Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Coordenação Didático-Pedagógica Stella M. Peixoto de Azevedo Pedrosa Redação Pedagógica Tito Ricardo de Almeida Tortori Revisão Alessandra Muylaert Archer Projeto Gráfico Romulo Freitas Diagramação Luiza Serpa Coordenação de Conteudistas Fernando Velôzo Gomes Pedrosa Conteudista Felipe Alexandre Paiva Dias de Sá Revisão Técnica Otávio Bravo Produção Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Realização EsIE – Escola de Instrução Especializada Exército Brasileiro Fundamentos do direito público e privado : apostila 1DPP / coordenação didático-pedagógica: Stella M. Peixoto de Azevedo Pedrosa ; redação pedagógica: Tito Ricardo de Almeida Tortori ; revisão: Alessandra Muylaert Archer ; projeto gráfico: Romulo Freitas ; coordenação de conteudistas: Fernando Velôzo Gomes Pedrosa ; conteudista: Felipe Alexandre Paiva Dias de Sá ; revisão técnica: Otávio Bravo ; produção: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ; realização: EsIE – Escola de Instrução Especializada [do] Exército Brasileiro. – Rio de Janeiro : PUC-Rio, CCEAD, 2013. Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais – CHQAO. 46 p. : il. (color.) ; 21 cm. Inclui bibliografia. 1. Direito público - Brasil. 2. Direito privado – Brasil. I. Pedrosa, Stella M. Peixoto de Azevedo. II. Tortori, Tito Ricardo de Almeida. III. Sá, Felipe Alexandre Paiva Dias de. IV. Linhares, Anvalgleber Souza V. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Coordenação Central Educação a Distância. VI. Brasil. Exército. Escola de Instrução Especializada. CDD: 342 CHQAO Curso de Habilitação ao Quadro Auxiliar de Oficiais FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO Unidade 1 DIREITO CONSTITUCIONAL MILITAR APRESENTAÇÃO O Curso de Habilitação ao Quadro de Auxiliar de Oficiais (CHQAO), conduzido pela Escola de Instrução Especializada (EsIE), visa habilitar os subtenentes à ocupação de cargos e ao desempenho de funções previstas para o Quadro Auxiliar de Oficiais. A disciplina Fundamentos do Direito Público e Privado possui carga horária total de 90 horas. Os objetivos gerais desta disciplina são: • Conhecer conceitos constitucionais relacionados às instituições do direito público e privado; • Analisar o papel do cidadão diante da Constituição Federal, de fatos relacionados à administração das instituições de direito público e privado; • Diferenciar atos e fatos jurídicos das instituições de direito público e privado associados às noções de direito na administração pública; • Descrever o Direito Internacional Humanitário e fornecer elementos para identificação de sua problemática; • Identificar as principais regras e convenções relacionadas ao Direito Internacional Humanitário; • Conhecer as principais regras da legislação penal militar brasileira; • Conhecer as principais regras da legislação processual penal militar brasileira; e • Empregar de maneira correta a legislação vigente. Será apresentada agora a Unidade I – Direito Constitucional Militar –, cujos objetivos estarão especificados no início de cada capítulo. Boa leitura! CONTEUDISTA Felipe Alexandre Paiva Dias de Sá é bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e em Direito pela Sociedade Civil da Grande Dourados (UNIGRAN). É pós-graduado em Direito Civil e Empresarial pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernam- buco, em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e em Bases Geo-Históricas para Formulação Estratégica na Escola de Comando e Estado Maior do Exército. É professor da Cadeira de Direito da Academia Militar das Agulhas Negras. ÍNDICE 09 11 11 15 15 16 19 20 22 25 26 27 29 33 37 41 1. INTRODUçãO 2. NATUREzA JURíDICA DAS FORçAS ARMADAS 2.1 DIREITO CONSTITUCIONAL MILITAR 3. MISSãO CONSTITUCIONAL 3.1 AS FORçAS ARMADAS 3.2 MISSãO CONSTITUCIONAL DAS FORçAS ARMADAS 3.3 ATRIBUIçõES SUBSIDIáRIAS DAS FORçAS ARMADAS 3.3.1 PODER DE POLíCIA DO ExÉRCITO 3.3.2 MISSõES DE PAz 4. SERVIçO MILITAR NO BRASIL 4.1 BASE LEGAL 4.2 ALISTAMENTO MILITAR 5. INTER-RELAçãO ENTRE OS MILITARES E O SISTEMA ELEITORAL 6. DIREITO DOS SERVIDORES MILITARES 7. SISTEMA PREVIDENCIáRIO DOS MILITARES 8. BIBLIOGRAFIA FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 9 A profissão das armas, por si só, pode se tornar uma atividade de risco para profissionais despreparados que não tenham clareza e consciência de sua im- portância para a integridade organizacional de uma sociedade livre e sobera- na, em que a manutenção da lei e da ordem seja primordial para a busca do bem comum e da democracia. Esta disciplina visa, inicialmente, esclarecer ao militar a natureza jurídica das Forças Armadas e a sua missão constitucional, permitindo o conhecimento da legislação que trata do serviço militar, do emprego da força nas eleições, da po- sição jurídica dos militares e o sistema de pensões vigente. Desse modo, serão aprofundados assuntos relacionados à natureza jurídica das Forças Armadas. Ao longo do estudo dos Fundamentos do Direito Público e Privado serão abor- dadas outras questões de diferentes aspectos do Direito, tais como: Disciplinar Militar, Internacional Humanitário, Penal Militar e Processual Penal Militar. 1INTRODUÇÃO FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 11 Objetivo específico • Caracterizar a natureza jurídica das Forças Armadas. 2 NATUREzA jURÍDICA DAS FORÇAS ARMADAS O Exército Brasileiro é largamente empregado nas operações de garantia da lei e da ordem (GLO) em grandes e pequenos eventos de repercussão nacio- nal, como na ECO-92, em visitas de Papas, na pacificação das favelas do Rio de Janeiro, entre várias outras situações. Tais ações exigem o aperfeiçoamento dos militares, principalmente para aqueles que almejam o oficialato. Assim, as atribuições constitucionais dos militares devem ser conhecidas, diuturnamente, pelos profissionais das Forças Armadas, pois são o arcabouço que legitima a sua atuação na defesa da pátria e dos poderes constituídos. 2.1 DIREITO CONSTITUCIONAL MILITAR Para estudar o Direito Constitucional Militar é preciso, inicialmente, entender a finalidade de uma Constituição para a existência de um Estado. Para Sylvio Motta e William Douglas: Constituição é o conjunto das normas convencionais ou jurídica que, repousando na estrutura econômico- -social e ideológica da sociedade, determina, de maneira fundamental e permanente, o ordenamento estrutural do Estado, circunscrevendo e fixando a competência do poder público, assegurando, ainda, a plena proteção dos direitos individuais (MOTTA e DOUGLAS, 2000, p.10). Enfim, a Constituição tem por finalidade instituir as normas de fundamentação e estruturação essenciais para a formação de um Estado. Saiba mais sobre a participa- ção das Forças armadas na ação de pacificação empre- gada no Rio de Janeiro len- do o artigo Considerações sobre a Força de Pacificação empregada no Rio de Janeiro, de Carlos alberto Klinguelfus Mendes, na Re- vista Military Review de agos- to de 2012. disponível em: <http://usacac.army.mil/ CaC2/MilitaryReview/ar- chives/Portuguese/Milita- ryReview_20120831_art- 006POR.pdf> Saulo Highlight Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 12 Nesse sentido, historicamente, todas as constituições brasileiras trataram sobre assuntos militares. A primeira Constituição Federativa promulgada pelo Im- perador D. Pedro I em 1824, por exemplo, abordava aspectos relacionados à “Força Militar” no Capítulo VIII e determinava: Art. 145. Todos os Brazileiros são obrigados a pegar em armas, para sustentar a Independencia,e integridade do Imperio, e defende-lo dos seus inimigos externos, ou internos (redação no original). A nossa atual Constituição foi promulgada em 5 de outubro de 1988 e esta- belece as normas sobre as Forças Armadas que interessam neste estudo no seu Capítulo II, do Título V, que trata Da Defesa do Estado e Das Instituições Democráticas. O Direito Constitucional Militar é, portanto, o ramo do Direito que esta- belece o conjunto de normas constitucionais que tratam sobre a atuação das tropas militares em nosso país. A Constituição Federal (CF) é a lei de maior hierarquia em uma sociedade politicamente organizada, da qual todas as demais leis devem se subordinar. É, também, a lei que estabelece e organiza uma sociedade. Portanto, para entendermos a natureza jurídica das Forças Armadas, é necessá- rio entender a definição contida no artigo 142 da Constituição Federal: Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacio- nais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pá- tria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. (grifo nosso). É possível identificar nessa norma as características das Forças Armadas bra- sileiras, a saber: são instituições nacionais, permanentes, regulares e organizadas com base na hierarquia e disciplina. Instituições nacionais São nacionais, ou seja, com atuação em todo o território nacional, por serem integradas por cidadãos brasileiros de todas as regiões do território pátrio e por estarem comprometidas com os valores da cultura brasileira e com os superiores interesses e aspirações da comunidade nacional. Com a iminência de invasão de Portugal por napoleão, d. João Vi e a família real embarcam rumo ao Brasil e através do alvará de 1º de abril de 1808, cria o Conse- lho Supremo Militar, que ti- nha funções administrativas e judiciárias, atuaria como primeiro Tribunal do Bra- sil e acumulava as funções de Supremo Conselho Mi- litar. Conheça o texto desse decreto imperial lendo o documento disponível em: <http://www.camara.gov. br/internet/infdoc/conteu- do/Colecoes/Legislacao/ Legimp-a1_4.pdf> Saulo Substituir Saulo Substituir outorgada Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 13 Bonavides, Miranda e Agra (2009) entendem que as Forças Armadas são insti- tuições nacionais com a função de proibir que os Estados Federados também te- nham as suas próprias “Forças Armadas”, além de estar a serviço da nação, não como instrumentos de governo, mas como um instituto de garantia da Pátria. Instituições permanentes O que caracteriza uma instituição permanente é a impossibilidade jurídica da sua extinção, não sendo possível nem mesmo por intermédio de emenda cons- titucional. As Forças Armadas são históricas e necessárias à própria existência da nação brasileira. Brutus e Arruda (s.d., p.17), partindo dessa premissa, consideram que: Por força de preceito constitucional que consagra a pre- sença das Forças Armadas ao longo de todo o processo histórico da nação no passado, reafirmam essa atitude no presente e a projetam como expectativa no futuro, definindo uma trajetória de dedicação, desprendimento e, não raro, de sacrifício, sempre voltada para a conquista e a manutenção dos Objetivos Nacionais Permanentes. Bonavides, Miranda e Agra afirmam: A importância das Forças Armadas é notada também pela adjetivação que lhe foi atribuída, já que sua disposição de forma “permanente” faz com que fique ligada à própria existência do Estado, não podendo ser dissolvida. Em ou- tras palavras, as Forças Armadas estão ligadas à própria manutenção da República Federativa do Brasil. Enquanto esta existir, aquelas também existirão (2009, p.1702). Instituições regulares São regulares porque se regem por rígidos regulamentos, sendo a sua atuação de forma contínua e sem interrupção. Suas atribuições, organização, subordi- nação e efetivos estão definidos na Constituição Federal ou em leis específicas. Instituições organizadas com base na hierarquia e na disciplina A ordenação de autoridade ou hierarquia representa a graduação escalonada entre superiores e subordinados, em que cada integrante das Forças ocupa uma posição de autoridade, devendo respeitar superiores e tratar com lealdade Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 14 os subordinados. Cada posição na escala hierárquica corresponde à atribuição de competências para o cumprimento da missão constitucional das Forças, em que cada integrante exerce a sua função conforme a sua destinação legal. A disciplina é a atitude esperada de cada militar, no sentido de se observar e acatar todas as normas reguladoras da instituição e do país em que ele vive. Espera-se do militar uma atitude modelo de submissão plena ao ordena- mento normativo vigente, incluindo o cumprimento célere e eficaz de todas as ordens legais emanadas de seus superiores hierárquicos. O Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 – Regulamento Disciplinar do Exército (R-4) – conceituou hierarquia e disciplina nos seguintes termos: Art. 7º A hierarquia militar é a ordenação da autorida- de, em níveis diferentes, por postos e graduações. Art. 8º A disciplina militar é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, regulamentos, normas e disposições, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos componentes do organismo militar (grifo nosso). Você poderá ler sobre cada umas das Constituições Fe- derativas acessando o portal da Presidência da Repúbli- ca no link: <http://www4. planalto.gov.br/legislacao/ legislacao-historica/consti- tuicoes-anteriores-1> Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 15 Objetivo específico • Analisar a missão das Forças Armadas, de acordo com os preceitos. MISSÃO CONSTITUCIONAL3 O Brasil, como Estado federal, delega autonomia administrativa aos seus entes constitutivos, a saber: a União, os Estados-membros e os Municípios. A refe- rida autonomia é distribuída através da repartição de competências, tendo a Constituição Federal como a norma organizadora. Portanto, cabe à União, segundo o artigo 21, III, da Constituição Federativa de 1988 (CF/88), dentre outras competências, a de assegurar a defesa nacional. O Ministério da Defesa é o órgão responsável pela defesa nacional, que tem a missão de coordenar o esforço integrado de defesa, visando contribuir para a garantia: • Da soberania; • Dos poderes constitucionais; • Da lei e da ordem; • Do patrimônio nacional; • Da salvaguarda dos interesses nacionais; • Do incremento da inserção do Brasil no cenário internacional. 3.1 AS FORÇAS ARMADAS As Forças Armadas compõem o Ministério da Defesa e são compostas pela Marinha, Exército e Aeronáutica. A Marinha do Brasil é a Força Naval e tem a missão de preparar e empregar o Poder Naval, a fim de contribuir para a defesa da Pátria. Estar pronta para atuar na garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem; atuar em ações sob a égide de organismos internacionais e em Saulo Highlight Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 16 apoio à política externa doPaís; e cumprir as atribuições subsidiárias previstas em lei, com ênfase naquelas relacionadas à Autoridade Marítima, a fim de con- tribuir para a salvaguarda dos interesses nacionais. O Exército Brasileiro é a Força Terrestre e tem a missão de contribuir para a garantia da soberania nacional, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, salvaguardando os interesses nacionais e cooperando com o desenvolvimento nacional e o bem-estar social. Para isso, prepara a Força Terrestre, mantendo-a em permanente estado de prontidão. A Aeronáutica é a Força Aérea que tem a missão de manter a soberania do es- paço aéreo nacional com vistas a contribuir para a garantia da soberania nacio- nal, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem e à defesa da Pátria. Caben- do, ainda, como atribuição subsidiária geral, cooperar com o desenvolvimento nacional e a defesa civil na forma determinada pelo Presidente da República. 3.2 MISSÃO CONSTITUCIONAL DAS FORÇAS ARMADAS Este estudo, portanto, visa analisar a missão das Forças Armadas de acordo com os preceitos vigentes estabelecidos pela Constituição Federal, ao definir que: Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacio- nais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. Extrai-se dessa norma constitucional a percepção de que as missões funda- mentais das Forças Armadas são: I. A defesa da Pátria. II. A garantia dos poderes constitucionais. III. A garantia da lei e da ordem. Saulo Highlight FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 17 I. A defesa da Pátria Bonavides, Miranda e Agra afirmam: A primeira e principal função das Forças Armadas é assegurar a defesa da Pátria. Tal defesa consiste em resguardá-la contra qualquer inimigo estrangeiro, garan- tindo assim a independência e a integridade da República Federativa do Brasil (2009, p.1707). Os autores ressaltam ainda que a proteção da integridade territorial e da sobe- rania da nação brasileira impõe a defesa frente a qualquer ameaça externa. Brutus e Arruda (s.d.,p.23) definem a defesa da Pátria como: Significa a preservação da independência, da soberania, da unidade, das instituições e da integridade do patrimônio nacional, o qual abrange o território, os recursos huma- nos, os recursos materiais e os valores históricos culturais. II. A garantia dos poderes constitucionais Para entender a nobre missão de garantia dos poderes constitucionais, é importante refletir sobre a teoria de separação dos poderes de Montesquieu. Dallari ensina que: A teoria da separação dos poderes, que através da obra de Montesquieu se incorporou ao constitucionalismo, foi concebida para assegurar a liberdade dos indivíduos. Com efeito, diz o próprio Montesquieu que, quando na mesma pessoa ou no mesmo corpo de magistratura o poder legislativo está reunido ao poder executivo, não há liberdade, pois que se pode esperar que esse monarca ou que esse senado faça leis tirânicas para executá-las tiranicamente (1998, p. 215). O Brasil adota esse preceito, sendo, por isso, os poderes separados em Poder Legislativo, Poder Executivo e Poder Judiciário. Assim, cabe às Forças Armadas a garantia do pleno funcionamento desses órgãos, segundo a sua destinação constitucional. Em um conceito mais ampliado, as Forças Armadas devem ga- rantir e preservar todas as demais instituições decorrentes da Constituição. Charles de Montesquieu foi um filósofo, político e escri- tor francês. nasceu na cidade de Bordeaux, na França, em 1689, e é considerado um dos grandes filósofos do período do iluminismo, tendo afirma- do que “(...) tudo estaria per- dido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes: o de fazer leis, o de executar as resoluções públicas, e o de julgar os crimes ou as diver- gências dos indivíduos”. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 18 III. A garantia da lei e da ordem Deve ocorrer em situações – em parte do território nacional ou em toda a sua ex- tensão – de grave ameaça à lei, à ordem, à paz pública, à incolumidade das pesso- as e do patrimônio público ou privado, sempre que os meios locais de segurança pública (artigo 144 da Constituição Federal) forem inexistentes, estiverem indispo- níveis por qualquer motivo ou forem insuficientes para dar conta da comoção. O Presidente, nestas situações, decidirá sobre o emprego de Força federal, de uma ou mais instituições armadas, por iniciativa própria ou mediante pro- vocação ou solicitação de algum dos poderes constituídos (artigo 15 da Lei Complementar nº 97/99), quer seja em uma situação de normalidade cons- titucional (Ex. greve ou indisponibilidade, ou insuficiência de polícia militar ou civil) ou ainda em situações de anormalidades previstas na Constituição Federal, como: • Intervenção federal (artigo 34); • Estado de Defesa (artigo 136); • Estado de Sítio (artigo 137). O artigo 15 da Lei Complementar 97/99, que trata das normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas prevê: § 2o A atuação das Forças Armadas, na garantia da lei e da ordem, por iniciativa de quaisquer dos poderes cons- titucionais, ocorrerá de acordo com as diretrizes baixadas em ato do Presidente da República, após esgotados os instrumentos destinados à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, relacio- nados no art. 144 da Constituição Federal. § 3o Consideram-se esgotados os instrumentos relacio- nados no art. 144 da Constituição Federal quando, em determinado momento, forem eles formalmente reconhe- cidos pelo respectivo Chefe do Poder Executivo Federal ou Estadual como indisponíveis, inexistentes ou insuficientes ao desempenho regular de sua missão constitucional. a Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, de- fine normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças armadas e pode ser lida acessando o link <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/lcp/ Lcp97.htm> Conheça as diretrizes para o emprego das Forças armadas na garantia da lei e da ordem, estabelecidas pelo decreto nº 3.897/2001. disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/decreto/2001/ d3897.htm> Saulo Highlight FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 19 3.3 ATRIBUIÇõES SUBSIDIáRIAS DAS FORÇAS ARMADAS Além das operações de garantia da lei e da ordem, as Forças Armadas também poderão atuar em ações subsidiárias. A atribuição subsidiária geral, citada no caput do artigo 16 da Lei Complemen- tar 97/99, prevê que as Forças Armadas devem cooperar com o desenvolvimen- to nacional e a defesa civil, na forma determinada pelo Presidente da República. Os artigos 16, 16-A, 17, 17-A e 18 da referida lei especificam as ações subsidiárias gerais e particulares de cada Força, visando a cooperação com órgãos estatais. No caso do Exército é possível citar especificamente: a) O Exército deverá cooperar com órgãos federais, quan- do necessário, na repressão aos delitos de repercussão nacional e internacional, em todo o território nacional, com apoio logístico, de inteligência, de comunicações e de instrução (artigo 17-A, III da Lei Complementar 97/99). A Marinha e a FAB também possuem esses encar- gos, porém em situações mais restritas. b) O Exército, bem como as demais Forças Armadas, atuará em ações preventivas e repressivas na faixa de fronteira terrestre,no mar e nas águas interiores, contra delitos transfronteiriços e ambientais, de forma isolada ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo. Essa ação se efetivará através da realização de patrulhas, revista de pessoas, veículos terrestres, embarcações e aeronaves e de prisões em flagrante delito (artigo 16-A e incisos da Lei Complementar 97/99, modificada pela Lei Complementar 136/2010). No entanto, nestas atividades está excluída a execução de ações da competência da polícia judiciária. Faixa de fronteira é o espaço interno de 150 km de largu- ra, delimitado por uma linha paralela à linha divisória ter- restre do território nacional, considerada fundamental para a defesa do país (artigo 20, parágrafo 2º da Constituição Federal de 1988 e artigo 1º da Lei nº 6.634/79). No caso de crimes militares, a lavratura do auto de prisão em flagrante delito é incumbência da autoridade policial judiciária militar. Saulo Highlight Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 20 3.3.1 Poder de polícia do Exército Assim sendo, foi atribuído ao Exército um poder de polícia que, originaria- mente e por via constitucional, deveria ser uma competência da polícia federal. Contudo, a realidade da inequívoca extensão continental de nossas fronteiras terrestres, aliadas à histórica e real insuficiência de meios e recursos humanos do órgão policial competente, levou as autoridades a estender tal competência subsidiária às Forças Armadas e ao Exército, em particular pelo artigo 17-A da Lei Complementar 97/99. As operações englobam missões de patrulhamento, revista de pessoas, veícu- los, embarcações, aeronaves e instalações, fiscalização de produtos contro- lados, instalação de “Pontos Sensíveis Essenciais” (PSE) ou de “Posto de Bloqueio e Controle de Estradas” (PBCE), entre outras. Poder de polícia é a faculdade que permite à Administração Pú- blica condicionar e restringir o uso e gozo de bens ou direitos individuais em benefício da coletividade ou do próprio Estado. É o mecanismo de frenagem que tenta evitar os abusos do di- reito individual quando contrários ao interesse público, nocivos ou inconvenientes ao bem-estar social e à segurança nacional. No planejamento de emprego do Exército na prevenção e na repressão aos delitos transfronteiriços e ambientais podem ser incluídas, se necessário, as áreas indígenas e/ou de preservação ambiental localizadas na faixa de fron- teira (Decreto n° 4.411 e Decreto n° 4.412, de 7 de outubro de 2002). No caso específico do Exército, a Portaria 61, de 16 de fevereiro de 2005, do Comandante do Exército, aprovou a Diretriz Estratégica para Atuação na Faixa de Fronteira contra dois tipos fundamentais de delitos: Delitos transfronteiriços A prevenção e a repressão aos delitos transfronteiriços é focada, em princí- pio, sobre os seguintes ilícitos: a) A entrada (e/ou a tentativa de saída) ilegal no território nacional de armas, munições, explosivos e demais pro- dutos controlados, conforme legislação específica (Lei de Segurança Nacional – Lei n° 7.170/83; Estatuto do Desar- mamento – Lei n° 10.826/03; Regulamento para Fiscaliza- ção de Produtos Controlados – Decreto n° 3.665/00). Para saber mais sobre a Ope- ração Ágata 7 e o Plano es- tratégico de Fronteiras do Ministério da defesa acesse os documentos e vídeos dis- poníveis nos links: <http://www.operacoes. defesa.mil.br/c/document_ l i b r a r y/ge t _ f i l e ?uu id= d 4 3 8 1 4 e e - 2 c 1 8 - 4 9 1 6 - 9f38c4387b96fd83& group id =10138> <ht tp ://www.you tube. c o m / w a t c h ? v = i e q c 0 pOiaei> Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 21 b) O tráfico ilícito de entorpecentes e/ou de substâncias que determinem dependência física ou psíquica, ou ma- téria-prima destinada à sua preparação (Lei nº 11343/06; Decreto n° 3.665/00). c) O contrabando e o descaminho, especificados no Códi- go Penal Brasileiro (Decreto-Lei n° 2.848/40). d) O tráfico de plantas e de animais (Lei de Crimes Am- bientais – Lei n° 9.605/98; Código Florestal – Lei n° 12651/12; Código de Proteção à Fauna – Lei n° 5.197/ 67). e) A entrada (e/ou a tentativa de saída) no território nacional de vetores em desacordo com as normas de vigi- lância epidemiológica (orientação técnica e normativa do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Lei n° 6.437/ 77 e Medida Provisória n° 2.190- 34, de 23 de agosto de 2001). A Portaria n° 61, de 16 de fevereiro de 2005, aprovou a Diretriz Estratégica do Exército (SIPLEX-5) para Atuação na Faixa de Fronteira contra Delitos Transfronteiriços e Ambientais e deu outras providências. Delitos ambientais. A atuação do Exército na prevenção e na repressão aos delitos ambientais é focada, em princípio, sobre os seguintes ilícitos: a) A prática de atos lesivos ao meio ambiente, definidos na Lei de Crimes Ambientais – Lei n° 9.605/98; no Código Florestal – Lei n° 12651/12; e no Código de Proteção à Fauna – Lei n° 5.197/67. b) A exploração predatória ou ilegal de recursos naturais (Lei n° 9.605/98). c) A prática de atos lesivos à diversidade e a integridade do patrimônio genético do País, definidos na Medida Provisória n° 2.186-16, de 23 agosto de 2001. Saulo Substituir Saulo Substituir Lei nº 13.123, de 20 de Maio de 2015. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 22 3.3.2 Missões de paz As Forças Armadas brasileiras têm experimentado nestes últimos anos um aumento gradativo de suas participações em missões de paz. Missões de paz são missões internacionais, sob a coordenação da Organização das Nações Unidas (ONU), na qual tropas de diversos países se reúnem com o objetivo de solucionar um conflito armado localizado que possa representar uma ameaça para a paz mundial e reestabelecer a ordem local. O Exército Brasileiro, diante da grande demanda internacional para a execução de missões de paz, criou, através da Portaria do Comandante do Exército nº 90/2005, o Centro de Instrução de Operações de Paz, visando a criação de es- truturas que possibilitem a disseminação dos procedimentos e normas vigentes. Em 15 de junho de 2010, a Portaria nº 952-MD designa o Centro de Instrução de Operações de Paz (CIOpPaz) do Exército Brasileiro para a preparação de militares e civis brasileiros e de nações amigas a serem enviados em missões de paz e altera a sua denominação para Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB). A preparação para o emprego da Força em missões de paz se reveste de suma importância para a projeção nacional no âmbito mundial. Nesse sentido, o Brasil atualmente está participando da Missão das Nações Unidas para a Esta- bilização no Haiti (MINUSTAH) desde 2004. Sobre esse tema Brutus e Arruda (s.d. p.40-41) escreveram: Para o Brasil, o assunto reveste-se de importância, na medida em que o anseio do país de buscar exercer uma maior influência política nas relações internacionais passa pela disposição de aceitar uma parcela dos riscos e custos dos esforços internacionais para a obtenção e preservação da paz. Participar de operações de paz é uma missão das For- ças Armadas e é no cumprimento dessa missão que, no campo externo, particularmente o Exército tem sido empregado desde o fim da II Guerra Mundial. As várias participações brasileiras em operações de paz e a grande probabilidade de empregos futuros são motivos cabais para que as operações de paz continuem a merecer dos Comandantes Militares a atenção que, desde o início dos anos 90, lhes tem sido atribuída. em 2004, após a deposição do presidente do Haiti,Jean- -Bertrand aristide, o Conselho de Segurança (CS) da OnU, considerando que a situação naquele país ainda constituía uma ameaça para a paz inter- nacional e para a segurança na região, aprovou o envio de uma Missão das nações Unidas para a estabilização no Haiti (MinUSTaH), colocan- do o General augusto Heleno Ribeiro Pereira, do exército Brasileiro, no comando do componente militar da mis- são. Veja a distribuição dos países que participaram dessa missão no mapa do link a se- guir: <http://www.un.org/ depts/Cartographic/map/ dpko/minustah.pdf>. neste outro link é possível assistir, ainda, a entrevista do Coronel Francisco Brito, comandante do 1º Batalhão de infantaria da Força de Paz do Brasil no Haiti <http://www.youtube.com/ watch?v=stpbOn_dVR0> FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 23 As operações de paz, segundo o Manual de Operações de Paz do Ministério da Defesa, se classificam em: Diplomacia preventiva (preventive diplomacy): Compreende as atividades destinadas a prevenir o surgimento de disputas entre as partes, a evitar que as disputas existentes degenerem em conflitos armados, e a impedir que esses, uma vez eclodidos, se alastrem. Contempla as diferentes modalidades de atuação mencionadas no capítulo VI da Carta das Nações Unidas (solução pacífica de controvérsias) e outras que venham a ser acordadas entre os interessados, tal como a iniciativa inovadora de emprego de tropas por parte da ONU na ex-República iugoslava da Macedônia. Alguns autores preferem estabelecer uma diferença entre a diplomacia preventiva propriamente dita e o emprego preventivo de tropas. A diplomacia preventiva seria uma ação consentida, sem uso da força, enquanto o desdobramento preventivo de tropas seria uma ação consentida, com uso da força. Promoção da paz (peacemaking): Designa as ações diplomáticas posteriores ao início do conflito para levar as partes litigantes a suspender as hostilidades e a negociar. As ações de pro- moção da paz baseiam-se nos meios de solução pacífica de controvérsias, previstos no capítulo VI da Carta das Nações Unidas, os quais podem incluir, em casos extremos, dependendo do mandato dos mediadores, o isolamento diplomático e a imposição de sanções, adentrando então nas ações coercitivas previstas no capítulo VII da referida Carta. Manutenção da paz (peacekeeping): Trata das atividades levadas a cabo no terreno, com o consentimento das par- tes em conflito, por militares, policiais e civis, para implementar ou monitorar a execução de arranjos relativos ao controle de conflitos (cessar-fogo, separação de forças, etc.) e sua solução (acordos de paz abrangentes ou parciais), em complemento aos esforços políticos realizados para encontrar uma solução pacífica e duradoura para o conflito. Nos anos 90, essas operações passaram a ser utilizadas, mormente, em disputas de natureza interna, caracterizadas, muitas vezes, por uma proliferação de atores ou pela falta de autoridade no local. Nessas circunstâncias, questiona-se o recurso indiscriminado às OP, visto que a situação volátil que enfrentam no terreno exige, cada vez mais, que os integrantes disponham de armas para fazer cumprir o mandato e mesmo para a legítima defesa. a Carta das nações Unidas ou Carta de São Francisco é o acordo, assinado em 1945, após a Segunda Guerra Mun- dial, que gerou a Organização internacional que hoje co- nhecemos como OnU – Or- ganização das nações Unidas. Conheça os detalhes desse acordo lendo o documen- to no link < http://www. oas.org/dil/port/1945%20 C a r t a % 2 0 d a s % 2 0 na%C3%a7%C3%B5es%20 Unidas.pdf> Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 24 Imposição da paz (peace-enforcement): Corresponde às ações adotadas ao abrigo do capítulo VII da Carta, incluindo o uso de Força Armada para manter ou restaurar a paz e a segurança interna- cionais em situações nas quais o Conselho de Segurança das Nações Unidas tenha determinado a existência de uma ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de agressão. Nesses casos, o Conselho tem delegado às coalizões de países ou às organizações regionais e subrregionais a execução, mas não a condução política, do mandato de intervenção. Consolidação da paz (post-conflict peace-building): Refere-se às iniciativas voltadas para o tratamento dos efeitos do conflito, visando fortalecer o processo de reconciliação nacional por meio de implemen- tação de projetos destinados a recompor as estruturas institucionais, recuperar a infraestrutura física e ajudar na retomada da atividade econômica. Essas ações, voltadas basicamente para o desenvolvimento econômico e social do país anfitrião, são empreendidas, preferencialmente, por outros órgãos das Nações Unidas, mas, dependendo das dificuldades no terreno, podem requerer a atuação militar. Saiba mais sobre todas as Mis- sões de Paz da OnU acessando o documento disponível em: <http://www.un.org/en/ peacekeeping/documents/ operationslist.pdf > Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 25 4 SERVIÇO MILITAR NO BRASIL Na página da internet da Diretoria de Serviço Militar do Exército Brasileiro, está pu- blicado o seguinte texto sobre o surgimento do serviço militar obrigatório no Brasil: O Serviço Militar Obrigatório surgiu, no BRASIL, quando o sistema administrativo adotado era o das Capitanias Hereditárias e buscava permitir a defesa contra os ini- migos estrangeiros e índios rebeldes. Assim, em 09 de setembro de 1542, na Câmara de São Vicente, foi pro- mulgado um “Termo”, organizando uma milícia formada por colonos e índios. Em 1574, a “Provisão sobre as Ordenanças”, segundo alguns autores, assinalou o início da regulamentação sobre a prestação do Serviço Militar, pois todo o cidadão, entre quatorze e sessenta anos, era obrigado a servir nas Companhias de Ordenanças. No Império e após a Independência, foi reafirmada a obri- gatoriedade do Serviço Militar, na Constituição de 1824: “Art. 145. Todos os brasileiros são obrigados a pegar em armas para sustentar a independência, a integridade do Império e defendê-lo de seus inimigos.” Após 1880, foi estabelecida norma, que perdura até hoje, na qual a admissão em Serviço Público só poderia ser feita se o cidadão provasse ter cumprido as obrigações militares. OLAVO BILAC, nos anos de 1915 e 1916, desencadeou campanha, pregando a necessidade do Serviço Militar, como preito de amor à Pátria, e o Quartel, como esco- la de civismo. Por essa razão, foi nomeado Patrono do Serviço Militar, sendo a data de seu nascimento – 16 de dezembro – escolhida como o Dia do Reservista. Após leis e decretos editados em 1918, 1920, 1939 e 1946, a Lei do Serviço Militar foi finalmente promulgada em agosto de 1964, entrando em vigor no dia 20 de janeiro de 1966, com a publicação de seu Regulamento. A Constituição Federal de 1988 confirmou a obrigatorie- dade do Serviço. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 26 Apesar de ser obrigatório, o serviço militar é uma grande oportunidade para formar o cidadão brasileiro, pois educa o jovem com valores patrióticos que não são mais tão cultuados nas escolas comuns. Além disso, possibilita a for- mação de profissionais em diversas áreas e dá, para muitos, a oportunidade do primeiro emprego. Atualmente, a voluntariedade para o serviço militar está quase abrangendo a totalidade da necessidade das Forças Armadas, sendo poucos incorporados obrigatoriamente.Manter a obrigatoriedade é uma necessidade indiscutível para a formação da reserva mobilizável, porém, na prática, é como se nem assim o fora, pois a maioria dos jovens desejam passar por essa valorosa experiência. 4.1 BASE LEgAL A base legal do Serviço Militar obrigatório é prevista em texto constitucional que prevê: Art. 143. O Serviço Militar é obrigatório nos termos da lei. § 1º - Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividade de caráter essencialmente militar. § 2º - As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do Serviço Militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. A regra constitucional estabelece a obrigatoriedade do serviço militar, caben- do à [lei infraconstitucional] regular o seu funcionamento. As mulheres e os eclesiásticos foram isentos do serviço militar obrigatório. O Serviço Militar, então, consiste no exercício de atividades específicas de- sempenhadas junto às Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica – e representa uma mobilização relacionada à defesa nacional. A base legal da natureza, obrigatoriedade e duração do Serviço Militar está pautada na Lei do Serviço Militar – Lei nº 4.375/64 e Decreto nº 57.654, de 20 de janeiro de 1966 (Regulamento da Lei do Serviço Militar). em 1916, sob a presidência de Rui Barbosa e com a participa- ção de Olavo Bilac, Pedro Lessa e Miguel Calmon, foi fundada no Rio de Janeiro a Liga de defesa nacional. este grupo, favorável ao apoio brasileiro aos aliados na Primeira Guer- ra Mundial, acreditava que a guerra ajudaria a popularizar a ideia do serviço militar obri- gatório e evidenciar a impor- tância das Forças armadas. Lei infraconstitucional é qualquer lei que não esteja incluída na norma constitu- cional e que esteja disposta, segundo o ordenamento jurí- dico, em um nível inferior à Carta Magna do estado. FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 27 A Portaria nº 2.681 – COSEMI, de 28 de julho de 1992, estabeleceu o regula- mento da Lei de Prestação do Serviço Militar Alternativo ao serviço militar. O artigo 3º da Lei 8.239/91 destaca: (...) § 2° Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, assistencial, filantró- pico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter essencialmente militar. § 3º O Serviço Alternativo será prestado em organizações militares da ativa e em órgãos de formação de reservas das Forças Armadas ou em órgãos subordinados aos Ministérios Civis, mediante convênios entre estes e os Ministérios Militares, desde que haja interesse recíproco e, também, sejam atendidas as aptidões do convocado. § 4º O Serviço Alternativo incluirá o treinamento para atuação em áreas atingidas por desastre, em situação de emergência e estado de calamidade, executado de forma integrada com o órgão federal responsável pela implanta- ção das ações de proteção e defesa civil. 4.2 ALISTAMENTO MILITAR O alistamento militar é obrigatório para todo cidadão brasileiro, do sexo masculino. Quanto ao brasileiro naturalizado ou brasileiro por opção, deverá ser realizado no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data em que receber o certificado de naturalização ou da assinatura do termo de opção. O alistamento militar deve ser realizado na Junta de Serviço Militar mais próxi- ma de seu domicílio nos primeiros seis meses (1º de janeiro ao último dia útil de junho) do ano em que o brasileiro completar 18 (dezoito) anos de idade. Após essa data o brasileiro alistado será encaminhado à seleção geral que será realizada no próximo ano. Algumas exceções à obrigatoriedade do serviço militar, porém, são previstas na própria norma constitucional, como nos casos decorrentes de crença religiosa, convicção filosófica ou políti- ca, quando será previsto o Serviço Alternativo. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 28 O brasileiro que não se alistar no prazo previsto estará em débito com o Servi- ço Militar e classificado na situação de “FORA DO PRAzO”. Caso não esteja em dia com as suas obrigações militares, o cidadão não conseguirá: • Obter passaporte ou prorrogação de sua validade. • Ingressar como funcionário, empregado ou associado em - instituição, empresa ou associação oficial, oficializada ou subvencionada. • Assinar contrato com o Governo Federal, Estadual, dos Territórios ou Municípios. • Prestar exame ou matricular-se em qualquer estabelecimento de ensino. • Obter carteira profissional, registro de diploma de profissões liberais, matrícula ou inscrição para o exercício de qualquer função e licença de indústria e profissão. • Inscrever-se em concurso para provimento de cargo público; exercer, a qualquer título, sem distinção de categoria ou forma de pagamento, qualquer função pública ou cargo público, eletivos ou de nomeação. • Receber qualquer prêmio ou favor do Governo Federal, Estadual, dos Territórios ou Municípios. O brasileiro alistado que não tenha se apresentado durante a época de seleção de sua classe ou que, ao fazê-lo se ausente sem ter completado o alistamento, estará em débito com o Serviço Militar na situação de “Refratário”. Nesta condição, deverá retornar à Junta de Serviço Militar e realizar o paga- mento da multa prevista na legislação vigente para ser encaminhado nova- mente à seleção geral. O brasileiro designado para incorporação que não se apresentar ao quartel que lhe for indicado até às 24h do dia para isso determinado será declarado insubmisso, o que se configura como um crime militar. Aos [insubmissos] serão aplicadas as prescrições e sanções previstas na Lei do Serviço Militar, sem prejuízo do que sobre eles estabelece o Código Penal Militar. Baixa ou licenciamento é o ato de exclusão do militar do serviço ativo de uma Força Armada após o término do Serviço Militar, com sua inclusão na reserva. A Junta de Serviço Militar é um órgão alistador pertencente à estrutura administrativa da Prefeitura Municipal. as dúvidas mais frequentes sobre o Serviço Militar podem ser resolvidas no link a seguir: <http://dsm.dgp.eb.mil.br/ index.php?option=com_cont ent&view=article&id=373&it emid=224> Insubmisso é aquele que não se submete; inde- pendente; rebelde; que age por conta própria. aquele que comete o crime de insubmissão, ou seja, deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, dentro do prazo marcado, ou, apresen- tando-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorpora- ção, conforme o artigo 183 do Código Penal Militar). Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 29 Objetivo específico • Interpretar a inter-relação entre os militares e o sistema eleitoral. a modalidade de emprego das Forças armadas em operações de garantia da lei e da ordem foi definida pelas diretrizes do decreto nº 3897/01. O emprego das Forças Armadas na realização livre dos pleitos eleitorais é uma importante missão de garantia dos poderes constitucionais. Essas operações de segurança foram, particularmente, designadas ao Exército Brasileiro, em pro- veito do aprimoramento de nossa democracia, nas situações em que as forças policiais forem insuficientes, por exemplo. Contudo, a delimitação legal de atuação está amparada na Lei nº 4.737/65 (Código Eleitoral), pela Lei nº 9.504/97 (Normas para as eleições), bem como o parágrafo 7º do artigo 15 da Lei Complementar nº 97/99.Em função desta possibilidade, abordamos aqui alguns tópicos referentes ao tema, os quais não excluem uma leitura acurada da legislação de fundo. As Forças Armadas – e o Exército dentre essas – só serão empregados para ga- rantir as eleições em suas diversas fases, por decisão exclusiva do Presidente da República, por requisição do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para o fiel cum- primento da lei, para o cumprimento das decisões emanadas pelo TSE ou das decisões dos Tribunais Regionais que o solicitarem, além de garantir a votação e a apuração (artigo 23, inciso xIV e artigo 30, inciso xII do Código Eleitoral). INTER-RELAÇÃO ENTRE OS MILITARES E O SISTEMA ELEITORAL5 As atividades das forças federais no período que antecede a votação, quando requisitadas pelo TSE e autorizadas pelo Presidente da República, devem se restringir aos crimes eleito- rais discriminados nas leis e definidos pela autoridade eleitoral local, e não à prevenção e repressão dos crimes comuns. Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 30 A força federal deve permanecer durante a votação a uma distância de pelo menos 100 metros da seção eleitoral e só entrar nela para cumprir as ordens legais por determinação do presidente da mesa receptora ou do juiz eleitoral (artigo 139 ao 141 e 238 do Código Eleitoral - Lei nº 4.737/65). É importante ressalvar ainda que tal proibição só gera efeitos para o período de votação, que ocorre das 8 às 17 horas no dia do pleito. Outro ponto de destaque – considerando a ausência de normas específicas, instruções do TSE ou da doutrina – diz respeito à amplitude de atuação da força federal requisitada. Este tema – o da amplitude de atuação – é fruto de larga indagação nos dias presentes, tendo em vista a estrita observância do Estado de Direito por parte das tropas em atuação. Na falta de norma ou orientação legal ou emanada de autoridade competente, com a necessária antecedência, acreditamos que o comandante de qualquer nível, antes de sua saída do quartel, deve ter absoluta certeza dos detalhes de seu emprego, delimitando-o com a maior precisão pos- sível. E, ao se apresentar à autoridade eleitoral, deve acertar com ela tais limites. O comando do artigo 23, inciso xIV do Código Eleitoral fala em “requisição da força federal para o cumprimento da lei”. Ora, cumprimento da lei é um termo extremamente abrangente e compreende todo o ordenamento jurídico nacio- nal. Por outro lado, a motivação para requisição de força federal, via de regra, tem por pressupostos a tranquilidade do pleito eleitoral, da votação e da apu- ração dos votos; ou porque os organismos policiais são insuficientes ou porque podem, de alguma forma, estar comprometidos politicamente com candidatos ou com forças políticas locais. Entende-se que a atuação dos militares nos pleitos eleitorais é meramente para garantir a realização das eleições, não tendo abrangência ampliativa para crimes de natureza diversa aos crimes eleitorais. Assim, na falta de comando legal expresso, uma boa delimitação da atuação do comandante em qualquer nível na garantia de uma eleição deve estar em sintonia com o juiz eleitoral (autoridade eleitoral local). Isso ajuda a evitar envolver a tropa em situações de exclusiva competência das polícias militares e Saulo Highlight Saulo Highlight FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 31 civis, como, por exemplo, a repressão aos crimes comuns. Essa condição pode, eventualmente, caracterizar uma situação de abuso de poder ou de autorida- de, incorrendo em crime eleitoral. Os crimes eleitorais são aqueles descritos entre os artigos 289 e 354 do Código Eleitoral. Portanto, alguns aspectos devem estar sempre na mente dos militares em situação de polícia eleitoral: • O juiz eleitoral ou o presidente da mesa receptora pode expedir salvo- -conduto para uma pessoa que sofrer coação física ou moral na sua liberdade de votar, ou após ter votado, com validade de 72h antes do pleito, até 48h após o mesmo (Art. 235). • Ninguém poderá ser preso ou detido, a não ser em flagrante delito; ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável; ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto, desde cinco (5) dias antes do pleito e até 48h após o encerramento da eleição (Art. 236). • Os membros das mesas receptoras, os fiscais de partido no exercício de suas atribuições e os candidatos não poderão ser presos, salvo nos casos de flagrante delito, desde 15 (quinze) dias antes da eleição (Art. 236, §1º). • Os partidos podem usar meios de propaganda partidária, cabendo destacar que tais atividades não podem ser feitas a menos de 500m de quartéis ou instalações militares (Art. 244). Recomenda-se a leitura da Lei nº 4.737/65 (Código eleito- ral), particularmente dos ar- tigos 240, 243 e do art. 289 ao 354. FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 33 Objetivo específico • Interpretar os preceitos constitucionais que tratam dos direitos e deve- res dos servidores militares. 6 DIREITO DOS SERVIDORES MILITARES A Emenda Constitucional nº 18/98, que tratou do regime constitucional dos militares, alterou os artigos 42 e 142 da Constituição Federal de 1988, passan- do a tratar os integrantes das Forças Armadas como militares e os policiais e bombeiros militares, como militares dos Estados e Distrito Federal, excluindo- -os da categoria dos servidores públicos. Vejamos o que dispõe o artigo 3º do Estatuto dos Militares: Art. 3° Os membros das Forças Armadas, em razão de sua destinação constitucional, formam uma categoria especial de servidores da Pátria e são denominados militares (grifo nosso). Os militares são servidores especiais da federação, o que impõe, por motivo das características da instituição, um tratamento diferenciado em relação aos demais servidores civis do Estado. O artigo Especificidades Constitu- cionais dos Militares, de Maurício Vieira, explica as diferencia- ções em relação aos demais servidores. disponível em: <http://www.jusmilitaris. com.br/uploads/docs/espe- cificmauricio.pdf> A legislação dos servidores públicos civis não se confunde com a dos servidores públicos militares, posto que os militares são tratados, pela Constituição, como classe especial de servidores do Estado. Entre as principais diferenças expostas na Carta Constitucional podemos desta- car alguns aspectos já analisados e discutidos pelo Supremo Tribunal Federal: 1. Não cabimento de habeas-corpus em relação a punições discipli- nares militares – situação que se refere tão somente ao mérito ad- ministrativo nas punições de transgressões disciplinares, sendo cabível, Saulo Highlight Saulo Highlight Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 34 porém, o remédio constitucional nos casos de ilegalidade no rito proces- sual. Assim foi decidido no STF: “A legalidade da imposição de punição constritiva da liberdade, em procedimento administrativo castrense, pode ser discutida por meio de habeas corpus.” Precedentes. ([RHC] 88.543, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 3-4-2007, Pri- meira Turma, DJ de 27-4-2007). 2. Proibição de sindicalização e a greve - Assim foi decidido no STF: “Os servidores públicos são, seguramente, titulares do direito de greve. Essa é a regra. Ocorre, contudo, que entre os serviços públicos há alguns que a coesão social impõe sejam prestados plenamente, em sua totali- dade. Atividades das quais dependam a manutenção da ordem pública e a segurança pública, a administração da Justiça – onde as carreiras de Estado, cujos membros exercem atividades indelegáveis,inclusive as de exação tributária – e a saúde pública não estão inseridos no elenco dos servidores alcançados por esse direito. Serviços públicos desenvolvidos por grupos armados: as atividades desenvolvidas pela polícia civil são análogas, para esse efeito, às dos militares, em relação aos quais a Cons- tituição expressamente proíbe a greve (art.142, § 3º, IV).” (Rcl 6.568, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 21-5-2009, Plenário, DJE de 25-9-2009). 3. Proibição de filiação político-partidária, enquanto em serviço ativo – Tal impedimento constitucional não veda a elegibilidade dos militares da ativa, situação que cria uma excepcionalidade à exigência de filiação partidária. Assim foi decidido no STF: “Se o militar da ativa é alistável, é ele elegível (CF, art. 14, § 8º). Porque não pode ele filiar-se a partido político (CF, art. 42, § 6º), a filiação partidária não lhe é exigível como condição de elegibilidade, certo que somente a partir do registro da candidatura é que será agregado (CF, art. 14, § 8º, II; Cód. Eleitoral, art. 5º, parágrafo único; Lei 6.880, de 1980, art. 82, xIV, § 4º)”. (AI 135.452, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 20-9-1990, Plenário, DJ de 14-6-1991). 4. Restrição a direitos trabalhistas – Os militares não são alcançados por todos os direitos trabalhistas elencados nos artigo 7º e 37 da Carta Magna, sendo garantidos apenas o 13º salário, salário-família, férias, licença à gestante, licença-paternidade, assistência gratuita aos filhos até 5 anos, remuneração e irredutibilidade. RHC: Recurso Ordiná- rio em Habeas Corpus Conheça outras decisões do Supremo Tribunal Federal e as diferenças constitucionais em relação aos militares no portal do STF: <http://www.stf.jus. br/portal/constituicao/arti- gobd.asp?item=%201342> Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight Saulo Highlight FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 35 A Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, que instituiu o Estatuto dos Militares é a lei que regula a situação, obrigações, deveres, direitos e prerro- gativas dos membros das Forças Armadas. Esse estatuto define que os militares se encontram em uma das seguintes situ- ações: na ativa e na inatividade. Militares na ativa: Encontram-se na ativa os militares de carreira: • Incorporados para prestação do serviço militar inicial; • Que prorrogam o serviço militar inicial (cabos e soldados do efetivo profissional); • Componentes da reserva das Forças Armadas quando convocados, rein- cluídos, designados ou mobilizados; • Alunos de órgão de formação de militares da ativa e da reserva; • Em tempo de guerra, todo cidadão brasileiro mobilizado para o serviço ativo nas Forças Armadas (artigo 3º,§ 1º, “a”,I a V). Militares na inatividade: • Da reserva remunerada, quando pertençam à reserva das Forças Arma- das e percebam remuneração da União, porém sujeitos, ainda, à presta- ção de serviço na ativa, mediante convocação ou mobilização; • Os reformados, quando, tendo passado por uma das situações ante- riores estejam dispensados, definitivamente, da prestação de serviço na ativa, mas continuem a perceber remuneração da União; • Da reserva remunerada, e, excepcionalmente, os reformados, executando tarefa por tempo certo (PTTC), isto é, os prestadores de tarefa por tempo certo, segundo regulamentação para cada Força Armada (artigo 3º, § 1º, “b”, I a III). acesse o estatuto dos Militares. Lei nº 6.880, de 9 de dezem- bro de 1980 em: <http:// www2.camara. leg.br/le- gin/fed/lei/1980-1987/ lei-6880-9-dezembro-1980- -356681-normaatualizada-pl. pdf > FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 37 Objetivo específico • Conhecer o sistema previdenciário dos militares. O portal oficial do Exército Brasileiro na web publica informações importantes sobre as características legais da pensão militar que exigem um destaque. É, portanto, importante transcrever e comentar alguns aspectos: É a importância paga, mensalmente, aos beneficiários do militar falecido ou assim considerado, nos termos da Lei. ( ...) Mesmo quando na inatividade, o militar permanece vin- culado à sua profissão. ( ...) O que se observa, quanto a essa discussão, na maioria das vezes, é um verdadeiro exercício de ficção e de total desconhecimento do assunto, que se tomam evidentes até mesmo no emprego de conceitos básicos. Assim, com muita frequência, constata-se a referência ao regime previdenciário dos militares. Ora, os militares federais nunca tiveram e não têm um regime previdenciário estatuído, seja em nível constitucional, seja no nível da legislação ordinária. ( ...) As condições de transferência do militar para a inativi- dade e de percepção de pensões estão estabelecidas no Estatuto dos Militares (Lei n° 6.880, de 9 de dezembro de 1980), na Lei de Remuneração dos Militares (Medida Provisória n° 2.215-10, de 31 de agosto de 2001) e na Lei de Pensões (Lei n° 3.765 de 4 de maio de 1960). SISTEMA PREVIDENCIáRIO DOS MILITARES7 Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 38 Em todos esses diplomas legais e na própria Constituição Federal, como já foi dito, nunca houve e não há qual- quer referência a sistema ou a regime previdenci- ário dos militares federais. Portanto, não há regime previdenciário dos militares e, logicamente, não há o que referir a equilíbrio atual do regime previdenciário dos militares federais, porque ele não existe e por essa razão, quase que ontológica, porque não existe, não pode ser predicado e, conseqüentemente, não pode ser contri- butivo, nem de repartição. A remuneração dos militares na inatividade, dos reformados e os da reserva, é total e integralmente custeada pelo Tesouro Nacional. Percebe-se, pelo texto transcrito, que não existe sistema previdenciário militar, posto que a remuneração dos militares ativos, inativos e reformados são custe- ados pelo Tesouro Nacional. O dinheiro recolhido mensalmente dos militares destina-se à pensão militar dos descendentes do militar após a sua morte, conforme previsto no artigo 71 do Estatuto dos Militares. A remuneração dos militares está estabelecida em legislação específica, comum às Forças Armadas (artigo 53, caput, do Estatuto dos Militares). A referida legis- lação é a Medida Provisória nº 2.215-10, de 31 de agosto de 2001, que dispõe sobre a reestruturação da remuneração dos militares das Forças Armadas. A pensão militar destina-se a amparar os beneficiários do militar falecido ou extraviado e será paga conforme o disposto na Lei 3.765/60 (artigo 7º, caput, do Estatuto dos Militares), que dispõe sobre as pensões militares. Todos os militares das Forças Armadas são contribuintes obrigatórios da pen- são militar, mediante desconto mensal em folha de pagamento. São excluídos dessa obrigação: • O aspirante da Marinha; • O cadete do Exército e da Aeronáutica; • Os alunos das escolas, centros ou núcleos de formação de oficiais e de praças e das escolas preparatórias e congêneres; • Cabos, soldados, marinheiros e taifeiros, com menos de dois anos de efetivo serviço. A contribuição para a pensão militar incidirá sobre as parcelas que compõem os proventos na inatividade e terá alíquota de sete e meio por cento. FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 39 A pensão militar é deferida em processo de habilitação, tomando-se por base a declaração de beneficiários preenchida em vida pelo contribuinte, na ordem de prioridade e condições a seguir: I - Primeira ordem de prioridade: • Cônjuge; companheiro ou companheira designada ou que comprove união estável como entidade familiar; • Pessoa desquitada,separada judicialmente, divorciada do instituidor ou a ex-convivente, desde que percebam pensão alimentícia; • Filhos ou enteados até vinte e um anos de idade ou até vinte e quatro anos de idade, se estudantes universitários ou, se inválidos, enquanto durar a invalidez; e menor sob guarda ou tutela até vinte e um anos de idade ou, se estudante universitário, até vinte e quatro anos de idade ou, se inválido, enquanto durar a invalidez. II - Segunda ordem de prioridade: • Mãe e o pai que comprovem dependência econômica do militar. III - Terceira ordem de prioridade: • Irmão órfão, até vinte e um anos de idade ou, se estudante universi- tário, até vinte e quatro anos de idade, e o inválido, enquanto durar a invalidez, comprovada a dependência econômica do militar; a pessoa designada, até vinte e um anos de idade, se inválida, enquanto durar a invalidez, ou maior de sessenta anos de idade, que vivam na dependên- cia econômica do militar. A pensão militar será igual ao valor da remuneração ou dos proventos do militar, salvo exceções previstas na própria legislação. O entendimento de Direito Constitucional Militar, no que tange às diversas atuações legais, constitui a base geral mínima para a imersão em assuntos de caráter mais técnicos. Na próxima unidade desta disciplina será estudado o Direito Disciplinar Militar. Serão abordados temas relacionados à hierarquia e disciplina, ilícitos e sanções disciplinares, Conselho de Justificação e de Disci- plina, defesa de direitos em processos disciplinares, controle judicial e Regula- mento Disciplinar do Exército. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 40 FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 41 8 BIBLIOgRAFIA REFERêNCIAS BIBLIOgRáFICAS ACADEMIA MILITAR DAS AGULHAS NEGRAS. Cadeira de Direito. Ética Profis- sional Militar. Legislação Nacional. Resende: Acadêmica 2013. (apostila). BONAVIDES Paulo; MIRANDA Jorge; AGRA, Walber de Moura. Comentários à Constituição Federal de 1988. 1ª ed, Rio de Janeiro: Forense, 2009. BRASIL. Lei Nº 4.375, de 17 de agosto de 1964. Lei do Serviço Militar. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4375.htm>. Acesso em: 17 jun 2013. __________. Lei Nº 4.737, de 15 de julho de 1965. Institui o Código Elei- toral. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4737.htm>. Acesso em: 17 jun 2013. __________. Decreto Nº 57.654, de 20 de janeiro de 1966. Regulamenta a lei do Serviço Militar. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/d57654.htm>. Acesso em: 20 jun 2013. __________. DECRETO-LEI Nº 1.001, DE 21 DE OUTUBRO DE 1969. Códi- go Penal Militar. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- -lei/del1001.htm>. Acesso em: 20 jun 2013. __________. LEI Nº 6.880, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1980. Dispõe sobre o Estatuto dos Militares e dá outras providências. Disponível em: <http:// www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1980-1987/lei-6880-9-dezembro-1980- -356681-normaatualizada-pl.pdf>. Acesso em: 20 jun 2013. __________. Constituição Federal de 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado; 1988. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 3 jun 2013. __________. Portaria Nº 2.681 - COSEMI, de 28 de julho de 1992. Re- gulamenta a lei de prestação do serviço alternativo. Disponível em: <http:// www.2csm.eb.mil.br/servmil/leg_relacionada/07_rlpsasmo.pdf>. Acesso em: 20 de jul 2013. Curso de Habilitação ao Quadro auxiliar de ofiCiais 42 __________. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 18, de 5 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre o regime constitucional dos militares. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc18. htm>. Acesso em: 20 jun 2013. _________. Lei Complementar Nº 97, de 9 de junho de 1999. Dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/Lcp97. htm>. Acesso em: 3 jun 2013. __________. DECRETO Nº 3.897, DE 24 DE AGOSTO 2001. Fixa as diretri- zes para o emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/2001/d3897.htm>. Acesso em: 20 jun 2013. __________. Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002 - Regulamento Disciplinar do Exército (R-4). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/decreto/2002/D4346.htm>. Acesso em: 3 jun 2013. __________. Decreto nº 4.411, de 7 de outubro de 2002. Dispõe sobre a atuação das Forças Armadas e da Polícia Federal nas unidades de conservação e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/decreto/2002/D4411.htm>. Acesso em: 17 jun 2013. __________. Decreto n° 4.412, de 7 de outubro de 2002. Dispõe sobre a atuação das Forças Armadas e da Polícia Federal nas terras indígenas e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/de- creto/2002/D4412.htm>. Acesso em: 17 jun 2013. __________. Portaria nº 61, de 16 de fevereiro de 2005. Aprova a Diretriz Estratégica para Atuação na Faixa de Fronteira contra Delitos Transfronteiriços e Ambientais, integrante das Diretrizes Estratégicas do Exército (SIPLEx-5), e dá outras providências. Disponível em: <http://www.sgex.eb.mil.br/be_ostensivo/ BE2005/be2005pdf/be07-05.pdf>. Acesso em: 17 jun 2013. BRUTUS, Angelo Bello; ARRUDA, João Rodrigues. Direito Constitucional Militar. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/47775576/-DIREITO-CONS- TITUCIONAL-MILITAR>. Acesso em: 3 jun 2013. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 20 ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1998. FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - U1 43 ExÉRCITO BRASILEIRO. A Pensão Militar. Disponível em: <http://www.exerci- to.gov.br/web/guest/a-pensao-militar>. Acesso em: 3 jun 2013. MOTTA, Sylvio; DOUGLAS, William. Direito Constitucional: teoria e 800 ques- tões, 6ª ed. rev. Ampl. e atual. até EC nº 24/99, Rio de Janeiro: Impetus, 2000. MINISTÉRIO DA DEFESA. Manual de Operações de Paz. Disponível em: <https://www.defesa.gov.br/arquivos/File/legislacao/emcfa/publicacoes/ md34_m_02_mnl_op_paz_2aed2007.pdf>. Acesso em: 24 jun 2013. BIBLIOgRAFIA COMPLEMENTAR FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. 1ª edição. São Paulo: Saraiva, 1988. HESSE, Konrad. A Força Normativa da Constituição. 1ª edição. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1991. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 1ª edi- ção. São Paulo: Malheiros, 1992. CCEAD – COORDENAçãO CENTRAL DE EDUCAçãO A DISTâNCIA Coordenação Geral Gilda Helena Bernardino de Campos Coordenação de Avaliação e Acompanhamento Gianna Oliveira Bogossian Roque Coordenação de Criação e Desenvolvimento Claudio Perpetuo Coordenação de Design Didático Sergio Botelho do Amaral Coordenação de Material Didático Stella Maria Peixoto de Azevedo Pedrosa Coordenação de Tecnologia da Informação Renato Araujo Gerente de Projetos José Ricardo Basílio Equipe CCEAD Alessandra Muylaert Archer Alexander Arturo Mera Ana Luiza Portes Angela de Araújo Souza Camila Welikson Ciléia Fiorotti Clara Ishikawa Eduardo Felipe dos Santos Pereira Eduardo Quental Frieda Marti Gabriel Bezerra Neves Gleilcelene Neri de Brito Igor de Oliveira Martins Joel dos Santos Furtado Luiza Serpa Luiz Claudio Galvão de Andrade Luiz Guilherme Roland Maria Letícia Correia Meliga Neide Gutman Romulo Freitas Ronnald Machado Simone Bernardo de Castro Tito Ricardo de Almeida Tortori VivianneElguezabal Natureza jurídica das Forças Armadas Missão Constitucional Serviço Militar Os servidores militares em face da Constituição Sistema previdenciário dos militares
Compartilhar