemplo em relação ao casamento homossexual, sexo com finalidade única de reprodução, etc. Esse sistema deixa de existir a partir do processo de secularização, onde há o afastamento de moral e direito, e de Laicização do Estado, ou seja, a separação entre Estado e Igreja, tornando cada uma das entidades independentes. O processo de Secularização é a representação do direito e da moral. Dizer que o direito está a serviço da moral, é diferente de dizer que a ele se aplica a moral, ou seja, que sofre interferência de uma moral. Só podemos criminalizar uma conduta quando ela interfere no direito de terceiros, segundo o princípio da intervenção mínima. ESCOLA CLÁSSICA / DIREITO PENAL LIBERAL O principal autor dessa escola foi Cesare Beccaria, com sua obra “Dos Delitos e das Penas”- 1764, onde acredita na proteção dos bens jurídicos pelo Estado em troca de uma parcela da liberdade individual, assim como no Contrato Social. A escola clássica, prima pela separação entre direito e moral, ou seja, prima pelo processo de secularização. Fundamenta a punição no livre arbítrio e considera o crime como um ente jurídico, ou seja, o crime é aquilo que está descrito no tipo penal, se retirado, a conduta deixará de ser criminosa. Até então a ideia de crime e pecado se confundia, e por isso a heresia era o maior crime que se poderia cometer. Vale salientar, que para a Escola Clássica, o Direito Penal em estudo é o Direito Penal do Fato, assim como na atualidade, e dessa forma, pune-se pelo fato praticado, não por quem o praticou.Alguns acreditam que essa é a primeira escola criminológica, mas esse é o pensamento minoritário. A maioria dos autores dizem que a primeira escola criminológica é a Criminologia Positivista. Importante: a diferença entre criminosos e não criminosos é que os criminosos fizeram uma má escolha/escolha errada. Acreditam que sempre que houver a possibilidade de livre arbítrio sobre determinada conduta e o agente optar pela conduta delituosa, há uma má escolha. Aula 03 – 18/04/2016. CRIMINOLOGIA POSITIVISTA/ PARADIGMA ETIOLÓGICO. Os principais autores da Criminologia Positivista foram Ferr, Garrofalo e Lombroso, com a obra principal “O homem delinquente” – 1876. Fundamentam a pena na periculosidade, vez que para eles, a periculosidade é inerente a criminalidade, ou seja, é como se a periculosidade conduzisse os atos do agente e o levasse a cometer delitos. Acreditam que o crime é um ente natural, o que os torna totalmente opostos a Escola Clássica. Acreditam que o criminoso possui uma pré-disposição fisiológica, e dessa forma, se filho de um criminoso as chances de seguir os passos do pai são altíssimas, variando de acordo com o nível de periculosidade do genitor, pois são pré- dispostos fisiologicamente. Portanto, os que atendiam a essas pré-disposições seriam considerados criminosos natos, e as pessoas que partilhavam desse perfil tinham poucas/nulas chances de não cometer crimes. Periculosidade é a possibilidade que o sujeito/agente tem de vir a cometer infrações. Existem dois perfis de criminosos: Criminosos ocasionais: aqueles que nascem pré-dispostos a cometer crimes, normalmente com crânio avantajado, cabelos escuros crespos ou enrolados; mulheres com alta tendência a se prostituir; homens com alta libido, devendo, portanto, conviver em um ambiente altamente criminógeno para cometer delitos. Criminosos habituais: assemelham-se aos natos, contudo, possuem pouca chance de cometer delitos. Diferem dos criminosos eventuais, que nascem com pouca pré-disposição a cometer delitos, e se cometerem, será por contato com ambiente extremamente favorável. De acordo com a Criminologia Positivista, para a determinação da delinquência, é necessário a análise dos fatores antropológicos (características individuais), sociais (características da sociedade/comunidade em que vive) e físicos (características do local em que vive: temperatura, umidade, etc.). O livre arbítrio, onde o agente teria a livre escolha para praticar ou não a conduta delituosa, da Escola Clássica, se difere da Periculosidade da Escola Positivista, onde está presente a figura do determinismo biológico, ou seja, o agente não se auto determinam. Para esses estudiosos, os criminosos são doentes, e, portanto, a pena teria função de tratamento. A função da pena também seria a prevenção especial positiva, baseada inteiramente no sujeito, e com intuito de transformá-lo em uma pessoa boa/melhor. A pena com função de tratamento era a mais conhecida, no entanto, existia também a função de defesa social, que era mais velada, mas existia. A Segunda Guerra Mundial segue a mesmo lógica de eugenia. Criminosos não são os exemplares bons da espécie humana. No Brasil, os criminosos eram aqueles que tinham a pele mais escura. Se considerarmos essa premissa, no Sul do país haveria um menor índice de criminalidade, considerando que a maior parte da população que ali se encontra possui a pele mais clara. De acordo com Lombroso, que era médico e fazia uso da empiria, acreditava ser necessário o uso da ciência para se determinar quais eram as características de um criminoso, e por isso, o crime seria um ente natural. Anterior a isso, a sociedade ficava a mercê do Direito e do que este dizia ser crime. Garrofalo então percebe que há uma necessidade de criar um conceito cientifico de direito, ou seja, verificar além de qualquer interferência externa as características do crime, e cria então o conceito de delito natural. Delito natural são atos que atentem contra a noção de probidade, afeto, compaixão, etc. Então, mesmo que mude de sociedade para sociedade, o núcleo rígido das condutas consideradas crimes se mantêm, e dessa forma, já são naturalmente considerados crimes. São também condutas imorais, que em qualquer tempo e em qualquer sociedade serão rechaçadas. (Ex: entra uma pessoa na sala tentando matar a professora, a mesma saca uma arma, e o atinge primeiro. A conduta dela não será rechaçada socialmente, por se tratar de legitima defesa. Aula 04 – 25/04/2016. Filme Laranja Mecânica (necessita de maior observação) O filme traz aspectos da Escola Clássica, quando apresenta a figura do Padre e seu discurso sobre o livre arbítrio, além de mostrar um sistema penal retributista, onde está presente a pena privativa de liberdade. CRIMINOLOGIA POSITIVISTA NO BRASIL As principais obras da Criminologia Positivista no Brasil foram: “Criminologia” – Clovis Bevilaqua, “As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil” – Raimundo de Nina Rodrigues. Havia uma forte carga higienista, no sentido de promover uma limpeza étnica no país. Para Nina Rodrigues, é necessário a criação de 4 códigos penais, defendendo a ideia de que quanto mais próximo da raça ariana for o agente, menor a chance de proximidade com a criminalidade e do emprego de violência, e quanto mais afastado da raça ariana, ou seja, os de pele mais escura, maior seria o índice de criminalidade. Aula 05 – 02/05/2016. QUESTIONÁRIO SOBRE O TEXTO DO THOMPSON 1) Quais os postulados fundamentais da Criminologia Positivista? 2) Existe delito natural? 3) É possível que o criminólogo positivista seja neutro? Justifique. 4) Explique a ideia de ideologização da ciência. 5) Qual a primeira manobra da criminologia Positivista? Explique-a. 6) Explique a afirmativa: “ A maioria dos criminosos é pobre”. RESPOSTAS 1) Os postulados fundamentais da criminologia positivista são: 1- O crime é um fenômeno natural. 2- O estudo do crime deve ser realizado através do mesmo processo de conhecimento usado para as ciências naturais.3- pela observação e pesquisa dos criminosos, assim identificados oficialmente, é possível desvendar as causas do crime e exterpá-las da sociedade. Através do estudo do criminoso, desejavam erradicar a criminalidade. Identificam que o criminoso é a causa do crime, e se isolado teriam grandes chances de acabar com a criminalidade. 2) De acordo com o autor, o delito natural é aceito pela comunidade cientifica por não ser possível provar a veracidade do conceito, tal qual desconstrui- lo. Sob o olhar do autor, é possível notar uma crítica a existência de direitos naturais, em razão de fatores culturais e sociais. É impossível falar que as condutas poderiam ser consideradas criminosas em qualquer tempo e em qualquer circunstância, pois o conceito de criminalidade é um conceito dependente de normas jurídicas. 3) O criminólogo positivista poderá ser neutro no momento em que deixar de estudar sob a égide das ciências humanas, e passar a observar através das ciências naturais deixando de ser objeto de estudo e passando a ser sujeito. 4) A primeira manobra, segundo Thompson, foi a redefinição do crime para o criminoso. Aula 06 – 09/05/2016. Teoria da Associação Diferencial. O principal autor dessa teoria foi Edwen Sutherland, em sua obra “Criminology”’, 1924. Busca desconstruir a explicação biológica e psicológica para a delinquência, fundamentalmente da vinculação do delito com a pobreza. Se motivam em: Estudos que comprovam essa relação ignoram os delitos de colarinho branco. Tal relação não pode ser aplicadauniversalmente, portanto. Delinquência comum tampouco pode ser explicada por essa relação, nem mesmo os crimes chamados de crimes de “rua” podem ser definidos por essa classificação. Pela associação diferencial (interação) se aprende o comportamento delitivo exatamente como qualquer outro. Inaugura as teorias norte-americanas da sociologia. Todas as teorias realizadas traziam vinculação entre a pobreza e a delinquência. Sutherland vai se debruçar sobre os delitos de colarinho branco, onde não há essa vinculação entre crime e pobreza. Interacionismo simbólico: quando me relaciono com alguém, aprendo algo; posso aprendera pratica delitiva, como atuar delitivamente. Assim, como posso me relacionar e praticar algo em conformidade com a lei, posso faze- los contra a lei. Subcultura delitiva: teríamos uma subcultura oficial e teria um grupo com cultura inferior, não participando da cultura oficial. Proposições que orientam a teoria da Associação Diferencial 1) O comportamento delitivo é aprendido. Não se herda e nem inventa. 2) Se aprende pela interação com outras pessoas através da comunicação. 3) A parte fundamental deste aprendizado está vinculada aos grupos pessoais íntimos. Meios de comunicação exercem pouca influência. 4) A aprendizagem inclui técnicas de cometimento de delitos simples e complexos, motivação, justificativas e atitudes dos atos das pessoas. 5) As motivações são aprendidas com relação a códigos legais, ou seja, dependendo do grupo se aprende a respeitar as normas ou não. 6) Alguém se converte em criminoso porque em seu meio há excesso de definições no sentido de infringir a lei. 7) Nem todas as associações diferenciais possuem a mesma influencia no comportamento posterior das pessoas. 8) O processo de aprendizado do comportamento delitivo por associação diferencial é idêntico ao aprendizado de qualquer outro comportamento. 9) O comportamento delituoso reflete necessidades e valores que também poderiam ser um motivo de comportamento não delituoso. CRIMES DE COLARINHO BRANCO Possui consequências tão gravosas quanto qualquer crime; Cometido por pessoas de alto status socioeconômico, no exercício da profissão; Em regra, há violação de confiança; Não é explicado pela pobreza; Dificuldade para elaborar estatísticos, pois há alto índice de cifra oculta; Não há rechaço popular quanto a eles; *texto na xerox O que leva os empresários a pratica desses delitos, é o constante interesse em obter 20% a mais da riqueza que já possuem. O autor diz que não se sabe exatamente de onde vem a expressão “colarinho branco”, mas acredita que advém da lógica de uma fábrica norte americana, os que possuem cargos mais baixos são aqueles que tinham colarinho azul, e os com cargos mais altos seriam aqueles de colarinho branco. Os crimes de colarinho branco possuem efeitos mais perversos do que aqueles delitos considerados comuns. São em geral cometidos por pessoas de altos status econômicos no exercício de sua profissão. Há dificuldade para elaborar estatísticas, pois aqueles que praticam os crimes de colarinho branco são, em regra, os mesmos que criam as leis que regem o pais. Existe também um rechaçamento inferior de ordem popular, advindo da ideia de que a criminalidade está diretamente ligada a ideia de pobreza, e dessa forma, crimes cometidos por pessoas de status social alto não seriam tão problemáticos como outros crimes. Contudo, o que se vê é a prova de que a criminalidade não está diretamente associada a pobreza, tal qual as características elencadas no modelo clássico. Aula 07 – 23/05/2016 TEORIA DO ETIQUETAMENTO Reação social / Labelling Approach / Rotulação social Paradigma do etiquetamento: paradigma etiológico e paradigma racionalista. Antes estava-se sobre o plano da ação, o que nos interessa compreender é que os criminólogos travam sempre pensando no plano da ação, seja do crime como do criminoso. A grande sacada é romper com o paradigma anterior para entender o pensamento criminológico desde o plano da reação social. A criminólogos abandonam a lógica de pensar do plano da ação para frente, para começar a pensar desde a reação social. Principal autor e obra: Haward Becker, “Outsiders”, 1963; Principal ruptura: há um deslocamento do pensamento criminológico do plano da ação para o da reação; Promove a denúncia do sistema penal como algo ontologicamente perverso. Debruça-se sobre o processo de criminalização primária, onde são criminalizadas as condutas através da lei penal, e secundaria, onde há a internalização da etiqueta por parte do sujeito etiquetado. Anteriormente, estudava-se o delito a partir do plano da ação, apesar de todas as diferenças. A partir da obra de Haward Becker, rompe-se a ideia de que o pensamento criminológico deveria ater-se ao plano da ação,que desloca-se para o plano da reação. Becker era um músico de jazz, motivo pelo qual era rechaçado na época. Passa a compor músicas de jazz e se torna usuário de maconha, adotando uma conduta criminalizada e outra não, ainda que a reação da sociedade se assemelhe para as duas circunstâncias. Dessa forma, Becker observa que a reação social negativa é a causa do etiquetamento, e portanto, a ideia de ruptura com o plano de pensamento criminológico anterior se concretiza. Nesse momento começa a se falar em desvio, que apesar de ser uma conduta lícita perante o sistema penal, é uma conduta moralmente rechaçada. A etiqueta coordena o comportamento de quem a recebe, como uma espécie de controle social. Ainda que o direito penal se ocupe em extinguir a criminalidade, as etiquetas e a reação social mantém o sistema penal em funcionamento, criminalizando as condutas reproduzidas pelos etiquetados. Cabe ainda salientar, que as pessoas podem vir s se tornar delinquentes como consequências desse etiquetamento, que muitas vezes advém de condutas não criminalizadas, mas moralmente rechaçadas. “As pessoas as quais a etiqueta adere mais facilmente são as pessoas consideradas desviantes”. Essa teoria é uma crítica severa. Para ela o estigma é algo determinante, muito mais do que a ação. ✖ Centra a discussão em questões como: 1. Que comportamentos são considerados crimes e por quê? 2. A que comportamentos se aplicam as normas penais? 3. Que consequências a aplicação da norma acarreta? Criminalização primária: seleção realizada pelo legislador ao tipificar. Quando ele determina quais são as condutas a serem consideradas crimes, seja no código penal ou em leis esparsas. Criminalização secundária: se dá na internalização do rótulo pelo etiquetado. A teoria do etiquetamento não se interessa pelas razões as quais levaram o indivíduo a praticar atos criminosos. Para essa teoria interessa o que aquela caracterização e o que a reação social derivada daquela ação criminosa vai afetar na vida do indivíduo. “A teoria do etiquetamento representa uma alteração acerca da sociedade antiga, a qual assumia que o controle social era uma resposta à desviação. Cheguei a pensar que a ideia oposta, isto é, que a desviação é uma resposta ao controle social é igualmente viável e uma premissa potencialmente mais rica para o estudo da desviação nas sociedades modernas.” – Lemert. Aula 08 – 30/05/2016 Se estamos fazendo inúmeras críticas ao sistema penal. Se estamos nos dando conta de que o sistema penal é estigmatizador, etc. É lógico que esses autores vai estudar e pensar formas de incidência do direito penal. Nesse sentido, o direito penal mínimo é um conceito amplo, mas que prima pela diminuição daincidência do direito penal, até porque ele estigmatiza, marginaliza, etc. Consequências de política criminal (Labelling) 1. Pratica “des”: Desinstitucionalização, descaraterização, discriminalização. quanto menos DP melhor, por isso que é importante somente tornar crime o que seja realmente importante e institucionalizar somente em último caso. Nesse sentido, toda e qualquer desinstitucionalização vai ser importante para o labelling approach. Entretanto, não podemos entender que eles são abolicionistas. Ferrajoli diz que o direito penal ainda é um mal necessário, que deve ser utilizado o mínimo possível. Toda pratica “des” é válida para essa teoria, uma vez que contribui para todo o processo degenerativo de aplicação do sistema penal, por isso, que as reticências são importantes, toda “descriminalização” é considerada importante, como a diminuição da incidência do direito penal, mas não o fim da sua aplicação. 2. Devido Processo Legal: evita estigmatizações e injustiça, ou seja, todos devem ter os mesmos meios de acesso ao processo e aos privilégios dentro dos trâmites legais. Essa noção é importante porque permite que se garanta que ninguém será julgado pelas características próprias. Os sujeitos processados vão ser submetidos aos mesmos procedimentos, com as mesmas garantias, não importante suas condições ou origens. Há a ideia de que todos serão tocados pelas mesmas garantias através desse princípio. As condutas que são pouco punidas ou pouco apenadas deve, ser descaracterizadas com o objetivo de se diminuir as consequências do atual sistema penal. Essas condutas pouco lesivas permanecem como criminosas porque há a fantasia de que o direito penal sempre oferece as melhores soluções através da prevenção especial negativa. A crítica feita a essa teoria, é o fato de que ela acaba por incorrer em um outro tipo de determinismo, pois quando diz que sempre que o indivíduo for etiquetado, não há possibilidade de se desvincular. Não há como reassumir a posição que ocupava anteriormente na sociedade, vez que encontram-se “role engufminrh”, ou seja, mergulhados no papel de delinquente. Acaba sendo como uma profecia que se auto realiza. 3. Diversificação: favorecimento de alternativas fora do processo penal formal. Exemplo disso é a justiça restaurativa, que funciona como uma conciliação, com a solução de conflitos, inclusive criminais separadamente ao processo penal. A ideia de que colocar autor e vítima frente à frente, para que ambos possam expor seus motivos que favoreceram a realização do crime, possa ser mais efetivo do que se recorrer ao cárcere. Entretanto, a justiça restaurativa é só um meio alternativo para o processo penal formal. A função do justiça restaurativa, é que as partes saiam plenamente satisfeitas. A professora cita um caso de uma mãe que perde seu filho em um homicídio cometido pelo seu melhor amigo. Essa mãe, então pede para que a pena privativa de liberdade seja substituída por um almoço, que deveria acontecer todos os sábados. Ocorre que, em determinado momento, o réu pede para ser levado a prisão, pois não suporta ver o sofrimento da mãe de seu amigo. Filme “O bicho de 7 cabeças”. O filme é baseado no livro “Canto dos Malditos”, e narra a história de Neto, um jovem que é internado por sua família em um hospital psiquiátrico após encontrarem um cigarro de maconha em meio a seus objetos pessoais. No hospital, Neto é constantemente medicado, meio pelo qual os responsáveis pelo local “maquiam” a real situação vivida pelos internos. No início, Neto busca de qualquer maneira deixar o hospital, mas em uma tentativa de fuga frustrada acaba sendo submetido a tratamento de choque. Em determinado momento, os pais de Neto resolvem retirá-lo da clínica, e acreditam que ela possa voltar a viver s vida que levava antes de ser internado. No entanto, como se observa, a etiqueta colada em Neto não permite que ele tenha uma vida comum, e dificulta todo relacionamento que ele poderia ter. Após diversas tentativas de desconstrução, Neto internaliza a etiqueta imposta pela sociedade, e adota os comportamentos que essa etiqueta carrega. Contudo, como consequências dos tratamentos de choque e dos medicamentos ministrado sem qualquer controle, Neto começa a apresentar reais problemas psicológicos. Ao final do filme, Neto não consegue mais conviver fora do hospital psiquiátrico e culpa seu pai por isso. A partir desse filme, observa-se claramente que a etiqueta e o rechaçamento social moldam o comportamento daquele que recebe esse rótulo. Ler: Introdução crítica a criminologia crítica, Vera Malagutti, Capítulos 9 e 10. Aula 09 – 06/06/2016 ➡ Criminologia Critica: pensa o crime e suas variáveis a partir da teoria do estado marxista. 1ª fase: Nova criminologia Marxista - principal obra: “ The new criminology” (1973), Taylor, Walton e Yong. - o capitalismo é a origem de toda delinquência. - as condutas criminalizadas são aquelas que oferecem risco a elite - solução da criminalidade: reforma social. - o direito penal é seletivo, tanto na criação de normas, como na aplicação delas. A criminologia crítica é a última grande teoria da criminologia, e que sobretudo faz uma crítica ao direito penal. Crítica a teoria do etiquetamento ao dizer que ao denunciar a forma de etiquetamento do Sistema Penal, é alucinada com relação ao capitalismo, ou seja, não se preocupa com as consequências socioeconômicas que essa etiqueta poderá trazer, vez que, existem grupos em que as etiquetas “colam” de maneira mais fácil. (Professora cita o exemplo da criança de 11 anos, morta por policiais na última semana). Autores como Nilo Batista e Juarez Cirino tecem suas teses com base na criminologia crítica, se utilizam dessa percepção para construir suas próprias teorias. O nome do livro do Baratta não é leviano, Criminologia crítica e Crítica ao Direito Penal, transmite a ideia de por o dedo na ferida do direito penal. Essa teoria busca a transmitir a ideia de que o direito penal é injusto, não estabelece quaisquer garantias e serve como um produto a sua clientela, ou seja, o conceito de que o direito penal é seletivo. O segundo grande polo da criminologia crítica seria a escola de Bolonha. Segundo a criminologia crítica, os selecionados seriam aqueles pertencentes as camadas mais pobres da população. Vai dizer que “esses que não estão sendo úteis às fábricas, que não são considerados úteis aos bolsos do patrão, serão aqueles que são a clientela do direito penal”. A relação que se estabelece entre cárcere e fabrica sintetiza o que a criminologia sempre quis dizer: o direito penal nada mais é do que um instrumento da elite para a manutenção do status quo, ou para a manutenção da elite em relação aos subalternos que servem riqueza. Deve-se ter em mente que ambas são correntes de uma mesma teoria, logo, não há uma grande discrepância entre as suas teses. Na primeira fase, há uma intensidade maior no que se refere a culpa do capitalismo. A segunda etapa diminui e retire a intensidade do que antes era dito na primeira etapa, ou seja, os autores chegam a segunda etapa através de uma autocrítica. Observa-se que o Direito Penal é um instrumento de manutenção da elite como classe dominante, e do proletariado como classe subalterna. Todo crime é um ato político Todo e qualquer crime se origina no Sistema Capitalista. A partir dessas premissas, nota-se que se houvesse uma reforma social em que se deixasse de viver um sistema capitalista e passasse a viver em um sistema socialista, haveria então o fim da delinquência/ criminalidade. Portanto, o sistemapenal seria um sistema seletista, uma vez que, escolhe uma parcela da sociedade para perseguir. A seletividade é o fato de que o sistema penal tem como clientela, sempre as camadas mais pobres.No momento de aplicação da norma, a seleção também é visível, como no caso de Thor Batista, que o problema está na desigualdade social, não na pobreza, como se pensava anteriormente. A criminologia crítica, tem uma espécie de condescendência com a delinquência, porque considera o agente do delito como uma vítima do sistema capitalista. A exclusão se dá sobre aqueles que são inúteis a produção de riqueza do sistema capitalista. Aula 10 – 13/06/2016 Primeira fase: Nova Criminologia Marxista - Intensidade dos argumentos é muito maior, o que na segunda fase será relativizado. - As grandes afirmativas/premissas trazida nessa primeira etapa e atenuadas na segunda. Há uma espécie de romanização em relação ao criminoso, isto é, uma espécie de emparia em relação ao criminoso, porque o sujeito que pratica o delito nada mais é do que uma vítima do sistema capitalista. Isso significa dizer que os crimes são todo práticas por força da opressão imposta pelo sistema capitalista, logo, não há criminalidade que não se origine no sistema capitalista para essa primeira fase. Diante disso, o crime é interpretado como um ato político, o sujeito que comete o crime seria impelido a tomar essa atitude em protesto ao sistema capitalista. Isto é, por enquanto nesta fase, só se notam as condutas práticas pelos mais pobres que, em geral, são praticadas com os mais ricos. - Pode ser constatado no código penal de 40 que um crime culposo tem a pena máximo de 3 anos ao passo que o crime de furto tem pena máxima de 4 anos. - A única solução para os crimes, que são todos causados pelo capitalismo, é o abandono desse sistema sócio-político-econômico, adotando-se o Socialismo. Segunda fase: Criminologia Crítica. - Os crimes do colarinho brancos vão ser encarados na segunda etapa. O sistema penal é um sistema seletivo, que tem uma cliente-la própria. Isso, no Brasil, se dá não só no cárcere como também nos manicômios. - O Labelling por mais inteligente e mais bem construído que tenha sido, ele não foi capaz de diagnosticar a criminalização da pobreza. O Labelling afirma que existem os grupos de desviantes e a estigmatização só corrobora para esse processo. Nesse sentido, é criticado por não conseguir entender que a estigmatização e a formação de grupos desviantes está atrelada aos contextos socioeconômicos. - Eles desconstroem a criminologia positivista estão dizendo que o crime nada tem a ver com as pessoas, não se trata de um problema ontológico, não pode ser enxergado como uma característica pessoal. Discute-se as características sociais e econômicas capazes de oprimir o indivíduo e o designar a práticas delitivas. - O sistema que temos faz as pessoas subalternas e essas pessoas se sentem oprimidas. - A criminologia crítica não vai acreditar na ressocializar porque o estuda não tem nada para oferecer e não tem nada para ressocializar. Aula 11 – 20/06/2016 Questionário 1) Qual a função da pena segundo Baratta? Para Baratta, a função simbólica da pena é a punição de certos comportamentos, sobre os quais a dor é infringida, apenas servem de cobertura ideológica para os mecanismos de controle social duro sobre as classes perigosas. Portanto, a função da pena seria uma punição das classes subalternas com base nos interesses da classe burguesa. 2) O sistema penal foi concebido para acabar com a ilegalidade? Justifique. Ao contrário do que se busca enfatizar, o sistema penal não foi concebido para acabar com a criminalidade, mas para diferenciar os comportamentos da chamada classe dominante (burguesia) da classe subalterna, e criminalizar essas condutas, punindo-as. 3) Explique a afirmativa “o aparente fracasso dos sonhos corretivos penitenciários esconde seu principal objetivo: a organização da transgressão das leis numa tática geral de sujeições”. A análise da afirmativa permite observar que, apesar da constante tentativa de evidenciar o sonho corretivo penitenciário e a defesa da ilegalidade, o verdadeiro sentido do sistema penal seria a busca incessante da submissão dos povos considerados subalternos à leis que buscam criminalizar e distinguir seus comportamentos. O sistema penal migra de uma realidade de suplício para um modelo de controle minucioso é calculado de sujeição, tornando a prisão um aparelho disciplinar exaustivo.
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