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12 Membranas Biológicas Leitura Preliminar - A Célula A - A Célula A célula, em conceito muito amplo, pode ser considerada como: 1. A unidade fundamental dos seres vivos. 2. A menor estrutura biológica capaz de ter vida autônoma. As células existem como seres unicelulares, ou fazendo parte de seres mais complexos, os pluri- celulares. Com relação à suficiência de alimentação, os seres vivos, e também suas células constituintes, se dividem em duas grandes classes: 1. Autótrofos — (auto, por si mesmo; trophos, nutrição). Aqueles que sintetizam todos os componentes moleculares que precisam para viver. 2. Heterótrofos, - (heteros, diferente; tro- phos, nutrição). Aqueles que necessitam re- ceber algumas moléculas (ou precursores), de outros seres vivos, ou de outras fontes. As algas verdes sâ~o um exemplo clássico de autótrofos e a Entamoeba coli, de heterótrofo. A Euglena viridis, em presença de luz é autotrófica, em ausência, heterotrófica. Os vírus não sã~o célu- las, e utilizam parte da maquinaria de células hos- pedeiras para se reproduzirem. As células, tanto de seres vivos uni, como plu- ricelulares, são classificadas em três tipos gerais, de acordo com o refinamento estrutural: 1. Procariócitos - As mais rudimentares, sem membrana nuclear. 2. Eucariócitos - As mais sofisticadas, com membrana nuclear. 3. Fotossintéticas - Desenvolvimento inter- mediário entre as precedentes. Utilizam Energia Radiante para sintetizar bíomo- léculas. Quadro 12.1 Estruturas Celulares Procariócitos Parede celular Membrana citoplasmática Núcleo indefinido Ribossomos Citosol Grânulos de depósitos Eucariócitos Parede celular Membrana citoplasmática Núcleo definido Ribossomos Retículo endoplasmático Mitocôndrías Lisossomos Peroxissomos Complexo de Golgi Fotossintéticas Parede celular Membrana citoplasmática Núcleo definido Ribossomos Retículo endoplasmático Mitocôndrías Cloroplastos Vacúolos Quadro 12.2 Composição e Propriedades de Estruturas Celulares Procariócítos Eucariócitos Fotossintéticas Parede Celular Polissacarídeos ligados a polipeptídeos. Lipopolissa- carídeos. Protege a célula contra meios hipotônicos. Confere antigenicidade es- pécie-específica. Mucopolissacárides ácidos, glicolípides, glicoproteí- nas. Tem propriedades li- gantes com outras células. Tem compatibilidade e es- pecificidade célula-seme- Ihante. Fibras de celulose coladas com polissacarídeos e pro- teínas. Resistência osmótica e me- cânica. Membrana Citoplasmática Dupla camada lipídica ap. (45%) e proteínas (55%). É altamente hidrofóbica, seletivamente permeável, possui poros, transformam energia em ATP. Similar à anterior, com mais diversificação de lípi- des e prótides. Altamente hidrofóbica, seletivamente permeável tem sisiema para transporte ativo de íons, e diversas enzimas encravadas na dupla camada lipídica, que exercem vá- rias funções. Similar à procariocítica. Hidrofóbica, seletivamente permeável, tem transporte ativo de íons. Algumas en- zimas encravadas. Núcleo Limites não definidos, sem membrana nuclear. DNA possui informações genéti- cas para RNA. Núcleo tem membrana nu- clear. DNA é combinado a formando cromossomos. O nucléolo possui RNA. Na replicaçSo, DNA se auto- replica. Semelhante a eucariócito. Ribossomos Dímero de 508 + SOS. Sí- tio da síntese de proteí- nas. RNA m se fixa entre as duas unidades. Maiores e mais numerosos que nos procariócitos. Maioria ligada ao retículo endoplasmático, e o resto livre no citoplasma. Sínte- se de proteínas nos dois sí- tios. Semelhante a eucariócito. Retículo Endoplasmático Membrana única forma cis- ternas que se intercomuni- cam através de todo o cito- plasma, e se abrem para o exterior da célula. Sítio de localização dos ribosso- mos, que sintetizam pro- teínas para o interior das cisternas. Semelhante a eucariócito. Demais Estruturas As mitocôndrias sã"o as usinas de energia das células eucariócitas e fotossintéticas, produ- zindo ATP através da oxidaçüo de alimentos. Os cloroplastos convertem energia eletro- magnética em energia "química" (ATP, energia elétrica potencial). Os lissossomos contêm enzimas hidrolíticas, e servem como digestores napinocitose (peinos, fome; citos, célula), que é a penetração de partículas na célula através de rearranjos na membrana citoplasmáti- ca. Os peroxissomas, contêm enzima oxidativa e produzem Oi e HzO. O aparelho de Golgi excreta proteínas para o exterior da célula. Os vacúolos contêm vários subprodutos das funções celulares vegetais, e os granidos de depósito armazenam combustível nas célu- las procariócitas. 200 Os procariócitos sa"o as menores células conhe- cidas, e compreendem as ricketsías, espiroquetas, certas algas e as eubactérias entre outras. Os euca- riócitos sa~o muito menores, e compreendem os fungos, protozoários, algas superiores, e as célu- las dos seres superiores, tanto vegetais, como ani- mais. As fotossintéticas sâ~o células vegetais, em sua maioria, e produzem glicose e amido, utilizando energia radiante. Todos os três tipos possuem membrana cito- plasmática, que envolve o citoplasma, e parede ce- lular, que envolve a membrana. Um resumo das estruturas componentes dessas células está no Quadro I. B — Membranas Biológicas ^ 1. Conceito de Compartimentação No espaço sem barreiras, as trocas de Energia e Matéria se fazem livremente (Fig. 12.1 A). A pre- sença de uma barreira qualquer (peneira, papel de filtro, papel celofane), seleciona o trânsito pelo tamanho dos transeuntes (Fig. 12.1 B), mas pode haver passagem livre pelos lados. Se, porém, parte do espaço é completamente envolvido pela bar- reira (Fig. 12.1 C), aparecem dois compartimentos. Nesse caso, as trocas se fazem obrigatoriamente através da barreira. Um tubo de diálise, uma célu- la, um bala"o de borracha, etc, sSo estruturas que apresentam compartimentaçSo. A compartimentaçao é o estabelecimento de duas regiões no espaço, separadas fisicamente por uma barreira, e funcionalmente por um trânsito se- letivo. A importância desse sistema para o apare- cimento de seres vivos, na"o deve ser minimizada: Sem compartimentaçao, nâ"o há seres vivos. A estrutura fundamental para compartimentaçffo, nos seres vivos, é a membrana biológica. 2. Membranas Biológicas São estruturas altamente diferenciadas, desti- nadas a uma compartimentaçío única, na nature- za. Elas sa"o capazes de selecionar, por mecanismos de transporte Ativos e Passivos, os ingredientes que devem passar, tanto para dentro, como para fora. As membranas biológicas estabelecem um gra- diente entrópico entre interior (Entropia baixa), e o exterior (Entropia alta), e consegue manter o in- terior em Estado Estacionárío (Veja Termodinâ- mica). Estrutura da Membrana Biológica A evolução do conceito estrutural da membra- na citoplasmática pode ser sumarizada em três modelos principais: 1. Membrana Paucimolecular de Davson e Danielli (Fig. 12.2 A) - O método supõe a existência de poucas (pauci) espécies de moléculas. Seria uma dupla camada lipídi- ca, com as extremidades hidrofóbicas vol- tadas para dentro da membrana, e proteí- nas globulares adjacentes aos terminais hidrofílicos do lípide. 2. Membrana Unitária de Robertson (Fig. 12.2 B) — Similar à anterior, com a pro- teína esticada, e cada cadeia polipeptí- dica associada aos lípides, formando uma unidade estrutural. 3. Modelo do Mosaico Fluido — Sugerido por Singer e Nicholson (Fig. 12.2, C e D), onde as proteínas da membrana estã"o engastadas na camada lipídica, do lado interno, do lado externo, ou atravessando completa- mente a membrana. Existe uma grande va- riedade de proteínas membranais. A fluidez está condicionada ao tipo de ligações inter- COMPARTIMENTO 1 COM PARTI MENTO 2 Fig. 12.1 - Espaço e Compartimentação(ver texto). 201 EXT EXT EXT oooooi n ni 1 1 1 1 ooooo /S," mmn INT EXT o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o/—vo o o o o o o k -J o o0 INT MT Fig. 12.2 - Modelos de Membranas Biológicas. A - Davson-Danielli; B - Robenson; C e D - Singer e Nicolson (ver texto). moleculares na membrana (veja a seguir). O termo mosaico se deve ao aspecto da mem- brana na microscopia eletrônica. Atualmente, o modelo do mosaico fluido é o mais aceito, por encontrar apoio em várias evidên- cias experimentais. Nenhum modelo de membrana está pronto, e a evolução das pesquisas irá melho- rar o conhecimento atual. Dimensão da Membrana A espessura é d e 7 a 9 n m ( 1 0 ~ 9 m). Diâme- tros celulares vão de IO3 a 2 x 104nm (exceto os ovos de aves), o que'dá áreas e volumes variáveis. Uma célula de 1.000 nm tem área de 3 x 106nm2 (3 x IO"8 cm2) e volume de 5 x 10* nm3 (5 x IO"13 cm3). Esses espaços saio determinados pela membrana. Ligações na Membrana Esse é um aspecto importante com relação à estrutura: A membrana não é uma estrutura covalente. As forças que mantém as biomoléculas na membrana, são coulômbicas, hidrofóbicas, pon- tes H, etc. (ver Moléculas e Biomoléculas). C - A Membrana Morfofuncional - Modelos O estudo das funções da membrana, do ponto de vista biofísico, pode simplificar bastante o seu complexo funcionamento. Para efeito didático, a membrana pode ser considerada como tendo 4 es- truturas básicas (Quadro 12.3). Não cabe neste texto discutir a existência au- tônoma e individual desses componentes, mas sim de apresentá-los como explicação dos fenômenos observados na membrana. Quadro 12.3 Estruturas Básicas da Membrana Poros ou canais São passagens que per- mitem a comunicação entre o lado externo e o interno da célula. Os ca- nais podem ser olhados como uma "falha" na continuidade da mem- brana. Zonas de Difusão Fa- cilitada (ZDF) São regiões que pos- suem moléculas de uma determinada espécie química, em alta con- centração. Daí, molé- culas afins se difundem com mais facilidade através dessas zonas. Receptores Operadores São sítios capazes de re- ceber moléculas especí- ficas. Com a ligação dessas moléculas, uma mensagem é transmiti- da, e a célula aciona mecanismos de abertura ou fechamento de po- ros, entrada ou saída de substâncias, etc. Os receptores, freqüente- mente estão associados aos operadores. São maquinismos capa- zes de transportar subs- tâncias através da mem- brana, do interior para o exterior, e vice-versa. sem dos. rr. .e : 202 REPULSÃO (ÒNW PASSAGEM ÍON0 REPULSÃO ÍONQ PASSAGEM ÍON0 Fig. 12.3 - Representação esquematica de canais (ver texto). E - Lado Externo; I - Lado Interno. l. Poros ou Canais Os canais (Fig. 12.3) podem possuir carga po- sitiva, negativa, ou serem destituídos de carga elé- trica. A carga se origina de grupos laterais de pro- teínas, como COO~ e NH*, e possivelmente de ou- tros grupos. Pode haver grupamentos de afinidade específica, para íons ou outras moléculas. A natureza da carga seleciona os íons: Canais positivos, repelem cátions (+) deixam passar anions (-) (Fig. 12.3 A). Canais negativos, repelem anions (—) deixam passar cátions (+) (Fig. 12.3 B). Há canais sofisticados que possuem, além da barreira da carga, um ou dois portões que se abrem sob comando (Fig. 12.3 B). O canal de Na+ é desse tipo. O portío fica fechado durante o potencial de repouso e se abre durante o potencial de açío (V. adiante). Apesar do mecanismo do portío ser acio- nado ativamente, o trânsito é ainda passivo nesses canais. Nos canais com carga, nío passam substâncias sem carga, porque esses canais estío sempre ocupa- dos. Há também poros sem carga (Fig. 12.3 C). Os canais sem carga nío devem ser considerados como um orifício, ou conduto, permanentemente aberto, e sim como uma flutuação mecânica de moléculas vicinais. Essas moléculas se afastam pela 0,38 0,66 0, n m AN10NS CÁTIONS 0, nm Cl 0,35 0,40 presslo das substâncias que possuem passe livre através da membrana. Diâmetro dos Canais x Volume dos Transeuntes Além da carga, o diâmetro dos canais selecio- na os passantes conforme o volume dós íons. A escala de volume hidratado desses íons (V. Água e Soluções), está representado na Fig. 12.4. O Cl~ entra e sai com facilidade. O íon K+ é menos permeável que o CT~, mas cerca de 200 ve- zes mais permeável que o Na+. Os anions HCO^ e fosfato sío muito pouco permeáveis. O Ca2 * tem comportamento especial. Existem canais específicos para os íons Na + e Ca2 +. O canal de Na+ participa do potencial de açâ"o (V. adiante). Ao passar pelos poros, os íons transitam anidros, sem conduzir água. Concentração dos íons e Direção do Transporte O trânsito, nos canais, é passivo, e se faz de acordo com o gradiente de concentração: (V. Os- mose). "Sempre do lado mais concentrado, para o menos concentrado" (Fig. 12.5). 0,82 1,03 0,59 1.00 Fig. 12.4 — Tamanho aproximado de íons hidratados, (ver texto) 9 — Diâmetro. 203 Fig. 12.5 - Concentração de íons e direção do trânsito. E - Externo;M - Membrana; I - Interno; -* - Trânsito. -O rr X X X X X X < x x K X X MOLÉCULAS •* ^X AFINS Fig. 12.6 - Difusão facilitada. As moléculas são quimica- mente afins às moléculas x. 2. Zonas de Difusão Facilitada São regiões que possuem alta concentração de moléculas da mesma espécie química. Nesses lo- cais, a passagem de moléculas de composição seme- lhante, por esse motivo, é facilitada (Fig. 12.6), e se abreviam ZDF. Uma região dessas para lípides, tem alta con- centraçSo de moléculas lipídicas (como lipopro- teínas), uma ZDF para polissacárides tem alta concentração de glicoproteínas, etc. Mal compa- rando, a ZDF funciona pelo princípio do coefi- ciente de partilha (V. Cromatografia), as molé- culas afins se "dissolvem" nas afins, e passam pela membrana. A velocidade de difusão na ZDF segue cinética do tipo enzimático. Michaelis-Menten (V. LC-12.1,item4). Acredita-se que as ZDF sejam importantes trajetos para participantes de processos imunoló- gicos das células, permeando antígenos e anticor- pos. Hormônios esteróides também transitam atra- vés de ZDF. 3. Receptores S3o sítios que possuem estrutura adequada à ligaçffo de certas moléculas que, ao se ligarem des- lancham uma série de processos celulares. As men- sagens podem ser dirigidas a poros (canais) ou a operadores, e a ordem é executada (Fig. 12.7). O receptor da insulina, ao receber essa molécula, ini- cia o processo de absorçío da glicose pela célula, além de outros processos fisiológicos. Existem receptores na membrana e no citosol. Os da membrana sa"o para insulina, glucagon, hor- mônios protéicos, adrenalina, acetilcolina, etc. Os do citosol, em geral, reconhecem hormônios lipí- dicos (esteróides) que atravessam facilmente a membrana, como os andrógenos, estrógenos e cor- ticosteróides. A Calmodulina, que é um receptor ADENILCICLASE MENSAGEIRO ATP Fig. 12.7 - Receptor. E — Lado externo;M — Membrana; I - Laao interno; M — Mensageko. 204 A B Fig. 12.8 - Receptor acoplado a um canal M mensageiro. A - Receptor sem mensageiro, canal aberto; B - Re- ceptor com mensageiro, canal fechado, de Ca+, localizado no citosol, é uma proteína de baixo peso molecular. Funcionamento do Receptor sódio, bloqueando o potencial de açâ"o (v. adian- te). O segundo mensageiro do receptor de acetil- colina pode ser o cGMP, com a guanilciclase como enzima. Nas sinapses, não há necessidade do 29 mensageiro. Está representado na Fig. 12.7. A molécula mensageira M se acopla ao receptor, que muda sua conformação. A adenilciclase, recebe energia da hidrólise de um ATP, e sintetiza o cAMP, que é o segundo mensageiro, já no citosol. Além dessa execução de tarefas, cabe aos re-ceptores parte importante na regulação da ativi- dade celular. Essa atividade reguladora, segundo hipótese mais em voga, se deve ao jogo dos nucleo- sídeos cíclicos, cAMP e cGMP, que geralmente sâ~o antagônicos: onde um estimula, o outro inibe. É a teoria do Ying-Yang: Não há bom, nem mau agen- te. Ora um é "bom", ora é "mau". Pode-se imaginar muitos tipos de modo de fun- cionar para receptores. Na Figura 12.8 está repre- sentado um receptor que controlaria a passagem através do canal de sódio. O mensageiro, tendo car- ga elétrica (+), atrairia as cargas negativas do canal, obstruindo o trânsito. Não é necessário imaginar que esse mecanismo ocorra somente através de car- gas. Mudanças conformacionais das moléculas teriam efeitos semelhantes. O receptor da insulina já está bem purificado. Sabe-se que sua massa é cerca de 3 x IO5 dáltons, possui carbohidratos e grupos SH (sulfídrila). Há substâncias que ocupam os receptores, im- pedindo o acesso do mensageiro. Exemplo clássico é o da atropina, que se liga aos receptores musca- rínicos da acetilcolina, e bloqueia o efeito da ace- tilcolina. A tetradotoxina é capaz de obstruir me- canicamente, por impedimento estéreo, o canal de 4. Operadores Sã"o mecanismos capazes de realizar transpor- te Ativo, isto é, contra gradientes de concentra- ção, elétrico, ou ambos. (V. Introdução, Trabalho nos Campos). 'Os operadores utilizam ATP como fonte de Energia. Uma figuração idealizada de um operador, está na Figura 12.9. O princípio opera- cional é simples: a molécula a ser transportada (Fig. 12.9 A) se encaixa no operador, que muda sua conformação, segurando-a (Fig. 12.9 B). Uma molécula de ATP se encaixa na fenda que resultou da mudança de conformação do operador, é hidro- lizada, e libera energia para outra mudança maior, com realização de Trabalho, que é o transporte para dentro da molécula desejada (Fig. 12.9 C). O operador volta ao estado original (Fig. 12.9 A). O sentido normal do trânsito é unidirecional: operadores que introduzem substâncias na célula, não são os mesmos que excretam essas mesmas substâncias. Existe sempre uma molécula de ATPase en- volvida no processo. Bastante conhecida é a Na"1— K+—Mg2 + ATPase, conhecida como sódio- potássio:ATPase, que participa de um operador muito importante, que é a bomba de sódio. O estudo da membrana é hoje um dos capí- tulos mais ativos da Biologia, havendo especialis- tas que se denominam, com convicção, membra- nologistas. Há livros e periódicos somente sobre este assunto, a membranologia. 205 VOLTA AO ESTADO INICIAL Fig. 12.9 - Representação de um operador (ver texto). Membranas e Transporte — LC-12.1 D - Tópicos Específicos 1. Ciclo >-glutamílico Segundo Meister e cols. aminoácidos podem ser transportados para o interior da célula, através de combinação com o radical 7-glutamil da gluta- tiona (7-glutarnil-cisteinil-glicina). Esse tripéptide se encontra livre em tecidos animais, em concen- tração d e 5 a 8 x l O ~ 3 M . O •y-glutamil-aminoáci- do seria hidrolizado no interior da célula, e libera- ria o aminoácido. Se confirmada, essa hipótese atribuiria um papel específico para a glutationa, em sistemas biológicos. 2.OÍonCa2 + 9 No transporte transmembrana de Ca2 +, fun- ciona uma Ca2 + ATPase. Esse processo é especial- mente acentuado na membrana do retículo sarco- plasmático, onde há um processo ativo de trans- porte de Ca2 + para o interior do retículo. O íon Mg2 + é um cofator para o funcionamento da Ca2 + ATPase. A despolarização da membrana do retí- culo sarcoplasmático liberta o cálcio e dispara a concentração muscular. (V. Contraçfo Muscular). 3. Antibióticos, lonóforos e Transporte Alguns antibióticos alteram o fluxo trans- membrana de íons. A valinomicina aumenta a per- meabilidade ao K+, e a gramicidina A, aumenta a permeabilidade aos íons K+, ou Na+. O mecanismo de transporte pode ser difusão facilitada. (V. adiante), como na valinomicina, ou a formação de canais, como na gramicidina A. O íon K+ passa mais facilmente que o Na+, porque tem menor raio hidratado. A água nâ"o é excluída dessas pas- sagens, que possuem cerca de 0,4 nm (4 Ã). Muitas outras substâncias que interferem no transporte de íons já foram sintetizadas, e foram denominadas de ionóforos (íon, caminhante; phorein, carregar, conduzir), ou seja carreadores de íons. 4. Difusão Facilitada O transporte passivo de substâncias pela mem- brana tem dois modos principais: a) Um é o nâ"o facilitado (ou nâ~o mediado), que ocorre simplesmente pelo gradiente de concentração, e seu gráfico seria uma reta em função da concentração (Fig. 12.10 A). À medida que a concentração aumenta, o fluxo cresce proporcional- mente. b) O segundo processo é o transporte pas- sivo facilitado, ou mediado. Nesse caso, a relação entre concentração e fluxo segue a cinética de Michaelis-Menten. A partir de certa concentração, o sítio de trans- porte está saturado, e o fluxo não mais aumenta. Este é exatamente o que ocorre nas ZDF. • 5. Parede Celular e Membrana Celular Todas as células possuem essas duas estrutu- ras, que estão sucintamente descritas no Quadro 12 2 (V. Célula). A relação entre essas duas estruturas pode ser visualizada na Figura 12.11. A membrana é responsável pelo potencial de estado fixo e po- E.E l .E E* , . l DC Z LU U Z o o -l < cr Z LU O z o o r i_vj/\vy A FLUXO B Fig. 12.10 - Tipos de Difusão Passiva Transmembrana (Ver texto). l M Fig. 12.11 - Parede e Membrana Celular (ver texto). M — Membrana; P - Parede tencial de ação, que resulta de distribuição assimé- trica de ânions e cátions, sendo o exterior positivo (há excessões). A parede celular tem carga negativa devido à presença de glúcides, fosfolípides e pro- teínas, é responsável pelas propriedades eletroforé- ticas de células (migram para o anódio), pela co- municação, reconhecimento, e adesão celular. A parede celular é chamada de glicocálice, em algu- mas células. Membranas e Transporte — LC-12.2 E. Equação de Nernst e Trabalho de Transporte l. Equação de Fluxos lônicos e Potencial de Equilíbrio Existem várias equações de fluxos iônicos, cuja base é a equação de Nernst. No sistema da Fi- gura 12.12, que pode ser uma célula, há uma mem- 1 & !\ia+ Eo_ v A 2 + £E Na+ J Fig. 12.12 — Gradiente Eletrosmótico: M - Membrana Potencial: (1) negativo; (2) positivo. Con- centração - Na+ (1)>Na+ (2). brana polarizada separando duas concentrações iô- nícas. Os gradientes Elétrico e Osmótico podem ser considerados separadamente. a) O Gradiente Elétrico O íon Na+, positivo, é atraído para o lado ne- gativo com uma Energia Elétrica (Eg) igual a: onde: N = E = = nEF Valência de íon. diferencial de potencial (volts) entre (1) e (2). Cte. de Faraday.9.65 x IO4 C.mor1F = b) O Gradiente Osmótico O gradiente de concentração (osmótíco), em- purra o íon Na* de (1) para (2) com a Energia Osmótica(E0) de: 207 E0 = RT In C, R = Cte. dos gases. 8,31 J.K-1.mol'1 T = Temperatura absoluta, °K C i = Concentração de Origem C7 = Concentração de Destino No equilíbrio: nEF = RT In C, ou: O valor do potencial elétrico, E, será: RT C E = _ - ta -J- (volts) nF Ci Essa é a equaçío de Nernst que fornece o po- tencial em condições de equilíbrio. A 37°C, para íons monovalentes, e usando log decimal, temos: E = 61 ,5 log -~ = - 61 ,5 log—í-(müivolts, mV) Atenção — Respeitar sempre as Concentrações de Origem (Ci), e Destino (C2), do íon. Exemplo - A célula abaixo tem um potencial de -85 mV (lado interno) (Fig. 12.13). Os números representam a concentra- çâ"o iônica em m moles. Calcular o potencial em condições de equilí- brio, dos íons. No sentido Interno (1) para o Exter- no (2), temos: Na+=61,5 log K + =61,51og- CT= 61,5 log 140 12 4160 120 = + 66 mV = - 98 mV = - 91 mV O que significam estes valores? Primeiro, que nenhum íon está no potencial de equilíbrio. Se- gundo, que o potencial da célula resulta do soma- tório de vários íons. Terceiro, que a célula realiza imenso trabalho para manter o Na+ bem distante de seu potencial de equilíbrio (comparar -85 mV com + 66 mV). Por esse motivo, a bomba iônica da célula, embora funcione também para o íon K+, é chamada de bomba de sódio. XgNa+12 OmV Na+14O K+4 Fig. 12.13 - Potencial de íons (ver texto). 2. Trabalho Realizado no Gradiente Eletrosmótico Quando o trabalho de transporte é máximo, E£ e EQ representam a mudança de energia livre do sistema: AGg = nAEF Energia ou Trabalho Elétrico c AGQ = RT In -~ Energia ou Trabalho OsmóticoCi O trabalho realizado no transporte (AGj), é a soma algébrica dessas energias: AGT = AGE + AG0 = nAEF + RT In —-Ci Exemplo — No caso da célula do exemplo ante- rior, o trabalho de expulsar o íon Na+, seria, a 37°C. C2 = 140, Cj = 12 AE = + 85mV Na* interno -* externo (Na+) i.e = AGT = (l x 85 x IO'3 x 9,65 x IO4) + 140 ^ 140 + (8,31x310xln--) ou AG (Na+) i.e = 8.202 + 6.329 = 14.531 Joules 14,5 kJ. Como o sinal de AG é positivo, o transporte não é expontâneo (passivo). A célula dispende energia para realizá-lo. Notar que, tanto o gradien- te Elétrico como o Osmótico, sío contrários à saída de Na +. 208 No caso do íon K+, o cálculo para expulsão seria: J í (K+) i.e = AGT = (l x 85 x IO'3 x 9,65 x IO4) - -(8,31 x 310 x In-——) loU contra a favor AG (K) i.e. = 8.202 9.502 = - l .300 J AG = - 1,3 kJ. O sinal de G indica que o transporte ocorre expontaneamente. O gradiente elétrico é contra, o gradiente osmótico é a favor. Como esse é maior, o K + sai expontaneamente, e entra por trabalho ativo. Um cálculo simples mostra que a célula tra- balha cerca de 11 vezes mais para expulsar o Na +, do que para introduzir o K *. Para o íon Cl~ temos: (Cl)i.e = AGT= -(l x 85 x IO"3 x 9,65 x 104)- -(8.31 x 310 x In ) AG (Cl) i.e = - 8,202 + 8,762 = + 560 J ou ap. + 0,6 kJ. O sinal positivo indica que a saída de cloreto exige energia, mas o valor de AG, próximo de zero, indica que esse íon está em quase-equilíbrio (V.TD). Esses resultados mostram, também, que a célula dispende muito pouca energia para expul- sar o CP na célula, aproximadamente a metade da energia gasta, para introduzir o K +. Atividade Formativa - AT-12 Célula - Membrana - LC-12.1 e LC-12.2 01. Conceituar célula (até 20 palavras). 02. Completar: l. Os seres autotrofos .todas as moléculas que necessitam. 2. Os seres heterotrofos 03. Indicar o tipo de célula. 1. Primitivas, sem membrana nuclear, pos- suem ribossomos 2. As mais diferenciadas, com núcleo defini- do, ribossomos, mitocôndrias, lisossomos. 3. Possuem cloroplastos, utilizam energia ra- diante para sintetizar biomoléculas.___ 04. Conceituar compartimentaçSo (até 30 pala- vras). 05. Citar três características funcionais de mem- branas biológicas. 06. Do ponto de vista termodinâmico, o que faz a membrana biológica? 07. A membrana permite equilíbrio dinâmico, ou o regime estacionário? 08. A área da superfície de uma esfera é A = 4 TT r2 = TT d 2 , e o volume de uma esfera é 4 ffd3 r3 = -. Calcular a área e o gumas moléculas que necessitam. V =— 7T 3 6 volume de uma célula de 5 x IO3 nm de diâ- metro. 09. Quais forças participam das ligações intermo- leculares de componentes de membrana? Sim ou Não. Coulombicas ( ) c/ Hidrofóbicas ( ) ^~ Covalentes^"\) ^ ç-eo Pontes H ( )o 10. A membrana pode ser considerada como ten- do quatro estruturas operacionais, os canais, as ZDF, os receptores e os operadores. Citar 3 propriedades de cada estrutura. 11. Citar dois fatores que condicionam a passagem de íons pelos canais. 12. A direçSó da passagem de íons pelos canais se faz através do gradiente de (com- pletar). 13. Conceituar ZDF (até 20 palavras). 14. Que tipo de cinética do transporte prevalece nas ZDF. Fazer um gráfico aproximado. 15. Conceituar Receptor (até 30 palavras). 16. Os receptores de membrana e do citosol pos- suem afinidade para diferentes tipos de mensa- geiros. Citar esses tipos de moléculas-mensa- geíras. 17. Descrever o funcionamento de um receptor (até 30 palavras). 18. Quais as duas características principais no transporte de operadores? 19. Qual é o principal papel da glutationa em sis- temas biológicos? 209 20. Conceituar ionóforo (até 20 palavras). 21. Fazer esquema da membrana e parede celular, com as respectivas cargas elétricas. 22. Considere o sistema abaixo. Calcular o gra- diente osmótico e o gradiente elétrico para os íons Na+ e CT~. Qual gradiente é maior? (1) M (2) NaCl 0,5 M NaCl 0,1M Fig. 12.14 23. No sistema acima, calcular o trabalho de trans- porte de Na* de (1) para (2), e vice-versa. O trabalho é passivo ou ativo? 24. Calcular o trabalho de transporte do íon Ca2 + de (1) para (2), no sistema abaixo. O transpor- te é espontâneo? (D (2) <+> M H CaCl2 0,5 M + 50mV CaCl2 0,2 M -SOmV Fig. 12.15 25. Se o gradiente osmótico e o gradiente elétrico possuem o mesmo sentido, que se pode afir- mar com relação ao tipo de transporte, e ao sinal de AG? É possível concluir alguma coi- sa com relaçJo ao sinal de AG°? • , - • - 210 ispor- Objetivos Específicos do Capítulo 12 trico afir- e ao i coi- A — Leitura Preliminar — A Célula 1. Expressar o conceito amplo de célula. 2. Conceituar seres autótrofos e heterótrofos. 3. Citar propriedades gerais de células procario- cíticas, eucariocíticas e fotossintéticas. B — Membranas Biológicas 4. Conceituar compartimentaçío. 5. Descrever o papel termodinâmico das mem- branas biológicas. 6. Descrever e esquematizar os modelos: pauci- molecular, unitário e do mosaico fluido de membranas biológicas. 7. Calcular dimensões da membrana em modelos celulares. 8. Diferenciar as ligações químicas prevalentes nas membranas. 9. Descrever os poros ou canais, e exemplificar algumas de suas propriedades e funciona- mento. 10. Descrever o princípio do transporte em zonas de difusão facilitada (ZDF) e sua cinética de transporte. 11. Fazer esquema de receptor e descrever seu funcionamento. 12. Fazer esquema de operador e descrever seu funcionamento. C — LC-1 - Leitura Complementar — Tópicos Específicos 13. Descrever o possível papel da glutationa no transporte transmembrana. 14. Conhecer o mecanismo de transporte de íon Ca: +. 15. Descrever o funcionamento de um ionóforo. 16. Reconhecer transporte passivo não mediado, e mediado. 17. Relacionar propriedades da célula com a membrana citoplasmática e a parede celular (glicocálice). D - LC-12.2 - Equação de Nernst e Trabalho de Transporte 18. Diferençar os gradientes elétrico e osmótico. 19. Calcular a energia desses gradientes. 20. Calcular a resultante desses gradientes. 21. Identificar o sentido do transporte ativo e pas- sivo através do valor de AG. 211
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